Uakti: MAPA (1992), I CHING (1994), 21 (1996), TRILOBYTE (1996) + ÁGUAS DA AMAZÔNIA (ballet de Philip Glass, 1999)

Uakti: MAPA (1992), I CHING (1994), 21 (1996), TRILOBYTE (1996) + ÁGUAS DA AMAZÔNIA (ballet de Philip Glass, 1999)

Complementando os 3 discos dos anos 80 postados há uma semana, vão aqui os 5 dos anos 90, que formam um pacote encomendado pelo selo Point Music, de Philip Glass. Mas antes de falar deles quero anotar alguns pensamentos pessoais sobre o trabalho do Uakti em geral.

Antes de mais nada, é provável que haja quem pense que há sons ou efeitos produzidos eletronicamente no trabalho do Uakti – mas é tudo acústico.

Nunca esqueci a primeira vez que ouvi esses sons: foi em 1980-81, no meio de dois anos na Inglaterra. Visitava uma brasileira casada com europeu, personagem típico daquela época pré-internet: acabava de chegar do Brasil trazendo “o último do Chico, o último do Milton, uma cachacinha de Minas, uma goiabada cascão divina…” – e o último do Milton era Sentinela, onde o Uakti gravou pela primeira vez, respondendo pelo arranjo e acompanhamento de “Peixinhos do Mar”. (Isto é: primeira vez em disco, pois um ano antes haviam feito a trilha do filme Cabaré Mineiro).

Hoje é difícil imaginar o impacto inovador que cada disco de Milton Nascimento representou, de 1967 até este ou pouco depois – e a partir deste o que houve de inovação respondeu precisamente pelo nome Uakti. Lembro de ter ficado embasbacado não só pelo som em si, como também pelo fato de o Milton “ter recorrido a um arranjo inteiramente eletrônico” – pois sons assim só saíam do novo instrumento lançado havia 10 anos, o tal do “sintetizador”. Imaginem o tamanho da incredulidade quando me disseram que todo som ali era acústico.

Mas haverá algum valor especial em extrair de instrumentos acústicos sons que já se podiam gerar antes disso por meio eletrônico? Minha impressão é a de que há, sim, um valor especial – mas não me perguntem por quê. Do mesmo modo como se alguém conseguir com as tradicionais tintas a óleo efeitos de cor que pensamos só serem possíveis por computação gráfica. Não sei por quê, mas… vocês também não sentem isso?

Uma segunda coisa que me faz pensar é que o único instrumento “clássico” usado regularmente pelo Uakti é a flauta transversal. Acontece que esse também é o caso no Quinteto Armorial (pois o violino que há aí não é violino, é rabeca) – e em grande medida também nos conjuntos de choro. Será que isso sugere alguma conexão especial entre a flauta transversal e o jeito brasileiro de ser?

Avançando além da instrumentação: a uma audição superficial Uakti pode muitas vezes soar como “new age”, mera ambientação sonora… mas à audição atenta o ouvido experiente percebe claramente que é muito mais. Não é só a dimensão “timbre” que é explorada experimentalmente, são também as escalas, os ritmos, as formas (mesmo se geralmente constituem objetos pequenos, de duração relativamente curta). Isso se dá tanto como experimentação abstrata, cerebral (construções matemáticas) quanto aproveitando sugestões de fontes étnicas – isso porém no nível estrutural das composições, não como os “efeitos característicos” exteriores do século 19 e ainda antes, que geravam uma espécie de música vestida para baile à fantasia…

Há, p.ex., peças construídas sobre um pulso rítmico ao modo de música indígena das Américas. Quem já não tiver dado atenção a esse assunto sequer perceberá: é música universal, e ponto. Mas ao mesmo tempo é desenvolvimento das possibilidades do modo ameríndio de conviver com o som… sem precisar trombetear isso com nenhum cocar na cabeça. (No inesquecível Curso Latino-Americano de Música Contemporânea, em janeiro de 1978, em São João del Rei, fiquei muito impressionado com as pesquisas do compositor argentino Oscar Bazán nesse sentido. Agora me ocorreu: será que o Marco Antônio Guimarães também estava lá?)

Do mesmo modo, no balé I Ching (encomendado pelo Grupo Corpo), o trabalho com os elementos da concepção chinesa clássica do mundo e com as transformações de padrões combinatórios não tem nada de um misticismo nebuloso e sentimental, e sim com exercícios da razão e da observação do próprio mundo material. E o balé seguinte, “21”, explora de modo semelhante o nem sempre delicado mas sempre sutil espírito da arte poética japonesa.

O disco anterior e o posterior a esses dois balés (Mapa e Trilobyte) voltam a transitar entre o experimental e o melódico, este extraído mais uma vez de Milton Nascimento (Dança dos Meninos, Raça, Lágrimas do Sul) mas também de fontes como uma canção grega, e do “trovador renascentista do sertão baiano” Elomar Figueira de Melo, resultando, no meu ver, numa das faixas mais pungentes e hipnotizantes de toda essa discografia, Arrumação (faixa 5 de Trilobyte) – na qual o ouvido atento perceberá torrentes ao modo do jeu perlé (“toque perolado”) do piano do século 19 ambientando de modo insólito a regularidade sóbria dos versos madrigalescos.

O último dos 5 discos encomendados por Philip Glass terminou sendo preenchido com música do próprio, a qual foi também uma encomenda, desta vez do Grupo Corpo, para mais um balé. Já disse aqui que (assim como ao mestre PQP) de modo geral a música de Philip Glass me parece exasperantemente pretensiosa ao mesmo tempo que rala – mas aqui, com a instrumentação de Marco Antônio Araújo, confesso que acabei gostando bastante deste Águas da Amazônia (que vem com uma recriação de Metamorphosis I como bônus).

De que discos gosto mais? Acho que, no conjunto, do sétimo (Trilobyte, de 1996) e do terceiro (Tudo e Todas as Coisas, de 1984) –

… e aproveito para dizer aqui o que não gostei no trabalho deles: as elaborações em cima de standards de Bach e de “clássicos” diversos; não senti que o encontro enriqueceu nenhuma das partes, antes pelo contrário. Com isso, apesar de ainda me faltar ouvir um dos discos dos anos 00, aviso que prefiro parar com o que ainda me entusiasma, e deixar minhas postagens do Uakti só por estes oito álbuns já postados.

MAPA – 1992
(o nome homenageia o músico Marco Antônio Pena Araújo, falecido na época)
1 Aluá
(Marco Antônio Guimarães)
2 Dança dos meninos
(Marco Antônio Guimarães, Milton Nascimento)
3 Trilobita
(Artur Ribeiro, Paulo Sergio Santos, Marco Antônio Guimarães)
4 Mapa
(Marco Antônio Guimarães)
5 A lenda
(Marco Antônio Guimarães)
6 Bolero
(Ravel)

I CHING – 1994
Balé comissionado pelo Grupo Corpo
1 Céu
(Marco Antônio Guimarães)
2 Terra
(Marco Antônio Guimarães)
3 Trovão
(Marco Antônio Guimarães)
4 Água
(Marco Antônio Guimarães)
5 Montanha
(Marco Antônio Guimarães)
6 Vento
(Marco Antônio Guimarães)
7 Fogo
(Marco Antônio Guimarães)
8 Lago
(Marco Antônio Guimarães)
9 Dança dos hexagramas
(Marco Antônio Guimarães)
10 Alnitax
(Artur Andrés Ribeiro, Marco Antônio Guimarães)
11 Ponto de mutação
(Artur Andrés Ribeiro, Marco Antônio Guimarães)

“21” – 1996
Balé comissionado pelo Grupo Corpo
(falta determinar autoria das faixas)
1. Abertura
2. Hai Kai I
3. Hai Kai II
4. Hai Kai III
5. Hai Kai IV
6. Hai Kai V
7. Hai Kai VI
8. Hai Kai VII
9. Tema Em Sete
10. Figuras Geométricas

TRILOBYTE – 1995
1 Raça
(Milton Nascimento, Fernando Brant)
2 Lágrima do sul
(Marco Antônio Guimarães)
3 Xenitemeno mu puli [Meu pequeno pássaro em terras estrangeiras]
(Kristos Leonis, Albert Garcia)
4 O segredo das 7 nozes
(Artur Andrés Ribeiro)
5 Arrumação
(Elomar Figueira de Melo)
6 Música para um antigo templo grego
(Artur Andrés Ribeiro)
7 Trilobita II
(Paulo Sergio dos Santos)
8 Trilogia para Krishna:
Krishna I [Santa Afirmação]
(Artur Andrés Ribeiro)
9 Krishna II [Santa Negação]
(Artur Andrés Ribeiro)
10 Krishna III [Santa Reconciliação]
(Artur Andrés Ribeiro)
11 Parque das Emas
(Marco Antônio Guimarães)
12 Haxi
(Marco Antônio Guimarães)
13 Onze
(Marco Antônio Guimarães)

ÁGUAS DA AMAZÔNIA – 1999
Balé comissionado pelo Grupo Corpo
Todas as faixas de Philip Glass,
instrumentadas por Marco Antônio Guimarães
1 Rio Tiquiê
2 Rio Japurá
3 Rio Purus
4 Rio Negro
5 Rio Tapajós
6 Rio Madeira
7 Rio Paru
8 Rio Xingu
9 Rio Amazonas

10 Metamorphosis I

CDs MAPA, I CHING, 21 e TRILOBYTE
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CD ÁGUAS DA AMAZÔNIA
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Uakti: barulhos bons

Ranulfus

Arvo Pärt (1935): Adam’s Lament

Arvo Pärt (1935): Adam’s Lament

– Repost de 25 de Dezembro de 2015 –

Adianto o post que pretendia fazer no domingo e já aviso a vocês que pretendo postar Arvo Pärt aos domingos, com alguns interlúdios de vez em quando. E postar outros compositores às quintas, também com alguns interlúdios de quando em vez.

Por que adiantei o post de domingo pra hoje? Simples, temos aqui em Adam’s Lament a Christmas Lullaby, uma pequena e bela obra de natal. Além dessa temos Salve Regina, numa interpretação de Tõnu Kaljuste que não me agrada muito. Depois lhes trarei uma feita por Paul Hillier que considero muito mais adequada. Para vocês terem uma ideia, Paul Hillier é para Arvo Pärt aquilo que Jordi Savall é para Monteverdi, ou aquilo que Philippe Herreweghe é para Bach (se bem que aqui a treta é polêmica). Portanto é difícil superar Paul.

Falando em Savall, uma curiosidade: as lullaby’s desse álbum – Estonian Lullaby e Christmas Lullaby – foram dedicadas a ele e à sua mulher. E uma coincidência (que não tem nada a ver com Savall mas comigo): o texto usado no Christmas Lullaby é do evangelho de Lucas.

Tenham um ótimo dia.

Arvo Pärt (1935): Adam’s Lament

01 Adam’s Lament

02 Beatus Petronius

03 Salve Regina

04 Statuit et Dominus

05 Alleluia-Tropus*

06 L’Abbe Agathon

07 Estonian Lullaby

08 Christmas Lullaby

Latvian Radio Choir
Sinfonietta Riga
Vox Clamantis
Estonian Philharmoic Chamber Choir
Tallinn Chamber Orchestra
Tõnu Kaljuste, regente
Tui Hirv, soprano*
Rainer Vilu, barítono*

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Feliz natal criançada do pqp.
Feliz natal criançada do pqp.

Luke

Arvo Pärt (1935): Orient & Occident

Arvo Pärt (1935): Orient & Occident

– Repost de 20 de Dezembro de 2015 –

Oriente e Ocidente. O que há de comum e diferente entre esses polos de civilização do mundo moderno? Hoje os historiadores repensam bastante a sinuosa relação entre o mundo ocidental e o mundo oriental ao longo da história. Por exemplo, hoje se pensa bastante sobre como que os povos que viriam a fundar o que foram os gregos clássicos vieram do oriente, e como que em alguns aspectos, como, por exemplo, na alimentação, os gregos são mais próximos dos povos do oriente médio e oriente próximo do que de outros povos europeus, digamos os franceses.

Podemos pensar essa longa relação por muitos âmbitos. Mas, como vocês leitores já podem prever, vamos pensar no âmbito musical. Herdamos dos árabes alguns instrumentos musicais ancestrais dos nossos modernos violinos, violões e flautas. Deles recebemos também o canto plano e uniforme, que viria a se tornar o conhecido cantochão (ou canto gregoriano) durante a idade média, justamente no Império Bizantino, que durante a Idade Média foi a ponte entre o oriente e o ocidente. Não é a toa que o cantochão viria a ser chamado de canto gregoriano, pois foi o Papa Gregório I, no século VI, que estabeleceu tal tipo de canto como a música padrão. Na teoria por motivos religiosos, mas na prática por motivos políticos.

Os árabes possuem uma “cor” em sua cultura que podemos identificar na arte que eles produzem. Essa “cor”, obviamente, difere da nossa. Se eu fosse pensar como um estruturalista eu conseguiria definir essa cor em um par de oposição. Por exemplo, se o ocidente fosse azul, o oriente seria vermelho. Se o ocidente fosse branco o oriente seria preto. Entre outras oposições possíveis de cores. Esse ethos (pensando esse conceito de forma sociológica) que por um exercício de imaginação pode ser imaginado como uma cor (como eu fiz aqui) pode ser identificado no tipo de música dos árabes, e não só no canto, mas, também, nas cordas.

O cantochão, como já sabemos, foi utilizado com maestria por Arvo Pärt. Nas cordas percebemos um pouco desse ethos (ou “cor”) árabe anteriormente, mas com a música Orient & Occident presente neste álbum, tudo fica mais claro. Arvo Pärt usa o efeito chamado de “Maqam árabe” nas cordas, e contrapõe com os vibratos dramáticos que os compositores ocidentais davam às cordas no ocidente (principalmente durante o romantismo, diga-se de passagem). Ou seja, ele faz uma brincadeira estruturalista, e contrapõe o estilo ocidental com o oriental, numa bela dança; podemos ir de um continente ao outro, de uma cultura à outra, em poucas notas. Se deixarem sua imaginação os levarem, vocês poderão viajar das salas de concerto do século XIX tipicamente italianas ou alemãs com centenas daqueles homens brancos caucasianos suando nas roupas formais; para as mesquitas escuras, mas coloridas, inundadas de fumaça provinda dos narguilés das ruas inundadas de homens barbudos e taciturnos.

Orient & Occident é a “pantera cor de rosa” do álbum. Mas as outras também são jóias valiosíssimas.

Em Como Cierva Sendieta, ainda podemos sentir um pouco da orientalidade, mas de forma muito mais sutil, digamos que de uma forma bizantina, ou andaluzina (lembrando que os árabes ocuparam a península ibérica do século VIII ao XII).  É a obra mais longa do álbum, e é também a obra que o finaliza. Temos também Ein Wallfahrtslied (ou Canção do Peregrino), aqui não em um arranjo para barítono solo como havíamos escutado anteriormente, mas para coro misto. É a obra que abre o álbum.

Aproveitem.

Arvo Pärt (1935): Ein Wallfahrtslied, Orient & Occident, Como Cierva Sendieta

01 Ein Wallfahrtslied – Pilgrim’s Song

Swedish Radio Symphony Orchestra
Swedish Radio Symphony Choir
Tõnu Kaljuste, regente

02 Orient & Occident

Swedish Radio Symphony Orchestra
Tõnu Kaljuste, regente

03 Como Cierva Sendieta I
04 Como Cierva Sendieta II
05 Como Cierva Sendieta III
06 Como Cierva Sendieta IV
07 Como Cierva Sendieta V

Swedish Radio Symphony Orchestra
Swedish Radio Symphony Choir
Tõnu Kaljuste, regente
Helena Olsson, soprano

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Meio aqui, meio lá...
Meio aqui, meio lá…

Luke

Arvo Pärt (1935): In Principio

Arvo Pärt (1935): In Principio

  • Repost de 22 de Novembro de 2015

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus.

Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.

Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.

Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.

Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.

Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.

Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.

Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;

Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.

João 1:1-14

Não só os cristãos que ficam encantados com essas palavras, Stephen King em A Coisa, e agora eu, escrevendo sobre esse ótimo álbum com essa obra que se inspira nestas palavras sagradas, faço referência à esse evangelho e não teria outra forma de começar a não ser por esse belíssimo texto. Não sei exatamente o que me inspira nele, há algo de poético, de épico e de fantástico que me faz ter uma enorme reverência por estes versos, entre outros da Bíblia Sagrada, mesmo não sendo mais cristão.

Arvo Pärt aqui está um pouco diferente daquele compositor calmo que transparece em Für Alina. Vemos aqui um pouco daquela força arrasadora do primeiro movimento de Tabula Rasa, embora em outra forma dessa vez, na forma de um poderoso coro e uma orquestra, no caso da obra In Principio. Também sentimos essa força na belíssima e hipnotizante Mein Weg, obra que transparece em sua tonalidade um pouco de influência da música oriental… mas isso é uma outra história, e como bem sabem, deve ser contada em outro momento…

Arvo Pärt (1935): In Principio

01 In principio – I. In principio erat Verbum
02 In principio – II. Fuit homo missus a Deo
03 In principio – III. Erat lux vera
04 In principio – IV. Quotquot autem acceperunt sum
05 In principio – V. Et Verbum caro factum est

06 La Sindone

07 Cecilia, vergine romana

Estonian Philharmonic Chamber Choir
Estonian National Symphony Orchestra
Tõnu Kaljuste, regente

08 Da pacem Domine

Estonian Philharmonic Chamber Choir
Tallinn Chamber Choir
Tõnu Kaljuste, regente

09 Mein Weg

10 Fur Lennart in memoriam

Tallinn Chamber Orchestra
Tõnu Kaljuste, regente

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Vai maluco, passa esse celular que aqui é curintia hexa campeão.
Vai maluco, arranja uma grana ai que aqui é curintia hexa campeão.

Luke

Arvo Pärt (1935): Creator Spiritus

Arvo Pärt (1935): Creator Spiritus

  • Repost de 18 de Outubro de 2015 – Um ano desde que comecei a postar no PQP Bach!

Olá caros leitores do PQP Bach, faço minha estreia aqui nesse blog com o compositor contemporâneo de música erudita que mais gosto: Arvo Pärt. Possuo muitos cds com obras deste compositor que, como dito pelo nosso mestre P.Q.P, não recebeu ainda a devida atenção neste blog. Venho para preencher esta lacuna e para preencher outras que acredito que os senhores considerarão muito oportunas. Junto com o download está o livrete do CD, para que os senhores possam saber mais detalhadamente de outras informações que lhes forem de interesse.

Vou falar um pouco das minhas impressões pessoais sobre esse álbum. O que me levou a comprá-lo foi a obra My Heart in the Highlands, e não, não foi em A Grande Beleza onde eu a ouvi pela primeira vez, mas sim em um documentário sobre o estilo de composição atual de Arvo Pärt. Digo atual pois o compositor já teve três fases onde as obras são notavelmente distintas em seus respectivos estilos. A discussão sobre essas fases é uma outra história que deve ser contada em um outro momento. Neste álbum, com exceção de Solfeggio (que é da primeira fase, a de vanguarda), todas as outras obras são da terceira fase, a minimalista, chamada pelo compositor de tintinnabuli (que é a fase atual).

Voltando a “My Heart in the Highlands”, bem, a primeira vez que eu ouvi essa obra não foi apenas a melodia profundamente melancólica que me tocou, mas também os belos versos que por alguns minutos me arrebataram de tal forma que eu me senti “como um lobo solitário que vive nas montanhas geladas, mas que quando vai à cidade se torna um mero humano de coração apertado, coração apertado de saudades das montanhas geladas e dos cervos, que correm desesperados diante da calma taciturna do lobo que os caça”. Foi uma história mais ou menos assim que por breves momentos inundou minha mente, senti saudades de coisas que jamais vivi (coisa que sinto toda vez que experimento uma boa obra “impressionista”, seja música, cinema ou artes plásticas) e um dia irei passa-la de minha mente para o papel, mas até lá ainda me regojizarei com ela em minha mente.

Mas a grande surpresa do álbum com certeza foi o Stabat Mater de Pärt. A única vez que esse texto havia me tocado tão profundamente em forma de música havia sido com a versão de Antonio Vivaldi. Eu já ouvi a de Pergolesi, a de Dvorák, e de outros, mas só as de Vivaldi e de Pärt tocam meu coração tão profundamente, talvez seja a grande ausência de sinais de alegria ou euforia, mas puramente a presença de dor e melancólica melodia.

Outro destaque do álbum é The Deer’s Cry, por algum motivo essa obra me faz me sentir profundamente cristão (coisa que já fui). Adoro ouvi-la aos domingos. O coro e os solistas cantam sublimemente, como se estivessem inundados de fé, e a história por trás da composição do texto da obra torna tudo mais saboroso; segundo o livrete, o texto cujo nome original é Lorica foi composto por São Patrício em 433. Sabendo de uma emboscada para matar ele e seus seguidores, São Patrício guiou seus homens pela floresta enquanto cantavam essa música. Eles então foram transformados em cervos que foram guiados por 20 gamos. Graças a esse milagre São Patrício e seus homens foram salvos. Apesar do fato de que cantar numa floresta enquanto foge é uma péssima ideia para despistar perseguidores, a história é bonita.

Certa vez ao entrevistar Arvo Pärt, a cantora Björk (que se diz uma fã da música de Pärt) descreveu a música do compositor como uma música que dá espaço ao ouvinte, e eu concordo plenamente, só acrescento que esse espaço é para que você sinta profundamente os sentimentos que lhe inundam ao ouvir essas obras. Seja “My Heart in the Highlands”, seja o “Stabat Mater” ou “The Deer’s Cry”. Não é a toa que o ideal por trás desse estilo de composição de Pärt seja “o amor por cada nota“, é justamente um estilo que busca fazer o ouvinte “meditar” profundamente sobre aquilo que ele ouve e sente em sua mente. Podemos amar tudo aquilo que compreendemos, mas aquilo que não compreendemos nós tememos, e por não compreendermos e temermos podemos chegar a odiar. Por isso a música do compositor é simples eu suponho, para que você possa compreendê-la e então amá-la.

Arvo Pärt (1935): Creator Spiritus

1. Veni creator (3:19)
2. The Deer’s Cry (4:38)
3. Psalom (5:05)
4. Most Holy Mother of God (4:34)
5. Solfeggio (4:46)
6. My heart’s in the highlands (8:40)
7. Peace upon you, Jerusalem (5:23)
8. Ein Wallfahrtslied (9:10)
9. Morning Star (3:17)
10. Stabat Mater (26:03)

Ars Nova Copenhagen
Paul Hillier
Theatre of Voices
Christopher Bowers-Broadbent, orgão
NYYD Quartet

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Estreia de Luke D. Chevalier no PQP
Estreia de Luke D. Chevalier no PQP

Luke D. Chevalier

Arvo Pärt (1935): Tabula Rasa – Gidon Kremer, Keith Jarrett, Alfred Schnittke

Arvo Pärt (1935): Tabula Rasa – Gidon Kremer, Keith Jarrett, Alfred Schnittke

coverReconheço que ao fazer uma postagem como esta estou adentrando em terras desconhecidas, e um tanto quanto temerosas. Não conheço a obra de Arvo Pärt, nem tenho alguma familiaridade com sua vida. Estou aqui apenas como o fornecedor do CD, que adquiri há alguns anos atrás, não me perguntem onde nem quando. O que me chamou a atenção foi a reunião de dois de meus ídolos, Gidon Kremer e Keith Jarrett para a interpretação de “Frates”, uma peça um tanto quanto minimalista, eu arriscaria dizer. Mas não quero me mover muito no meio desta areia movediça, por isso deixo maiores detalhes para o novo integrante da família PQPBach, Luke D. Chevalier.


Comentários de Luke D. Chevalier

Nos bastidores desse blog, existe uma discussão que não quer cessar: Pärt se pronuncia Piart ou Pért? Cada um apresenta seus argumentos para fundamentar suas “hipóteses”, digamos assim, mas nada que dê um fim à discussão. Essa discussão se soma às outras grandes questões deste blog que os senhores podem perceber nas postagens e nos comentários que vocês leitores fazem: Vivaldi pegava ou não pegava as menininhas do orfanato? E Brahms, comia ou não comia Clara Schumann? São questões que cada um toma seu lado. Eu, como bom sociólogo que sou, cito Max Weber e fingo exercer uma “neutralidade”.

Mas vamos ao álbum prezados leitores. Provavelmente essas são as melhores interpretações para essas obras que qualquer um poderia querer. Gidon Kremer assume o violino e faz muito bonito como lhe é de costume (a obra Tabula Rasa, pivô deste álbum, foi de certa forma uma recomendação do violinista para Pärt). O interessante do álbum é Alfred Schnittke tocando o piano preparado em Tabula Rasa; um compositor inovador tocando a música de outro compositor inovador de seu tempo. Pena que Schnittke já se foi, Pärt, para nossa alegria, ainda está ai. E falando de idas e vindas, o belíssimo Cantus… é justamente em homenagem à outro compositor que já se foi, Benjamin Britten. Pärt diz que se entristece com o fato de Britten ter morrido logo quando ele tinha percebido a beleza de sua música, e que assim não poderia mais se encontrar com ele. Sentimento parecido sofri eu ao ler este ano o livro “Ostra Feliz Não Faz Pérola” de Rubem Alves. Enquanto lia achava que o autor ainda estava vivo, mas quando descobri que ele havia falecido no ano anterior, 2014, fiquei muito triste, pois havia gostado tanto do livro que estava pensando em ir visitá-lo em Campinas.

Enfim, já deu pra ver que tem muita coisa boa aqui. A única coisa ruim nesse álbum é a capa, mas como vocês perceberão ao longo das minhas próximas postagens com obras de Pärt, a ECM nunca foi criativa com elas, quando não são feias, são sem graça. Mas confesso que eu até gosto da simplicidade de algumas delas (não é o caso da capa deste álbum).

Arvo Pärt (1935): Tabula Rasa

01.Fratres

Gidon Kremer – Violino
Keith Jarrett – Piano

02.Cantus in Memory of Benjamin Britten

Staatsorchester Sttutgart
Dennis Russel Davis – Regente

03.Fratres

Os 12 violoncelistas da Berlin Philharmonic Orchestra

04.Tabula Rasa

Gidon Kremer, Violino
Tatjana Gridenko, Violino
Alfred Schnittke, Piano preparado

Lithuanian Chamber Orchestra
Saulus Sondeckis – Regente

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O defeito do scanner até que caiu bem nessa foto.
O defeito do scanner até que caiu bem nessa foto.