Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Ashkenazy)

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Ashkenazy)

Obviamente, o nome Mazurka deve-se ao grande goleiro uruguaio Ladislao Mazurkiewicz (1945-2013) que jogou principalmente no Peñarol, mas também no Galo Mineiro. Seu apelido? Mazurka. Pois Mazurka jogou 3 Copas do Mundo (1966, 1970 e 1974) e é muito lembrado como o artista coadjuvante de um dos maiores lances da historia do futebol. Na Copa do Mundo de 1970 sofreu um drible sensacional de Pelé, que acabou chutando para fora. Em outro lance do mesmo jogo, cobrou mal um tiro de meta que o mesmo Pelé emendou de bate-pronto, mas o chopiniano arqueiro recuperou-se a tempo e fez boa defesa. Aliás, o extraordinário livro O Drible, de Sérgio Rodrigues, inicia com uma linda descrição do drible de Pelé. Bem, não sou tarado por Chopin, mas minha mãe era. Às vezes, em seus últimos anos, eu botava este disco, que era de meu pai, para tocar. Ela ficava satisfeita. Mas logo Chopin se enredava em meio aos nós das suas sinapses cada vez mais dementes do Alzheimer e ela levantava para fazer qualquer outra coisa. Mas num primeiro momento, de uns 10 minutos, ela parecia flutuar com Chopin. Quando ela faleceu, após o longo percurso da doença, minha irmã pediu uma música para tocar no crematório, mas que eu escolhesse bem! Peguei este, do qual já tinha notado a extraordinária qualidade. Talvez eu não tenha muita propensão à neurose e ao trauma, então consigo ouvir seus incríveis 143 minutos apesar de rever o caixão da Maria Luiza indo naquela esteira em direção ao vazio.

Frédéric Chopin (1810-1849): Mazurkas (Ashkenazy)

4 Mazurkas, Op.6
I: F Sharp Minor 3:14
II: C Sharp Minor 2:28
III: E Major 1:36
IV: E Flat Minor 0:58
5 Mazurkas, Op.7
I: B Flat Minor 1:47
II: A Minor 3:14
III: F Minor 2:19
IV: A Flat Major 1:06
V: C Major 0:45
4 Mazurkas, Op.17
I: B Flat Major 1:57
II: E Minor 1:57
III: A Flat Major 4:04
IV: A Minor 4:13
4 Mazurkas, Op.24
I: G Minor 2:48
II: C Major 2:03
III: A Flat Major 1:55
IV: B Flat Minor 4:31
4 Mazurkas, Op.30
I: C Minor 1:29
II: B Minor 1:06
III: D Flat Major 2:36
IV: C Sharp Minor 3:38
4 Mazurkas, Op.33
I: G Sharp Minor 1:25
II: D Major 2:03
III: C Major 1:28
IV: B Minor 4:34
4 Mazurkas, Op.41
I: C Sharp Minor 3:30
II: E Minor 2:20
III: B Major 1:07
IV: A Flat Major 1:58
3 Mazurkas, Op.50
I: G Major 1:49
II: A Flat Major 2:50
III: C Sharp Minor 4:57
3 Mazurkas, Op.56
I: B Major 3:53
II: C Major 1:32
III: C Minor 5:55
3 Mazurkas, Op.59
I: A Minor 4:29
II: A Flat Major 2:30
III: F Sharp Minor 3:13
3 Mazurkas, Op.63
I: B Major 1:59
II: F Minor 2:08
III: C Sharp Minor 2:24
4 Mazurkas, Op.67
I: G Major 1:02
II: G Minor 1:55
III: C Major 1:25
IV: A Minor 2:28
4 Mazurkas, Op.68
I: C Major 1:25
II: A Minor 3:09
III: F Major 1:14
IV: F Minor 2:17
Mazurka In A Minor (“À Émile Gaillard”, 1840) 3:05
Mazurka In A Minor (“Notre Temps”, 1840) 3:13
Mazurka In B Flat Major (1826) 1:09
Mazurka In G Minor (1826) 1:43
Mazurka In A Flat Major (1834) 1:16
Mazurka In C Major (1833) 2:20
Mazurka In B Flat Major (For Alexandra Wołowska, 1832) 1:01
Mazurka In D Major (1832) 1:14
Mazurka In D Major (?1820) 1:02
Mazurka In F Minor, Op.68 No.4 (Revised Version) 3:30

Vladimir Ashkenazy, piano

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É bom avisar.

PQP

Olivier Messiaen (1908-1992): Visons de l’amen / Claude Debussy: En blanc et noir (van Raat, Austbo)

Recentemente o nosso patriarca, guia e poço de conhecimento, ele mesmo, P.Q.P. Bach, o filho do homem, escreveu na caixa de comentários que gosta cada vez mais de Messiaen. E os pedidos dele, por aqui, são ordens. Então vamos de mais Messiaen, hoje com o pianista Håkon Austbø, um branquelo norueguês que, confesso, nunca vi um vídeo dele tocando e nem me lembro de ouvir falar em recitais dele, muito menos aqui no Brasil. Uma coisa, porém, é certa: as gravações dele das obras de Messiaen, sempre pela Naxos, são sempre de alto nível.

O piano de Messiaen deve muito às invenções de timbre de Debussy, assim como as suas harmonias e escalas também são em grande medida continuações da obra do francês que morreu quando Olivier Messiaen era um moleque de nove anos. Então faz sentido que as peças para dois pianos dos dois compositores apareçam juntas. Não que Messiaen seja simplesmente um imitador de Debussy. Um exemplo: os sinos que soam em vários momentos dessas Visões compostas e estreadas durante a 2ª Guerra Mundial… esses sinos, dizia eu, fazem os pianos soarem de modos às vezes brutais como um trovão vindo dos céus, lembrando às vezes os acordes de Rachmaninoff mais do que os de Debussy.

O nome de Ralph van Raat não me era familiar, mas ele também já gravou outros discos pela Naxos: obras de Frederic Rzewski, Charles Koechlin, Pierre Boulez, etc.

Claude Debussy (1862-1918):
En blanc et noir
Olivier Messiaen (1908-1992):
Visons de l’amen

Ralph van Raat, Hakon Austbo – pianos
Recording: 6-8 July, 2010, Haitinkzaal, Amsterdam, The Netherlands

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Alunos de P. Dukas em 1929 / Em pé: Paul Dukas, René Duclos, Georges Hugon, Maurice Duruflé / Sentados: Claude Arrieu, Olivier Messiaen.

Pleyel

Antonio Vivaldi (1678-1741): I Concerti di Dresda (Schreiber, Freiburg Baroque Orchestra)

Antonio Vivaldi (1678-1741): I Concerti di Dresda (Schreiber, Freiburg Baroque Orchestra)

Forte candidato a capa mais feia e nada a ver de todos os tempos, trata-se de um excelente disco da espetacular Orquestra Barroca de Freiburg, belíssima cidade que possui um time na segunda divisão alemã cuja camiseta é igual à do Flamengo do Rio. Após estas informações essenciais à fruição do CD, diria que este é um exemplar muito germanizado do grande compositor veneziano que, por ser COMUNISTA, era chamado de “Il Prete Rosso” ou O PADRE VERMELHO. Como os comunas comiam criancinhas, Vivaldi foi trabalhar num orfanato para meninas chamado Ospedale della Pietà. Era um padre menos safado que os atuais, que parecem preferir MENINOS. Sua música é maravilhosa, mas os publicitários, em vez de ouvi-la quietos, preferem estragá-la em propagandas. O Concerto da Primavera das Quatro Estações, por exemplo, é capaz de me provocar enjoo quando acompanhado de imagens ensolaradas de crianças correndo num parque, vendendo a liberdade que só determinada fralda ou supermercado dá.

Antonio Vivaldi (1678-1741): I Concerti di Dresda (Schreiber, Freiburg Baroque Orchestra)

1. Concerto In G Minor, R. 577: 1. Allegro Gottfried von der Goltz 3:49
2. Concerto In G Minor, R. 577: 2. Largo Non Molto Gottfried von der Goltz 2:17
3. Concerto In G Minor, R. 577: 3. Allegro Gottfried von der Goltz 3:34

4. Concerto In F Major, R. 569: 1. Anne-Katharina Schreiber 4:43
5. Concerto In F Major, R. 569: 2. Grave Anne-Katharina Schreiber 2:54
6. Concerto In F Major, R. 569: 3. Allegro Anne-Katharina Schreiber 4:48

7. Concerto In G Minor, R. 576: 1. Allegro Gottfried von der Goltz 4:48
8. Concerto In G Minor, R. 576: 2. Larghetto Gottfried von der Goltz 2:14
9. Concerto In G Minor, R. 576: 3. Allegro Gottfried von der Goltz 4:01

10. Concerto In C Major, R. 192: 1. Allegro Freiburg Baroque Orchestra 1:34
11. Concerto In C Major, R. 192: 2. Largo Freiburg Baroque Orchestra 0:45
12. Concerto In C Major, R. 192: 3. Allegro Freiburg Baroque Orchestra 0:57
13. Concerto In C Major, R. 192: 4. Allegro Freiburg Baroque Orchestra 2:01

14. Concerto In F Major, R. 574: 1. Allegro Gottfried von der Goltz 4:17
15. Concerto In F Major, R. 574: 2. Grave Gottfried von der Goltz 3:24
16. Concerto In F Major, R. 574: 3. Allegro Gottfried von der Goltz 3:30

Anne-Katharina Schreiber, violino
Gottfried von der Goltz, regência, violino
Freiburg Baroque Orchestra

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— Jamais ouvirei um vermelho — disse o Idiota Bolsonarista .

PQP

Robert Schumann – Sinfonias – Marek Janowski, Dresdner Philharmonie

Retorno a Schumann pouco mais de um ano depois de ter postado estas mesmas sinfonias, porém com a leitura de Heras-Casado dirigindo a poderosa Filarmônica de Munique. Naquela postagem comentei o quanto amo estas sinfonias, e quanto elas me fazem bem, me deixam de bem com a vida.

Um ano mais velho, agora já sexagenário, retorno a elas, tentando captar novas emoções e sentimentos, e de cara já digo que as emoções já estão mais a flor da pele, e que alguns sentimentos esquecidos com a loucura do dia a dia retornam com força quando ouço essa música tão poderosa. Marek Janowski é um maestro experiente, e neste registro que ora vos trago, dirigindo a Dresdner Philharmonie, sim, orquestra da mesma Dresden tão bem descrita e homenageada em postagem acima do mano PQPBach. Creio que por terem passado por tantas privações, dores e sofrimentos com o bombardeio na Segunda Guerra Mundial seus moradores e músicos se tornaram ainda mais sensíveis e emotivos, e com razão.

Nós passaremos por esse mundo, mas estas quatro obras primas do repertório sinfônico continuarão presentes e empolgando e emocionando novas gerações de ouvintes. A música de Schumann procura nos mostrar um mundo ideal, mas sabemos que as coisas não são assim tão simples. Então, por trás de camadas  harmônicas de beleza cativante, e por vezes estonteantes, somos envolvidos em processos e estruturas complexas  que nos mostram que nem tudo são flores. Espero que apreciem.

01. Symphony No. 1 in B-Flat Major, Op. 38 Spring I. Andante un poco maestoso – Allegro molto vivace – Animato
02. Symphony No. 1 in B-Flat Major, Op. 38 Spring II. Larghetto
03. Symphony No. 1 in B-Flat Major, Op. 38 Spring III. Scherzo. Molto vivace – Trio I & Trio II. Molto più vivace
04. Symphony No. 1 in B-Flat Major, Op. 38 Spring IV. Allegro animato e grazioso – Andante – Poco a poco accelerando
05. Symphony No. 2 in C Major, Op. 61 I. Sostenuto assai – Un poco più vivace – Allegro ma non troppo
06. Symphony No. 2 in C Major, Op. 61 II. Scherzo – Trio I – Trio 2 – Coda. Allegro vivace
07. Symphony No. 2 in C Major, Op. 61 III. Adagio espressivo
08. Symphony No. 2 in C Major, Op. 61 IV. Allegro molto vivace
09. Symphonie No. 3 in E-Flat Major, Op. 97 I. Lebhaft (Vivace)
10. Symphonie No. 3 in E-Flat Major, Op. 97 II. Scherzo. Sehr mäßig (Molto moderato)
11. Symphonie No. 3 in E-Flat Major, Op. 97 III. Nicht schnell (Moderato)
12. Symphonie No. 3 in E-Flat Major, Op. 97 IV. Feierlich (Maestoso)
13. Symphonie No. 3 in E-Flat Major, Op. 97 V. Lebhaft (Vivace)
14. Symphony No. 4 in D Minor, Op. 120 I. Ziemlich langsam (Lento assai) – Lebhaft (Vivace)
15. Symphony No. 4 in D Minor, Op. 120 II. Romanze. Ziemlich langsam (Lento assai)
16. Symphony No. 4 in D Minor, Op. 120 III. Scherzo – Trio. Lebhaft (Vivace)
17. Symphony No. 4 in D Minor, Op. 120 IV. Langsam (Lento) – Lebhaft (Vivace) – Schneller (Più animato) – Presto

Dresdner Philharmonie
Marek Janowski – Condutor

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.: interlúdio :. “Nigerian Marketplace” – Oscar Peterson Trio ֎

.: interlúdio :. “Nigerian Marketplace” – Oscar Peterson Trio ֎

Grande jazz, uma gravação soberba e nos deixamos levar por essa música mágica que faz bem para o coração e para a cabeça.     [Debernardi]

45:43 é pouco mais do que a duração de uma metade de um jogo de futebol. Se levarmos em conta a famosa cera dos ‘jogatores’ e os descontos com as consultas ao VAR, é bem menos do que meio jogo de futebol. Mas, esse disco com esse ‘Total Time’ é por demais precioso! Uma verdadeira joia, música para satisfazer e alegrar as mais diversas audiências. Eu tenho o CD desde os primórdios. Uma amiga recém-chegada de uma temporada de estudos na BigApple me emprestou alguns de seus CDs de jazz em troca de meus poucos de música clássica e eu me apaixonei. Assim, logo que tive alguma oportunidade, fui comprando minhas próprias cópias daqueles maravilhosos discos. Com o tempo, fui aprendendo mais sobre os músicos e sobre as histórias dos próprios discos. Esse aqui, “Nigerian Marketplace”, merece ter sua história mais divulgada, assim como ser ouvido por muitas pessoas.

Lá pelos anos 1970 Oscar Peterson era um pianista veterano e junto com um grupo de excelentes músicos, se juntou a Norman Granz no novo selo musical nomeado Pablo. O pessoal já havia trabalhado com ele, desde os dias da Verve. O disco desta postagem é fruto dessa colaboração e foi gravado ao vivo, no Montreux Jazz Festival, em 16 de julho de 1981. Veja o que Granz conta no livreto do álbum: Nos últimos dois anos, Oscar Peterson, entre aparições pessoais, vem compondo uma obra importante intitulada “ÁFRICA”. O que começou como uma canção em homenagem ao líder nacionalista negro sul-africano, Nelson Mandela, que estava preso, e sua esposa, Winnie, inevitavelmente se transformou em um épico de grande escala. Peterson chamou o primeiro tema, da suíte ainda inacabada, de “Nigerian Marketplace”. No verão passado, julho de 1981, ele se apresentou no Festival de Jazz de Montreux com Niels-Henning Ørsted Pederson no baixo e Terry Clarke na bateria e, como surpresa, incluiu esta composição em seu programa. O público ficou encantado com sua linha melódica assombrosa, e foi um sucesso estrondoso.

A propósito, Herbie Hancock se apresentou no programa da mesma noite, e acredito que o competitivo Peterson, inspirado pelo colega pianista que tanto o aprecia (e de quem ele gosta reciprocamente), fez uma apresentação magnífica. 

Ao lançar este álbum do concerto, convenci Peterson a permitir a inclusão de “Nigerian Marketplace”, não apenas como uma prévia da suíte completa, mas como uma apresentação única por si só.

  1. Nigerian Marketplace (O. Peterson)
  2. Au Privave (C. Parker)
  3. Medley: Misty (E. Garner) & Waltz For Debby (B. Evans)
  4. Nancy With The Laughing Face (J. VanHeusen, P. Silvers)
  5. Cakewalk (O. Peterson)
  6. You Look Good To Me (C. Wells, S. Lefco)

Oscar Peterson, piano

Niels-Henning Ørsted Pederson, baixo

Terry Clark, bateria

Produção: Norman Granz

Gravado ao vivo na Suiça, em 16 de julho de 1981

Veja mais informações sobre o disco aqui.

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MP3 | 320 KBPS | 173 MB

Norman Granz, grande figura…

Immaculate bass performance, possibly my favorite contrabass sound and playing out of any jazz recording, feels like this guy is effortlessly materializing bubbles of air out of his fingers just by waving his hand in the air.

Obviously peterson is amazing – who would have known ?! – and the drummer is very solid… but that bass man. This album used to be my favorite jazz album and though i don’t listen to it very often nowadays, i still enjoy the whole of its running time whenever i decide to revisit it. Definitely recommended.

Viram, recomendado!

Aproveitem!

René Denon

In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 5 de 11: Volumes 6, 15, 17 & 33 (Chopin II, IV, V & IX)

 

Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a quinta das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI

Nem como o general de pijama que sempre brincava que seria, se tivesse largado a Música e seguido feito um Dodge a partir do Colégio Militar, nem assim Arthur Moreira Lima teria colecionado tantas medalhas – o que se torna no mínimo curioso quando nos apercebemos do quão cético ele, de longe e com sobras o mais laureado pianista brasileiro, era quanto a capacidade da diminuta janela de um concurso mostrar com justiça os horizontes artísticos dos jovens aspirantes que, sob os tomates do júri, passam por sua esteira rolante…

… ou corredor-polonês.

O corredor-polonês de Arthur foi, por óbvio, o VII Concurso Internacional Chopin em Varsóvia, realizado em 1965 durante um inverno de trincar os dentes. Durante os dois anos em que se preparou, sob a supervisão de vários veteranos do concurso e do onipresente mestre Rudolf Kehrer, nosso herói estudou até dez horas por dia e submeteu-se a simulações das etapas da competição, tocando seu programa completo ante auditórios lotados de exigentes plateias moscovitas.  O carioca de Estácio chegou a Varsóvia, em suas próprias palavras, na ponta dos cascos, e já nos teria enchido de orgulho por tão só capitanear a delegação de concorrentes do mítico Conservatório de Moscou naquela competição amplamente dominada por pianistas da sovietosfera até a edição anterior, vencida por um socialista milanês de 18 anos que, nas palavras do jurado Arthur Rubinstein, tocava “mais que qualquer um de nós”.

Ecce puer

Arthur, que sempre estranhou o silêncio de seus compatriotas enquanto estudava em Moscou, foi surpreendido por um convite, a meros dois meses do embarque para Varsóvia, para representar o Brasil no Chopin’65. O jovem até então inscrito, um mineirinho de tenros vinte anos, desistira de participar, e só então se lembraram do mais tricolor dos moscovitas, a quem ofereceram uma ajuda de custo que sumiu no éter tão rapidamente quanto o próprio convite.

Levava jeito, o mineirim.

Especialista no extraordinário, o carismático brasileiro que tocava mais russamente que os próprios russos  tornou-se instantaneamente o favorito das plateias de Varsóvia, tão pouco afeitas a russos quanto prontas a acolher quem honrasse a arte de seu mais célebre gênio. Bem mais que um concurso para jovens músicos, o Concurso Chopin é sobretudo uma festa nacional polonesa, uma celebração de orgulho de uma nação que uma vez mais se reconstruía após agressão estrangeira, e era um cenário ideal para que o rapaz de mãos destemidas e pontiagudo e chopiniano perfil causasse sensação cada vez que pisava o palco.

Arthur toca, Frederico observa.

Arthur venceu com facilidade a primeira etapa, que selecionou 36 candidatos, e classificou-se em segunda posição na segunda, ao fim da qual restaram doze candidatos. A terceira etapa, que previa a execução da peça de confronto, obrigatória a todos os candidatos (o Noturno em Mi bemol maior, Op. 55 no. 2), e de uma Sonata a escolher, foi um triunfo. Enquanto todos os concorrentes preferiram a brilhante Sonata em Si menor, Arthur foi o único a tocar a doída Sonata em Si bemol menor. A Marcha Fúnebre e o Finale, com as frenéticas figurações em oitavas paralelas, causaram frenesi no público, cujos aplausos chamaram o Chopinzinho de volta ao palco quatorze vezes. Nosso homem em Varsóvia venceu a etapa, o prêmio especial do júri pela melhor interpretação de uma sonata, e qualquer resistência que ainda pudesse haver a ele na imprensa polonesa:

Interpretou [a Sonata] de maneira extremamente bela, dir-se-ia fantástica”
“Não foram ouvidos [no Concurso] concentração e silêncio iguais (…) ao decorrer de sua execução da Marcha Fúnebre da Sonata em Si bemol menor”
“Tocou o Noturno de maneira formidável, e a Sonata (…) ultrapassou todas as previsões”
“Incomparável (…) o som parecia sair acima do piano, sem toques ao teclado”
“Foi o herói principal de ontem”
“… em sua interpretação da ‘Sonata em Si bemol menor’ somos forçados a usar a palavra ‘genial'”

Chegou favoritíssimo entre os seis finalistas e, para a prova final com orquestra, também fez uma escolha muito pessoal: em lugar do Concerto em Mi menor, algo mais brilhante, tocado por nove entre dez finalistas do Concurso, preferiu o Concerto em Fá menor, camerístico e intimista, e seu favorito desde que o estudara sob sua mestra em Paris, Marguerite Long. Arthur não foi nada mal, mas cometeu alguns erros, e seu piano, engolido pela orquestra, não brilhou como nas etapas anteriores. Classificou-se em quinto na final e conquistou o segundo lugar geral. Entre 2100 pontos possíveis, ficou apenas meio ponto atrás da vencedora, uma argentina que era um verdadeiro huracán e, a despeito duma preparação tumultuada após maternidade, divórcio, disputas pela guarda da filha e alguns anos longe do piano, era uma máquina de acertar e, como muitos já sabiam, uma das maiores pianistas de todos os tempos.

“¿Qué mirás, bobo?”

Ficar com a prata e apenas meio ponto atrás duma figura tão genial em nada chateou Arthur. Ao final do corredor-polonês, viu-se catapultado, juntamente com a guapísima bonaerense, para a fama mundial. Qualquer ressaca que restasse após vinte e três dias de tanta tensão e concentração teria sido liquidificada pela turnê pós-concurso, em que, aliviado pelo dever cumprido, deu com imensa alegria dez recitais, todos abarrotados de poloneses ansiosos para ver e ouvir o brazylijski Szopen. O retrogosto deixado por aqueles quase dois meses em Varsóvia renderia numerosos retornos ao país para concertos e recitais, uma das mais estupendas gravação do Rach 3 em todos os tempos (que já publicamos aqui) e outras duas participações no Concurso Chopin. Na primeira delas, em 1975, deu um recital como pianista convidado – e façam um favor a si mesmos e escutem esse noturno, que nunca ouvi mais lindo em minha vida:

Na outra, em 2021, participou como jurado, substituindo Martha Argerich e Nelson Freire. Sua ex-concorrente, de quem se tornara amigo, estava no Rio para cuidar de Nelson no que infelizmente seriam as últimas semanas de vida do mestre brasileiro, e indicou Arthur para as cadeiras que deixaram no júri.

Jurado em ação

De sua participação sensacional na sétima edição do Concurso Chopin conheciam-se, por muito tempo, apenas as gravações publicadas na coleção da Caras em 1999, que encontrarão no final dessa postagem. Posteriormente, o Instituto Nacional Fryderyk Chopin de Varsóvia (NIFC) traria a conta-gotas algumas outras, incluindo o lançamento comercial da eletrizante prova final do duelo portenho-carioca, que lhes ofereço aqui. Os ouvidos do mundo precisaram aguardar sessenta anos para que a integral das provas de Arthur viesse à tona, numa parceria entre o NIFC e – sempre ele – o Instituto Piano Brasileiro, do inestimável Alexandre Dias:


O “Chopin Brasileiro” também brilharia no Concurso Internacional de Leeds em 1969. Muito mais descontraído que suas disputadas contrapartes no Leste Europeu (Arthur sempre se lembrava dum jurado que dizia aos concorrentes que tivessem calma, porque a vida era bem mais que tão só tocar piano), o Concurso adolescente recém chegava a sua terceira edição. Cheio de idiossincrasias, em especial pelo fato dos concertos na final não serem tocados na íntegra, acabou marcado por uma decisão controversa: em lugar dos três finalistas previstos no regulamento, a última etapa incluiu cinco participantes. Virada de mesa ou marmelada? Deixo para vocês decidirem. Apenas lhes digo que ela aconteceu por pressão dos patronos do Concurso para corrigir o que consideraram um erro crasso dos jurados, que eliminaram um jovem pianista romeno que era o favorito do público e, no final, sairia vencedor:

Nunca dissemos que a vida de Arthur foi fácil em concursos…

Nosso herói, que estava entre os três finalistas originais, escolheu tocar uma vez mais o fatídico Fá menor de Chopin, e classificou-se em terceiro lugar. Não conhecemos qualquer gravação das provas, mas parte do repertório do Concurso foi gravado pelos laureados em estúdio logo após a premiação, e veio à tona graças a – cornucópia de tesouros do (de quem mais?) Instituto Piano Brasileiro. Amo as interpretações de Arthur, mas são os Improvisos de Schubert sob o mago Lupu – seu amigo e colega no Conservatório de Moscou – que me assombram e me fazem quase assinar embaixo da virada de mesa. É ouvir para crer:


A glória final de Arthurzinho, o Concurseiro, dar-se-ia em território muito familiar: a Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky de Moscou, onde ele – para usar um dos termos futebolísticos que lhe eram tão caros – “jogaria em casa” no Concurso com o nome de Pyotr Ilyich, que chegava à sua quarta edição em 1970. Com trinta anos e já no limite superior da idade para esse tipo de evento, ele participou da equipe do Conservatório, capitaneada por Vladimir Krainev, que acabaria por dividir o primeiro prêmio com o britânico John Lill. Não obstante, fez bonito num repertório que tocaria de olhos vendados, e conquistou o terceiro lugar. De sua participação conservaram-se gravações de duas etapas – incluindo a final, uma supermaratona pianística com o Concerto no. 1 de Tchaikovsky e o no. 3 de Rachmaninov tocados em sequência, e que nos foi trazida pelo – surpresa, surpresa – Instituto Piano Brasileiro:

IV Concurso Internacional Tchaikovsky – Primeira Etapa (e eu miacabo com a expressão de Rudolf Kehrer)

IV Concurso Internacional Tchaikovsky – Terceira etapa (final)


Ingresso para a primeira etapa do Concurso Internacional Chopin de 1965
Capa do livro de candidatos do Concurso Internacional Chopin de 1965


Biografia de Arthur Moreira Lima no livro de candidatos do Concurso Internacional Chopin de 1965, com o programa de sua participação.
Diploma de Arthur Moreira Lima como vencedor do Segundo Prêmio do Concurso Internacional Chopin de 1965. Essa imagem, bem como todas as outras que envolvem Arthur nessa postagem, foi fornecida pelo próprio artista ao Instituto Piano Brasileiro, que gentilmente autorizou sua divulgação.

ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima


Volume 6: CHOPIN II

Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)

Grande Valsa Brilhante para piano em Mi bemol maior, Op. 18
1 – Vivo

Grandes Valsas Brilhantes para piano, Op. 34
2 – No. 1 em Lá bemol maior
3 – No. 2 em Lá menor
4 – No. 3 em Fá maior

Grande Valsa para piano em Lá bemol maior, Op. 42
5 – Vivace

Três Valsas para piano, Op. 64
6 – No. 1 em Ré bemol maior
7 – No. 2 em Dó sustenido menor
8 – No. 3 em Lá bemol maior

Duas Valsas para piano, Op. 69
9 – No. 1 em Lá bemol maior
10 – No. 2 em Si menor

Três Valsas para piano, Op. 70
11 – No. 1 em Sol bemol maior
12 – No. 2 em Fá menor
13 – No. 3 em Ré bemol maior

Valsas para piano, Opus póstumo
14 – Em Mi menor, Op. Posth., B. 56
15 – Em Mi maior, B. 44
16 – Em Lá bemol maior, B. 21
17 – Em Mi bemol maior, B. 46
18 – Em Mi bemol maior, B. 133
19 – Em Lá menor, B. 150

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: American Academy Hall, Nova York, Estados Unidos, 1982
Produção e engenharia de som: Judith Sherman
Supervisão: Jay K. Hoffman
Piano: Steinway & Sons, Nova York
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 15: CHOPIN IV

Fryderyk CHOPIN

Dos Três Noturnos para piano, Op. 9:
1 – No. 2 em Mi bemol maior
2 – No. 3 em Si maior

Dos Três Noturnos para piano, Op. 15:
3 – No. 2 em Fá sustenido maior

Dois Noturnos para piano, Op. 27
4 – No. 1 em Dó sustenido menor
5 – NO. 2 em Ré bemol maior

Dos Dois Noturnos para piano, Op. 48:
6 – No. 1 em Dó menor

Dois Noturnos para piano, Op. 55
7 – No. 1 em Fá menor
8 – No. 2 em Mi bemol maior

Dos Dois Noturnos para piano, Op. 62:
9 – No. 1 em Si maior

Noturno para piano em Dó sustenido menor, Op. Póstumo
10 – Lento con gran espressione

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Hampstead, Londres, Reino Unido, 1998
Engenheiro de som: Peter Nicholls
Idealização e direção musical: Arthur Moreira Lima
Idealização, direção musical, produção e edição: Rosana Martins Moreira Lima
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima

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Volume 17: CHOPIN V

Fryderyk CHOPIN

Duas Polonaises para piano, Op. 26
1 – No. 1 em Dó sustenido menor
2 – No. 2 em Mi bemol menor

Duas Polonaises para piano, Op. 40
3 – No. 1 em Lá maior, “Militar”
4 – No. 2 em Dó menor, “Fúnebre”

Polonaise para piano em Fá sustenido menor, Op. 44
5 – Moderato

Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica”
6 – Maestoso

Polonaise-Fantaisie para piano em Lá bemol maior, Op. 61
7 – Allegro maestoso

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: American Academy Hall, Nova York, Estados Unidos, 1983
Produção e engenharia de som: Judith Sherman
Supervisão: Jay K. Hoffman
Piano: Steinway & Sons, Nova York
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 33: CHOPIN IX

Fryderyk CHOPIN

Dos Doze Estudos para piano, Op. 10:
1 – No. 8 em Fá maior
2 – No. 12 em Dó menor, “Revolucionário”

DosDoze Estudos para piano, Op. 25:
3 – No. 5 em Mi menor
4 – No. 10 em Si menor

Sonata para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 35
5 – Grave – Doppio movimento
6 – Scherzo
7 – Marche funèbre: Lento
8 – Finale: Presto

Dos Vinte e quatro Prelúdios para piano, Op. 28:
9 – No. 21 em Si bemol maior
10 – No. 22 em Sol menor
11 – No. 23 em Fá maior

Scherzo para piano no. 2 em Si bemol menor, Op. 31
12 – Presto

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação ao vivo no VII Concurso Internacional Fryderyk Chopin, na Grande Sala da Filarmônica de Varsóvia, Polônia, entre fevereiro e março de 1965.
Remasterização: Carlos Freitas (1998)

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 17:
13 – No. 4 em Lá menor

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 30:
14 – No. 4 em Dó sustenido menor

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 68:
15 – No. 4 em Fá menor

Das Quatro Mazurcas para piano, Op. 41:
16 – No. 1 em Dó sustenido menor

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Moscou, União Soviética, 1971
Remasterização: Carlos Freitas, 1999

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“5ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre como foi participar de grandes concursos de piano entre 1965 e 1970, e sobre sua histórica premiação no IV Concurso Tchaikovsky, em Moscou, Rússia, em que tocou na final o 1º Concerto de Tchaikovsky e o 3º Concerto de Rachmaninoff, sendo aclamado pelo público. Falou sobre o efeito que isto teve sua carreira, abrindo novas oportunidades para tocar na URSS e na Europa, e comentou algumas importantes gravações que realizou no início da década de 1970, incluindo o Concerto No.1 de Villa-Lobos. Além disso, mencionou alguns recitais de grandes pianistas a que assistiu na época, como por exemplo Rubinstein e Michelangeli, e falou um pouco sobre sua própria filosofia como intérprete. Comentou sobre sua mudança para Viena, Áustria, tendo tocado inclusive no Musikverein. Por fim, falou sobre a gravação antológica que realizou em 1975 de músicas de Ernesto Nazareth para a gravadora Marcus Pereira, mudando a história deste compositor, do piano brasileiro, e de sua própria carreira, devido aos novos caminhos que lhe foram abertos. Arthur comentou sobre como foi o processo de gravação em Londres, a escolha de repertório com a colaboração do pesquisador Mozart de Araújo e do próprio Marcus Pereira, e a repercussão que os discos causaram no Brasil.”

 

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Na imagem, o meia Edson Caires de Souza, o Edson Pão Duro.

Vassily

Robert Schumann (1810-1856): Cenas Infantis, Papillons e Arabesque (Kempff, piano)

Wilhelm Kempff (1895-1991) foi um dos pianistas mais longevos e mais gravados do período após a 2ª Guerra: um dos poucos alemães sem passado de simpatia pelo partido nazista, foi o favorito da gravadora DG também por este motivo, mas é claro que havia outras razões… As suas sonoridades e andamentos mais suaves e tranquilos soavam, para muitos, como um alívio numa época em que grandes pianistas como V. Horowitz e S. Richter – além da então novata M. Argerich – gostavam de enfatizar os extremos de sangue, suor e lágrimas que impressionavam as plateias. Especialmente nas obras de Schumann, que, aliás, era um dos compositores favoritos desses três últimos pianistas que mencionei.

Kempff, então, era um pianista para paladares mais refinados, ele não enchia as suas sobremesas de açúcar, muito menos do hoje onipresente leite condensado. Isso pode ser bom ou ruim: muita gente ama e muita gente acha tediosa a sua integral de sonatas de Beethoven, mas talvez na primeira metade ele esteja mais no seu ambiente ideal (mais ou menos até a Sonata ao Luar ou a Pastoral, nº 14 e 15). O mesmo valeria para Schumann: as gravações que Kempff fez para a DG entre 1967 e 1974 têm sido relançadas em uma caixa de 4 CDs e eu diria que uma parte é excelente e outra é apenas mediana. A parte excelente é a que demanda do intérprete, justamente, menos paixões arrebatadoras. As Cenas Infantis são o destaque absoluto, com dedilhados de um grande mestre que conhece intimamente Robert Schumann, com quem já viveu muitas experiências. As outras obras dessa edição italiana são Papillons e Arabesque. Sem grandes dificuldades técnicas, são frequentemente tocadas por pianistas adolescentes porém, assim como os Noturnos de Chopin e o Arabesque de Debussy, permitem que um gigante como Kempff expresse várias coisas que, no final das contas, vão ser ignoradas pelos paladares menos refinados que só procuram grandes dificuldades técnicas e velocidades notáveis como em uma corrida de automóveis.

Robert Schumann (1810-1856):
1-13. 02. Kinderszenen (Cenas Infantis), Op. 15
14. Arabesque, Op. 18
15. Papillons (Borboletas), Op. 2
Wilhelm Kempff, piano
Recorded: Beethovensaal, Hannover, DE – 1967 (Papillons), 1971 (Kinderszenen), 1972 (Arabeske)
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Kempff ensaiando nos estúdios do PQP hall

Kempff também gravou Bach para a DG: duas suítes que muito agradaram ao colega René (aqui)

Pleyel

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas, Op. 101 & 106 "Hammerklavier" (Uchida)

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas, Op. 101 & 106 "Hammerklavier" (Uchida)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma gravação totalmente pessoal da Hammerklavier. Aqui, o trabalho de marcenaria fica mais claro, seja lá o que isso quiser dizer. Uchida não nos oferece uma versão limpinha, mas parece nos dizer “olhem o que este doido varrido inventou aqui”, “sintam como eu tenho que trabalhar aqui” ou “notem como esta fuga é diabólica”. Nada disso fica feio ou desmerece a sonata ou a pianista — que é tão grande ou maior que Nelson Freire, só para compará-la com quem foi postado ontem também interpretando Beethoven — , mas surpreende pela crueza. Eu adorei este disco, apaixonei-me perdidamente.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas, Op. 101 & 106 “Hammerklavier” (Uchida)

1. Piano Sonata No.28 in A, Op.101 – 1. Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung (Allegretto ma non troppo) 5:00
2. Piano Sonata No.28 in A, Op.101 – 2. Lebhaft, marschmäßig (Vivace alla marcia) 6:32
3. Piano Sonata No.28 in A, Op.101 – 3. Langsam und sehnsuchtsvoll (Adagio ma non troppo, con affetto) 10:52

4. Piano Sonata No.29 in B flat, Op.106 -“Hammerklavier” – 1. Allegro 11:25
5. Piano Sonata No.29 in B flat, Op.106 -“Hammerklavier” – 2. Scherzo (Assai vivace – Presto – Prestissimo – Tempo I) 2:42
6. Piano Sonata No.29 in B flat, Op.106 -“Hammerklavier” – 3. Adagio sostenuto 19:49
7. Piano Sonata No.29 in B flat, Op.106 -“Hammerklavier” – 4. Largo – Allegro risoluto 12:24

Mitsuko Uchida, piano

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Baixou o santo em Mitsuko Uchida!

PQP

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para Piano Op. 27/2 “Moonlight”, Op. 53 “Waldstein”, Op. 81a “Les adieux” & Op. 110 (Freire)

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para Piano Op. 27/2 “Moonlight”, Op. 53 “Waldstein”, Op. 81a “Les adieux” & Op. 110 (Freire)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Sabe aquele disco perfeito, sem falhas? Uma Waldstein tão boa quanto a de Pollini, uma Les adieux que é melhor nem comentar, uma 110 verdadeiramente estupenda e uma Ao Luar para incrementar as vendas. Dizer o mais quê?

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para Piano Op. 27/2 “Moonlight”, 53 “Waldstein”, 81a “Les adieux” & 110 (Freire)

1. Piano Sonata No.21 in C, Op.53 -“Waldstein” – 1. Allegro con brio 9:29
2. Piano Sonata No.21 in C, Op.53 -“Waldstein” – 2. Introduzione (Adagio molto) 3:47
3. Piano Sonata No.21 in C, Op.53 -“Waldstein” – 3. Rondo (Allegretto moderato – Prestissimo) 9:12

4. Piano Sonata No.26 in E flat, Op.81a -“Les adieux” – 1. Das Lebewohl (Adagio – Allegro) 6:26
5. Piano Sonata No.26 in E flat, Op.81a -“Les adieux” – 2. Abwesendheit (Andante espressivo) 3:22
6. Piano Sonata No.26 in E flat, Op.81a -“Les adieux” – 3. Das Wiedersehn (Vivacissimamente) 5:11

7. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 1. Moderato cantabile molto espressivo 6:15
8. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 2. Allegro molto 2:00
9. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 3a. Adagio ma non troppo 3:19
10. Piano Sonata No.31 in A flat, Op.110 – 3b. Fuga (Allegro ma non troppo) 6:59

11. Piano Sonata No.14 in C sharp minor, Op.27 No.2 -“Moonlight” – 1. Adagio sostenuto 5:26
12. Piano Sonata No.14 in C sharp minor, Op.27 No.2 -“Moonlight” – 2. Allegretto 2:11
13. Piano Sonata No.14 in C sharp minor, Op.27 No.2 -“Moonlight” – 3. Presto 5:26

Nelson Freire, piano

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Esse toca alguma coisa…

PQP

J.S. Bach: Cantatas BWV 35 & 169 / D. Buxtehude: Klag-Lied BuxWV76b / Schütz: Erbarm Dich Mein, O Herre Gott SWV447 (Iestyn Davies, Arcangelo, Jonathan Cohen)

Nas partituras usadas há séculos na música de concerto ocidental, muita coisa é escrita e lida em termos bastante racionais: uma oitava é uma oitava, pausa é uma pausa… Na música tonal, é mais ou menos evidente a função de uma pausa, de uma oitava, de uma dissonância resolvida na tônica, etc. Mas quando se trata de timbre e orquestração, muitas vezes as intenções dos compositores podem ser misteriosas e relacionadas com fatos específicos das suas vidas. Mozart, por exemplo, escreveu para clarinete só quando já vivia em Viena: tanto o quinteto como o concerto foram compostos para um clarinete-baixo que poucos anos depois caiu em desuso, de modo que a versão publicada em 1801, transcrita para clarinete tradicional (mais agudo) é aquela que é tocada quase sempre até hoje. Já Haydn, por volta de 1795, quando já tinha composto mais de cem sinfonias e umas dez missas, resolveu incluir partes para tímpanos bem mais proeminentes na Sinfonia nº 103 e na Missa “em tempos de guerra”, como comentei aqui.

J.S. Bach, ao escolher os instrumentos e vozes humanas para suas obras, também seguiu caminhos muitas vezes misteriosos. Ninguém tem certeza do que ele quis dizer com “flauti d’echo” no seu 4º Concerto de Brandenburgo: essa expressão não é usada em qualquer outra obra. Harnoncourt entendia que eram duas flautas doces tocando afastadas dos outros músicos, criando um efeito de eco, já outros especialistas chegaram a outras conclusões.

Outro mistério: por que, na sua coleção de mais de 200 obras vocais que, em sua maioria, misturam movimentos corais com árias para solistas*, Bach compôs três obras para alto com órgão obbligato estreadas em Leipzig em três domingos entre julho e outubro de 1726?

* No século XIX, quando foram editadas, as obras que não se encaixavam como “Paixão”, “Missa”, “Magnificat” ou outra categoria foram classificadas sob o guarda-chuva “Cantata”: essa provavelmente não era a palavra mais usada por Bach. Também data do século XIX a numeração dos “BWV”, que é mais ou menos arbitrária: tirando a ordem da reedição no século XIX, não há qualquer motivo para a cantata de BWV 35 (estreada em setembro de 1726) ter numeração distante das 169 (outubro de 1726) e 170 (julho de 1726).

São poucas as informações sobre os solistas que Bach tinha à disposição nas igrejas onde trabalhava. A hipótese de que, naquele ano, Bach se entusiasmou com a voz de um cantor é apenas isso, uma hipótese sem se apoiar em outros documentos além dessas cantatas. E o motivo para Bach ter escrito complicadas partes para órgão tampouco é claro. Apenas podemos imaginar que, na cabeça do mestre de Leipzig, os sons do órgão combinavam especialmente com a voz de alto (correspondente às contraltos e mezzo-soprano, para as mulheres, e, para os homens, ao contratenor e ao haute-contre no barroco francês).

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685 –1750)
Gott soll allein mein Herze haben BWV 169 [22’59]
1 Sinfonia [7’23]
2 Arioso e Recitativo Gott soll allein mein Herze haben [2’48]
3 Aria Gott soll allein mein Herze haben [5’45]
4 Recitativo Was ist die Liebe Gottes? [0’48]
5 Aria Stirb in mir [4’33]
6 Recitativo Doch meint es auch dabei [0’28]
7 Choral Du süße Liebe, schenk uns deine Gunst [1’11]

HEINRICH SCHÜTZ (1585 –1672)
8 Erbarm dich mein, o Herre Gott SWV447 [4’00]

DIETERICH BUXTEHUDE (c. 1637–1707)
Klag-Lied BuxWV76b [13’03]
9 Verse 1 Muss der Tod denn auch entbinden [1’48]
10 Verse 2 Unsre Herzen sind die Väter [1’50]
11 Verse 3 Solcher ist mir auch gewesen [1’50]
12 Verse 4 Dieser nun wird mir entrissen [1’47]
13 Verse 5 Und dass er nun den empfangen [1’50]
14 Verse 6 Er spielt nun die Freuden-Lieder [1’50]
15 Verse 7 Schlafe wohl, du Hochgeliebter [2’04]

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685 –1750)
Geist und Seele wird verwirret BWV35 [25’08]
16 PART I Sinfonia [5’02]
17 Aria Geist und Seele wird verwirret [7’38]
18 Recitativo Ich wundre mich [1’34]
19 Aria Gott hat alles wohlgemacht [3’18]
20 PART II Sinfonia [3’12]
21 Recitativo Ach, starker Gott [1’16]
22 Aria Ich wünsche nur bei Gott zu leben [3’06]

IESTYN DAVIES countertenor
with CAROLYN SAMPSON soprano / JOHN MARK AINSLEY tenor / NEAL DAVIES bass-baritone
TOM FOSTER organ
ARCANGELO / JONATHAN COHEN conductor

Recorded in St Jude-on-the-Hill, Hampstead Garden Suburb, London, 2020

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Estátua de Bach em Leipzig

Pleyel

Quinteto Armorial: Do Romance ao Galope Nordestino (1974), Aralume (76), Quinteto Armorial (78) e Sete Flechas (80)

Quinteto Armorial: Do Romance ao Galope Nordestino (1974), Aralume (76), Quinteto Armorial (78) e Sete Flechas (80)

IM-PER-DÍ-VEL !!! Um tesouro da cultura brasileira!

Há algum tempo notei, com susto, que não tínhamos aqui no blog um disco que considero entre os “top most” de toda a produção musical brasileira: o primeiro do Quinteto Armorial, “Do Romance ao Galope Nordestino”, de 1974.

Verdade que tínhamos várias peças desse disco na postagem do CVL “Projeto Quadrante – A Pedra do Reino” – mas nesses mixes perde-se um elemento artístico tão importante quanto cada peça em si, que é a concepção de conjunto de cada disco. Por isso, fazia tempo que vinha planejando postar aqui o tal disco de 1974.

Só que de repente me veio ideia melhor: por que postar só o disco de 1974? Porque não logo a discografia completa? E foi isso o que se fez.

Enfim, não vou contar aqui nada da história nem da teoria desse quinteto nem do movimento armorial em geral – isso vocês acham relativamente fácil com a ajuda se São Google. Prefiro reaplicar algumas considerações sobre “o que é clássico” que fiz há uns dois anos, ao postar o “Dança das Cabeças” de Egberto Gismonti. Espia aí, gente:

Afinal, o que é que faz determinada música ser “clássica” ou “erudita”? Evidentemente não pode ser a ausência de melodias cantáveis, a ausência de texto, a ausência ou pouca importância da percussão ou de determinadas instrumentações, e até mesmo ausência de vulgaridade ou banalidade… pois cada uma dessas “ausências” é contradita por abundância de presenças no repertório estabelecido.

Para muitos, “clássico” equivale, mesmo que sem consciência disso, a “em formas, escalas e instrumentações de origem européia”. Donde considerarem clássicas, p.ex., as valsas dos dois Johann Strauss, quando para mim são evidentemente música popular em arranjos para poderosos. (Não estou dizendo que são inferiores por serem populares, nem que não caibam num blog como este. As danças compostas e/ou publicadas pelo Pretorius, do século 16, também são música popular em bons arranjos, e seria uma pena não tê-las aqui!).

Para mim, o “clássico” ou “erudito” se refere ao grau de complexidade da elaboração na dimensão “forma”, e/ou de libertação em relação às duas fontes primárias da música (a dança e a declamação expressiva) na direção de uma música-pela-música. E nesse sentido encontramos “clássico” em muitas tradições totalmente autônomas da européia: chinesa, indiana, mandê (da qual postei aqui o lindo exemplo que é Toumani Diabaté), e também em outras que recebem maior ou menor medida de influxo da tradição européia, mas o incorporam em formas produzidas com total autonomia em relação a essa tradição.

O Brasil talvez seja a maior usina mundial da produção deste último tipo de música – mas não me refiro a nenhum dos nossos compositores normalmente identificados como “clássicos” ou “eruditos”: nem a Villa-Lobos, nem a Camargo Guarnieri, nem a Almeida Prado, ninguém desses: todos eles trabalham fundamentalmente com a herança das matrizes formais européias. Não que isso os desqualifique, não se trata disso! Trata-se, ao contrário, é de reconhecer a qualidade do “clássico” em música que não paga nenhum tributo a essas matrizes formais (“concerto”, “sonata”, “fuga” etc.) e por isso às vezes é tida como de segunda qualidade, quando é de primeiríssima!

E por que transcrevo isso? Porque os dois primeiros discos do Quinteto Armorial me parecem ser a realização mais perfeita desse “clássico autônomo” que o Brasil já produziu (os outros dois também são bons, mas ao tenderem um tanto mais para a documentação de repertórios e estilos populares acabam não correspondendo de modo tão puro ao que quero apontar):

Primeiro, temos aí uma formação instrumental de câmara com sonoridade única, criada aqui: não tenta fazer “músca de câmara brasileira” arranjando melodias populares para quartetos de cordas, p.ex. E é nesse sentido que o Quinteto me toca muito mais fundo que a Orquestra Armorial, por importante que o seu trabalho também seja. Mas é adaptação de uma instrumentação desenvolvida fora, esta é uma instrumentação desenvolvida aqui (reparem que falei “instrumentação”, e não “instrumental”…)

Além disso, temos peças bastante longas e livres sem nenhuma preocupação de aplicarem as tais matrizes formais de que falei – e nesse sentido me interessa mais a vertente da composição própria (basicamente de dois Antônios: o José Madureira e o Nóbrega) que a do registro de peças populares arcaicas ou atuais seja com fins de demonstrar as teorias de Ariano Suassuna ou documentais em geral.

Podemos papear mais sobre isso se vocês quiserem, mas por agora vou deixar vocês com a música! As listas de faixas apareceram milagrosamente de um dia para o outro pela colaboração do colega Bisnaga – valeu, Bisnaga!

QUINTETO ARMORIAL (Pernambuco): discografia completa

• DO ROMANCE AO GALOPE NORDESTINO (1974)
1. Revoada (Antônio José Madureira)
2. Romance da Bela Infanta (Romance ibérico do século XVI, recriado por Antonio José Madureira)
3. Mourão (Guerra Peixe)
4. Toada e Desafio (Capiba)
5. Ponteio Acutilado (Antonio Carlos Nóbrega de Almeida)
6. Repente (Antonio José Madureira)
7. Toré (Antonio José Madureira)
8. Excelência (Tema nordestino de canto fúnebre, recriado por Antonio José Madureira)
9. Bendito (Egildo Vieira)
10. Toada e Dobrado de Cavalhada (Antonio José Madureira)
11. Romance de Minervina (Romance nordestino, provavelmente do século XIX,
recriado por Antonio José Madureira)
12. Rasga (Antonio Carlos Nóbrega de Almeida)

• ARALUME (1976)
1 Lancinante (Antônio José Madureira)
2 Improviso (Antônio José Madureira)
3 O homem da vaca e o poder da fortuna (Antônio José Madureira)
4 Abertura
5 A preguiça
6 A troca dos bichos
7 Ironia ao rico
8 Aralume (Antônio José Madureira)
9 Reisado (Egildo V. do Nascimento)
10 Guerreiro (Antônio José Madureira)
11 Ponteado (Antônio José Madureira)
12 Chamada e marcha caminheira (Egildo V. do Nascimento)

• QUINTETO ARMORIAL (1978)
1 – Batuque de Luanda (Antonio José Madureira)
2 – Romance da Nau Catarineta (Antonio J. Madureira)
3 – Toques dos caboclinhos (D. P.)
4 – Entremeio para rabeca e percussão (Antônio C. Nobrega)
I – Cortejo
II – Baiano
III – Boi
5 – Ária (Cantilena da Bachianas Brasileiras nº 5
de Heitor Villa-Lobos transcrição Antônio J. Madureira)
6 – Toque para marimbau e orquestra (A. J. Madureira)
I – Galope à beira-mar
II – Bendito de romeiros
III – Marcha rural

• SETE FLECHAS (1980)
1-Marcha da folia (Raul Morais)
2-Sete flechas (Antônio José Madureira)
3-Xincuan (Antônio José Madureira)
4-Improviso (Antônio José Madureira)
5-Cocada (Lourival Oliveira)
6-Martelo agalopado (Ariano Suassuna – Antônio Carlos Nóbrega)
7-Cantiga (Antônio José Madureira)
8-Algodão (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)
9-Zabumba lanceada (Fernando Torres Barbosa)

Antonio José Madureira: viola sertaneja
Edilson Eulálio: violão
Fernando Torres Barbosa: marimbau nordestino
Egildo Vieira: pífano, flauta
Antonio Nóbrega: rabeca, violino
(algumas vezes com músicos adicionais)

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da nossa loucura compartilhatória!

Ranulfus (publicado originalmente em 09.02.2012)

William Byrd (1540-1623): The Three Masses (Tallis)

William Byrd (1540-1623): The Three Masses (Tallis)

Eu não sou doido pelas missas antigas. É uma música extática demais para o meu gosto. Sua intrincada polifonia me agrada por 15-20 min e depois canso. Vocês podem me rebater que Byrd não escreveu suas três missas para serem ouvidas de enfiada como fazemos numa audição de um CD e serei obrigado a lhes dar razão. O Tallis Scholars é um conjunto simplesmente espetacular e só por ele já valeria ouvir o disco, mas em drágeas.

William Byrd (1540-1623): The Three Masses (Tallis)

1. Byrd: Mass for five voices: Kyrie (Mass for 5 voices) 1:28
2. Byrd: Mass for five voices: Gloria (Mass for 5 voices) 4:55
3. Byrd: Mass for five voices: Credo (Mass for 5 voices) 8:41
4. Byrd: Mass for five voices: Sanctus & Benedictus (Mass for 5 voices) 3:47
5. Byrd: Mass for five voices: Agnus Dei (Mass for 5 voices) 3:49

6. Byrd: Mass for four voices: Kyrie (Mass for 4 voices) 2:03
7. Byrd: Mass for four voices: Gloria (Mass for 4 voices) 5:29
8. Byrd: Mass for four voices: Credo (Mass for 4 voices) 7:31
9. Byrd: Mass for four voices: Sanctus & Benedictus (Mass for 4 voices) 3:39
10. Byrd: Mass for four voices: Agnus Dei (Mass for 4 voices) 3:29

11. Byrd: Mass for three voices: Kyrie & Gloria (Mass for 3 voices) 5:12
12. Byrd: Mass for three voices: Credo (Mass for 3 voices) 6:36
13. Byrd: Mass for three voices: Sanctus & Benedictus (Mass for 3 voices) 2:46
14. Byrd: Mass for three voices: Agnus Dei (Mass for 3 voices) 3:24
15. Byrd: Ave verum corpus 4:16

The Tallis Scholars
Peter Phillips, regente

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A lata do catolicão Byrd
A lata do catolicão Byrd

PQP

Bohuslav Martinů (1890-1959): Sinfonietta ‘La Jolla’ • La revue de cuisine • Toccata e due canzoni • Merry Christmas • Tre ricercari .~. Saint Paul Chamber Orchestra & Christopher Hogwood ֍

Bohuslav Martinů (1890-1959): Sinfonietta ‘La Jolla’ • La revue de cuisine • Toccata e due canzoni • Merry Christmas • Tre ricercari .~. Saint Paul Chamber Orchestra & Christopher Hogwood ֍

A música de Martinů é sempre encantadora, elegante e atraente, lindamente construída e pontuada, um prazer de ouvir. De certa forma, ele é o Haydn do século XX.
Christopher Hogwood

Há tempos venho flertando com a música de Martinů, mas até agora não havia sido fisgado por um trecho que me fizesse parar tudo o que estivesse fazendo para ficar ouvindo. Talvez esse critério não tenha sido o mais adequado, mas finalmente encontrei um disco que tenho ouvido bem amiúde e que sempre me dá vontade de revisitar.

Como o interesse pela música, também aumentou a curiosidade sobre o autor, que tipo de vida levou, como eram as coisas nos seus dias. Entendi que foi músico desde criancinha, que compôs muito, nasceu onde hoje se chama República Checa. Foi compositor, professor de música e, na juventude, tocou violino na Orquestra Filarmônica Checa.

Em 1923 mudou-se para Paris e mudou seu estilo, incluindo o corte de cabelo, deixando o romantismo para lá. Sua música incorporou várias características da música francesa da época.

Com a Segunda Guerra e a invasão de Paris pelos alemães, Bohuslav mudou-se para os Estados Unidos, onde ensinou em Princeton e no Berkshire Music Center, em Tanglewood, Massachusetts. Ele alternou sua residência entre os EU e a Europa, passando um ano ensinando no Curtis Institute, e também na Academia Americana, em Roma. Seus últimos anos foram passados na Suíça, aos auspícios do mecenato do músico milionário Paul Sacher.

Bohuslav felizão por estar no PQP Bach!

O disco da postagem traz cinco peças, algumas mais curtas que outras, mas sempre muito interessantes. A Sinfonietta ‘La Jolla’ foi escrita para atender a um pedido da Musical Arts Society de La Jolla, na Califórnia. Esperava-se uma obra agradável e melodiosa e ele certamente atendeu ao pedido. Com três movimentos, sua orquestração conta com um piano que atua marcadamente especialmente ajudando no ritmo.

La revue de cusine é um balé com os utensílios da cozinha. Aqui temos quatro números formando uma suíte, da qual fazem parte um tango e um delicioso charleston.

A Toccata e due canzoni é a obra mais sombria do disco. Durante a composição dessa peça, em 1946, Martinů caiu de um balcão e machucou-se seriamente, batendo e fraturando a cabeça. A coisa foi séria e ele perdeu parte da audição, mas recuperou-se e voltou a compor. Entendi que ele, desde sempre, tinha enorme memória musical, sendo capaz de se lembrar de partituras completas. Assim, compunha e ‘ouvia’ música enquanto caminhava e pode ter se distraído na ocasião do acidente.

A peça Merry Christmas 1941 foi composta para piano e oferecida à família que o recebeu, com sua esposa, na chegada aos EU na fuga da Europa. Aqui ouvimos um arranjo para quinteto de sopros.

Os Tre ricercare foram escritos sob comissão para a Bienal de Veneza e a sua orquestração emprega dois pianos, cujo uso dão às peças uma textura bem especial.

Bohuslav Martinů (1890-1959)

Sinfonietta ‘La Jolla’

  1. I Poco Allegro
  2. II Largo
  3. III Allegro

La Revue de cuisine

  1. I Prologue
  2. II Tango
  3. III Charleston
  4. IV Final

Toccata e due Canzoni

  1. I Toccata
  2. II Canzone No. 1
  3. III Canzone No. 2

Merry Christmas 1941

  1. Merry Christmas 1941

Tre Ricercari

  1. I Allegro Poco
  2. II Largo
  3. III Allegro

Saint Paul Chamber Orchestra

Christopher Hogwood

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MP3 | 320 KBPS | 177 MB

The performances here sound thoroughly convincing: Hogwood had steeped himself in the Martinů idiom and trained his orchestra well. The recording is clear and there is nothing not to like. There are other performances of all the works here but not in this combination, and anyone wanting a disc of Martinů works other than the main symphonies and concertos will be well pleased with this.

Hogwood foi um bamba da batuta e do cravo…

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 5 de 5) (CBSO / Rattle)

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 5 de 5) (CBSO / Rattle)

E este é o final de mais uma integral que publicamos no blog. A caixinha da EMI termina com uma gravação mais antiga (de 1981, quando Rattle tinha 26 anos) da Sinfonia Nro. 5. É um CD bônus cuja existência me parece justificada, pois há boa diferença entre este e o outro registro, realizado apenas seis anos depois.

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 5 de 5) (CBSO / Rattle)

Disc: 5

Sinfonia Nro. 5, Op. 82
1. I. Tempo Molto Moderato – Allegro Moderato – Presto
2. II. Andante Mosso, Quasi Allegretto
3. III. Allegro Molto – Un Pochettino Largemente

City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle

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Sibelius, por Adam Ford. Acho que esse Adam tava de sacanagem, né?

PQP

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 4 de 5) (CBSO / Rattle)

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 4 de 5) (CBSO / Rattle)

Depois do comentário escrito por um certo Adolf Hitler na postagem anterior de Sibelius, apresso-me a postar o quarto volume. (O comentário é lá de 2008 e essa figura asquerosa — se ainda não morreu — deve ter ficado muito feliz com os anos Bolsonaro, que, aliás, quando será preso?) Antes, li felicíssimo a repercussão da atuação de Rattle em Berlim. Ele prometeu que ia mudar o repertório da orquestra e o está fazendo. Nos 44 concertos deste ano (2008), há poucos Beethoven e Mozart, mas muitas obras modernas e músicas — antigas e novas — pouco ouvidas. Um show de equilíbrio. Ele retirou da Orquestra de Berlim a obrigação de palmilhar sempre a mesma via crucis de compositores. (Hoje, Rattle escolheu sair de Berlim. Saiu como um herói, seu último concerto foi apoteótico e ele sempre volta à orquestra como convidado.)

Bem, mas este é o melhor CD da coleção de Sibelius e um dos grandes discos que possuo. Sim, claro, a música ajuda. São as duas melhores sinfonias do muuuuito misterioso – como escreveu-me um amigo – Sibelius. Há algo na Sinfonia Nro. 5 que deixa meu duro coração sem lágrimas à flor da pele, quase se desmanchando de emoção. São três movimentos com temas bastante rarefeitos, mas belos, belos, belos e orquestrados estupendamente. A CBSO e Rattle não interpretam, mas parecem autenticamente criar a Sinfonia. O final da Quinta sempre me deixou obcecado e já sonhei várias vezes que – músico de uma orquestra qualquer – o errava lamentavelmente.

A execução da Sétima fica a alguns centímetros de Mravinski, que parece ter resolvido melhor o fato de ser uma música de cinco movimentos sem interrupções e, se Rattle ganha em colorido sonoro e no controle da orquestra, perde na qualidade do trombonista e nas passagens de um movimento a outro.

Um disco obrigatório, mesmo para quem não admira Sibelius.

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 4 de 5) (CBSO / Rattle)

Disc: 4

Sinfonia Nro. 5, Op. 82
1. I. Tempo Molto Moderato – Allegro Moderato – Presto
2. II. Andante Mosso. Quasi Allegretto
3. III. Allegro Molto – Un Pochettino Largemente

4. Kualema – Scene With Cranes, Op. 44

Sinfonia Nro.7, Op. 105
5. I. Adagio –
6. II. Un Pochettino Meno Adagio – Vivacissimo – Adagio –
7. III. Allegro Molto Moderato –
8. IV. Vivace – Presto – Adagio

9. Night Ride and Sunrise, Op. 55

City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle

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Sibelius tendo a cabeça de ovo duplicada

PQP

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 3 de 5) (CBSO / Rattle)

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 3 de 5) (CBSO / Rattle)

Tenho poucas gravações destas duas sinfonias de Sibelius. Uma versão é a Karajan e outra é a de Leaper para a Naxos. Rattle parece ser bastante mais compreensivo para com as brumas e o estranho mundo de Sibelius. Orienta-se melhor que os outros dentro dele. Como o finlandês faz muitas vezes uma música sem movimento, é fundamental aquela atenção debussiana para o som produzido. E aqui Rattle e sua ex-orquestra, a CBSO, dão um show. Gosto especialmente dos últimos movimentos das sinfonias presentes neste CD. Moderadamente recomendável para depressões leves e decididamente desaconselhável para quem está à beira do abismo.

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 3 de 5) (CBSO / Rattle)

Disc: 3

Sinfonia Nro. 4, Op. 63
1. I. Tempo Molto Moderato, Quasi Adagio
2. II. Allegro Molto Vivace
3. III.II Tempo Largo
4. IV. Allegro

Sinfonia Nro.6, Op. 104
5. I. Allegro Molto Moderato
6. II. Allegretto Moderato
7. III. Poco Vivace
8. IV. Allegro Molto

9. The Oceanides (Aallottaret), Op.73

City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle

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Sibelius lendo jornal com sua esposa Aino.

PQP

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 2 de 5) (CBSO / Rattle)

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 2 de 5) (CBSO / Rattle)

As leves críticas recebidas pelo volume 1 desta coleção deverão diminuir muito na segunda parte de nossa empreitada sibeliana. Rattle faz uma contemplativa e tranquila abordagem da Sinfonia Nº 2, uma das mais adequadas que ouvi. Talvez a opção de não ser tão especular assuste alguns desacostumados, mas a versão é uma joia. O finale é extraordinário! Já a terceira é uma sinfonia que não é muito conhecida, apesar do esplêndido Andantino Con Moto, Quasi Allegretto, movimento que mora no meu coração. A 3ª mais me parece uma longa – e boa — preparação para algo que… vai acontecer na 4ª… Ainda mais depois de ouvir, ontem à noite, duas que são absolutamente o máximo, da autoria de seu agitado vizinho Nielsen. É decididamente um período sinfônico de minha vida e pretendo postar a integral de Shosta, Sibelius, Nielsen e Mahler. Só gente parruda. O registro que Rattle faz da segunda sinfonia é tão acertado quando casar com a belíssima mezzo-soprano Magdalena Kožená, atual Sra. Sir Simon. Os tabloides ingleses não cansam de escrever que ela tem 18 anos a menos que Rattle. Grande coisa.

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 2 de 5) (CBSO / Rattle)

Disc: 2

Sinfonia Nro. 2
1. I. Allegretto
2. II. Temp Andante, Ma Rubato
3. III. Vivacissimo
4. IV. Finale: Allegro Moderato

Sinfonia Nro. 3
5. I. Allegro Moderato
6. II. Andantino Con Moto, Quasi Allegretto
7. III. Moderato – Allegro, Ma Non Tanto

City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle

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Sibelius numa DR daquelas com sua esposa Aino.

PQP

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 1 de 5) (CBSO / Rattle)

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 1 de 5) (CBSO / Rattle)

Uma grande orquestra, um grande regente e um concerto impossível de ouvir após acostumar-se a Jascha Heifetz. Gosto muito da Primeira de Sibelius, mas o Concerto não satisfaz por causa da citada gravação de Heifetz. Comparado ao lituano, Nigel Kennedy é apenas aceitável. Já na Sinfonia Nº 1, Sibelius parece ainda não ter formado bem seu estilo. Tudo parece muito inicial, só que, de certa forma, todo ele já está lá. E isto é o interessante!

Sua Primeira Sinfonia começou a ser composta em abril de 1898. Em janeiro do ano seguinte, Sibelius mudava-se da capital Helsinque para a pequena cidade de Kerava, a fim de ter mais tempo para compor. Acabou saindo de lá porque não tinha amigos e era complicado de se embebedar… Enquanto trabalhava na sua Sinfonia, o czar Nicolau II expediu o “Manifesto de fevereiro de 1899”, restringindo a autonomia de todas as nações do Império Russo, incluindo a Finlândia. Indignado com a nova situação de seu país, Sibelius compôs uma canção de protesto, intitulada Canção dos Atenienses. A Sinfonia nº 1 e a Canção dos Atenienses foram estreadas no mesmo concerto, em Helsinque, no dia 26 de abril de 1899, pela Sociedade Filarmônica de Helsinque, sob a regência do compositor. O concerto teve grande sucesso e Sibelius foi alçado à condição de uma das principais figuras da resistência finlandesa. Nascia um herói nacional. Sibelius revisou a Sinfonia no ano seguinte. A versão que hoje conhecemos é de 1900 e foi estreada em Estocolmo no dia 4 de julho do mesmo ano, também pela Sociedade Filarmônica de Helsinque, sob a regência de Robert Kajanus, amigo do compositor. Em turnê pelas principais capitais europeias, Kajanus foi responsável pelo sucesso da Sinfonia fora da Finlândia e pelo consequente reconhecimento internacional do compositor. Na Sinfonia nº 1 já podemos vislumbrar aquelas que se tornariam as “marcas registradas” de Sibelius: as atmosferas misteriosas que nos remetem às terras geladas da Finlândia, os contrastes súbitos onde seções calmas são inesperadamente seguidas por momentos de extremo vigor e o uso da orquestral de uma forma extremamente pessoal.

Jean Sibelius (1865-1957): Integral das Sinfonias (CD 1 de 5) (CBSO / Rattle)

Disc: 1

Sinfonia No. 1 in E minor, Op. 39 (1898)
1. I. Allegro, Ma Non Troppo – Allegro Energico
2. II. Andante, Ma Non Troppo Lento
3. III. Scherzo: Allegro
4. IV. Finale: Quasi Una Fantasia (Andante-Allegro Molto)

Concerto para Violino e Orquestra, Op. 47 (1903)
5. I. Allegro Moderato
6. II. Adagio Di Molto
7. III. Allegro, Ma Non Tanto

Nigel Kennedy, violino
City Of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle

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Sibelius numa rede com seu neto. Não me perguntem porque Jean não abriu seu casaco.

PQP

Claude Debussy (1862-1918): Nocturnes, La Damoiselle élue e Le Martyre de Saint Sébastien (Esa-Pekka Salonen, Los Angeles Philharmonic Orchestra)

Claude Debussy (1862-1918): Nocturnes, La Damoiselle élue e Le Martyre de Saint Sébastien (Esa-Pekka Salonen, Los Angeles Philharmonic Orchestra)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Os Nocturnes já tinham sido aqui postados com a gravação do Boulez. La Damoiselle élue é poema lírico baseado em um poema de Dante Gabriel Rosseti e Le Martyre de Saint-Sébastien são fragmentos sinfônicos, em 4 partes. A Orquestra é a Filarmônica de Los Angeles com a regência do sempre competente Esa-Pekka Salonen. As solistas são Dawn Upshaw – soprano – e Paula Rasmussen – mezzo soprano. O Coral é o Women of the Los Angeles Master Chorale. Belíssimo CD, que mostra toda a sensibilidade e delicadeza da música de Debussy. Abraços e boa semana. F.D.P. Bach.

Claude Debussy (1862-1918): Nocturnes, La Damoiselle élue e Le Martyre de Saint Sébastien (Esa-Pekka Salonen, Los Angeles Philharmonic Orchestra)

1. Nocturnes: I. Nuages (Nuvens)
2. Nocturnes: II. Fêtes (Festas)
3. Nocturnes: III. Sirènes (Sereias)

4. La damoiselle élue: Poème lyrique d’après Dante Gabriel Rossetti

5. Le Martyre de Saint Sébastien: I. La Cour des lys. Prelude
6. Le Martyre de Saint Sébastien: II. Danse extatique et Final du 1er Acte
7. Le Martyre de Saint Sébastien: III. La Passion
8. Le Martyre de Saint Sébastien: IV. Le Bon Pasteur

Conductor: Esa-Pekka Salonen
Performer: Paula Rasmussen, Dawn Upshaw, Women of the Los Angeles Master Chorale
Orchestra: Los Angeles Philharmonic Orchestra

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Quadro de Dante Gabriel Rossetti: bem Debussy….

F.D.P Bach + Pleyel

G. F. Handel (1685-1759): Saeviat tellus / Laudate Pueri / Salve Regina / Dixit Dominus (Minkovski)

G. F. Handel (1685-1759): Saeviat tellus / Laudate Pueri / Salve Regina / Dixit Dominus (Minkovski)

A música vocal de Handel é uma das alegrias da vida. Mas este CD não me deixou especialmente tocado. Nada interrompeu minha leitura. OK, o livro que estou lendo — Diante do Manto do Soldado, de Lídia Jorge — é bom demais. Só o Dixit Dominus dividiu minha atenção. Mas a orquestra, coro e solistas são geniais. Deu para notar claramente em quão perfeita forma estavam Kozená e Massis na época da gravação. Eu tenho enorme paixão por Kozená, reconheço sua voz de longe. Gosto também de sua mania de se apresentar tantas vezes sem maquiagem, apesar da idade. As mulheres ficam espantadas quando ela chega na Filarmônica de Berlim com um belo vestido, mas de cara lavada… De resto, futebol é bola na rede.

G. F. Handel (1685-1759): Saeviat tellus / Laudate Pueri / Salve Regina / Dixit Dominus (Minkovski)

Saeviat Tellus Inter Rigores HWV 240: Motetto Per La Madonna Santissima Del Carmine (17:29)
1 “Saeviat Tellus” 5:42
2 “Carmelitarum Ut Confirmet” 0:38
3 “O Nox Dulcis” 6:04
4 “Stellae Fidae” 2:53
5 “Sub Tantae Virginis Tutela” 0:21
6 “Alleluia” 1:51

Laudate Pueri Dominum HWV 237 (16:46)
7 “Laudate Pueri” 3:02
8 “Sit Nomen Domini” 1:57
9 “A Solis Ortu” 1:20
10 “Excelsus Super Omnes” 1:55
11 “Quis Sicut Dominus” 1:43
12 “Suscitans A Terra Inopem” 2:15
13 “Qui Habitare Facit” 1:30
14 “Gloria Patri” 3:04

Salve Regina HWV 241 (12:28)
15 “Salve Regina” 2:55
16 “Ad Te Clamamus” 3:48
17 “Eia Ergo, Advocata Nostra” 3:41
18 “O Clemens, O Pia” 2:04

Dixit Dominus HWV 232 (30:39)
19 “Dixit Dominus” 5:07
20 “Virgam Virtutis” 2:44
21 “Tecum Principium” 2:28
22 “Juravit Dominus” 2:16
23 “Tu Es Sacerdos” 1:30
24 “Dominus A Dextris Tuis” 6:14
25 “De Torrente In Via Bibet” 4:10
26 “Gloria Patri” 6:10

Annick Massis, soprano
Magdalena Kozená, mezzo-soprano, soprano
Sara Fulgoni, alto
Patrick Henckens, tenor
Kevin McLean-Mair, tenor
Marcos Pujol, bass

Les Musiciens du Louvre
Choeur des Musiciens du Louvre
dir. Marc Minkovski

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Magdalena Kozená

PQP

G. F. Handel (1685-1759): La Diva – Árias para Cuzzoni (Kermes, Katschner)

G. F. Handel (1685-1759): La Diva – Árias para Cuzzoni (Kermes, Katschner)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Então, você chega ao PQP Bach e lê: árias para Cuzzoni, de Händel. Não, não pode ser! Esses caras estão de brincadeira! Não, nada de brincadeiras — você adorará as árias para Cuzzoni.

Na verdade, talvez eu devesse escrever: Árias compostas por George Friderich Händel para Francesca Cuzzoni. Francesca foi uma superdiva que juntou-se em 1718 ao London’s Royal Academy of Music. Cuzzoni era tão boa cantora que Händel escrevia coisas cada vez maiores e mais difíceis a fim de analisar suas possibilidades. Mas não pensem que Händel gostava de Cuzzoni. Como toda diva, ela era insuportável a ponto de Händel ter ameaçado lançá-la pela janela, se não cooperasse. A fama de Cuzzoni é atestada pelo grande volume de histórias que sobre ela que chegaram a nós. Ela tinha um ciúme doentio de uma diva rival, Faustina Bordoni, e dizem que costumava desmaiar se ouvisse tal nome. Como era de esperar, Cuzzoni despertou paixões em seu tempo. Ainda hoje… Bem, deixa pra lá.

Simone Kermes tem bela voz e sua Cuzzoni é magnífica. Sem dúvida alguma, este CD vai entrar pros anais de nosso blog PQP Bach!

Georg Friedrich Händel – La Diva – Árias para Cuzzoni
1) Scipione: Scoglio d’immota fronte [5:05]
2) Giulio Cesare: V’adoro pupille [4:39]
3) Giulio Cesare: Piangerò [7:02]
4) Giulio Cesare: Se pietà di me non senti [9:47]
5) Alessandro: No, più soffrir non voglio [4:01]
6) Rodelinda: Ombre, piante (1st Version) [2:24]
7) Rodelinda: Ahi perché, giusto ciel (1st Version) [6:55]
8. Siroe: Or mi perdo di speranza [4:10]
9) Siroe: Mi lagnerò tacendo [6:46]
10) Siroe: Torrente cresciuto [4:19]
11) Tolomeo: Fonti amiche [5:00]
12) Flavio: Amante stravagante [3:36]
13) Riccardo primo: Morte vieni [2:45]
14) Admeto: Io ti bacio [3:15]

Simone Kermes
Lautten Compagney
Wolfgang Katschner

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Kermes: alta voz e cabelos
Kermes: alta voz e cabelos

PQP

G. F. Handel (1685-1759): Händel Arien (Kirchschlager, Cummings)

G. F. Handel (1685-1759): Händel Arien (Kirchschlager, Cummings)

A mezzo-soprano austríaca Angelika Kirchschlager é uma especialista em Handel, Händel ou Haendel. Aqui, ela nos dá uma hora de boas árias, muitas delas raras, principalmente as árias de Ariana em Creta. Estas foram compostas provavelmente para a mezzo-soprano Durastanti ou o castrato Carestini. O CD apresenta não apenas Kirchschlager, mas também a Kammerorchester Basel, em excelente forma. Bom disco, mas nada comparável ao portento que postarei às 16h30.

G. F. Handel (1685-1759): Händel Arien (Kirchschlager)

1) Qui d’amor from Ariodante
2) T’amerò dunque…Con l’ali from Ariodante
3) Scherzo infida from Ariodante
4) Dopo notte from Ariodante
5) Svegliatevi nel core from Giulio Cesare
6) Cara speme from Giulio Cesare
7) L’angue offeso from Giulio Cesare
8. Sdegnata sei from Arianna
9) Oh patria!…Sol ristoro from Arianna
10) Salda quercia from Arianna
11) Qual Leon from Arianna
12) Ove son…Qui ti sfido from Arianna

Angelika Kirchschlager
Kammerorchester Basel
Laurence Cummings

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A mezzo-soprano austríaca Angelika Kirchschlager

PQP

Ernest Chausson (1855-1899): Symphony / Poème / Viviane (Korcia, Kaltenbach)

Ernest Chausson (1855-1899): Symphony / Poème / Viviane (Korcia, Kaltenbach)

Muito bom disco. Ernest Chausson foi um compositor francês da era romântica tardia. Foi influenciado por Wagner, Franck e pelo simbolismo. Morreu tragicamente e jovem (44 anos) em um acidente de bicicleta. Dizem que ele morreu afogado numa poça d`água. Ele descia uma ladeira de bicicleta quando perdeu o controle colidindo violentamente contra um muro de pedra, fraturando o crânio. A parte da poça me contaram. Chausson era um ciclista entusiasta e costumava pedalar frequentemente para relaxar. Na época, as bicicletas não tinham freios eficientes ou sistemas de segurança, e os caminhos eram irregulares. Bem, sua obra é marcada por intensidade emocional, harmonias ricas e um estilo entre o impressionismo e o romantismo. Na Sinfonia, nota-se a influência de César Franck (seu professor). A orquestração é densa, dramática e foi mal recebida na estreia (1891), criticada por ser “demasiado germânica” para o gosto francês da época. Hoje é considerada uma obra-prima esquecida do repertório sinfônico francês. Achei-a muito bonita.

Ernest Chausson (1855-1899): Symphony / Poeme / Viviane (Korcia, Kaltenbach)

Symphony in B-Flat Major, Op. 20
1 I. Lent – Allegro vivo – Allegro molto – Plus lent – Allegro scherzando – Moins vite – Allegro molto – Allegro vivo – Allegro molto – Presto 12:40
2 II. Très lent 09:26
3 III. animé – Tres animé – Encore plus animé – Tres animé – Grave – Modéré – Largement 12:09

Poème for Violin & Orchestra, Op. 25
4 Lento e misterioso – Cadenza – Animato – Poco lento – Allegro – Tranquillo 16:27

Symphonic Poem on a Legend of the Round Table, Op. 5, “Viviane”
5 Andante – Allegro – Lent – Andante 11:30

Laurent Korcia, violino
Orchestre Symphonique et Lyrique de Nancy
Jérôme Kaltenbach

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Esse coco foi direto no muro de pedra.

PQP

Igor Stravinsky (1882-1971), Sofia Gubaidúlina (1931-2025), Hermeto Pascoal (1936-2025): Transcrições – Erika Ribeiro, piano

Igor Stravinsky (1882-1971), Sofia Gubaidúlina (1931-2025), Hermeto Pascoal (1936-2025): Transcrições – Erika Ribeiro, piano

Seguimos com as homenagens ao nosso campeão Hermeto Pascoal, o moço de Lagoa da Canoa, que fez sua passagem de volta para as estrelas no último dia 13, deixando a todos nós, ao mesmo tempo, órfãos de sua magnética presença e plenos, cheios, arrebatados pela sua forma de fazer, amar e ser música. Hermeto é um cometa que passou iluminando e encantando tudo.

O disco de hoje é um que já faz tempo que eu queria trazer para o blog, pois é um dos mais inspirados e inspiradores que saíram por essas bandas nos últimos anos. Erika Ribeiro, pianista paulista de Itararé radicada no Rio de Janeiro, onde leciona piano e música de câmara na UNIRIO, é uma artista que carrega adiante esse exercício pleno de liberdade em suas criações. Transita entre fronteiras e repertórios, entre rótulos e séculos, com uma fluidez que parece evocar os velhos mestres de taijiquan de Chenjiagou. Música é música, e isso é tudo. Se tem algo mais Hermeto que isso, desconheço.

Não deixa de haver graça no fato de que uma das definições de “hermético”, segundo o dicionário, é “difícil de entender e/ou interpretar; obscuro, ininteligível”. Se tem algo menos Hermeto que isso, desconheço.

Hermeto Pascoal é (não consigo escrever no passado, tem algo ali de circular, de infinito) música, é a música. Não é nem fácil nem difícil de entender, porque não é de entender. Música a gente ouve, música a gente é. Mas estou divagando, voltemos ao disco.

O texto da contracapa, assinado pelo craque Irineu Franco Perpétuo, abre com uma contextualização muito interessante:

“Nos dias de hoje, as transcrições são um artifício que costuma ser empregado para alargar o repertório de instrumentos que não foram contemplados pelos compositores canônicos da História da Música. Antes da difusão das tecnologias de gravação, contudo, a transcrição era uma prática muito mais disseminada, e até corriqueira no instrumento para o qual esses mesmos ‘compositores canônicos’ mais escreveram – o piano. Virtuoses do teclado transpunham sistematicamente para suas 88 teclas as árias das óperas mais célebres, as obras-primas do repertório sinfônico – ora procurando fielmente reproduzir-lhes a linguagem, ora embelezando-as com os recursos específicos da técnica pianística. Ao propor suas transcrições – retratos em branco e preto de obras escritas para outras formações –, Erika Ribeiro reconecta-nos à chamada Era de Ouro do piano, renovando uma tradição brilhante dentro dos novos parâmetros do terceiro milênio.”

E, mais adiante, sobre a peça de Hermeto:

Série de arco nasceu de uma curiosa encomenda de Jovino dos Santos Neto, pianista de seu grupo: uma obra que a irmã de Jovino pudesse utilizar em sua coreografia da série de arco de ginástica rítmica. Hermeto e Jovino viram a coreografia da ginasta, cronometraram-na, e daí surgiu a primeira versão da peça, para piano solo. Ao ser gravada, em 1982, no LP Hermeto Pascoal e grupo, a obra teve a instrumentação ampliada, para contemplar o conjunto de Hermeto. Assim, ao executá-la somente ao teclado, Erika como que restaura sua sonoridade original.”

Hermeto Pascoal por Luis Trimano, 1983

Alguns dias depois da morte de Hermeto, Erika muito gentilmente falou com exclusividade ao PQP Bach, contando um pouquinho sobre o nascimento do disco:

Este álbum, a princípio, foi pensado para ser de transcrições para piano solo, autorais, feitas por mim. Eu já estava trabalhando nas canções japonesas (“Três poesias da lírica japonesa”), nas canções russas (“Quatro canções russas”) e no “Epitáfio”, do Stravinsky. Até que um dia, conversando com os produtores do álbum, o Sylvio Fraga e o Bernardo Ramos, falamos sobre como tínhamos que ter um brasileiro no disco, até para dialogar com o Stravinsky. Aí, a gente já pensa no Villa-Lobos, que foi muito influenciado pelo Stravinsky, muito da música dele tem do Stravinsky… Mas eu queria uma coisa menos óbvia. E foi aí que a gente chegou no Hermeto Pascoal, que eu acho que tem tudo a ver com a sonoridade que a gente estava buscando no álbum.

O Hermeto, com essa coisa da música universal, realmente expande os significados da música como a gente compreende, que é muitas vezes estar dentro de algum estilo… O Hermeto realmente criou um estilo musical que pertence a todos os estilos. Então, quando a gente ouve Stravinsky, pode parecer Hermeto, mas quando a gente ouve um forró, também pode parecer… Eu acho que essa pluralidade que ele traz é o que faz com que tanta gente se identifique com a música dele. Não só com a música dele, com as composições, com as invenções musicais, mas também com a maneira dele ser música. O Hermeto personifica essa entidade musical. E eu acho que isso, para qualquer músico, é um pensamento extremamente libertador, porque atiça a nossa criatividade, a nossa intuição. Eu sou uma pessoa super intuitiva, então se eu não estiver conectada à intuição, ou à maneira de como é que eu vou criar um som ali no instrumento, ou naquela sala de concerto, ou naquele momento, as coisas perdem muito o sentido para mim.

Por isso, foi bem natural a escolha do Hermeto Pascoal para figurar neste trabalho, ao lado também da Sofia Gubaidúlina,  essa compositora fantástica. Eu sou completamente apaixonada por essa série de “Brinquedos Musicais”, uma série de 16 movimentos, super imagéticos. E tem tudo a ver com o Hermeto. A gente escolheu “Série de arco”, que também é uma peça que o Hermeto criou para uma coreografia de ginástica rítmica da irmã do pianista dele, o Jovino Santos Neto. Então foi isso,  o Hermeto foi o que universalizou o álbum, agregou muitos sentidos, muitos significados para essa música. Que eu estava e estou buscando, e continuarei buscando por muito tempo.

Erika Ribeiro na Sala Cecília Meireles, 2020

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Transcrições para piano de Erika Ribeiro

Igor Stravinsky (1882-1971)
Três poesias da lírica japonesa
I. Akahito
II. Masazumi
III. Tsurayuki

Quatro canções russas
I. Pato (dança de roda)
II. Solo
III. Gansos, cisnes [extraída do ciclo Três histórias para crianças (1917)]
IV. Canção de seita

Hermeto Pascoal (1936-2025)
Série de arco

Igor Stravinsky (1882-1971)
Epitáfio

Sofia Gubaidúlina (1931-2025)
Brinquedos musicais
I. Acordeão mecânico
II. Carrossel mágico
III. Trompetista na floresta
IV. Ferreiro-feiticeiro
V. Dia de abril
VI. Canção do pescador
VII. Passarinho chapim
VIII. Urso contrabaixista
IX. Pica-pau
X. Clareira do alce
XI. Trenó de neve com sineta
XII. Eco
XIII. Tamborileiro
XIV. Músicos da floresta

Erika Ribeiro, piano

O bruxo Hermeto no traço do genial Baptistão

Karlheinz

ps: Vocês conhecem a gravadora Rocinante? Conheçam a gravadora Rocinante!
pps: A linda capa é de Tomie Ohtake, mestre absoluta.

Barbara Strozzi (1619-1677), Henry Purcell (1659–1695), Claudio Monteverdi (1567–1643) et al: Árias (Helen Charlston, mezzo-soprano / Toby Carr, theorbo)

Mais um disco em que Barbara Strozzi, junto dos seus contemporâneos, se mostra mais delicada, mais surpreendente, menos previsível. Já tinha acontecido aqui. Este disco ganhou boa parte dos prêmios que poderia ter ganho na mídia inglesa em 2022 e 2023: para a revista da BBC, a voz de Charlston é cheia como um bom vinho rosé, e altamente expressiva, mergulhando nos textos com variedade de timbres… Para a Gramophone, que deu o prêmio de “Concept Album of the Year”, a inteligência do programa é do mesmo nível que sua execução – legatos bem feitos, mudanças de tom que capturam os monólogos de Strozzi e Monteverdi.

A essas resenhas, acrescento a minha apreciação pela gravação: realizada dentro de uma igreja na Escócia, com uma acústica que faz os sons ressoarem um pouco, mas não excessivamente. Assim, nas finalizações de frases, temos o balanço perfeito entre o tom íntimo dos lamentos e certo aspecto um pouco mais grandioso do que o conceito mais moderno de intimidade em um quarto burguês… Ou seja, o ambiente soa perfeitamente adequado para essas obras que datam, em sua maioria, do período inicial do barroco.

Barbara Strozzi (1619-1677), Henry Purcell (1659–1695), Claudio Monteverdi (1567–1643) et al: Árias (Helen Charlston, mezzo-soprano / Toby Carr, theorbo)

1 O lead me to some peaceful gloom
Composed By – Henry Purcell
2:58

2 L’Eraclito Amoroso
Composed By – Barbara Strozzi
5:55

3 Prélude
Composed By – Robert de Visée
1:25

4 Restless In Though
Composed By – John Eccles
4:24

Dido’s Lament
Composed By – Henry Purcell
(3:57)
5 Thy Hand, Belinda
6 When I Am Laid In Earth

Battle Cry
Composed By – Owain Park
(16:51)
7 Boudicca
8 Philomela In The Forest
9 A Singer’s Ode To Sappho
10 Marietta

11 Preludio V
Composed By – Giovanni Girolamo Kapsberger
1:04

12 La Travagliata
Composed By – Barbara Strozzi
4:42

13 Lamento D’Arianna
Composed By – Claudio Monteverdi
9:03

14 Sarabande
Composed By – Robert de Visée
2:12

15 An Evening Hymn
Composed By – Henry Purcell
4:42

O lead me to some peaceful gloom / L’Eraclito Amoroso / Prélude / Restless In Though / Dido’s Lament / Battle Cry
/ Preludio V / La Travagliata / Lamento d’Arianna / Sarabande / An Evening Hymn

Helen Charlston, mezzo-soprano
Toby Carr, theorbo
Recorded on 29-30 October and 1 November 2021 in Crichton Collegiate Church, Midlothian, Scotland, UK

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A Woman Playing the Theorbo-Lute and a Cavalier | Gerard ter Borch the Younger (1617-1681)

Pleyel