Incidências, co-incidências… coincidências. Sincronismos? Acontecimentos que se buscam…
Passei alguns dias ouvindo os concertos para piano de Haydn em preparação de uma postagem, há bem pouco tempo. Dúvidas – qual disco escolher? – Algum que represente bem o compositor e o repertório e que seja bom – ótimo, na verdade. E fugir do óbvio, se possível. Busquei uma gravação do Emanuel Ax, que não encontrei, ouvi alguns discos dos puristas com instrumentos de época, alguns encantadores, mas outros, nem tanto. Achei a solução do quebra-cabeças no disco do Leif Ove Andsnes.
Pois assim é a vida, agendada a postagem, cai no meu colo este disco especial, do Arturo Benedetto Michelangeli. Sem perder um segundo sequer, apresento-o aos leitores-seguidores do blog, como uma opção ao disco do Andsnes. Melhor, um complemento, mas não como se a este algo estivesse faltando, capisce? Considere também que ABM dispensou o concertinho em fá maior, mas que em mãos como a do Andsnes, pode ser muito bem apreciado. Mas, como a arquivos dados não se olha os kbites, aqui vai!
Arturo, chegando para falar do disco…
Atentem para o som, especialmente nas cordas na abertura do primeiro concerto do disco, um pouquinho ‘passado’, afinal a gravação é da década de 1970. Mas, a vivacidade da orquestra faz com que nossos ouvidos rapidamente se adaptem. A entrada do piano – bem destacado – mostra logo quem é o protagonista nesta (injusta) contenda. Prestem bastante atenção nas cadências do primeiro e segundo movimentos do concerto em sol maior. Elas são do Nino Rota!
Papa Haydn certamente merece ter sua obra divulgada por um disco como este.
Franz Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Piano No. 11 em ré maior, Hob XVIII: 11
Vivace
Um poco adagio
Rondo all’Ungarese (Allegro assai)
Concerto para Piano No. 4 em sol maior, Hob XVIII: 4
Allegro moderato – Cadência de Nino Rota – Tempo I
Adagio cantabile – Cadência de Nino Rota – Tempo I
Para quem começara tão bem, protelando a publicação de seu Opus 1 e a inauguração de seu catálogo oficial de obras até os quase vinte e cinco anos, a década seguinte foi como um caminhão (se houvesse naquela época) esmigalhando aquele pobre bicho que era a já esculhambada organização de Ludwig van Beethoven. A necessidade do vil metal, muito aumentada pelos aportes irregulares de seus patronos, em função das guerras que devoravam os povos do continente, não só o fez furungar seus baús para publicar velharias dos tempos de Bonn, como a perder muitas vezes o controle sobre a divulgação de suas obras – invariavelmente pirateadas depois da primeira edição – e da própria numeração delas em seu catálogo pessoal.
Uma dessas criaturas frankensteinianas é o trio para piano, violino e violoncelo, Op. 63, que soará familiar a alguns que nos vêm acompanhando desde o começo da série: trata-se de um arranjo do quinteto para cordas, Op. 4, que já era, por sua vez, uma adaptação do octeto para sopros, Op. 104. Há quem force uma barra enorme para tentar se convencer de que o arranjo foi feito pelo próprio Beethoven, mas a ausência de menções ao Op. 63 em suas correspondências, bem como a surpresa com que recebeu a sua publicação, apontam que foi obra de terceiros a que, no máximo, o compositor acedeu sem sequer lhe corrigir as provas. O resultado ocupa de maneira agradável uns trinta e poucos minutos, ao final dos quais a gente concorda com que a única razão de ser para mais esta guaribada na composição juvenil deve ter sido um bom dinheiro, pois a obra não diz muito a que veio, com todo um abismo a separá-lo dos trios tão bem burilados do Op. 1.
Muito da experiência agradável da audição provém da qualidade da gravação da Cedille e do bom trio de intérpretes, todos radicados em Chicago. Seu nome – The Beethoven Project Trio – atesta que eles se uniram para um projeto: tocar todos trios com piano de Ludwig em várias cidades dos Estados Unidos, o que incluiu algumas estreias norte-americanas e, até, a estreia mundial duma obra do renano. Claro que, em pleno 2010, não poderíamos esperar que viesse à tona uma grande obra – e o trio Hess 47 não é exatamente algo desconhecido, pois é um arranjo (mais um!) do primeiro movimento do trio de cordas, Op. 3. A versão aqui ouvida espelha o conteúdo da competente composição original, com um interesse adicional trazido pela parte de piano, que nesta gravação é um Fazioli de elegante som. A obra que arredonda o disco não é exatamente um pinto bem-vindo ao galinheiro beethoveniano. Embora o encarte do BPT jure de pés juntos que a obra, outrora atribuída a Mozart, foi “possivelmente” composta por Beethoven, justificando assim sua inclusão no projeto, a realidade é bem outra. O cuidadoso catálogo de Kinsky-Hahn atirou-a no apêndice (Anhang) de seu rol de obras de Beethoven, que é um limbo onde estão as composições que ninguém hoje crê a sério que tenham vindo de sua pena. Tudo indica é que ele tenha sido escrito por Beethoven, mas não O Beethoven: não por Ludwig, e sim por Karl, seu irmão do meio, que tentara a sorte na composição antes de atuar como secretário, copista e, também sem muito êxito, como representante de Ludwig nas negociações com editoras. Além da atribuição duvidosa, a obra em dois movimentos ainda está incompleta, por lhe faltarem pelo menos duas páginas do Allegro inicial. O musicólogo Robert McConnell preencheu a lacuna, o BPT completou seu disco, e os completistas beethovenianos riscaram mais uma linha de sua lista de faltantes.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trio para piano, violino e violoncelo em Mi bemol maior, Hess 47
1 – Allegro con brio
Kaspar Anton Karl van BEETHOVEN (1774-1815)
Trio para piano, violino e violoncelo em Ré maior, Kinsky/Hahn Anhang 3 (1799) Atribuído anteriormente a Ludwig van Beethoven
Completado por Robert McConnell
2 – Allegro
3 – Rondo: Allegretto
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trio para piano, violino e violoncelo em Mi bemol maior, Op. 63 (1806)
Arranjo anônimo do quinteto para cordas, Op. 4
O professor, escritor e tradutor Caetano Galindo sugeriu-me ouvir este disco. Ele notara certo parentesco entre o Concerto para Piano de John Adams, Must the Devil Have All the Good Tunes?, recém postado aqui no blog, e este de Thomas Adès. Impossível não concordar. Ambos os concertos são ótimos, guardam interlocução com o popular, têm momentos de muito ritmo e agitação, são para grandes orquestras, as linguagens não ficam nada distantes e foram escritos em três movimentos no velho esquema rápido-lento-rápido. Mas o principal parentesco é de espírito, de humor mesmo.
Adès nasceu em Londres, filho da historiadora de arte Dawn Adès e do poeta Timothy Adès . Estudou piano com Paul Berkowitz e mais tarde composição com Robert Saxton na Guildhall School of Music and Drama, Londres. Ele é professor de composição na Royal Academy of Music.
Em março de 2019, Adès regeu a Orquestra Sinfônica de Boston e Kirill Gerstein fazendo a estreia mundial deste seu Concerto para Piano e Orquestra. Encomendado pelo BSO e por Kirill Gerstein, o trabalho já foi interpretado com sucesso em outros palcos e espera-se que se torne parte do repertório de concertos em todo o mundo. Esta gravação ao vivo recebeu respostas arrebatadoras de público e crítica, ficando no mesmo nível do álbum com o trabalho de Adès em 2013, Totentanz. Aliás, Totentanz também está aqui, reunindo solistas como o barítono Mark Stone e a mezzo-soprano Christianne Stotijn com uma (muito) grande orquestra. É uma música surpreendente, alegremente macabra, com uma procissão muitas vítimas, de Papas à donzelas e crianças.
Parece que fue ayer pero Thomas Adés, el antiguo niño prodigio, compositor en residencia de la Hallé con 22 años, tiene ya 49. Lleva a sus espaldas una carrera no solo brillante sino mucho más que eso, pues no deja de ser autor de obras para orquesta como Asyla, un clásico de nuestros días, o de una de las mejores óperas de lo que va de siglo: The Tempest. Hay más cosas pero con esas dos se define bien su genio. Un genio que sigue demostrándose también ahora desde ese otro aspecto que siempre debe preocupar al creador: conseguir que aquello quese propone responda a sus propias expectativas. En ese sentido su nuevo Concierto para piano y orquesta (2019), ya triunfante en muchas salas y muy programado para el incierto futuro, es un ejemplo, si se me permite decir, admirable. Admirable más acá de su efecto emocional, eso tan difícil de explicar objetivamente, y admirable porque se trata de una obra de una inteligencia asombrosa. Responde perfectamente a su título, pues es, ni más ni menos que lo que anuncia. Un concierto para piano y orquesta escrito para un virtuoso —en este caso Kirill Gerstein— y que incluye todas las características del género en su sentido más tradicional, desde la necesidad del poderío técnico a la pertinencia de un acompañamiento no menos sólido, brillantísimo, con un tiempo lento de buena ley lírica y unos extremos muy bien musculados. Todo el conjunto plenamente integrado en parte de una tradición que aquí llega diáfana desde las casi citas al aire general: Rachmaninov, Prokofiev, Ravel y Gershwin en primera instancia y un eco a Ligeti algo más lejano. Todo ello deja con la boca abierta pero al fin hay un punto de retórica, casi de espectáculo, que no es que impida ir más allá sino que da la sensación de que, en efecto, no hay más. Pura música, diría alguien y allá cada cual.
No sucede lo mismo en Totentanz, escrita en memoria de Witold Lutoslawski y estrenada en los Proms en 2013. Una obra mayor donde las haya sobre los textos que acompañaban al friso que estuvo en su día en la catedral de Lübeck, referidos a la muerte —el barítono— que finalmente iguala a todos —la mezzo. Cercana por momentos al Mahler más trágico y con rastros del Bartók de El castillo de Barbazul, está también formidablemente escrita, con unos recursos vocales y orquestales propios de un maestro de la categoría del británico que, aquí sí, demuestra su capacidad para emocionar a su oyente.
Son dos aspectos, pues, de su creación, de sus intenciones y de sus logros. En ambos casos se cumplen de sobra unas y otros pero, en mi opinión, el Adès grande de verdad es el de Totentanz. El del Concierto es el mágico prodigioso a quien, seguro de gustar, y está en su derecho, los fuegos de artificio le salen de maravilla.
Thomas Adès (1972): Adès Conducts Adès
1. Concerto for Piano and Orchestra : 1. – (Live at Symphony Hall, Boston / 2019) (7:35)
2. Concerto for Piano and Orchestra : 2. – (Live at Symphony Hall, Boston / 2019) (7:00)
3. Concerto for Piano and Orchestra : 3. – (Live at Symphony Hall, Boston / 2019) (6:51)
4. Totentanz : Der Prediger (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:16)
5. Totentanz : Der Tod (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:56)
6. Totentanz : Der Tod zum Papst – Der Papst (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:52)
7. Totentanz : Der Tod zum Kaiser – Der Kaiser (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:16)
8. Totentanz : Der Tod zum Kardinal – Der Kardinal (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:42)
9. Totentanz : Der Tod zum König – Der König (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:55)
10. Totentanz : Der Tod zum Mönch – Der Mönch (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:41)
11. Totentanz : Der Tod zum Ritter – Der Ritter – Der Tod zum Bürgermeister – Der Bürgermeister (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (1:49)
12. Totentanz : Der Tod zum Arzt – Der Arzt – Der Tod zum Wucherer – Der Wucherer (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (0:45)
13. Totentanz : Der Tod zum Kaufmann – Der Kaufmann (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:05)
14. Totentanz : Der Tod zum Küster – Der Küster – Der Tod zum Küster (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (4:01)
15. Totentanz : Der Handwerker – Der Tod zum Handwerker (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:20)
16. Totentanz : Der Tod zum Bauer – Der Bauer (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:13)
17. Totentanz : Der Tod zum Mädchen – Das Mädchen (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (2:58)
18. Totentanz : Der Tod zum Kind – Das Kind (Live at Symphony Hall, Boston / 2016) (4:43)
Kirill Gerstein, piano
Boston Symphony Orchestra
Thomas Adès
Um disco delicioso, ideal para estes dias frios aqui do sul. Porque ele traz o calor dos cabarés alemães às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Sempre fui fã do Kurt Weill, já há algum tempo pretendia postar alguma coisa dele, mas outros projetos sempre me tomavam o tempo. Ontem de noite, para variar tentando dar uma geral no meu acervo de cds, encontrei este, escondido. Já fazia bastante tempo que eu não o ouvia.
Anne-Sophie von Otter está em seu elemento natural cantando estas canções. E Sir John Elliot Gardiner pode surpreender a alguns menos acostumados ao seu talento e versatilidade, mas para mim ele soa natural. Já ouvi estas canções com diversos acompanhamentos, desde pequenos grupos de jazz, ou pequenos conjuntos orquestrais, ou apenas um piano, mas nunca antes com uma Orquestra completa. Diria que Gardiner realça a musicalidade das obras, deixando um pouco de lado seu aspecto mais teatral. Mas como estamos ouvindo, e não assistindo, creio que sua escolha foi acertada.
Espero que apreciem. Confesso que andei meio depressivo em minhas últimas postagens, principalmente com o Pergolesi, mas este CD ajuda a levantar a auto-estima.
Kurt Weill (1900-1950): Speak Low (von Otter / Gardiner)
1. Introduktion: Andante sostenuto “Meine Schwester . . .
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
2. Faulheit: Allegro vivace “Müssiggang ist aller Laster”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
3. Stolz: Allegretto, quasi andantino “Als wir aber”
4. Zorn: Molto agitato “Das geht nicht vorwärts”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
5. Völlerei: Largo “Das ist ein Brief aus Philadelphia”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
6. No.5 Unzucht “Und wir fanden einen Mann in Boston”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
7. Habsucht: Allegro giusto “Wie hier in der Zeitung”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
8. Neid: Allegro non troppo “Und die letzte Stadt”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
9. Epilogue “Darauf kehrten wir zurück nach Lousiana”
Lady in the Dark
tran. Chris Hazell/Tony Burke
10. 3. My Ship
11. One Life to Live
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
12. Buddy on the Nightshift
13. Nannas Lied
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Happy End (1929)
tran. Chris Hazell/Tony Burke
14. 1. Bilbao Song
15. 2. Surabaya Johnny
16. Das Lied von der harten Nuss (Song of the Big Shot)
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
17. Je ne t’aime pas
18. Schickelgruber
19. Der Abschiedsbrief
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
One Touch of Venus
20. Foolish Heart
21. Speak Low
22. I’m A Stranger Here Myself
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
Anne Sofie von Otter
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin
Bengt Forsberg
NDR-Sinfonieorchester
John Eliot Gardiner
“Coriolano” é, possivelmente, a primeira abertura de concerto de que se tem registro. Ela leva o nome da peça de Shakespeare sobre a vida dum semilegendário general romano, mas que em verdade foi inspirada na obra muito menos conhecida do hoje obscuro dramaturgo austríaco Heinrich Joseph von Collin (1771–1811).
Nas duas versões da tragédia, Coriolano é exilado de sua cidade e, acolhido pelos volscos, organiza os exércitos desses antigos inimigos para atacar Roma. Às portas dela e no ponto alto do drama, a mãe e a esposa de Coriolano tentam demovê-lo da ideia, no que têm sucesso. O general, então, prefere se matar a comandar a retirada de suas tropas. Pano rápido. Fim.
A música de Beethoven é apropriadamente dramática, contrapondo um tema trágico em Dó menor a um lírico, em Mi bemol maior, representando o embate entre a sanha bélica do general e os sentimentos evocados pelas mulheres de sua vida. O retorno do tema soturno em outra tonalidade parece representar sua decisão final, e seu vagaroso apagar, claro, a sua morte. Apesar de ter usado aqui o termo “abertura”, “Coriolan” é uma peça independente: não há registro sequer da intenção de fazê-la seguir-se de outros números de música incidental, como era a praxe da época. Assim, ao escrever uma obra musical autônoma inspirada por uma outra, literária, Beethoven inaugurava um novo gênero: a abertura de concerto, pedra fundamental da tradição de música programática que, em algumas décadas, ganharia corpo com o trabalho de Berlioz, Liszt e companhia.
O excelente álbum duplo que lhes alcanço, com o infalível Claudio Abbado liderando os filarmônicos vienenses, contém a integral das aberturas de Beethoven. Aqui estão tanto as aberturas de concerto quanto as outras tantas destinadas a suas incursões na música para o palco – as quais foram abordadas, ou assim o serão, ao longo dessa nossa integral de sua obra. A exceção de Zur Namensfeier, Op. 115, da qual passaremos ao largo e não comentaremos, porque é uma das peças mais “nhé” do compositor e, enfim, temos muito mais o que fazer.
A clareza e o vigor do registro são, claro, aqueles que sempre se pode esperar de Abbado, e as duas obras-primas da coleção – “Coriolan” e “Egmont” – são de levantar da cadeira de tão eletrizantes. Para uma leitura bastante diferente, mas igualmente empolgante, recomendo a audição comparada do álbum do conde de la Fontaine und d’Harnoncourt-Unverzagt, vulgo Nikolaus, que restaurei aqui na postagem do patrão PQP.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Die Geschöpfe des Prometheus, música para o ballet de Salvatore Viganò, Op. 43
01 – Abertura
Música incidental para “König Stephan”, de August von Kotzebue, Op. 117 02 – Abertura
Música incidental para “Die Ruinen von Athen”, de August von Kotzebue, Op. 113
03 – Abertura
Música para o Festival de Carl Meisl
04 – Abertura “Die Weihe des Hauses”, Op. 124
5 – “Zur Namensfeier”, Grande Abertura em Dó maior, Op. 115
6 – “Coriolan”, Abertura em Dó menor sobre a tragédia de Heinrich von Collin, Op. 62
Música para a tragédia “Egmont” de Johann Wolfgang von Goethe, Op.84 7 – Abertura
“Coriolan” era uma das peças preferidas de Arturo Toscanini, que a gravou meia dúzia de vezes. Ei-lo doman…, er, ensaiando a orquestra no trecho central da peça, com seu tradicional estilo vigoroso e suas legendárias broncas bilíngues nos músicos…
… muito embora suas cobranças ao contrabaixistas não cheguem aos pés desse legendário esporro (posso escrever “esporro” aqui?) que deve estar doendo até no bisneto do primeiro contrabaixista dessa orquestra. Aproveitem, que não é todo dia que a gente ouve uma criatura nascida em 1867 chamando alguém de “rompicoglioni” – que, sinceramente, virou meu impropério favorito.
FAIXA BÔNUS : a versão de “Coriolan” para banda de rock progressivo, por nosso leitor-ouvinte Eduardo D’Elboux
Por volta de 2000 e seus adjacentes, uma de minhas alegrias era ‘fazer a ronda’, dar uma passada pelos sebos de CDs do centro do Rio, com uma obrigatória parada no Arlequim, que ficava no Paço Imperial, bem perto da saída das barcas vindas de Niterói. Havia um almoço com um amigo, um café e para arrematar uma passadinha na banca do Osni, para ver se havia uma nova edição da Gramophone ou da BBC Music Magazine. Bons tempos…
A edição de janeiro de 2001 da Gramophone sobreviveu aos ataques de cupins e ainda está comigo. Neste número há uma seção chamada Critics’ Choice, na qual os contribuidores da revista fazem uma lista dos discos que mais gostaram entre os que resenharam ao longo do ano de 2000 indicando entre eles o favorito. Eu adoro estas listas e as releio ainda hoje, concordando com alguns, fazendo muxoxos a outros, mas sempre me divertindo muito. Vez ou outra, estas listas me fazem correr à prateleira em busca de um CD ou outro, ou ainda um arquivo para verificar a veracidade de uma afirmação, ou somente pelo prazer de fazer isto.
Foi assim que cheguei a este CD que estou postando aqui. Ele é o último da lista de Edward Greenfield, um crítico sênior da Gramophone, editor do Penguin Guide to Classical Music – a nata da crítica inglesa, que infelizmente faleceu em 2015. Sobre este CD ele diz: Meu outro disco de concerto que fica no alto da lista é do mágico clarinetista Michael Collins, no brilhante arranjo feito por Mikhael Pletnev do Concerto para Violino de Beethoven, tão bem tocado que silencia qualquer dúvida’.
Assim, esclarecida a dúvida, não acharam mais um concerto de Beethoven, encontrado em algum baú que ficou esquecido em algum sótão ou caído atrás de alguma prateleira de uma biblioteca empoeirada. É o Concerto para Violino transcrito para clarinete. Claro que pode… pode sim! O próprio Beethoven o arranjou para piano. E para arredondar de vez o disco, uma tremenda interpretação do maravilhoso Concerto para Clarinete de Mozart.
Wolfagang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para Clarinete e Orquestra em lá maior, K. 622
Allegro
Adagio
Allegro
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Concerto para Clarinete (Violino) e Orquestra em ré maior, Op. 61
Na resenha escrita para a revista, Greenfield termina assim: ‘Like his teacher, Thea King, Collins uses a basset clarinet in Mozart’s great work, relishing the extra downward range and richness of timbre. This is as masterful a reading as there is in the catalogue […]. It is a reading not just elegant but powerful, too, as well as deeply poetic in the slow movement. […] This is a unique and generous coupling which brings out the mastery of this brilliant artist more compellingly than ever.’
A diminuta obra para bandolim e teclado de Beethoven, que consiste de quatro peças, dura pouco mais de vinte minutos. Já as apresentei aqui anteriormente, num tom debochado que, sinceramente, não reflete o que delas penso. Acho-as muito delicadas e agradáveis, e surpreendentemente idiomáticas para algo que brotou da pena dum renano radicado em Viena que nunca cruzou os Alpes rumo à península da Bota. Bem, surpreendentes, talvez, tão só para os que desconhecem que, segundo vários relatos, havia um bandolim pendurado ao lado do piano em seu caótico apartamento, o que nos faz pensar que, mesmo que não o soubesse tocar, Beethoven estivesse ao menos familiarizado ao instrumento. Houve pelo menos dois bandolinistas que o inspiraram: o boêmio Wenzel (Václav) Krumpholz (não o confundir com o Krumpholz mais famoso, o harpista de triste fim), com quem estudou violino em Viena e que quase certamente foi o músico que Beethoven imaginou tocando as peças do WoO 43, e Josephine de Clary-Aldringen, esposa do rico conde Clam-Gallas – de quem ainda há um suntuoso palácio, uma das muitas joias barrocas na maravilhosa capital da Boêmia – e que recebeu a dedicatória, intimamente escrita “pour la belle Joséphine”, da dupla do WoO 44.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Duas peças para bandolim e piano ou cravo, WoO 44
Sonatina em Dó maior, WoO 44a 1 – Allegro
Duas peças para bandolim e piano ou cravo, WoO 43 Sonatina em Dó menor, WoO 43a
2 – Adagio
Adágio em Mi bemol maior, WoO 43b 3 – Adagio (ma non troppo)
Duas peças para bandolim e piano ou cravo, WoO 44
Andante com variações em Ré maior, WoO 44b
4 – Andante
Maria Scivittaro, bandolim Robert Veyron-Lacroix, cravo
A confiar na Wikipedia (não que eu seja um desses), eis o bandolim de Beethoven, de fabricação milanesa, que ficava pendurado na sala de seu apartamento em Viena.
Enquanto Mozart usava de seus concertos para piano para mostrar seu virtuosismo e atrair o público para os concertos que organizava, no caso de Haydn a motivação era diferente. Apesar de suas habilidades ao teclado, ele não era um virtuose. Seus concertos (ou divertimentos) foram compostos na medida que eram demandados por suas funções a serviço de seus patrões.
A lista de seus concertos para piano não é curta, mas agrega peças para cravo, órgão ou piano e entre os quatorze itens, apenas os três gravados neste disco são claramente de sua autoria.
Schantz, 1790
Os Concertos em fá e em sol maior devem ter sido compostos para o cravo como instrumento solista, enquanto que o Concerto em ré maior pode ter sido composto para o pianoforte. Haydn adquiriu um destes instrumentos construído por Wenzel Schantz em 1788 e passou a preferi-lo no lugar do cravo, devido ao seu ‘tão particular toque claro, leve e agradável’. Os concertos são obras musicais do tipo ‘galante’ e sua orquestração usando apenas cordas, com um par de oboés e de trompas acrescentados no concerto em ré maior. Este é o mais popular dos três possivelmente devido ao seu inesquecível último movimento, o Rondo all’Ungarese (Allegro assai).
Maria Theresa von Paradis
O Concerto em sol maior foi apresentado no dia 18 de abril de 1784 em Paris, em um sofisticado Concert Spirituel, pela pianista, cantora e compositora cega, Maria Theresa von Paradis. Mozart teria completado em setembro deste mesmo ano, também para ela, o seu Concerto em si bemol maior, K. 456.
Eu andei ouvindo outras gravações além desta que estou postando, inclusive algumas onde o cravo ou o pianoforte é usado. Ouvi também alguns outros concertinhos, uns com órgão, dos que não são atribuídos a Haydn. Todos são agradáveis, mas estes três realmente se destacam.
Franz Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Piano No. 4 em sol maior, Hob XVIII: 4
Allegro
Adagio
Finale (Rondo – Presto)
Concerto para Piano No. 3 em fá maior, Hob XVIII: 3
Allegro
Largo cantabile
Finale (Presto)
Concerto para Piano No. 11 em ré maior, Hob XVIII: 11
A gravação de Leif Ove Andsnes é de 2000 e o disco recebeu (merecidamente) louvores e prêmios de crítica. Como disse um destes críticos naqueles dias: “In his hands and those of the Norwegian Chamber Orchestra […] these concertos blossom’.
Fiz questão de deixar em tamanho grande a imagem da capa deste CD, pois a achei muito bonita,mais um detalhe a a destacar neste belíssimo CD duplo, gravado ao vivo, que traz dois dos maiores pianistas da atualidade tocando juntos.
Chick Corea dispensa apresentações, é uma lenda viva do piano no Jazz. Hiromi Uehara, ou simplesmente Hiromi, representa o frescor da juventude, mas, apesar da cara de moleque, e de se vestir como uma adolescente rebelde, já completou 40 anos, só que a gravação deste show aconteceu lá em 2009, ou seja, a moça ainda estava entrando nos seus trinta anos. Já tive a oportunidade de trazer em outra ocasião trouxe dois outros cds dela tocando com antigos parceiros do próprio Chick Corea: Lenny White e Stanley Clarke, turminha que arrasava lá dos anos 70, em um super grupo que se chamava Return to Forever. Quem não conhece, sugiro procurarem maiores informações.
Neste belíssimo e delicadíssimo CD, a dupla desfila seu talento interpretando canções famosas, que vão da nossa dupla Tom Jobim / Vinícius de Moraes (How Insensitive, ou traduzindo, Insensatez), passando por Beatles (Fool on the Hill) e obras já clássicas do próprio Chick Corea, passando por Bill Evans, Gershwin, Thelonius Monk além de peças da própria Hiromi.
Chick Corea & Hiromi Uehara: Duet
CD 1
1 Very Early
Written-By – Bill Evans
2 How Insensitive
Written-By – Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes
3 Déjà Vu
Written-By – Hiromi Uehara
4 Fool On The Hill
Written-By – John Lennon, Paul McCartney
5 Humpty Dumpty
Written-By – Chick Corea
6 Bolivar Blues
Written-By – Thelonious Monk
CD 2
1 Windows
Written-By – Chick Corea
2 Old Castle, By The River, In The Middle Of A Forest
Written-By – Hiromi Uehara
3 Summertime
Written-By – DuBose Heyward, George Gershwin, Ira Gershwin
4 Place To Be
Written-By – Hiromi Uehara
5 Do Mo [Children’s Song #12]
Written-By – Chick Corea
6 Concierto De Aranjuez/Spain
Written-By – Chick Corea, Joaquín Rodrigo
Vocês me permitem só mais uma gravação de Martha tocando o concerto em Dó maior de Ludwig?
Só mais uminha?
Pois bem: ela é a minha favorita, a mais brilhante, fluida e à vontade que ela já fez dessa obra que toca quase desde a mórula. O ambiente certamente ajuda: o magnífico Teatro Colón, onde ela estreou há mais de setenta anos, em sua Buenos Aires natal, na qual passa uma aclamada temporada por ano e é merecidamente tratada como divindade terrena. A companhia, seguramente também: nenhum parceiro artístico a conhece há tanto tempo quanto seu conterrâneo Daniel Barenboim, com o qual formou a mais notória dupla portenha de crianças-prodígio e brincava de esconde-esconde sob os pianos das soirées em que tocaram juntos, antes das carreiras os levarem para distintas plagas e se reencontrarem tantas vezes pelo mundo. Daniel é extremamente reverente a Martha, e isso fica claro nessa interpretação do concerto: a solista parece tocar com total liberdade, e o regente a segue impecavelmente. O restante da gravação, feita ao vivo, traz a abertura de “As Bodas de Fígaro”, aquele clássico pontapé inicial dos concertos em matinês, e uma seleção considerável da obra de Maurice Ravel para seu instrumento favorito, a orquestra sinfônica. Barenboim e sua West-Eastern Divan estão tão confortáveis nesse repertório que lhes sobra energia para um extenso bis, com uma das suítes de excertos orquestrais da “Carmen” de Bizet e um tango de Mariano Mores – Martha, mantendo seu costume, dá um rápido bis com Schumann antes de sumir para as coxias para mais um de seus compulsórios cigarrillos. Apesar da sempre tussígena e algo alvoroçada plateia do Colón, a gravação do selo Peral (“Pereira” em espanhol, que é “Birnbaum” em alemão e “Barenboim” em iídiche) consegue captar bem o que deve ter sido uma noite e tanto naquela banda do rio da Prata.
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Le Nozze di Figaro, K. 491
01 – Abertura
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto em Dó maior para piano e orquestra, Op. 15 02 – Allegro con brio
03 – Largo
04 – Rondo. Allegro scherzando
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Fantasiestücke, Op. 12 05 – No. 7: Traumes-Wirren
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
Rapsodie Espagnole, M. 54 06 – Prélude à la Nuit
07 – Malagueña
08 – Habanera
09 – Feria
Alborada del Gracioso, M. 43 10 – Assez vif
Pavane pour une Infante Défunte, M. 19
11 – Assez doux, mais avec d’une sonorité large
Gosto muito do velho Camille! Camille Saint-Saëns foi um dos músicos mais talentosos de sua época, compositor prolífico, figura de proa da música francesa e um dos maiores pianistas e organistas do século XIX. Ele também era um respeitado escritor e estudioso, além de um talentoso matemático e astrônomo amador. E adorava viajar! No início de sua carreira, na década de 1850, ele foi comemorado como o jovem compositor francês mais brilhante de sua época, ganhando grandes prêmios de composição e atraindo o apoio de alguns dos compositores mais famosos da época, como Rossini e Berlioz. Apesar de toda essa conquista, Saint-Saëns era considerado sem emoção e conservador por alguns de seus contemporâneos. No final de sua vida, no início de 1900, muitos dos principais compositores franceses da época, como Debussy, o consideravam antiquado e reacionário. Suas peças mais conhecidas, como o Carnaval dos Animais e a Sinfonia do Órgão, eram vistas como populistas e inconsequentes, tocando para a multidão ao invés de serem arte séria. Bobagem. E este não é o único problema que viam na música de Saint-Saëns. Ele adorava os compositores alemães, particularmente Bach e Mozart, e foi um dos primeiros músicos a apresentar Wagner ao público francês. No entanto, no auge de sua carreira, nas décadas de 1870 e 1880, ele foi incansável na promoção de nova música francesa e, durante a Primeira Guerra Mundial, argumentou que todas as apresentações de música alemã em Paris deveriam ser proibidas. Sua vida familiar foi uma agitada. Ele abandonou a esposa depois de apenas três anos, nunca mais falando com ela… A própria opinião de Saint-Saëns sobre esses conflitos e contradições era simples: “Eu sou um espírito eclético. Pode ser um defeito, mas não posso mudá-lo: não se pode substituir a personalidade de alguém. “
As cinco peças desta gravação cobrem grande parte da vida eclética de Saint-Saëns. Elas representam algumas de suas músicas mais belas para pequenos grupos de câmara, uma forma que Saint-Saëns frequentemente compôs ao longo de sua vida e são algumas de suas obras mais importantes no gênero.
Camille Saint-Saëns (1835-1921): Música de Câmara para Sopros
Caprice sur des airs danois et russes, Op. 79
1. Caprice sur des airs danois et russes, Op. 79 00:10:45
Clarinet Sonata in E-Flat Major, Op. 167
2. I. Allegretto 00:04:31
3. II. Allegro animato 00:02:04
4. III. Lento 00:04:16
5. IV. Molto allegro 00:05:12
Oboe Sonata in D Major, Op. 166
6. I. Andantino 00:03:28
7. II. Ad libitum – Allegretto 00:04:59
8. III. Molto allegro 00:02:28
Bassoon Sonata in G Major, Op. 168
9. I. Allegretto moderato 00:02:48
10. II. Allegro scherzando 00:03:35
11. III. Adagio – Allegro moderato 00:05:56
Romance in E Major, Op. 67 (arr. for horn and piano)
12. Romance in E Major, Op. 67 (arr. for horn and piano) 00:07:31
Os dois primeiros concertos de Beethoven são uma especialidade de Marthinha, e sua última gravação do Op. 19 com Ozawa é fresquíssima, feita em 2019 e lançada no mês passado. Não era uma obra de que o compositor gostasse muito, tanto que o mencionava com ironias em sua correspondência e o retrabalhou várias vezes desde que o estreou em Praga, acabando enfim por dar-lhe um finale completamente novo (o antigo, ao que tudo indica, é o rondó na mesma tonalidade de Si bemol maior, WoO 6, completado por Czerny). Como já mencionamos ontem, apesar de ser chamado de “concerto no. 2”, ele foi a quarta obra do gênero que Beethoven escreveu, depois de dois trabalhos incompletos de juventude e do concerto Op. 15, que publicamos ontem. Martha Argerich, no entanto, o conhece tão bem e o devora com tanto apetite que torna a obra, bem meia-boca para os padrões beethovenianos, um deleite de se escutar. À chuva de estrume que caiu sobre a Decca por conta da capa anterior de Argerich/Ozawa, acusando-a do suposto crime de mostrar dois intérpretes idosos livres de Photoshop, a dupla deu a melhor resposta possível, empenhando seus mais de cento e sessenta anos de experiência numa interpretação rápida, lépida, faceiríssima. Martha, particularmente, está em chamas, e Seiji não a deixa escapar.
Completam o disco um excerto dum divertimento de Mozart e uma linda “Holberg” de Grieg, a obra que me é o mais próximo que conheço duma panaceia instantânea para a melancolia. Ainda que não tenha se tornado meu registro favorito, há nele uma espontaneidade que me deixou, desde a primeira audição, com muita vontade de voltar.
Essa postagem vem com um agradecimento ao colega FDP Bach, que me conseguiu a gravação e que tanto contribui para o blog, desde que dele eu era um leitor-ouvinte. Ela também é um desagravo a este dedicado melômano, detentor de enorme acervo fonográfico, ante os ataques injustificáveis que recebeu de um leitor-ouvinte ingrato e grosseiramente mal educado. Recebemos de muito bom grado as críticas e contamos com nossos leitores-ouvintes para fazer as necessárias correções a nossos lapsos. Nós próprios nos criticamos e corrigimos muito em nossa comunicação privada, sem nunca perdermos o respeito por nossas preferências diferentes, que asseguram a diversidade do blog. Isso não autoriza qualquer um de nós a faltar com o respeito com os outros, sejam autores, sejam leitores-ouvintes. Não somos balde para despejarem recalques, nem bidê para lavar-lhes a prepotência. O último infeliz que tentou tomou uma tunda dos comentaristas e espero que tenha sumido para sempre. Não seja o próximo, por favor.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra em Si bemol maior, Op. 19
(cadências de Beethoven) Composto em 1787-1789, revisado em 1795 Publicado em 1801 Dedicado a Carl Nicklas von Nickelsberg
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo: Molto allegro
Martha Argerich, piano Mito Chamber Orchestra Seiji Ozawa, regência
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Divertimento em Ré maior, K. 136
4 – Allegro
Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Fra Holbergs tid (“Dos Tempos de Holberg”) – Suíte no Estilo Antigo, Op. 40
Para quem gostou da parceria Martha/Seiji, ei-los combinando forças com a orquestra do Festival Saito Kinen [grato, Isaac!] para uma vibrante Fantasia Coral de Beethoven – com direito a uma participação da diva Nathalie Stutzmann, facilmente encontradiça, como imensa amazona que é, no meio dos demais cantores. Martha é idolatrada no Japão – talvez o epicentro marthômano no mundo – e ela retribui generosamente, com visitas frequentes, colaboração com artistas japoneses e com a participação no primeiro festival a levar seu nome, na estância termal de Beppu.
#BTHVN250, por René Denon
Vassily
[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]
Vilde Frang é muitas vezes comparada com a jovem Anne-Sophie Mutter e elas muitas vezes tocam juntas. É merecido. Surgiram muitas violinistas depois de Mutter e Mullova, mas a única que pode conversar com elas no mesmo degrau é Frang. Fico feliz por tê-la descoberto sem ter lido nada antes a respeito. Cruzei com um CD dela e disse logo de cara: isso não é normal!
Bem, voltemos. Aqui, Vilde Frang interpreta o muito amado Concerto de Tchaikovsky e nos dá sua terceira versão para o Concerto de Nielsen. Note que ela tinha 25 anos quando gravou este CD e já estava na terceira versão (hoje tem 29). No Tchai, Frang demonstra um virtuosismo seguro mas, longe de soltar fogos de artifício vazios, ela usa sua incrível técnica para reduzir um pouco a emoção habitual dos violinistas que costumam enfrentar a peça de forma ardente. A coisa fica mais sofisticada. O resultado final é uma gravação verdadeiramente notável — de cair o queixo — deste cavalo de batalha. Tudo o que se ouve desmente a juventude de Frang. Peça difícil e célebre, é complicado demonstrar novidades nela, só que a menina consegue. Já o Concerto de Nielsen mora em seu coração. Composto por Nielsen na terra natal da solista, a Noruega, foi estreado na Dinamarca. Vilde sempre foi louca por ele. O trabalho é muito escandinavo: melodias simples e sinceras colocadas em locais espaçosos e varridos pelo vento. Ouça com atenção. Frang é a violinista.
E nasceu num 19 de agosto, o que é um selo de alta qualidade.
Em colaboração com MutterE ambas recebendo nosso aplauso
Tchaikovsky: Violin Concerto in D Major, Op. 35
1 I. Allegro moderato 18:33
2 II. Canzonetta (Andante) 6:27
3 III. Finale (Allegro vivacissimo) 10:10
Nielsen: Concerto for Violin and Orchestra Opus 33
4 I. Part I: Praeludium – Largo 6:47
5 II. Part I: Allegro cavalleresco 13:09
6 III. Part 2: Poco Adagio 6:14
7 IV. Part 2: Rondo: Allegretto scherzando 10:25
Vilde Frang
Danish National Symphony Orchestra
Eivind Gullberg Jensen
Mais uma babada nossa? Sim, inda outra: postamos os dois primeiros concertos de Lud Van com a deusa Martha e Giuseppe Sinopoli, sem percebermos que FDP Bach já os tinha publicado antes. Enquanto pagamos nossas impublicáveis penitências, tento me redimir em duas prestações, com novíssimas gravações da nossa rainha na companhia de seu amigo e colaborador de longuíssima data, Seiji Ozawa.
Enfim, concertos para piano – e Ludwig deve ter pensado o mesmo quando publicou seus dois primeiros, em 1801. Ele já os vinha tocando havia algum tempo em seu afã de consolidar-se em Viena como um compositor-virtuose, seguindo a vereda do jovem Mozart, cujos extraordinários concertos para piano pairavam, intimidadores, sobre qualquer desgraçado que se aventurasse pelo gênero. Era fundamental que um postulante ao panteão do teclado tivesse seus cavalos de batalha, e por isso Lud Van pariu cuidadosamente os seus, após longa e insegura gestação. Percebam que eu não os numero no título, enquanto lhes explico: além de nenhum deles ter sido o primeiro concerto escrito por Beethoven – distinção que cabe a um concerto em Mi bemol (WoO 4), composto ainda na adolescência e do qual restou apenas a parte para piano -, o primeiro a ser publicado foi o segundo a ser estreado, e vice-versa. Assim, o concerto Op. 15, composto em 1795, foi estreado nove meses depois do Op. 19, que marcou a estreia pública de Beethoven como pianista em Viena e já vinha sendo esboçado desde os tempos de Bonn. Embora baseiem-se firmemente em modelos de Haydn e Mozart, há amplos toques beethovenianos nas modulações inesperadas e mudanças bruscas de humor, e na escrita pianística, tão brilhante quanto a que se esperaria duma obra composta para pavonear sua capacidade ao teclado. O compositor legou-nos suas próprias cadências para as obras, que são as utilizadas na presente gravação e nos dão um sabor de seu talento improvisatório – que, junto com a prestidigitação pianística, era o que mais incensava a fama do rapaz antes de se firmar como compositor.
Cada vez que escuto Martha Argerich tocar esses concertos, fico pensando o quanto o Beethoven garotão não se reconheceria temperamento artístico sanguíneo e nas execuções exuberantes da deusa portenha do piano. Suas interpretações lideram minha preferência, ainda que reconheça suas idiossincrasias, e muito embora prefira suas gravações com Abbado, já publicadas aqui. Ela os executa praticamente desde o ovo, como poderão testemunhar pelo vídeo mais abaixo, de modo que não lhe poderiam ser mais naturais. Nessa gravação, feita ao vivo com a orquestra de câmara do centro cultural Art Tower da cidade japonesa de Mito, ela é acompanhada por Seiji Ozawa, um notável regente com um tremendo talento para a sobrevivência: mesmo gravemente doente, ele mantém-se admiravelmente ativo. É incrível a eletricidade que eles trazem para esta gravação, que nada sugere a avançada idade em que graciosamente entram. Ozawa sai-se bem, mas é Marthinha, como sempre, quem vale o download.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sinfonia no. 1 em Dó maior, Op. 21 Composta entre 1795-1800 Publicada em 1801 Dedicada ao barão Gottfried van Zwieten
1 – Adagio molto – Allegro con brio
2 – Andante cantabile con moto
3 – Menuetto: Allegro molto e vivace
4 – Adagio – Allegro molto e vivace
Mito Chamber Orchestra Seiji Ozawa, regência
Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15
(cadências de Beethoven) Composto em 1795 Publicado em 1801 Dedicado à princesa Anna Louise Barbara Odescalchi
5 – Allegro con brio
6 – Largo
7 – Rondo. Allegro scherzando
Martha Argerich, piano Mito Chamber Orchestra Seiji Ozawa, regência
Marthita, nossa deusa, toca estes concertos desde que se conhece por gente: ei-la, aos oito anos, interpretando o concerto no. 1 com Alberto Castellanos.
#BTHVN250, por René Denon
Vassily
[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]
Telemann foi um compositor prolífico que, apesar da longa vida, parece ter alterado pouco seu estilo ao longo dos anos. Foi um barroco muito tardio, quase fora do estilo. Não sou um especialista na obra do compositor, mas é o que me parece. Também sei que foi o compositor mais divulgado e famoso na época de Bach. Fazer o quê? Este CD não foi das melhores coisas que ouvi dele. A maior contribuição do excelente grupo de instrumentos históricos Epoca Barocca é o uso de uma variedade de diferentes duplas para o baixo contínuo, evitando o quase onipresente modelo de cravo e gamba. Isso tem a virtude de demonstrar o que se fazia no século XVIII, onde sem dúvida o que estava disponível era utilizado. O som do CD é um problema — o grupo é gravado muito de perto. Mas não deixa de ser um disco agradável e interessante. Talvez eu esteja de mau humor, sei lá.
G. P. Telemann (1681-1767): Trios & Quartets
1 Quartet No. 1 in D Major, TWV 43:D2: I. Dolce 00:02:40
2 Quartet No. 1 in D Major, TWV 43:D2: II. Allegro 00:01:42
3 Quartet No. 1 in D Major, TWV 43:D2: III. Grave 00:00:43
4 Quartet No. 1 in D Major, TWV 43:D2: IV. Allegro 00:02:59
5 Essercizii musici: Flute Sonata in D Minor, TWV 42:d4: I. Largo 00:01:54
6 Essercizii musici: Flute Sonata in D Minor, TWV 42:d4: II. Allegro 00:02:08
7 Essercizii musici: Flute Sonata in D Minor, TWV 42:d4: III. Affettuoso 00:02:14
8 Essercizii musici: Flute Sonata in D Minor, TWV 42:d4: IV. Presto 00:01:46
9 Trio in F Major, TWV 42:F16: I. Adagio 00:02:12
10 Trio in F Major, TWV 42:F16: II. Presto 00:01:31
11 Trio in F Major, TWV 42:F16: III. Sarabande 00:03:12
12 Trio in F Major, TWV 42:F16: IV. Menuet 00:03:20
13 Quartet No. 3 in A Major, TWV 43:A2: I. Vivace 00:01:53
14 6 Quatuors ou Trios: Quartet No. 3 in A Major, TWV 43:A2: II. Largo 00:02:37
15 6 Quatuors ou Trios: Quartet No. 3 in A Major, TWV 43:A2: III. Allegro 00:02:39
16 Trio Sonata in G Major, TWV 42:G13: I. Adagio 00:01:41
17 Trio Sonata in G Major, TWV 42:G13: II. Allegro 00:01:47
18 Trio Sonata in G Major, TWV 42:G13: III. Largo 00:00:53
19 Trio Sonata in G Major, TWV 42:G13: IV. Allegro 00:02:05
20 Sonata in G Minor for Oboe and Bassoon, TWV 41:g12: I. Affettuoso 00:02:01
21 Sonata in G Minor for Oboe and Bassoon, TWV 41:g12: II. Allegro 00:02:42
22 Sonata in G Minor for Oboe and Bassoon, TWV 41:g12: III. Arioso 00:02:07
23 Sonata in G Minor for Oboe and Bassoon, TWV 41:g12: IV. Gigue 00:02:54
24 Trio Sonata in E Minor, TWV 42:e9: I. Largo 00:01:51
25 Trio Sonata in E Minor, TWV 42:e9: II. Allegro 00:01:45
26 Trio Sonata in E Minor, TWV 42:e9: III. Affettuoso 00:01:26
27 Trio Sonata in E Minor, TWV 42:e9: IV. Vivace 00:01:49
28 Quartet No. 6 in E Major, TWV 43:E1: I. Gratioso 00:02:04
29 Quartet No. 6 in E Major, TWV 43:E1: II. Divertimento I: Allegro 00:03:32
30 Quartet No. 6 in E Major, TWV 43:E1: III. Divertimento II: Tempo giusto 00:02:10
31 Quartet No. 6 in E Major, TWV 43:E1: IV. Divertimento III: Allegro 00:00:43
O quanto o conhecimento antecipado do intérprete afeta nossa apreciação de um disco?
Eu sempre considero esta questão, que pode funcionar em dois sentidos. O mais óbvio é o caso no qual idolatramos um artista a ponto de ficarmos insensíveis às suas falhas ou mesmo às suas tentativas menos frutíferas.
Só para ilustrar esta possibilidade, consideremos o caso da gravação do Concerto Tríplice de Beethoven feita pela EMI com a estelar ‘tróica’ Richter-Oistrakh-Rostropovich acompanhados pela Berliner Philharmoniker, regida por Karajan. A história está no livro ‘Maestros, Obras-Primas & Loucura’, do Norman Lebrecht. No dia da gravação, depois dos abraços no início, tudo deu errado. Oistrakh e Richter acharam os andamentos de Karajan muito solenes e mais outras reclamações. Rostropovitch entregou os pontos e passou para o lado do regente. Todo mundo reclamando de todos… A equipe de produção disse que Karajan tinha outros compromissos e queria encerrar as gravações. Quando Richter e Oistrakh solicitaram mais uma tomada de som, o produtor Peter Andry disse que já tinha material suficiente. O tempo restante na agenda de Karajan era para a foto da capa. Richter, que não tinha papas na língua, disse que a gravação ficou horrível e outras coisas que não repetirei aqui. Apesar de tudo, o disco segue aparecendo em reedições… Eu ouço uma gravação mais antiga (ainda) desta obra, aquela que reúne Lev Oborin, David Oistrakh, Sviatoslav Knushevitzky acompanhados pela Philharmonia Orchestra, regida por Malcolm Sargent e ainda farei uma comparação para tirar minhas próprias conclusões. Seria o disco assim, um fiasco, ou seria implicância do Lebrecht?
Alguém errou…
O outro sentido da questão ocorre quando há pré-julgamento e temos a situação: não ouvi e não gostei! Eu certamente tenho destas coisas e, recentemente, acabei dando a mão à palmatória. Não tenho grande estima pelo maestro americano Lorin Maazel. Além do disco no qual ele acompanha o Gidon Kraemer tocando o Concerto para Violino de Tchaikovsky, com a famosa capa em que o solista parece estar dizendo – Não fui eu! – pouco ouvi do maestro. Pois é, tenho seguido a vida sem ouvir discos outros com o Maazel. Então, dia destes ouvi a Oitava Sinfonia do grande Anton Bruckner em uma gravação EMI-Berliner Philharmoniker-Lorin Maazel. Não é que foi uma grata surpresa?
Assim, decidi fazer esta postagem de um repertório super conhecido, mas sem os nomes dos artistas… Uma proposta de audição às cegas, um blind listening test!
Justiça?
Claro, a questão dos créditos aos artistas envolvidos, tanto para receber os louros e loas, como para levar as tomatadas e apimentadas críticas, se apresenta imediatamente. Após vários tratos a bola, achei que a melhor solução será a de apresentar assim a postagem, sem os nomes, mas a mesma será reeditada, quarenta dias desde sua publicação – uma quarentena! – para que os nomes dos ilustres artistas sejam então claramente nomeados e que seja dado a cada um, segundo o seu talento, o seu devido quinhão.
Espero que você, leitor assíduo e atento de nosso ilustre blog, participe da brincadeira, ouvindo atentamente e anotando as suas impressões. Posteriormente, quando as identidades dos mascarados artistas forem reveladas, que você leia as suas impressões e descubra se elas poderiam ter sido influenciadas pelo prévio conhecimento.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Concerto para piano e orquestra No. 5 em mi bemol maior, Op. 73 – ‘Emperor’
Allegro
Adagio um poco mosso & III. Rondo
Fantasia para piano, solistas, coro e orquestra, Op. 80 – ‘Fantasia Coral’
Em mais uma babada minha, publiquei dois discos sem saber que, quase doze anos antes, nosso patrono FDP Bach já o tinha feito. O repertório do primeiro, que restaurei lá na postagem original de FDP, é um pot-pourri tão peculiar que não encontrei outra semelhante, de modo que a serenata vem hoje, e a obra para bandolim chegará posteriormente. Quanto ao segundo disco, além de também restaurar o link na postagem original, agi diferentemente e resolvi manter a postagem que escrevi, muito em função à homenagem ao trompista Myron Bloom. Assim, o trio para flauta, piano e fagote vem para cá, e a homenagem a Bloom segue lá.
“Trios para flauta” foi um coelho tirado da cartola para colocar sob o mesmo teto duas obras absolutamente diferentes em estilo, contexto e finalidade, ainda que tenham em comum, além da prima donna de metal, a incrível heterodoxia na escolha de seus acompanhantes.
A obra que abre o disco, escrita para a rara combinação de flauta, piano e fagote, tem um estilo tão escarradamente mozartiano que talvez tenha feito Beethoven escondê-la, depois de achar sua própria voz. Parece que foi escrita para o conde Westerholt-Gysenberg, um fagotista amador cuja filha estudava piano com Ludwig e, como amiúde acontecia, despertara borboletas no estômago do compositor adolescente. É uma obra muito agradável, feita para entreter sem atrair muito a atenção, e não por acaso destinada à flauta, instrumento muito popular entre os nobres, incluindo o filho do conde, de quem Ludwig almejava tornar-se cunhado. Assinada pomposamente por “Louis van Beethoven – organista da corte de Sua Alteza Real o Príncipe Eleitor de Colônia”, ela evoca facilmente um Beethoven garoto, que ainda não completara dezesseis anos, circulando pela despreocupada corte em peruca, chapéu tricorno e casaca, enquanto afundava-se em preocupações com o sustento da família, o alcoolismo do pai, a saúde da mãe, e os horizontes que lhe acenavam de bem longe da provinciana Bonn.
O disco prossegue com a Serenata Op. 25, composta para a ainda mais incomum formação de flauta, violino e viola. Embora ninguém saiba ao certo para quem e em que circunstâncias ela foi escrita, suas melodias cativantes e notável leveza dão a entender que o dedicatário era o próprio bolso do compositor, que talvez precisasse de dinheiro e, por isso, escreveu algo certeiramente popular para surfar na onda de sua crescente notoriedade como compositor. Escrita aos seus vinte e poucos anos em Viena, ela segue o script dos divertimentos de Mozart, com vários movimentos de dança na mesma tonalidade. Ainda que ela não esteja no rol de suas obras mais célebres, é uma composição muito bem acabada que provavelmente fosse do apreço do compositor, que, ao permitir a publicação de um arranjo para flauta e piano, insistiu com o editor, e reinsistiu num tom mesmo ríspido, que frisasse no frontispício que o arranjo era de terceiros, mas o original era seu.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trio em Sol maior para piano, flauta e fagote, WoO 37 (1786)
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Andante con variazioni
Peter-Lukas Graf, flauta Klaus Thunemann, fagote Bruno Canino, piano
Serenata em Ré maior para flauta, violino e viola, Op. 25 Composta em 1801 Publicada em 1802
4 – Entrata – Allegro
5 – Tempo ordinario d’un Menuetto
6 – Allegro molto
7 – Andante con variazioni
8 – Allegro scherzando e vivace
9 – Adagio – Allegro vivace e disinvolto
Peter-Lukas Graf, flauta Franco Gulli, violino Bruno Giuranna, viola
Apesar de escutá-lo há décadas, nunca soube como era a lata de Peter-Lukas Graf. Fui googlear e, como podem ver, não tenho qualquer motivo para me arrepender.
Um baita CD deste originalíssimo compositor irmão de PQP Bach por parte de pai. Ouçam as faixas 5 e 6 me digam se aquilo não é um passo para o futuro. E, curiosidade, ainda temos aqui uma jovem Rachel Podger. Com apenas 19 anos, ela fazia parte deste excelente grupo chamado Florilegium como uma de suas fundadoras.
O que me fascina na ainda bastante misteriosa música de câmara de CPE Bach é sua maneira única de combinar uma marca muito digna de seriedade e uma concentração e originalidade muitas vezes perturbadora pelas surpresas nos momentos dramáticos, tudo isso sem perder o foco na simetria e na organização formal. Ele foi um mestre na arte das modulações estranhas. As tonalidades se modificam de uma forma realmente diferente do habitual. E eu adoro isso!
Carl Philipp Emanuel Bach foi o segundo filho de Johann Sebastian Bach e Maria Barbara Bach. Seu talento se manifestou já na infância, recebendo completa e esmerada educação musical de seu pai, mas inicialmente tencionava dedicar-se profissionalmente ao Direito, estudando na Universidade de Leipzig e na Universidade de Frankfurt. Para nossa sorte, seus planos deram errado. Ao terminar o curso em 1738 foi empregado pelo rei Frederico II da Prússia como cravista, para quem trabalharia pelos trinta anos seguintes… Em 1768 sucedeu seu padrinho, Georg Philipp Telemann, na posição de kantor do Johanneum de Hamburgo, uma escola latina, bem como tornou-se diretor de música municipal, responsável pela música das cinco principais igrejas da cidade e pela ornamentação de cerimônias cívicas, onde permaneceria ativo até sua morte em 1788. Foi um grande dinamizador do ambiente musical de Hamburgo, além de ligar-se a importantes figuras da literatura e da filosofia, participando de clubes e sociedades de debates. Deixou obra volumosa, com mais de 750 composições entre peças para teclado solo, concertos, sinfonias, música sacra, música de câmara e lieder.
Obs.: há um problema na faixa 14 (Telemann), mas não tenho como corrigir. Se alguém puder mandar uma versão com o CD completo em mp3 de 320, por favor.
Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Sanguineus and Melancholicus Sonatas (+Telemann, Vivaldi, Boismortier e J.B. Bach)
Quartet In D Major Wq 94 (1788)
Composed By – C.P.E. Bach*
1 Allegretto 5:19
2 Sehr Langsam Und Ausgehalten 4:33
3 Allegro Di Molto 4:48
4 Larghetto From Sonata In G Minor Wq 88 (1759)
Composed By – C.P.E. Bach*
6:10
Sonata In C Minor ‘Sanguineus And Melancholicus’ Wq 161 Nr.4 (1749)
Composed By – C.P.E. Bach*
5 Allegretto-Presto 5:02
6 Adagio 4:00
7 Allegro 6:22
Sonata In A Minor Wq 132 (1747)
Composed By – C.P.E. Bach*
8 Poco Adagio 4:09
9 Allegro 3:16
10 Allegro 2:52
Trio Sonata In C Major Wq 147 (1731)
Composed By – C.P.E. Bach*
11 Allegro 3:53
12 Adagio 5:04
13 Allegro 3:00
14 Allegro
Composed By – Telemann*
15 Allegro From Sonata In G Minor Opus 34
Composed By – Boismortier*
16 Allegro From Concerto In G Minor RV 107
Composed By – Vivaldi*
17 La Joye From Ouverture In D Major
Composed By – J.B Bach*
Florilegium:
Cello – Daniel Yeadon
Flute – Ashley Solomon
Harpsichord – Neal Peres Da Costa
Violin – Lucy Russell, Rachel Podger
Como está difícil viajar, pelo menos para os simples mortais, vamos completar nossa miniturnê flautista, que iniciou em Leipzig com a música de Wilhelm Friedemann Bach, passou por Paris com a música charmosa de Boismortier, chegando à ensolarada Itália. Fechamos o ciclo com este disco contendo quatro sonatas de Locatelli. A bem da verdade, Locatelli passou boa parte de sua vida em Amsterdã, mas suas raízes são italianas e não é uma má ideia visitar Amsterdã.
O Ton holandês…
Apesar deste disco ter sido gravado em 1980, enquanto os anteriores são de 2005 (Bach) e 2014 (Boismortier), achei que o conjunto representa bem as diferenças dos estilos musicais. Aqui temos o modelo da sonata barroca que surgiu na Itália, com quatro movimentos: lento-rápido-lento-rápido. Locatelli foi aluno de Corelli e contemporâneo de Vivaldi. Em Amsterdã, ele ocupou-se, entre outras coisas, de assessorar os editores de música, por onde passaram as obras do outro Antonio.
Foto ‘vintage’ do Wilbert…
Estas peças de Locatelli, que era flautista e violinista, são ainda de um período no qual ele observava os modelos estabelecidos. Posteriormente sua obra ganhou mais em virtuosidade e ele faz parte da linhagem de virtuoses como seu antecessor Torelli, seu quase exato contemporâneo Tartini e posteriormente Paganini. E já que mencionamos este tema, é justo ciar outro quase exato contemporâneo de Locatelli, mas de outro país, o virtuose Jean-Marie Leclair.
Um de seus contemporâneos disse de Locatelli que a expressividade de suas interpretações fariam um canário cair de seu poleiro em êxtase de prazer – apesar de que como compositor lhe faltaria o inovador talento de Vivaldi. Mas, divago… O que interessa é o disco do Wilbert e Ton, que nos apresentam, com a ajuda do Richte, quatro lindas sonatas para flauta e baixo contínuo. O disco é do tempo em que não era necessário gravar todo o opus 10, bastando duas sonatas para cada lado do LP, permitindo aos músicos escolherem as sonatas que mais os agradavam. A mudança da tonalidade das sonatas deve ter influenciado a escolha da ordem de apresentação das mesmas. A segunda a ser apresentada é em sol menor, enquanto a terceira, que excepcionalmente é em três movimentos, em sol maior. O disco termina com uma sonata em ré maior.
Veja o que Nicholas Anderson disse sobre este disco, lá pelos idos de 1987…
‘I enjoyed these lively and imaginative performances. Hazelzet has a wonderfully supple rhythmic sense, a warm, rounded tone and a very impressive technique. He gives affectionate accounts of the four sonatas included in his recital and is alertly supported by an excellent continuo team, Ton Koopman and Richte van der Meer. […] Recommended.‘
Está esperando o que? Baixe logo os arquivos e ‘knock yourself out’!
Mais uma falha nossa, que corrigimos restaurando a postagem original do FDP Bach e providenciando gravações inéditas no lugar daquelas que ele já tinha publicado.
Publicar uma integral de Beethoven incorreria, mais cedo ou mais tarde, em balaios de gatos como estes que lhes começo a apresentar agora.
Na abertura, o único quinteto para cordas que Ludwig escreveu originalmente para a formação, numa versão mais robusta do que aquela que aqui já publicamos. Em seguida, uma série de duos e trios para cordas, incluindo um (WoO 32, para viola e violoncelo) que tem a curiosa indicação “para dois óculos compulsórios” (“mit zwei obligaten Augengläsern“), talvez uma referência à miopia dos músicos responsáveis por sua estreia, possivelmente o próprio compositor, que tocava viola, e seu amigo Nikolaus von Zmeskall-Domanovetz. O álbum encerra com uma curta fuga para quinteto de cordas que deve o alto número de opus (em verdade, o último das 137 obras publicadas neste rol) ao fato da publicação tardia, e que reflete o vivo interesse do compositor nas formas fugais no final de sua vida.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Quinteto em Dó maior para dois violinos, duas violas e violoncelo, Op. 29 Composto em 1801 Publicado em 1802 Dedicado ao conde Moritz von Fries
Endellion Quartet:
Andrew Watkinson e Ralph de Souza, violinos
Garfield Jackson, viola
David Waterman, violoncelo com David Adams, viola
Seis Minuetos para dois violinos e contrabaixo, WoO 9 (1795)
5 – No. 1 em Mi bemol maior
6 – No. 2 em Sol maior
7 – No. 3 em Dó maior
8 – No. 4 em Fá maior
9 – No. 5 em Ré maior
10 – No. 6 em Sol maior
Karl Suske e Klaus Peters, violinos
Matthias Pfaender, violoncelo
Seis Ländler para dois violinos e contrabaixo, WoO 15 (1802)
11 – No. 1 em Ré maior
12 – No. 2 em Ré maior
13 – No. 3 em Ré maior
14 – No. 4 em Ré maior
15 – No. 5 em Ré maior
16 – No. 6 em Ré maior
Kammerorchester Berlin Helmut Koch, regência
Duo em Mi bemol maior para viola e violoncelo, WoO 32, “para dois óculos obbligati” (1796-1797)
17 – Allegro
18 – Allegretto
Este (bom) registro seria uma reparação. A história não deixou dois compositores extraordinários — nascidos no mesmo ano e a poucos quilômetros um do outro — se encontrarem. Pois é, Georg Friedrich Handel e Johann Sebastian Bach vieram ao mundo em 1685, com um mês de diferença. Por duas vezes, tentaram, mas não conseguiram se encontrar e nunca mais cruzaram seus caminhos na vida. Este álbum é dedicado a esta falha. OK, simpático.
Lina Tur Bonet (nascida em Ibiza, Espanha) e Dani Espasa (La Canonja, Espanha, quase na costa, olhando para Ibiza) oferecem aqui um CD que coloca as sonatas de Bach e Handel frente a frente. (Comparar alguém com Bach é sacanagem, mas OK novamente). A abordagem da dupla é muito livre e convincente. Acho que Lina tem certas excentricidades, mas que não as têm? E Bach proíbe? Não! A coisa realmente funciona ao mostrar a profundidade e a proximidade que ambos os compositores poderiam ter compartilhado.
Bach / Handel: An Imaginary Meeting (Sonatas para Violino e Cravo)
Bach, J S: Sonata for Violin & Harpsichord No. 4 in C minor, BWV1017 17:02
I. Largo 4:22
II. Allegro 4:30
III. Adagio 3:28
IV. Allegro 4:42
Handel: Sonata in D major for violin and continuo, HWV371, Op. 1 No. 13 13:04
I. Affettuoso 3:47
II. Allegro 2:41
III. Larghetto 2:54
IV. Allegro 3:42
Bach, J S: Sonata for Violin & Harpsichord No. 5 in F minor, BWV1018 18:12
I. [Largo] 7:43
II. Allegro 4:37
III. Adagio 3:16
IV. Vivace 2:36
Handel: Sonata in D Minor for violin and continuo, HWV359a, Op. 1 No. 1 8:04
I. Grave 2:25
II. Allegro 1:44
III. Adagio 1:11
IV. Allegro 2:44
Bach, J S: Sonata for Violin & Harpsichord No. 6 in G major, BWV1019 17:16
I. Allegro 3:33
II. Largo 1:40
III. Allegro 4:45
IV. Adagio 3:43
V. Allegro 3:35
Anatole Fistoulari foi um maestro ucraniano que viveu 88 anos, entre 1907-1995, e foi, mesmo que por um curto período, genro de Gustav Mahler, apesar deste já ter falecido há bastante tempo quando se casou com Anna Mahler, sim, ele também foi genro de Alma Mahler, figura ímpar na história da cultura vienense. Sugiro aos senhores a leitura de um livro chamado ‘Viena Fin-de-Siecle’, para melhor conhecerem o ambiente em que Alma e Gustav viveram, sempre cercados dos maiores intelectuais do século que acabava e do século que se iniciava. Também existe uma biografia dela, que creio que esteja com edição esgotada.
Foi um maestro que fez considerável sucesso ali na metade do século, e gravou muito. Este disco que ora vos trago, foi recém lançado pela DECCA, gravado há quase sessenta anos, entre 1961 e 1963, devidamente remasterizado, e mostra todo o talento e versatilidade de Fistoulari frente a duas das melhores orquestras do mundo, a do Concertgebow de Amsterdam, fama que ele ajudou a construir e Sinfônica de Londres, que também dispensa apresentações.
Aliás, gosto muito desse repertório (quem não gosta?), temos excelentes gravações destas obras que já foram postadas por aqui, mais uma não vai ter maiores problemas. Afinal, senhores, tratam-se dos balés de Tchaikovsky. Nestes sombrios tempos em que estamos vivendo, serve para alegrar e animar o dia.
São dois CDs, mas por preguiça, o ripador original colocou em apenas um arquivo. Divirtam-se.
Disc: 1
1. 1-13 Swan Lake, Op. 20 (Highlights)
Royal Concertgebow Orchestra
Anatole Fistoulari – Conductor
Minha babada de republicar gravações já postadas anteriormente aplicou-se a todos trios para cordas de Beethoven. Assim, e exatamente como fiz ontem, restaurei a gravação do trio Mutter-Giuranna-Rostropovich na postagem original, e refiz minha postagem com a sensacional versão do Leopold Trio para os Op. 9.
Ludwig – sempre o descabelado inquieto em notável evolução! À guisa dos enormes saltos estilísticos entre as sonatas para piano Op. 2 para a “Grande” Op. 7, e aquele, maior ainda, desta para as sonatas Op. 10, quem ouve estes trios do Op. 9 depois das primeiras tentativas de Beethoven no gênero se impressiona com seus progressos. Aqui, num claro ensaio para os quartetos de cordas vindouros, que o fariam abandonar para sempre os trios, há muitos dos gestos que ficariam familiares a nós outros nas décadas seguintes: a elaboração sinfônica de obras para conjuntos de câmara; a criatividade dentro do uso estrito da sonata-forma; a alternância de movimentos cheios de verve com expressivos adagios. Eles são especialmente prevalentes no primeiro trio da trinca, enquanto no terceiro nosso renano favorito esbalda-se em sua tonalidade-assinatura, a de dó menor, trabalhando habilmente a constrição e a angústia por ela inspiradas rumo a um afirmativo final em tonalidade maior. Numa tentativa, talvez, de fazer justiça às suas provavelmente nada queridas memórias como violista na corte de Bonn, Beethoven dá à viola várias passagens elaboradas, deixando-a quase em pé de igualdade com seus parceiros menos molestados por bullying instrumental. E a radiante interpretação do Leopold Trio só nos consegue deixar a viva impressão de que as sessões de gravação devam ter sido pura delícia.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Três Trios para violino, viola e violoncelo, Op. 9
No. 1 em Sol maior
1 – Adagio – Allegro con brio
2 – Adagio ma non tanto and cantabile
3 – Scherzo – Allegro
4 – Presto
No. 2 em Ré maior
5 – Allegretto
6 – Andante quasi allegretto
7 – Menuetto – Allegro
8 – Rondo – Allegro
No. 3 em Dó menor
9 – Allegro con spirito
10 – Adagio con espressione
11 – Scherzo – Allegro molto e vivace
12 – Finale – Presto
The Leopold String Trio
Isabelle van Keulen, violino Lawrence Power, viola Kate Gould, violoncelo
Songbooks costumam ser uma bagunça com diversos intérpretes e gravações de várias épocas. Este aqui é caprichado na loucura, metendo na mistura gravações brasileiras e estadunidenses de Tom, turma da bossa nova, do jazz, etc., de vários períodos. Mais: este é apenas um dos muitos songbooks do glorioso Tom. Há um brasileiro que melhor, acho que este vem do país de Trump, mas foi lançado nos anos 90. Mesmo assim, a música de Tom sobrevive sob excertos de nomes fundamentais. Ella Fitzgerald, Elis Regina, Pat Metheny, Chick Corea, Herbie Hancock, Joe Henderson, João Gilberto, Oliver Nelson, Gil Evans, Oscar Peterson, Sarah Vaughan, Dizzy Gillespie, Toots Thieleman, Astrud Gilberto, etc. Eu gostei de ouvir, mas há que respirar fundo a cada mudança de faixa, porque o contexto sempre será outro.
.: interlúdio :. Wave: The Antonio Carlos Jobim Songbook
1 –Antonio Carlos Jobim Wave
Arranged By, Conductor – Claus Ogerman
Cello – Abe Kessler, Charles McCracken, George Ricci, Harvey Shapiro
Double Bass – Ron Carter
Drums, Percussion – Bobby Rosengarden, Claudio Slón*, Dom Um Romão*
Flute, Piccolo Flute – Jerome Richardson, Ray Beckenstein, Romeo Penque
French Horn – Joseph Singer
Piano, Guitar – Antonio Carlos Jobim
Producer [Original Recording] – Creed Taylor
Trombone – Jimmy Cleveland, Urbie Green
Violin – Bernard Eichen, Emanuel Green, Gene Orloff, Harry Lookofsky, Irving Spice, Joseph Malignaggi, Julius Held, Leo Kruczek, Lewis Eley, Louis Haber, Louis Stone, Paul Gershman, Raoul Poliakin
2:50
2 –Ella Fitzgerald Só Danço Samba (Jazz Samba)
Double Bass – Jim Hughart
Drums – Grady Tate
Lyrics By – Vinicius De Moraes
Piano – Jimmy Jones (3)
Producer [Original Recording] – Norman Granz
Vocals – Ella Fitzgerald
5:48
3 –Joe Henderson with Herbie Hancock Happy Madness
Lyrics By – Vinicius De Moraes
Piano – Herbie Hancock
Producer [Original Recording] – Oscar Castro-Neves, Richard Seidel
Tenor Saxophone – Joe Henderson
3:12
4 –Jobim* and Elis Regina Chovendo Na Roseira (Double Rainbow)
Bass – Luizão Maia
Drums – Paulo Braga*
Guitar – Oscar Castro-Neves
Lyrics By, Piano, Guitar, Whistling – Antonio Carlos Jobim
Piano, Electric Piano, Arranged By – Cesar Camargo Mariano*
Producer [Original Recording] – Aloysio De Oliveira
Vocals – Elis Regina
3:10
5 –Stan Getz and Charlie Byrd Desafinado (Off Key)
Double Bass – Keter Betts
Drums – Buddy Deppenschmidt
Guitar – Charlie Byrd
Guitar, Bass – Gene Byrd
Percussion – Bill Reichenbach
Producer [Original Recording] – Creed Taylor
Tenor Saxophone – Stan Getz
5:50
6 –Astrud Gilberto A Felicidade
Lyrics By – Vinicius De Moraes
Orchestra – Gil Evan’s Orchestra*
Orchestra [Gil Evan’s Orchestra including], Arranged By, Conductor, Piano – Gil Evans
Orchestra [Gil Evan’s Orchestra including], Drums – Grady Tate
Orchestra [Gil Evan’s Orchestra including], Guitar – Kenny Burrell
Orchestra [Gil Evan’s Orchestra including], Percussion – Dom Um Romão*
Orchestra [Gil Evan’s Orchestra including], Trumpet – Johnny Coles
Orchestra [Gil Evan’s Orchestra including], Valve Trombone – Bob Brookmeyer
Producer [Original Recording] – Creed Taylor
Vocals – Astrud Gilberto
2:46
7 –Stan Getz with Chick Corea O Grande Amor
Double Bass – Ron Carter
Drums – Grady Tate
Piano – Chick Corea
Producer [Original Recording] – Creed Taylor
Tenor Saxophone – Stan Getz
4:43
8 –Jobim* and Pat Metheny Insensatez (How Insensitive)
Guitar – Pat Metheny
Lyrics By – Vinicius De Moraes
Lyrics By [English] – Norman Gimbel
Piano, Vocals – Antonio Carlos Jobim
Producer [Original Recording] – Don Sickler, Richard Seidel
4:00
9 –Wes Montgomery Amor Em Paz (Once I Loved)
Arranged By, Conductor – Oliver Nelson
Clarinet – Phil Woods
Congas – Candido Camero*
Double Bass – George Duvivier
Drums [or] – Grady Tate, Sol Gubin
Flugelhorn, Piccolo Flute, Clarinet – Jerry Dodgion
Flute, Alto Flute – Danny Bank
Flute, Clarinet – Bob Ashton*
Flute, Piccolo Flute, Clarinet, Oboe, English Horn – Romeo Penque
Guitar – Wes Montgomery
Lyrics By – Vinicius De Moraes
Lyrics By [English] – Ray Gilbert
Piano [or] – Herbie Hancock, Roger Kellaway
Producer [Original Recording] – Creed Taylor
Trombone – Jimmy Cleveland, Quentin Jackson, Tony Studd, Wayne Andre
Trumpet – Danny Moore, Donald Byrd, Ernie Royal, Joe Newman
4:45
10 –Stan Getz & João Gilberto featuring Antonio Carlos Jobim Corcovado (Quiet Nights Of Quiet Stars)
Double Bass – Tommy Williams (3)
Guitar, Vocals – João Gilberto
Lyrics By – Jobim*
Lyrics By [English] – Gene Lees
Percussion – Milton Banana
Piano – Antonio Carlos Jobim
Producer – Creed Taylor
Tenor Saxophone – Stan Getz
Vocals – Astrud Gilberto
4:14
11 –Oscar Peterson Triste
Double Bass – Sam Jones
Drums – Bobby Durham
Piano – Oscar Peterson
Producer [Original Recording] – Hans Georg Brunner-Schwer
5:17
12 –Sarah Vaughan The Boy From Ipanema
Lyrics By – Vinicius De Moraes
Lyrics By [English] – Norman Gimbel
Orchestra – Frank Foster’s Orchestra
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Arranged By, Conductor – Frank Foster
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Double Bass – George Duvivier
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Drums – Bobby Donaldson
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Flute – Jerome Richardson
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Guitar – Barry Galbraith
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Percussion – Willie Rodriguez
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Piano – Bob James
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Trombone – Benny Powell, Billy Byers, Britt Woodman, Richard Hixson, Wayne Andre
Orchestra [Frank Foster’s Orchestra], Violin – Bernard Eichen, Charles Libove, Emanuel Green, Gene Orloff, Harry Lookofsky, Leo Kruczek, Lewis Eley, Tosha Samaroff
Producer [Original Recording] – Quincy Jones
Vocals – Sarah Vaughan
2:29
13 –Dizzy Gillespie Samba De Uma Nota Só (One Note Samba)
Double Bass – Chris White (3)
Drums – Rudy Collins
Flute – Leo Wright
Percussion – Pepito Riestria
Piano – Lalo Schifrin
Producer [Original Recording] – Quincy Jones
Trumpet – Dizzy Gillespie
5:16
14 –Joe Henderson Vivo Sonhando (Dreamer)
Bass – Nico Assumpçao*
Drums – Paulo Braga*
Guitar – Oscar Castro-Neves
Piano – Eliane Elias
Producer [Original Recording] – Oscar Castro-Neves, Richard Seidel
Tenor Saxophone – Joe Henderson
5:25
15 –Toots Thielemans with Elis Regina Wave
Harmonica – Toots Thielemans
Vocals – Elis Regina
3:08
Já faz algum tempo que não trago as Sinfonias de Brahms, obras pelas quais sou absolutamente apaixonado. E o responsável desta vez é o maestro Rafael Kubelik, um dos grandes nomes da regência do Século XX, frente à fabulosa Orquestra da Rádio Bávara, é coisa finíssima, vale a pena ouvir.
Talvez Kubelik não carregue tanto na dramaticidade de outras interpretações, principalmente de Herbert von Karajan e seus Berliners. Brahms é um compositor que exige muito do maestro, não apenas no fator físico, com certeza deve ser muito cansativo reger a Primeira Sinfonia, por exemplo, mas principalmente na intensidade que algumas de suas obras requerem. Li em algum lugar que o início desta Primeira Sinfonia com aqueles tímpanos marcando fortemente era uma representação do destino batendo à nossa porta. Metáforas à parte, eu jamais iria criticar um maestro do nível do Kubelik.
Já discutimos estas sinfonias em outras ocasiões aqui no PQPBach, sugiro procurarem estas postagens para maiores informações sobre as obras. Não canso e nunca cansarei de repetir que Karajan é o meu regente favorito neste repertório, mas impossível não se render ao talento de outros gigantes, como Furtwangler, Toscanini, Szell, e Rafael Kubelik, nas duas ocasiões em que este gravou a integral, esta do selo Orfeo de 1983, e outra com a Filarmônica de Viena, gravada anteriormente lá em 1965, meu ano de nascimento.
Espero que apreciem. Eu gostei muito, a tenho ouvido com frequência.
CD 1
01. Un poco sostenuto – allegro
02. Andante sostenuto
03. Un poco allegretto e grazioso
04. Adagio – piu andante
CD 2
01. Symphony No. 2 in D major (I) Allegro non troppo
02. Symphony No. 2 in D major (II) Adagio non troppo
03. Symphony No. 2 in D major (III) Allegro grazioso
04. Symphony No. 2 in D major (IV) Allegro con spirito
CD 3
01. Allegro con brio
02. Andante
03. Poco Allegretto
04. Allegro
05. Allegro non Troppo
06. Andante Moderato
07. Allegro Giocoso – Poco Meno Presto
08. Allegro Energico e Passionato – Piu Allegro
Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunk
Rafael Kubelik – Conductor