Um disco para quem quer ouvir um barroco exótico, diferente das centenas de concertos para violino de Vivaldi, cantatas, prelúdios e fugas de Bach… O baixo, como o nome já indica, é a voz mais grave da divisão que já era comumente utilizada nos tempos dos Scarlatti pai e filho. As vozes de soprano e o alto variavam, segundo os lugares e momentos, entre mulheres, garotos jovens ou homens castrados (castrati, violenta tradição italiana que remontava aos eunucos do Império Bizantino). Mas as vozes de tenor e baixo eram sempre de homens.
As cantatas de A. Scarlatti, assim como antes dele as de Barbara Strozzi e, depois, as de Vivaldi, Händel, Rameau e Hasse eram majoritariamente compostas para vozes mais agudas, de soprano e alto, o que não deixa de ter relação com a ideia geral, naquela época e não só naquela época, de que às mulheres cabia a vida do lar e, aos homens, a vida pública. Pois essas cantatas, escritas para uma ou duas vozes, basso continuo e às vezes um ou dois instrumentos obbligato*, eram música vocal para salões e outros ambientes da intimidade entre amigos, ao contrário da ópera encenada em grandes palcos. Como diz E. Gyenge no libreto do CD, as cantatas de Scarlatti são música de câmara, um diálogo entre cantores e instrumentistas. O texto de cada peça fala fundamentalmente de amor romântico. Nesse ambiente mais privado, não se fazia referência ao casamento e outros sacramentos da Igreja, pelo contrário, as letras dessas cantatas falam de ciúmes entre amantes, de amores “tiranos” e jamais seriam musicadas pelo carola J.S. Bach:
Mi tormenta il pensiero, mi consuma il desio, ambo tiranni son del viver mio.
(Me atormenta o pensamento, me consome o desejo, ambos tiranos do meu viver)
Tiranna ingrata, che far dovrò? Se vuoi ch’io mora, morrò per te
Ma tu ch’altro non brami ch’il mio duol, il mio pianto e i miei sospiri,
Affanato, tormentato (…) mi conviene di servir
(Tirana ingrata, o que devo fazer? Se queres que morra, morro por ti
Mas não queres nada além da minha dor, choro e suspiros
Faminto, tormentado, (…) me convém servir)
Os assuntos são muito mais próximos dos sujeitos neuróticos de Freud ou Proust do que os textos chapa-branca das cantatas de Bach. Com longos melismas e outras acrobacias vocais dificílimas (e no virtuosismo que exigem dos cantores, Alessandro e Johann Sebastian se aproximam), o homem de voz grave canta amores sofridos que, também em nossos tempos, encontram expressão musical em músicas como o brega. Como cantou Gonzaguinha em 1983, um homem também chora.
E é aí que entra o exótico dessas cantatas em seu tempo, pois a voz de baixo, nas óperas e oratórios, era comumente ligada a personagens poderosos. Alguns exemplos:
Nas óperas de Monteverdi, são papéis de baixo: Plutão, deus do submundo, em L’Orfeo; Netuno, rei dos mares, em Il ritorno d’Ulisse in patria, enquanto os heróis dessas duas óperas, Orfeu e Ulisses, são tenores que lutam contra a força bruta de gigantes por meio das artes e da inteligência…
A. Scarlatti, em seu oratório Il primo omicidio, reserva o papel de baixo para Lúcifer. Em sua ópera Il Pompeo, o baixo é o imperador Julio Cesar, também transformado em deus na religião romana.
Nas Paixões de J.S. Bach e também nas de C.P.E. Bach, o personagem de Jesus é sempre um baixo, seguindo uma tradição de muitas outras Paixões do norte da Europa como a de Byrd (ca. 1605) e a de Schütz (1666).
No fim do século 18, na Flauta Mágica de Mozart, o poderoso sacerdote Sarastro usa alguns dos baixos profundos mais graves do repertório operístico.
A voz do baixo e sobretudo os baixos profundos, portanto, eram reservados a personagens poderosos, divinos ou demoníacos. As cantatas de Scarlatti para esses cantores, assim, mostram um raramente representado lado íntimo desses homens que, mesmo poderosos e machões, sofriam por amor.
E repito: isso tudo é incomum no mundo musical europeu. Com sua intimidade camerística e pré-romântica, essas cantatas para baixo de A. Scarlatti não têm, que eu saiba, paralelo em nenhuma obra dos outros grandes compositores para voz do seu século (Bach, Händel, Pergolesi, Mozart…) e talvez possam ser chamadas de bisavós dos Lieder de Schubert para voz masculina, como por exemplo a versão para baixo do seu Winterreise (aqui).
Alessandro Scarlatti (1660-1725): Cantatas for Bass
1-3. Imagini d’orrore – para baixo, 2 violinos e continuo
4-11. Splendeano in bel sembiante – para baixo e continuo
12-19. Mentre un zeffiro arguto – para baixo, 2 violinos e continuo
20-23. Mi tormenta il pensiero (Amante parlando con il pensiero) – para baixo e continuo
24-28. Cor di Bruto, e che risolvi? – para baixo e continuo
29-31. Tiranna ingrata, che far dovro? – para baixo, 2 violinos e continuo
32-36. Tra speranza e timore – para baixo, um violino e continuo
Péter Fried (bass)
Savaria Baroque: Piroska Vitárius (violin), Katalin Orosházi (violin), Ottó Nagy (cello), Ágnes Várallyay (harpsichord), Gábor Tokodi (baroque guitar), Pál Németh (artistic director)
Gravado em: Hungaroton Studio, 2006
Partituras editadas por Pál Németh a partir de manuscritos no Conservatórios de Napoli e Paris, Biblioteca de Schwerin e British Museum, London.
* O nome obbligato era usado para um instrumento específico que o compositor desejava – no caso das cantatas desde disco, um ou dois violinos – e se opõe ao basso continuo, que podia ser executado por diversos instrumentos graves a depender do que estivesse disponível em cada apresentação e local. Neste disco o continuo é executado por cravo, teorba (um parente do alaúde), violão barroco e violoncelo, com destaque para este último. Outros instrumentos usados para o continuo na época incluíam o órgão (nas igrejas), a viola da gamba e o fagote.
Nascido na Sicília, Alessandro Scarlatti se mudou para Roma ainda adolescente, após a morte do pai. Em 1678, aos 18 anos, foi nomeado organista e mestre de capela na igreja San Giacomo degli Incurabili. Em 1682, foi nomeado organista em outra igreja romana, S. Girolamo della Carità. Em 1683 deixou esse posto ao se mudar pela primeira vez para Nápoles. Ao longo de toda sua vida, seriam várias idas e vindas no trecho Roma-Nápoles, cidades distantes cerca de 200 km, ou seja, metade da distância entre São Paulo e Rio de Janeiro. Em outro período em Roma (1703-1708), já muito famoso e protegido por alguns influentes cardeais, Alessandro Scarlatti era contratado para tocar órgão na igreja de Santa Maria Maggiore, uma das maiores de Roma. Ele também tocou em muitas igrejas em Nápoles, embora, como já dissemos, a música que ele escreveu para órgão seja quase toda sem finalidade religiosa. Sem dúvida ele improvisava durante ou após as missas e outras cerimônias católicas, mas isso era algo tão comum e esperado como o calor do sol no verão romano, de forma que ninguém se preocupou em anotar as improvisações do Signor Cavalieri Scarlatti. Ele próprio parece ter se preocupado mais em pôr no papel sua música sem finalidade religiosa: toccatas com um número indefinido de movimentos, além de fugas avulsas e, em menor número, outros movimentos avulsos como arpeggios, vivaces, etc. e que também podem se unir para formar toccatas ao gosto do intérprete. Neste último volume da integral de suas obras para teclado, temos fugas aos montes, que parecem ter tido também um papel didático. Como sabemos, o estilo contrapuntístico da música vocal de Palestrina (1525-1594) virou uma espécie de “estilo oficial” da Igreja Católica Romana, a ser ensinado e difundido. Não é muito claro se Alessandro atuava como professor de música em algumas ou em todas as igrejas de Roma e Nápoles onde trabalhou, de fato os registros que restaram nesse sentido são poucos e levam a crer que os alunos foram poucos, em comparação por exemplo com Vivaldi que passou cerca de 30 anos cuidando das atividades orquestrais e da educação musical de um orfanato e convento em Veneza. O ganha-pão principal de Alessandro parece ter sido como compositor de óperas e cantatas para diversos palcos, com representações sobretudo em Roma, Nápoles, Florença e Veneza, mas ao mesmo tempo na maior parte de sua vida as atividades de organista e mestre de capela em igrejas sempre ajudavam a equilibrar o orçamento. Nisso, como também em outros sentidos, A.Scarlatti pode ser comparado a Mozart: se o primeiro ficou apenas alguns anos em cada igreja, sem criar vínculos estreitos com nenhuma delas mas compondo várias missas e oratórios sacros, Mozart aos 25 anos se livra da submissão ao arcebispo de Salzburgo e ambos vão viver compondo várias óperas por ano, além de comporem e tocarem para uma série de protetores ricos, fazendo música de câmara e o que mais fosse lhes garantir o sustento.
As fugas de A.Scarlatti são um pouco mais curtas e menos rígidas do que as de J.S.Bach, mas ainda assim cheias de temas e contratemas se imitando: a imitação é mais um estilo do que uma série de regras fixas. Algumas de suas modulações, segundo os especialistas, vão em desacordo com as convenções harmônicas de seus contemporâneos, e ele deixa claro em um manuscrito seus motivos: “Perchè fa buon sentire”, ou seja, porque soa bem. No mesmo sentido, seu filho Domenico Scarlatti dizia ter quebrado todas as regras em suas obras, mas perguntava, segundo Burney: esses desvios ofendem o ouvido? Essa parecia ser a principal regra para Scarlatti pai e filho: as outras regras eles conheciam muito bem, apenas para quebrá-las melhor.
Não surpreende, então, que o pai tenha composto dezenas de toccatas e o filho, centenas de sonatas, nas quais podiam exercitar com liberdade suas preferências harmônicas e melódicas. Ao contrário do estilo imitativo das fugas, as toccatas muitas vezes têm um início exploratório de uma única voz, que me faz imaginar o músico se sentando ao teclado e fazendo um improviso inicial (ou ainda: um prelúdio) enquanto as pessoas ao seu redor terminam as conversas e as bebidas antes de se virarem para o lado do salão onde está o cravo. Sim, porque na época barroca o cravo era um instrumento mais familiar, para plateias de amigos e parentes, ao contrário do órgão, que existia em duas versões: o órgão positivo, móvel, e o órgão de igreja, fixo. Era na igreja e na ópera que o músico tocava para multidões.
Também Bach, na Fantasia Cromática, na Fantasia BWV 922 e outras fantasias para cravo reunidas em um belo disco por Andreas Staier, assim como na famosa Toccata e Fuga em Ré Menor para órgão, utiliza esse tipo de início exploratório de uma única voz. As fantasias e toccatas de Bach, assim como as toccatas de A. Scarlatti e os préludes non mésurés de L.Couperin e de E.Jacquet de la Guerre eram, portanto, música para os amigos do instrumentista ou para os amigos dos patrões… E para os amigos é mais fácil improvisar, experimentar, inventar novidades do que em um palco ou catedral com mais de mil pessoas, concordam?
Esta sétima e última etapa da integral gravada por Francesco Tasini se abre com 15 fugas, todas elas de um único manuscrito de Nápoles com o título “Quindici Fughe a Due” (ou 15 fugas em duas partes), que aparentemente era uma coleção para o ensino de contraponto. O segundo disco (este é o único volume da integral em disco duplo), voltamos às toccatas em vários movimentos, além de um conjunto de variações (partite, em português: partes) sobre um tema. As três últimas tocatas são tocadas no cravo, incluindo obras que Tasini já havia gravado no órgão (a última faixa desse vol.7, por exemplo, é a toccata em mi maior que abriu o vol.5) e é interessante ver as diferenças entre a execução nos dois instrumentos.
Confesso que essa opção de Francesco Tasini de gravar tantas fugas juntas não me agradou tanto quanto os volumes anteriores, nos quais as fugas avulsas se encontram rodeadas de muitas toccatas e algumas variações. Nessa integral a ordem das composições sempre teve como princípio a fantasia e vontade do intérprete, inclusive pela falta de dados confiáveis sobre a ordem cronológica das obras ou sobre se Alessandro Scarlatti pretendia publicar algumas delas juntas em uma ordem específica (provavelmente não pretendia).
Para pôr um ponto final nessa abordagem da obra para cravo e órgão de Alessandro Scarlatti, é curioso notar que seu filho Domenico (1685-1757), especialmente no fim da vida, compôs centenas de sonatas para teclado, muitas delas caracterizadas por um cantabile riquíssimo, utilizando melodias italianas e ibéricas de forma a fazer o cravo ou pianoforte cantar como depois faria Chopin, outro fã do bel canto italiano, mas que compunha quase só para teclado. Alessandro Scarlatti, por outro lado, foi um grande compositor de música vocal, muito maior nesse gênero que seu filho, então podemos imaginar que ele utilizou suas melodias mais cantabile em suas centenas de cantatas, mais de cem óperas, dezenas de oratórios e missas, enquanto o cravo, para ele, era o instrumento privilegiado para as invenções harmônicas, modulações, liberdade rítmica, moto perpetuo, improvisos e outros tipos de fantasia (sublinhemos sempre essa palavra, típica da época do compositor), fantasias que a voz humana seria incapaz de alcançar.
Alessandro Scarlatti (1660-1725): Obra completa para teclado, vol. 7
1-15. Quindici Fughe a Due
16. Varie [12] partite obbligate al basso in Do maggiore
17. Andante in Do maggiore
18. Fuga in Do maggiore
19. Tastatura in Do maggiore ([Arpeggio], [Allegro])
20. Toccata per cembalo in La maggiore (Arr. for Organ) ([Allegro], [Allegro], [Partira alla Lombarda])
21. Toccata in Sol maggiore ([Allegro], [Andante])
22. Toccata No. 9 in Sol maggiore (Arpeggio, Allegro, Presto, Allegro)
23. Toccata 4a in Mi minore (Allegro, Adagio, Minuetto / Allegro)
Francesco Tasini – organo Carlo Serassi (1836), chiesa di S. Maria di Campagna, Piacenza, Italia; clavicembalo di anonimo, Ferrara, sec. XVIII
Vimos na postagem anterior que as toccatas de Alessandro Scarlatti podem ser descritas como obras onde as regras do contraponto coexistem com improvisos muito livres, ainda que o uso da palavra improviso seja anacrônico: melhor dizer que são obras dominadas pela fantasia, palavra muito comum nos séculos de Frescobaldi, A.Scarlatti e Bach.
O chamado stylus phantasticus é uma definição que aparece na obra de Athanasius Kircher (1601-1680), um padre jesuíta alemão nascido na Turíngia, que estudou em Colônia (Köln) e passou a maior parte de sua vida em Roma estudando e ensinando sobre música, matemática, física e sobre o antigo Egito. Em sua obra Musurgia Universalis (1650), um grande compilado dos conhecimentos sobre música de sua época, ele ensina que havia vários estilos musicais, relacionados aos diferentes objetivos da música e meios sociais onde ela era executada, incluindo: stylus ecclesiasticus (música sacra), stylus madrigalescus (ligado a afetos amorosos e dolorosos, e ele cita exemplos ilustres: Lassus, Monteverdi, Gesualdo), stylus hyposchematicus (danças, balés e festas), stylus dramaticus (que daria origem à ópera)… e finalmente o stylus phantasticus que, segundo o jesuíta, é “apropriado para instrumentos. É o mais livre método de composição, não se submete a nada, nem a palavras e nem ao desenvolvimento de temas”.
Já nos nossos tempos, o organista, cravista e regente Ton Koopman resume assim: “O Stylus phantasticus busca entreter o público com efeitos especiais, surpresas, vozes irregulares, dissonâncias, variações rítmicas e imitações. É um estilo livre, improvisatório, que força a audiência a ouvir com atenção se perguntando ‘como isso é possível?’ ” (Koopman, 1991)
A palavra fantasia, então, descrevia o tipo de música livremente concebido por um músico solista. Nas obras do holandês Sweelinck e do alemão Telemann, encontramos fantasias para instrumentos de teclado e também para instrumentos de cordas ou flauta, mas sempre cada um desses instrumentos sozinho, sem acompanhamento, fugindo da prática do baixo continuo (Telemann por exemplo publicou as para violino com o aviso: “senza basso” – sem baixo). Na música de J.S.Bach são comuns as obras do tipo “Fantasia e Fuga”, ou ainda “Toccata e Fuga”, que resumem de forma bastante esquemática e racional (como é comum na obra do mestre de Leipzig) o contraste entre o stylus phantasticus e as regras do contraponto, normalmente com uma ordem programática que começa no caos e termina com a ordem. Na obra de seus filhos C.P.E. Bach e W.F. Bach são abundantes as Fantasias para teclado (sem fugas), que em meados do século 18 eram tocadas às vezes no clavicórdio, às vezes no pianoforte, às vezes no cravo.
Se estamos gastando tanto tempo com essas preliminares, é porque o estilo das Toccatas de A. Scarlatti tem muito a ver com o que a pena dos alemães definia como Phantasie, Fantasye, Fantasie, Phantasia… Ainda que ele próprio não utilize nenhuma dessas variantes do termo em seus manuscritos para teclado que chegaram até nós. Mas, considerando todas essas características do stylus phantasticus que vimos até aqui, podemos entender que a música para teclado de Scarlatti corresponde perfeitamente às definições acima do padre jesuíta do século 17 e do holandês Koopman. Há alguns poucos momentos de sonoridade mais ligada à dança ou à música vocal (o cantabile vai aflorar muito mais na música para teclado de seu filho Domenico Scarlatti), e há também, com mais frequência, fugas em que o mestre napolitano mostra seus conhecimentos da arte do contraponto desenvolvida por Palestrina, Sweelinck e outros. Mas o que predomina é sempre a fantasia, com peripécias rítmicas e harmonias inventivas e inesperadas. Considerado pelo compositor Johann Adolph Hasse (1699-1783) o maior mestre em harmonia na Itália e no mundo, o “velho Scarlatti” (expressão usada para diferenciá-lo de seu filho) realizou em suas toccatas diversos tipos de combinação estrutural entre o estilo livre e o contraponto. Enquanto nas toccatas para órgão de Buxtehude e de Bach (como respectivamente a BuxWV 155 e a BWV 565) há um caminho previsível do caos e da espontaneidade em direção à ordem, com contrastes violentos e floreios improvisatórios na primeira metade e o pulso firme a as regras estritas do contraponto na segunda metade, nas obras para cravo e órgão de Alessandro Scarlatti, também há uma tendência das fugas a ficarem mais para o final, mas em muitos casos a ordem dos movimentos é imprevisível: após a fuga pode vir um minueto (faixa 7 do CD6), ou pode vir uma série de variações (partite) sobre a folia de Espanha (última faixa do CD1).
Várias toccatas de A.Scarlatti têm um movimento “arpeggio”, normalmente no início da obra mas às vezes no meio. Esse tipo de sonoridade das notas arpegiadas soa muito idiomático, é claro, nas harpas mas também nas cordas pinçadas do cravo: lembremos do nome inglês harpsichord. O arpejo no início deixa clara a tonalidade de cada toccata e seu temperamento: um arpejo em lá menor (faixa 3 do CD4) não soa como o outro em dó maior (faixa 8 do CD4) ou ainda o outro em ré menor (faixa 8 do CD6). Outra característica do arpejo: quase o tempo todo nesses movimentos, ouvimos a livre fantasia de uma única voz, apenas raramente acompanhada pela outra mão do instrumentista. Na fuga é o contrário: sempre duas vozes seguindo as regras do contrapondo. E em muitos allegros há, com mais liberdade que na fuga, jogos de imitação entre as vozes. Se formos associar esses tipos de movimentos das toccatas de Scarlatti com as origens das formas instrumentais italianas, temos o seguinte:
Arpeggio – movimento de uma só voz, idiomático e típico de instrumentos de cordas como a harpa ou o alaúde, instrumentos esses de antiquíssima tradição mediterrânea, aparecendo em hieróglifos egípcios, na lira do mundo grego (instrumento de Orfeu, figura legendária que teria origem na Trácia, região que vai da atual Bulgária até Istambul) e também em instrumentos do mundo islâmico, que deram origem ao alaúde quando chegaram à Europa cristã por intermédio da Andaluzia, do sul da França e da Sicília, ilha onde nasceu Alessandro Scarlatti;
Fuga – movimento com duas ou mais vozes se imitando, uma seguindo, procurando a outra que foge na frente (daí o nome fuga, conferir também o nome italiano ricercare, análogo ao francês rechercher, em português procurar), forma musical com origem na música vocal cristã, seguindo as regras do contraponto. Este último, do latim punctos contra puntum (nota contra nota), surge na época em que o cantochão ou canto gregoriano começou a ser substituído nas igrejas pelo canto com mais do que uma linha melódica (voz);
Allegro e, mais raramente, Andante, Adagio, Presto, etc. – movimentos em que com frequência há imitações entre vozes, mas com muito mais liberdade e fantasia do que na fuga. Tratam-se, nesse nosso esquema explicativo, de movimentos que misturam aspectos do Arpeggio de origem instrumental mediterrânea (grega, egípcia, árabe, persa, etc) e da Fuga de origem vocal nas igrejas e monastérios cristãos.
A música europeia como conhecemos, ou seja, música escrita, foi apenas vocal por muito tempo, com as formas de música instrumental sendo escritas – e, depois, publicadas – muito tempo depois. Um grande revolucionário nesse sentido foi o cravista e organista da Basílica de S. Pedro do Vaticano, Girolamo Alessandro Frescobaldi (1583 – 1643), cujas obras instrumentais foram impressas em grandes tiragens que alcançaram a Inglaterra de Purcell e a Alemanha de Bach. Frescobaldi e o alemão Johann Jacob Froberger (1616 – 1667) foram os mais famosos compositores de música instrumental da primeira metade do século 17, e não só isso, mas os primeiros a alcançarem fama internacional com música instrumental em toda a história da música europeia. Na Europa do Norte, Sweelinck (1562 – 1621) é considerado um inovador ao compor fugas, fantasias e outras obras para teclado, mas nada disso ele imprimiu em vida, era tudo manuscrito.
Mas não se deve, com isso, supor que toda música instrumental anterior ao século 17 fosse popular no sentido de estritamente não erudita, simplória, tocada por músicos amadores e sem estudo, bêbados em tavernas. As tradições de música instrumental de outros povos, como os indianos e os muçulmanos da Arábia e Norte da África, remontam a tempos muito mais antigos e essas tradições exteriores ao mundo musical cristão – que entravam na Europa, como vimos, por vários poros: Espanha, Marselha, Sicília – provavelmente tiveram algum peso na formação de Alessandro Scarlatti, um habitante de cidades portuárias mediterrâneas: Palermo, onde passou a infância, e Nápoles onde passou a maior parte da vida exceto alguns longos períodos em Roma.
O stylus phantasticus de A.Scarlatti se expressa principalmente em toccatas onde o imprevisível é a regra, mas também em algumas obras de variações: é o caso, no CD6, das 22 variações sobre a Folia, e das 10 “Partite sopra Basso obligato”. A primeira obra é uma das três que chegaram até nós nas quais Alessandro alça voos sobre o simples tema da Follia di Spagna, que provavelmente se originou em Portugal. E a segunda, com 10 partite (partes) sobre um outro tema, bem mais típico de Scarlatti com suas várias modulações. E outra obra do CD6 que parece única no corpus do compositor é o conjunto de 17 Introduttioni p[er] sonare, e mettersi in tono Delle Composizioni.
São pequenos prelúdios improvisativos, com a função explícita de ajudar o músico (e seus ouvintes) a meter-se no tom das composições. Me chama a atenção o número desleixado, enquanto Bach e Chopin compuseram prelúdios em grupos de 24, um em cada tom, e até fora dessa armadura das tonalidades, Debussy compôs dois livros de 12 prelúdios. Também Scriabin compôs 24 prelúdios e Shostakovich tem dois conjuntos de 24, o segundo também com 24 fugas. Alessandro Scarlatti, por outro lado, parece não se preocupar se seriam 12, 24 ou 17, como seu filho aliás, que gerou sonatas com a mesma irregularidade orgânica de uma árvore dando frutos.
Na mais longa toccata destes dois CDs de hoje, a toccata em sol maior (CD4, faixa 7), como explica Francesco Tasini no encarte do álbum, estão presentes todas as cartas na manga de A.Scarlatti: “passagens com efeitos brilhantes intercaladas com amplos arpejos de harmonia extravagante e bizarra”. Essa harmonia extravagante dos arpejos combina com a liberdade rítmica das fantasias de que temos falado, correspondente à liberdade dos préludes non mésurés (prelúdios sem compasso) da música francesa do século 17.
Podemos supor que as harmonias das óperas de A. Scarlatti são mais previsíveis, mais atentas ao gosto popular, enquanto na música para teclado, de um âmbito mais do lar, as harmonias são mais extravagantes, mais sonhadoras e às vezes dissonantes.
Alessandro Scarlatti (1660-1725): Obra completa para teclado, CD 4
Moderato in Do minore
Toccata per Cembalo del Sig.r Cav.r A.Scarlatti in Do magg. (Tempo di Minuetto, Fuga)
[Toccata IV] in La Minore (Arpeggio, [Allegro], Fuga)
Anciently music was not written as scrupulously as it is today, and a certain liberty was permitted to interpretation. This liberty went farther than one would think, resembling much what the great Italian singers furnished examples of in the days of Rubini and Malibran. They did not hesitate to embroider the compositions, and the reprises were widespread. Reprises meant that when the same piece was sung a second time, the executants gave free bridle to their own inspiration. (…) it would be betraying the intentions of Mozart to execute literally many passages in concertos written by that author for the piano. At times he would write a veritable scheme only, upon which he would improvise. (…) when I played at the Conservatoire in Paris Mozart’s magnificent concerto in C Minor, I would have thought I was committing a crime in executing literally the piano part of the Adagio, which would have been absurd if thus presented in the midst of an orchestra of great tonal wealth. There as elsewhere the letter kills; the spirit vivifies. But in a case like that one must know Mozart and assimilate his style, which demands a long study.
(Camille Saint-Saëns: On the Execution of Music, and Principally of Ancient Music – A Lecture delivered at the Salon de la Pensée Française, Panama-Pacific International Exposition, San Francisco, June 1915)
A música para órgão de Alessandro Scarlatti é composta basicamente de Toccatas em dois ou mais movimentos – partituras manuscritas nas quais muita coisa fica subentendida e ao gosto do intérprete – e de Fugas avulsas, ao contrário de vários de seus contemporâneos que escreveram música para órgão de caráter religioso, seja litúrgico, isto é, voltado para celebrações como a missa, ou não litúrgico mas ainda assim com expressão religiosa.
Entre os católicos, Frescobaldi (1583-1643) foi talvez o primeiro compositor a alcançar grande fama internacional por sua obra instrumental mais do que pela vocal: ele publicou a coleção de música litúrgica para órgão Fiori Musicali, além de outras obras sacras como 3 Magnificats no seu 2º livro de toccatas. Na França, temos duas Missas para órgão em 1690 por François Couperin (1668-1733, mas segundo algumas fontes o autor foi seu tio de mesmo nome), uma voltada para os conventos e outra para as paróquias, isto é, a primeira para frades e freiras, a segunda para o povão. Outros compositores como Grigny e Raison também compuseram Missas para órgão, um gênero comum no barroco francês.
E entre os protestantes há os Prelúdios Corais de Buxtehude (1637-1707) e de J.S. Bach, obras curtas sobre corais luteranos, tipicamente usadas como introdução para o canto congregacional ou como interlúdio nas celebrações, o famoso “tapa-buraco”. De forma similar, na música para órgão francesa se destacam os Noëls de Dandrieu e de Balbastre que são coleções de música para órgão baseadas em corais natalinos.
E voltando para a Alemanha, há também as Fantasias Corais e as Partitas Corais, cuja invenção é atribuída a Georg Böhm (1661-1733), são obras mais longas, de variações sobre os corais: como vimos, partite em italiano era uma obra composta de várias partes, comumente na forma tema-variações, portanto essas partitas corais são uma fusão das variações italianas com os corais alemães, o que mostra que havia conexões entre essas diferentes regiões da Europa, embora muita gente não viajasse: Alessandro Scarlatti, até onde sabemos, nunca esteve na Alemanha, nem J.S.Bach esteve na Itália, mas Bach foi um grande conhecedor de música italiana. A partir do repertório de manuscritos e cópias do Collegium musicum de Leipzig, comandado por Bach, sabemos que na década de 1730 eles tinham no seu repertório algumas cantatas de Händel (1685-1759), compostas em 1707 quando este estava em Roma, três cantatas do napolitano Nicola Porpora (1686-1768) e uma do também napolitano Allesandro Scarlatti. Ele também conhecia bem as obras de música instrumental de Corelli, Vivaldi e Frescobaldi.
Enfim, nada disso aparece na música para órgão de Alessandro Scarlatti: nem peças baseadas em corais, nem obras com o intuito de acompanhar qualquer liturgia… Não que ele não tenha tocado isso nas igrejas onde trabalhava – como na Basílica de Santa Maria Maggiore, uma das maiores entre as imensas igrejas de Roma. Mas podemos supor que o grande compositor se divertia sobretudo nos dias em que a igreja estava vazia e os instrumentos à disposição da sua fantasia para criar allegros, fugas e adagios.
No volume 3 da integral gravada por Francesco Tasini, novamente a originalidade de Alessandro Scarlatti se faz notar: ao contrário da suíte francesa, composta por danças com uma ordem mais ou menos definida, ou do concerto italiano em três movimentos no esquema rápido-lento-rápido, que Vivaldi levou à perfeição e alemães/austríacos como Bach e Mozart imitariam, aqui nessas Toccatas de Scarlatti a fantasia, o inesperado, a surpresa são a alma do negócio. Temos uma toccata longa em seis movimentos concluída por uma fuga, temos também toccatas mais curtas com fuga no final, mas em outros casos o último movimento pode ser um dançante Balletto de tempo bem constante e marcado (faixa 6), ou pode ser um longo e virtuoso Allegro ou Presto (faixas 5 e 7).
É importante notar também que as obras para órgão de Alessandro Scarlatti, ao contrário das de J.S.Bach, não tinham parte escrita para pedal, de forma que, em linhas, gerais, os dois instrumentos eram intercambiáveis: uma mesma composição podia ser tocada no órgão ou no cravo, bastando para isso que o intérprete ficasse atento a algumas propriedades intrínsecas a cada um desses instrumentos: por exemplo o órgão “segura” o som das notas por mais tempo do que o cravo, permitindo alguns acordes mais longos em bloco, acordes que no cravo provavelmente seriam tocados em forma de arpejo. Na toccata que aparece na faixa 2 deste CD, isso fica muito claro, pois o manuscrito explicita o que normalmente ficava implícito, ao nomear a obra: “Toccata per Organo, e per Cembalo, dou’è arpeggio sù l’Organo, è tenute, e dou’è tenute sù l’Organo, sù il Cembalo s’arpeggia” [Toccata para Órgão e para Cravo, onde é arpejo, no Órgão se segura, onde se segura, no Cravo se arpegia.]
Outra diferença: a ordem de grandeza do volume sonoro, claramente, é outra: se o som do cravo tem mais a ver com uma sala familiar ou no máximo um salão aristocrático, o som do órgão italiano utilizado por Francesco Tasini é muito mais alto, se impõe a muitos metros de distância.
No outro disco (vol.5), além das Toccatas e de alguns allegros e andantes avulsos, temos duas exceções: uma obra sacra e uma de variações. A faixa oito, composta de duas Fugas sobre um Kyrie e um Christe, é na verdade uma transcrição de uma “Messa breve ala Palestrina” a quatro vozes, composta por A. Scarlatti por volta de 1703, a cappella e em um estilo mais austero que o de outras missas do mesmo compositor. Certamente a intenção era agradar ao Papa e Cardeais que não gostavam da música teatral de Scarlatti e preferiam o estilo de Giovanni da Palestrina (1525-1594), estilo que foi por muito tempo o “estilo oficial” das Basílicas Papais de São Pedro do Vaticano, de São João de Latrão e de Santa Maria Maggiore. Porém há dúvidas se a transcrição para órgão é do próprio compositor ou se foi feita depois, em todo caso Francesco Tasini a incluiu no CD para fazer jus à prática de transcrição de obras corais que era muito comum no século 18. A outra exceção neste volume 5 é a Follia de Espanha, com apenas quatro partite ou variações, ao contrário das 29 variações que ouvimos no CD 1 e das 22 do CD 6.
Mas o destaque, para mim, é a primeira obra do disco, uma Toccata em três movimentos com um calmo Adagio central que soa sublime no órgão italiano de 1836 escolhido por F. Tasini. É uma lenta melodia cantabile, mais típica de Domenico Scarlatti do que do estilo de seu pai. E um curto Minuetto fecha essa toccata com chave de ouro.
Alessandro Scarlatti (1660-1725): Opera omnia per tastiera Vol. 3
Fuga in Re minore
Toccata per organo e per cembalo in La magg. ([Allegro], Presto, Partita alla Lombarda, Fuga)
Fuga in Do magg.
Toccata per organo in Do magg. ([Allegro] – grave – [Allegro], Allegro – Lento, Andante, Adagio assai, Andante – Adagio, Allegro Assai)
Toccata per cembalo in Do magg. ([Arpeggio], Arpeggio – Veloce, Presto)
Toccata aperta d’organo in La minore ([Allegro], Balleto – Allegro)
Toccata per organo in Do magg. ([Allegro], Allegro [in Sol magg.])
[Toccata per organo] in Do magg. ([Allegro], [Fuga])
[Toccata] in Do magg. ([Allegro], [Fuga])
Fuga in Fa minore
Toccata Terza in Sol minore (Allegrissimo, Arpeggio, [Fuga])
Francesco Tasini – organ by Antonio Sangalli (1854), chiesa di S. Paolo Apostolo di Ziano Piacentino, Piacenza, Italia
O compositor italiano Alessandro Scarlatti escreveu sobre sua própria música: “A harmonia de minhas notas não é suficiente, em si mesma, para trazer uma sombra de prazer, se a força da Poesia, e a virtude dos Atores, não derem a ela a Semelhança do prazer”*
Talvez ele estivesse sendo excessivamente modesto nesse trecho de uma carta ao poderoso príncipe Ferdinando de Medici. Além disso, ele estava claramente falando de sua música vocal, que incluía óperas, cantatas, missas e oratórios. Mas em todo caso, essa ideia de que o texto escrito em si não basta parece ser uma chave para se compreender a música barroca e também as contradições de um período em que a cada década se publicavam mais partituras, mas ao mesmo tempo a música instrumental publicada e difundida internacionalmente ainda parecia uma inovação recente e curiosa. É importante, então, pensarmos um pouco sobre o papel do improviso e da fantasia livre do solista ao teclado, em tensão com as rígidas regras do contraponto, para apreciarmos as obras para cravo e órgão de Alessandro e também as de seu filho Domenico Scarlatti. É um repertório pouco gravado, que ouvi com o prazer de um voyeur que observa e ouve, pelo buraco da fechadura, um mestre do barroco italiano improvisando ao cravo. Algumas leituras foram necessárias para entender um pouco esse mundo tão diferente do nosso, mundo em que o improviso – palavra que ainda nem era usada no sentido musical em qualquer das línguas latinas! – coexiste com a música escrita, leituras que quero compartilhar com vocês.
Comecemos então pela noção contemporânea de improviso, que na minha cabeça, talvez por influência do jazz, pareça uma palavra em primeiro lugar musical e em seguida aplicada a outros contextos. Não é o que nos diz o Dicionario d’italiano Tommaseo-Bellini (1861), que lista como primeiro significado de improvvisare: “Dire versi o Fare discorso, non preparati per l’appunto etc.” Só mais à frente, ele lista outros tipos mais específicos de improviso: “Improvvisare musica. – Variazioni d’un’aria, d’un motivo. – Un ballo o altra opera d’arte; Una festa”
No Dictionnaire de l’Academie Française, edições de 1694 e 1740, não consta qualquer versão da palavra improviso. Na edição de 1762, finalmente, aparece a palavra Im-promptu, assim com hífen mesmo, com a definição que traduzo a seguir: “Aquilo que se faz no momento. Utiliza-se apenas para um epigrama [gênero poético satírico], um Madrigal, ou outra Poesia feita sem premeditação. Diz-se também de um ‘bon mot”, um pensamento que foi planejado mas é dito como se tivesse surgido naquele momento.”
Ao contrário dessa palavra impromptu, ligada à poesia e com aparição musical tardia (até onde sei, Schubert e Chopin foram os primeiros grandes compositores a utilizar o título Impromptu em suas obras) e de seu irmão “improviso”, a palavra Fantasia tem um longo histórico de aparição nas obras de compositores de Barroco Instrumental, desde Sweelinck, passando por Frescobaldi e J.S. Bach, então talvez seja interessante entendermos o que as pessoas dessa época entendiam por Fantasia.
Esta palavra já aparece na edição de 1694 do Dictionnaire de l’Academie Française: Fantaisie. s.f. L’Imagination [Fantasia, subst.fem. A Imaginação], seguida de várias descrições complementares, incluindo a seguinte:
“Fantasia se diz também de uma coisa inventada por prazer, e na qual se seguiu mais o capricho do que as regras da Arte. ‘Uma fantasia de Pintor, uma fantasia de Poeta, de Músico, de tocador de alaúde’.”
No século 19 (ou final do 18?) o improviso/impromptu parece ter recebido o significado musical que ainda tem hoje e a fantasia pode significar mais ou menos qualquer coisa, mas sempre associada à imaginação, por exemplo na Sinfonia Fantástica de Berlioz (1830). Um caso curioso é o título pleonástico de Chopin “Fantaisie-impromptu” (1834).
A própria palavra “improviso”, portanto, provavelmente não era jamais aplicada à música nos tempos de A. Scarlatti, o que significa que o que hoje recebe este nome não existia? Ou no fundo o oposto disso: só quando a fidelidade ao texto torna-se padrão é que o improviso torna-se um momento específico, percebido e valorizado, como nas cadências dos concertos para piano de Mozart. Nos tempos de A. Scarlatti, o improviso era uma daquelas coisas óbvias demais para que alguém as nomeie, ainda que se improvisasse de formas diferentes em cada região da Europa, como explica N. Harnoncourt no livro O discurso musical: a música barroca italiana tinha uma imaginação sem limites, com abundante ornamentação que era improvisada de forma espontânea pelos intérpretes, enquanto o “estilo francês” se caracterizava pela forma clara e concisa, influenciada sobretudo pelas danças. A suíte de danças, diz ele, ganha sua forma definitiva na corte do rei francês Luís 14 (1638-1715). Muitos alemães como Froberger, Telemann, Bach e Händel imitaram a influente moda francesa, ao contrário de Alessandro Scarlatti, que em nenhum momento imita a suíte de danças, preferindo o estilo mais livre de Toccatas compostas por dois, três ou muito mais movimentos.
Harnoncourt relata ainda que na música barroca italiana devia-se, por princípio, fazer variações livres, seguindo a imaginação, sobretudo nas repetições (ritornellos). Havia poucas regras para esses improvisos em comparação com a música francesa, onde o código de ornamentação era refinado e complexo, aliás como a etiqueta das cortes francesas, onde havia lugares certos e bem definidos para a esposa do rei, para os irmãos, as amantes, etc. Harnoncourt se diverte ao comentar as disputas entre as “escolas nacionais”, como as críticas dos franceses à ornamentação livre dos italianos: escrevia um francês que o célebre compositor Lully (1632-1687), “defensor do belo e do verdadeiro, teria retirado de sua orquestra um violinista que queria estragar seu concerto ao adicionar fora de hora todo tipo de figuras pouco harmoniosas. Porque eles não tocam do jeito que está escrito?”, perguntou-se o francês…** No século 20, quando pianistas e saxofonistas de jazz trouxeram o improviso de volta às glórias – ao menos do ponto de vista dos críticos da arte ocidental – parecia imensamente distante a época em que Chopin e Liszt se sentavam no piano e improvisavam, levando multidões (Liszt) e salões nobres (Chopin) ao delírio.
Como também explica Harnoncourt, nos séculos 17 e 18, a música não era essa arte internacional, universalmente compreensível, que ela se tornaria hoje graças ao trem, ao avião, rádio, televisão e, mais recentemente, internet. Formavam-se nas diferentes cidades estilos particulares, que se desenvolviam de forma mais ou menos independente ao longo das gerações… Evidentemente, a comunicação era suficiente para que algumas pessoas notassem as diferenças entre esses estilos: virtuoses itinerantes mostravam em vários lugares as modas de seu país de origem, sem falar em alguns melômanos ricos que viajavam e podiam ouvir e comparar os estilos de diferentes lugares. Alguns compositores viajaram: Vivaldi, o padre de Veneza, escreveu as Quatro Estações em Mântua e morreu em Viena. É também o caso de A. Scarlatti que, ao longo de sua vida nasceu na Sicília, viveu em Nápoles e Roma, com períodos de alguns meses em Florença, viagens que hoje seriam consideradas curtas: ele aparentemente jamais pisou fora da Itália. Em todo caso, as viagens por terra eram lentas e sofridas, era preciso trocar os cavalos que se cansavam, sair da carruagem para fazer as necessidades vitais, ou vocês acham que tinha banheiro na carruagem? Então era preciso ter coragem para ir, por exemplo, da Itália a Amsterdam, cidade onde as Estações de Vivaldi foram publicadas, mas onde ele próprio, ao que tudo indica, nunca esteve.
Em comparação com as viagens de carroça ou de carruagem, eram mais fáceis e rápidas as viagens no mar Mediterrâneo, com suas águas muito mais calmas do que as do temível Atlântico. Por isso, podemos falar em um estilo barroco mediterrâneo, com algumas características compartilhadas entre Nápoles, Roma e a Península Ibérica. Nesse mundo ibérico onde mais tarde circularia Domenico Scarlatti, circulou também a Folia, um tipo de dança. Como dissemos antes, A.Scarlatti (assim como Domenico) não compôs suítes francesas com Allemandes, Courantes e outras danças em sucessão. Mas em suas toccatas se incluem algumas danças em pequeno número: dois Minuetos, duas Corrente (versão italiana da Courante francesa), um Balletto, uma Giga… Todos esses são movimentos curtos e ritmados misturados entre vários movimentos Allegro, Presto, Spiritoso, Arpeggio com grande liberdade rítmica. A Follia (com dois ll na grafia italiana) foi, portanto, a única dança que chamou a atenção de A.Scarlatti a ponto de leva-lo a compor obras de mais fôlego, no caso as 29 variações (ou partite, italiano que significa várias partes) que ouvimos neste 1º CD da integral de Tasini, além de outros dois grupos de variações: 4 no 5º Cd e 22 no 6º CD.
A “Folia de Espanha”, que provavelmente se originou em Portugal, é um exemplo dessa conexão do mundo mediterrâneo: surgida na Península Ibérica por volta de 1500, esse tipo de dança era associado às pessoas simples, pastores e camponeses, e teve alguma relação com festas populares incluindo o carnaval. Daí vem o nome, Folia, de folia mesmo. Por volta de 1700, essa dança se torna uma verdadeira mania, sendo utilizada por quase todos os compositores italianos e franceses da época: Corelli em 1700 (Sonata Op. V n. 12), Marin Marais em 1701 (Pièces de viole), Antonio Vivaldi em 1705 (Sonata da camera no 12 do seu Op. 1). Muitos anos depois, na Alemanha, J.S.Bach vai usar o tema na sua cantata dita “Camponesa” BWV 212, en 1742 e depois seu filho C.P.E.Bach também vai compor variações sobre o tema. Além, é claro, de Alessandro Scarlatti nas suas variações que encerram a Toccata nel Primo Tono provavelmente de 1710***. É uma Toccata quase toda alegre, apressada, ao contrário das suas “22 variações” que virão mais à frente e já tinham aparecido aqui.
As outras Toccatas deste 1º CD são bem mais curtas e há também movimentos separados que F.Tasini agrupa seguindo a prática da época. Me chama atenção a Toccata da faixa 11, com dois movimentos opostos: Spiritoso, Largo. O spiritoso (com espírito) tem a ver com a fantasia da qual falávamos agora há pouco, e também se opõe a um certo cantabile que é mais comum nas sonatas de seu filho Domenico. Aqui, nenhuma chance de se “cantar”, como uma voz faria, essas rápidas modulações que vão se seguindo conforme a fantasia do intérprete. Quando o compositor/músico entende de harmonia tanto assim, ele pode ir trocando as tonalidades da forma mais erudita e dando a impressão de estar apenas improvisando algumas modulações no seu cravo, passando por trinados e todos os outros ornamentos à disposição. Atenção, crianças: pra improvisar assim, tem que ter muito estudo.
Nestes primeiros CDs já dá pra perceber que a obra de A.Scarlatti para teclado é composta basicamente de Toccatas com um número indefinido de movimentos, além de Fugas avulsas e, em menor número, outros movimentos avulsos como arpeggio, vivace, etc. No segundo disco, temos apenas Toccatas, o que não significa que temos obras de proporções parecidas: nessas Toccatas de Scarlatti a fantasia, a imaginação, o inesperado são a alma do negócio. Assim, na interpretação – no fundo uma recriação – de Francisco Tasini, as toccatas aqui reunidas podem durar 10 minutos ou menos de cinco.
Alguns poucos movimentos têm um ritmo mais estável e melodia mais cantabile, como é o caso do Minueto que encerra a faixa 5 ou da Aria alla Francese que encerra a faixa 11. Mas a regra, sobretudo nos vários movimentos Allegro e Arpeggio, é o compositor exercitando a arte do não-cantabile, a música como ciência das modulações, com mudanças harmônicas abundantes e arpejos típicos do alaúde e da harpa (lembrar o nome inglês do instrumento: harpsichord). A ária que encerra a última toccata do disco com uma melodia singela e com aspectos de música vocal, contrasta com quase todo o resto das toccatas que ouvimos, marcadas por progressões harmônicas extremamente refinadas, arpejos muito livres criando efeitos sonoros caleidoscópicos, passagens de fuga ou com imitação entre vozes e ocorrências de moto perpetuo ou ostinato, de baixos constantes e hipnóticos e de ornamentos longos especialmente idiomáticos no cravo.
Como diz o próprio Tasini no encarte do álbum, para apreciar adequadamente as composições de teclado de Alessandro Scarlatti, o intérprete deve se preocupar em dar ao texto movimentos vivos e inventivos, ao invés de apenas reproduzir mecanicamente as notas determinadas pelo compositor. O que está na página deve ser considerado um mero esboço ao qual é necessário dar vida por meio da interpretação. Frequentemente, uma intervenção é necessária, especialmente nas seções denominadas Arpeggio, onde o que está escrito é mais um esboço do que a música em si.
Alessandro Scarlatti (1660-1725): Opera omnia per tastiera, CD 1
1. Arpeggio
2. Fuga
3. Corrente
4. Toccata
5. Primo Tono. Fuga
6. Fuga 2º Tono
7. Fuga 3º Tono
8. Toccata
9. Toccata
10. Fuga (Allegro)
11. Toccata per Cembalo (Spiritoso, Largo)
12. [Toccata]
13. Fuga
14. Fuga
15. [Toccata] (Largo, Allegro, [Fuga])
16. Toccata VII, Primo tono (Preludio, Adagio, Presto, Fuga, Adagio, Follia [29 Partite])
Francesco Tasini – cravo (clavicembalo italiano de anonimo, Ferrara, XVIII secolo)
Alessandro Scarlatti (1660-1725): Opera omnia per tastiera, CD 2
1. Toccata per cembalo in Re minore ([Andante], Largo, Fuga)
2. Toccata Per Cembalo in Re minore ([Arpeggio], [Allegro], Fuga)
3. Toccata per cembalo in Re minore ([Arpeggio], Fuga)
4. Toccata Per Cembalo in Re minore ([Allegro], Fuga)
5. [Toccata] in Mi Minore ([Allegro], Fuga, [Allegro], Minuet)
6. Toccata Per Cembalo in Sol maggiore ([Allegro], Fuga, presto)
7. [Toccata] in Re maggiore ([Allegro], Un poco largo, Allegro)
8. Toccata VIII in La minore
9. Toccata X in Fa magg. ([Allegro], Adagio, Presto, [Arpeggio], Allegro, Corrente)
10. Toccata in Sol maggiore ([Allegro], Fuga)
11. [Toccata VI] in Re minore ([Allegro], Aria alla Francese-Andante)
Francesco Tasini – cravo (clavicembalo italiano de anonimo, Ferrara, XVIII secolo)
* Nella loro vera o falsa modestia prezione rimandono dunque le parole che Alessandro stesso scrisse a Ferdinando de Medici: “L’armonia delle mie note non è mai bastante, per se stessa, ad apportare un’ombra di diletto, se la forza della Poesia, e la virtù degli Attori, non gliene diano la Sembianza.” (Carta de 1706 para o principe Ferdinando de’ Medici)
** Harnoncourt, 1982. O discurso musical. Especialmente o capítulo “O estilo italiano e o estilo francês”
*** A datação das obras para teclado de A.Scarlatti é muito incerta. Supõe-se que quase tudo seja da segunda metade da vida do compositor, e boa parte da última década, por conter o título cavaliere Scarlatti, honraria concedida em 1715 pelo papa Clemente XI. Nos textos muito detalhados dos encartes dos CDs, Francisco Tasini não se arrisca a datar nenhuma obra, passando ao largo dessa questão cronológica.
A estrela desse disco é o instrumento musical: a reconstrução da espineta oval criada por Bartolomeo Cristofori dez anos antes de começar a fabricar os ancestrais do piano moderno. A espineta é uma espécie de versão mais compacta do cravo e costuma ter um som mais leve, mas o instrumento de Cristofori tem algo da riqueza de tom do cravo, sendo um pouco como um cruzamento entre os dois.
O encarte do disco traz informações fascinantes sobre a relação dos Scarlatti pai e filho com Florença, cidade importante na carreira dos dois, embora tenham passado a maior parte de suas vidas em Nápoles, Roma (ambos) e Madrid (o filho). A família Medici começou com banqueiros que ficaram podres de ricos por volta de 1400. No período barroco, já eram Grão-Duques da Toscana e patrocinaram artistas como Alessandro Scarlatti e Händel. Porém, pelo jeito eles não mantinham compositores como mestres de capela ou outros cargos semelhantes, ao contrário dos reis em Paris, Madrid, e Berlim, dos duques em Weimar e Dresden… Usando palavras atuais – e, claro, tomando certa liberdade – podemos imaginar que os Medici, seguindo sua tradição de banqueiros, preferiam pagar seus artistas por projeto e depois mandá-los se virar, ao invés de mantê-los como funcionários estáveis por décadas… Sabe aquele patrão que não quer assinar a carteira? Isso para os artistas, porque o tratamento dado ao artesão Bartolomeo Cristofori (1655-1731) foi bem diferente. Em 1688 ele foi convidado pelo Príncipe Ferdinando de Medici para trabalhar para ele, construindo e restaurando cravos e espinetas e supervisionar o vai-e-vem de instrumentos entre os vários palácios dos Medici, posto que ocupou até a morte do príncipe (1713). Nesse período, a segurança financeira que ele tinha certamente contribuiu para que ele pudesse inventar o pianoforte. Como nos conta o encarte do disco, que traduzo aqui em parte, mas vale ser lido na íntegra:
Cristofori, nascido em Pádua (Padova), foi convidado a residir em Florença pelo Príncipe Ferdinando em 1688. Recebia um salário regular e foi admitido como um membro dos “virtuosi di camera” do Príncipe. Ali, Cristofori desenvolveu o pianoforte (descrito a partir de 1700) e inventou novas formas técnicas para outros instrumentos, experimentando com madeiras preciosas.
A espineta oval de 1690 é um instrumento notável por sua forma, pelas madeiras nobres e por sua inovação técnica. É o primeiro testemunho do gênio inventivo do homem. Ele construiu duas dessas espinetas para o Príncipe Ferdinando. Pela fatura mantida no arquivo dos Medici, sabemos que Cristofori calculou, para a espineta, o salário de dez meses de um ajudante, e que após calcular a soma de gastos com materiais, ele dobra o valor no final: “mia fattura“.
Desde 2001 a espineta oval de 1690 está à mostra no departamento de instrumentos musicais da Galleria dell’Academia de Florença. Nesses instrumentos, Cristofori combinou as vantagens do cravo – longas cordas de baixo e dois registros de oitavas – com a leveza da espineta, criando um instrumento esteticamente elegante e atraente.
O Príncipe Ferdinando de Medici tocava violino, cravo, cantava, e era um dos principais mecenas das artes de seu tempo. Ele manteve com Alessandro Scarlatti uma rica correspondência de cerca de 60 cartas conservadas em Florença. O primeiro contato foi em 1683, quando da produção de uma ópera de Scarlatti em Siena, montada depois em Florença em 1686. Até 1709, houve obras de A. Scarlatti (ópera, drama, oratório, comédias) em quase todas as temporadas musicais em Florença.
Foi em julho de 1702 que Alessandro Scarlatti chegou à cidade com seu filho Domenico, de 17 anos. Em agosto ele conduziu um moteto de sua autoria para o aniversário do Príncipe Ferdinando. Em setembro a sua ópera Flavia Cuniberto foi montada no Teatro Pratolino. Em outubro eles voltaram para Roma, sem conseguir obter o posto esperado na corte dos Medici. As cartas do compositor em 1702 fazem menções sutis a esse posto fixo que ele desejava. Em 1705, Alessandro escreveu ao príncipe elogiando as habilidades de seu filho, virtuoso cravista. Meses depois, Domenico Scarlatti visitou Florença, desta vez sem seu pai. Tudo indica ele também queria um posto fixo junto aos Medici e também ficou a ver navios. O máximo que Ferdinando de Medici lhe ofereceu foi uma carta de recomendação a um nobre de Veneza. Não se sabe os detalhes mas talvez tenha sido importante o carimbo de um Medici: Domenico viveu alguns anos em Veneza, voltando a Roma só em 1709.
É muito provável que em sua estadia de quatro meses em Florença os Scarlatti tenham visto e tocado na espineta oval de Cristofori. Nas décadas de 1720 e 30, Domenico Scarlatti chega a Portugal e Espanha e logo depois as cortes desses países encomendam pianofortes, o que atesta o papel de Domenico na difusão desse ainda raro instrumento. As toccatas de Alessandro combinam fragmentos da linguagem modal do renascimento italiano com modulações mais modernas. Elementos similares de improviso são encontrados nas composições de seu filho Domenico. E para quem gosta de obras de variações sobre um tema, é imperdível a “Toccata con Partite” de Scarlatti – em uma tradução literal: Toccata em várias Partes sobre a Folia de Espanha. Nas Partitas Corais de Bach, para órgão, a palavra partita mantém este significado de muitas partes variando um mesmo tema, embora nas Partitas para cravo, já seja outro o significado. Sobre a Folia de Espanha, que provavelmente teve origem no carnaval português, veja esta e esta postagem de PQP.
Alessandro Scarlatti (1660-1725):
1-2. Toccata in re (Toccata / Fuga)
3. Allegro in sol
4-5. Toccata in Do (Toccata / Fuga)
6-8. Toccata in sol (Arpeggio / Fuga / Corrente)
9-12. Toccata in mi (Toccata / Fuga / Allegro / Minuet)
13-14. Toccata in la (Largo – Allegro / Corrente Allegro)
15-17. Toccata in Sol (Toccata / Spirituoso / Presto)
18. Fuga in Sol
19-21. Toccata in re (Toccata / Fuga / Fuga)
22-24. Toccata in Re (Toccata / Un poco largo / Allegro)
25. Fuga in re
26-48. Toccata con Partite sulla Follia di Spagna (in re)
Ella Sevskaya – spinetta ovale / espineta oval / oval spinet (copy of Cristofori, 1690)
Obs: nos títulos das obras, letra minúscula (ex: re) significa tom menor e maiúscula (ex: Re) é tom maior.
Não, este disco não tem qualquer relação com a rede social criada em 2006, com valor de mercado estimado em uns 10 a 25 US$ bi, faixa similar ao valor da PQP Bach Corp., também criada em 2006.
O título faz referência ao som dos pássaros. Em um trabalho musicológico de primeira, juntaram oito árias barrocas para soprano com referência aos cantores que vivem em cima das árvores, algumas de compositores famosos como A. Scarlatti, Vivaldi, Albinoni. Outros um pouco menos conhecidos, como J.A. Hasse, que viveu mais de 80 anos entre Dresden, Veneza e Viena, onde chegou a conhecer o jovem Mozart (ao que parece, ambos tinham grande respeito pelo talento do outro), e Leonardo Vinci, um dos criadores do estilo galante, célebre por suas óperas de melodias mais simples, com menos contraponto, e que morreu aos 40 anos ao comer um chocolate envenenado – dizem as más línguas – por um parente de uma de suas várias amantes. E alguns são hoje praticamente desconhecidos, como os italianos Andrea Stefano Fiorè e Pietro Torri.
Na maioria dessas árias, a cantora divide o papel de solista com a flauta doce ou flautino, que imita os pássaros. Como vocês sabem, a imitação dos pássaros é uma constante na história da música. No século XX beberam dessa tradição Mahler, Stravinsky, Villa-Lobos e Messiaen.
O canto dos pássaros pode servir de metáfora para os mais diversos sentimentos, como a alegria pastoral da ária de Gasparini:
Bell’augelletto
che vai scherzando
sui verdi rami,
t’intendo: tu mi chiami,
e parla in te l’amor.
Belo passarinho
que vai brincando
sobre verdes ramos,
te entendo: tu me chamas,
e em ti, fala o amor
Os pássaros, soltos ou na gaiola, também podem representar a liberdade ou a falta desta, como na ária de Hasse:
L’augelletto in lacci stretto perché mai cantar s’ascolta? Perché spera un’altra volta di tornare in libertà.
O passarinho na gaiola,
porque escutamos seu canto?
Porque ele espera em breve
voltar à liberdade.
E na ária de Alessandro Scarlatti – que faz parte da serenata Il giardino d’amore, espécie de cantata para um público mais reservado e mais aristocrático do que o das óperas – o canto do rouxinol aparece bem mais estilizado e rebuscado do que o estilo galante que surgiria algumas décadas depois. Assim como Hasse, Scarlatti trata de temas mais sombrios:
Più non m’alletta e piace
il vago usignoletto
Já não me agrada e diverte
o charmoso rouxinol
Alguns desses compositores estão fazendo sua estreia no PQP hoje, por exemplo Francesco Gasparini, que foi Diretor do Pio Ospedale della Pietà em Veneza no começo do século 18, ou seja, foi patrão de Antonio Vivaldi. J.S. Bach copiou à mão a Missa Canonica de Gasparini em 1740, fez algumas mudanças na orquestração adicionando oboés, trombone e órgão, e regeu essa Missa provavelmente muitas vezes em Leipzig.
Três obras instrumentais para flauta doce e cordas completam o CD, incluindo um concerto de Vivaldi. É impressionante como sempre há novidades a se conhecer na música barroca!
ANDREA STEFANO FIORÈ (1686–1732)
1 “Usignolo che col volo”
Aria di Engelberta from the opera Engelberta (Milano 1708)
for soprano, flautino, strings & b.c.
LEONARDO VINCI (c.1690–1730)
2 “Rondinella che dal nido”
Aria di Ifigenia from the opera Ifigenia in Tauride (Venezia 1725)
for soprano, strings & b.c.
FRANCESCO GASPARINI (1661–1727)
3 “Bell’augelletto che vai scherzando”
Aria di Aurora from the serenata L’oracolo del fato (Venezia c. 1709)
for soprano, flautino & strings
FRANCESCO MANCINI (1672–1737)
Sonata 14 in G minor
Concerto for Recorder, two violins, viola & b.c.
from the Conservatory “San Pietro a Majella”, 24 concerti per flauto, Napoli 1725
4 Comodo
5 Fuga
6 Larghetto
7 Allegro
PIETRO TORRI (c.1650–1737)
8 “Amorosa rondinella”
Aria di Nicomede from the opera Nicomede (Munich 1728)
for soprano, strings & b.c.
TOMASO ALBINONI (1671–1751)
9 “Zeffiretti che spirate”
Aria di Epicide from the opera Eraclea (Genova 1705)
for soprano & b.c.
JOHANN ADOLF HASSE (1699–1783)
10 “L’augelletto in lacci stretto”
Aria di Araspe from the opera Didone abbandonata (Dresden 1742)
for soprano, flautino, strings & b.c.
CHARLES DIEUPART (1667–1740)
Concerto in A minor, for ‘small flute’, strings & b.c.
11 Vivace
12 Grave staccato
13 Allegro
ANTONIO VIVALDI (1678–1741)
14 “Quell’usignolo ch’al caro nido”
Aria di Barzane from the opera Arsilda regina di Ponto (Venezia 1716)
for soprano, strings & b.c.
ALESSANDRO SCARLATTI (1660–1725)
15 “Più non m’alletta e piace”
Aria di Adone from the serenata Il giardino d’amore (c. 1700–1705)
for soprano, flautino, strings & b.c.
ANTONIO VIVALDI
Concerto in F major, RV 442, for recorder, strings & b.c. Tutti gl’ Istromenti Sordini
16 Allegro mà non molto
17 Largo e Cantabile
18 Allegro
Nuria Rial, soprano
Maurice Steger, flautino & recorder
Kammerorchester Basel
Stefano Barneschi, violin & direction
A Missa de Pergolesi é uma obra de exuberante fantasia. A de Scarlatti é uma obra de beleza e mistério insondáveis. Se eu tivesse que escolher uma peça de Alessandro Scarlatti para dar provas de sua estatura como compositor no mesmo nível de Vivaldi e Handel, ficaria entre Il Primo Omicidio e esta Messa per il Natale.
Alessandro Scarlatti (1660-1725) compôs apenas dez missas. O conservadorismo litúrgico de sua época evitou a moda das massas inovadoras, postas de lado pelas formas quase operísticas da cantata e do oratório, nas quais Scarlatti se destacou. Por volta de 1707, no entanto, em razão dos gosto dos patrões de Scarlatti, especialmente os cardeais da Academia Arcadiana, Scarlatti mudou para uma espécie de simplicidade pastoral, estilo que aperfeiçoou em sua Cantata per la Notte di Natale de 1705. Em 1707, no entanto, Scarlatti já era ‘maestro di capella’ — capo di all capo, por assim dizer — na basílica de Santa Maria Maggiore em Roma. Como tal, ele poderia escrever o que quisesse, e é claro que o que ele queria uma obra que exibisse toda sua habilidade em polifonia e inovação harmônica,
A missa de Natal de Scarlatti foi uma dessas composições, escrita para coros totalmente independentes, mais dois violinos obligatti que embelezam a polifonia independentemente de qualquer coro. O clima dessa missa é serenamente comemorativo — uma música como a que um coro de anjos poderia ter cantado. Mesmo o Agnus Dei é menos um apelo por misericórdia do que uma canção de afeto para o Santo Menino. O tratamento de Scarlatti do espaço acústico entre os dois coros é espetacular; certifique-se de configurar seu sistema de som para maximizar a separação e sentar-se com atenção entre os alto-falantes, balançando a cabeça para a esquerda e para a direita como se estivesse assistindo a uma partida de tênis.
Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736) foi contratado para escrever sua Missa pelos padres da cidade de Nápoles, após o terrível terremoto em 1731, para solicitar a atenção de Santo Emigdius, “para que ele pudesse protegê-los de tais flagelos no futuro, fazendo intercessão com Deus”. Aparentemente, os terremotos têm o poder de inspirar uma criatividade bizarra na música; a missa do terremoto de 12 vozes de Antoine Brumel vem à mente, além desta fantasticamente colorida ‘missa breve’ de Pergolesi, em que o Kyrie dura apenas 4 minutos, mas o Gloria representa as maravilhas da natureza por 24 minutos completos. Este também é um trabalho cheio de artifícios acústicos espaciais, com fragmentos de música e texto explodindo à esquerda e à direita e, aparentemente acima, atrás, abaixo e dentro de seus ouvidos. Os patronos devem ter ficado encantados com ele, já que o trabalho foi apresentado três vezes, cada uma com orquestras maiores. Posteriormente, a Missa foi apresentada anualmente em setembro em Nápoles e em Roma — “com todos os músicos e violinistas de Roma”, segundo um memorialista contemporâneo — em homenagem a São João Nepomuceno, o santo favorito dos Habsburgos.
Pergolesi viveu apenas 26 anos, o que o tornou uma perda precoce para a música tão trágica quanto Mozart. Esta missa e seu famoso Stabat Mater são músicas de suprema arte e beleza.
O Concerto Italiano, liderado por Rinaldo Alessandrini, canta e toca essas duas músicas incríveis da maneira que merecem. Isso é um grande elogio. O CD mereceu o Diapason d`Or.
—-> ATENÇÃO: No nome do arquivo está Palestrina em vez de Pergolesi. Mas é Pergolesi, tá? Tive um surtinho de Alzheimer, só isso.
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Giovanni Battista Pergolesi: Messa Romana / Alessandro Scarlatti: Messa per il Natale
Messa Di S. Emidio (Missa Romana)
Composed By – Giovanni Battista Pergolesi
1 I. Kyrie Eleison 0:41
2 II. Christe Eleison 2:41
3 III. Kyrie Eleison 0:58
4 IV. Gloria In Excelsis Deo 2:35
5 V. Laudamus Te 2:00
6 VI. Gratias Agimus Tibi 3:55
7 VII. Dominus Deus 4:07
8 VIII. Qui Tollis Peccata Mundi 2:30
9 IX. Qui Tollis Peccata Mundi 4:07
10 X. Qui Sedes Ad Dexteram Patris 2:28
11 XI. Quoniam Tu Solus Sanctus 1:59
12 XII. Cum Sancto Spirito 2:33
Messa Per Il Santissimo Natale
Composed By – Alessandro Scarlatti
13 I. Kyrie eleison 4:08
14 II. Gloria In Excelsis Deo 10:30
15 III. Credo 7:38
16 IV. Sanctus 1:10
17 V. Agnus Dei 4:28
Conductor – Rinaldo Alessandrini
Orchestra, Choir – Concerto Italiano
Rosso, a coleção de árias de ópera barroca italiana da soprano Patricia Petibon, pode muito bem ser um dos recitais vocais barrocos mais divertidos que um ouvinte provavelmente encontrará, porque Petibon está obviamente tendo o momento de sua vida. As árias, algumas raridades familiares e genuínas, de óperas e oratórios de Handel, Vivaldi, Alessandro Scarlatti, Stradella, Porpora e Sartorio, expressam uma ampla gama de emoções, incluindo tristeza, delícia e maravilha, insinuações sedutoras e raiva explosiva.
Petibon, uma atriz cantora espetacular, se joga neles com um abandono tão inconsciente e com uma percepção interpretativa que o ouvinte, mesmo sem olhar para os textos, fica sem dúvida sobre os estados emocionais específicos, às vezes em evolução, dos personagens. Os puristas podem se ofender com as extremidades de suas interpretações, que usam suspiros, gritos, gritos e sussurros para transmitir a extremidade dos estados emocionais dos personagens, mas sua honestidade e franqueza expressivas são indiscutíveis.
A voz luminosa e lustrosa de Petibon e sua técnica impecável e um virtuosismo ágil devem dissipar as suspeitas de que ela recorra a extremos dramáticos para cobrir qualquer déficit vocal. Cada faixa é uma maravilha de profundidade interpretativa e vocalismo da mais alta ordem, mas o lamento de Alcina “Ah! Miocor!” é especialmente deslumbrante; para aumentar a intensidade do desespero de Alcina, Petibon transpõe algumas passagens por uma oitava para a estratosfera e outras por uma oitava em uma faixa solidamente baritonal, produzindo efeitos impressionantes. No “Quando voglio“, de Cleópatra, do Sartorio de Giulio Cesare em Egito, Petibon cria um feitiço de sensualidade irresistível e divertida. O “Caldo sangue” de Scarlatti, de Ismaele, expõe a límpida pureza de sua voz; o fraseado sem costura e aveludado; e a sensibilidade de seus instintos dramáticos em exibição total.
Andrea Marcon lidera a Orquestra Barroca de Veneza em realizações excepcionalmente atenciosas e inventivas das partituras. O som limpo, presente e bem equilibrado da Deutsche Grammophon fornece um ambiente ideal para a clareza primitiva das performances. O recital da Petibon estabelece um alto padrão para a apresentação barroca e deve agradar aos fãs de música da época e de cantos notáveis.( ex-encarte)
Rosso – Italian Baroque Arias Antonio Sartorio (Itália, 1630 – 1680) 01. Giulio Cesare in Egitto – Quando voglio Antonio Alessandro Boncompagno Stradella, (Itália, 1643 – 1682) 02. Giovanni Battista – Queste lagrime e sospiri Georg Friedrich Händel (Alemanha, 1685 – Inglaterra, 1759) 03. Alcina / Act 1 – Tornami a vagheggiar 04. Rinaldo, HWV 7a / Act 2 – “Lascia ch’io pianga” 05. AriodanteHWV 33 / Act 1 – “Volate, amori” 06. Giulio Cesare / Act 3 – “Piangerò la sorte mia” Alessandro Scarlatti (Itália, 1660 – 1725) 07. La Griselda / Act 3 / Scene 3 – Se il mio dolor t’offende Georg Friedrich Händel (Alemanha, 1685 – Inglaterra, 1759) 08. Alcina / Act 2 – Ah, mio cor 09. Ariodante, HWV 33 / Act 1 – Neghittosi, or voi che fate Nicola Antonio Giacinto Porpora (Nápoles, 1686 – Nápoles, 1768) 10. Lucio Papirio / Act 1 – Morte amara Antonio Lucio Vivaldi (Veneza, 1678-Viena, 1741) 11. L’Olimpiade, RV 725/ Act 2 Scene 5 – Siam navi all’onde Antonio Sartorio (Itália, 1630 – 1680) 12. L’Orfeo – Orfeo, tu dormi Benedetto Marcello (Veneza, 1686 – Bréscia, 1739) 13. Arianna – Come mai puoi vedermi piangere Alessandro Scarlatti (Itália, 1660 – 1725) 14. Il Sedecia, Rè di Gerusalemme – Caldo sangue
Por gentileza, quando tiver problemas para descompactar arquivos com mais de 256 caracteres, para Windows, tente o 7-ZIP, em https://sourceforge.net/projects/sevenzip/ e para Mac, tente o Keka, em http://www.kekaosx.com/pt/, para descompactar, ambos gratuitos.
If you have trouble unzipping files longer than 256 characters, for Windows, please try 7-ZIP, at https://sourceforge.net/projects/sevenzip/ and for Mac, try Keka, at http://www.kekaosx.com/, to unzip, both at no cost.
E aqui termina esta coleção de Hyperion, gravada pelo Purcell Quartet e Purcell Band, dedicada aos trabalhos de diversos compositores que escreveram variações sobre o famoso tema português. Postamos os seis CDs nos últimos seis dias. No disco deste post estão as seis Folias e apenas elas. Uma joia! Na verdade, mas de 150 compositores fizeram variações sobre este tema e aqui estão somente alguns dos principais. Acho que as melhores variações são as de Marais, Scarlatti e CPE Bach, mas todo mundo pode discordar.
O tema conhecida como ‘La Folia’ fascinou muitos compositores desde o século XVII. De origem portuguesa, a palavra significa ‘louco’ ou ‘cabeça vazia’ e até a década de 1670 indicava uma dança rápida e barulhenta, na qual os participantes pareciam estar ‘fora de si’. No final do século, uma forma nova, mais lenta, se desenvolveu. Também foi ajustada a estrutura harmônica para formar a simetria perfeita que inspirou Corelli a usá-la na 12ª de suas Sonatas para Violino, Op 5. Aquela famosa obra inspirou Vivaldi, CPE Bach, Alessandro Scarlatti e outros compositores a escreverem variações sobre ‘La Folia’ — incluindo até Rachmaninov, embora o título ‘Variações sobre um tema de Corelli’ pareça indicar que ele pensasse que a música era do compositor. Bem, o que esperar de Rachmaninov, né?
Este CD reúne obras inspiradas em ‘La Folia’ de seis compositores, começando com a Sonata original de Corelli e finalizando com o arranjo orquestral de Geminiani. As obras de CPE Bach e Scarlatti são para teclado solo. As seis peças foram retiradas da série de CDs da Hyperion que postei nos seis dias anteriores. É só conferir.
Corelli / Marais / Scarlatti / Vivaldi / CPE Bach / Geminiani: Variações sobre La Folia
1 Violin Sonata in D minor ‘La Folia’ Op 5 No 12 [9’58] Arcangelo Corelli (1653-1713)
Elizabeth Wallfisch (violin), Richard Boothby (cello), Robert Woolley (harpsichord)
2 Les Folies d’Espagne [16’23] Marin Marais (1656-1728)
The Purcell Quartet, William Hunt (viola da gamba)
3 Primo e Secondo Libro di Toccate Alessandro Scarlatti (1660-1725)
Toccata No 7: La Folia [13’08]
Robert Woolley (harpsichord)
4 Trio Sonata in D minor ‘Variations on La Folia’ RV63 [9’29] Antonio Vivaldi (1678-1741)
The Purcell Quartet
5 12 Variationen über die Folie d’Espagne H263 Wq118/9 [7’58] Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788)
Robert Woolley (harpsichord)
6 Concerto grosso ‘La Folia’ [10’53] Francesco Geminiani (1687-1762)
The Purcell Quartet, The Purcell Band
O destaque disparado deste CD são as lindíssimas Variações sobre La Folia (faixa 12), escritas para cravo e sem mostrar o tema claramente. Um espanto que talvez vença Marais em nossa grande final de Folias. As duas cantatas são mais ou menos. Muitos recitativos pro meu gosto.
Alessandro Scarlatti, cujo nome verdadeiro era Pietro Alessandro Gaspari, foi um compositor italiano de grande importância para a música lírica do período barroco. Seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento da ópera séria e da ópera bufa (ópera cômica) do seu tempo. Ele é considerado o pai da escola napolitana de ópera, a qual contou, mais tarde, com membros como Leonardo Leo, Leonardo Vinci, Giovanni Pergolesi e Johann Adolfo Hasse, entre outros.
Dentre as obras principais de Scarlatti merecem destaque as óperas Carlo, Re d’Allemagna (1716), Telemaco (1718) e La Griselda (1721). Além das óperas, Alessandro Scarlatti também ficou famoso por suas cantatas de câmara. Foi pai de dois outros compositores, Domenico Scarlatti (1685-1757) e Pietro Filippo Scarlatti (1679-1750), e irmão mais velho de Francesco Scarlatti (1666-1741), também compositor, ainda que de menor expressão em comparação com Alessandro e Domenico.
As óperas de Alessandro Scarlatti são dotadas de alto nível musical e influenciaram compositores dos mais variados países. Do ponto de vista da ação dramática, porém, ficam a dever para as composições de autores que o sucederam, como Händel e Vivaldi. As aberturas das óperas de Alessandro Scarlatti, chamadas sinfonias, consistiam geralmente de três movimentos: rápido, lento e rápido. Essa forma se tornou de grande importância na criação posterior da sinfonia clássica para orquestra.
Alessandro Scarlatti foi um compositor de extraordinário talento criativo. Sua obra compreende nada menos que 115 óperas, 150 oratórios e mais de 500 cantatas, além de composições instrumentais. A música de Scarlatti forma um importante elo entre a música vocal do início do barroco italiano do século XVII, centrada em Florença, Veneza e Roma, e a escola clássica do século XVIII, que culmina em Haydn (1732-1809) e Mozart (1756-1791).
Alessandro Scarlatti (1660-1725): La Folia e Duas Cantatas
Correa Nel Seno Amato, Cantata (23:51)
1 Sinfonia And Balletto 2:26
2 Recitativo, Correa Nel Seno Amato 5:12
3 Aria, Ombre Opache Che Il Chiarore 3:19
4 Recitativo, Curilla, Anima Mia 0:45
5 Ritornello And Aria, Fresche Brine Che Pitose 1:51
6 Recitativo, Piante Insensate E Fide 0:59
7 Aria, Idolo Amato, Tormento Del Core 1:43
8 Recitativo, Ma Voi, Occhi Dolenti 1:50
9 Aria, Onde Belle, Che Pietose Questri Prati Rinfrescate 2:12
10 Recitativo, Curilla, Anima Mia 2:20
11 Recitativo Accompagnato, Volea Più Dir Daliso 1:14
12 Variations On La Folia, Solo Harpsichord 13:12
Già Lusingato Appieno, Cantata (14:41)
13 Sinfonia 3:23
14 Recitativo, Già Lusingato Appieno 1:56
15 Aria, Cara Sposa 1:36
16 Recitativo, Cada, Cada Sù L’empie Schiere 1:07
17 Aria, Sento L’aura Che Fedele 1:44
18 Recitativo, Al Trono, Al Trono Si Noi Nella Prole 0:39
19 Aria, Se V’è Mai Chi Fissi Il Ciglio Nel Mio Figlio 2:05
20 Recitativo, Disse, Disse E Baciò La Sposa 2:08
Harpsichord – Robert Woolley
Soprano Vocals – Lynne Dawson
Viola da Gamba – Richard Boothby
Violin – Catherine Mackintosh, Elizabeth Wallfisch
Um excelente disco do tempo em que Alison Balsom ainda não era a grande estrela que é hoje – com total merecimento. Até meados do século XVII, o trompete era essencialmente um instrumento cerimonial, tocado por soldados e atendentes da corte. Era normalmente utilizado em bandas de trompetes e bateria, nas quais fanfarras e músicas populares eram tocadas. No entanto, compositores alemães como Michael Praetorius e Heinrich Schütz começaram a experimentar o uso de trompetes em concertos por volta de 1620, e logo após 1650 os compositores começaram a escrever muitas peças para uma ou duas trombetas com órgão e com cordas e continuo. Este é o repertório que é explorado neste disco. Pensa-se normalmente que as primeiras sonatas da trompete foram escritas em Bolonha. E, com efeito, as primeiras sonatas de trompete impressas foram publicadas em 1665 por Maurizio Cazzati, maestro di capella em San Petronio, em Bolonha. No entanto, existem sonatas para trompete em manuscritos nas bibliotecas do norte da Europa que são mais antigas. Um exemplo disso é a sonata do compositor e cantor romano Alessandro Melani. Ela pode ser encontrada em manuscritos de Uppsala, na Suécia, provavelmente copiada nas décadas de 1680 ou 90, embora uma versão mais curta para uma única trombeta em um manuscrito de Oxford possa remontar à metade do século.
Music for Trumpets and Strings from the Italian Baroque
Sonata a 6 in D major[5’43] Ferdinando Lazzari (1678-1754)
1 Presto e spicco[1’58]
2 Grave[0’35]
3 Canzona[0’59]
4 Grave[0’31]
5 Presto[1’40]
6 Sonata a 4 in G minor ‘La sampiera'[3’36]Maurizio Cazzati (1620-1677)
Sonata a 5 in D major Op 3 No 10[5’29] Andrea Grossi (1680-1690)
7 Vivace[1’11]
8 Adagio[2’06]
9 Grave[0’59]
10 Presto[1’13]
Sonata a 5 in D major[4’08] Giuseppe Maria Jacchini (c1663-1727)
11 Grave – Allegro[1’08]
12 Grave[0’38]
13 Allegro[1’06]
14 Grave – Allegro[1’16]
15 Sonata in A minor ‘La sassatelli’ Op 5 No 10[3’06]Giovanni Vitali (1632-1692)
Sonata a 5 in C major[10’19] Alessandro Melani (1639-1703)
16 Adagio – Allegro[2’01]
17 Allegro[3’14]
18 Canzona – Grave[2’42]
19 Vivace[2’22]
20 Sonata in E minor Op 10 No 17[5’15]Giovanni Legrenzi (1626-1690)
Il barcheggio[6’01] Alessandro Stradella (1639-1682)
21 Sinfonia in D major Movement 1: [Allegro][0’56]
22 Sinfonia in D major Movement 2: Andante[2’13]
23 Sinfonia in D major Movement 3: Allegro ma non troppo[1’16]
24 Sinfonia in D major Movement 4: Allegro[1’36]
Sonata a 5 in D major G7[5’23] Giuseppe Torelli (1658-1709)
25 Grave – Allegro[1’02]
26 Adagio[1’26]
27 Allegro[1’11]
28 Grave – Allegro[1’44]
Sonata a 4 No 1 in F minor[5’46] Alessandro Scarlatti (1660-1725)
29 Grave[0’51]
30 Allegro[1’38]
31 Larghetto[2’09]
32 Allemanda[1’08]
Concerto in C major RV537[6’41] Antonio Vivaldi (1678-1741)
33 Vivace[2’52]
34 Largo[0’33]
35 Allegro[3’16]
Crispian Steele-Perkins (trumpet)
Alison Balsom (trumpet)
The Parley of Instruments
Ouvimos primariamente a música dos grandes compositores – Bach, Handel, Vivaldi, Rameau. E quase sempre suas obras nos sãos apresentadas em gravações completas: Quatro Suítes Orquestrais, Os Concerti Grossi Op. 12, La Stravaganza. Quando muito, um disco com concertos ou outras peças, sempre do mesmo compositor.
Essa abordagem pode limitar um pouco nossa perspectiva da riqueza cultural, da diversidade e do colorido das peças musicais do período barroco. Essa maneira de apresentar a música interessa muito às gravadoras que assim vendem seus pacotes. A Integral dos Concertos para Fagote (ou Flautim, ou Viola da Gamba) do compositor tal, a Integral da Música de Banquete do compositor qual. Creio que até para o mais treinado ouvinte, enfrentar uma sequência de 70 minutos de Concertos para Fagote pode ser um pouquinho demais. Isto sem mencionar as violas. Acho que certas peças são mais agradáveis e efetivas se apresentadas em companhia de outras, de outros compositores, com as quais tenham afinidade, mas também um certo contraste.
É claro que podemos ‘programar’ uma audição musical, tomando umas peças daqui, outras dali, mas nem sempre isso acontece.
Esta é uma das razões pelas quais eu adoro discos como este, da postagem. A produção do disco conseguiu interpolar peças barrocas, mas de períodos ligeiramente diferentes, e intercalar obras de mestres maiores com alguns menos conhecidos.
Talvez Pietro Castrucci seja o compositor menos conhecido desta coleção, mas certamente era conhecido de seus pares, como Handel, que também tem uma peça no disco.
Castrucci nasceu em Roma e estudou com Corelli. Mudou-se para Londres em 1715 e foi famoso como virtuose do violino e líder da Orquestra da Ópera de Handel.
Outro compositor menos conhecido desta lista é Alessandro Stradella, que certamente viveu uma vida cheia de aventuras amorosas. Tanto que morreu por isso. A peça que fecha o disco, a Sonata di viole, provavelmente é o primeiro concerto grosso e acredita-se ter servido de modelo para os Concerti Grossi Op. 6 de Corelli. Deste conjunto, o Concerto No. 1 abre o disco.
Vá lá, delicie-se também com Sinfonia do Alessandro Scarlatti, pai do Domenico, com o belíssimo concerto de Vivaldi, que brilha aqui ainda mais, e com a espetacular versão para Concerto Grosso da Sonata da Folia, de Corelli, feita pelo Geminiani. Um disco tão bem gravado e produzido custa a aparecer.
A Orchestra of the Age of Enlightenment já apareceu por aqui diversas vezes, sempre tendo a sua frente grandes regentes, como o Frans Brüggen, Gustav Leonhardt e Simon Rattle. Nesta ocasião ela é dirigida diretamente pela pessoa que está liderando os violinos. Ou seja, neste disco a estrela é a OAE!
Digam vocês se o Masterchef Erick Jacquin não é um sósia do oboísta Anthony Robson…
Italian Baroque Concertos
Arcangelo Corelli (1653-1713)
1-5. Concerto Grosso em ré maior, Op. 6, 1
Pietro Castrucci (1679-1752)
6-10. Concerto Grosso em ré maior, Op. 3, 12
Alessandro Scarlatti (1660-1725)
11-13. Sinfonia di Concerto Grosso No. 2 em dó menor
George Frideric Handel (1685-1759)
14-16. Sonata del Overtura (para Il trionfo del Tempo e del Disinganno)
Antonio Vivaldi (1678-1741)
17-19. Concerto em fá maior para duas flautas, dois oboés, violino, violoncelo e baixo
Contínuo, RV 572 (Il Proteo o sia il mondo al rovescio)
Francesco Geminiani (1687-1762)
20. Concerto Grosso No. 12 em ré menor “La Folia” (da Sonata Op. 5, 12, de Corelli)
Alessandro Stradella (1644-1682)
21-24. Sonata di viole
Orchestra of the Age of Enlightenment
Alison Bury, Margaret Fautless, Catherine Mackintosh
O disco foi gravado em uma cooperação entre a BBC Music Magazine e o selo Linn
Copiei esses 8 CDs — pois estamos falando de um ÁLBUM ÓCTUPLO — , num pen drive e saí por aí de carro ouvindo a coisa. Nossa, é muito SEDUTOR, ATRAENTE, DO CARALHO e apenas me vinha à memória o ÍNCLITO blog Prato Feito, que é absolutamente tarado pela Corte de Dresden (grande Dresden!, diria o pessoal de lá). Parei o carro quatro vezes e cada uma delas foi sem relação alguma com meus compromissos ou EMENTÁRIO; parava apenas pela absurda COERÇÃO vinda da grande Dresden de tantos compositores geniais. A questão sempre era a mesma. O que era mesmo a maravilha que eu estava ouvindo naquele momento em meus ouvidos cheios de sons de um passado que URGE ser REEDIFICADO? Da primeira vez, o culpado foi o INSIDIOSO Telemann, da segunda, o VERMELHO Vivaldi e seu per eco in lontano, da terceira, o DELINQUENTE foi Zelenka e, da quarta, foi o FASCHinante. Todos esses seres andavam por Dresden, como disse o Prato Feito aqui …
Sinto muito, mas tenho que voltar a falar de Dresden. Nessa cidade, nas primeiras décadas do século XVIII, havia muitos grandes compositores. Se você saísse na rua, era capaz de trombar com Pisendel enquanto olhava Hasse do outro lado da rua, cruzava com Zelenka saindo da igreja e, se não olhasse pra cima, ainda era acertado por Veracini caindo de uma janela (e isso é uma outra história). Mas ainda não é de nenhum deles que vamos falar, e sim de um outro sujeito: Johann David Heinichen.
… assim como antes (ou depois, sei lá) falara aqui…
Uma das mais graves perdas históricas da II Guerra Mundial foi o bombardeio e arrasamento da cidade alemã de Dresden, pelas forças dos Estados Unidos. Nessa tragédia se perderam muitas vidas, monumentos e documentos. Após a reunificação alemã, em 1990, Dresden passou por um rápido e bem feito processo de reconstrução, que acabou trazendo de volta grande parte do brilho daquela que foi uma das mais importantes cortes da Alemanha barroca. Musicalmente a cidade foi privilegiada com grandes compositores, dentre os quais dois estão representados neste (no dele) CD.
Oh, esses ianques ignorantes e filhas-da-puta! Deviam ter feito RETROPERISTALTISMO com suas bombas! Ah, e aqui, falando sobre o imenso Schütz…
No entanto nunca compôs música puramente instrumental, e toda a sua obra profana foi perdida. Viveu em Dresden (grande Dresden!), e morreu em 1672.
Grande Dresden, repito! Tchê, Dresden é o canal e eu desafio o pessoal do Prato Feito a gostar mais de Dresden do que nós.
Que esta postagem épica sirva de PRESENTE do PQP para a massa sedenta que segue nosso blog nos três hemisférios, doze continentes e na Via Láctea, onde se DERRAMAM — como os milhões de espermatozóides que EJACULAREI logo mais à noite dentro de minha amada — as sementes de POLINIZAÇÃO de beleza que fazem sorrir a blogosfera e suas margens.
E vou ali na mesa beber mais um pouco, OK?
Ah, intérpretes excelentes, impecáveis.
IM-PER-DÍ-VEL !!!
Sobre Dresden, Harry Crowl comentou:
dezembro 24th, 2010 às 11:21
Essa antologia é muito impressionante. Já conhecia 4 desses Cds que acompanham o belíssimo livro “Dresden”, com as pinturas do sec.XVIII realizadas por Canaletto. Ganhei esse livro quando estive lá em 2007, de uma grande amiga soprano que mora lá.
Queria fazer um esclarecimento em relação ao bombardeio de Dresden. O mesmo foi perpetrado pela Força Aérea Britânica (RAF), com um certo apoio logístico americano. Mas, a ordem veio do alto comando inglês, com aquiescência de Churchill. Os alemães dizem que foi uma vingança pelo bombardeio de Coventry, mas, na verdade, os ingleses já sentindo que não iam mais mandar no mundo, queriam assustar os russos que já estavam chegando perto e não estavam muito inclinados a respeitar os tratados. Durante o período da DDR, a cidade não teve seu monumentos reconstruídos. Depois da reunificação, tudo foi restaurado e reconstruído como era. A cidade voltou a ser exuberante. A reconstrução foi financiada inclusive com dinheiro inglês. A Inglaterra reconheceu o crime que cometera e pediu perdão oficialmente ao povo alemão. Quando a Frauenmarienkirche foi reinaugurada, os dirigentes máximos dos dois países estavam presentes e foi estabelecido o dia do perdão, que me parece que é celebrado em Dresden anualmente. O bombardeio matou tanta gente quanto uma das bombas atômicas. Um dos livros mais interessantes sobre o bombardeio é “Slaughterhouse 5″, de Kurt Vonnegut, que era um prisioneiro americano dos alemães e estava detido em Dresden durante o bombardeio.
Vivaldi, Telemann, Heinichen, Fasch, Graun, Pisendel, Quantz, Zelenka, Hasse, Ariosti, A. Scarlatti, Fux: Música na Corte de Dresden
Disc 1:
Antonio Vivaldi – Concerto for Violin, 2 Oboes, 2 Recorders and Bassoon in G minor, RV 577 1. Concerto for Violin, 2 Oboes, 2 Recorders and Bassoon in G minor, RV 577: 1st movement
2. Concerto for Violin, 2 Oboes, 2 Recorders and Bassoon in G minor, RV 577: 2nd movement, Largo non molto
3. Concerto for Violin, 2 Oboes, 2 Recorders and Bassoon in G minor, RV 577: 3rd movement, Allegro
Georg Philipp Telemann – Concerto for Violin, Hunting Horn & BC in D major 4. Concerto for Violin, Hunting Horn and Basso continuo in D major: 1st movement, Vivace
5. Concerto for Violin, Hunting Horn and Basso continuo in D major: 2nd movement, Adagio
6. Concerto for Violin, Hunting Horn and Basso continuo in D major: 3rd movement, Allegro
Johann David Heinichen – Concerto for 2 Oboe, 2 Flutes, Violin, 2 Horns & BC in F major 7.Concerto for 2 Oboe, 2 Flutes, Violin, 2 Horns and Basso continuo in F major: 1st movement, Allegro
8. Concerto for 2 Oboe, 2 Flutes, Violin, 2 Horns and Basso continuo in F major: 2nd movement, Andante
9. Concerto for 2 Oboe, 2 Flutes, Violin, 2 Horns and Basso continuo in F major: 3rd movement
Johann Friedrich Fasch – Concerto for 2 Trumpets, 2 Horns, 2 Oboes, Bassoon, Strings & BC 10. Concerto for 2 Trumpets, 2 Horns, 2 Oboes, Bassoon, Strings and Basso Continuo: 1st movement, Allegro
11. Concerto for 2 Trumpets, 2 Horns, 2 Oboes, Bassoon, Strings and Basso Continuo: 2nd movement, Andante
12. Concerto for 2 Trumpets, 2 Horns, 2 Oboes, Bassoon, Strings and Basso Continuo: 3rd movement, Allegro
Johann Gottlieb Graun – Concerto for 2 Violins, 2 Horns, Strings & BC in G major 13. Concerto for 2 Violins, 2 Horns, Strings and Basso Continuo in G major: 1st movement
14. Concerto for 2 Violins, 2 Horns, Strings and Basso Continuo in G major: 2nd movement, Adagio
15. Concerto for 2 Violins, 2 Horns, Strings and Basso Continuo in G major: 3rd movement, Allegro molto con spirito
Johann Georg Pisendel – Sinfonia in B major 1. Sinfonia in B major: Allegro di molto
2. Sinfonia in B major: Andantino
3. Sinfonia in B major: Tempo di menuet
Johann Georg Pisendel – Concerto for Violin, 2 Oboes, Strings & BC in D major 4. Concerto for Violin, 2 Oboes, Strings and Basso Continuo in D major: Vivace
5. Concerto for Violin, 2 Oboes, Strings and Basso Continuo in D major: Andante
6. Concerto for Violin, 2 Oboes, Strings and Basso Continuo in D major: Allegro
Johann Georg Pisendel – Concerto for 2 Oboes, Bassoon, Strings & BC in E flat major 7. Concerto for 2 Oboes, Bassoon, Strings and Basso Continuo in E flat major
Georg Philipp Telemann – Concerto for Violin in F major 8. Concerto for Violin in F major: Presto
9. Concerto for Violin in F major: Corsicana-Un poco grave
10. Concerto for Violin in F major: Allegrezza
11. Concerto for Violin in F major: Scherzo
12. Concerto for Violin in F major: Chasse
13. Concerto for Violin in F major: Polacca
14. Concerto for Violin in F major: Minuetto
Antonio Vivaldi – Concerto in C major, RV 558 1. Concerto in C major, RV 558
2. Concerto in C major, RV 558
3. Concerto in C major, RV 558
Antonio Vivaldi – Concerto for Oboe in F major, RV 455 4. Concerto for Oboe in F major, RV 455
5. Concerto for Oboe in F major, RV 455
6. Concerto for Oboe in F major, RV 455
Antonio Vivaldi – Concerto for Viola d’Amore and Lute in D minor, RV 540 7. Concerto for Viola d’Amore and Lute in D minor, RV 540
8. Concerto for Viola d’Amore and Lute in D minor, RV 540
9. Concerto for Viola d’Amore and Lute in D minor, RV 540
Antonio Vivaldi – Concerto for 4 Violins in A major, RV 552 “Per eco in lontano” 10. Concerto for 4 Violins in A major, RV 552 ‘Per eco in lontano’
11. Concerto for 4 Violins in A major, RV 552 ‘Per eco in lontano’
12. Concerto for 4 Violins in A major, RV 552 ‘Per eco in lontano’
Antonio Vivaldi – Sinfonia for Strings in G major, RV 149 13. Sinfonia for Strings in G major, RV 149
14. Sinfonia for Strings in G major, RV 149
15. Sinfonia for Strings in G major, RV 149
Antonio Vivaldi – Concerto for Violin and Oboe in G minor, RV 576 16. Concerto for Violin and Oboe in G minor, RV 576
17. Concerto for Violin and Oboe in G minor, RV 576
18. Concerto for Violin and Oboe in G minor, RV 576
Georg Philipp Telemann – Concerto for Violin 3 Horns 2 oboes in D major 1. Concerto for Violin, 3 Hunting Horns, 2 Oboes, Strings and Basso Continuo in D major
2. Concerto for Violin, 3 Hunting Horns, 2 Oboes, Strings and Basso Continuo in D major
3. Concerto for Violin, 3 Hunting Horns, 2 Oboes, Strings and Basso Continuo in D major
Johann Joachim Quantz – Concerto for 2 flutes 4. Concerto for 2 Flute, Strings and Basso Continuo in G minor
5. Concerto for 2 Flute, Strings and Basso Continuo in G minor
6. Concerto for 2 Flute, Strings and Basso Continuo in G minor
Antonio Vivaldi – Concerto for 2 Violins, 2 Oboes and Bassoon in D major, RV 564a 7. Concerto for 2 Violins, 2 Oboes and Bassoon in D major, RV 564a
8. Concerto for 2 Violins, 2 Oboes and Bassoon in D major, RV 564a
9. Concerto for 2 Violins, 2 Oboes and Bassoon in D major, RV 564a
Jan Dismas Zelenka – Capriccio in A major for 2 oboes, fagott, 2 horns ZWV 185 (*) 10. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185
11. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185
12. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185
13. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185
14. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185
15. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185
16. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185
Jan Dismas Zelenka – Capriccio in C major for 2 oboes, fagott, 2 horns ZWV 183 1. Capricci (5): no 2 in G major, ZWV 183: Allegro
2. Capricci (5): no 2 in G major, ZWV 183: Canarie
3. Capricci (5): no 2 in G major, ZWV 183: Gavotte
4. Capricci (5): no 2 in G major, ZWV 183: Rondeau
5. Capricci (5): no 2 in G major, ZWV 183: Menuetto
Jan Dismas Zelenka – Laudate pueri in D major, ZWV 81 (**) 6. Laudate pueri in D major, ZWV 81: Laudate pueri
7. Laudate pueri in D major, ZWV 81: Qui sicut Dominus
8. Laudate pueri in D major, ZWV 81: Amen
Jan Dismas Zelenka – Capricci (5): no 5 in G major, ZWV 190 9. Capricci (5): no 5 in G major, ZWV 190: Allegro
10. Capricci (5): no 5 in G major, ZWV 190: Menuetto 1 & 2
11. Capricci (5): no 5 in G major, ZWV 190: Trio ‘Il contento’
12. Capricci (5): no 5 in G major, ZWV 190: Presto assai ‘Il furibondo’
13. Capricci (5): no 5 in G major, ZWV 190: Villanella 1 & 2
Jan Dismas Zelenka – Confitebor tibi Domine in C minor, ZWV 71 14. Confitebor tibi Domine in C minor, ZWV 71: Confitebor tibi Domine
15. Confitebor tibi Domine in C minor, ZWV 71: Memoriam fecit
Jan Dismas Zelenka – Capriccio in A major for 2 oboes, fagott, 2 horns ZWV 185 (*) 16. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185: Allegro assai
17. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185: Adagio
18. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185: Aria
19. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185: En tempo de canarie
20. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185: Menuet 1 & 2
21. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185: Andante
22. Capricci (5): no 4 in A major, ZWV 185: Paysan 1 & 2
Jan Dismas Zelenka – Missa Dei Patris in C major, ZWV 19 1. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Kyrie eleison 1
2. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Christe eleison
3. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Kyrie eleison 2
4. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Gloria in excelsis Deo
5. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Domine Deus
6. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Domine Fili
7. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Qui sedes ad dexteram
8. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Quoniam tu solus Sanctus
9. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Cum Sancto Spiritu
10. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Credo in unum
11. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Et incarnatus est
12. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Cruxifixus
13. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Et resurrexit
14. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Et vitam venturi saeculi
15. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Sanctus
16. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Benedictus
17. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Osanna
18. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Agnus Dei
19. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Agnus Dei
20. Missa Dei Patris in C major, ZWV 19: Dona nobis pacem
Johann Adolf Hasse- Mass in G minor 1. Mass in G minor: Kyrie eleison 1
2. Mass in G minor: Christe eleison
3. Mass in G minor: Kyrie eleison 2
4. Mass in G minor: Gloria in excelsis Deo
5. Mass in G minor: Gratias agimus tibi
6. Mass in G minor: Domine Deus, Rex caelestis
7. Mass in G minor: Domine Fili unigenite
8. Mass in G minor: Domine Deus
9. Mass in G minor: Qui tollis peccata mundi
10. Mass in G minor: Quoniam tu solus sanctus
11. Mass in G minor: Cum Sancto Spiritu
12. Mass in G minor: Credo in unum Deum
13. Mass in G minor: Et incarnatus est
14. Mass in G minor: Crucifixus etiam pro nobis
15. Mass in G minor: Et resurrexit tertia die
16. Mass in G minor: Ad te levavi animam meam
17. Mass in G minor: Sanctus
18. Mass in G minor: Benedictus
19. Mass in G minor: Hosanna in excelsis
20. Mass in G minor: Agnus Dei
Jan Dismas Zelenka – Laudate pueri in D major, ZWV 81 (**) 1. Laudate pueri in D major, ZWV 81: Laudate pueri
2. Laudate pueri in D major, ZWV 81: Quis sicut Dominus
3. Laudate pueri in D major, ZWV 81: Amen
Attilio Ariosti – O quam suavis est 4. O quam suavis est: O quam suavis est
5. O quam suavis est: Panem quem coelum dat
Alessandro Scarlatti – Su le sponde del Tebro 6. Su le sponde del Tebro: Sinfonia
7. Su le sponde del Tebro: Su le sponde del Tebro
8. Su le sponde del Tebro: Sinfonia
9. Su le sponde del Tebro: Contentatevi
10. Su le sponde del Tebro: Mesto, stanco e spirtante
11. Su le sponde del Tebro: Infelici miei lumi
12. Su le sponde del Tebro: Dite almeno
13. Su le sponde del Tebro: Ritornell
14. Su le sponde del Tebro: All’ aura
15. Su le sponde del Tebro: Tralascia pur di piangere
Johann David Heinichen – Lamentatio 16. Lamentatio: Incipit lamentation
17. Lamentatio: Beth
18. Lamentatio: Ghimel
19. Lamentatio: Daleth
20. Lamentatio: He
Johann Joseph Fux – Plaudite sonat tuba 21. Plaudite: Plaudite, sonat tuba
22. Plaudite: Dum exultat de morte Salvator
23. Plaudite: Mortales, vicit Leo de ttribu Juda
24. Plaudite: O! peccator gaude
25. Plaudite: Alleluja!
(*) e (**) — Não é um engano de PQP Bach. A edição original colocou estas duas peças repetidas na coletânea.
Peter Schreier (Tenor)
René Jacobs (Countertenor)
Ludwig Güttler (Trumpet)
Ralph Eschrig (Tenor)
Dagmar Schellenberger (Soprano)
Axel Köhler (Countertenor)
Egbert Junghanns (Bass)
Olaf Bär (Bass, Baritone)
Reinhart Ginzel (Tenor)
Um belo disco de música sacra italiana com obras de Vivaldi e Alessandro Scarlatti. Quase todos nós já ouvimos o Gloria de Vivaldi muitas vezes e, embora seja muito boa música, a pessoa tende a se cansar depois de um tempo. A versão de Pinnock é excelente. Meu interesse real sobre este disco é o Dixit Dominus de Scarlatti. Nós ouvimos muito pouco da música sacra de Alessandro, que é de alta qualidade. Embora ele não seja tão ousado ou enérgico como Handel, tem muitas ideias originais e belas melodias. Todos os movimentos são atraentes. Pinnock e turma estão excelentes como sempre. Embora desconhecido, este Dixit é definitivamente o destaque deste disco para mim.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Gloria / Alessandro Scarlatti (1660-1725): Dixit Dominus
Gloria, In D Major For Soloists, Chorus And Orchestra, RV 589
Composed By – Antonio Vivaldi
1 Gloria In Excelsis Deo (Allegro)
Oboe – David Reichenberg
Trumpet – Crispian Steele-Perkins
2:24
2 Et In Terra Pax Hominibus (Andante) 4:52
3 Laudamus Te (Allegro)
Soprano Vocals – Ingrid Attrot, Nancy Argenta
2:14
4 Gratias Agimus Tibi (Adagio) 0:28
5 Propter Magnam Gloriam Tuam (Allegro) 0:50
6 Domine Deus, Rex Caelistis (Largo)
Oboe – David Reichenberg
Soprano Vocals – Nancy Argenta
3:43
7 Domine Fili Unigeniti (Allegro) 2:18
8 Domine Deus, Agnus Dei (Adagio)
Alto Vocals – Catherine Denley
5:01
9 Qui Tollis Peccata Mundi (Adagio) 1:45
10 Qui Sedes Ad Dexteram Patris (Allegro)
Alto Vocals – Catherine Denley
2:45
11 Quoniam Tu Solus Sanctus (Allegro)
Oboe – David Reichenberg
Trumpet – Crispian Steele-Perkins
0:47
12 Cum Sancto Spirito (Allegro)
Oboe – David Reichenberg
Trumpet – Crispian Steele-Perkins
2:48
Dixit Dominus, For Soloists, Strings And Continuo (Musica Sacra MS 710)
Composed By – Alessandro Scarlatti
13 Dixit Dominus (Spiritoso) 2:35
14 Virgam Virtutis (Allegro)
Soprano Vocals – Nancy Argenta
2:34
15 Tecum Principium
Alto Vocals – Ashley Stafford
2:53
16 Juravit Dominus 3:14
17 Dominus A Dextris Tuis
Bass Vocals – Stephen Varcoe
2:13
18 Judicabit In Nationibus (Andante – Allegro – Allegro) 1:57
19 De Torrente In Via Bibet (Andante)
Alto Vocals – Ashley Stafford
Soprano Vocals – Nancy Argenta
2:50
20 Gloria Patri (Allegro) 3:58
Alto Vocals – Ashley Stafford
Alto Vocals [Choir] – Ashley Stafford, Caroline Trevor, Graeme Curry, Mary Nichols
Bass Vocals – Stephen Varcoe
Bass Vocals [Choir] – Donald Greig, Richard Savage, Richard Wistreich, Stephen Charlesworth (2)
Cello – Jaap ter Linden, Richard Webb
Concertmaster – Simon Standage
Contralto Vocals – Catherine Denley
Double Bass – Amanda MacNamara*
Oboe [Solo] – David Reichenberg
Organ – Ivor Bolton
Soprano Vocals – Ingrid Attrot, Nancy Argenta
Soprano Vocals [Choir] – Evelyn Tubb, Nicola Jenkin, Sally Dunkley, Tessa Bonner
Tenor Vocals [Choir] – Angus Smith, John Dudley, Neil Lunt, Nicolas Robertson
Theorbo – Nigel North
Trumpet [Solo] – Crispian Steele-Perkins
Viola – Katharine Hart* (tracks: 1 to 12), Trevor Jones (4) (tracks: 1 to 12)
Violin [1st] – Graham Cracknell, Miles Golding, Pauline Nobes (tracks: 1 to 12), Simon Standage
Violin [2nd] – Elizabeth Wilcock (tracks: 1 to 12), Frances Turner (tracks: 13 to 20), Maurice Whitaker (tracks: 1 to 12), Micaela Comberti, Pauline Nobes (tracks: 13 to 20), Susan Carpenter-Jacobs* (tracks: 1 to 12)
Violin [3rd] – Elizabeth Wilcock (tracks: 13 to 20), Maurice Whitaker (tracks: 13 to 20), Susan Carpenter-Jacobs* (tracks: 13 to 20)
Vocals [Solo Quartet] – Ashley Stafford (tracks: 13 to 20), Nicolas Robertson (tracks: 13 to 20), Richard Wistreich (tracks: 13 to 20), Tessa Bonner (tracks: 13 to 20)
Choir – The English Concert Choir
Orchestra – The English Concert
Conductor, Harpsichord – Trevor Pinnock
Esta é uma seleção composta: as faixas 1 e 2 foram gravadas e lançadas em 1963 no vinil com a capa ao lado; a faixa 4, já em 1957/62, e a faixa 3 apenas em 1969/72 – o que deixa entreouvir que a técnica e timbre do “barítono do século” ainda podem ter amadurecido entre seus 32 e 44 anos.
O repertório é todo barroco, e geralmente entendemos isso como “contemporâneo de Bach” – mas vejamos: quando João Sebastião nasceu:
Rosenmüller tinha morrido há um ano (com 65)
Alessandro Scarlatti estava na ativa, com 25 anos
Couperin tinha 17
Telemann tinha seus 4 aninhos (e sobreviveria JSB por mais 18)
Aldous Huxley chama a atenção, em um ensaio, para que “barroco” não parece significar o mesmo em música e nas demais artes: nestas, “barroco” sugere uma extensão da inventividade renascentista pelos terrenos do tenso, assimétrico, dramático, exagerado; já na música, o trajeto parece ser do irregular para o regular, do inventivo e do emocional para o cada vez mais padronizado e convencional (com o que Bach aparece como uma espécie de canto de cisne da invenção e originalidade no barroco).
Aqui temos em Rosenmüller (faixa 3) uma amostra do barroco seiscentista de sabor tardo-renascentista – e teríamos uma amostra do tardo-barroco mais tediosamente convencional se tivéssemos conservado a peça de Telemann incluída no vinil acima: uma cantata não-religiosa, humanista, sobre o valor da esperança (Die Hoffnung ist mein Leben), quem sabe prefigurando o que Schiller faria pouco mais tarde com o valor da alegria. Nobre intento… só que acabou dando numa das peças barrocas mais chatas que já ouvi!
Felizmente o próprio tio Dietrich se encarregou de salvar a honra de Telemann, gravando o que suspeito ser sua obra prima: a cantata tragicômica sobre a morte de um canário “experimentado em sua arte” por obra de um gato – animal que termina merecendo um movimento para xingar sua glutonice, e mais um para desejar que o canário o arranhe e bique por dentro – ao lado de frases da mais autêntica e compungida ternura dedicadas ao passarinho. Talvez mais uma confirmação de que o convívio com animais humaniza – enquanto o convívio só com ideais mumifica.
De entremeio temos o sempre intenso Couperin cantando as dores de Jerusalém subjugada pelos babilônios lá por 600 a.C. – isso como abertura das cerimônias católicas relativas à… morte de Jesus, nesse estranho sincretismo que é a cultura judaico-cristã.
E temos Alessandro!Alessandro Scarlatti, que, no meu sentir, enquanto os outros saíam do barroco provinciano seiscentista meramente para a convencionalidade dos salões da nobreza, Alessandro dá o passo e não vê só os salões: já vislumbra lá na frente a volta do primado do sentimento no romantismo, bem como a criatividade livre, expressa na imprevisibilidade e na assimetria, a ser reivindicada pelos criadores do século XX.
Eu falaria dias sobre os detalhes do meu xodó nesta seleção, que é a Infirmata, Vulnerata do Alessandro – que alguns querem ver como peça sacra, o que não me convence… – mas vou só mencionar que, quando minha mente está “tocando” Infirmata, Vulnerata, com a maior facilidade ela “desliza de faixa” e prossegue pela Actus Tragicus, composta por Bach aos 22-23 anos – ou seja: quando Alessandro estava nos seus 47-48. Para facilitar o acesso às sutilezas emocionais da obra, incluo abaixo o texto latino com uma tentativa de tradução… e deixo vocês com a música. Vão lá!
(Ah, sim: titio Dietrich & amigos foram de uma geração anterior ao movimento de instrumentos de época e interpretações estilisticamente autênticas – mas não por isso deixam de fazer música da melhor! Em todo caso, se vocês quiserem comparar com uma leitura “de época” da Infirmata, Vulnerata – com contratenor, dois violinos, órgão e tiorba no contínuo – a realização de que mais gostei até agora vocês encontram em https://www.youtube.com/watch?v=7Q1b6YsiROo . – Qual eu prefiro? As duas, claro! Se posso ter duas coisas gostosas, a troco do quê vou colocar hierarquia entre elas?)
INFIRMATA, VULNERATA: O TEXTO
(Tentativa de interpretação nas entrelinhas: Ranulfus)
Infirmata, vulnerata
Enfermada e ferida
puro deficit amore
por puro amor insuficiente
et liquescens gravi ardore
e pelo ardor penoso que se liquefaz,
languet anima beata.
jaz doente a alma abençoada.
O care, o dulcis amor,
Ó caro, ó doce amor,
quomodo mutatus es mihi in crudelem,
de que modo te transmudaste para mim em cruel,
quem numquam agnovisti infidelem!
a mim que nunca pudeste dizer infiel!
Vulnera percute, transfige cor.
Machuca, golpeia, transpassa o coração:
Tormenta pati non timeo.
sofrer as torturas não temo.
Cur, quaeso, crudelis
Por quê, por favor, cruel ...
es factus, es gravis?
... te tornaste, e sombrio?
Sum tibi fidelis,
A ti sou fiel,
sis mihi suavis.
a mim sê suave!
Vicisti, amor, vicisti,
Venceste, amor, venceste,
et cor meum cessit amori.
e meu coração se rende ao amor.
Semper gratus, desiderabilis,
Sempre bem-vindo e desejável,
semper, semper eris in me.
sempre, sempre estarás em mim.
Veni, o care, totus amabilis,
Vem, ó querido, todo amável,
in aeternum diligam te.
serei eternamente ligad@ a ti.
[Da capo] Semper gratus, desiderabilis,
[Da capo] Sempre bem-vindo e desejável,
semper, semper eris in me... In me.
sempre, sempre estarás em mim... Em mim.
FAIXAS
01 Alessandro SCARLATTI (1660-1725) Infirmata, Vulnerata (Enferma e ferida)
Moteto(?) sobre poema em latim de autor desconhecido
Lançado em vinil em 1963 – 6 movimentos – 13’42
02 François COUPERIN (1668-1733) Première Leçon de Ténèbres: Pour le Mercredi
(1º Ofício de Trevas: para a Quarta-Feira Santa)
Texto: Vulgata Latina: Lamentações de Jeremias, cap.1
Lançado em vinil em 1963 – 7 movimentos – 16’36
03 Johann ROSENMÜLLER (1619-1684) Von den himmlischen Freuden (Das alegrias celestiais)
Cantata para barítono e baixo contínuo
Lançado em vinil em 1972 – 4 estrofes – 9’10
04 Georg Philip TELEMANN (1681-1767) Trauermusik eines kunsterfahrenen Kanarienvogels
(Música fúnebre para um canário virtuose =
“Kanarienkantate” [Cantata do Canário])
Lançado em vinil em 1962 – 9 movimentos – 16’50
MÚSICOS
Voz (barítono): Dietrich Fischer-Dieskau (1925-2012)
Flauta transversal: Aurèle Nicolet (faixas 1 e 2)
Oboé: Lothar Koch (faixa 4)
Violino: Helmuth Heller (f. 1, 2 e 4); Koji Toyoda (f. 3)
Viola: Heiz Kirchner (faixa 4)
Cello: Irmgard Popper (f. 1, 2 e 4); Georg Dondere (f. 3)
Contrabaixo: Hans Nowak (faixa 3)
Cravo: Edith Picht-Axenfeld
The Art Of The Baroque Trumpet Vol. 3/5 – Virtuoso Music for Soprano and Trumpet
Niklas Eklund (baroque trumpet)
Susanne Rydén (Soprano), London Baroque, Charles Medlam/Edward H. Tarr
1996
Nascido em Halle, na Alemanha, George Frideric Handel fez amplo uso do trompete tanto em suas óperas quanto em seus oratórios posteriores. O “célebre Water Piece” para trompete e orquestra em cinco movimentos NÃO é a mesma coisa que a famosa “Water Music” apresentada numa barcaça no Tâmisa; a abertura é adaptada do segundo conjunto da “Música da Água”, mas os outros movimentos parecem ser retirados das óperas.
Palhinha: ouça:01. Ode for the Birthday of Queen Anne: Eternal Source of Light Divine
The Art Of The Baroque Trumpet, Vol. 3/5
Virtuoso Music for Trumpet and Soprano Georg Friedrich Händel (Alemanha, 1685 – Inglaterra, 1759) 01. Ode for the Birthday of Queen Anne: Eternal Source of Light Divine 02. Samson, HWV 57, Act III: Let the Bright Seraphim 03. Rinaldo: Lascia ch’io pianga Antonio Caldara (Itália, 1670 – 1736) 04. La vittoria segue Johann Joseph Fux (Áustria, 1660 – 1741) 05. Chi nel Camin d’onore Luca Antonio Predieri (Itália, 1688 – 1767) 06. Pace una volta Alessandro Stradella (Itália, 1639 – 1682) 07. Sinfonia avanti “Il Barcheggio” I. Spiritoso, e staccato 08. Sinfonia avanti “Il Barcheggio” II. (Aria) 09. Sinfonia avanti “Il Barcheggio” III. (Canzone) 10. Sinfonia avanti “Il Barcheggio” IV. (Aria) Alessandro Scarlatti (Itália, 1660 – 1725) 11. Arie con Trompa Sola. I. Si suoni la tromba 12. Arie con Trompa Sola. II. Con voce festiva 13. Arie con Trompa Sola. III. Mio tesoro per te moro 14. Arie con Trompa Sola. IV. Rompe sprezza 15. Su le sponde del Tebro. I. Sinfonia 16. Su le sponde del Tebro. II. Su le sponde del Tebro: Contentatevi 17. Su le sponde del Tebro. III. Mesto, stanco e spirante – Infelici miei lumi – Die almeno 18. Su le sponde del Tebro. IV. All’aura, al cielo, ai venti – Tralascia pur di piangere
The Art Of The Baroque Trumpet, Vol. 3/5 – 1996 Niklas Eklund (baroque trumpet) Susanne Rydén (Soprano)
London Baroque
Charles Medlam/Edward H. Tarr
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Händel, Scarlatti, Corelli, Stradella, Muffat… De 1650 a princípios do século XVIII, Roma exerceu um imenso poder de atração a compositores de toda a Europa e experimentou um momento intenso de atividade musical, por causa da – ou apesar de – administração papal. Foi um período próspero com um caldeirão de influências.
O programa idealizado pelo maestro romano Rinaldo Alessandrini oferece uma visão pessoal e completa da época, apaixonada e secular, lírica (feita sublime por Sandrine Piau) e orquestral, romântica em todos os sentidos. Rinaldo Alessandrini é uma das principais figuras da cena musical internacional. Sua predileção pelo repertório italiano e sua constante preocupação com as características expressivas próprias do estilo italiano dos séculos XVII e XVIII são os fatores decisivos que orientam sua abordagem musical e suas opções interpretativas, tanto como chefe do Concerto Italiano, de que é o fundador e diretor, como solista e maestro convidado. (ex-internet)
Georg Friedrich Händel (Germany,1685-England,1759) 01. Overture in B-Flat Major, HWV 336 02. Aci, Galatea e Polifemo, HWV 72 – I. Duetto. Sorge il di-Spunta l’aurora 03. La resurrezione, HWV 47 – Aria. Disserratevi, o porte d’averno 04. Il trionfo del Tempo e del Disinganno, HWV 46a – Pure del cielo, intelligence eterne 05. Il trionfo del Tempo e del Disinganno, HWV 46a – Tu del ciel ministro eletto Antonio Alessandro Boncompagno Stradella, (Itália, 1643 – 1682) 06. Sonata a 8 viole con una tromba in D Major – I. Allegro 07. Sonata a 8 viole con una tromba in D Major – II. Aria 08. Sonata a 8 viole con una tromba in D Major – III. Canzona 09. Sonata a 8 viole con una tromba in D Major – IV. Aria 10. San Giovanni Battista – Sinfonia 11. San Giovanni Battista – Deh, che piu tardi 12. San Giovanni Battista – Queste lagrime, e sospiri Georg Muffat (França, 1653 – Alemanha, 1704) 13. Concerto grosso No. 12 in G Major ‘Propitia sydera’ – V. Ciacona Alessandro Scarlatti (Italy, 1660 – 1725) 14. Su le sponde del tebro, H. 705 – I. Sinfonia 15. Su le sponde del tebro, H. 705 – II. Recitativo. Su le sponde del tebro 16. Su le sponde del tebro, H. 705 – III. Aria. Contentatevi, o fidi pensieri 17. Su le sponde del tebro, H. 705 – IV. Recitativo. Mesto, stanco, e spirante 18. Su le sponde del tebro, H. 705 – V. Aria. Infelici miei lumi 18 de 25 19. Su le sponde del tebro, H. 705 – VI. Aria. Dite almeno, astri crudeli 20. Su le sponde del tebro, H. 705 – VII. Recitativo. All’ aura, al cielo, ai venti 21. Su le sponde del tebro, H. 705 – VIII. Aria. Tralascia Pur Di Piangere Arcangelo Corelli (Itália, 1653-1713) 22. Concerto grosso in D Major, Op. 6 No. 4 – I. Adagio-Allegr 23. Concerto grosso in D Major, Op. 6 No. 4 – II. Adagio 24. Concerto grosso in D Major, Op. 6 No. 4 – III. Vivace 25. Concerto grosso in D Major, Op. 6 No. 4 – IV. Giga. Allegro
Un viaggio a Roma – 2018 Concerto Italiano dir. Rinaldo Alessandrini Sandrine Piau & Sara Mingardo
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CD belíssimo, absolutamente notável e anormal — às vezes parece até uma tese — deste brilhante facefriend que sofre de insônia e que, para relaxar, costuma postar gravações suas feitas a partir de seu iPhone, dando belas explicações sobre cada obra que está estudando… É uma insônia muito produtiva! O multipremiado Mahan Esfahani recebeu todos os prêmios de melhor CD de música barroca de 2014 por suas interpretações das Württemberg Sonatas, de C.P.E. Bach e pelo visto vai de novo com este Time Present and Time Past. Um outro amigo resumiu bem no Facebook o que é este CD:
Muito foda. A seleção do repertório é tão brilhante quanto a interpretação. Fazer-nos escutar o concerto de Bach sobre Vivaldi com uma cadenza de Brahms depois de Reich e Górecki foi um achado. Longa vida ao garoto!!!
Sim, o disco alterna obras barrocas e modernas e… a gente acha natural e que têm tudo a ver. Longa vida a Mahan Esfahani e que possamos ver até onde ele vai chegar. É um cara talentosíssimo, comunicativo e que quebra inteiramente a distância entre si e seu público. Acho que está identificado o Gustav Leonhardt de nosso tempo. Abaixo, ele improvisa com extraordinário talento sobre a Fantasia (sem a fuga) Cromática de Bach.
https://youtu.be/N4Ngo47jy2Y
Alessandro Scarlatti / Górecki / C.P.E. Bach / Geminiani / Reich / J.S. Bach:
Time Present And Time Past
Alessandro Scarlatti
01 06:27 VARIATIONS ON “LA FOLLIA”
Henryk Górecki — HARPSICHORD CONCERTO, OP. 40
02 04:25 1. ALLEGRO MOLTO
03 04:07 2. VIVACE
Carl Philipp Emanuel Bach
04 07:14 12 VARIATIONS ON “LA FOLIA D’ESPAGNE” IN D MINOR, WQ. 118, NO. 9 –
Francesco Geminiani
05 11:45 CONCERTO GROSSO IN D MINOR
Steve Reich
06 16:37 PIANO PHASE FOR TWO PIANOS
Johann Sebastian Bach — HARPSICHORD CONCERTO IN D MINOR, BWV 1052
07 07:49 1. ALLEGRO
08 06:38 2. ADAGIO
09 08:25 3. ALLEGRO (CADENZA: JOHANNES BRAHMS)
G. F. Handel
10. 05:15 Handel Chaconne In G Major For Harpsichord. HWV 435
História da Música Sacra Grandes oratorios vol. 11/12: Palestrina, Cain overo Il primo omicidio vol. 13/14: Handel, Messiah vol. 15/16: Mendelssohn, Paulus
O oratório ou oratória é uma espécie de obra musical não somente instrumental, mas fundamentalmente cantada. Seu teor é essencialmente narrativo. Nesta composição interagem cantores que executam solos vocais, vozes em coro e uma orquestra. Este gênero é similar à ópera, tanto no que tange às categorias que dele participam, quanto na utilização de árias e recitais, mas enquanto as criações operísticas são apresentadas principalmente através do viés interpretativo, esta modalidade não exige encenações dramáticas.
Este gênero pode ter como tema a esfera espiritual ou questões mundanas; normalmente, porém, as questões enfocadas no oratório são extraídas das Escrituras Sagradas. Esta expressão provém da Congregação do Oratório, atualmente conhecida como Confederação do Oratório, uma comunidade de apóstolos criada em 1565, na cidade de Roma, por São Filipe Néri. Aí eram produzidos espetáculos de música sacra, no período que transcorreu de 1571 a 1594.
A musicalidade exercitada nesta sociedade deu impulso ao nascimento dos oratórios na forma como são produzidos nos dias atuais. A primeira temática abordada por eles foi a Paixão de Cristo, que ainda hoje é o tema dileto de seus criadores. A obra clássica neste gênero é, sem dúvida, a Paixão segundo São Mateus, de Johann Sebastian Bach.
Em meados do século XVII os oratórios de temática religiosa passaram por um processo de secularização. Prova desta inclinação contextual são as constantes execuções em recintos laicos, mais particularmente nos espaços cortesãos e em teatros públicos. Eles eram elaborados em torno de questões como a Criação, a trajetória de Jesus, a jornada de um herói clássico ou profetas da Bíblia.
A maior parte dos produtores de oratórios eram igualmente famosos por suas criações operísticas. Adotando o hábito desenvolvido na elaboração das óperas, eles passaram a editar libretos também para este gênero musical. Assim que os coros foram reduzidos, eles começaram a investir nas árias e também nas cantoras, que passam a desempenhar o papel masculino nos recitais. Monteverdi é o responsável pelo primeiro oratório de natureza profana, Il Combattimento di Tancredi e Clorinda.
O oratório foi cultivado com maior ênfase na era Barroca; neste período os autores mais célebres são Georg Friedrich Handel, que compôs O Messias e Judas Maccabeus, além de obras seculares; Johann Sebastian Bach, autor das paixões; e Vivaldi, que se consagrou com Juditha Triumphans. Na fase clássica destacou-se Franz Joseph Haydn, com As Estações. No Romantismo esta modalidade teve um papel secundário, mesmo assim não se pode esquecer de A Infância de Cristo, de Hector Berlioz.
Este gênero nasceu na Itália, de diálogos sagrados, que nada mais eram que conformações de passagens bíblicas transcritas para o latim. Eles eram tecidos por meio de uma narração intensa, perpassada por uma carga dramática e pelos poucos diálogos entre os personagens dos temas abordados pelos autores. (http://www.infoescola.com/musica/oratorio/)
Harmonia Mundi: História da Música Sacra Great Oratorios
Cain overo Il primo omicidio, oratorio a 6 voci, 1707 History of the Sacred Music vol 11 + vol 12 Alessandro Scarlatti (Italy, 1660 – 1725) Akademie für Alte Musik Berlin Maestro René Jacobs, 1997
Messiah, 1741 History of the Sacred Music vol. 13 + vol. 14 Georg F. Händel (Germany/England, 1685 – 1759) Les Arts Florissants Maestro William Christie , 1993
Paulus, oratorio op. 36, 1836
History of the Sacred Music vol. 15 + vol. 16
Felix Mendelssohn-Bartholdy (Germany, 1809-1847)
La Chapelle Royale & Collegium Vocale
Orchestre de Champs-Élisées
Maestro Philippe Herreweghe, 1995
Papai Scarlatti era muito superior ao filho Scarlatinho e este CD dá mais tempo ao pai do que ao filho. É justo. Aliás, este também é um disco de italianos competentes, o que nem sempre acontece. Fabio Biondi e seu Europa Galante são sensacionais, dá gosto e felicidade ouvi-los. Alessandro foi um compositor vário e colorido, cheio de imaginação. Domenico enfiou-se em centenas de micro-sonatas repetitivas para a nobreza portuguesa. Ele nunca pensou que o futuro ia colocá-las todas juntas nestes estranhos recitais domiciliares que são os CDs. Já Alessandro sobrevive a tudo. Confiram aí!
Alessandro Scarlatti (1660-1725)
1. Sinfonia avanti la Serenata: I. Largo 1:54
2. Sinfonia avanti la Serenata: II. Presto 0:47
3. Sinfonia avanti la Serenata: III. Minuet 0:48
4. Sinfonia avanti la Serenata: IV. Grave 0:49
5. Sinfonia in C major: I. Presto Margret Köll/ 0:53
6. Sinfonia in C major: II. Adagio Margret Köll/ 1:04
7. Sinfonia in C major: III. Allegrissimo Margret Köll/ 1:32
8. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 1 in F minor: I. Grave 2:04
9. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 1 in F minor: II. Allegro 1:47
10. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 1 in F minor: III. Largo 2:22
11. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 1 in F minor: IV. Allemande [Allegro] 1:31
12. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 2 in C minor: I. Allegro 2:20
13. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 2 in C minor: II. Grave 3:19
14. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 2 in C minor: III. Minueto 2:41
15. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 3 in Fmajor: I. Allegro 0:47
16. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 3 in Fmajor: II. Largo 1:11
17. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 3 in Fmajor: III. Allegro 1:52
18. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 3 in Fmajor: IV. Largo 1:14
19. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 3 in Fmajor: V. Allegro 2:19
20. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 4 in G minor: I. Allegro ma non troppo 1:55
21. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 4 in G minor: II. Grave 2:30
22. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 4 in G minor: III. Vivace 0:45
23. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 5 in D minor: I. Allegro 1:42
24. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 5 in D minor: II. Grave 1:48
25. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 5 in D minor: III. Allegro 0:47
26. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 5 in D minor: IV. Minuet (molto veloce) 0:48
27. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 6 in E major: I. Allegro 1:06
28. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 6 in E major: II. Allegro 1:39
29. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 6 in E major: III. Largo 0:50
30. Sei Concerti in sette parte per due violini e violoncello obligato, con in piu due violini, un tenore e basso continuo, Concerto grosso No. 6 in E major: IV. Affettuoso 3:48
Domenico Scarlatti (1685-1757)
31. Sinfonia a 3 in G major: I. Allegrissimo 0:48
32. Sinfonia a 3 in G major: II. Grave 1:00
33. Sinfonia a 3 in G major: III. Allegrissimo 1:00
34. Sinfonia in A minor: I. Allegrissimo 0:39
35. Sinfonia in A minor: II. Adagio 0:49
36. Sonata [Concerto IX] in A minor for recorder, 2 violins & basso continuo: I. Allegro 1:56
37. Sonata [Concerto IX] in A minor for recorder, 2 violins & basso continuo: II. Largo 1:54
38. Sonata [Concerto IX] in A minor for recorder, 2 violins & basso continuo: III. Fuga 2:05
39. Sonata [Concerto IX] in A minor for recorder, 2 violins & basso continuo: IV. Largo 2:15
40. Sonata [Concerto IX] in A minor for recorder, 2 violins & basso continuo: V. Allegro 2:03
Florian Heyerick é um regente de coro. Mas que regente, meu povo! Neste CD dedicado à família Scarlatti, temos 6 obras sacras saídas da lavra familiar dos Scarlatti. Alessandro — patriarca deste núcleo siciliano — é o craque da família e não faria feio em time nenhum. Domenico jogaria a segunda divisão com certo garbo. Já Francesco seria reserva no time de Domenico. Porém, mais do que as obras, o que encanta neste CD é a performance do coral e dos solistas vocais. É realmente algo maravilhoso o Ex Tempore de Florian Heyerick.
Alessandro, Francesco e Domenico Scarlatti:
Música Polifônica na Família Scarlatti
Domenico Scarlatti
3 Magnificat Anima Mea: I. Magnificat 4:21
4 Magnificat Anima Mea: II. Fecit Potentiam 1:38
5 Magnificat Anima Mea: III. Esurientes Implevit Bonis 4:27
6 Magnificat Anima Mea: IV. Gloria Patri et Filio 3:12
Francesco Scarlatti
8 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): I. Miserere Mei, Deus 3:11
9 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): II. Amplius Lava Me 2:39
10 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): III. Ecce Enim 2:11
11 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): IV. Asperges Me 1:44
12 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): V. Cor Mundum 1:34
13 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): VI. Ne Proicias Me 1:46
14 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): VII. Redde Mihi 1:08
15 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): VIII. Docebo Iniquos 3:09
16 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): IX. Sacrificium Deo 2:23
17 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): X. Benigne Fac Domine 1:21
18 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): XI. Tunc Acceptabis 1:16
19 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): XII. Gloria Patri 2:37
Domenico Scarlatti
20 Missa Quatuor Vocum (di Madrid): Sanctus – Benedictus 2:31
21 Missa Quatuor Vocum (di Madrid): Agnus Dei 2:31
Este é um EXTRAORDINÁRIO CD. Il Primo Omicidio é uma obra-prima de Alessandro Scarlatti e recebe aqui o melhor tratamento possível de René Jacobs e da Akademie für alte Musik Berlin. Escrito antes do Messias e das Paixões de Bach, este oratório é o protótipo, o modelo do oratório barroco. E QUE MODELO! A música contém profundidade genuína de emoção, fazendo total justiça à invenção de Scarlatti. O já veterano e competentíssimo maestro René Jacobs revela compreensão admirável da partitura. Também é um prazer ouvi-lo cantar o papel de deus. Sua voz de contratenor ainda mantém as qualidades de beleza que o fez o paradigma dos contratenores na década de 1970. O restante do elenco é também impecável. Dorothea Roschmann, Bernarda Fink e Graciela Oddone são todas notáveis, sempre trazendo da melhor maneira as belíssimas árias de papai Alessandro. Como Adão, o tenor Richard Croft cumpre admiravelmente seu papel representando outra família extremamente musical (seu irmão é grande barítono Richard Croft). Antonio Abete, como a voz de Lúcifer, é um excelente baixo: escuro, emotivo, poderosos e nada esquecível. Esta gravação vai deixar MALUCOS DE FELICIDADE os amantes de música barroca.
Alessandro Scarlatti – Il Primo Omicidio (2cd)
CD 1
1. Introduzzione All’oratorio : Spiritoso
2. Introduzzione All’oratorio : Adagio
3. Introduzzione All’oratorio : Allegro
4. Parte Prima : Recitativo “Figli Miseri Figli”
5. Parte Prima : Aria “Mi Balena Ancor Sul Ciglio”
6. Parte Prima : Recitativo “Di Serpe Ingannator Perfida Frode”
7. Parte Prima : Aria “Caro Sposo, Prole Amata”
8. Parte Prima : Recitativo “Genitori Adorati”
9. Parte Prima : Aria “Dalla Mandra Un Puro Agnello”
10. Parte Prima : Recitativo “Padre Questa D’abel Forz’e Che Sia”
11. Parte Prima : Aria “Della Terra I Frutti Primi”
12. Parte Prima : Recitativo “Figli Cessin Le Gare”
13. Parte Prima : Aria “Piu Dei Doni Il Cor Devoto”
14. Parte Prima : Recitativo “Disposto O Figli E Il Sacrificio”
15. Parte Prima : Aria “Sommo Dio Nel Mio Peccato”
16. Parte Prima : Recitativo “Miei Genitori, Oh Come Dritta Ascende”
17. Parte Prima : Duetto “Dio Pietoso Ogni Mio Armento”
18. Parte Prima : Recitativo “Figli Balena Il Ciel D’alto Splendore”
19. Parte Prima : Sinfonia
20. Parte Prima : Recitativo “Prima Imagine Mia, Prima Fattura”
21. Parte Prima : Aria “L’olocausto Del Tu Abelle”
22. Parte Prima : Recitativo “Ne’ Tuoi Figli, E Nipoti”
23. Parte Prima : Recitativo “Udiste, Udiste, O Figli”
24. Parte Prima : Aria “Aderite”
25. Parte Prima : Sinfonia
26. Parte Prima : Recitativo “Cain, Che Fai, Che Pensi?”
27. Parte Prima : Aria “Poche Lagrime Dolenti”
28. Parte Mrima : Recitativo “D’ucciderlo Risolvo, Il Core Affretta”
29. Parte Prima : Aria “Mascheratevi O Miei Sdegni”
30. Parte Mrima : Rcitativo “Ecco Il Fratello, Anzi Il Nemico”
31. Parte Prima : Duetto “La Fraterna Amica Pace”
32. Parte Prima : Recitativo “Sempre L’amor Fraterno E Un Ben Sincero”
CD 2
1. Parte Seconda : Recitativo “Ferniam Qui Abelle Il Paso”
2. Parte Seconda : Aria “Perche Mormora Il Ruscello”
3. Parte Seconda : Aria “Ti Risponde Il Ruscelletto”
4. Parte Seconda : Recitativo “Or Se Braman Posar La Fronda, E’l Rio”
5. Parte Seconda : Recitativo “Piu Non So Trattenr L’impeto Interno”
6. Parte Seconda : Andante E Staccato
7. Parte Seconda : Recitativo “Cain Dov’e Il Fratello? Abel Dov’e?”
8. Parte Seconda : Recitativo “Or Di Strage Fraterna Il Suolo Asperso”
9. Parte Seconda : Aria “Come Mostro Spaventevole”
10. Parte Seconda : Recitativo “Signor Se Mi Dai Bando”
11. Parte Seconda : Aria “O Preservami Per Mia Pena”
12. Parte Seconda : Recitativo “Vattene Non Temer, Tu Non Morrai”
13. Parte Seconda : Aria “Vuo Il Castigo, Non Voglio La Morte”
14. Parte Seconda : Recitativo “O Ch’io Mora Vivendo”
15. Parte Seconda : Aria “Bramo Insieme, E Morte, E Vita”
16. Parte Seconda : Grave, E Orrido Rcitativo “Codardo Nell’ardire, E Nel Timore”
17. Parte Seconda : Aria “Nel Poter Il Nume Imita”
18. Parte Seconda : Recitativo “Oh Consigli D’inferno, Onde Soggiace”
19. Parte Seconda : Aria “Miei Genitori, Adio”
20. Parte Seconda : Aria “Mio Sposo Al Cor Mi Sento”
21. Parte Seconda : Aria “Miei Genitori Amati”
22. Parte Seconda : Aria “Non Piangete Il Figlio Ucciso”
23. Parte Seconda : Recitativo “Ferma Del Figlio Mio Voce Gradita”
24. Parte Seconda : Aria “Madre Tenera, Et Amante”
25. Parte Seconda : Recitativo “Sin Che Spoglia Mortale”
26. Parte Seconda : Aria “Padre Misero, E Dolente”
27. Parte Seconda : Recitativo “Spirto Del Figlio Mio, Questi Son Sensi”
28. Parte Seconda : Aria “Piango La Prole Essangue”
29. Parte Seconda : Recitativo “Adam Prole Tu Chiedi, E Prole Avrai”
30. Parte Seconda : Aria “L’innocenza Paccando Perdeste”
31. Parte Seconda : Recitativo “Udii Signor Della Divina Idea”
32. Parte Seconda : Duetto “Contenti”
Bernarda Fink: alto
Graciela Oddone: soprano
Dorothea Röschmann: soprano
Richard Croft: tenor
René Jacobs: countertenor
Antonio Abete: bass
René Jacobs (cond.)
Akademie für alte Musik Berlin
Recording:
September 1997, Christuskirche, Berlin-Oberschöneweide
Há um tempo fiquei surpreso ao ver PQPBach dizer que Alessandro Scarlatti era superior a Domenico, mas ouvindo a toccata do pai e as sonatas do filho, tudo ficou claro. Hoje elas são mais tocadas no cravo ou no piano, mas aparentemente por volta de 1700 os órgãos portáteis estavam na moda na Itália e há quem diga que algumas das sonatas do filho foram pensadas para o órgão ou, mais provavelmente, tanto fazia o instrumento desde que afinado e bem tocado. O órgão portátil deve ter mais ou menos o peso de um piano de cauda: não é algo que dê pra esconder na bolsa.
O prato principal aqui é a Toccata de Alessandro Scarlatti em quatro movimentos, o último deles se encerrando com 29 variações sopra l’aria della Folia.
A Folia é uma dança portuguesa de raízes muito antigas, descrita como dança de fertilidade com homens vestidos de mulheres, pessoas enlouquecidas pelo som e pelo ritmo… não muito diferente do carnaval baiano ou carioca. A partir de 1500 aparecem alusões frequentes (Gil Vicente, Cervantes…) e vários exemplos musicais em cancioneiros. No século XVII tornou-se moda em toda a Europa, com o nome incorreto ‘Follies d’Espagne’.
A fronteira entre popular e clássico nunca foi clara e Lully (1672), Corelli (Sonata para violino La Follia, 1700), Vivaldi (Trio Sonata RV63 La Follia, 1705), J.S. Bach (ária ‘Unser trefflicher‘ da cantata dos Camponeses, BWV 212, 1742) e Liszt (Rapsódia Espanhola, de 1863) usaram o tema da Folia em suas obras. Alessandro Scarlatti (em 1723) e C.P.E. Bach (1778) compuseram variações sobre o tema para instrumentos de teclado.
O disco apresenta as seguintes informações:
O instrumento utilizado aqui é um órgão portátil napolitano da segunda metade do século XVIII. Tem, portanto, todas as características da escola napolitana, com um som doce e cristalino que confere clareza e textura polifônica às notas. O autor do instrumento permanece anônimo, mas a qualidade do tom está relacionada com a de Dominicus Antonius Rossi, construtor de órgãos da Capela Real de Nápoles de 1761 a 1789.
Alessandro Scarlatti (1660-1725):
Toccata del Primo Tono:
1) Preludio
2) Adagio-Presto
3) Fuga
4) Adagio cantabile e appoggiato-Follia
Domenico Scarlatti (1685-1757):
5) Sonata in Sol Maggiore, K 328
6) Sonata (Fuga) in Re Minore, K 41
Giovanni Maria Trabaci (1575-1647):
7) Consonanze Stravaganti
8) Ricercare Primo Tono con Tre Fughe
9) Ricercare Sesto Tono con Tre Fughe et suoi Riversi
10) Canzona Franzesa Seconda
Wijnand Van De Pol – órgão portátil (século XVIII)
Mais um bom disco da Harmonia Mundi. Este traz madrigais de dois compostores do barroco italiano, Alessandro Scarlatti e Antonio Lotti. O disco é de 1986 e o tive em vinil. A música de Alessandro Scarlatti é bem conhecida. Ele foi um grande compositor de óperas e suas cantatas de câmara são notáveis. É surpreendente que o principal compositor dos palcos napolitanos também tenha escrito madrigais, em sua época um gênero já antiquado e em franco declínio. Mas eles certamente merecem uma audição, assim como o companheiro Lotti.
A. Scarlatti (1660-1725) & A. Lotti (1667-1740): Madrigali
Antonio Lotti (c.1666-1740)
1 Moralita d’una perla
Alessandro Scarlatti (1660-1725)
2 Sdegno la fiamma estinse
3 O selce, o tigre, o ninfa
4 Internerite voi, lacrime mie
5 Arsi un tempo
Antonio Lotti
6 Inganni dell’unmanita
7 Lamento di tre amanti
Alessandro Scarlatti
8 O morte
9 Mori, mi dici
10 Cor mio, deh non languire
Antonio Lotti
11 La vita caduca
Consort of Musicke [Emma Kirkby (soprano), Evelyn Tubb (soprano), Tessa Bonner (soprano), Deborah Roberts (soprano), Andrew King (tenor), Rufus Muller (tenor), Alan Ewing (bass), Frances Kelly (harp), Christopher Wilson (Chittarrone), Alan Wilson (harpsichord), Anthony Rooley (lute)]