Johann Adolph Hasse (1699 – 1783): Hasse at Home (Veronika Kralova, Le Musiche Nove)

Nascido 30 anos antes de Antonio Soler e morto no mesmo ano, Hasse é outro que desafia as classifcações generalizantes. Tendo vivido nas proximidades de Hamburgo até os 22 anos – seu avô fora um organista-compositor pupilo do holandês Sweelinck – ele foi em seguida para o sul da Itália, Nápoles, onde foi aluno de Porpora e Alessandro Scarlatti, famosos por suas óperas e cantatas. Hasse passaria os anos seguintes entre Dresden, Viena e Veneza, tendo também estado em Londres e Paris, onde foi celebrado por Voltaire e Rousseau. Ao que tudo indica, foi um grande viajador, o que só era possível para pessoas de saúde forte – pensemos por exemplo no Beethoven tardio, famoso em vários cantos, negociando por cartas com editores ingleses mas radicado em Viena onde tratava suas doenças do fígado e gastrointestinais provavelmente causadas por hepatite.

Voltando a Hasse: foi talvez o maior compositor de óperas da geração anterior à de Mozart, mas também compôs muitas cantatas no estilo italiano. Hoje quando falamos em cantata – por exemplo: “vai ter uma cantata de Natal” – pensamos em obras corais cantadas para um grande público, mas esse gênero das cantatas italianas era majoritariamente composto por obras para uma só voz ou duas, sendo executadas dentro da casa de amantes da música para alguns seletos amigos e parentes. Assim foram as cantatas italianas de Händel, bem como, antes dele, as do já citado A. Scarlatti e as de Barbara Strozzi. A cantora ou cantor era acompanhada(o) em alguns casos só por basso continuo (realizado neste disco por cravo e instrumentos de cordas). E em certas cantatas há a presença de instrumentos obbligato como flauta ou dois violinos nestas de Hasse, com algumas melodias marcantes para o instrumento solista, como é o caso ainda da viola da gamba nesta cantata de Rameau. À cantata, se opunham duas formas de música vocal mais públicas e grandiosas: nos teatros a ópera e nas igrejas as missas e similares. Hasse foi reconhecido pelos seus contemporâneos como um mestre nesses três tipos de música vocal: no caso da litúrgica, o alemão do norte compôs missas, dois réquiem, vários salve regina, ou seja, sempre ou quase sempre em latim e para a igreja católica. Suas óperas, estreadas em Nápoles, Viena, Dresden, Veneza, Milão, eram sempre em italiano. E suas cantatas também em italiano: ou seja, a importância da língua alemã para Hasse parecia ser nenhuma, era um cosmopolita e sua herança musical não seria reinvindicada por nenhum dos nacionalistas dos séculos XIX e XX.

Viola Mattioni, a jovem violoncelista desse grupo de jovens italianas/os

Não é só a palavra cantata que mudou ligeiramente de significado corrente: entre as cantatas para soprano, este disco apresenta uma sinfonia a violoncello solo, obra em seis movimentos para violoncelo não estritamente sozinho, mas acompanhado por basso continuo. Temos também uma sonata para flauta e baixo contínuo em quatro movimentos e uma sonata para cravo em três, no esquema rápido-lento-rápido (ou seja, mais ou menos o que esperamos de uma sonata ainda hoje). Por seu faro para melodias que ele abandona poucos compassos depois, Hasse se assemelha a D. Scarlatti e Schubert. Não temos os longos desenvolvimentos temáticos típicos de Bach ou Beethoven. Na tal “sinfonia” para violoncelo, por exemplo, nenhum movimento ultrapassa um minuto e meio, mas cada um tem pérolas de expressividade melódica no instrumento que, dizem, mais lembra a voz humana.

Johann Adolph Hasse (1699 – 1783): Hasse at Home (cantatas and sonatas)
Dite almeno (Aria)
Clori mio ben (Cantata)
Flute Sonata in D Minor, Op. 1/11
Perché leggiadra Irene (Cantata)
Cello Sonata [Sinfonia] in C Major
Della noiosa estate (Aria)
Harpsichord Sonata in G Major
Pallido il volto (Cantata)

Veronika Kralova, soprano
Le Musiche Nove:
Federica Bianchi (harpsichord), Viola Mattioni (violoncello), Elisa Cozzini (flute), etc.

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Giovanni Adolfo Hasse, é o nome que consta no desenho de Hasse por Lorenzo Zucchi (circa 1755)

Pleyel

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