F. J. Haydn (1732-1809): Sinfonias Nº 26, 52, 53 e de 82 a 92 (5 CDs – Sigiswald Kuijken)

IM-PER-DÍ-VEL !!!!

A série de livros “Manual do Blefador” (Ediouro) dá dicas a pessoas que não querem passar vergonha entre entendidos. Você chega num grupo intelectualizado e começa a externar generalidades brilhantes sobre vários assuntos. Mesmo sem saber do que se trata, sem ter lido, ouvido ou tido algum contato com o tema, você se torna subitamente um especialista. Há vários desses livrinhos: sobre música, vinhos, literatura, arte moderna, filosofia, teatro, etc. Eles são ótimos, engraçadíssimos, como demonstra este verbete sobre Haydn, retirado de “Manuel do Blefador: Música”:

Haydn.

O pai da sinfonia. Ao contrário do normal, ninguém soube quem foi sua mãe. Haydn decidiu que as sinfonias deviam ter princípio, meio e fim, além de primeiros movimentos que soma como aberturas nas sonatas, missas e trios. Beethoven, em seu estilo grosseiro, desconsiderou e estragou esse belo modelo convencional.

O sentimento geral é de que Haydn podia ser tão bom quanto Mozart se não tivesse sido tão incuravelmente feliz durante a vida. Esse espírito de contentamento insinuou-se por toda sua música e diluiu-se. As últimas sinfonias foram compostas em Londres para ganhar dinheiro vivo, e a sombra do contrato que pairava sobre ele acrescentou-lhe aquela pitadinha de desgraça que tanto lhe faltara antes. Talvez somente um homem verdadeiramente sem coração poderia ter composto algo tão assombrosamente feliz quanto o final da Sinfonia Nº 88.

Existem muitas e muitas sinfonias que praticamente não são tocadas e que você pode considerar suas favoritas, mas o excelente comentário sobre Haydn é afirmar que o melhor de suas músicas foram as missas — e não haverá necessidade de falar sobre isso.

Peter Gammond — Manual do Blefador: Música

Sigiswald Kuijken faz uma careta especial para o povo pequepiano | Imagem roubada do Facebook do grande violinista e maestro brasileiro Luis Otavio Santos
Sigiswald Kuijken faz uma careta especial para o povo pequepiano | Imagem roubada do Facebook do grande violinista e maestro brasileiro Luis Otavio Santos

Elegância, equilíbrio, senso de estilo, alegria, linda sonoridade, todos os elogios valem para esta coleção de sinfonias de Haydn. Quem aprecia este imenso compositor do classicismo ficará muito feliz em ouvir Sigiswald Kuijken dirigindo dois esplêndidos grupos: a Orchestra of the Age of Enlightenment e, pois creio que seja, a sua La Petite Bande.

Haydn, ao lado de Mozart, personifica o classicismo vienense. Para quem não sabe, compôs mais de 100 delas, além de mais de 60 quartetos de cordas e dezenas de criações em diversos gêneros instrumentais e vocais, sacros e profanos. Ele é chamado o “Pai da Sinfonia”, mas pode também ser chamado de “Pai do Quarteto de Cordas”, gênero inventado por ele. Mozart chamava-o de “Papai Haydn”.

O musicólogo Charles Rosen escreveu:

Não há uma passagem, mesmo a mais séria, dessas grandes obras que não seja marcada pelo humor de Haydn, e seu humor cresce de forma tão poderosa e tão eficiente que se torna uma espécie de paixão, uma força ao mesmo tempo onívora e criativa.

Franz Josef Haydn (1732-1809)
Franz Josef Haydn (1732-1809)

Haydn: Sinfonias Nº 26, 52, 53 e de 82 a 92

CD 1
Symphony No. 26 in D minor (‘Lamentatione’), H. 1/26
1. I. Allegro con spirito
2. II. Adagio
3. III. Menuet & trio
Symphony No. 52 in C minor, H. 1/52
4. I. Allegro con brio
5. II. Andante
6. III. Menuetto (Allegro) & trio
7. IV. Finale: Presto
Symphony No. 53 in D major (‘L’Impériale’/’Festino’), H. 1/53
8. I. Largo maestoso – Vivace
9. II. Andante
10. III. Menuetto & trio
11. IV. Finale: Capriccio – Moderato

CD 2
Symphony No. 82 in C major (‘The Bear’), H. 1/82
1. I. Vivace assai
2. II. Allegretto
3. III. Menuet – Trio
4. IV. Finale: Vivace
Symphony No. 83 in G minor (‘The Hen’), H. 1/83
5. I. Allegro spiritoso
6. II. Andante
7. III. Menuet: Allegretto – Trio
8. IV. Finale: Vivace
Symphony No. 84 in E flat major (‘In Nomine Domini’), H. 1/84
9. I. Largo – Allegro
10. II. Andante
11. III. Menuet: Allegretto – Trio
12. IV. Finale: Vivace

CD 3
Symphony No. 85 in B flat major (‘La Reine’), H. 1/85
1. I. Adagio – Vivace
2. II. Romance: Allegretto
3. III. Menuetto: Allegretto – Trio
4. IV. Finale: Presto
Symphony No. 86 in D major, H. 1/86
5. I. Adagio – Allegro spiritoso
6. II. Capriccio: Largo
7. III. Menuet: Allegretto – Trio
8. IV. Finale: Allegro con spirito
Symphony No. 87 in A major, H. 1/87
9. I. Vivace
10. II. Adagio
11. III. Menuet – Trio
12. IV. Finale: Vivace

CD 4
Symphony No. 88 in G major (‘Letter V’), H. 1/88
1. I. Adagio – Allegro
2. II. Largo
3. III. Allegretto
4. IV. Allegro con spirito
Symphony No. 89 in F major (‘Letter W’), H. 1/89
5. I. Vivace
6. II. Andante con moto
7. III. Menuet
8. IV. Vivace assai
Symphony No. 92 in G major (‘Oxford’/’Letter Q’), H. 1/92
9. I. Adagio – Allegro spiritoso
10. II. Adagio
11. III. Allegretto
12. IV. Presto

CD 5
Symphony No. 90 in C major (‘Letter R’), H. 1/90
1. I. Adagio – Allegro assai
2. II. Andante
3. III. Menuet
4. IV. Allegro assai
Symphony No. 91 in E flat major (‘Letter T’), H. 1/91
5. I. Largo – Allegro assai
6. II. Andante
7. III. Menuet
8. IV. Vivace

Orchestra of the Age of Enlightenment
La Petite Bande
Sigiswald Kuijken

Total playing time: 348:38
Recorded 1988-91 | Released 2002

Recording:
1988-91, Haarlem, The Netherlands | London

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Sigiswald Kuijken: um esplêndido trabalho em Haydn
Sigiswald Kuijken: um esplêndido trabalho em Haydn

PQP

22 comments / Add your comment below

  1. Obrigado, Rameau e FDP.

    Haydn é fundamental, não? Como se não bastasse, ainda foi professor de Mozart e Beethoven e inventou o quarteto de cordas.

    Um gênio feliz.

  2. Ma-ra-vi-lha!

    PQP se superando a cada dia 🙂 Haydn é um compositor inacreditável, e essas sinfonias são obras-primas. o/

  3. Haydn era um baita, as gravções são ótimas, o livro é uma grande sugestão de leitura, mas o vídeo de Bernstein regendo um bis (que ninguém pediu) só com feições de profundo prazer é de fazer chorar até estátua de ditador. É uma das melhores postagens que já li nesse blog incrível!

  4. A eternidade captada e sentida dentro do tempo !

    Transcendência de sentidos, sensações e espaços !

    Sinto-me mais humano depois de ouvir algo, que eu nem conseguiria descrever… isso é música ?

    Parabéns pelo sáite, a disposição e generosidade em servir a muitos.

  5. Olá, sou eu, o cara do link da música grega e turca!

    Agora senti a diferença da velocidade e da facilidade do Megaupload! Baixar esta overdose de Haydn foi assim:
    Pa!-Pum!-Pa!-Pum!-Pa!-Pum!-Pa!-Pum!
    Que bela semana: começamos com Chopin, o bom e velho Chopin, e agora o felicíssimo e pródigo Haydn, tão narigudo quanto o Gérard Depardieu!

    Sem querer ser importuno, caro P.Q.P. Bach, e a obra completa de Bach?

  6. Esse manual é desnecessário no Brasil. Em que festa ou ocasião você vai falar de Haydn? Precisamos justamente o oposto. Algo que nos ponha por dentro da cultura da mediocridade. Mas isso seria impossível, já que essa cultura é constantemente reciclada. Dentro de um mês o manual estaria em desuso.

  7. é engraçado dizer que haydn só não foi “melhor” porque era muito feliz… sempre fico rindo disso. mas o mais curioso ainda é que é uma explicação boa demais. um individuo bastante satisfeito com sua vida de empregado e com nenhuma disposição pra lutar pela independência como pessoa. rs. no geral suas obras são perfeitamente incorporadas no espírito das cortes européias. a gente se sente num jantar de um duque x. mas eu consigo ouvir determinadas peças de haydn que são mais profundas. mas também é uma sensação diferente porque logo me vem o pensamento de que é uma profundidade de gênio exclusivamente, não de necessidade pessoal. o pqp disse muito bem que era um “gênio feliz”. quando penso em Haydn sempre vejo uma criança espontânea e muito educada. mas também uma criança com grande sensibilidade pra agradar. haydn é o exemplo quase solitário da união improvável de bom cidadão e gênio. muito boa postagem, caro pqp.

  8. “Haydn é o exemplo quase solitário da união improvável de bom cidadão e gênio”; gostaria de ter sido eu o autor dessa frase. Feliz você, enoque portes… Mas não nos esqueçamos de escutar com a tenção a Sinf. 52, e a idéia de um compositor em que a elegância seria a marca quase exclusiva desvanece. Não sei se essa não é, junto com a 44 e a 45, a melhor sinfonia do mestre…

  9. Ops…olha ai meu nome…
    Não se esqueçam que ele e o criador de inumeras melodias plasticas que se gravam na memoria, inclusive do solene Hino nacional da Austria.

    amplexos!

    1. Manuel, acho que se referia ao hino da Alemanha, não é? Aquele que dizia “Alemanha, Alemanha, acima de tudo, somos os mais sensacionais do Universo, pererê-pererê…”, que foi composto em cima do Quarteto do Imperador (No. 62) de Haydn. O da Áustria foi feito em cima de uma cantata de Mozart, o austríaco mais gente fina da história.
      Abraços.

  10. Amauri – voce tem razão. Me confundi. O alemão é aquele que toca na Formula-1 quando um alemão ganha. Por falar nisso aquele Vettel não ganha mais nada! abraços

    manuel

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