Para manter o clima escandinavo, minha próxima contribuição é de uma gravação estupenda do “Peer Gynt”, de Grieg, nas competentes mãos de Esa-Pekka Sallonen, regendo a Orquestra Filarmônica de Oslo, com seu respectivo coral e com a maravilhosa voz de Barbara Hendricks. Essa gravação se destaca exatamente pelas partes cantadas, que poucos conhecem. Geralmente o que é gravado são as duas suítes, se deixando de lado estas preciosidades vocais. Comprei este CD há muitos anos atrás, e nunca mais tive oportunidade de encontrá-lo em outro local. É uma gravação fora dos catálogos da Sony. Em minha opinião, as partes que se destacam, escolha difícil diante da beleza desta obra, são as conhecidas “Canção de Solveig”, interpretada por Hendricks, e o coral na conhecida passagem “In the Hall of Mountain King”. De qualquer forma, é uma gravação maravilhosa. Espero que seja devidamente apreciada, pois é um registro um tanto quanto raro.
Edvard Grieg (1843-1907) : Excertos de Peer Gynt (Hendricks, Salonen, Oslo Philh.)
1 Act one – Prelude : In the wedding garden
2 Act one – The bridal procession passes
3 Act one – Halling
4 Act one – Springar
5 Act two – Prelude : The abduction of the bride – Ingrid’s lament
6 Act two – In the hall of the mountain King
7 Act two – Dance of the mountain King’s daughter
8 Act three – Prelude : Deep in the coniferous forest
9 Act three – Solveig’s song
10 Act three – Ase’s death
11 Act four – Prelude : Morning mood
12 Act four – Arabian dance
13 Act four – Anitra’s dance
14 Act four – Solveig’s song
15 Act five – Prelude : Peer Gynt’s journey home
16 Act five – Solveig’s song in the hut
17 Act five – Whitsun hymn
18 Act five – Solveig’s lullaby
Barbara Hendricks
Oslo Philharmonic Chorus
Oslo Philharmonic Orchestra
Esa-Pekka Salonen
Data de gravação: mai 1989
Muita gente já ouviu o Concerto de Grieg sem saber: o seu começo grandioso foi muito usado (ou imitado?) em trilhas sonoras e semelhantes. Grieg esboçou um outro concerto para piano mas nunca conseguiu terminá-lo. Se ele não chega a ser um one-hit-wonder, pois tem peças orquestrais que fazem parte do repertório usual até hoje, é verdade que para muita gente, inclusive este que aqui escreve, seu nome é quase sinônimo desse concerto que dá início a um romantismo exagerado para piano e orquestra que seria retomado por gente como Rachmaninoff e Addinsel.
Grieg, além de compositor, era pianista de concerto. Entre suas obras para piano solo, destacam-se as Peças Líricas, publicadas em vários grupos separados. Além de meia dúzia de gravações integrais, algumas peças avulsas dessa coleção eram parte dos recitais de grandes nomes como Emil Gilels e Nelson Freire (aqui em uma de suas últimas apresentações no Brasil). Há também, para piano, uma bela Balada op. 24, um pouco mais longa que as Peças Líricas e estruturada na forma de tema e variações. Mas não tem jeito: seu carro-chefe pianístico é o concerto em lá menor, que trago aqui com um grande pianista, falecido há poucos meses, e que merece uma homenagem colada com essa do aniversário do compositor norueguês.
Nascido Max Jakob Pressler em Magdeburg (Alemanha) em 16/12/1923, o pianista era filho de um casal judeu que teve sua loja de roupas destruída na Kristallnacht em 1938. Fugiram dos nazistas em 1939 e Max mudou seu primeiro nome para Menahem, sem dúvida para fugir da sonoridade alemã. Seus avós e tios morreram em campos de concentração.
O primeiro sucesso de Pressler foi ao vencer um Concurso Debussy de piano em San Francisco em 1946. No ano seguinte, tocaria o Concerto de Schumann no Carnegie Hall com Eugene Ormandy. Em 1955, participou de um festival com o violinista Daniel Guilet e o violoncelista Bernard Greenhouse. Chamados para gravar trios de Mozart, eles adotaram o nome Beaux Arts Trio: com um início modesto, o grupo foi ganhando o respeito do público e foi extremamente longevo, durando até 2008 (Pressler foi o único membro que não mudou).
O jovem Pressler com o maestro E. Ormandy em 1947
Terminado esse período de mais de 50 anos com o trio, Pressler não se aposentou: gravou Debussy e Ravel pela DG (e recebeu o prestigioso selo de IMPERDÍVEL de PQP Bach), se apresentou em grandes salas sozinho e ainda acompanhou o cantor Mathias Goerne. Vejamos a crítica de um recital de Lieder de Schumann por Pressler/Goerne em 2015 no Wigmore Hall, Londres:
Não é muito comum ver subir no palco um artista de 91 anos. (…) Menahem Pressler não é um acompanhador qualquer, evidentemente. É só ele colocar as mãos sobre o teclado que somos inundados pela emoção, a emoção que sai sai de seus dedos para instantaneamente invadir toda a sala. Seu toque é entrelaçado por uma multidão de intenções musicais, variadas, sutis, revelando uma inventividade e uma inspiração sem fim. Sentimos a malícia em Pressler, uma vontade mais forte que tudo de tocar, mas sobretudo uma sensibilidade enorme, perceptível em tudo, seu fraseado, sua concentração, seu olhar muito vivo e rápido.
Nas gravações do CD de hoje, feitas em Viena quando Pressler era relativamente jovem (cerca de 40 anos), ele mostra algumas dessas qualidades que iriam maturar com as décadas, especialmente um fraseado com intenções sutis, sem clamar por atenção mas povoando a música de Grieg de discretas invenções aqui e ali, o que ele também fez em suas dezenas de gravações de música de câmara. E o concerto de Mendelssohn? Prefiro nem comentar muito, mas acho sem graça, sem as belas melodias das suas Canções sem palavras nem a orquestração mais interessante da Sinfonia Italiana ou Sonho de uma noite de verão.
Edvard Grieg: Piano Concerto in A Minor (1868)
I. Allegro molto moderato
II. Adagio
III. Allegro moderato molto e marcato – Quasi presto – Andante maestoso
Felix Mendelssohn Bartholdy: Piano Concerto in G Minor (1831)
I. Molto Allegro Con Fuoco
II. Andante
III. Presto – Molto Allegro Vivace
Menahem Pressler, piano
Wiener Festspielorchester – Jean-Marie Auberson, conductor (Grieg)
Orchestra Of The Vienna State Opera – Hans Swarowsky, conductor (Mendelssohn)
Original LP releases: 1964 (Mendelssohn), 1965 (Grieg)
Um bom disco. Paavo Järvi e a Orquestra Sinfônica Nacional da Estônia dão seguimento a suas gravações da obra de Grieg após seu muito elogiado Peer Gynt. Agora eles chegam com a música mais essencialmente norueguesa de Grieg: as ricas e coloridas Danças Sinfônicas de 1898 e as anteriores Danças Norueguesas, originalmente escritas para dueto de piano e orquestradas por Hans Sitt. Neste disco temos também a merecidamente famosa Suíte Holberg para orquestra de cordas, escrita para comemorar o bicentenário do dramaturgo Ludvig Holberg e que está imbuída do espírito setecentista de Rameau e Couperin. O enorme programa inclui ainda as duas delicadas Melodias Elegíacas que foram tocadas no funeral de Grieg.
Symphonic Dances Op.64
01. I. Allegro moderato e marcato
02. II. Allegretto grazioso
03. III. Allegro giocoso
04. IV. Andante – Allegro molto
Two elegic Melodies Op.34
05. I. The Wounded Heart : Allegretto espressivo
Norwegian Dances Op.35
06. I. Allegro Marcato
07. II. Allegro Tranquillo E Grazioso
08. III. Allegro Moderato Alla Marcia
09. IV. Allegro Molto
Two elegic Melodies Op.34
10. II. Last Spring : Andante
Holberg Suite Op.40
11. I. Preludium: Allegro vivace
12. II. Sarabanda: Andante
13. III. Gavota: Allegretto-Musette : Un poco mosso-Gavotte
14. IV. Aria : Andante religioso
15. V. Rigaudon : Allegro con brio
Grieg por noruegueses! Claro que as revelações são muitas e boas. Há a excelente Orquestra Sinfónica de Gotemburgo, sob Neeme Järvi na DG, que é e continua a ser excelente. Ainda assim, aqui temos variedade na interpretação. Ole Kristian Ruud, ele próprio um norueguês, regendo a Orquestra Filarmônica de Bergen, gravando no Grieg Hall, em Bergen, Noruega!! É isso! Este é um dos registros mais bonitos que ouvi da música para cordas de Grieg, da qual gosto muito. Aqui temos a Suíte Holberg, talvez a peça orquestral mais conhecida de Grieg. Originalmente escrita para piano (o compositor era pianista), sua versão para orquestra de cordas é mais conhecida. Complementando, há as Duas Melodias Elegíacas, Op. 34, as Duas Melodias Op. 53, as Duas Melodias Nórdicas Op. 63, e as Duas Peças Líricas que ele orquestrou (das cinco compostas) Op. 68. Tudo em dupla. Este é um excelente programa de Grieg, tão bem executado quanto se poderia desejar e a introdução perfeita à música deste compositor, bem como uma importante adição a qualquer coleção de música de Grieg.
Edvard Grieg (1843-1907): Holberg Suite / Music For Strings
Holberg Suite, Op. 40 (19:52)
1 I. Prelude 2:43
2 II. Sarabande 4:00
3 III. Gavotte 3:48
4 IV. Air 5:35
5 V. Rigaudon 3:52
Two Elegiac Melodies, Op. 34 (8:58)
6 I. The Wounded Heart 3:14
7 II. Last Spring 5:36
Two Melodies, Op. 53 (9:09)
8 I. Norwegian 4:26
9 II. The First Meeting 4:37
Two Nordic Melodies, Op. 63 (12:00)
10 I. Popular Song 7:24
11 II. Cow Keepers’ Tune And Country Dance 4:28
Two Lyric Pieces, Op. 68 (7:47)
12 I. Evening In The Mountains 3:55
13 II. At The Cradle 3:47
Em homenagem ao grande Nelson Freire (1944 – 2021), vamos trazer hoje gravações que vocês não encontram nos serviços de streaming nem na livraria digital com nome de floresta. Quem sabe faz ao vivo e no caso de Nelson o que ele sabia muito bem, entre outras coisas, era a arte dos recitais variados, com uma associação livre de ideias em que um impromptu (improviso) de Chopin é seguido de algumas mazurkas ou dois estudos do polonês, depois vem um Debussy, um Villa-Lobos, um Albéniz…
Há pianistas que fazem, às vezes ou sempre, recitais com temas bem definidos: três ou quatro grandes sonatas de Beethoven, como fazem Pollini e Levit. Ou só prelúdios e fugas de Bach do início ao fim, como fazem Hewitt e Schiff. Richter fez recitais especializados em Bach (1969), em Beethoven (1960, 1991) em Scriabin (1972), em Prokofiev (1960), em Chopin (1976) e alguns com o longo ciclo de quadros de Mussorgsky. Não é entre esses recitais cerebrais, estimulantes como um longo romance russo, que se enquadravam os de Nelson. Seus grandes ídolos, que ele sempre mencionava com saudades, eram Novaes e Horowitz e outros dessa turma, mestres das miniaturas pianísticas e dos programas que contrastavam Mozart com Scriabin, Chopin com Debussy, Scarlatti com Schumann. Por isso a Folha de SP acertou na mosca ao publicar, recentemente, uma manchete sensível e respeitosa: “Nelson Freire foi o elo entre a era de ouro do piano e o terceiro milênio”.
Nem sempre ele estava tocando obras tão curtinhas: a longa Fantasia de Schumann esteve no seu repertório desde jovem até os últimos anos e, como vocês sabem, sua gravação dos Concertos de Brahms com Chailly/Leipzig foi elogiada por várias revistas e indicada para o Grammy. Mas aqui em casa a medalha de ouro vai para o cuidado de Nelson ao preparar e executar essas charmosas peças curtas.
Em 2014, Nelson dizia que estava sempre mudando os programas dos recitais. “Sempre evito me comprometer com as coisas com um ano de antecedência. Às vezes eu mudo tanto os programas que, quando chego, tenho a impressão de que todo o mundo vai ficar com raiva. Gosto de decidir na hora”. E pra decidir na hora, nada melhor do que o(s) bis(es). Nos últimos vinte anos, Nelson tinha uma peça sempre à manga para o bis: o arranjo de Sgambati (1841 – 1914) para uma melodia da ópera Orfeu (1762), de Gluck. Permitindo ao pianista mostrar a delicadeza de seus timbres suaves, esse era o bis padrão da maioria das noites. Mas a depender do humor, outras obras apareciam de surpresa, muitas vezes de compositores pouco conhecidos, como o catalão Mompou (1893 – 1987) ou o polonês Paderewski (1860 – 1941). Também podiam aparecer pesos-pesados como Debussy ou Bach, na transcrição da pianista Myra Hess (1890 – 1965) da cantata “Jesus, alegria dos homens”.
Em um prefácio de sua edição (1898) de transcrições dos Prelúdios Corais de Bach, obras originalmente compostas para órgão, o pianista italiano F. Busoni escreveu que seus arranjos eram em “estilo música de câmara”. É bom lembrar que o órgão para o qual Bach escrevia tinha pedais, de forma que as composições têm três vozes: as duas mãos e os pés. Daí as Triosonatas para órgão, por exemplo. Isso tudo pra dizer que o interessante ao ouvir essas transcrições de Bach-Busoni e Bach-Hess ao vivo é acompanhar os malabarismos de Nelson pra tocar três vozes com duas mãos. É um pequeno desafio tocar todas as notas e um grande desafio fazer soar as três vozes de forma separada e musical.
Em seus últimos anos, Nelson Freire foi aclamado em Londres, em São Petersburgo, no Brasil, é claro, mas talvez o lugar onde mais tenha tocado em sua maturidade tenha sido Paris, onde ele passava parte do ano em uma casa de frente para a de sua amiga Martha Argerich. Ao contrário do Presidente do Brasil, o da França soltou uma nota homenageando, poucos dias após a morte, “o excepcional intérprete de Debussy que tantas vezes honrou o nosso país com a sua presença”.
Nelson Freire – Encores 2 – Live Schumann: Arabeske in C major, op. 18 Chopin: Impromptu no. 2 in F-sharp major, op. 36
Mazurka op. 17 No.4 in A minor
Mazurka op. 33 No.4 in B minor
Mazurka op. 41 No.1 in C# minor
Étude op. 10 no. 3 “Tristesse”
Étude op. 10 no. 12 “Revolutionary” Bach-Busoni: Ich ruf zu Dir, Herr Jesu Christ, BWV 639
Komm, Gott Schöpfer, heiliger Geist, BWV 667 Bach-Hess: Jesu, Joy of Man’s Desiring, BWV 147 Debussy: La plus que lente Prokofiev: 10 Visions Fugitives Debussy: Poissons d’or (bis) Mompou: Jeunes filles au jardin (bis) Albéniz-Godowsky: Tango (bis) Grieg: “Wedding Day at Troldhaugen” from the Lyric Pieces (bis) Paderewski: Nocturne in B-flat major, op. 16 (bis) Gluck-Sgambati: Mélodie d’Orphée (bis)
Nelson Freire – piano
Live recordings from: Maryland 1975, Amsterdam 2005, La Chaux-de-Fonds 2012, Paris 2018 & 2019, Brasilia 2019, Bucharest 2019.
“Cada vez que toco Chopin, mais eu gosto dele”, dizia Nelson
E ainda temos, de brinde, Freire tocando o 3º Concerto de Bartók com o luxuoso acompanhamento da orquestra alemã da NDR de Hannover regida por Ferdinand Leitner, maestro que fez sua fama regendo óperas de Wagner e Carl Orff. Leitner também gravou, nos anos 1960, discos históricos dos concertos de Beethoven com os veteranos A. Foldes e W. Kempff. Era um maestro daqueles que sabem criar o pano de fundo para os solistas – cantores ou instrumentistas – brilharem. Os momentos de “música noturna” do Adagio Religioso soam especialmente interessantes. No diálogo entre os músicos alemães e o então jovem brasileiro, o adjetivo religioso ganha aqui um caráter meditativo que nunca chega a uma solenidade exagerada como em outras gravações.
Béla Bartók (1881-1945): Piano concerto No. 3 in E major
I. Allegretto
II. Adagio religioso – poco più mosso – tempo I
III. Allegro vivace
Nelson Freire – piano
Ferdinand Leitner – conductor
Rundfunkorchester Hannover des NDR (NDR Radiophilharmonie)
22/10/1971, Funkhaus des NDR, Hannover
Este CD vale pela incrível, belíssima Sonata de Grieg e pelos gatinhos — expressão para iniciados — do mesmo compositor.
Bem, a palavra italiana malinconia era muito usada no século XIX como título de peças melancólicas. No entanto, a ideia de malinconia cobria uma miríade de noções românticas, de modo que simplesmente traduzi-la como “melancolia” não lhe faz justiça. Inclui também muitos outros estados emocionais – todos os tipos de desânimo, tristeza, desespero, depressão e até mesmo frustração. Cada idioma desenvolveu seus próprios termos e as interpretações da própria palavra também diferem de região para região. A malinconia na ensolarada Itália ou na Espanha é bem diferente da melancolia na Noruega e na Finlândia, onde os invernos são rigorosos e longos. A variante nórdica é expressa aqui em vários exemplos musicais; palavras por si só são inadequadas.
O vencedor do concurso Tchaikovsky e aluno de Rostropovich, David Geringas, deixa uma impressão vigorosa e direta na Sonata de Grieg, próxima à franqueza de seu ex-professor em uma parceria ao vivo de 1964, em Aldeburgh, com Sviatoslav Richter ao piano e que está disponível apenas no YouTube. Tal abordagem recoloca o trabalho na tradição europeia dominante (ou seja, alemã), mas dá menos atenção às cores suaves e ao humor que certamente são aqui a base da paleta de Grieg, mesmo em momentos mais angustiados. O resultado é tornar o trabalho menos forte e individual, enfatizando a forma em detrimento do conteúdo. Mas nada destrói esta música de Grieg.
Geringas está mais perto do idioma “correto” nas duas peças de Sibelius. Ele se deleita com suas dificuldades mais do que seu pianista. Nos Griegs mais curtos, os dois apresentam imagens mais completas da música do que na Sonata. A transcrição de Allegretto da Sonata para violino Op 45 vai especialmente bem e Geringas aponta a tristeza em sua própria transcrição da ‘Canção de Solveig’.
Sibelius (1865-1957) & Grieg (1843-1907): Malinconia – Peças para Violoncelo e Piano
Jean Sibelius (1865-1957)
01. Malinconia, Op.20 (10:53)
Edvard Grieg (1843-1907)
02. Letzter Frühling, Op.34 No.2 (4:25)
03. Violin Sonata No.3 in C minor, Op.45 – II. Allegretto (7:03)
Cello Sonata in A minor, Op.36
04. I. Allegro agitato (9:10)
05. II. Andante molto tranquillo (6:03)
06. III. Allegro (11:37)
Esse disco ficou por último porque foi, a princípio, o mais difícil de conseguir: o LP que consegui por vias convolutas tinha o lado de Ravel em boas condições, e o de Grieg praticamente talhado de borda ao centro. Consegui, depois, o que faltava numa cópia de fita cassete (que era isso, djóvens) sofrivelmente audível. Ao retomar as publicações, mandaram-me uma ripagem em 192 Kbps e eu estava achando tudo muito bom, até que outro leitor-ouvinte me mandasse primeiramente uma digitalização impecável de um LP, depois uma cópia dum CD japonês, e, por fim, o próprio CD – uma gentileza inacreditável, pela qual publicamente agradeço o benfeitor que preferiu manter-se anônimo.
A espera valeu a pena. Antonio e Wanda entendem-se muito bem na bonita sonata de Grieg, talvez a melhor de suas peças de câmara, numa leitura que equilibra os muitos frêmitos apaixonados sob o lirismo tão típico do autor. Do outro lado do LP, um mundo completamente diferente: Ravel, o século XX, e o fascínio do pireneu tanto pela música da Espanha quanto por aquela que ebulia no caldeirão cultural dos Estados Unidos. A primeira é representada por uma interpretação etérea da Habanera, que Wilkomirska faz cantar mui expressivamente, e a segunda, pela sonata sui generis, embriagada de jazz e blues. Ravel insistia que piano e violino eram tão incongruentes quanto seus mecanismos e técnicas, e seu desafio de combiná-los, que culminou na sensacional Tzigane, passou por essa curiosa sonata em que os instrumentos parecem autônomos, mesmo imiscíveis. Os músicos, cientes dessa estranheza, fingem dar as costas um para o outro, capricham no colorido de seus solilóquios e levam a sonata – e sua própria parceria musical – a um epílogo muito assertivo.
Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Sonata para violino e piano no. 3 em Dó menor, Op. 45
1 – Allegro molto ed appassionato
2 – Allegretto espressivo alla romanza
3 – Allegro animato
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
Vocalise-étude en forme de habanera (arranjo para violino e piano)
4 – Presque lent et avec indolence
Sonata para violino e piano
5 – Allegretto
6 – Moderato (Blues)
7 – Allegro (perpetuum mobile)
Wanda Wiłkomirska, violino Antonio Guedes Barbosa, piano
Nenhum deles – como já devem ter adivinhado – teve qualquer lançamento no Brasil
Gravação ao vivo de Antonio solando o Concerto para piano e orquestra de Ronaldo Miranda (1948), acompanhado pela Orquestra Sinfônica Brasileira regida por Miltíades Carides, em 19/6/1985 – mais uma das preciosidades da cornucópia do Instituto Piano Brasileiro, diariamente abastecida por Alexandre Dias, seu incansável diretor, cujo trabalho eu fortemente recomendo conhecer e, acima de tudo, apoiar.
Vamos continuar com a série dedicada a Grieg, trazendo sua desprezada sinfonia, como atesta o próprio autor:
-‘Must never be performed, E. G. ’
Nunca deve ser tocada. A insatisfação de Grieg com a única sinfonia que compôs foi tão grande que se propôs a colocar essa observação na própria partitura. Curioso, não acham? Mas leiam o comentário do maestro Bjarte Engeset no booklet em anexo:
“(…) Mas não houve tais reservas quanto ao nosso trabalho de gravá-lo! Desde o primeiro compasso, fomos apanhados em seu energia positiva e juvenil, e pelo potencial de suas muitas novas ideias musicais. Tivemos que responder com a mesmo energia, sinceridade e coragem que sentimos irradiando das notas. Alguns estudiosos de Grieg afirmaram que o segundo o tema do primeiro movimento é “bastante desinteressante em seu movimento em escala”. Este mesmo tema nos fascinou profundamente devido à originalidade da sua forma, e sentimos que devíamos tocá-la a alta temperatura, com grande generosidade, expressividade e rubato inato.”
E creio que seja com esta determinação que devemos ouvir esta obra. Pode não ser nenhuma obra prima, mas tem suas qualidades. Como sempre, sugiro a leitura do booklet, que tem uma belíssima introdução do maestro responsável por estas gravações que tenho trazido para os senhores, Bjarte Engeset. Espero que apreciem.
01. Symphony in C minor, EG.119 – I. Allegro molto
02. II. Adagio espressivo
03. III. Intermezzo
04. IV. Finale. Allegro molto vivace
05. Old Norwegian Romance with Variations, op.51
06. Three Orchestral Pieces from ‘Sigurd Jorsalfar’, op.56 – I. Prelude ‘In The King’s Hall’
Discos com música de um único compositor costuma ser o normal, mas há também aqueles discos nos quais o artista apresenta um recital escolhendo peças de vários compositores que mais se adequam às suas características ou habilidades. Estes discos podem ser apenas montados pelas gravadoras para homenagear o artista ou para fins comerciais mesmo.
Que foi? Nunca viu um par de jarros?
Entre estes extremos temos aqueles discos que reúnem duas obras que se tornaram ‘dobradinhas’ ao longo da história das gravações. As duplas mais famosas são os quartetos de cordas de Debussy e Ravel e os concertos para piano de Schumann e Grieg.
Digo Schumann e Grieg pois Schumann é mais velho e compôs o seu concerto primeiro, que serviu de inspiração para o mais jovem compositor. Mas as prevalências acabam aqui, pois que os dois concertos são obras espetaculares e, a menos que você seja um absoluto negacionista do romantismo, deve amar estas obras.
Seguindo, portanto, a linha de apresentar obras representativas do repertório clássico para o Desafio PQP, escolhi estes dois concertos para esta que já é a quarta rodada.
Conta a história que em 1845 Clara Schumann estreou o Concerto do maridão como solista em uma apresentação em Dresden. Alguns anos depois, em outro concerto que fez em Leipzig, esteve presente o então jovem norueguês Edvard Grieg, que ficou encantado com a obra do compositor mais velho e inspirado pela sua beleza e romantismo logo deitou mãos à obra. E então, como diz o adágio, o resto é história.
Para tornar o desafio ainda mais interessante, temos aqui não uma gravação, mas duas gravações deste par de ‘cavalos de batalha’. Doravante elas serão tratadas por Desafio A e Desafio B.
Para ganhar o nome inscrito em um tijolo na virtual calçada da fama do PQP Bach, você precisará nomear os artistas das duas gravações.
E mais não digo pois que os nossos argutos e dedicados Sherlockes musicais são capazes de farejar mesmo nos mais rarefeitos bites digitais dos arquivos postados.
Vamos, aproveitem estas duas gravações dos lindos concertos e digam-me sem demora os nomes e sobrenomes dos intérpretes!
Robert Schumann (1810 – 1856)
Concerto para Piano em lá menor, Op. 54
I. Allegro affetuoso
II. Intermezzo: Andantino grazioso e III. Allegro vivace
Neste ambiente foi descoberta a solução do último desafio – verdadeiro trabalho de Sherlock!
Reafirmo aqui a questão motivadora desta espécie de ‘coluna’ do PQP Bach… Como se fosse a Seção de Palavras Cruzadas:
O quanto o conhecimento antecipado do intérprete afeta nossa apreciação de um disco?
Nossos ouvidos podem ser levados a apreciar com mais condescendência aqueles intérpretes que amamos ou ficarem de sobrepostos para as escorregadelas daqueles com os quais não simpatizamos. Isto sem contar com as muitas gravações que não nos chamam particularmente a atenção. Pois aqui você tem a oportunidade de ouvir uma boa música sem pré-julgamentos de qualquer tipo… Pelo menos até que o desafio não seja resolvido!
Aproveite!
René Denon
PS: Se você se interessou pelos desafios, poderá encontrar os anteriores clicando nos links a seguir.
Dando prosseguimento a esta belíssima caixa com a obra orquestral de Grieg, hoje trazemos mais uma suíte para orquestra, também baseada em lendas do folclore norueguês, além de outras obras. O texto abaixo foi livremente traduzido por mim, com a ajuda dos universitários.
O texto original se encontra no booklet se segue anexo aos arquivos compactados.
“Edvard Grieg costumava dizer que estava ciente das limitações de sua educação alemã e que precisava de estímulo de outras culturas musicais. Ele mencionou a luz italiana, a riqueza da cor russa e, não menos importante, a clareza e leveza da França. Em um artigo no periódico alemão “Signale”, ele discutiu os aspectos “pesados e filosóficos” da cultura alemã, e concluiu que não eram suficientes para os noruegueses, que também amam a clareza e a brevidade. Os elementos da música de Grieg que apontam para, por exemplo, o impressionismo e barbárie / primitivismo são particularmente inadequados para vestimentas orquestrais germânicas. É importante notar que não foi a sonoridade difusa da música francesa que ele mencionou, mas sim sua “clareza”: “Esprit” em vez de “Geist”. Em minha opinião, Grieg pode certamente ser chamado de um bom orquestrador, exceto por alguns esforços iniciais variáveis. Ele mudou e melhorou continuamente muitas das versões orquestrais que fez, como resultado de anos de experiência prática no pódio do maestro. Ele também tinha uma maneira individual de usar a orquestra, que normalmente se adequa ao musical material muito bem. Mas ele tinha um certo complexo de inferioridade quando se tratava de instrumentação. Talvez seja uma razão pela qual muitas vezes são outros que orquestraram algumas das mais “orquestrais” de suas obras para piano.”
A direção continua sendo de Bjarte Engeset, por sinal, também autor do texto acima, frente a Royal Scottish National Orchestra. Belíssima música, com certeza. Vale a audição.
Slåtter – Suite for Orchestra, Op. 72 (Orchestration: Øistein Sommerfeldt)
1 No. 8: Bruremarsj (etter Myllarguten)
(Wedding March after Myllarguten)
2 No. 4: Haugelåt – Halling (Halling from The Fairy Hill)
3 No. 2: John Væstafæs Springdans (Jon Vestafe’s Springar)
Norske Danser (Norwegian Dances), Op. 35 (Orchestration: Hans Sitt)
4 Allegro marcato
5 Allegretto tranquillo e grazioso
6 Allegro moderato alla marcia
7 Allegro molto
8 Sørgemarsj over Rikard Nordraak (Funeral March in Memory of Rikard Nordraak), Op. 73
9 Brudefølget drager forbi fra Folkelivsbilder (The Bridal Procession Passes By, from Pictures from Folk Life), Op. 19, No. 2
10 Ballade, Op. 24
(Orchestration: Geirr Tveitt)
11 Klokkeklang from Lyriske Stykker (Ringing Bells from Lyric Pieces), Op. 54, No. 6 (Orchestration: Edvard Grieg/Anton Seidl)
Com esse CD iniciamos mais uma série, desta vez destacamos o compositor noruguês Edvard Grieg, direto da gelada Noruega, descendente de vikings, e um dos maiores, quiçá o maior dos compositores daquele país, além de ser um dos nomes mais conhecidos do Romantismo.
Há alguns anos iniciei uma postagem semelhante, porém com uma coleção da Deutsche Gramophon, que tinha a direção de Neeme Jarvi, mas por algum motivo a abandonei, preferi deixar para outra ocasião. E creio que agora esta ocasião chegou. Trata-se de uma série com oito CDs, e que traz a obra orquestral do compositor, sempre sob a direção muito competente de Bjarte Engeset. Aliás, uma curiosidade: a orquestra e o solista aqui são noruegueses, só a orquestra é escocesa.
O CD traz o conhecidíssimo Concerto para Piano em Lá Menor, provavelmente a obra mais conhecida de Grieg, a Abertura ‘No Outono’, op. 11, e as também conhecidas Danças Sinfônicas’, op. 64.
O solista é o norueguês Håvard Gimse, um dos pianistas mais conceituados de seu país na atualidade.
Como comentei com um colega o selo Naxos poucas vezes me decepcionou. Gostei muito destas gravações, principalmente das Danças Sinfônicas, cheias de colorido orquestral e vivacidade e repletas de elementos da música folclórica norueguesa. Os músicos podem nos ser desconhecidos, mas garanto que vale a pena conhecê-los.
Vamos então iniciar outra de nossas sagas, desta vez vamos nos aventurar nas geladas terras da Noruega.
01. In Autumn. Concert Overture-, op.11
02. Piano Concerto in A minor, op.16 – I. Allegro molto moderato
03. II. Adagio
04. III. Allegro moderato molto e marcato
05. Symphonic Dances, op.64 – I. Allegro moderato e marcato 7-33
06. II. Allegretto grazioso 6-29
07. III. Allegro giocoso 5-59
08. IV. Andante – Allegro risoluto
Håvard Gimse – Piano
Royal Scottish National Orchestra
Bjarte Engeset – Conductor
Os dois primeiros concertos de Beethoven são uma especialidade de Marthinha, e sua última gravação do Op. 19 com Ozawa é fresquíssima, feita em 2019 e lançada no mês passado. Não era uma obra de que o compositor gostasse muito, tanto que o mencionava com ironias em sua correspondência e o retrabalhou várias vezes desde que o estreou em Praga, acabando enfim por dar-lhe um finale completamente novo (o antigo, ao que tudo indica, é o rondó na mesma tonalidade de Si bemol maior, WoO 6, completado por Czerny). Como já mencionamos ontem, apesar de ser chamado de “concerto no. 2”, ele foi a quarta obra do gênero que Beethoven escreveu, depois de dois trabalhos incompletos de juventude e do concerto Op. 15, que publicamos ontem. Martha Argerich, no entanto, o conhece tão bem e o devora com tanto apetite que torna a obra, bem meia-boca para os padrões beethovenianos, um deleite de se escutar. À chuva de estrume que caiu sobre a Decca por conta da capa anterior de Argerich/Ozawa, acusando-a do suposto crime de mostrar dois intérpretes idosos livres de Photoshop, a dupla deu a melhor resposta possível, empenhando seus mais de cento e sessenta anos de experiência numa interpretação rápida, lépida, faceiríssima. Martha, particularmente, está em chamas, e Seiji não a deixa escapar.
Completam o disco um excerto dum divertimento de Mozart e uma linda “Holberg” de Grieg, a obra que me é o mais próximo que conheço duma panaceia instantânea para a melancolia. Ainda que não tenha se tornado meu registro favorito, há nele uma espontaneidade que me deixou, desde a primeira audição, com muita vontade de voltar.
Essa postagem vem com um agradecimento ao colega FDP Bach, que me conseguiu a gravação e que tanto contribui para o blog, desde que dele eu era um leitor-ouvinte. Ela também é um desagravo a este dedicado melômano, detentor de enorme acervo fonográfico, ante os ataques injustificáveis que recebeu de um leitor-ouvinte ingrato e grosseiramente mal educado. Recebemos de muito bom grado as críticas e contamos com nossos leitores-ouvintes para fazer as necessárias correções a nossos lapsos. Nós próprios nos criticamos e corrigimos muito em nossa comunicação privada, sem nunca perdermos o respeito por nossas preferências diferentes, que asseguram a diversidade do blog. Isso não autoriza qualquer um de nós a faltar com o respeito com os outros, sejam autores, sejam leitores-ouvintes. Não somos balde para despejarem recalques, nem bidê para lavar-lhes a prepotência. O último infeliz que tentou tomou uma tunda dos comentaristas e espero que tenha sumido para sempre. Não seja o próximo, por favor.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra em Si bemol maior, Op. 19
(cadências de Beethoven) Composto em 1787-1789, revisado em 1795 Publicado em 1801 Dedicado a Carl Nicklas von Nickelsberg
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo: Molto allegro
Martha Argerich, piano Mito Chamber Orchestra Seiji Ozawa, regência
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Divertimento em Ré maior, K. 136
4 – Allegro
Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Fra Holbergs tid (“Dos Tempos de Holberg”) – Suíte no Estilo Antigo, Op. 40
Para quem gostou da parceria Martha/Seiji, ei-los combinando forças com a orquestra do Festival Saito Kinen [grato, Isaac!] para uma vibrante Fantasia Coral de Beethoven – com direito a uma participação da diva Nathalie Stutzmann, facilmente encontradiça, como imensa amazona que é, no meio dos demais cantores. Martha é idolatrada no Japão – talvez o epicentro marthômano no mundo – e ela retribui generosamente, com visitas frequentes, colaboração com artistas japoneses e com a participação no primeiro festival a levar seu nome, na estância termal de Beppu.#BTHVN250, por René Denon
Vassily
[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]
Robert Schumann apagaria 210 velinhas no dia 8 de junho de 2020!
Vamos começar pelo futuro de Schumann. O Concerto para Piano em lá menor tem sido muito tocado por todo o mundo, talvez com mais frequência do que qualquer outra obra do compositor alemão. Se por acaso o vietnamita Dang Thai Son, os brasileiros Nelson Freire ou Linda Bustani, a russa Eliso Virsaladze ou a argentina Martha Argerich forem tocar esse concerto numa sala próxima a você, não pense duas vezes. São grandes artistas, já com cabelos brancos, mas com muitos anos de Schumann pela frente. Sem falar na geração mais nova. Prestigie os artistas vivos!
Hoje, porém, com temporadas de concertos adiadas, vamos aproveitar o aniversário do compositor para ouvir, comparar, saborear três gravações antológicas do seu Concerto com três grandes pianistas do passado: Michelangeli, Arrau e Richter. O concerto foi estreado em Dresden, com Clara Schumann ao piano. Desde então, quase todos os grandes pianistas já o tocaram, emprestando a ele sotaques e ritmos diferentes. Como toda obra-prima, o concerto é multifacetado e se encaixa com diversos pontos de vista.
“lo scambiano per accelerando o rallentando: è invece il modo di respirare” (confundem o rubato com aceleradas e freios: é, em vez disso, a forma de respirar) Arturo Benedetti Michelangeli (1920 – 1995), sobre o rubato
A descrição mais simples e mais comum de Michelangeli cabe em uma palavra: perfeccionista. Alguns críticos consideraram suas interpretações dos concertos românticos um tanto fria, contida, sem emoção (as mesma críticas são feitas ao seu aluno Maurizio Pollini). Muita gente, por outro lado, ficava de queixo caído com a técnica espetacular e o cuidado meticuloso com cada nota do pequeno repertório que o pianista italiano tocava. De Schumann, salvo engano, ele tocava em seus recitais apenas o Carnaval op. 9 e o Carnaval de Viena op. 26. E tocou este concerto inúmeras vezes pelo mundo, é claro. Há gravações que vão da década de 1950 até 1992, poucos meses antes de Michelangeli se aposentar e três anos antes de sua morte. Michelangeli soa mais espontâneo nessa gravação que trago hoje, de 1962 com a Orchestra Sinfonica della RAI di Roma, Gianandrea Gavazzeni, do que na gravação de 1992 com Celibidache/Munique. Se quiserem podem ir no Youtube e confiram como as gravações diferem em andamentos, concepção sonora, etc. Essas diferenças mostram que o perfeccionismo do pianista, longe de gerar uma interpretação fixa e rígida, levava a um cuidado cada vez maior com cada detalhe, com novas descobertas ao longo dos anos.
O perfeccionismo de Michelangeli, para os ouvidos deste humilde escriba, se apresenta mais claramente nos ornamentos, que são aquelas notas curtas coladas na nota principal. Enquanto outros pianistas como Arrau e Lipatti aproveitavam esses momentos para aproximar a nota principal como quem faz uma carícia, Michelangeli faz quase sempre os ornamentos com o mesmo peso no dedo da nota curta (ornamento) e da principal, lembrando um pouco os abundantes ornamentos nas obras para cravo de Bach, Rameau ou Scarlatti. São em aspectos como esse que Michelangeli parece estar sempre exibindo sua técnica impecável, mesmo nas gravações ao vivo (que são quase todas: como Richter e Celibidache, ele detestava gravar em estúdio).
Esta gravação que trago aqui, por exemplo, foi realizada ao vivo no Vaticano, com a presença do Papa João XXIII na plateia. Em seguida, Michelangeli ainda tocou a Totentanz (Dança dos Mortos) de Liszt. É preciso fazer um último elogio à gravação da Radio Vaticana, que provavelmente tinha mais experiência com gravações de discursos do Papa e de cardeais, mas realizou um excelente trabalho: esta gravação de 1962 soa muito melhor do que a gravação ao vivo de Lipatti e não deve nada à respeitada equipe de gravação da Philips/Concertgebouw de Amsterdam.
1. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – I. Allegro affetuoso
2. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – II. Intermezzo, III. Allegro vivace
3. Liszt – Totentanz, Paraphrase sur le Dies iræ, for Piano and Orchestra
Arturo Benedetti Michelangeli, piano
Orchestra Sinfonica della RAI di Roma, Gianandrea Gavazzeni
Live Recording – 28/04/1962, Vatican
Michelangeli fumava: os perfeccionistas também têm seus pequenos pecados
“A música de Schumann nunca é quieta. Sempre, mesmo nos trechos líricos, há uma turbulência subterrânea.”
Claudio Arrau (1903 – 1991)
O Schumann de Arrau/Concertgebouw já tinha aparecido aqui nos primórdios deste blog, em 2008, quando FDP apresentou Arrau como um grande especialista nos românticos, e definiu o pianista chileno assim: Seu fraseado é claro, e é muito contido. Extrai da melodia toda a beleza nela contida, sem cair em tentações maiores. Aqui é ajudado pelo grande Christoph von Dohnanyi, que dirige a excecpional Royal Concertgebouw Orchestra, Amsterdam. Com certeza, um grande momento do piano romântico.
No disco de Arrau, o concerto de Schumann faz uma dobradinha com o de Grieg, dupla muito comum nos LPs e CDs: são dois concertos em lá menor, os únicos para piano que cada compostor escreveu, e além disso a influência de Schumann sobre Grieg é explicita no ataque dramático do piano logo no início do concerto após um dramático acorde orquestral.
Arrau, que era vendido pelas gravadoras ao mesmo tempo como “pianista-pensador” e como “o último dos românticos” (houve tantos últimos, né?), se equilibra o tempo todo entre seu lado erudito, que buscava expressar com fidelidade as intenções do compositor, e seu lado romântico com as credenciais de quem teve como mentor pianístico um alemão que foi aluno de Liszt. É nesse tênue equilíbrio que o Schumann não soa nem muito livre nem muito certinho, equilíbrio essencial também no concerto de Grieg, representante do romantismo tardio e exagerado no mesmo estilo de Tchaikovsky e Rachmaninoff.
1. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
2. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
3. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
4. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affetuoso
5. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo
6. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace
Claudio Arrau, piano
Royal Concertgebouw Orchestra, Christoph von Dohnányi
Recording – May 1963, Concertgebouw, Amsterdam
Arrau fazia a linha do “pianista-pensador”: gostava de posar com livros, ainda mais com este sobre ele próprio
Richter me magnetizava, como ele fazia com muitos outros, e eu não perdia um concerto dele por nada. Eu entendo agora que o mais forte elemento no seu apelo magnético às plateias é a sua convicção de que o que ele está fazendo é absolutamente certo naquele momento exato. Isso vem do fato de que ele criou seu próprio mundo interior, e se você discutir com ele sobre alguma coisa, não adianta quase nada. Após a performance, muitas vezes eu discordo das suas escolhas, mas enquanto ouço eu percebo que tudo se encaixa e é completamente sincero, o que me convence. Sviatoslav Richter (1915 – 1997), nas palavras do pianista russo Vladimir Ashkenazy
Richter é o terceiro grande pianista desta série. Suas gravações de Schumann são sempre impressionantes: ele não tinha medo de socar o piano tirando um som forte, quase percussivo, nas passagens mais enérgicas. É impressionante, também, que este blog não tivesse até hoje nenhuma gravação de Schumann por Richter. Neste CD, temos também o ultrarromântico concerto de Grieg e os Papillons, obra de juventude de Schumann. Outros pianistas, como Guiomar Novaes, Nelson Freire ou Wilhelm Kempff, realizaram gravações antológicas de Papillons, poéticas, sonhadoras… Arrau, como mostra a citação acima, busca mostrar a cada momento os dois lados de Schumann ao mesmo tempo. Pois Richter é bem diferente: está sempre buscando enfatizar os contrastes entre as duas faces de Schumann: em um momento o calmo e afetuoso Eusebius e em seguida o furioso, impetuoso Florestan. Richter, como de costume, usa toda a sonoridade do piano moderno, um pouco diferente de como soavam os instrumentos em meados do século XIX, é claro, mas ainda assim uma interpretação única, inconfundível.
1. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
2. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
3. Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
4. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affetuoso
5. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo
6. Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace
7. Schumann – Papillons, op. 2
Sviatoslav Richter, piano
Orchestre National de l’Opéra de Monte-Carlo, Lovro Von Matačić
Recording – November 1974, Palais Garnier, Monte Carlo (1 to 6); live recording 21/10/1962, Florence (7).
Richter por vezes era brutal ao piano. Espero que não tenha socado o idoso RubinsteinO casal Schumann: Clara estreou o concerto em 1845. Ela também compôs um concerto que está disponível no PQP, cliquem no nome dela na nossa lista de compositores à direita ––>
Um excelente repertório numa interpretação que está fora de moda, mas que foi de alto nível em sua época. Também não sei porque Grieg ficou fora da capa — ou se esta é realmente a capa do CD. Sua Suíte Holberg é belíssima e não merece este descaso…
Sobre a Serenata para Cordas de Tchai: ele pretendia que o primeiro movimento fosse uma imitação do estilo de Mozart, e foi baseado na forma da sonatina clássica, com uma introdução lenta. A agitada introdução do Andante é marcada como “sempre marcatissimo”. A introdução é reafirmada no final do movimento, e depois reaparece, transformada, no quarto movimento, unindo toda a obra. Na segunda página da partitura, Tchaikovski escreveu: “Quanto maior o número de músicos na orquestra de cordas, mais isso estará de acordo com os desejos do autor.” O segundo movimento, Valse, tornou-se uma peça popular por si só.
Souvenir deFlorence, também de Tchai, é originalmente um sexteto, mas não chega aos pés da Serenata.
Já a Suíte Holberg, de Grieg, é demais! A Suíte Holberg, op. 40, mais propriamente “Da época de Holberg”, com o subtítulo “Suite in olden style” é uma suíte de cinco movimentos baseados nas formas de dança do século XVIII, escritos por Edvard Grieg em 1884 para celebrar o 200º aniversário do nascimento do dramaturgo humanista Ludvig Holberg. Ela foi originalmente composta para piano, mas um ano depois foi adaptada pelo próprio Grieg para orquestra de cordas. A suíte consiste em uma introdução e um conjunto de danças. É um ensaio inicial do neoclassicismo, uma tentativa de ecoar tanto quanto se sabia no tempo de Grieg da música da época de Holberg. Embora não seja tão famosa quanto a música incidental de Grieg de Peer Gynt, muita gente boa consideram ambas como obras como de igual mérito.
Tchaikovsky (1840-1893) / Grieg (1843-1907): Cordas e mais cordas (Serenata, Souvenir, Holberg)
Tchaikovsky (1840-1893): Serenade for strings in C major, Op.48
01. I. Pezzo in forma di sonatina_ Andante non troppo — Allegro moderato
02. II. Walzer_ Moderato, tempo di valse
03. III. Elégie_ Larghetto elegiaco
04. IV. Finale (Tema russo)_ Andante — Allegro con spirito
Tchaikovsky (1840-1893): Souvenir de Florence, Op.70
05. I. Allegro con spirito
06. II. Adagio cantabile e con moto
07. III. Allegro moderato
08. IV. Allegro vivace
Edvard Grieg (1843-1907): Holberg Suite, Op.40
09. I. Praeludium_ Allegro vivace
10. II. Sarabande_ Andante
11. III. Gavotte_ Allegretto — Musette_ Poco più mosso
12. IV. Air_ Andante religioso
13. V. Rigaudon_ Allegro con brio
Academy of St. Martin in the Fields
Sir Neville Marriner
Anne Sofie von Otter é uma das principais mezzo-soprano da atualidade, conhecida por sua versatilidade em papéis de óperas, suas interessantes opções de recitais e sua disposição em assumir riscos vocais. Seu pai era um diplomata sueco cuja carreira levou a família a Bonn, Londres, e de volta a Estocolmo enquanto Anne Sofie estava crescendo. Como resultado, ela ganhou fluência em idiomas. Estudou música na Guildhall School of Music and Drama, em Londres. Sua principal professora de voz era Vera Rozsa, enquanto Erik Werba e Geoffrey Parsons a treinavam na interpretação de lieder.
Ela ganhou um contrato com a Basle Opera em 1983 e permaneceu na empresa até 1985, estreando como Alcina no Orlando Paladino de Franz Joseph Haydn. Ela também assumiu vários papéis masculinos escritos para mezzo-sopranos femininos, incluindo Cherubino no casamento de Mozart com Figaro, Hänsel no Hänsel und Gretel de Humperdinck e Orpheus no Orfée et Eurydice de Gluck. Em 1984, estreou no Festival de Aix-en-Provence como Ramiro em La Finta Giardiniera, de Mozart. Outras interpretações incluem Otaviano em Rosenkavalier de Strauss, o Compositor em Ariadne auf Naxos de Strauss e o papel-título de Tancredi de Rossini, entre outros.
Uma mulher alta e escultural, ela sente-se em casa em inúmeras séries de óperas do século XVIII, nas quais vozes altas costumavam interpretar os heróis. Ela cantou em Covent Garden, La Scala, Berlim, Munique, Roma e outras grandes casas de ópera.
Outra razão para a alta proporção de óperas da era barroca e clássica em seu repertório é uma importante relação de trabalho com o maestro John Eliot Gardiner, maestro britânico que começou como especialista em barroco. Ela fez o primeiro teste para ele em 1985, mas não conseguiu impressionar. Foi apenas com uma chance subseqüente para ele ouvi-la que ele começou a trabalhar com ela. Ela se juntou a ele em gravações da Nona Sinfonia de Beethoven; Clemenza di Tito de Mozart, Idomeneo e Requiem; Favola d’Orfeo de Monteverdi e L’Incoronazione di Poppea; Agripina e Jefté, de Handel; Orfée et Eurydice, de Gluck; e Oratório de Natal de Bach e St. Matthew Passion. Ele também conduziu a gravação de Seven Deadly Sins, de Weill, por von Otter, e selecionou músicas de teatro. Gravações significativas desde 2000 incluem Terezin / Theresienstadt, música do campo de concentração, e Boldemann, Gefors, Hillborg, canções orquestrais suecas contemporâneas.
Seu outro grande parceiro artístico é o pianista sueco Bengt Forsberg, seu parceiro de recital. Como Forsberg é um dos principais estudiosos no campo da literatura musical, von Otter conta com ele para sugerir músicas e organizar os programas de seus recitais. Com ele, ela se especializou em lieder desde os períodos do início e do final do período romântico, incluindo gravações bem recebidas de músicas de Schubert, Schumann, Brahms, Zemlinsky, Korngold e Mahler, além dos compositores românticos nórdicos, Alfvén, Rangstrom, Stenhammer e Sibelius.
Ela aprecia cantar músicas nas tonalidades especificadas originalmente pelos compositores. Quando ela veio gravar Seven Deadly Sins de Kurt Weill, ela usou a versão original para soprano alto, uma gama que ela possui, em vez da versão mezzo-soprano tradicional que foi feita para Lotte Lenya no final da carreira do cantor. Von Otter também gravou Seven Early Songs de Alban Berg, também música que é uma tensão para muitos sopranos. Além disso, ela não é avessa a esticar a voz para obter um efeito dramático. “Eu acredito em efeitos de choque”, ela disse uma vez em uma entrevista. No entanto, após os 40 anos de idade, ela teve algumas experiências particularmente ruins como resultado dessas duas tendências e, ela admite, magoou a voz. Como resultado, ela decidiu ser “sensata” e transpor para baixo. (extraído da internet)
Jacques Offenbach, nascido Jakob Eberst (Colônia, 1819 – Paris 1880) 1. Les Contes d’Hoffmann – Act – 1. Entr’acte (Barcarolle) Anne Sofie von Otter, Stéphanie d’Oustrac & Les Musiciens du Louvre, Marc Minkowski & Chorus Of Les Musiciens Du Louvre
Franz Schubert (Austria, 1797 – 1828) 2. “Ellens Gesang III”, D839 Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Gioachino Antonio Rossini (Pésaro, Italy, 1792-Passy, Paris, 1868) 3. La Cenerentola, Act 2 “Nacqui all’affanno e al pianto” Anne Sofie von Otter, Orchestra Of The Frankfurt Opera, James Levine
Edvard Grieg (Noruega, 1843 – 1907) 4. Haugtussa – Song Cycle, Op.67, Killingdans Anne Sofie von Otter & Bengt Forsberg (piano)
Franz Schubert (Austria, 1797 – 1828) 5. Im Abendrot, D.799 Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Kurt Weill (1900 – 1950) One Touch of Venus 6. I’m A Stranger Here Myself Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) St. Matthew Passion, BWV 244 – Part Two 7. No.47 Aria (Alto): “Erbarme dich, mein Gott” Anne Sofie von Otter, Fredrik From, Baroque Concerto Copenhagen, Lars Ulrik Mortensen
Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840 – 1893) Eugene Onegin, Op.24, TH. – Act 1 8. Scene and Aria. “Kak ya lyublyu pod zvuki pesen etikh” – “Uzh kak po mostu, mostochku” Mirella Freni, Anne Sofie von Otter, Staatskapelle Dresden, James Levine
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) Requiem in D Minor, K. 626, compl. by Franz Xaver Süssmayer 9. 6. Benedictus Anne Sofie von Otter, Barbara Bonney, Hans Peter Blochwitz, Willard White, English Baroque Soloists, John Eliot Gardiner
Edvard Grieg (1843 – 1907) Haugtussa – Song Cycle, Op.67 10. Ved gjaetle – bekken Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) La clemenza di Tito, K. 621, Act 1 11. “Parto, ma tu ben mio” 12. “Oh Dei, che smania è questa” Anne Sofie von Otter, English Baroque Soloists, John Eliot Gardiner
Kurt Weill (1900 – 1950) One Touch of Venus 13. Speak Low Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
George Frideric Handel (1685 – 1759) Il pianto di Maria: “Giunta l’ora fatal” HWV 234 14. Cavatina: “Se d’un Dio fui fatta Madre” Anne Sofie von Otter, Musica Antiqua Köln, Reinhard Goebel
Gustav Mahler (1860 – 1911) Rückert-Lieder, Op. 44 15. 2. Liebst du um Schönheit Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner 16. Serenade (from: “Don Juan”) Anne Sofie von Otter, Ralf Gothoni
George Frideric Handel (1685 – 1759) Ariodante, HWV 33, Act 2 17. “Tu preparati a morire” Anne Sofie von Otter, Les Musiciens du Louvre, Marc Minkowski
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) Idomeneo, re di Creta, K.366, Act 1 18. “Il padre adorato” Anne Sofie von Otter, English Baroque Soloists, John Eliot Gardiner
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) Mass in B Minor, BWV 232 Kyrie: No.1 Kyrie eleison 19. Agnus Dei Widerstehe doch der Sünde, Cantata BWV 54 20. 1. “Widerstehe doch der Sünde” Anne Sofie von Otter, Baroque Concerto Copenhagen, Lars Ulrik Mortensen
Edvard Grieg (1843 – 1907) Haugtussa – Song Cycle, Op.67 21. Elsk Kurt Weill (1900 – 1950) 22. Berlin im Licht – Song Franz Schubert (1797 – 1828) 23. Der Wanderer an den Mond, D.870, op.80, no.1 Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Christoph Willibald von Gluck (1714 – 1787) Paride ed Elena, Wq 39, Act 1 24. “O del mio dolce ardor” Anne Sofie von Otter, Paul Goodwin, The English Concert, Trevor Pinnock
George Frideric Handel (1685 – 1759) Hercules, HWV 60, Act 2 25. Aria: “When beauty sorrow’s liv’ry wears” Anne Sofie von Otter, Les Musiciens du Louvre, Marc Minkowski
Edvard Grieg (1843 – 1907) Haugtussa – Song Cycle, Op.67 26. Det syng 27. Med en Vandilje, Op.25, No.4 Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Claudio Monteverdi (1567 – 1643) L’incoronazione di Poppea, SV 308, Act 2 28. Adagiati, Poppea – Oblivion soave (Arnalta) Anne Sofie von Otter, Jakob Lindberg, Jory Vinikour
Johannes Brahms (1833 – 1897) Fünf Lieder, Op.47 29. 3. Sonntag “So hab ich doch” Franz Schubert (1797 – 1828) 30. Im Walde D 708 Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Palhinha: ouça: 14. Cavatina: “Se d’un Dio fui fatta Madre”
Por gentileza, quando tiver problemas para descompactar arquivos com mais de 256 caracteres, para Windows, tente o 7-ZIP, em https://sourceforge.net/projects/sevenzip/ e para Mac, tente o Keka, em http://www.kekaosx.com/pt/, para descompactar, ambos gratuitos.
If you have trouble unzipping files longer than 256 characters, for Windows, please try 7-ZIP, at https://sourceforge.net/projects/sevenzip/ and for Mac, try Keka, at http://www.kekaosx.com/, to unzip, both at no cost.
Volto ao feijão com arroz hoje, trazendo uma gravação estupenda deste fenomenal pianista chamado Radu Lupu, que infelizmente pouco aparece aqui no PQPBach, em um registro antológico e histórico, ao lado de André Previn e da Sinfônica de Londres, dos batidíssimos Concertos de Schumann e de Grieg. Mas quem importa se existem um milhão de gravações destas obras? Cada uma tem suas características e peculiaridades. e Radu Lupu dá um show aqui, ao mostrar porque estas obras são tão fundamentais no repertório pianístico.
Rubinstein tem dois registros magníficos do Concerto de Grieg e até hoje não consigo definir qual o meu favorito. Martha Argerich e Claudio Abbado tem a melhor gravação do Concerto de Schumann que já ouvi, mas este aqui da dupla Lupu/Previn está entre as top five, com certeza, ou até mesmo entre as top three, como disse um comentarista da amazon.
1. Piano Concerto in A minor, Op.54 1. Allegro affettuoso
2. Piano Concerto in A minor, Op.54 2. Intermezzo (Andantino grazioso)
3. Piano Concerto in A minor, Op.54 3. Allegro vivace
4. Piano Concerto in A minor, Op.16 1. Allegro molto moderato
5. Piano Concerto in A minor, Op.16 2. Adagio
6. Piano Concerto in A minor, Op.16 3. Allegro moderato molto e marcato – Quasi presto – Andante maestoso
Radu Lupu – Piano
London Symphony Orchestra
André Previn
Esse com certeza é um belo CD para iniciarmos o ano. Três peças que representam bem o Romantismo, belamente interpretadas por dois dos principais músicos da atualidade, Renaud Capuçon & Khatia Buniatishvili. Muitos podem argumentar, poxa, já existem tantas gravações destas Sonatas de Cesar Franck, há a necessidade de mais uma? Bem, fica a seu critério conhecer o que a nova geração tem a apresentar sobre uma obra tão conhecida.
A química entre os dois músicos existe, isso é inegável. Khátia é uma pianista muito expressiva, sem dúvidas, exala sensualidade em suas apresentações, e sabe como transferir essa expressividade para o piano. Ouçam a Sonata de Grieg, um dos melhores momentos do CD. Renaud Capuçon é o garoto de ouro da veterana Martha Argerich, com que já realizou diversas apresentações, inclusive desta mesma Sonata de Franck. Obviamente Khatia Buniatishvili não é nenhuma Martha Argerich, mas dá conta do recado com sobra.
A dupla encerra o CD com as belíssimas peças românticas de Dvorák. Um belíssimo CD, sem dúvidas.
César Franck – Sonata for Violin and Piano in A major
[1] I Allegretto ben moderato
[2] II Allegro
[3] III Recitativo-Fantasia. Ben moderato – Molto lento – a tempo moderato
[4] IV Allegretto poco mosso 6:04
Edvard Grieg – Sonata for Violin and Piano no. 3 Op. 45 in C minor
[5] I Allegro molto ed appassionato
[6] II Allegretto espressivo alla Romanza
[7] III Allegro animato 7:52
Antonín Dvořák – Romantic Pieces Op. 75 (B 150)
[8] I Allegro moderato
[9] II Allegro maestoso
[10] III Allegro appassionato
[11] IV Larghetto
Estamos no último minuto do 18 de outubro, e ainda em tempo de celebrar o septuagésimo quinto aniversário do Sr. Nelson José Pinto Freire, nascido no rio Grande, não o Rio Grande donde eu venho, mas o que banha a pacata Boa Esperança das Minas Gerais, um cidadão do mundo, e certamente um dos compatriotas que nunca nos deixará sem respostas se alguém nos perguntar o que de bom tem o Brasil, além de butiás e jabuticabas. Parabenizamos o célebre Sr. Freire e abraçamos o gentil Nelsinho, alcançando-lhe nossa gratidão pela longa e profícua carreira, que não para de nos trazer alegrias nessas já tantas décadas que o veem elencado entre os maiores pianistas em atividade. Além do quilate artístico, o mineirinho Nelson é um amor de criatura, ouro maciço. Discreto, caseiro e reservado, vive para a arte e para os amigos. Agora há pouco cheguei a brincar com os companheiros de blog, imaginando-o a bebemorar seu aniversário, entre um cigarro e outro, com a grande amiga Martha Argerich, parceira de vida e arte há seis décadas, só para depois me lembrar de ter lido numa entrevista que ele parou de fumar há alguns anos, por querer manter-se por muito tempo ainda ativo: menos em recitais e concertos, pois a rotina de viagens lhe aborrece muito, e cada vez mais em gravações, depois de por tanto tempo relutar em fazê-las, e legar ao futuro uma resposta a quem quer que pergunte “como tocava Nelson Freire?”.
Numa bonita postagem, o Pleyel já afirmara que muito se poderia “falar do talento de Nelson para escolher peças de bis, parte essencial de recitais à moda antiga”. Pois neste fresquíssimo álbum, nosso cintilante compatriota apresenta-nos parte de seu arsenal de tira-gostos, digestivos e, também, fogos de artifício para arrematar concertos e recitais, abarcando o longo arco de tempo entre os gênios de Purcell e do tabagistíssima Shostakovich. O pianismo é, naturalmente, de chorar de bom, e ao final da guirlanda de peças a gente só consegue se admirar por lhe descobrir mais um talento: o de fazer um recital coeso só com tantos, e tão diversos, e diminutos bombons e bagatelas.
Que sirva de exemplo para tantos outros. E muitas outras.
Christoph WillibaldGLUCK (1714-1787)
Arranjo de Giovanni Sgambati
1- Orfeo ed Euridice: Melodia
HenryPURCELL (1659-1695)
2 – Hornpipe em Mi menor
Giuseppe DomenicoSCARLATTI (1685-1759)
3 – Sonata em Ré menor, K. 64
4 – Sonata em Si menor, K. 377
Zygmunt Denis Antoni Jordan deSTOJOWSKI (1870-1946)
5 – Aspirations, Op. 39: no. 1, “Vers l’Azur”
Ignacy Jan PADEREWSKI (1860-1941)
6 – Miscellanea, Op. 16: no. 4: Noturno em Si bemol maior
Richard GeorgSTRAUSS (1864-1949)
Arranjo de Leopold Godowsky
7 – Seis Lieder, Op. 17: No. 2, Ständchen
Edvard HagerupGRIEG (1843-1907)
Das “Peças Líricas” para piano:
8 – Livro I, Op. 12 – no. 1: Arietta
9 – no. 2: Valsa
10 – no. 5: Melodia Popular
11 – Livro II, Op. 38 – no. 1.: Berceuse
12 – Livro III, Op. 43 – no. 2: Viajante Solitário
13 – no. 4: Pequeno Pássaro
14 – no. 6: À Primavera
15 – Livro IV, Op. 47 – no. 4: Halling
16 – Livro V, Op. 54 – no. 1: Jovem Pastor
17 – Livro VIII, Op. 65 – no. 6: Dia de Casamento em Troldhaugen
18 – Livro IX, Op. 68 – no. 3: A seus pés
19 – no. 5: No berço
Anton GrigoryevichRUBINSTEIN (1829-1894)
20 – Duas Melodias, Op. 3 – no. 1 em Fá maior
Alexander NikolayevichSCRIABIN (1872-1915)
21 – Dois Poemas, Op. 32 – no. 1 em Fá sustenido maior
Sergei VasilyevichRACHMANINOV (1873-1943)
22 – Prelúdios, Op. 32 – no. 10 em Si menor: Lento
23 – no. 12 em Sol sustenido maior: Allegro
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
29 – España, Op. 165 – Tango em Ré maior (arranjo de Leopold Godowsky)
30 – Navarra (completada por Déodat de Sévérac)
Nelson com Guiomar Novaes, 1977. Foto do acervo particular de Nelson Freire, publicada pelo sensacional Instituto Piano Brasileiro (http://institutopianobrasileiro.com.br), comandado pelo indispensável Alexandre Dias, apoiado por Nelson e que recomendamos demais. No vídeo abaixo, parte do documentário “Nelson Freire” de João Moreira Salles, o aniversariante de hoje relembra a influência inspiradora de Guiomar em sua carreira, enquanto ouve, com olhos suados, a melodia de Gluck (que abre o CD que ora compartilhamos) na interpretação de sua ídola. E a “Nise” a que ele se refere é Nise Obino, sua maior mestra, decisiva para Nelson superar a transição de menino-prodígio a jovem artista e que, como descobrimos pelo documentário (que não podemos recomendar o bastante aos fãs de Nelson), muito mais que professora, foi-lhe uma grande paixão.
Vassily, com um agradecimento ao incansável FDP Bach por lhe ter alcançado esta gravação.
Lembram daquela série interminável de discos da Philips — lançados nos anos 70 e 80 — que eram seleções malucas de clássicos e que tinham gatinhos na capa? Ali, o Aleluia de Händel podia vir antes de um trecho de Rhapsody in Blue, o qual era seguido pela Abertura 1812 e pela chamada Ária na Corda Sol (mentira, corda sol coisa nenhuma) de Bach, por exemplo. Salada semelhante é servida por Khatia Buniatishvili neste CD. Mas o importante é faturar enquanto a beleza não abandona a pianista. Ela tem alguns anos de sucesso ainda. Como habitualmente, neste disco ela é muita emoção e languidez — principalmente a última –, acompanhada de um talento que não precisaria ter registros gravados. Temos tanta gente melhor! Depois deste disco altamente suspeito, ela sucumbe aqui. Só a aparência não basta. Afinal, ouvimos o CD. Vocês sabem que eu amo as belas musicistas, mas tudo tem limite.
1 Johann Sebastian Bach: Was mir behagt, ist nur die muntre Jagd, BWV 208: IX. Schafe können sicher weiden (Arr. for Piano)
2 Pyotr Ilyich Tchaikovsky: The Seasons, Op. 37b: X. October (Autumn Song)
3 Felix Mendelssohn-Bartholdy: Lied ohne Worte in F-Sharp Minor, Op. 67/2
4 Claude Debussy: Suite Bergamasque, L. 75: III. Clair de lune
5 Giya Kancheli: Tune from the Film by Lana Gogoberidze: When Almonds Blossomed
6 György Ligeti: Musica ricercata No. 7 in B-Flat Major
7 Johannes Brahms: Intermezzo in B-Flat Minor, Op. 117/2
8 Franz Liszt: Wiegenlied, S. 198
9 Antonín Dvorák: Slavonic Dance for Four Hands in E Minor, Op. 72/2: Dumka (Allegretto grazioso)
10 Maurice Ravel: Pavane pour une infante défunte in G Major, M. 19
11 Frédéric Chopin: Etude in C-Sharp Minor, Op. 25/7
12 Alexander Scriabin: Etude in C-Sharp Minor, Op. 2/1
13 Domenico Scarlatti: Sonata in E Major, K. 380
14 Edvard Grieg: Lyric Piece in E Minor, Op. 57/6: Homesickness
15 Traditional: Vagiorko mai / Don’t You Love Me?
16 Wilhelm Kempff: Suite in B-Flat Major, HWV 434: IV. Menuet
17 Arvo Pärt: Für Alina in B Minor
Um CD espantoso que demonstra algo que os mais observadores já desconfiaram: na maior parte das vezes, os compositores ficam com seus sotaques corrigidos e melhores quando interpretados por conterrâneos. Em música, a questão da vivência cultural é preponderante. Aqui, os escandinavos responsáveis pela execução da obra do norueguês Grieg entram com os acentos e algumas dinâmicas que nunca ouvi nestas obras. E que lhe caem extremamente bem! O resultado são interpretações que dão outro gosto a estas obras complicadas do repertório grieguiano. Os caras usam uma dureza e concisão raras. Se eu fosse você, largaria tudo agora para ouvir este tremendo disco.
Edvard Grieg (1843-1907): Cello Sonata, String Quartet
1. Cello Sonata In A Minor Op. 36: I. Allegro Agitato 9:46
2. Cello Sonata In A Minor Op. 36: II. Andante Molto Tranquillo 6:29
3. Cello Sonata In A Minor Op. 36: III. Allegro – Allegro Molto E Marcato 12:02
4. String Quartet In G Minor Op. 27: I. Un Poco Andante – Allegro Molto Ed Agitato 11:59
5. String Quartet In G Minor Op. 27: II. Romanze – Andantino 6:25
6. String Quartet In G Minor Op. 27: III. Intermezzo – Allegro Molto Marcato 6:26
7. String Quartet In G Minor Op. 27: IV. Finale – Lento – Presto Al Saltarello 9:03
Truls Mørk, violoncelo
Håvard Gimse, piano
Solve Sigerland, violino
Atle Sponberg, violino
Lars Anders Tomter, viola
Truls Mørk, violoncelo
O Brasil recebeu, no pós-guerra, diversos músicos que vieram da Europa para atuar na Orquestra Sinfônica Brasileira (criada por iniciativa de José Siqueira em 1940) e que se tornaram destaques em seus respectivos instrumentos: o francês Noel Devos no fagote, o tcheco Bohumil Med na trompa, a também francesa Odette Ernest Dias na flauta, para ficar só nesses.
Neste post, rendo tributo ao violista húngaro que adotou o nome de Perez Dworecki (1920-2011, não descobri o nome de batismo dele) postando seu CD mais recente (de uns cinco anos atrás). Ao longo do ano apresentarei discos dos demais músicos.
Esta coletânea abrange do barroco europeu ao nacional contemporâneo (diferente de outras que Dworecki lançou, focadas totalmente no repertório made in Brazil) e recebeu o nome a partir de uma peça composta especialmente pelo paulista Achille Picchi. Deixo as apreciações adicionais por vossa conta.
Boa audição porque já tô pensando no próximo CD, também de viola (mas viola caipira).
***
Gaiato: Perez Dworecki
Vivaldi
1. Sonata Para Viola E Piano (Original Para Violoncelo): Largo
2. Sonata Para Viola E Piano (Original Para Violoncelo): Allegro
3. Sonata Para Viola E Piano (Original Para Violoncelo): Largo
4. Sonata Para Viola E Piano (Original Para Violoncelo): Allegro
Veracini
5. Largo
Vieuxtemps
6. Elegie
Grieg
7. Sonata (Andante Molto Tranqüilo): Op. 36 (Original Para Violoncelo)
Ravel
8. Berceuse (Sobre O Nome de Gabriel Fauré)
Achron
9. Melodia Hebraica
Kreisler
10. Liebesleid
Breno Blauth
11. Sonata (Para Viola E Piano): Dramático
12. Sonata (Para Viola E Piano): Evocativo
13. Sonata (Para Viola E Piano): Agitado
Este CD vai em homenagem à todos aqueles românticos babões, como este que vos escreve, que sempre se emocionam com as obras do polonês Chopin, mesmo que já as tenham ouvido dezenas, quiçá, centenas de vezes.
Daniil Trifonov é um dos grandes nomes do piano da atualidade, sem dúvida nenhuma. E esta sua parceria com o também pianista, regente e compositor Mikhail Pletnev, e claro, russo como ele, é uma grande prova disso. Os fãs destes concertos vão notar que existe uma diferença na parte orquestral, e aí é que entra Pletnev, que reescreveu essa parte. Li em certa ocasião que aí residia um dos grandes problemas destes concertos: a parte orquestral, que não seria a praia de Chopin. Alguns excessos desnecessários, diziam os críticos. Pletnev realmente deu um trato, digamos assim, enxugou estas partes. Volto a repetir, os fãs dos concertos e ouvintes destas obras há décadas, como este que vos escreve, irão entender do que estou falando. Aliás, antes de ouvir com mais atenção esta gravação, ouvi a histórica gravação de Samson François, lá do final dos anos 50, com a regência de Louis Fremaux, uma de minhas leituras favoritas. E Samson François foi um dos maiores intérpretes de Chopin do século XX.
Mas vamos ouvir o que Trifonov tem a dizer:
“Chopin revolutionized the expressive horizons of the piano. From very early in his musical output, Chopin’s lyrical grace, thematic sincerity, harmonic adventure and luminous virtuosity embodied all the qualities the Romantics, like Schumann, found irresistible.”
O texto do booklet continua a análise:
“In the context of these diverse works composed or inspired by Chopin, a new light is cast on his two piano concertos, written in close succession when he was turning 20. The F minor “Second” Concerto was in fact composed and premiered first, although it was published after the E minor “First” Concerto. Yet irrespective of sequence, the two works can be understood together as a singular experiment in a genre to which Chopin never returned. They reflect the young composer’s creative consciousness paying homage to his musical predecessors while searching for new expressive means. As Trifonov explains: “The concertos are more massive in terms of length and instrumentation than anything else Chopin ever wrote. He knew and admired the piano concertos of Mozart and Beethoven, yet his interest in the form was not in the Classical balance between soloist and orchestra, but in the concerto as a lyrical epic form, like a Delacroix painting, providing a huge tableau for his musical expression.”
The experiment was only partly successful. While the E minor Concerto is more bravura and the F minor more introversion, they are both full of candid sentiment, drama and pianistic innovation, their central movements evoking bel canto melodies of heartbreaking intimacy. But the proportions are challenging. Chopin eschews the Classical convention of discrete cadenzas, instead subsuming all elements of thematic variation and technical development in a continuous soloistic narrative. His typically delicate, improvisational style and compact elegance can get lost in the sprawling dimensions of the works, the authenticity of whose orchestrations have always been a matter of debate. In both concertos, the piano plays almost uninterruptedly from the solo introduction in the first movement exposition through to the final bars. Yet, as the soloist winds and twists and explores melodic nuances, the original orchestral accompaniment provides punctuation and amplitude but little affinity with this flow of ideas. It was the desire to restore these two works to more chamberlike proportions commensurate with the detail of the solo material and to allow for more faithful interaction between soloist and orchestra that motivated Mikhail Pletnev to create new orchestrations for the two Chopin concertos. The piano parts are unaltered, but Pletnev’s streamlined instrumentation, in Trifonov’s words, “liberates the soloist. The new orchestral transparency allows the pianist greater spontaneity and sensitive engagement with the other voices.” Himself a brilliant pianist-composer, Pletnev’s intimate knowledge of the scores as both performer and orchestrator make him an ideal partner in Trifonov’s Chopinist evocations. The Mahler Chamber Orchestra, a dynamic ensemble of soloists steeped in the responsiveness demanded by opera and chamber music, realizes Pletnev’s refreshed balances of voice and colour. Pletnev’s contribution to the musical constellation is not only material, but also spiritual. As Trifonov explains: “My mentor and teacher, Sergei Babayan, studied with Mikhail Pletnev in Moscow in the 1980s. That makes him a little bit like my musical forefather.” The family portrait is completed on this album by a rendition of Chopin’s rarely heard and devilishly difficult Rondo op. posth. 73, performed by Trifonov and Babayan together. This autobiographical element closes the circle of thematic motives in Trifonov’s project revolving around Chopin. “Chopin is one of the world’s most beloved composers – the poetry of his music goes straight to the heart and requires no justification”, Trifonov contends. “But in a sense, the genius of Chopin becomes even more clear in the context of those who influenced him and those who have been inspired by him.” The programme affords an opportunity to hear his familiar music afresh, transfigured within a tapestry of historical, musicological, personal and expressive “evocations”, as well as a glimpse of the young man to whose “genius, steady striving, and imagination” Schumann bowed his head.”
Espero que apreciem. Eu gostei muito deste CD.
CD 1
FRÉDÉRIC CHOPIN (1810–1849)
Concerto for Piano and Orchestra No. 2 in F minor op. 21 f-Moll | en fa mineur
1 1. Maestoso
2 2. Larghetto
3 3. Allegro vivace
Daniil Trifonov piano
Mahler Chamber Orchestra
Mikhail Pletnev
Variations on “Là ci darem la mano” from the opera Don Giovanni by W. A. Mozart in B flat major op. 2 B-Dur | en si bémol majeur
4 Introduction. Largo – Poco più mosso
5 Tema. Allegretto
6 Var. 1. Brillante
7 Var. 2. Veloce, ma accuratamente
8 Var. 3. Sempre sostenuto
9 Var. 4. Con bravura
10 Var. 5. Adagio
ROBERT SCHUMANN (1810–1856)
12 Chopin. Agitato 1:30 No. 12 from Carnaval op. 9
EDVARD GRIEG (1843–1907)
13 Study “Hommage à Chopin” op. 73 no. 5. Allegro agitato
SAMUEL BARBER (1910–1981)
14 Nocturne op. 33. Moderato
PYOTR ILYICH TCHAIKOVSKY (1840–1893)
15 Un poco di Chopin op. 72 no. 15. Tempo di Mazurka
1 Rondo for Two Pianos in C major op. posth. 73 n ut majeur
Daniil Trifonov, Sergei Babayan pianos
Concerto for Piano and Orchestra No. 1 in E minor op. 11 e-Moll
2 1. Allegro maestoso
3 2. Romance. Larghetto
4 3. Rondo. Vivace
Daniil Trifonov piano
Mahler Chamber Orchestra
Mikhail Pletnev
FREDERIC MOMPOU (1893–1987) Variations on a Theme by Chopin
5 Theme. Andantino
6 Var. 1. Tranquillo e molto amabile
7 Var. 2. Gracioso
8 Var. 3. Lento (Para la mano izquierda / For the left hand)
9 Var. 4. Espressivo
10 Var. 5. Tempo di Mazurka
11 Var. 6. Recitativo
12 Var. 7. Allegro leggiero
13 Var. 8. Andante dolce e espressivo
14 Var. 9. Valse
15 Var. 10. Évocation. Cantabile molto espressivo
16 Var. 11. Lento dolce e legato
17 Var. 12. Galope y Epílogo 3:19
FRÉDÉRIC CHOPIN
18 Impromptu No. 4 in C sharp minor 5:36 “Fantaisie-Impromptu” op. 66
Olha, você pode até não gostar de Grieg — não é o meu caso –, mas garanto que dificilmente encontrará interpretação melhor deste repertório do que esta, a cargo de Augustin Dumay e Maria João Pires. O tom delicado e colorido de Dumay é ideal para essas peças deliciosas. É curioso que as ousadias estruturais impediam que as Sonatas para Violino de Grieg fossem consideradas obras-primas. Por exemplo, como temas contrastantes saltavam de um para outro sem transição suave, alguns comentaristas ciosos das regras ficavam nervosos. Mas, gente, garanto-lhes que estas Sonatas estão entre os pratos mais saborosos da música romântica para violino.
Só não entendo porque o engenheiro de som insistiu tanto em gravar a respiração de Dumay!
Edvard Grieg (1843-1907): Violin Sonatas
Grieg: Sonata For Violin And Piano In F Major, Op.8 (1865)
1. Allegro con brio 9:33
2. Allegretto quasi Andantino – Più vivo – Tempo I 4:45
3. Allegro molto vivace 9:59
Grieg: Sonata For Violin And Piano In G Major, Op.13 (1867)
4. Lento doloroso – Poco allegro – Allegro vivace 9:46
5. Allegretto tranquillo 6:29
6. Allegro animato 5:33
Grieg: Sonata For Violin And Piano No.3 In C Minor, Op.45
7. Allegro molto ed appassionato 9:35
8. Allegretto espressivo alla Romanza 6:28
9. Allegro animato 7:55
Estes concertos de Schumann e de Grieg parecem ser siameses, não acham? É quase impossível encontrar um longe do outro, a maioria dos pianistas optam em gravá-los juntos. Claro, são dois pilares do romantismo, ambos são escritos em Lá Menor, etc.
O experiente pianista e condutor Howard Shelley (seria um descendente do poeta inglês Percy Shelley?) faz algumas travessuras por aqui, os mais puristas vão ficar de cabelos em pé. Afinal, para que mais do mesmo? Vamos mudar algumas coisas por aqui. Então foi lá e alterou radicalmente os tempos do Concerto de Schumann, parece que está com pressa de chegar em algum lugar, tipo, vamos acabar isso logo, tenho hora no dentista.
Mas estamos em pleno século XXI então vamos curtir novidades, mesmo em um repertório tão batido e gravado. E vamos dar voz a quem entende do assunto, a saber, a revista britânica Grammophone:
What a good idea to add to that favourite among LP couplings Saint-Saëns’s most Bachian concerto, No 2. And the pleasure doesn’t stop there. Howard Shelley is one of those musicians who quietly goes about his pianistic (and now conductorly) business without grabbing the limelight except for the odd award, but who is consistently impressive, unfailingly musical and only goes into the studio when he has something to say about a work. That is certainly the case here. It’s a particular delight to hear a reading of the Schumann as fleet and joyous as this one. These are intimate performances, an effect no doubt enhanced by the fact that Shelley directs from the piano. Intimate but also sharply characterised. And when virtuosity is required, Shelley provides it in spades. Take the finale of the Schumann: textures are wonderfully transparent, the dotted rhythms are perky and precise, and there are plenty of striking colours from the orchestra (which throughout the disc proves itself a fine ensemble, with some particularly outstanding wind-players). Shelley is just as persuasive in the Grieg, coaxing from the orchestra a real sense of narrative, some lovely oboe-playing and allowing the big tunes due space but never over-indulging them. The concerto’s irresistible yearning quality is well caught too, particularly in the central movement, where he is almost a match for Lipatti. Again, tempi are generally fleet, and Shelley pays attention both to the marcato marking of the finale and its folk tinges without overstatement. These are certainly performances to put alongside the classics.
Technically, the Saint-Saëns is an ideal vehicle for Shelley’s fingery kind of pianism and he is exceptional in the Allegro scherzando, the movement that out-Mendelssohns Mendelssohn. Again, the orchestra is utterly focused. The recorded quality here, as elsewhere, is exemplary.
Então, tá. E vamos ao que viemos.
01. Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affettuoso
02. Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo. Andantino grazioso
03. Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace
04. Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
05. Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
06. Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
07. Piano Concerto No. 2 in G Minor, op. 22 – 1 – Andante sostenuto
08. Piano Concerto No. 2 in G Minor, op. 22 – 2 – Allegro scherzando
09. Piano Concerto No. 2 in G Minor, op. 22 – 3 – Presto
Orchestra of Opera North
Howard Shelley – Piano & Conductor
Creio que estas duas obras que estou trazendo hoje são velhas conhecidas de todos. Quem nunca ouviu o ‘Amanhecer’ do Peer Gynt’, ou então a magnífica ‘Canção de Solveig’, uma das mais belas obras do compositor? E o que dizer do belíssimo Concerto para Piano?
Estou trazendo hoje uma versão meio que globalizada, bem recente.
– A Bergen Philharmonic Orchestra é norueguesa, e tem um detalhe interessante a destacar: é uma das mais antigas orquestra da atualidade, tendo sido fundada em 1765, ou seja, recém completou 250 anos de idade, e teve o próprio Edvard Grieg como seu diretor artístico.
– O condutor é o inglês Edward Gardner.
– O solista é o francês Jean-Efraim Bavouzet.
Detalhes como os nomes dos solistas e coros se encontram no booklet em pdf que segue em anexo.
Bergen Pikekor
Bergen Guttekor
Edvard Grieg Ungdomskor
Edvard Grieg Kor
Bergen Philharmonic Choir
Bergen Philharmonic Orchestra
Edward Gardner – Conductor
17. Piano Concerto in A Minor, Op. 16 I. Allegro molto moderato
18. Piano Concerto in A Minor, Op. 16 II. Adagio
19. Piano Concerto in A Minor, Op. 16 III. Allegro moderato molto e marcato
Jean-Efflam Bavouzet – Piano
Bergen Philharmonic Orchestra
Edward Gardner – Conductor