Mais um outono para a Rainha, e desta feita ela nos presenteia com gravações novas – tão novas, claro, quanto podem ser as de alguém tão avessa aos estúdios e afeita a dividir a ribalta com jovens colegas e os parceiros de sempre. Estas que ora lhes apresento foram feitas algumas semanas depois do seu octagésimo aniversário, em junho de 2021, no festival que Martha vem consolidando em Hamburgo e no qual desfruta do privilégio de selecionar a pinça o tradicional petit comité que tem garantido muito de sua longeva alegria em pisar palcos.
No que tange a Sua Majestade, o melhor que ela nos oferece nesses volumes são a leitura da sonata Op. 30 no. 3 de Beethoven, com Renaud Capuçon – seu mais frequente e afiado parceiro ao arco, nos últimos anos -, um ebuliente Segundo Concerto de Ludwig, e o belíssimo Trio de Mendelssohn, ao lado de Mischa Maisky e da über-diva Anne-Sophie Mutter. A família Margulis – Jura, Alissa e Natalia – traz um azeitadíssimo Trio “Fantasma” e um mui tocante “Canto dos Pássaros”, joia folclórica catalã posta em pauta por Pau Casals. O variado cardápio também inclui as “Canções e Danças da Morte” de Mussorgsky, com o ótimo baixo Michael Volle, e uma Sonata para dois pianos e percussão de Bartók para a qual a Rainha, que tanto a tocou com nosso Nelson Freire, convidou seu outro Nelson favorito, o compatriota Goerner. O melhor retrogosto, entretanto, não foi o que veio de dedos hermanos, e sim das diminutas mãos de Maria João em Schubert – que maravilhosos, os dois improvisos! – e da última apresentação pública de Nicholas Angelich, um brahmsiano que sempre honrou o grande hamburguense e fez da Segunda Sonata para viola e piano seu canto de cisne.
ooOoo
Uma breve nota: a partir de hoje, mudarei a maneira de compartilhar música com os leitores-ouvintes. Cansei de ver a pedra rolar tantas vezes morro abaixo. Não farei mais comentários. Que venham os tomates.
Disco 1
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sete Variações para violoncelo e piano sobre “Bei Männern, welche Liebe fühlen”, da ópera “Die Zauberflöte” de Wolfgang Amadeus Mozart, WoO 46
1 – Thema. Andante
2 – Variation I
3 – Variation II
4 – Variation III
5 – Variation IV
6 – Variation V: Si prenda il tempo un poco più vivace
7 – Variation VI. Adagio
8 – Variation VII. Allegro ma non troppo
Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich, piano
Das Três Sonatas para violino e piano, Op. 30:
Sonata no. 3 em Sol maior
9 – Allegro assai
10 – Tempo di Minuetto, ma molto moderato e grazioso
11 – Allegro vivace
Renaud Capuçon, violino
Martha Argerich, piano
Dos Dois Trios para piano, violino e violoncelo, Op. 70:
No. 1 em Ré maior, “Fantasma”
12 – Allegro vivace e con brio
13 – Largo assai ed espressivo
14 – Presto
Alissa Margulis, violino
Natalia Margulis, violoncelo
Jura Margulis, piano
Disco 2
Ludwig van BEETHOVEN
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Si bemol maior, Op. 19
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Rondo. Molto allegro
Martha Argerich, piano
Symphoniker Hamburg
Sylvain Cambreling, regência
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN-Bartholdy (1809-1847)
Trio para piano, violino e violoncelo no. 1 em Ré menor, Op. 49
4 – Molto allegro agitato
5 – Andante con moto tranquillo
6 – Scherzo: Leggiero e vivace
7 – Finale: Allegro assai appassionato
Anne-Sophie Mutter, violino
Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich, piano
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Das Duas Sonatas para clarinete e piano, Op. 120 (transcritas para viola e piano pelo compositor):
Sonata no. 2 em Mi bemol maior
8 – Allegro amabile
9 – Allegro appassionato
10 – Andante con moto – Allegro – Più tranquillo
Gérard Caussé, viola
Nicholas Angelich, piano
Disco 3
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Dos Improvisos para piano, D. 935 (Op. Posth. 142):
No. 2 em Lá bemol maior
1 – Allegretto
No. 3 em Si bemol maior, “Rosamunde”
2 – Andante
Sonata para piano em Lá maior, D. 664
3 – Allegro moderato
4 – Andante
5 – Allegro
Maria João Pires, piano
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Sonata para piano a quatro mãos em Dó maior, K. 521
6 – Allegro
7 – Andante
8 – Allegretto
Martha Argerich e Maria João Pires, piano
Disco 4
Pau CASALS i Defilló (1876-1973)
1 – El Cant dels Ocells, para violino, violoncelo e piano
Alissa Margulis, violino
Natalia Margulis, violoncelo
Jura Margulis, piano
Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
Suite Popular Espanhola, para violino e piano
2 – El Paño Moruno
3 – Nana
4 – Canción
5 – Polo
6 – Asturiana
7 – Jota
Tedi Papavrami, violino
Maki Okada, piano
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890)
Quinteto em Fá menor para dois violinos, viola, violoncelo e piano
8 – Molto moderato quasi lento – Allegro
9 – Lento, con molto sentimento
10 – Allegro non troppo ma con fuoco
Akiko Suwanai e Tedi Papavrami, violinos
Lyda Chen, viola
Alexander Kniazev, violoncelo
Evgeni Bozhanov, piano
Disco 5
Astor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
1 – Le Grand Tango
Gidon Kremer, violino
Georgijs Osokins, piano
Leonard BERNSTEIN (1918-1990)
Danças Sinfônicas de West Side Story, para dois pianos
2 – Prologue
3 – Somewhere
4 – Scherzo
5 – Mambo
6 – Cha-cha
7 – Meeting Scen
8 – Cool Fugue
9 – Rumble Track
10 – Finale
Anton Gerzenberg e Daniel Gerzenberg, pianos
Astor PIAZZOLLA
[Las] Estaciones Porteñas,para violino, violoncelo e piano
11 – Invierno Porteño
12 – Verano Porteño
13 – Otoño Porteño
14 – Primavera Porteña
Tedi Papavrami, violino
Eugene Lifschitz, violoncelo
Alexander Gurning, piano
Disco 6
Modest Petrovich MUSSORGSKY (1839-1881)
“Canções e Danças da Morte”
1 – Kolybel’naya [“Acalanto”]
2 – Serenada [Serenata]
3 – Trepak
4 – Polkovodets [“O Marechal de Campo”]
Michael Volle, baixo-barítono
Daniel Gerzenberg, piano
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Sonata para dois pianos e percussão, Sz 110
5 – Assai lento
6 – Lento, ma non troppo
7 – Allegro non troppo
Martha Argerich e Nelson Goerner, pianos
Alexej Gerassimez e Lukas Böhm, percussão
Arno Harutyuni BABAJANYAN (1921-1983)
Trio em Fá sustenido menor para violino, violoncelo e piano
8 – Largo – Allegro espressivo – Maestoso
9 – Andante
10 – Allegro vivace
Michael Guttman, violino
Jing Zhao, violoncelo
Elena Lisitsian, piano
Disco 7
Dmitri Dmitriyevich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Sonata em Ré menor para violoncelo e piano, Op. 40
1 – Allegro non troppo
2 – Allegro
3 – Largo
4 – Allegro
Mischa Maisky, violoncelo
Martha Argerich, piano
Sergei Sergeiyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Sonata em Ré maior para flauta e piano, Op. 94
5 – Moderato
6 – Presto – poco meno mosso
7 – Andante
8 – Allegro con brio – poco meno mosso
Susanne Barner, flauta
Martha Argerich, piano
Dmitri SHOSTAKOVICH
9 – Concertino em Lá menor para dois pianos, Op. 94
Martha Argerich e Lilya Zilberstein, pianos
Mieczysław WEINBERG (1919-1996)
Doze Miniaturas para flauta e piano, Op. 29
10 – Improvisação
11 – Arietta
12 – Burlesque
13 – Capriccio
14 – Noturno
15 – Valsa
16 – Ode
17 – Duo
18 – Étude
19 – Intermezzo
20 – Pastorale
Susanne Barner, flauta
Akane Sakai, piano
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IM-PER-DÍ-VEL !!!
Este é um daqueles discos da MoviePlay que são bastante bons. Ele não chega a ser um monumento, mas grudei nele. O repertório é excelente. Os quartetos são lindos, assim como o trio de Schumann. Em 1785, Mozart recebeu uma encomenda para três quartetos do editor Franz Anton Hoffmeister. Hoff achou que este quarteto, o K. 478, era muito difícil e que o público não o compraria, então ele liberou Mozart da obrigação de completar o conjunto. Nove meses depois, Mozart compôs um segundo quarteto para piano, o K. 493. O medo de Hoffmeister de que a obra fosse muito difícil para amadores foi confirmado por um artigo no Journal des Luxus und der Moden publicado em Weimar em junho de 1788. O artigo elogiou muito Mozart e sua obra, mas expressou consternação com as tentativas de amadores de executá-la. O Op. 16 de Beethoven parece ser um Quinteto. Então talvez a MoviePlay esteja louca, pra variar. Os dois primeiros trios para piano de Schumann foram escritos em sucessão próxima, apesar do grande intervalo entre os números de opus de suas obras. O segundo trio para piano, Op. 80, é mais efervescente e alegre do que o primeiro trio – o próprio compositor disse que ele causa uma “impressão mais amigável e imediata” do que seu antecessor. Excelente CD.

Excelente gravação. Velhinha mas boa. Das nove sinfonias compostas por Beethoven, seis estão na lista das minhas peças favoritas. São elas a 1, 3, 5, 6, 7 e 9. Entre estas seis, fazendo um refinamento, posso afirmar que as de número 3, 6, 9 são insuperáveis. Elas marcaram a minha existência em um dado momento. Talvez os acontecimentos singulares com as quais elas me marcaram, justifiquem a minha predileção. Neste CD fabuloso que ora posto sob a condução de Solti, encontramos três das seis sinfonias supra mencionadas – as de número 3, 5 e 7. É uma gravação primorosa como as peças de Beethoven merecem. Antes de postar, ouvir duas vezes. É música pura, plena, absoluta. Uma boa apreciação!










Muito bem, depois de um pequeno período de férias, no qual deixei o PQPBach matar saudades dos senhores, e vice-versa, estou trazendo os três últimos cds desta ótima coleção das sonatas para piano de Beethoven. E aqui só tem petardo, começando com a “Waldstein”, passando pela “Appassionata”, e “Hammerklavier”, entre outras obras primas do repertório. São obras consolidadas, definitivas. Não precisam de apresentação, verdadeiros tour-de-force para os intérpretes. E Brautigam é um senhor pianista,com certeza um dos grandes nomes do instrumento neste novo século, e todas suas recentes gravações são de primeira linha, sem dúvidas.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Violino, Op. 61 (Perlman / Giulini)
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Violino, Op. 61 / Benjamin Britten (1913-1976): Concerto para Violino, Op. 15 (Jansen / Järvi)







Há grandes admiradores desta Missa, mas não é uma obra que eu aprecie demais. Isto importa? Claro que não! Sempre li que as gravações da Missa Solemnis eram categorizadas sem meio termo. Há as ótimas e as outras — de alguma forma falhas. Agora, haveria talvez uma dúzia de ótimas. Fala-se que o campeão seria David Zinman e que esta versão de Kenneth Schermerhorn estaria também lá no topo, o que é sensacional. O que seria o “ótimo”? Ora, que seja uma gravação estimulante, inspiradora, abastecida com alto talento musical e precisão. As forças de Nashville estão à altura das temíveis demandas da obra e, para elas e Schermerhorn (discípulo de Bernstein e maestro da orquestra por 20 anos), a gravação poderia ser considerada uma conquista. Certamente, uma das características mais satisfatórias da performance se enquadra na escolha dos andamentos e dos fraseados. Ouvi verdadeiro virtuosismo nas passagens com ritmos intrincados, como a fuga “Et vitam venturi”, onde a composição de Beethoven dança com total audácia. Os solistas também estão à altura das gravações europeias mais estreladas. Recomendo.
Este é um disco que eu recolhi lá do fundo da minha coleção. Nem lembrava mais dele, mas, ao colocá-lo para rodar, revelou-se bom. A eslovaca Sylvia Čápová-Vizváry é muito competente e estas famosas Sonatas de Ludovico são indiscutíveis. Sylvia tem poesia, paixão, drama e bravura, tudo o que queremos nesse repertório. Aposto que vocês não sabem o que é uma Sonata. Na origem do termo, Sonata (do latim sonare) era a música feita para soar, ou seja, a música instrumental − em oposição à cantata, a música cantada. Sonata / Cantata, OK? Depois, tornou-se um tipo de composição musical para um único instrumento ou para pequeno conjunto. Normalmente, a sonata é dividida em três partes. No Barroco, as sonatas eram compostas principalmente para solistas acompanhados de baixo contínuo, que era o cravo com a mão esquerda, às vezes reforçada por uma viola da gamba. Agora, vocês bem o que é gamba? Não é uma variedade de gambá. E não tem nada a ver com o gambito da rainha, acho. Pesquisem, eu não sei jogar xadrez.



















O nome de Rafael Kubelik é garantia de qualidade e durabilidade. Ele não deforma, não tem cheiro e não solta as tiras. E quando ele pega um boêmio a coisa se torna realmente linda. É uma gravação de referência para a Nona de Dvořák. A Nona Sinfonia foi escrita em 1892 no período em que o compositor estava nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que estava encantado com o novo lugar sentia saudades de sua terra. Essa confusão pra lá de fingida aparece neste Op. 95 quando temas norte-americanos dialogam com eslavos e a obra ganha um tom trágico. A obra estreou em 1893 no Carnegie Hall de Nova York em comemoração ao aniversário da conquista do novo mundo, fato que deu nome à obra. Já a transcrição de quarteto de cordas para orquestra do Fugão de Beethoven é desnecessária. Ouça a versão original e estamos conversados.

Haitink gravou 4 vezes a Nona de Beethoven. Cada uma tem seus prós e contras. O “contra” deste CD é o som um pouco distante, os prós são o resto. Bem, mais ou menos. Pois, atenção: é uma versão contida, dentro do padrão e sem grandes voos. Trata-se de uma gravação ao vivo, de um dia em que Haitink resolveu fazer tudo certinho. Então, quando quero “ouvir com gosto” uma Nona, pego Böhm ou outro daqueles sensacionais — quase sempre pego Böhm, Wand, Fricsay ou Barenboim, os melhores. Mas quando quero mostrar a Nona, trago essa, pois é uma espécie de gravação padrão, sem polêmicas.
O Beethoven de Harnoncourt sempre é considerado uma experiência emocionante, polêmica e distinta — e este conjunto de aberturas não é diferente. Isto é pura excitação com uma execução verdadeiramente fora deste mundo, especialmente nas transições da “escuridão para a luz” das aberturas Leonora e do maravilhoso “Egmont”, sempre um dos meus favoritos. “As Criaturas de Prometeus” também é muito interessante porque incorpora algumas músicas do próprio balé, enquanto “Coriolano” está repleto de tanto drama e tensão quanto se poderia esperar do mestre austríaco. Porém, na abertura campeã “Coriolano”, Carlos Kleiber permanece imbatível no pódio. Essas gravações estão disponíveis de uma forma ou de outra há vários anos, então, há várias capas para o mesmo disco.







IM-PER-DÍ-VEL !!!

IM-PER-DÍ-VEL !!!




José Eduardo D’Elboux é um pequepiano. Volta e meia ele comenta algum post, está sempre por aí. Há poucos anos, ele me mandou este CD que eu ouvi e deixei de lado por estar passando uma fase meio anti-rock progressivo. Mas hoje o peguei gostei muito do que ouvi. Os clientes da 