BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Serenata para flauta e piano, Op. 41 – Sonata para flauta e piano, Ahn. 4 – Rampal

Esse disco é quase todo composto por obras de associação pelo menos oblíqua com Beethoven. A serenata para flauta e piano, Op. 41, é uma adaptação da obra homônima para flauta, violino e viola, Op. 25. Embora tenha sido aprovado e corrigido pelo compositor, o arranjo foi provavelmente realizado por terceiros e publicado, sem surpresa, pela desesperada necessidade de dinheiro que se seguiu à infernal temporada em Heiligenstadt. A sonata em Si bemol, Anh. 4, foi encontrada em manuscrito de punho alheio entre os papeis do compositor, depois de sua morte. Os flautistas saudaram a descoberta e, renegados que foram pelo compositor, acabaram por incorporá-la a seu repertório. Os estudiosos, entretanto, nunca tiveram muita certeza de sua autenticidade e atribuiram-lhe um lugar pouco honroso no apêndice (Anhang), e não no rol principal do catálogo Kinsky-Halm. Os editores tampouco lhe deram muito crédito, de maneira que a simpática obra só encontrou a prensa em 1906, cento e dez anos depois de sua composição. Os minúsculos Allegro e Minueto para duas flautas, pelo contrário, são indubitavelmente criações de Beethoven, e inclusive carregam uma dedicatória a um seu amigo, J. M. Degenhart, que era flautista amador. E eu adoraria lhes afirmar que o melífluo trio para flautas que encerra o disco é obra autêntica, mas não lhes sei mentir: ela é considerada espúria e foi aqui incluída porque o artista que o estreou foi o mesmo que adquiriu o manuscrito e que aqui está a executá-la para vocês, e não seremos nós a dizer “não” para Jean-Pierre Rampal, né?

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Serenata em Ré maior para flauta e piano, Op. 41
Arranjo da serenata para flauta, viola e violoncelo, Op. 25
Publicada em 1803

1 – Entrata. Allegro
2 – Tempo ordinario d’un Menuetto
3 – Allegro molto
4 – Andante con Variazioni
5 – Allegro, scherzando e vivace
6 – Adagio
7 – Allegro vivace

Jean-Pierre Rampal, flauta
Robert Veyron-Lacroix, piano

Allegro e minueto em Sol maior para duas flautas, WoO 26
Compostos em 1796
Publicados em 1901
Dedicados a J. M. Degenhart

8 – Allegro con brio
9 – Minuetto quasi allegro

Jean-Pierre Rampal e Alain Marion, flautas

Sonata em Si bemol maior para flauta e piano, Anh. 4
Composta provavelmente entre 1796-98
Publicada em 1906

10 – Allegro
11 – Polacca
12 – Largo
13 – Thema mit variationen: Allegretto

Jean-Pierre Rampal, flauta
Robert Veyron-Lacroix, piano

Trio em Sol maior para três flautas (espúrio)

14 – Allegro
15 – Andante
16 – Rondo: allegretto

Jean-Pierre Rampal, Christian Larde e Alain Marion, flautas

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Uma trilha-bônus: Rampal toca o Romance em Fá maior de Beethoven, originalmente para violino e orquestra, num arranjo que jamais ouvira para flauta e piano. A pianista é Annie D’Arco

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (9/9) #BTHVN250

Kovacevich encerra sua travessia com uma leitura elétrica das três últimas, visionárias sonatas. Quando parece que não lhe vai mais sobrar energia depois da fuga do final da Op. 110, ele começa a Op. 111 com toda pilha, cantarolando com o mesmo vigor com que toca – percebam que ele fica ultra-alegre cada vez que ataca os baixos -, e quem o acompanhou até aqui sabe o que esperar das variações que coroam toda série: brilho e expressividade, incluindo um proto-jazz especialmente pirotécnico.

O que vocês talvez não saibam é que a Warner, aquela marota distribuidora que tragou Philips e EMI e com elas o próprio Kovacevich, colocou bizarramente esta sonata sozinha no nono disco, fazendo-a – o que é ainda mais bizarro – seguir-se com as duas séries de bagatelas Opp. 119 e 126. Como nós adoramos Beethoven e sabemos o poder do Op. 111, transplantamos as “ninharias” para o disco anterior, deixando-as na mesma jaula da feroz Hammerklavier. Afinal de contas, nós lemos Thomas Mann, seu “Doutor Fausto” e, por termos aprendido a famosa lição do professor Kretzschmar, sabemos a única coisa que se pode seguir a seu segundo movimento…

“Um terceiro movimento? Um reinício depois desse adeus? Impossível! Acontecera que a sonata no segundo, no imenso segundo movimento, havia alcançado seu fim, um fim sem nenhum retorno. E, ao referir-se ‘à sonata’, não pensava apenas nessa, em dó menor, e sim na Sonata em si, na forma, no gênero artístico tradicional: ela mesma tinha sido levada ao seu término, cumprira seu destino, além do qual não existia caminho, anulara-se e dissolvera-se, despedira-se; o aceno de adeus, dado pelo motivo de ré-sol-sol, melodicamente consolado pelo dó sustenido, era despedida também nesse sentido, despedida grande como a peça, despedida da Sonata.”

… o silêncio, tão só.

ooOoo

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Mi maior, Op. 109
Composta em 1820
Publicada em 1821
Dedicada a Maximiliane Brentano

1 – Vivace ma non troppo – Adagio espressivo
2 – Prestissimo
3 – Andante – molto cantabile ed espressivo
4 – Var. I – Molto espressivo
5 – Var. II – Leggermente
6 – Var. III – Allegro vivace
7 – Var. IV – Un poco meno andante
8 – Var. V – Allegro ma non troppo
9 – Var. VI – Tempo I del tema

Sonata para piano em Lá bemol maior, Op. 110
Composta em 1821
Publicada em 1822

10 – Moderato cantabile – Molto espressivo
11 – Allegro molto
12 – Adagio ma non troppo
13 – Adagio, ma non troppo – Arioso
14 – Fuga – Allegro ma non troppo
15 – L’istesso tempo di arioso
16 – L’istesso tempo della Fuga poi a poi di nuovo vivente

Sonata para piano em Dó menor, Op. 111
Composta em 1821-22
Publicada em 1823
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustra

17 – Maestoso – Allegro con brio ed appassionato
18 – Arietta – Adagio molto semplice e cantabile

Stephen Kovacevich, piano

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Retrato de família: Marthinha (com cara de quem preferia estar com seus gatos) e Stephen com sua filha, Stéphanie. A moça à direita, praticamente uma releitura asiática de Martha, é sua filha, a violista Lyda Chen-Argerich.

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (8/9) #BTHVN250

Embora recomende a qualquer pessoa que me inquira acerca da qualidade desta ou daquela integral de Beethoven a técnica certeira do patrão PQP Bach – ouvir a Waldstein e dela tirar a medida do restante -, eu próprio não resisto e começo minha audição sempre pela descabelante Hammerklavier. Admito que haja mesmo algo de Schadenfreude a me impelir ao costume, e que desfrutar de três quartos de hora testemunhando os melhores pianistas do mundo a sangrarem as unhas, as juntas e as ventas para parir esta criatura horrendamente complicada seja um petisco sádico a nutrir a inveja medíocre do tocadordepiano que sempre fui e serei, incapaz de tocar a colossal ultrassonata mesmo que dispusesse de dois telencéfalos e cinquenta e cinco dedos. Quando o pianista a termina vivo e a criatura tem boa forma no redentor si bemol final, eu então recolho minha inveja e passo ao restante da integral.


Aw,yea

Informo-lhes, pois, que depois de dar à luz sua Hammerklavier, Stephen Kovacevich passa muito bem. Sua leitura parece dar-se sem esforço, sublinhando certos padrões rítmicos e melódicos que nunca tinha percebido (reflexo, talvez, do meu apetite por Schadenfreude). O Adagio sostenuto, cerne da obra, tem aqui uma qualidade mais terrena do que a diafaneidade usual e parece desembocar naturalmente na introdução da imensa fuga “com algumas licenças” que a encerra. O disco terminava originalmente com a sonata Op. 110, mas eu achei por bem, e por motivos que exporei na postagem seguinte, subverter a ordem proposta pela Warner e colocar as bagatelas aqui, como diminutos poslúdios para a feroz mastodonta.

Julguem-me.

Ludwig van BEETHOVEN
 (1770-1827)

Grande Sonata para piano em Si bemol maior, Op. 106, “Hammerklavier”
Composta entre 1817-18
Publicada em 1819
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustria

1 – Allegro
2 – Scherzo: Assai vivace
3 – Adagio sostenuto
4 – Introduzione: Largo – Allegro – Fuga: Allegro risoluto

Onze novas bagatelas para piano, Op. 119
Compostas entre 1820-1822
Nos. 7-11 publicadas no tratado de piano de F. Starke em 1821
Coleção completa publicada em 1823

05 – Allegretto
06 – Andante con moto
07 – A l’Allemande
08 – Andante cantabile
09 – Risoluto
10 – Andante — Allegretto
11 – Allegro, ma non troppo
12 – Moderato cantabile
13 – Vivace moderato
14 – Allegramente
15 – Andante, ma non troppo

Seis bagatelas para piano, Op. 126
Compostas em 1824
Publicadas em 1825

16 – Andante con moto, cantabile e compiacevole
17 – Allegro
18 – Andante, cantabile e grazioso
19 – Presto
20 – Quasi allegretto
21 – Presto – Andante amabile e con moto

Stephen Kovacevich, piano

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“La reputissima madre, Esteban, ¿qué estás a hacer?”

Vassily

Beethoven (1770-1827): Trios com clarinete ∞ Eric Le Sage – Paul Meyer – Claudio Bohórquez ֍ BTHVN250

Beethoven (1770-1827): Trios com clarinete ∞ Eric Le Sage – Paul Meyer – Claudio Bohórquez ֍ BTHVN250

LvB

Trios com clarinete, Op. 11 e Op. 38

Eric Le Sage

Paul Meyer, clarinete

Claudio Bohórquez, violoncelo

 

Hoje faz um dia espetacular, daqueles de não se esquecer. O céu que eu vejo daqui é azul de cinema e apesar de fazer calor, a sensação de estar aqui, no meio desta tarde, é deliciosa. Uma tarde como esta merece música agradável, bonita, leve de coração e com sons luminosos. Assim, vamos com este lindo disco que estou ouvindo, repleto dos dois trios com clarinete que Beethoven compôs. O grande Ludovico que continua a ser homenageado aqui e também sabia agradar as a suas diferentes audiências, mandando sobre elas alguns lindos sopros de alegria.

Nas circunstâncias que vivemos, perguntas como ‘O que realmente é essencial para você?’ ganham uma profundidade e uma dimensão tamanha que em raríssimas outras vezes teremos oportunidade de medir e avaliar tão clara e verdadeiramente. Assim, um pouco de leveza é bem-vinda.

O Trio para piano, clarinete (ou violino) e violoncelo em si bemol maior, Op. 11 é de 1798 e ganhou o apelido ‘Gassenhauer Trio’. O nome explica a popularidade da obra. Há um movimento com nove variações sobre um tema do dramma giocoso ‘L’amor marinaro ossia il corsaro’, de Joseph Weigl. A ‘Pria ch’io l’impegno’ é uma daquelas melodias que gruda na nossa mente. Daí o ‘Gassenhauer’, que é uma melodia ou canção tão popular que se pode ouvir pela rua (Gasse).

A outra obra do álbum é o Septeto Op. 20 travestido de Trio para piano, clarinete e violoncelo. Arranjos de obras populares para diferentes combinações (em geral com menos instrumentos) era comum e permitia maior circulação da obra. Esses arranjos nem sempre eram feitos pelo próprio compositor, mas aqui foi o próprio Beethoven que fez o arranjo e até o publicou com distinto número de opus.

Paul, Claudio e Eric ensaiando as variações sobre ‘Pria ch’io l’impegno’

Os intérpretes deste álbum são excelentes músicos e estão especialmente à vontade interpretando música de câmera. O disco faz parte de uma série chamada ‘Salon de musique’, lançada pelo selo Alpha, com gravações de artistas que participaram do Festival do Salon de Provence. O pianista Eric le Sage, que deverá aparecer por aqui mais vezes, juntou-se ao clarinetista Paul Meyer e ao violoncelista Cláudio Bohórquez para produzirem esse lindo álbum.

Antes de seguirmos para os finalmentes, uma das coisas que eu gosto de fazer, de vez em quando, é ouvir música acompanhando com a partitura. Eu garanto que, para fazer isto, você não precisa saber ler música. Coloque a música para tocar, abra a partitura e siga o ‘gráfico’. É impressionante como isto pode ser divertido.

Como em tudo na vida, começar com exemplos mais simples é a melhor maneira. Deixaremos as sinfonias de Mahler para depois.

Coloquei a partitura (em pdf) de cada um dos trios nos arquivos, flac pu mp3, segundo sua preferência, e você poderá fazer uma experiência.

Se você abrir os tais pdfs, verá cinco pautas nas quais a música estará disposta. Olhando de cima para baixo, as duas primeiras estarão com as notas a serem tocadas pelo violino ou pelo clarinete, já que um ou outro instrumento pode ser usado. No nosso caso, então, considere a partir da segunda pauta. Logo a baixo virá a pauta do violoncelo. Claro, estará indicado lá, no início de tudo, só estou falando…  Abaixo disto há duas pautas, que contêm as notas a serem tocadas pelo piano. O exibido instrumento precisa de duas pautas… Algumas peças (de Debussy, por exemplo, usam até três…). Além disso, as notas do piano parecem maiores, acho que os pianistas são meio ceguetas.

Mas aqui vai a minha sugestão: tente acompanhar, inicialmente, a melodia do clarinete. Isso o ajudará a não se perder, se você ainda não tem muita experiência neste tipo de coisa. E não se envergonhe de eventualmente usar o controle remoto para recomeçar a música, em caso de se perder completamente. Ah, uma última dica: os movimentos lentos são mais fáceis.

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Trio para piano, clarinete e violoncelo em si bemol maior, Op. 11 – ‘Gassenhauer’
  1. Allegro con brio
  2. Adagio
  3. Tema con variazioni
Trio para piano, clarinete e violoncelo em mi bemol maior, Op. 38 (Arr. do Septeto Op. 20)
  1. Adagio – Allegro con brio
  2. Adagio cantabile
  3. Tempo di menuetto
  4. Tema con variazioni. Andante
  5. Allegro molto e vivace – Trio
  6. Andante con moto, alla marcia – Presto

Eric Le Sage, piano

Paul Meyer, clarinete

Claudio Bohórquez, violoncelo

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FLAC | 245 MB

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MP3 | 320 KBPS | 146 MB

Eric Le Sage

Depois me contem, se a sugestão de perseguir a música na partitura foi boa, se você já fazia isto e se gostou do disco. Ande, use o link ‘LEAVE A COMMENT’ que está lá no início, bem abaixo do cabeçalho.

Aproveite!

René Denon

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (7/9) #BTHVN250

Quanto mais visionárias vão-se tornando as sonatas, mais canoro fica Kovacevich. Nah, nada que se compare a Glenn Gould, o paladino do sing-along pianístico, mas deve realmente haver algo na Les Adieux que atice seu uirapuru laríngeo. Sua leitura, bocca chiusa à parte, é excelente para essa trinca de obras da transição para o derradeiro período criativo do mestre. Aprecio demais sua abordagem muito expressiva de toda Op. 81a, com um finale muito assertivo, e o quanto ele espreme de sumo da tão concisa Op. 90, cujo segundo movimento, sob suas mãos, tornou-se um dos mais singbar que conheço. A chave dourada fica com a Op. 101, uma de minhas – já que tirei o dia para abusar dos estrangeirismos – top 3 nesta série de Kovacevich. Sua maestria ao lidar com a tensão criada pelos vários clímaxes dessa peça magistral, que com pianistas menos competentes se torna desconexa, prepara admiravelmente o ouvinte para o maravilhoso movimento final, aquela inesquecível apoteose do contraponto.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Mi bemol maior, Op. 81a, “Les Adieux”
Composta entre 1809-10
Publicada em 1811
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustria

1 – Das Lebewohl (Les Adieux): Adagio – Allegro
2 – Abwesenheit (L’Absence): Andante espressivo (In gehender Bewegung, doch mit viel Ausdruck)
3 – Das Wiedersehen (Le Retour): Vivacissimamente (Im lebhaftesten Zeitmaße)

Sonata para piano em Mi menor, Op. 90
Composta em 1814
Publicada em 1815
Dedicada ao príncipe Moritz von Lichnowsky

4 – Mit Lebhaftigkeit und durchaus mit Empfindung und Ausdruck
5 – Nicht zu geschwind und sehr singbar vorgetragen

Sonata para piano em Lá maior, Op. 101
Composta em 1816
Publicada em 1817
Dedicada à baronesa Dorothea Ertmann

6 – Etwas lebhaft, und mit der innigsten Empfindung. Allegretto, ma non troppo
7 – Lebhaft, marschmäßig. Vivace alla marcia
8 – Langsam und sehnsuchtsvoll. Adagio, ma non troppo, con affetto
9 – Geschwind, doch nicht zu sehr, und mit Entschlossenheit. Allegro

Stephen Kovacevich, piano

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– And then you…
– Yo lo sé, Esteban. Yo lo sé.

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (6/9) #BTHVN250

Como faço desde que conheci o patrão PQP – e sim, eu repito cada vez que posto as sonatas de Beethoven – sempre que quero ter uma ideia sobre como um pianista se sairá numa integral, vou direto na “Waldstein”. Não tem erro: como bem atesta PQP, quem se sai bem na “Waldstein” – com suas imensas dificuldades técnicas e outras tantas, e ainda maiores, interpretativas – tem tudo para se sair bem nas demais.

Kovacevich, claro, sai-se muito bem. Estranhei um pouco a pedalização do Allegro con brio, acostumado que estou às escalas mais staccato, mas depois entendi que tudo é preparação para o portento do rondó final, absolutamente eletrizante. O próprio pianista parece concordar, de tanto que cantarola junto – embora pouco se escute de suas manias canoras na tonitruante Appassionata, e olhem que ele canta alto. Espremida entre as duas gigantes, a singela sonata Op. 52 recebe um pouco mais de gravidade que a que lhe dão de costume. No final, ouve-se a pequenina e genial Op. 78 com todo o garbo que ela merece, obra-prima que é – e até para a Op. 79, coitadinha, a sonatina que vem para encerrar essa função toda, sobra uma energia que simplesmente a faz parecer suspensa e inconclusa em seu abrupto final.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Dó maior, Op. 53, “Waldstein”
Composta entre 1803-4
Publicada em 1805
Dedicada ao conde Ferdinand von Waldstein

01 – Allegro con brio
02 – Introduzione: Adagio molto
03 – Rondo: Allegretto moderato

Sonata para piano em Fá maior, Op. 54
Composta em 1802
Publicada em 1804

04 – In tempo d’un menuetto
05 – Allegretto

Sonata para piano em Fá menor, Op. 57, “Appassionata”
Composta entre 1804-5
Publicada em 1807
Dedicada ao conde Franz von Brunsvik

06 – Allegro assai
07 – Andante con moto
08 – Allegro ma non troppo

Sonata para piano em Fá sustenido maior, Op. 78
Composta em 1809
Publicada em 1810
Dedicada a Therese von Brunsvik

09 – Adagio cantabile
10 – Allegro vivace

Sonata para piano em Sol maior, Op. 79
Composta em 1809
Publicada em 1810

11 – Presto alla tedesca
12 – Andante
13 – Vivace

Stephen Kovacevich, piano

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Stephen e Marthinha, nos tempos em que suas escovas de dentes dormiam juntas.

Vassily

 

BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Konzert für Klavier, Violine, Violoncello un Orchester, C Dur op. 56 – Johannes Brahms (1833-1897) – Konzert für Violine, Violoncello und Orchester, A moll op 102 – “Doppelkonzert” – Anda, Schneiderhan, Fournier, Fricsay BRSO

Link renovado de uma postagem lá de 2013. Com certeza este é um dos melhores cds que já foram postados aqui no PQPBach. Ouçam e tirem suas conclusões. Dream Team é esse aqui, com o perdão do outro Dream Team citado abaixo. 

Não exagero quando digo que este é um dos melhores cds de meu acervo, e de que esta é a melhor gravação que foi realizada destes concertos. Nem a gravação de Karajan com Oistrakh, Rostropovich e Richter a supera, para o concerto triplo. Szell com Oistrakh e Rostropovich talvez venha a se equivaler a  Starker, Schnaiderhan e Fricsay. Em outras palavras, uma batalha de gigantes, em que felizmente não há necessidade de vencedores, ou melhor, o vencedor, neste caso, somos nós, reles mortais, que temos a oportunidade de ouvir isso, mais de cinquenta anos depois de sua gravação.
Talvez enquanto músicos, Géza Anda, Wolfgang Schnaiderhan, Janos Starker e Pierre Fournier não tenham alcançado a mesma estatura dos três gigantes anteriormente citados, mas o que os une, o alfaiate que os liga com um fio de ouro sem dúvida é Ferenc Fricsay, o genial maestro húngaro, precocemente falecido com meros 49 anos de idade, um ano a mais do que tenho hoje, e que realizou excelentes gravações como esse tesouro que vos trago.
Nem preciso dizer que é IM-PER-DÍ-VEL !!! e obrigatório em seus acervos.

01 – Concerto for piano, violin, cello & orchestra in C major (‘Triple Concerto’) – 1. Allegro
02 – 2. Largo, attaca
03 – 3. Rondo Alla Pollaca

Géza Anda – Piano
Wolfgang Schnaiderhan – Violin
Pierre Fournier – Cello

04 – Concerto for violin, cello & orchestra in A minor (‘Double’), Op. 102 – 1. Allegro
05 – 2. Andante
06 – 3. Vivace non troppo

Wolfgang Schnaiderhan – Violin
Janos Starker – Cello
Radio-Symphonie-Orchester Berlin
Ferenc Fricsay – Conductor

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Fricsay
Qual seria o segredo de Ferenc Fricsay para transformar o que é belo em algo ainda mais belo?

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (5/9) #BTHVN250


A integral de Kovacevich mostra, entre tantas qualidades suas, a habilidade de adaptar-se à ampla gama de demandas estilísticas e timbrísticas dessas obras compostas ao longo de quase trinta anos de imensas transformações para o compositor, para a Música e para o mundo. No Op. 31, que considero as primeiras obras-primas consumadas de Beethoven para o teclado, Kovacevich combina a agilidade e sutileza de toque com que coloriu as primeiras sonatas com a admirável atenção ao detalhe, sem perder a concepção do todo, que ficará cada vez mais em evidência enquanto a série progride. As três sonatas, tão diferentes entre si, e cada qual revolucionária na elaboração do material temático e na maneira com que espreme aos limites a sonata-forma, são lidas como um conjunto, e não como um punhado de peças características, como seus apelidos apócrifos insistem sugerir. Assim, sua “Tempestade”, com seus meio-pianos e meio-fortes murmurados, é lindamente coesa e une-se com harmonia à uma “Caça” mais serena que impetuosa. Sem dúvidas, é uma de minhas leituras preferidas para algumas das mais cruciais obras do renano genial.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Três sonatas para piano, Op. 31
Compostas em 1802
Publicadas em 1803

No. 1 em Sol maior
1 – Allegro vivace
2 – Adagio grazioso
3 – Rondo – Allegretto – Adagio – Presto

No. 2 em Ré menor, “Tempestade”
4 – Largo – Allegro
5-  Adagio
6 – Allegretto

No. 3 em Mi bemol maior
7 – Allegro
8 – Scherzo – Allegretto vivace
9 – Menuetto – Moderato e grazioso
10 – Presto con fuoco

Duas sonatas para piano, Op. 49
Publicadas em 1805

No. 1 em Sol menor
Composta em 1797
11 –  Andante
12 – Rondo: Allegro

No. 2 em Sol maior
Composta entre 1795-1796
13 –  Allegro ma non troppo
14 – Tempo di Menuetto

Stephen Kovacevich, piano

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Sim, foram casados e tiveram uma filha – e, como sói acontecer entre Marthinha e seus ex-maridos, continuam a colaborar artisticamente.

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (4/9) #BTHVN250

É muito incomum escutarmos este notável quarteto de sonatas, compostas e publicadas ao longo de meros dois anos, todo num só disco. E, ainda que não se possa dizer que as Opp. 26-28 formem um ciclo, elas são sem qualquer dúvida o melhor exemplo do “estado da arte” de Beethoven naquela virada de século, um compêndio de seus muitos recursos e capacidade criativa, pelo menos naquele que sempre foi lhe foi o mais natural e experimental dos meios: o teclado do piano.

Admito que prefiro escutar essas obras com um pouquinho mais de, chamemo-lo assim, colorido timbrístico – especialmente as variações de abertura da Op. 26 ou os movimentos rápidos das sonatas-quase-fantasias. Ainda assim, a abordagem surpreendemente austera de Kovacevich empresta equilíbrio e uniformidade ao conjunto. Nunca senti a Op. 26 e a Op. 27 no. 1 tão próximas, mesmo que tenham sido publicadas em sequência: apesar de terem estruturas muito diferentes, pela primeira vez escutei ecos da Marcha Fúnebre da primeira em vários episódios da segunda. A Op. 27 no. 2 abre com um Adagio sostenuto sem açúcares, como se improvisado fosse, o que é fundamental para que o Allegretto e o Presto que se seguem tenham tanto grande efeito. Por fim, a Pastoral, que habitualmente surge como um posfácio bucólico a alguma sonata impetuosa como o finale da Luar, soa aqui despojada, quase austera, mas jamais frígida – e nunca ouvi antes, com tanta clareza, os bordões nos baixos que lhe deram o nome. Quando o disco terminou, ficou-me uma sensação de que não poderia haver variedade e contraste maiores entre seus tantos movimentos e que o “Estado da Arte” do Beethoven de trinta anos não poderia ter sido melhor apresentado – a preparação perfeita, penso eu, para as liberdades formais que ele tomaria a partir da magnífica trinca do Op. 31, que ouviremos amanhã.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Lá bemol maior, Op. 26, “Marcha fúnebre”
Composta entre 1800-1801
Publicada em 1801
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

1 – Andante con variazioni
2 – Variazione I
3 – Variazione II
4 – Variazione III
5 – Variazione IV
6 – Variazione V
7 – Scherzo, allegro molto
8 – Maestoso andante, marcia funebre sulla morte d’un eroe
9 – Allegro

Duas sonatas para piano, Op. 27
Compostas em 1801

Publicadas separadamente em 1802

Sonata “quasi una fantasia” no. 1 em Mi bemol maior
Dedicada à princesa Josephine von Liechtenstein

10 – Andante – Allegro – Andante – attacca:
11 – Allegro molto e vivace – attacca:
12 – Adagio con espressione – attacca:
13 – Allegro vivace

Sonata “quasi una fantasia” no. 2 em Dó sustenido menor, “Ao Luar”
Dedicada à condessa Giulietta Guicciardi

14 – Adagio sostenuto
15 – Allegretto
16 – Presto agitato

Sonata para piano em Ré maior, Op. 28, “Pastoral”
Composta em 1800-1801
Publicada em 1801
Dedicada ao conde Joseph von Sonnenfels

17 – Allegro
18 – Andante
19 – Scherzo. Allegro vivace
20 – Rondo. Allegro ma non troppo

Stephen Kovacevich, piano

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Já estava achando que Kovacevich só mostrasse o lado direito do rosto – mas a mania, pelo jeito, é só do Julio Iglesias

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (3/9) #BTHVN250

As quatro sonatas desse volume, compostas ao longo de dois anos, ilustram muito bem a evolução de Beethoven no sentido duma linguagem altamente pessoal. Adoro a maneira com que Kovacevich, cujo estilo já foi chamado de “muscular”, torna a “Patética” uma sonata clássica que ela é na essência, sem contrastes excessivos ou ruminações no primeiro movimento. Nada disso faria sentido se ele pegasse pesado com a glicose no Adagio cantabile, mas não é isso o que acontece: ele soa tão fresco como se estivesse a ser improvisado, o que torna a clareza do rondó final, normalmente tão túrbido sob outras mãos, a única continuação possível. As duas curtas sonatas do Op. 14 recebem o mesmo tratamento de clara limpidez, e a pouco conhecida Sonata Op. 22, talvez a última delas em estilo clássico, acaba por se tornar a peça crucial do disco: equilibrada sem ser monótona, com o fabuloso controle dinâmico de Kovacevich fazendo-nos perguntar por que o lindo Adagio con molta espressione não é mais ouvido por nós outros, que tanto dizemos gostar de Beethoven.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Dó menor, Op. 13, “Patética”
Composta em 1798
Publicada em 1799
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

1 – Grave – Allegro di molto e con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Rondo: Allegro

Duas sonatas para piano, Op. 14
Compostas em 1798-1799
Publicadas em 1799
Dedicadas à baronesa Josefa von Braun

No. 1 em Mi maior
5 – Allegro
6 – Allegretto – Trio
7 – Rondo. Allegro comodo

No. 2 em Sol maior
8 – Allegro
9 – Andante
10 – Scherzo. Allegro assai

Grande Sonata para piano em Si bemol maior, Op. 22
Composta em 1800
Publicada em 1802
Dedicada ao conde Johann Georg von Browne

11 – Allegro con brio
12 – Adagio con molta espressione
13 – Menuetto
14 – Rondo: Allegretto

Stephen Kovacevich, piano

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“E aí, Jackie, eu mostrei essa foto pro barbeiro e disse ‘esses são os Três Patetas, o do meio é o Moe e eu quero meu cabelo assim'”

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (2/9) #BTHVN250

Uma Grande Sonata com muito grandor, sem pretensiosas pompas, e numa abordagem ao teclado notavelmente diferente daquela que ouvimos no primeiro disco da série, sublinhando com clareza a intenção de Beethoven de dar as costas aos modelos haydnianos e declarar com seu Op. 7 que seus horizontes pianísticos eram muito diferentes; e uma leitura extraordinária das sonatas do Op. 10, em que o gravitas, normalmente concentrado na terceira delas, e em particular em seu belíssimo Largo e mesto, está distribuído de maneira equânime ao longo da trinca, mostrando-as mais próximas de suas congêneres publicadas em 1802 (Opp. 26-28) do que da Patética, que viria a seguir:

Esse Kovacevich faz coisas, hein?

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Grande Sonata para piano em Mi bemol maior, Op. 7
Composta entre 1797-8
Publicada em 1798
Dedicada à condessa Babette von Keglevics

1 – Allegro molto e con brio
2 – Largo, con gran espressione
3 – Allegro
4 – Rondo: Poco allegretto e grazioso

Três Sonatas para piano, Op. 10
Compostas entre 1796-1798
Publicadas em 1798
Dedicadas à condessa Anne Margarete von Browne

No. 1 em Dó menor
5 – Allegro molto e con brio
6 – Adagio molto
7 – Finale. Prestissimo

No. 2 em Fá maior
8 – Allegro
9 – Allegretto
10 – Presto

No. 3 em Ré maior
11 – Presto
12 – Largo e mesto
13 – Menuetto. Allegro
14 – Rondo. Allegro

Stephen Kovacevich, piano

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“Fá sustenido, sol sustenido, lá natural…”

Vassily

Beethoven (1770-1827): Quintetos de Cordas, Op. 29 e Op. 104 – WDR Symphony Orchestra Cologne Chamber Players ∞ #BTHVN 250 ֍

Beethoven (1770-1827): Quintetos de Cordas, Op. 29 e Op. 104 – WDR Symphony Orchestra Cologne Chamber Players ∞ #BTHVN 250 ֍

BTHVN

Quinteto em dó maior, Op. 29

Quinteto em dó menor, Op. 104

Fuga em ré maior, Op. 137

WDRSO Chamber Players 5

 

Digamos que você queira, assim, ouvir aquela peça de música de câmera que acabou de compor – um ensolarado quinteto de cordas. Afinal, tudo vai indo muito bem, encomendas de obras chegando, convites e mais convites para tocar nas reuniões da nobreza da cidade, com todos mostrando-se afáveis e mesmo bajuladores.

Ora, tudo o que você precisa fazer é reunir os principais membros dos naipes de cordas da orquestra da cidade e apresentar-lhes as partes, fresquinhas das penas dos copistas.

Os gastos serão, no máximo, algumas velas para manter a luz quando o sol se pôr, algumas (muitas) garrafas daquele bom vinho renano – algumas frutas e uma boa tábua de frios. Quem sabe, no final de tudo, alguma boa companhia noite adentro…

Essa imaginada possibilidade pode muito bem ter ocorrido com Beethoven quando terminou seu quinteto lá pelos idos de 1801. Foi a única peça com essa formação – dois violinos, duas violas e violoncelo – por ele assim concebida e reflete o momento favorável pelo qual passava.

O outro quinteto que completa o disco é uma transcrição para esta formação do trio com piano, Op. 1, No. 3, feita em 1817. Este já era um período de maiores atribulações e isto pode ter sido a motivação para a adaptação. Afinal, ele precisava mais alguns florins para continuar pondo pão na mesa.

A fuga é apenas um pequeno exercício.

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Quinteto de Cordas em dó maior, Op. 29

  1. Allegro moderato
  2. Adagio molto expressivo
  3. Scherzo (Allegro)
  4. Presto

Quinteto de Cordas em dó menor, Op. 104

  1. Allegro com brio
  2. Andante cantabile com variazioni
  3. Menuetto (Quasi allegro)
  4. Finale (Prestissimo)

Fuga em ré maior, Op. 137

  1. Fuga

WDR Symphony Orchestra Cologne Chamber Players

Christian-Paul Suvaiala, violino
Ye Wu, violino
Tomasz Neugebauer, viola
Mischa Pfeiffer, viola
Susanne Eychmüller, violoncelo

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FLAC | 268 MB

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MP3 | 320 KBPS | 151 MB

A página do WDR SO 5 pode ser acessada aqui.

Veja o que a Gramophone falou deste disco: These players from Cologne’s broadcasting orchestra do both works proud, capturing the warm, middly sound world of op. 29’s openinig movement and the scampering virtuosity of both finales.

O pessoal do WDR SO 5 indo encontrar a turma do PQP Bach para uma ‘promenade’ nas margens do Reno, batendo um papinho sobre as peças de câmera do grande Ludovico…

Aproveite este lindo disco com peças menos conhecidas de nosso homenageado!

René Denon

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As Sonatas para Piano – Stephen Kovacevich (1/9) #BTHVN250

Em mais um curto intervalo de nossa travessia da obra integral de Beethoven, ofereceremos – e acho que surpreenderemos ninguém mais com a prática – um interlúdio com sonatas de Beethoven.

Como sempre, em se tratando de um blogue carregado de ótimas gravações dessas sonatas, tratamos rapidamente de nos justificar: esta é uma das melhores integrais que conheço, e por um grandioso intérprete que, se não é um completo estranho a nós outros, tampouco é um habitué aqui do PQP Bach.

Este excelente pianista californiano, que já foi anteriormente conhecido como Stephen Bishop e Stephen Bishop-Kovacevich, antes de se contentar tão só com seu sobrenome croata, já apareceu por aqui, em gravação da Philips, tocando Beethoven numa postagem em que o querido René Denon fez a incrível promoção de dez cocadas por uma charada. As gravações que ora lhes apresento foram feitas pela EMI entre 1991 e 2003 e lançadas pela Warner, que a fagocitou junto com a Philips. O disco inicial da série, com as três sonatas dedicadas a Haydn, é notória pelos andamentos rapidíssimos e, o mais impressionante, com límpida clareza nas vozes. Deem à primeira sonata algumas chances, para se aclimatarem com a velocidade, e depois me contem o que acharam.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Três Sonatas para piano, Op. 2
Compostas entre 1793-1795
Publicadas em 1796
Dedicadas a Joseph Haydn

No. 1 em Fá menor
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Menuetto and Trio (Allegretto)
4 – Prestissimo

No. 2 em Lá maior
5 – Allegro vivace
6 – Largo appassionato
7 – Scherzo: Allegretto
8 – Rondo: Grazioso

No. 3 em Dó maior
9 – Allegro con brio
10 – Adagio
11 – Scherzo: Allegro
12 – Allegro assai

Stephen Kovacevich, piano

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Adoro quando a gente acha mais boas gravações do que fotos espetaculosas de um artista na internet. Sim, decotuda Khatia: é com você que estou falando.

Vassily

#BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 5 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Vamos então concluir mais uma integral?

Neste último CD encontramos uma curiosidade: um arranjo do próprio Beethoven de sua Segunda Sinfonia para Trio com Piano, procedimento comum à época. Claro que vamos sentir falta da orquestração, mas é no mínimo curioso ouvir, e melhor podermos compreender o processo criativo de Beethoven. Aliás, existem diversos arranjos dessa sinfonia para as mais diversas formações (septeto, noneto, cordas, dueto de pianos, etc.). esses arranjos ajudavam a tornar a obra mais conhecida, por vezes sendo possível sua execução em casa. Muitos destes arranjos foram feitos pelo próprio compositor. Coisa de gênio.

Nos últimos anos temos visto a proliferação de diversos Trios com Piano executando essas obras. Alguns destes grupos optam pela execução conhecida como historicamente informada, com instrumentos construídos semelhantes aos da época. Outros, como o próprio Beaux Arts Trio, o interpretaram com instrumentos modernos.  Não sou nenhum fanático por nenhuma destas escolas, mas acho importante termos estas opções.

Na medida do possível, nós do PQPBach estamos trazendo as mais diversas opções de interpretação, para os senhores terem acesso à estas possibilidades, aproveitando a ocasião das comemorações dos 250 anos de nascimento deste gênio da humanidade conhecido como Ludwig van Beethoven.

01. Trio in D major (after Symphony No.2) – I. Adagio – Allegro con brio
02. Trio in D major (after Symphony No.2) – II. Larghetto quasi andante
03. Trio in D major (after Symphony No.2) – III. Scherzo
04. Trio in D major (after Symphony No.2) – IV. Allegro molto
05. Triosatz in E flat major – Allegretto
06. Trio No.4 in B flat major, op.11 ‘Gassenhauer’ – I. Allegro con brio
07. Trio No.4 in B flat major, op.11 ‘Gassenhauer’ – II. Adagio
08. Trio No.4 in B flat major, op.11 ‘Gassenhauer’ – III. Tema Pria ch´io l´impegno (Allegretto) con variazioni

Beaux Arts Trio

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Beaux Arts Trio

Grigory Sokolov, 70 anos [Johann Sebastian Bach (1685-1750): Variações Goldberg – Ludwig van Beethoven (1770-1827): Variações Diabelli] #BTHVN250


O mais legendário dos pianistas vivos completou setenta anos no sábado passado, e nós aqui, tsc, nem para lhes darmos os parabéns! Queremos crer que eles, que chegam atrasados, provavelmente não fizeram falta a Grigory Sokolov, que deve ter passado seu natalício em sua casa a contemplar um lago italiano, possivelmente alheio ao fordunço que virou o mundo do avesso, e quiçá mesmo a engordar seu já imenso repertório com alguma outra peça que, assim queremos, em muito breve apresentará para assombro do mundo que o idolatra.

Sokolov aos 17 anos

Avesso a publicidade e notoriamente recluso, Sokolov abre pouquíssimas janelas para seus idólatras. Quase não dá entrevistas, não gosta de tocar com orquestras, odeia a rotina dos estúdios. Assim, só deixa aos fãs a opção de ouvi-lo nos palcos – ao vivo ou em gravações, a maior parte das quais não autorizadas, muitas de qualidade sofrível, e invariavelmente disputadas a tapa no imenso escambo que delas há mundo afora (eu próprio tenho umas quantas, algumas ainda em fita cassete). Suas apresentações, entremeadas por temporadas sabáticas dedicadas à leitura e aos estudos, são cada vez mais restritas: não toca nas Américas há décadas, e há algum tempo deixou de incluir o Reino Unido em suas turnês, revoltado com a burocracia envolvida na obtenção de vistos. Não há hype nem ansiedade antecipatória bastantes para seus recitais, com ingressos normalmente esgotados com toda antecedência possível, sempre com dezenas de cadeiras extras no palco, e abarrotados de gente que vem de longe disposta a pendurar-se nos lustres para vê-lo tocar. Quando ele entra em cena, ouvem-se aplausos muitas vezes contidos, como se houvesse dúvidas sobre a capacidade daquele tipo atarracado e barrigudo, de cabeleira lisztiana, praticamente uma caricatura dum pianista de concerto, honrar tantas expectativas.

Seus fãs, claro, não têm a menor dúvida: é só ele atacar o teclado, e o estupor começa. “Gênio”, sussurram. “Monstro”. “Lenda”.

Sim, Sokolov é tudo isso, e muito mais que se possa descrever. “Sobre-humano”, já ouvi dizerem  – e sim, talvez seja um bom ponto de partida. Nunca deixo de me impressionar com a grandeza da concepção, com o controle absoluto do todo e de tudo, e com a naturalidade com que ele entrega ao mundo suas leituras inconfundivelmente pessoais, e ainda assim reverentes às intenções dos compositores. O culto a Grisha – sim, os sokolovmaníacos chamam-no pelo apelido – não se atém somente ao primor técnico do mestre, que é óbvio, e às proezas prestidigitadoras, como as que podem testemunhar no vídeo abaixo. A Grande Fraternidade Sokolóvica venera, acima de tudo, seu poder de recriar as obras com imensa singularidade a cada revisita e, com seu arsenal inesgotável de recursos, fazê-lo duma maneira tão convincente que não pareça possível concebê-las de outra maneira.

Ainda que seja um mago que tudo consegue, costuma escolher andamentos mais comedidos que a praxe, de maneira a poder melhor expor suas ideias. Sua postura hipercurva ao teclado, como se quisesse atirar-se sobre ele, a recusa a gestos histriônicos de bravado, denotam uma profunda concentração, como se não desejasse despender qualquer energia com supérfluos. Nenhuma de suas extraordinárias interpretações é semelhante a qualquer outra, inclusive às suas próprias de outrora. E assim eu poderia seguir, tecendo minha guirlanda de superlativos, sem que eu lhes conseguisse dar a ideia mais tíbia do que Sokolov é capaz de fazer.

Sokolov com Emil Gilels e Misha Dichter no Concurso Internacional Tchaikovsky em Moscou, vencido por Sokolov aos 17 anos, quando ainda era aluno do Conservatório de sua Leningrado natal.

Por isso, ainda bem, temos a Música. E é com grande música que saúdo os setenta anos desse gênio do teclado, oferecendo aos leitores-ouvintes duas gravações feitas ainda na Rússia, com as maiores obras em variações de todos os tempos: as “Goldberg” do demiurgo Bach, e as “Diabelli” de seu profeta Beethoven. No começo, provavelmente, estranharão a lentidão dos andamentos tanto quanto desejarão mandar pastilhas para as tussígenas plateias russas. Tenho certeza, também, de que acharão bizarra a maneira com que Sokolov aborda a tola valsinha de Diabelli, até que o desenrolar das variações mostre que ele não a poderia ter tocado de outra maneira. Ao final dessas horas a escutar o maior dos pianistas, só haverá em vós outros, creio eu, pasmo e energia para um singelo “amém” – mas, se lhes sobrar para algo mais, não deixem de dar ao mestre seus merecidos parabéns.

ooOoo

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

 CD1

Ária e trinta variações para teclado, BWV 988, “Variações Goldberg”

1 – Aria
2 – Variatio 1. a 1 Clav.
3 – Variatio 2. s 1 Clav.
4 – Variatio 3. Canone All’Unisuono a 1 Clav.
5 – Variatio 4. a 1 Clav.
6 – Variatio 5. a 1 Ovvero 2 Clav.
7 – Variatio 6. Canone alla Seconda a 1 Clav.
8 – Variatio 7. a 1 Ovvero 2 Clav.
9 – Variatio 8. a 2 Clav.
10 – Variatio 9. Canone alla Terza. a 1 Clav.
11 – Variatio 10. Fughetta a 1 Clav.
12 – Variatio 11. a 2 Clav.
13 – Variatio 12. Canone alla Quarta
14 – Variatio 13. a 2 Clav.
15 – Variatio 14. a 2 Clav.
16 – Variatio 15. Canone alla Quinta a 1 Clav. Andante
17 – Variatio 16. Ouverture a 1 Clav.
18 – Variatio 17. a 2 Clav.
19 – Variatio 18. Canone alla Sexta a 1 Clav.
20 – Variatio 19. a 1 Clav.
21 – Variatio 20. a 2 Clav.
22 – Variatio 21. Canone alla Settima a 1 Clav.
23 – Variatio 22. a 1 Clav. Alla Breve
24 – Variatio 23. a 2 Clav.
25 – Variatio 24. Canone all’Ottava a 1 Clav.

 

CD2

1 – Variatio 25. a 2 Clav.
2 – Variatio 26. a 2 Clav.
3 – Variatio 27. Canone alla Nona a 2 Clav.
4 – Variatio 28. a 2 Clav.
5 – Variatio 29. A 1 Ovvero 2 Clav.
6 – Variatio 30. Quodlibet a 1 Clav.
7 – Aria Da Capo
Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
8 – Sinfonia
9 – Allemande
10 – Courante
11 – Sarabande
12 – Rondeau
13 – Capriccio
Suíte Inglesa no. 2 em Lá menor, BWV 807
14 – Prelude
15 – Allemande
16 – Courante
17 – Sarabande
18 – Bourrée I
19 – Bourrée II – Bourrée I da capo
20 – Gigue

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CD3

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trinta e três variações para piano sobre uma valsa de Anton Diabelli, em Dó maior, Op. 120

1 – Thema: Vivace
2 – Variation 1: Alla marcia maestoso
3 – Variation 2: Poco allegro
4 – Variation 3: L’istesso tempo
5 – Variation 4: Un poco più vivace
6 – Variation 5: Allegro vivace
7 – Variation 6: Allegro ma non troppo e serioso
8 – Variation 7: Un poco più allegro
9 – Variation 8: Poco vivace
10 – Variation 9: Allegro pesante e risoluto
11 – Variation 10: Presto
12 – Variation 11: Allegretto
13 – Variation 12: Un poco più moto
14 – Variation 13: Vivace
15 – Variation 14: Grave e maestoso
16 – Variation 15: Presto scherzando
17 – Variation 16: Allegro
18 – Variation 17: Allegro
19 – Variation 18: Poco moderato
20 – Variation 19: Presto
21 – Variation 20: Andante
22 – Variation 21: Allegro con brio – Meno allegro – Tempo primo
23 – Variation 22: Allegro molto, alla « Notte e giorno faticar » di Mozart
24 – Variation 23: Allegro assai
25 – Variation 24: Fughetta (Andante)
26 – Variation 25: Allegro
27 – Variation 26: (Piacevole)
28 – Variation 27: Vivace
29 – Variation 28: Allegro
30 – Variation 29: Adagio ma non troppo
31 – Variation 30: Andante, sempre cantabile
32 – Variation 31: Largo, molto espressivo
33 – Variation 32: Fuga: Allegro
34 – Variation 33: Tempo di Menuetto moderato

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Grigory Sokolov, piano

– Caramba, DE NOVO o platinado?

Vassily

 

 

 

 

BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 4 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Por algum motivo, o produtor da então gravadora Philips optou em separar os trios de op. 70. Deve ter tido seus motivos. Mas o importante é que neste quarto CD temos o famoso ‘Ghost Trio’, o primeiro do opus citado acima. Foi composto em 1809, e, assim como o Segundo Trio de mesmo Opus, foi dedicado a  Condessa Marie von Erdödy’, uma nobre húngara e uma das melhores amigas e confidente de Beethoven.

Segundo a Wikipedia, esse Trio é “conhecido como Ghost, e é um de seus trabalhos mais conhecidos no gênero (rivalizado apenas pelo Archduke Trio). O trio, em Ré Maior, apresenta temas encontrados no segundo movimento da Sinfonia nº 2 de Beethoven. O All-Music Guide afirma que “por causa de seu movimento lento estranhamente pontuado e inegavelmente assustador, ele foi apelidado de Trio” Ghost “. permanece com o trabalho desde então. A música fantasmagórica pode ter suas raízes nos esboços de uma ópera de Macbeth que Beethoven estava contemplando na época. ” Segundo Lewis Lockwood, o aluno de Beethoven, Carl Czerny, escreveu em 1842 que o movimento lento lembrou  da cena fantasma na abertura do Hamlet de Shakespeare, e essa teria sido a origem do apelido. James Keller também atribui o apelido a Czerny, acrescentando: “Você pode descartar como errônea a alegação frequentemente encontrada de que esse movimento do Trio Fantasma é uma reformulação da música que Beethoven originalmente esboçou como Coro das Bruxas para seu Macbeth.”. Polêmicas à parte, o que importa é que com esse apelido que o trio é conhecido até hoje.

01. Trio in E flat major, op.38 (after Septet, op.20) – I. Adagio – Allegro con brio
02. Trio in E flat major, op.38 (after Septet, op.20) – II. Adagio cantabile
03. Trio in E flat major, op.38 (after Septet, op.20) – III. Tempo di menuetto
04. Trio in E flat major, op.38 (after Septet, op.20) – IV. Andante con variazioni
05. Trio in E flat major, op.38 (after Septet, op.20) – V. Scherzo Allegro molto
06. Trio in E flat major, op.38 (after Septet, op.20) – VI. Andante con moto alla
07. Trio No.5 in D major, op.70 no.1 ‘Ghost’ – I. Allegro vivace e con brio
08. Trio No.5 in D major, op.70 no.1 ‘Ghost’ – II. Largo assai ed espressivo
09. Trio No.5 in D major, op.70 no.1 ‘Ghost’ – III. Presto

BEAUX ARTS TRIO

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BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Romances para violino e orquestra, Opp. 40 & 50 – Concerto para violino e orquestra, Op. 61 – Menuhin – Furtwängler

O melífluo romance em Sol maior, Op. 40, servirá aqui como mero pretexto para lhes alcançar uma gravação extraordinária tanto por seus protagonistas quanto, e especialmente, pelo contexto em que foi feita.

As colunas de fumaça ainda estavam a ser extintas na Europa enquanto, em 1947, suas nações, fossem livres ou ocupadas, buscavam reerguer-se dentro das novas linhas entre elas traçadas. Um imenso número de pessoas fugira dos horrores perpetrados pelo nazifascismo, e algumas delas, grandes nomes da Música, recebiam então convites para regressar.  Alguns aceitavam e atravessavam o Atlântico para tocar nos teatros europeus, muitos dos quais reconstruídos. Outros recusavam terminantemente, dependendo do convite, do lugar e dos parceiros envolvidos. Entre os lugares, o mais evitado era Berlim, um dos maiores polos culturais da Europa antes da guerra, agora fatiada em quatro e, como coração do Reich genocida, justamente temida pelos muitos músicos judeus que escaparam da morte que o regime lhes desejara. Entre os parceiros, e entre tantos nomes malditos, havia o mais maldito de todos: o legendário Wilhelm Furtwängler, gênio inconteste da batuta e, para muitos, o maior regente do século XX.

Discutir se Furtwängler merecia ou não a pecha de maldito é um tema que foge ao escopo dessa despretensiosa postagem num blog que tão só busca polinizar música. A maioria de seus contemporâneos pensava que sim: que, ao escolher permanecer na Alemanha, ele se alinhou, passivamente que fosse, ao cruel regime que a controlava e acabou por lhe emprestar seu imenso prestígio, como um dos mais famosos artistas do mundo. Uma diminuta, mas muito ativa minoria acreditava que não: afinal, Furtwängler nunca se filiara ao Partido Nazista e sempre se recusara a alinhar-se com seus expoentes; não aceitou reger seus hinos e conduzir sob seus estandartes; abominava Hitler e não lhe prestava as saudações protocolares; e, acima de tudo, usou sua grande influência para ajudar muitos músicos judeus e suas famílias a encontrarem guarida e rotas de fuga para lugares seguros. No final da guerra, foi julgado por um comitê de desnazificação e inocentado de todas as acusações. Ainda assim, não foi perdoado pela maioria de seus colegas, que não aceitavam sua justificativa de permanecer na Alemanha por motivos puramente artísticos, sem pretender alinhar-se ao Nazismo, numa postura improvavelmente ingênua sob um regime tão afeito a usar arte como propaganda.

Entre os tantos que não o perdoaram estavam músicos do calibre de Horowitz, Rubinstein, Toscanini e Szell, que reagiram fortemente à indicação de Furtwängler para o cargo de regente titular da Sinfônica de Chicago e a ameaçaram com um boicote, caso ele fosse efetivamente contratado (o que nunca aconteceu). Entre os raros músicos que sempre o apoiaram, um deles se destacava pela envergadura artística e pelo esforço que despendeu em reconstruir a reputação de Furtwängler. Era um prodígio do violino que se encontrava no apogeu de sua arte, um generoso embaixador da boa vontade durante toda sua longa e prolífica vida, e um judeu secular que, não obstante, era judeu até no nome: Yehudi (“o judeu”) Menuhin.

Menuhin, que nasceu nos Estados Unidos e estudou na França e na Suíça, baseara-se no Reino Unido e já rodava o mundo havia décadas, amplamente reconhecido como um de seus mais importantes artistas. Durante boa parte da guerra dedicou-se corajosamente a tocar para os soldados no front, mesmo no perigo da ofensiva de Ardennes, muitas vezes na companhia do amigo Benjamin Britten. O bravo e generoso Yehudi chegou a Bergen-Belsen praticamente junto com as forças que libertaram o campo e tocou para seus sobreviventes. Assim, não surpreende que ele tenha sido o primeiro músico importante a voltar a Berlim após a guerra e, ao apoiar publicamente o desgraçado Furtwängler, tentar desagravar a reputação do grande músico e reabilitar sua carreira.

Suas intenções, alimentadas por uma imensa admiração pelo maestro, tinham sintonia com as próprias justificativas aventadas por Furtwängler para permanecer na Europa: enquanto este pretendia salvar a música alemã da barbárie, Yehudi buscava a reconciliação com os grandes músicos remanescentes na Alemanha para fomentar o resgate da cultura alemã, que tanto amava. E assim, sob muitos protestos de seus colegas, Menuhin foi ao encontro de Furtwängler para com ele tocar e realizar as históricas gravações que ora lhes apresento.

O repertório dessa apoteose da cultura alemã, claro, só poderia ser centrado em Beethoven e suas obras para violino e orquestra. O maravilhoso concerto, um dos pontos altos de toda arte, foi gravado pela dupla em Lucerna, na mesma Suíça que permanecera neutra durante toda a guerra, e onde Furtwängler e outros artistas indispostos com o Reich buscaram guarida nos estrebuchos do conflito. Os dois serenos romances, por sua vez, seriam gravados posteriormente em Londres, com a Philharmonia Orchestra.

O inimitável estilo de Furtwängler, com sua flexibilidade do andamento e liberdades em relação à partitura, faz-se perceber nos longos arcos do desenvolvimento do primeiro movimento do concerto e em seu rondó, no qual o andamento nunca é o mesmo a cada retorno do tema. O som de Menuhin, por sua vez, pode causar estranheza a nossos ouvidos, acostumados ao primor técnico, tanto de artistas quanto da engenharia de som, tão prevalente em nossos dias. Sua calorosa abordagem a Beethoven, no entanto, impressiona mais pela energia e radiância que pela perfeição nota a nota. Chamam-no frequentemente de superestimado; prefiro dizer que ele foi um artista cujo apogeu chegou cedo demais para que fosse bem gravado, e cuja merecida fama como um dos mais admiráveis cidadãos do mundo extrapolou tudo o que se pode expressar com um arco.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Ré maior para violino e orquestra, Op. 61
Composto em 1806
Publicado em 1808
Dedicado a Stephan von Breuning

1 – Allegro ma non troppo (cadenza de Fritz Kreisler)
2 – Larghett0
3 – Rondo: Allegro (cadenza de Fritz Kreisler)

Yehudi Menuhin, violino
Lucerne Festival Orchestra
Wilhelm Furtwängler, regência

Romance no. 1 para violino e orquestra em Sol maior, Op. 40
Composto em 1802
Publicado em 1803

4 – Adagio cantabile

Romance no. 2 para violino e orquestra em Fá maior, Op. 50
Composto em 1798
Publicado em 1805

5 – Adagio cantabile

Yehudi Menuhin, violino
Philharmonia Orchestra
Wilhelm Furtwängler, regência

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Menuhin e Furtwängler em 1949. A atuação de Menuhin foi decisiva para a reabilitação da carreira de Furtwängler, e sua intercessão foi fundamental para que ele assumisse seu primeiro cargo permanente no pós-guerra, como regente da Philharmonia Orchestra em Londres. Os dois colaborariam com frequência nas salas de concerto e nos estúdios até a morte do alemão, em 1954.

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Takács) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Takács) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma gravação daquelas imbatíveis, de referência. Ouçam! Verdadeiros monumentos humanistas, os últimos quartetos de Beethoven têm que ser conhecidos por todos aqueles que desejam ser algo mais do que um saco vazio de conteúdo. Ouvi-los é como conhecer Mann e Kafka, Joyce e Proust. Os húngaros do Takács — formado em 1975, atualmente com dois norte-americanos no grupo — enfrentam estes difíceis quartetos com naturalidade e fluência. Engraçado que uma outra gravação de referência é a do Kodály Quartet, outro grupo húngaro, este fundado em 1965. Os húngaros parecem ter invadido esta área… O Takács não é mole. São artistas associados ao Southbank Centre, receberam em maio a Wigmore Hall Medal e estiveram dia desses com Merl Streep homenageando Philip Roth. Tais posturas podem ser ouvidas nestes CDs, acreditem.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos

CD1

String Quartet in E Flat, Op.127
01. I. Maestoso-Allegro
02. II. Adagio, Ma Non Troppo e Molto Cantabile-Andante
03. III. Scherzo.Vivace
04. IV. Allegro-Allegro Comodo

String Quartet in C Sharp Minor, Op.131
05. I. Adagio ma non troppo e molto espressivo
06. II. Allegro Molto Vivace
07. III. Allegro Moderato
08. IV. Andante Molto Cantabile-Più Mosso-Andante Lusinghiero
09. V. Presto
10. VI. Adagio Quasi un Poco Andante
11. VII. Allegro

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CD2

String Quartet in A Minor, Op.132
01. I. Assai Sostenuto-Allegro
02. II. Allegro Ma Non Tanto
03. III. Holy Songs. Andante-Molto Adagio
04. IV. Alla Marcia, Assai Vivace-Piu Allegro
05. V. Allegro Appassionato-Presto

String Quartet in F Major, Op.135
06. I. Allegretto
07. II. Vivace
08. III. Lento Assai, Cantante e Tranquillo
09. IV. Der schwer gefaßte Entschluß.Grave, Ma Non Troppo Tratto-Allegro

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CD3

String Quartet in F Minor, Op.95
01. I. Allegro Con Brio
02. II. Allegretto Ma Non Troppo
03. III. Allegro Assai Vivace Ma Serioso
04. IV. Larghetto Espressivo-Allegretto Agitato-Allegro

String Quartet in B Flat, Op.130
05. I. Allegro Ma Non Troppo-Allegro
06. II. Presto
07. III. Andante Con Moto, Ma Non Troppo
08. IV. Alla Danza Tedesca.Allegro Assai
09. V. Cavatina.Adagio Molto Espressivo

Grosse Fuge, Op.133
10. Grosse Fuge, Op.133
11. VI. Finale.Allegro

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Takács Quartet

Obra retratando Beethoven em Bonn: de alguns ângulos a coisa é quase incompreensível
Obra retratando Beethoven em Bonn: de alguns ângulos a coisa é quase incompreensível
Mas, olhando bem de frente...
Mas, olhando bem de frente…

PQP

BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 3 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Hoje, dia 21 de abril, é feriado. Para aqueles que se encontram em quarentena, em isolamento social devido à pandemia do Coronavírus, tanto faz se é feriado ou não, não acham? É um dia igual ao outro. Tenho um calendário aqui na mesa onde vou riscando os dias que passam. A pilha de livros que aguardavam sua vez de serem lidos está diminuindo, o número de CDs que aguardam sua vez para serem ouvidos também está menor … e assim vão passando os dias.

O terceiro CD da coleção dos Trios para Piano de Beethoven interpretados pelo Beaux Arts Trio traz o que talvez seja o trio mais conhecido, intitulado “Archduke”, de op. 97, obra de maturidade de Ludwig van. Não precisamos ter conhecimento do idioma alemão para entendermos esse nome que leva a obra. Sim, a obra foi dedicada a um nobre, mais especificamente para o Arquiduque Rudolph da Áustria, filho mais novo de Leopold II, Imperador do Sacro Império Romano. Rudolph era músico amador, amigo e aluno de Beethoven, e além disso, um dos patrono do compositor. Entenderam?

01. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – I. Allegro moderato
02. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – II. Scherzo Allegro
03. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – III. Andante cantabile, ma pero
04. Trio No.7 in B flat major, op.97 ‘Archduke’ – IV. Allegro moderato
05. Trio No.9 in E flat major, WoO 38 – I. Allegro moderato
06. Trio No.9 in E flat major, WoO 38 – II. Scherzo Allegro ma non troppo
07. Trio No.9 in E flat major, WoO 38 – III. Rondo Allegretto
08. Trio No.11 in G major, op.121a – 10 Variations on Wenzel Muller’s song “Ich bin der Schneider Kakadu”

Beaux Arts Trio

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BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Obras para órgão, Op. 39, WoO 31 & 33, Hess 107 – Preston

Chamar essa compilação beethoveniana de “peças para órgão” (e, sim, sei que vocês estão a esperar que eu escreva “órgão de Beethoven”, mas tirem o cavalinho da chuva porque isso NÃO VAI ACONTECER) é um pouco de exagero, posto que apenas uma das obras – a fuga WoO 31 – foi composta originalmente para o instrumento. As outras peças estão no ademais imenso repertório à disposição dos organistas como opção ou por necessidade.

A opção está nos curiosos prelúdios do Op. 39, publicados em partitura para piano, sem indicação de pedal, mas que se prestam muito bem à execução no órgão. Essas curiosas peças, compostas ainda em Bonn, foram publicadas bem depois em Viena porque Ludwig, para variar, precisava de dinheiro. É muito provável que tenham sido escritas como exercícios para seu professor Neefe, que era organista e de quem foi assistente na corte do Eleitor. Os dois prelúdios partem do Dó maior e vão modulando para todas as tonalidades maiores, de maneira ascendente e descendente, até retornarem ao Dó maior. No primeiro, as tonalidades são mantidas por alguns compassos, ao passo que no segundo as modulações são tão rápidas que por vezes nem as percebemos, numa considerável demonstração de habilidade do jovem compositor.

Já a necessidade da execução ao órgão está nas peças restante, que são tradicionalmente designadas em português “para relógio mecânico”, denominação um tanto sem sentido, uma vez que todos os relógios daquela época eram mecânicos. O termo mais usado em alemão, Spieluhr, indica uma caixinha de música, o que também não é o caso. Com efeito, o instrumento que Beethoven tinha em mente era um Flötenuhr (“relógio-flauta”), um relógio integrado a um realejo automático, acionado por foles movidos por contrapesos. A engenhoca tornou-se tão popular que logo os laboriosos compositores do Império Austro-Húngaro enxergaram oportunidades em lhe criar um repertório. Como poucos Flötenuhren chegaram até nossos dias, e nenhum deles sabe tocar Beethoven, a diminuta coleção que Ludwig destinou ao instrumento costuma ser hoje tocado por flautistas, com acompanhamento de harpa ou piano – e organistas.

Já que a música para o órgão de Beet, er, beethoveniana para órgão mal dá para a metade de um CD, resolvi completá-lo com obras de seus três principais professores, que encontrei perdidas em meus alfarrábios e que eu dificilmente publicaria aqui de outra maneira. Assim, o obscuro Christian Gottlob Neefe faz sua estreia no PQP Bach com uma das incontáveis peças organísticas que certamente compôs em função de seu cargo de organista da corte do Eleitor de Bonn, a imensa maioria das quais jamais foi publicada. Johann Georg Albrechtsberger, compositor daqueles hilariantes concertos para marranzano, dá aqui uma prova do que ouviam os vienenses que frequentavam a Stephansdom, ou a nobreza na época em que ele era o organista da corte imperial. Arrematando os trabalhos, um pequeno compêndio que Haydn, a um só tempo o mais célebre e o menos dedicado dos professores de Ludwig, escreveu para Flötenuhr, a engenhoca que os leitores-ouvintes conhecerão melhor através dos vídeos mais abaixo.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Dois prelúdios em todas as tonalidades maiores, para órgão ou piano, Op. 39
Composto em 1789
Publicado em 1803
1 – Prelúdio no. 1
2 – Prelúdio no. 2

Fuga em Ré maior para órgão, WoO 31 (1783)
3 – Sem indicação de andamento

Cinco peças para Flötenuhr, WoO 33 (1794-1799)
4 – No. 1 em Fá maior
5 – No. 2 em Sol maior
6 – No. 3 em Sol maior
7 – No. 4 em Dó maior
8 – No. 5 em Dó maior

Marcha dos granadeiros em Fá maior, Hess 107 (1798)
9 – Sem indicação de andamento

Simon Preston, órgão

Christian Gottlob NEEFE (1748-1798)

10 – Variações sobre a “Marcha dos Sacerdotes” de Die Zauberflöte de Mozart, para órgão

Johann Georg ALBRECHTSBERGER (1735 – 1809)

11 – Prelúdio em Sol menor/Fuga em Sol menor sobre o tema B-A-C-H, para órgão

Joseph HAYDN (1732-1809)

12 – Peças para Flötenuhr

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 2 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Se esta quarentena está servindo para alguma coisa, ao menos para mim está sendo para preparar postagens para o futuro. E acho que meus colegas estão fazendo o mesmo. Hoje, dia 8 de abril, estou preparando os trios com o Beaux Arts Trio que serão postados a partir do dia 19 …
Havia uma dúvida se eu iria postar a primeira ou a segunda versão destes trios, e acabei optando pela segunda. O colega Rene Denon gentilmente ofereceu sua caixa com a primeira versão. Quem sabe postamos mais a frente?

01. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – I. Allegro con brio
02. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – II. Andante cantabile con variazioni
03. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – III. Menuetto Quasi allegro
04. Trio No.3 in C minor, op.1 no.3 – IV. Finale Prestissimo
05. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – I. Poco sostenuto – Allegro ma non tr
06. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – II. Allegretto
07. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – III. Allegretto ma non troppo
08. Trio No.6 in E flat major, op.70 no.2 – IV. Finale Allegro
09. Trio No.10 in E flat major, op.44 – 14 Variations on an original theme – Tema

Beaux Arts Trio

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BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra em Dó menor, Op. 37 – Sonatas para piano, Op. 49 – Dois Rondós para piano, Op. 51 – Variações sobre um tema original, WoO 80 – Lupu

A temporada transformadora em Heiligenstadt, de onde Beethoven saiu em outubro de 1802 com a disposição, segundo suas próprias palavras, de “agarrar o Destino pelo pescoço, de modo a que não me destrua por completo”, resultou num surto de planos, muitas das quais, como era bem típico a alguém tão desorganizado e cheio de problemas para resolver, nunca passaram à prática. Um deles, no entanto, era particularmente firme: refazer seu cartaz como compositor-virtuose, um tanto apagado tanto pelo sucesso de suas publicações quanto pelos quase oito anos transcorridos desde a estreia de seu primeiro par de concertos. Tal vontade certamente inspirou-se no grande sucesso de outro compositor-virtuose: Johann Nepomuk Hummel, com quem Beethoven manteve por muito tempo uma relação ambivalente. Eram predominantemente amigos, mas também prevalecia uma inveja azeda acerca dos triunfos do colega mais novo, um requisitadíssimo professor e pianista, além da mágoa por ter sido preterido por Hummel como aluno de Haydn, que jamais foi superada. O fruto mais notável dessa resolução foi um novo concerto em Dó menor, cujos primeiros esboços datavam de cinco anos antes, e que tinha não tinha nem Haydn, tampouco Hummel como inspirações. O modelo óbvio era Mozart: mais especificamente, seu grande concerto K. 491, com quem a nova obra compartilhava a tonalidade e muita, mas muita mesmo, semelhança temática.

A despeito da inspiração mozartiana, a audácia harmônica (que inclui um segundo movimento na distante tonalidade de Mi maior) e o pathos são Beethoven puro. A première foi dada por ele mesmo como solista, no mesmo mastodôntico concerto em que foram estreados o oratório Christus am Ölberge (Op. 85) e a sinfonia no. 2, além duma reapresentação da primeira sinfonia. Dentro da desorganização que lhe era peculiar, o incorrigível procrastinador de Bonn não completou as partes de piano a tempo da estreia, de modo que improvisou uma boa parte de seu solo e, talvez, a própria cadenza que depois acabou publicada junto com o concerto. A repercussão foi boa, ainda que eclipsada pela da segunda sinfonia. Notícia melhor ainda, inda mais depois de todo desespero de Heiligenstadt, foi a de que a surdez não lhe impedira o retorno aos palcos, que era o que mais temia. Em muito breve, Beethoven encontraria um patrono generoso no jovem arquiduque Rudolph e voltaria a estar em posição de vantagem nas negociações com editores, o que daria algum fôlego a suas finanças sempre periclitantes.

O solista desta gravação era o mais recluso dos mestres vivos do teclado, até se aposentar dos palcos no ano passado. O romeno Radu Lupu, intérprete realmente genial, exibe no concerto seu incomparável controle de nuances, belíssimo fraseado e, acima de tudo, a capacidade tantas vezes descrita por seus colegas como deixar a música falar por si própria. O disco abre e fecha, dir-se-ia estranhamente, com peças menores para piano solo. Quando ouvimos, no entanto, os rondós do Op. 51 soarem melífluos como improvisos de Schubert, e as brilhantes variações em Dó menor cintilarem na mesma tonalidade do concerto, percebemos o quão bem eles lhe servem muito bem como prelúdios. E, no fim, as duas pequenas sonatas do Op. 49, tão simples a ponto de estarem ao alcance de amadores, transformam-se num longo, delicado bis – como se Lupu, o sensível e arredio bicho-do-mato, buscasse um despiste para sumir sem ser percebido.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Dois Rondós para piano, Op. 51
Compostos entre 1795-1798
Publicados em 1802 (no. 2) e 1810 (no. 1)

1 – No. 1 em Dó maior
2 – No. 2 em Sol maior

Trinta e duas variações para piano sobre um tema original, em Dó menor, WoO 80
Compostas em 1806
Publicadas em 1807

3 – Thema – Variationen I-XXXII

Radu Lupu, piano

Concerto para piano no. 3 em Dó menor, Op. 37
Composto entre 1800-1803
Publicado em 1804
Dedicado ao príncipe Louis Ferdinand da Prússia

4 –  Allegro con brio
5 – Largo
6 – Rondo: Allegro

Radu Lupu, piano
London Symphony Orchestra
Lawrence Foster, regência

Duas sonatas para piano, Op. 49
Publicadas em 1805

No. 1 em Sol menor
Composta em 1797
7 –  Andante
8 – Rondo: Allegro

No. 2 em Sol maior
Composta entre 1795-1796
9 –  Allegro ma non troppo
10 – Tempo di Menuetto

Radu Lupu, piano

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“Qual é mesmo o nome do blogueirinho metido a comediante?” – “Vassily” – “Tá, então a gente pega o Vassily, uma torquesa, e…”

#BTHVN250, por René DenonVassily

BTHVN250 Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Trios – CD 1 de 5 – Beaux Arts Trio

 

 

 

Curioso, elogiamos tanto o Beaux Arts Trio, mas nunca mais trouxemos os trios de Beethoven interpretados por eles desde os primórdios do Blog, lá em 2008. Estava lembrando agora, que diabos eu fazia da vida em 2008? Aí lembrei que era professor em uma pequena cidade no interiorzão de nosso país. Eu era feliz e não sabia?  Mas essa falha só pode ser devido a esquecimento, não acham? Vá entender. Vou trazer então este histórico registro, dentro das comemorações dos 250 anos de nascimento de Beethoven.
Resolvi postar um cd de cada vez. Assim os senhores não ficam tão sobrecarregados de coisas para se ouvir.

01. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – I. Allegro
02. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – II. Adagio cantabile
03. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – III. Scherzo Allegro assai
04. Trio No.1 in E flat major, op.1 no.1 – IV. Finale Presto
05. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – I. Adagio – Allegro vivace
06. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – II. Largo con espressione
07. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – III. Scherzo Allegro
08. Trio No.2 in G major, op.1 no.2 – IV. Finale Presto
09. Trio No.8 in one movement in B flat major, WoO 39 – Allegretto

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BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trios para piano, violino e violoncelo, Opp. 36 & 38 (arranjos da Sinfonia no. 2 e do Septeto)

Analogias gastroenterológicas à parte, a sinfonia em Ré maior, Op. 36, foi um imenso e imediato sucesso, e sua também bem-sucedida publicação levou o próprio Beethoven a rapidamente adaptá-la para piano, violino e violoncelo. Esse expediente de arranjar obras de concerto para pequenos conjuntos, de que já lançara mão em obras anteriores, buscava trazer suas composições até os salões e salas de estar, tornando-as mais acessíveis ao público em geral e, assim, trazer-lhe também mais proventos. O prolongado retiro em Heiligenstadt, um bonito cafundó muito afastado de Viena, sem publicar obras novas, sem dar concertos e destilando agonia, piorara muito suas sempre cambaleantes finanças, o que promoveu um relaxamento sem precedentes em seus critérios normalmente estritos ao publicar suas obras. Tamanho era o desespero que Beethoven chegou a cavocar seus caóticos baús e deles tirar as quase esquecidas variações sobre um tema de Dressler – sua primeira obra publicada, quando ainda moleque em Bonn – e, com os mínimos retoques, republicá-la para, na onda de sua crescente fama, fazer mais alguns cobres.

A mesma necessidade sôfrega fê-lo voltar a uma conhecida vaca gorda – aquele mesmo septeto cujo incrível sucesso tanto o irritara, por achar que eclipsava obras suas muito melhores – e reeditá-la, também num arranjo para trio com piano. O resultado, que já ouvimos neste série numa versão com clarinete, foi publicado como seu Op. 38 e vendeu muito bem, aliviando-lhe um pouco o garrote até que, decisivamente, ingressasse na sua vida o jovem arquiduque Rudolph, caçula da família real austríaca, que se tornaria não só um aluno de piano e composição, mas um generoso mecenas, confidente e dedicatário de muitas de suas futuras obras-primas.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio em Mi bemol maior para violino, piano e violoncelo, Op. 38 (arranjo do septeto, Op. 20)
Composto entre 1799-1800 (versão original do septeto, Op. 20)
Arranjado e publicado como trio em 1803
Dedicado à imperatriz Maria Theresia (septeto)

1 – Adagio – Allegro con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Tempo di menuetto
4 – Tema con variazioni. Andante
5 – Scherzo – Allegro molto e vivace
6 – Andante con moto alla marcia – Presto

Sachiko Kobayashi, violino
Michael Wagner, piano
Chihiro Saito, violoncelo

Sinfonia no. 2 em Ré maior, Op. 36 (arranjo para piano, violino e violoncelo pelo próprio compositor)
Composta entre 1801-02
Arranjo para trio publicado em 1803
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

7 – Adagio molto – Allegro con brio
8 – Larghetto quasi andante
9 – Scherzo: Allegro
10 – Allegro molto

Thomas Brandis, violino
Eckart Besch, piano
Wolfgang Böttcher, violoncelo

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Esses cinquenta euros de hoje valeriam… bem, várias noitadas de copa livre nas tavernas mais pulguentas de Viena.

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Brodsky) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos (Brodsky) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este repertório é uma irrepetível mistura de profundidade e sofisticação, de comunicação e transcendência. Muitos quartetos o enfrentaram, mas poucos se saem realmente bem neste cânone da música.

O Quarteto Brodsky dedicou bastante de seu tempo aos quartetos de Beethoven. Em 2006, eles lançaram um disco com dois dos quartetos Rasumovsky, Op. 59 Nº 2 e 3, e seguiram dois anos depois com o conjunto dos seis Op. 18. Somente agora, no início do ano do 250º aniversário de Beethoven, eles enfrentaram os últimos quartetos. O conjunto inclui também o Op. 95, bem como, é claro, as obras geralmente consideradas como parte do cânone tardio: os Op. 127, 130 (com os dois finais, Grande Fuga, bóbvio), 131, 132 e 135. As gravações foram feitas antes da saída do primeiro violino do grupo, David Rowland, no ano passado. Ele foi substituído por Gina McCormack.

Não faltam gravações dessas obras máximas, desse verdadeiro Olimpo do repertório para quartetos de cordas. As mais famosas são a do Quarteto de Budapeste e do Busch nos anos 70, a do Italiano nos 80,  e a do Takács, do Kodály e do Alban Berg na era digital. Todos estão disponíveis em CD. O aniversário trará, sem dúvida, outras gravações. Embora as versões de Brodsky não possam ameaçar as posições de nenhum dos grandes conjuntos citados, elas certamente têm suas próprias virtudes, e seus destaques são muito altos.

Em primeiro lugar, a serenidade e a abordagem estranhamente antiquada. Tecnicamente, essas performances são imaculadas, então tudo se resume a questões de gosto pessoal. Para mim, o Quarteto Op. 132 está esplêndido, aqui com seu lindíssimo Adagio levado tão lentamente quanto qualquer um poderia desejar.  A intensidade de seu final cresce com perfeita segurança. Mas, como um todo, o quarteto final, o Op. 135, parece um pouco relaxado demais. No Op. 131, o desdobramento da fuga de abertura é muito bem feito, mesmo que o seu Presto pareça Mendelssohn, enquanto que no Op 130 a Cavatina parece evitar a profundidade do sentimento que alguns grupos — o Busch e o Kodály Quartet, principalmente — encontraram nela.

Como em qualquer ciclo dessas obras inesgotáveis, a gente têm que escolher o que prefere, mas não há dúvida de que são performances muito boas de algumas das melhores músicas já escritas.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Os Últimos Quartetos

Beethoven: String Quartet No. 11 in F minor Op. 95 ‘Serioso’ 22:11
I. Allegro con brio 4:26
II. Allegretto ma non troppo 7:59
III. Allegro assai vivace ma serioso 4:35
IV. Larghetto espressivo. Allegretto agitato 5:11

Beethoven: String Quartet No. 13 in B flat major, Op. 130 42:45
I. Adagio ma non troppo. Allegro 13:08
II. Presto 2:00
III. Andante con moto ma non troppo 7:02
IV. Alla danza tedesca. Allegro assai 3:12
V. Cavatina. Adagio molto espressivo 7:40
VI. Finale. Allegro 9:43

Beethoven: Grosse Fuge in B flat major, Op. 133 15:02

Beethoven: String Quartet No. 12 in E flat major, Op. 127 39:45
I. Maestoso. Allegro 6:47
II. Adagio ma non troppo e molto cantabile 16:55
III. Scherzando vivace 8:41
IV. Finale. Allegro 7:22

Beethoven: String Quartet No. 14 in C sharp minor, Op. 131 38:43
I. Adagio ma non troppo e molto espressivo 7:22
II. Allegro molto vivace 2:58
III. Allegro moderato 0:42
IV. Andante ma non troppo e molto cantabile 14:29
V. Presto 4:46
VI. Adagio quasi un poco andante 2:22
VII. Allegro. Poco adagio 6:04

Beethoven: String Quartet No. 15 in A minor, Op. 132 47:07
I. Assai sostenuto. Allegro 9:47
II. Allegro ma non tanto 8:57
III. Molto adagio. Andante 19:43
IV. Alla marcia, assai vivace 2:01
V. Allegro appassionato 6:39

Beethoven: String Quartet No. 16 in F major, Op. 135 24:27
I. Allegretto 6:20
II. Vivace 3:17
III. Lento assai, cantante e tranquillo 8:12
IV. Grave, ma non troppo tratto. Allegro 6:38

Brodsky Quartet
Daniel Rowland
Ian Belton
Paul Cassidy
Jacqueline Thomas

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O Quarteto Brodsky chegando na sede porto-alegrense da PQP Bach Corp.

PQP