BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 8 em Fá maior, Op. 93 – Chailly – Furtwängler – Gardiner – Haitink – Huggett – Jansons – Karajan – Rattle – Reiner – Solti – Toscanini – Wand

Quando a Oitava estreou, num concerto que também incluiu a já manjada e bem-sucedida dobradinha Sétima/Wellington, a reação, se não de desgosto, foi de estranheza. Depois da energia tremenda da Sétima, cuja reputação só crescia, surgia aquela sinfonia neoclássica, neo-haydniana, concisa e com três de seus quatro movimentos em sonata-forma. Estaria Beethoven, o arauto do futuro da Música, dando a ré?

Pelo jeito, não atentaram para a escrita: desde a “Eroica”, Ludwig alternava uma sinfonia inovadora e expansiva com uma contraparte concisa e/ou relaxada. Se a Quinta foi gêmea bivitelina da Sexta, os primeiros esboços da Oitava surgiram juntos aos da Sétima, que acabou tendo uma gestação mais curta. Composta essencialmente em 1812, ano em que Beethoven conheceu seu ídolo Goethe num veraneio em Teplitz/Teplice e escreveu sua famosa carta à “Amada Imortal”, a Oitava é notável por ser uma das únicas grandes obras de Beethoven sem um dedicatário. Ela já começa contrastando com sua irmã: em vez da imensa introdução que abre a Sétima, aqui uma frase assertiva inicia imediatamente os trabalhos. Não há, como na sinfonia anterior, um movimento lento propriamente dito, e sim um “pseudo-scherzo” cujo pulsar remete tanto a um metrônomo que se cogitou tratar-se de uma homenagem a seu inventor, Mälzel (a descoberta posterior de um breve cânone vocal com o tema do Allegretto e uma citação a Mälzel pareceu corroborar a teoria, mas acabou refutada como uma falsificação – mais uma – de Anton Schindler). Em seguida ao “pseudo-scherzo”, em dum scherzo propriamente dito, há um delicioso minueto – o primeiro que ele escrevia em oito anos, e mais uma jocosa referência ao não tão distante passado em que a uma sinfonia não poderiam faltar minuetos. O finale é, entre todas as partes, aquela de maior sustância: depois dum começo sutil e um tanto hesitante, a coisa vai fermentando e crescendo e tomando uma proporção tamanha que só consegue encontrar um fim com a maior e mais extravagante de todas as codas de Beethoven.

Tantos gestos de humor e bruscos imprevistos, dentro duma forma mormente clássica, foram entendidos na época como anacronismo, mas hoje eu só os consigo perceber como imensa ironia – a mesma com que Ludwig teria respondido ao comentário de seu aluno Czerny sobre o fato do público não ter aclamado a Oitava e preferido a Sétima:

Porque ela é muito melhor.

 

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 8 em Fá maior, Op. 93
Composta em 1812
Publicada em 1817

1 – Allegro vivace e con brio
2 – Allegretto scherzando
3 – Tempo di menuetto
4- Allegro vivace

Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
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NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
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Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
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Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
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Chicago Symphony Orchestra
Sir Georg Solti
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Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
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Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
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The Hanover Band
Roy Goodman
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Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
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Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
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Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
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Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Violin Concerto, op. 61, Romances / Franz Schubert (1797-1828): Rondo in A Major for Violin & Orchestra, D. 438

Gostaria de dedicar esta postagem, na verdade, repostagem, à memória de meu irmão mais velho, Maurício, que faleceu há pouco menos de quatro anos, e que faria aniversário no dia de hoje, 16 de setembro. Ele era um entusiasta da música, e foi em uma caixa de discos que ele me mandou que encontrei uma gravação deste imortal concerto, nas imortais mãos de David Oistrakh. Descanse em paz, mano, um dia nos reencontraremos novamente para ouvir boa música !!!

Nosso querido mentor, PQPBach, e sua namorada, que é violinista, consideram James Ehnes um dos principais violinistas da atualidade. E não há como negarmos tal afirmativa.  O cara tem um talento incrível, e sempre nos oferece novas possibilidades, mesmo naquelas obras tão conhecidas do repertório, como neste concerto de Beethoven, que creio que todos conhecem de cor e já devem ter ouvido dezenas de vezes com diversos outros intérpretes. Ouçam a cadenza escrita pelo lendário Fritz Kreisler para entenderem do que estou falando.

Além do concerto, também temos aqui os dois Romances, também escritos para Violino e Orquestra, e o belíssimo Rondo in A major, de Schubert.

Para completar o pacote, o regente é o Andrew Manze, que conhecemos bem com um excelente violinista, especializado no repertório barroco. Em outras palavras, os senhores estão em muito boas mãos.

Resumindo, trata-se de um esplêndido CD, seríssimo candidato a lançamento do mês da Revista Gramophone, quiçá, melhor lançamento do ano, da mesma revista.

LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

VIOLIN CONCERTO in D major op61
1 i Allegro ma non troppo* 23.24
2 ii Larghetto 9.40
3 iii Rondo*: Allegro 9.52

*Cadenzas by Fritz Kreisler

ROMANCE No.1 in G major for violin & orchestra op40 6.40

ROMANCE No.2 in F major for violin & orchestra op50 8.08

FRANZ SCHUBERT (1797-1828)

Rondo in A major for violin & orchestra D438 13.33
Adagio – Allegro giusto

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FDP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – “A Vitória de Wellington”, Op. 91 – Sinfonia no. 7 em Lá maior, Op. 92 – Ignaz Josef Pleyel (1757-1831) – Jubel-Marsch – Jan Václav Dusík (1760-1812) – Brunswick-Marsch – Haselböck

Talvez o disco mais interessante da série “Beethoven Resound”, que já apresentamos quando de nossa postagem sobre o “Egmont”, seja este. Ele recria o concerto de 8 de dezembro de 1813, em benefício dos soldados feridos na batalha de Hanau, com instrumentos originais e na própria sala em que ele aconteceu: o auditório da Universidade de Viena, que hoje é a Sala Cerimonial da Academia Austríaca de Ciências.

Foi o dia da sorte de Ludwig: a nata da sociedade vienense reunira-se para o evento, e muitos dos melhores músicos da época – Salieri, Hummel, Meyerbeer, Spohr e Dragonetti, virtuose do contrabaixo – estavam na orquestra. No pódio, o próprio Beethoven, que estreava duas obras: a sinfonia no. 7, concluída dois anos antes, e a “Vitória de Wellington”, escrita no verão anterior. Entre elas, e talvez as peças mais esperadas da noite, duas marchas para orquestra e… trompetista mecânico.

Sim, falamos sério

A aparição da engenhoca, tão famosa quanto Beethoven, era talvez mais aguardada que a do célebre compositor. Seu inventor, que detinha o título de Hofmechanicus (mecânico principal) da corte imperial, chamava-se Johann Nepomuk Mälzel, era amigo de Ludwig, mentor da “Vitória de Wellington” e uma figura tão rara que pediremos vênia a nosso homenageado de 2020 para dedicar-lhe o restante dessa postagem.

Filho de um organista, Mälzel (1772-1838) familiarizou-se cedo tanto com música quanto com a mecânica. Dedicou-se a construção de engenhosos aparatos, muitas vezes aperfeiçoados a partir de ideias que tomava indebitamente de outrem. Um deles foi o metrônomo, instrumento que o fez cair nas graças de Beethoven e do qual é ainda hoje, a despeito de muitos precursores, considerado o inventor. O mais famoso foi, talvez, “O Turco”, um falso autômato que jogava xadrez.

Sim.

“O Turco” foi inventado por Wolfgang von Kempelen e, pelo que consta, derrotou Napoleão anos antes de Wellington fazê-lo em Waterloo. Apresentado à fantástica criação durante uma visita ao palácio de Schönbrunn, o corso tentou trapacear três vezes, no que foi admoestado pelo oponente, que corrigiu seus movimentos anômalos e, por fim, derrubou todas as peças do tabuleiro em protesto. Jogando a sério, Napoleão perdeu a partida e, ao jogar a revanche, pediu que vendassem os olhos d’O Turco para dificultar-lhe a vida, só para perder novamente. Depois de muito furor, o trambolho acabou esquecido até que Mälzel o comprou do filho do já falecido Kempelen e, munindo-se de sua habilidade para a autopromoção, levou a máquina recauchutada – que dizia “cheque!” com um rudimentar sintetizador de voz – em turnê pela Europa. A sensação foi tamanha que Mälzel chegou até às Américas com seu show itinerante, até que o mau cheiro da história toda fizesse um grupo de sabidos (que incluía um certo Edgar Allan Poe) a expor a verdade: “O Turco” era tão só uma elaborada fraude que contava com um enxadrista tamanho econômico espremido entre seus mecanismos.

Não me digam

Mälzel, como já mencionamos, era amigo de Beethoven, que adotou entusiasticamente o metrônomo e foi um dos primeiros compositores a prescreverem andamentos baseados nele. Ademais, caiu nas graças do renano ao construir-lhe diversas tubas auditivas que muito o ajudaram antes da surdez entrevá-lo de vez no silêncio. Mälzel, no entanto, era um homem de negócios, e o trabalho prévio com Salieri e Haydn fê-lo enxergar uma perspectiva de bufunfa grande numa parceria com Ludwig. O triunfo do duque de Wellington sobre Joseph Bonaparte em Vitoria, Espanha, incendiara de otimismo os vienenses, que tinham comido pão duríssimo durante as duas ocupações napoleônicas. Mälzel pressentiu o tilintar das patacas e não se fez de rogado: propôs a Beethoven que escrevesse uma composição baseada na vitória de Wellington, para seu panharmonicon, um caixotão cheio de engrenagens que imitava, através de vários tubos, os sons de metais e madeiras, e acionava instrumentos de percussão por sistemas pneumáticos.

Ei-lo

Mais que isso, Mälzel esboçou o plano geral da composição – um exército de cada lado, com suas respectivas canções patrióticas, fanfarras, percussão e ruídos bélicos, e uma sinfonia triunfante no final com um fugato baseado em God Save the King. O resultado, claro, foi a “Vitória de Wellington”, que ficou tão grande que não coube no panharmonicon. Beethoven expandiu-a, então, ainda mais e orquestrou-a para o concerto beneficente. Mälzel, no entanto, não deixou de vender seu peixe, fazendo ouvir duas marchas tocadas por um inacreditável trompetista autômato, acompanhadas pela orquestra regida por Ludwig. A plateia, já embriagada pela Sétima Sinfonia, veio abaixo, e imediatamente os dois começaram a traçar novos planos. A parceria azedaria em breve, muito porque Beethoven acusaria Mälzel – levando-o inclusive aos tribunais – de apropriação de sua obra, ao executar arranjos não autorizados dela, ao passo que Mälzel a considerava sua própria cria intelectual. O inventor tomou o rumo de Munique, de Paris e, enfim, do Novo Mundo, onde conquistou fama e limitada fortuna com suas engenhocas antes de morrer a bordo de um navio, na costa de Venezuela, num incidente de bebedeira.

Para esta gravação, uma recriação do trompetista de Mälzel – sem as cabulosas roupas que lhe colocavam, e que eram mudadas a cada peça – participa das marchas que servem de entreato às composições de Ludwig. Pode ser que seu som pareça precário a nós outros, cínicos ouvintes modernos, mas se pusermos de lado os anacronismos e levarmos em conta de que ele é fruto duma imaginação de mais de duzentos anos, ele não deixa de soar como uma pequena maravilha. Ao escutá-lo, fico a imaginar a cara com que Ludwig regeu a orquestra para o solo do boneco e… ah, eu me divirto. E vocês, não se divertirão?

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 7 em Lá maior, Op. 92
Composta entre 1811-12
Publicada em 1813
Dedicada ao conde Moritz von Fries

1 – Poco sostenuto – Vivace
2 – Allegretto
3 – Presto – Assai meno presto
4 – Allegro con brio

Ignace Joseph PLEYEL (1757-1831)
orquestrada por Thomas Trsek (1966)

5 – Jubel-Marsch

Jan Ladislav DUSSEK (Jan Václav Dusík) (1760-1812)
orquestrada por Thomas Trsek

6 – Brunswick-Marsch, C. 263

Ludwig van BEETHOVEN

Wellingtons Sieg oder die Schlacht bei Vittoria in Musik gesetz von Ludwig van Beethoven (“A Vitória de Wellington ou a Batalha de Vitoria, posta em música por Ludwig van Beethoven”), Op. 91
Composta em 1813
Publicada em 1816
Dedicada a George, príncipe regente da Inglaterra (futuro rei George IV)

07 – Die Schlacht (A Batalha): Marsch, Rule Britannia – Marsch, Marlbororough – Schlacht, Allegro
08 – Sieges-Symphonie (Sinfonia da Vitória): Intrada, Allegro ma non troppo – Allegro con brio

Orchester Wiener Akademie
Martin Haselböck,
regência

Reconstrução do trompetista automático de Johann Nepomuk Mälzel coordenada por Jakob Scheid (Universidade de Viena), com colaboração de Hubert Kowar,  Birgit Lodes, Christoph
Reuter e Rebecca Wolf.

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A engenhoca em ação

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 7 em Lá maior, Op. 92 – Chailly – Furtwängler – Gardiner – Haitink – Huggett – Jansons – Karajan – Rattle – Reiner – Solti – Toscanini – Wand

[após analisar os movimentos da “Sinfonia Pastoral”] Esses movimentos não eram mais que “lembranças” – ou seja, imagens, não realidade imediata e sensível. Mas a onipotente violência do anseio artisticamente necessário o impulsionava rumo a essa realidade. Dar a suas próprias formas sonoras a densidade, a firmeza imediatamente cognoscível e sensivelmente segura, como se com um bem-aventurado consolo a houvesse percebido na manifestações da Natureza – essa foi a amorosa alma do gozoso impulso que nos ofereceu a soberanamente magnífica Sinfonia em Lá maior. Todo o ímpeto, todo o anseio e a fúria do coração se transformam aqui em deliciosa alegria transbordante que, com onipotência báquica, nos arrasta por todos os lugares da Natureza e por todos os mares e correntes da vida, fazendo com que, conscientes de nós mesmos, lancemos gritos de júbilo em qualquer lugar em que entremos levando este ousado compasso da humana dança das esferas. Esta sinfonia é a própria apoteose da dança: é a dança em sua máxima essência, o ato mais feliz do movimento corporal, idealmente encarnado, por assim dizê-lo, em sons. A melodia e a harmonia concentram-se no vigoroso esqueleto do ritmo com em sólidas figuras humanas que, ora com enormes membros articulados, ora com elástica e delicada suavidade, quase ante nossos olhos acabam por formar uma ciranda numerosa e bem perfilada, quer amorosa, quer atrevida, às vezes séria, às vezes sossegada, ora judiciosa, ora jubilosa, a imortal forma continua ressoando, até que no último turbilhão do prazer um beijo cheio de alegria culmina no derradeiro abraço”

Richard Wagner,

“Das Kunstwerk der Zukunft” (“A Obra de Arte do Futuro”).

Leipzig, Otto Wigand Verlag, 1850. P. 91-92.

Tradução de Vassily (grifos do autor)

Admito que gastei quase toda a energia que pretendia dedicar a essa postagem na tradução desse convoluto excerto de Wagner. Ainda assim, fiz questão de fazê-la, porque sempre adorei a “apoteose da dança” com que Wagner tão celebremente denominou a Sétima de Beethoven, mas nunca antes lera o termo dentro do devido contexto, em seu calhamaçudo ensaio sobre o futuro da Arte.

Que me restaria comentar, então, depois tão apoteóticas loas? Talvez tentar colocar a Sétima em seu contexto. Apesar de desde então reconhecido como um dos maiores entre todos os compositores, a fama de Beethoven era eclipsada pelo sucesso avassalador de outros músicos, especialmente de Rossini. Ninguém hoje sonharia em mencioná-los na mesma frase, mas reputação alguma, por si só, encheria os bornais de Beethoven, sempre nas raias do desespero na luta por subsistir. Ele já tivera muito sucesso com obras que não contava entre suas melhores, como notoriamente o septeto, ou algumas canções, como “Adelaide”. A Sétima, no entanto, representou uma das raras ocasiões em sua carreira em que um grande e instantâneo sucesso alinhou-se ao reconhecimento de seu mérito artístico e seu próprio contentamento com a obra. O Allegretto, chamado de “a coroa da música instrumental moderna”, teve que ser repetido na estreia. A sinfonia foi reapresentada muitas vezes nos meses seguintes, com aplausos que “chegaram ao êxtase”. Ainda que entendamos o contexto especial em que ela foi estreada – a derrocada de Napoleão, somada a triunfos militares austríacos, evocando emoções celebratórias -, ela ainda hoje nos conquista pelo apelo irresistível e energia rítmica. Diferentemente da “Eroica”, não houve reclamações de que ela fosse por demais exigente aos ouvintes ou obra tão só para “conhecedores”, é notável como, mesmo com uma orquestra mais modesta, sem trombones e somente duas trompas, Beethoven conseguiu fazê-la soar tão impetuosa e assertiva quanto em suas melhores sinfonias anteriores.

Poderíamos passar eras divagando sobre a ambiciosa abertura, com a mais longa introdução de toda história sinfônica, ou sobre a beleza do segundo movimento, o Allegretto supracitado, construído sobre um ritmo obstinado e um acorde instável na abertuda, e que evolui engenhosamente para uma fuga. Também seria possível discutir como o scherzo frenético consegue ser tão enérgico e ainda assim não cansar o ouvinte para o finale de ainda mais frenética energia. Mas traduzir Wagner, como já lhes disse, me cansou, e mesmo que nenhum outro motivo houvesse para escutar a Sétima, bastar-me-ia a recomendação do próprio Beethoven, que sobre ela disse:

Um dos mais felizes produtos de meus pobres talentos.

O que, convenhamos, não é pouco.

 

 

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 7 em Lá maior, Op. 92
Composta entre 1811-12
Publicada em 1813
Dedicada ao conde Moritz von Fries

1 – Poco sostenuto – Vivace
2 – Allegretto
3 – Presto – Assai meno presto
4 – Allegro con brio

Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
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NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
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Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
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Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
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Chicago Symphony Orchestra
Sir Georg Solti
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Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
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Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
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The Hanover Band
Monica Huggett
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Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
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Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
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Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
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Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – “A Vitória de Wellington”, Op. 91 – Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) – Abertura Solene “O Ano de 1812”, Op. 49 – Capricho Italiano, Op. 45 – Doráti

Todo Marlon Brando tem seu dia de Alberto Roberto, e todo Beethoven tem sua “Vitória de Wellington”.

Essa composição sui generis teve imenso sucesso quando de sua estreia, num concerto em benefício dos soldados feridos na batalha de Hanau, no qual também foi estreada a sinfonia no. 7. A orquestra foi regida pelo próprio Beethoven, numa de suas últimas aparições públicas como intérprete antes da surdez torná-las impossíveis.

A despeito da aclamação da turba, incensada pelas notícias dos reveses sofridos por Napoleão nos campos de batalha, e pela bufunfa considerável que trouxe aos bolsos sempre carentes do compositor, houve também muita estranheza, principalmente entre seus admiradores e seu círculo de amigos mais próximos. Ludwig, afinal, amplamente reconhecido como o maior compositor em atividade, sempre fora muito meticuloso com aquilo que levava a público. Isso aplicava-se em especial à sua música sinfônica, porque ele sabia que seriam cada vez mais as massas pagadoras de ingressos, e não os estipêndios da nobreza, que garantiriam seu pão e seu schnapps naquela nova Europa que se redesenhava. Assim, parecia incongruente que um homem que passara anos rabiscando seus cadernos de anotações para parir um só movimento sinfônico – o primeiro de sua quinta sinfonia – tenha tão rapidamente composto uma peça ruidosa para surfar a voga nacionalista e encher a mão de gaita.

O que soou mais constrangedor aos admiradores, na época – à parte da desilusão de ver o idolatrado mestre preterir os ideais em favor do vil metal -, foi a maneira crua com que foi representado o embate dos exércitos – inglês de um lado, representado por “Rule, Britannia”, e francês do outro, com “Marlbrough s’en va-t-en guerre” (que nos é familiar como “Ele é um bom companheiro”), com percussão imitativa e ruídos bélicos variados . Nada havia de pioneirismo, claro, numa composição assim, dada a tradição de battaglie escritas por gente do naipe de Byrd e Biber, e mesmo várias peças francesas a celebrarem os feitos de Napoleão, como “La Bataille d’Austerlitz”, de Louis-Emmanuel Jadin. Nunca, no entanto, um compositor na posição de Beethoven tinha feito algo do gênero, e para exposição tão escancarada.

Embora nunca tenha defendido que seu Op. 91 fosse uma obra-prima, Beethoven não reclamou do dinheiro que ganhou com a peça e, ademais, estava contente com a possibilidade de garantir para si um futuro como compositor para grandes eventos públicos. Admito que, ao reouvi-la agora, depois de muitos anos, ela não me pareceu tão ruim: se a “Batalha” soa só barulhenta, a “Sinfonia da Vitória” tem bons momentos. Independentemente de minha desimportante opinião, o truque deu certo e teve seus imitadores. Tchaikovsky não teve dúvidas de seguir o mesmo roteiro em sua Abertura Solene “O Ano 1812”,  ainda mais grandiloquente e ruidosa (embora seu uso de “La Marseillaise” seja um anacronismo, pois a canção fora banida por Napoleão ao proclamar-se imperador e era pouco provável que tenha sido escutada entre suas legiões durante a invasão da Rússia).

A “1812”, assim como o “Capricho Italiano”, também está incluída no disco que lhes alcanço, em que o ótimo Antal Doráti conduz orquestras, banda e uma série de artefatos geradores de morte, cuja descrição na capa do disco tem tanto destaque quanto os intérpretes não letais. Apesar de jurássica, é muito bem gravada e inclui comentários muito pertinentes, feitos pelo compositor e crítico Deems Taylor naquele engraçadíssimo sotaque mesoatlântico típico dos filmes estadunidenses até os anos 50.

Dessa feita, ouçam as barulhentas crias de Tchai e Lud Van, mas peguem leve com os tomates, pois Beethoven não os levava na esportiva e, certa vez, respondeu uma crítica mais áspera à sua “Vitória de Wellington” com essa sentença que eu me nego a traduzir:

Was ich scheiße ist beßer, als was du je gedacht

Googleiem aí.

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Abertura Solene “O Ano 1812”, para orquestra e banda, Op. 49 (orquestração original)
01 – Abertura
02 – Comentários sobre a abertura (em inglês)

Minneapolis Symphony Orchestra
University of Minnesota Brass Band
com um canhão de bronze fabricado em Douay, França, em 1775, cedido pela Academia Militar de West Point (Estados Unidos) e os sinos do carrilhão memorial Laura Spelman Rockefeller na Riverside Church, New York City, Estados Unidos
Antal Doráti, regência

Capriccio Italien, para orquestra, Op. 45
03 – Andante un poco rubato

London Symphony Orchestra
Antal Doráti, regência

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Wellingtons Sieg oder die Schlacht bei Vittoria in Musik gesetz von Ludwig van Beethoven (“A Vitória de Wellington ou a Batalha de Vitoria, posta em música por Ludwig van Beethoven”), Op. 91
Composta em 1813
Publicada em 1816
Dedicada a George, príncipe regente da Inglaterra (futuro rei George IV)

04 – Die Schlacht (A Batalha): Marsch, Rule Britannia – Marsch, Marlbororough – Schlacht, Allegro
05 – Sieges-Symphonie (Sinfonia da Vitória): Intrada, Allegro ma non troppo – Allegro con brio
06 – Comentários sobre a obra (em inglês) – efeitos sonoros

London Symphony Orchestra
com um dois canhões de bronze de 6 lb, um obuseiro de 12 lb, mosquetes franceses estilo Charleville e mosquetes ingleses Brown Bess, cedidos pela Academia Militar de West Point
Salvas de artilharia e mosquetes sob o comando de George C. Stowe, da unidade reativada da Guerra Civil, Bateria B da 2nd New Jersey Light Artillery
Antal Doráti, regência

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Melhor capa da história

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonata para piano em Mi menor, Op. 90 [Beethoven – Piano Sonatas Opp. 90, 106 & 111 – Sokolov]

Depois de parir petardos como a “Waldstein” (Op. 53) e a “Appassionata” (Op. 57) e romper todas as costuras da sonata para piano, Beethoven voltou-se bissextamente para seu meio favorito de expressão. Em franco contraste com as onze notáveis sonatas que lhe brotaram da pena nos cinco anos que antecederam a Op. 57, houve um hiato de cinco anos entre a “Appassionata” e a sonata seguinte, Op. 78. E, se é verdade que as três sonatas seguintes (Opp. 78, 79 e 81a) vieram ao mundo ao longo de meros dois anos, também não se nega que elas sejam, em duração e escopo, muito mais sucintas que suas antecessoras.

Pois entre o adeus ao arquiamigo Rudolph (Op. 81a) e a sonata seguinte, que lhes trago hoje, passaram-se quatro anos. Em seu retorno ao gênero, Beethoven manteve a concisão que dedicara às obras anteriores. No entanto, a Op. 90 parece-me melhor definida pela palavra concentração, tamanha a riqueza de ideias expressas pelo compositor em tão poucos minutinhos. Ainda que frequentemente incluída entre as últimas sonatas de Beethoven, não há na Op. 90 os gestos visionários das sonatas seguintes. Composta em 1814, mesmo ano em que a revisão de “Fidelio” foi concluída, ela me parece mais um retorno do compositor a um gênero que lhe era muito confortável do que uma busca de renovar um meio – ou, talvez, um grande ensaio-geral para desenferrujar e criar fôlego para as cinco últimas e transcendentais sonatas que comporia entre 1816 e 1821.

São apenas dois movimentos, todos com indicações de andamento e expressão em alemão, como seria quase sempre o caso nas sonatas seguintes. Especula-se que a preferência pelo alemão fosse um reflexo do espírito nacionalista que ressurgia nos povos de língua alemã naquela Europa sacudida por Napoleão – ou talvez nada disso, e apenas a vontade de se exprimir em sua língua materna. Apesar de descrita como uma obra em Mi menor e de fato começar nessa tonalidade, a Op. 90 seria melhor descrita como uma sonata em Mi, uma vez que o primeiro movimento desenvolve-se predominantemente em menor, e o segundo, em maior.

O primeiro, “com vivacidade, e sentimento e expressão do começo ao fim”, baseia-se praticamente num só tema e, em que pesem alguns momentos de tensão, deixa uma impressão de fluidez e constrita simplicidade. Alguns biógrafos atribuem a tensão supracitada a um conteúdo programático, que teria sido descrita pelo compositor como “a tensão entre a cabeça e o coração”, numa referência aos entreveros vividos pelo dedicatário, o conde Lichnowsky, em função duma paquera sua, mas o mais provável é que essa anedota seja mais uma atochada do factotum Schindler. Já o segundo, “não muito rápido, e para ser tocado de maneira muito cantável” é um cálido rondó com um tema que parece schubertiano, e que se resolve numa coda muito efetiva que não detrata a serenidade do movimento.

Ao nos encaminharmos para a reta final dessa travessia da integral beethoveniana, encontraremos obras tão transcendentais, tão ricamente abertas a seus intérpretes, que não teria como lhes alcançar uma interpretação favorita sem o pesar de preterir tantas e tão notáveis outras. Assim, preferi abordá-las individualmente em minhas postagens e, pelo mesmo motivo, alcançarei aos leitores-ouvintes, na medida do possível, uma série completa das últimas sonatas para cada postagem sobre elas.

Para o Op. 90, começo como talvez devesse terminar: por Grigory Sokolov. Nada afeito aos estúdios, e certamente ainda menos simpático a gravação de integrais tão só pela necessidade de gravá-las, o genial petersburguense frequentemente inclui as últimas sonatas em seus longos e variados recitais. Trago-lhes, pois, além da Op. 90 – aqui abordada com moderação nos andamentos ainda maior que a prescrita por Beethoven, uma tradicional opção de Sokolov em prol da clareza e da atenção aos detalhes -, uma “Hammerklavier” extraordinária gravada na década de 70 (gravação diferente da que já foi publicada aqui) e uma Op. 111 à qual, talvez mais do que qualquer outra versão, só se possa seguir o silêncio.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Mi menor, Op. 90
Composta em 1814
Publicada em 1815
Dedicada ao príncipe Moritz von Lichnowsky

1 – Mit Lebhaftigkeit und durchaus mit Empfindung und Ausdruck
2 – Nicht zu geschwind und sehr singbar vorgetragen

Grande Sonata para piano em Si bemol maior, Op. 106, “Hammerklavier”
Composta entre 1817-18
Publicada em 1819
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustria

3 – Allegro
4 – Scherzo: Assai vivace
5 – Adagio sostenuto
6 – Introduzione: Largo – Allegro – Fuga: Allegro risoluto

Sonata para piano em Dó menor, Op. 111
Composta em 1821-22
Publicada em 1823
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustra

7 – Maestoso – Allegro con brio ed appassionato
8 – Arietta – Adagio molto semplice e cantabile

Grigory Sokolov, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Polonaise, Op. 89 – Bagatelas para piano, Opp. 119 & 126 – Schiff

Uma polonaise de Beethoven? Sim, e bastante oportunista: o ano era 1814, o Congresso de Viena repaginava a Europa pós-napoleônica e Beethoven circulava, na condição de mais célebre compositor vivo, entre a nobreza reunida naquela capital. A polonaise, dança que chegara às cortes francesas dois séculos antes, fazia muito sucesso nos salões europeus que, na mesma medida, eram abastecidos com nova música naquele ritmo característico. Beethoven, que apresentara algumas peças bem nhé no Congresso, buscava sofregamente atender comissões em troca de dinheiro. Uma das mais fáceis foi a da tzarina Elizaveta Alexeyevna da Rússia, a quem dedicou uma breve polonaise para piano solo em troca da considerável soma de cinquenta ducados. A peça, tão pouco dançante quanto se poderia esperar dum grande pianista e terrível dançarino, tem um desenvolvimento muito curto, espremido entre uma introdução com floreios pianísticos e uma coda incomumente longa, e é notória não só por ser uma das primeiras polonaises de salão escritas por um compositor dessa grandeza, como também por ser muito parecida com as primeiras tentativas de Chopin no gênero – que seriam impressas meros três anos depois, quando o polonesinho tinha meros sete anos

Muito mais interessante do que a peça em si é o pretexto que ela nos oferece para escutarmos o interessantíssimo instrumento usado nessa gravação. Conhecido como “o piano de Beethoven” e exibido com destaque no Museu Nacional Húngaro em Budapest, ele foi dado de presente ao compositor pelo fabricante John Broadwood, de Londres, em 1817. Chamá-lo daquele jeito, no entanto, é apenas uma meia-verdade. Não que o piano não fosse realmente de Beethoven, cujo nome fora gravado no instrumento pelo fabricante e que o preservou em seu apartamento até sua morte, mas sua surdez, àquela época, já estava tão profunda que ele não tinha mais condições de tocá-lo, nem de experimentar sua música nele. Não obstante, Ludwig o maltratou a ponto de, quando o piano foi removido de seu legendariamente caótico apartamento e vendido depois de sua morte, não haver “som algum nos agudos e as muitas cordas partidas ficarem enrodilhadas como um arbusto espinhoso numa galé”. Depois de algumas revendas, o instrumento foi adquirido por Franz Liszt, que o restaurou e o legou, em testamento, para o Museu Nacional Húngaro. Não se sabe o quanto o som delicado e anasalado do Broadwood teria agradado os ouvidos de Beethoven, notoriamente crítico às limitações dos instrumentos de sua época. Sabe-se que ele tinha ressalvas mesmo aos seus pianos preferidos, os de Conrad Graf, que tinham um som robusto, mais uniformidade entre os registros e, fundamental para Ludwig, a maior extensão entre seus contemporâneos. Era sob um dos pianos de Graf, aliás, doado a ele pelo próprio construtor, que Beethoven guardava o seu penico, que aparece nos relatos de vários visitantes, tamanho era o destaque que sua posição e olor tinham em sua sala de estar dos infernos.

As demais peças ouvidas nessa gravação, feita in loco no auditório do museu, são todas contemporâneas ao Broadwood e, por não exigirem muito do mecanismo, soam-lhe bem apropriadas sob as mãos do jovem András Schiff, então com 23 anos e ainda a morar em sua Budapest natal.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Seis bagatelas para piano, Op. 126
Compostas em 1824
Publicadas em 1825

1 – Andante con moto, cantabile e compiacevole
2 – Allegro
3 – Andante, cantabile e grazioso
4 – Presto
5 – Quasi allegretto
6 – Presto – Andante amabile e con moto

Cinco peças tardias para piano

7 – Allegretto em Si menor, WoO 61 (1821)
8 – Valsa em Mi bemol maior, WoO 84 (1824)
9 – Écossaise em Mi bemol maior, WoO 86 (1825)
10 – Valsa em Ré maior, WoO 85 (1825)
11 – Allegretto quasi andante em Sol menor, WoO 61a (1825)

Onze novas bagatelas para piano, Op. 119
Compostas entre 1820-1822
Nos. 7-11 publicadas no tratado de piano de F. Starke em 1821
Coleção completa publicada em 1823

12 – Allegretto
13 – Andante con moto
14 – A l’Allemande
15 – Andante cantabile
16 – Risoluto
17 – Andante — Allegretto
18 – Allegro, ma non troppo
19 – Moderato cantabile
20 – Vivace moderato
21 – Allegramente
22 – Andante, ma non troppo

Polonaise em Dó maior para piano, Op. 89
Composta em 1814
Publicada em 1815
Dedicada à Imperatriz Elizaveta Alexeyevna da Rússia

23 – Alla polacca, vivace

András Schiff, pianoforte (John Broadwood & Sons, London, 1817)
Gravado no Museu Nacional Húngaro (Magyar Nemzeti Múzeum) em Budapest, Hungria, 1977.

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Octeto em Mi bemol maior, Op. 103 – Rondino, WoO 25 – Septeto, Op. 20 (arranjo para noneto) – Sabine Meyer Bläserensemble

Já que nos debruçamos sobre a ótima música para instrumentos de sopro que Beethoven escreveu em sua juventude, permitam-me dar um salto em seu catálogo de obras para apresentar-lhes o Op. 103, seu único octeto.

Apesar de se supor composto para a extraordinária Harmonie a serviço de Maximilan Franz, Eleitor de Colônia e patrono em sua Bonn natal, o octeto não foi executado por aquele conjunto de sopros antes da chegada de Beethoven a Viena para estudar com o grande Haydn. Intitulado originalmente “Parthia” e com a indicação “num concerto”, que faz supor que, em algum momento, ele fosse destinado a um palco, e não ao entretenimento duma corte, ele foi explicitamente mencionado numa carta de Beethoven a Nikolaus Simrock, seu amigo de Bonn, trompista da Harmonie e futuro editor, em que perguntava se o octeto já tinha sido tocado por lá. Alguns meses mais tarde, Haydn escreveria ao Eleitor de Colônia para dar conta dos progressos feitos por seu aluno turrão e solicitar um aumento da bolsa paga a Beethoven, anexando, para documentar tais progressos, algumas das composições do rapaz. O Eleitor foi demolidor em sua resposta, afirmando que já estava a gastar muito dinheiro e que quase todas as composições enviadas, incluindo o octeto, já tinham sido escritas em Bonn e que, portanto, não representavam progresso algum. Haydn deve ter ficado com cara de tacho e, já mais preocupado com suas exaustivas, ainda que muito lucrativas, excursões à Inglaterra do que em dar aulas ao renano enrolão, acabou por deixar de lado suas lições, o que muito aliviou o pupilo, que procurou a tutela de Albrechtsberger e Salieri para, sem a ajuda do Eleitor de Colônia, conquistar a cena musical vienense.

Ainda que composto em Bonn e revisado em Viena em 1793, o octeto só foi publicado em 1830, o que justifica seu alto número de Opus. Talvez mais conhecido em sua recauchutagem como um quinteto de cordas (Op. 4), é uma obra que, embora claramente evocativa do estilo de Mozart, tem a acidez e as explosões de temperamento tão típicas de Beethoven. Do ponto de vista formal, ele já demonstra a predileção do jovem compositor por um scherzo no lugar do minueto, apesar de ainda intitulá-lo Menuetto. Embora haja equilíbrio entre as partes, é notória a proeminência das difíceis partes para trompa, instrumento a que Ludwig estava aparentemente muito familiarizado, talvez pela amizade com Simrock. Da mesma forma, o primeiro oboé conduz os três primeiros movimentos – incluindo um dueto com o fagote no Andante – e o clarinete se encarrega de incendiar o Finale com muito virtuosismo.

No manuscrito do octeto, após o minueto, há um curto e riscado fragmento de um Andante, que foi descartado pelo compositor e substituído pelo Finale supracitado. Descoberto entre os papeis de Beethoven após sua morte, o Andante foi intitulado “Rondino” e publicado separadamente em 1830.

A gravação que lhes apresentamos traz a extraordinária clarinetista Sabine Meyer a liderar um conjunto de sopristas não menos fabulosos, que inclui Albrecht Mayer, oboísta dos filarmônicos de Berlim, e se encerra com um arranjo muito interessante do septeto de Beethoven feito por Jiří Družecký (que, germanizado e sem diacríticos, fica Georg Druschetzky). Nele, as partes do violino, da viola e do violoncelo foram redistribuídas entre pares de oboés, clarinetes, trompas e fagotes, aos quais se soma um contrafagote, que assume o papel do contrabaixo. Não sei se Beethoven chegou a conhecer esse arranjo, mas tenho o palpite – a despeito de seu hábito de renegar o septeto, mesmo com todo sucesso que teve, por considerá-lo muito inferior às suas obras ulteriores – de que ele o aprovaria. O contrafagote muda completamente o caráter da peça, além de estar bem de acordo com o uso que Ludwig fez dele no final da carreira, acrescentando uma parte para o instrumento a todas suas obras mais importantes. Além disso, a virtuosística parte do primeiro clarinete, tomada ao violino, permite a Sabine Meyer alguns belos voos e nos faz lamentar que o mestre de Bonn não nos tenha legado um concerto para esse instrumento.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Octeto em Mi bemol maior para dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes e duas trompas, Op. 103
Composto em 1792
Publicado em 1834

1 – Allegro
2 – Andante
3 – Menuetto
4 – Finale. Presto

Rondó (Rondino) em Mi bemol maior para dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes e duas trompas, WoO 25
Composto em 1793
Publicado em 1830
5 – Andante

Sabine Meyer Bläserensemble
Diethelm Jonas e Albrecht Mayer
, oboés
Reiner Wehle e Sabine Meyer, clarinetes
Dag Jensen e Georg Klütsch, fagotes
Nikolaus Frisch e Bruno Schneider, trompas

Septeto em Mi bemol maior para violino, viola, clarinete, trompa, violoncelo, fagote e contrabaixo, Op. 20, em arranjo para noneto de sopros por Jiří Družecký (1745-1819)
Composto entre 1799-1800
Publicado em 1802 (septeto)
Dedicado à imperatriz Maria Theresa da Áustria
Arranjo para noneto publicado em 1814

6 – Adagio – Allegro con brio
7 – Adagio cantabile
8 – Tempo di menuetto
9 – Tema con variazioni (Andante)
10 – Scherzo
11 – Andante con moto alla marcia

Sabine Meyer Bläserensemble
Diethelm Jonas e Albrecht Mayer,
oboés
Reiner Wehle e Sabine Meyer,
clarinetes
Dag Jensen e Georg Klütsch,
fagotes
Nikolaus Frisch e Bruno Schneider,
trompas
Klaus Lohrer,
contrafagote

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trio, Op. 87 – versões para oboé, clarinete e fagote – para dois violinos e viola – para trompete, trompa e trombone – para três clarinetes – Variações sobre “Là ci darem la mano”, WoO 28 – Sonata para trompa e piano, Op. 17 – Trio para flauta, piano e fagote, WoO 37 – Les Vents Français

Como mencionamos ontem, as duas peças que Beethoven dedicou ao incomum conjunto de dois oboés e um corne inglês tinham destinatários específicos. Sabendo que a instrumentação era tão atraente quanto esdrúxula, Ludwig escreveu sua composição em quatro pentagramas: um para cada oboé e outro para corne inglês, todos em clave de sol, e um em clave de Dó, com material muito semelhante à parte do corne inglês, mas mais desenvolvida. Assim, ao propor uma parte para viola e supor que os violinistas não teriam dificuldades de tocar as partes dos oboés, o compositor não só autorizou, como também prescreveu a execução da obra pelo conjunto muito mais encontradiço de dois violinos e viola.

A primeira gravação que lhes trarei, no entanto, é para uma combinação diferente e, a meu ver, ainda mais atraente de instrumentos. A interação dos timbres tão característicos do oboé, do clarinete e do fagote trazem colorido às duas despretensiosas e tão bem escritas peças para trio de sopros, realçam o cantabile dos movimentos lentos e, particularmente nas variações, fazem ouvir as diferentes vozes com mais clareza. Além disso, ela servirá de pretexto para lhes apresentar o excelente conjunto Les Vents Français (“Os Sopros Franceses”), uma reunião de brilhantes solistas à qual, aqui, se junta o pianista Éric Le Sage, que tão bem toca Beethoven. De lambujem, mais uma versão da sonata para trompa que Ludwig dedicou a Giovanni Punto, seu amigo efêmero, o que lhes assegura que, se a fortuna dependesse de gravações do Op. 17, eu realmente não seria pobre.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio em Dó maior para dois oboés e corne inglês, Op. 87
(versão para oboé, clarinete e fagote)
Composto provavelmente em 1793
Publicado em 1806

1 – Allegro
2 – Adagio cantabile
3 – Menuetto. Allegro molto. Scherzo
4 – Finale. Presto

François Leleux, oboé
Paul Meyer, clarinete
Gilbert Audin, fagote

Trio em Sol maior para piano, flauta e fagote, WoO 37 (1786)

5 – Allegro
6 – Adagio
7 – Andante con variazioni

Emmanuel Pahud, flauta
Gilbert Audin, fagote
Eric Le Sage, piano

Variações em Dó maior sobre a “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para dois oboés e corne inglês, WoO 28 (versão para oboé, clarinete e fagote)
Compostas provavelmente em 1795
Publicadas em 1806

8 – Tema
9 – Variação I
10 – Variação II
11 – Variação III
12 – Variação IV
13 – Variação V
14 – Variação VI
15 – Variação VII
16 – Variação VIII – Coda

François Leleux, oboé
Paul Meyer, clarinete
Gilbert Audin, fagote

Sonata em Fá maior para piano com uma trompa ou violoncelo, Op. 17
Composta em 1800
Publicada em 1801
Dedicada à baronesa Josefine von Braun

17 – Allegro moderato
18 – Poco adagio, quasi andante
19 – Rondo – Allegro moderato

Radovan Vlatković, trompa
Éric Le Sage, piano

Dos Três Duos para clarinete e fagote, WoO 27

No. 3 em Si bemol maior
20 – Allegro sostenuto
21 – Aria con variazioni

Paul Meyer, clarinete
Gilbert Audin, fagote

Les Vents Français
Emmanuel Pahud, flauta
François Leleux, oboé
Paul Meyer, clarinete
Gilbert Audin, fagote
Radovan Vlatković, trompa

com
Eric Le Sage, piano

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Além da ótima versão acima, resolvi alcançar-lhes o trio Op. 87 em outras três roupagens, incluindo aquela para dois violinos e viola prevista por Beethoven:

Versão para trompete, trompa e trombone
New York Brass Arts Trio
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Versão para dois violinos e viola
The Millennium Trio
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Versão para três clarinetes (apenas os três últimos movimentos)
Bruce Nolan Ensemble
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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trio para dois oboés e corne inglês, Op. 87 – Variações sobre “Là ci darem la mano”, WoO 28 – Quinteto para sopros, WoO 208 – Sonata para trompa e piano, Op. 17 – Sexteto para sopros, Op. 71 – Rondino, WoO 25 – Ricercar Academy

Ao chegar a Viena em 1792 para estudar com Hadyn, Beethoven já tinha composto e esboçado obras em quase todos os gêneros frequentados pelo Mestre de Rohrau. Em poucos deles ele fora mais prolífico que na Harmoniemusik, a escritura para conjuntos de sopros a serviço de membros da aristocracia. A corte do Eleitor de Colônia em Bonn, em cuja orquestra Ludwig tocara viola, tinha um notável grupo de sopristas que certamente ajudou o compositor a familiarizar-se com os timbres e particularidades técnicas dos instrumentos, enquanto fermentava ideias, estudos e coragem para enfim escrever sua primeira sinfonia.

Na capital imperial, que já tinha sua corte repleta de ótimos músicos e com Antonio Salieri firmemente estabelecido com Kapellmeister, cargo que manteria até a antessala de sua morte em 1824, as poucas oportunidades que Beethoven teve para escrever para sopros vinham de músicos amadores. Um trio de irmãos – Johann, Franz e Philipp Teimer –  trouxe-lhe o desafio de escrever para o incomum conjunto de dois oboés e corne inglês. O trio resultante, publicado postumamente e com o enganosamente tardio número de Opus 87, foi em verdade composto antes mesmo de Ludwig planejar seu Opus 1. Embora não apresente grandes desafios técnicos a seus instrumentistas, é uma obra simpática e bem acabada no escopo de quatro movimentos que o compositor buscava dominar em seus primeiros anos em Viena: um primeiro movimento em sonata-forma estrita, com repetição de exposição, um movimento lento lírico, um minueto que é um scherzo em tudo, exceto na denominação, e um final ebuliente – o mesmo arcabouço de sua primeira sinfonia, que só viria sete anos depois.

Não se sabe em que condições ocorreu a estreia da obra, nem qual foi a impressão dos irmãos Teimer a respeito dela. Supõe-se que tenham gostado, porque dois anos depois Ludwig ainda escreveria uma outra peça para a mesma formação: as oito engenhosas variações sobre o indefectível dueto “Là ci darem la mano” do “Don Giovanni” que Mozart estreara em Praga sete anos antes e que continuava a ser um imenso sucesso. Algo mais desenvolvidas que as obras em variações que Beethoven até então escrevera para piano, são muito interessantes e menos constritas por exigências de forma que o trio. Esquecidas por mais de um século, só foram redescobertas e publicadas em 1914 – quando a Música digeria a “Sagração da Primavera” e o mundo mergulhava em sua Primeira Grande Guerra.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Rondó (Rondino) em Mi bemol maior para dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes e duas trompas, WoO 25
Composto em 1793
Publicado em 1830
1 – Andante

Marcel Ponseele e Ann van Lancker, oboés
Eric Hoeprich e Joost Hekkel, clarinetes
Marc Vallon e Jean-Louis Fiat, fagotes
Claude Maury e Piet Dombrecht, trompas

Trio em Dó maior para dois oboés e corne inglês, Op. 87
Composto provavelmente em 1793
Publicado em 1806

2 – Allegro
3 – Adagio cantabile
4 – Menuetto. Allegro molto. Scherzo
5 – Finale. Presto

Marcel Ponseele e Michel Henry, oboés
Taka Kitazato, corne inglês

Sexteto em Mi bemol maior para dois clarinetes, duas trompas e dois fagotes, Op. 71
Composto em 1796
Publicado em 1810

6 – Adagio – Allegro
7 – Adagio
8 – Menuetto. Quasi allegretto
9 – Rondo. Allegro

Eric Hoeprich e Joost Hekkel, clarinetes
Marc Vallon e Jean-Louis Fiat, fagotes
Claude Maury e Piet Dombrecht, trompas

Variações em Dó maior sobre a “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para dois oboés e corne inglês, WoO 28
Compostas provavelmente em 1795
Publicadas em 1806

10 – Tema – Variações I-VIII – Coda

Marcel Ponseele e Michel Henry, oboés
Taka Kitazato, corne inglês

Quinteto para oboé, três trompas e fagote em Mi bemol maior, Hess 19
Completado por Leopold Alexander Zellner (1823-1894)
Composto provavelmente em 1793
Completado e publicado em 1862

11 – Allegro
12 – Allegro maestoso
13 – Minuetto

Marcel Ponseele, oboé
Johann van Neste, Claude Maury e Piet Dombrecht, trompas
Marc Vallon, fagote

Sonata em Fá maior para piano com uma trompa ou violoncelo, Op. 17
Composta em 1800
Publicada em 1801
Dedicada à baronesa Josefine von Braun

14 – Allegro moderato
15 – Poco adagio, quasi andante
16 – Rondo – Allegro moderato

Claude Maury, trompa
Guy Penson, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Missa em Dó maior, Op. 86 – Ah! Perfido/Per Pietà, Non Dirmi Addio, Op. 65 – Ne’ giorni tuoi felici, WoO 93 – Tremate, empi, tremate, Op. 116 – Watson – Rigby – Ainsley – Howell – Best

Ao aceitar em 1807 a encomenda do príncipe Nikolaus Esterházy II para compor uma missa para o onomástico da esposa, Beethoven receava ter que calçar, com pezinhos de criança, sandálias que lhe seriam por demais grandes. A casa de Esterházy, afinal, estava acostumada a ouvir uma missa nova composta para a princesa a cada 12 de setembro, e nos dez anos anteriores as obras lhe tinham sido providas por Johann Nepomuk Hummel e, claro, aquele com quem Beethoven mais temia ser comparado: Joseph Haydn, seu antigo professor, de quem Nikolaus tinha sido o último mecenas.

Os temores de Ludwig, então com 36 anos, tinham toda razão de ser: a despeito do reconhecimento como compositor de música instrumental, sua única experiência anterior com a música sacra tinha sido o oratório Christus am Ölberge, com resultados, como ele próprio reconhecia, pífios. O velho Haydn, por sua vez, tinha em seu portfólio quatorze missas, quase todas obras-primas consumadas, e, embora já aposentado pela doença que o mataria em poucos anos, era amplamente considerado o maior expoente vivo da Música.

O príncipe, no entanto, pagava bem e exigia um prazo firme, ao que Beethoven respondeu compondo uma missa bastante tradicional, com os cinco movimentos de praxe (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus/Benedictus, e Agnus Dei) e uma estrutura mormente sinfônica, sem os dramáticos contrastes característicos de sua música instrumental. A obra foi gelidamente recebida pelos Esterházy, que certamente estranharam as diferenças entre o que Beethoven lhes trouxe e aquilo que Haydn lhes entregara anualmente desde os tempos de Nikolaus I, o primeiro patrono do velho mestre. Conta-se que o príncipe chegou a exclamar “meu caro Beethoven, o que foi isso que você fez novamente?”, para a gargalhada de Hummel, também presente, ao que Ludwig retirou-se enfurecido. A história, contada pelo factotum e falsificador de documentos Schindler, possivelmente foi exagerada, mas tem seus fundamentos: quando a obra foi enfim publicada – depois duma negociação teimosa em que ela acabou cedida como brinde num pacotão de outras obras -, ela acabou dedicada a Esterházy algum, e sim ao conde Kinsky.

Os contemporâneos também não se entusiasmaram muito. E. T. A. Hoffmann, naquele mesmo famoso ensaio em que explodiu em arrebatamento acerca da Quinta, e apesar de reconhecer que a obra era “inteiramente digna do grande mestre” quanto à sua “estrutura interna, bem como sua inteligente orquestração”, tascou:

“… de que Beethoven seria comparado a Haydn em termos de estilo e compostura, o crítico [Hoffmann] não tinha dúvidas, mesmo antes de ter lido ou ouvido uma nota da presente obra; mas ele se sentiu desapontado em sua expectativa com relação à sua concepção e expressão do texto da Missa. Em outras ocasiões, o gênio de Beethoven pôs em movimento, propositalmente, o maquinário do temor, do terror. Assim, pensou o crítico, seu espírito também se encheria de profundo temor ao contemplar as coisas celestiais, e ele expressaria esse sentimento por meio de sons. Pelo contrário, no entanto, toda a Missa expressa um otimismo infantil que, por sua própria pureza, confia devotamente na graça de Deus e apela a ele como um pai que deseja o melhor para seus filhos e ouve suas orações…”

Apesar de muito esculachada, a Missa em Dó é uma obra com muitas qualidades. É provável que os conservadores ouvidos austro-húngaros tenham estranhado a falta de números vocais para os solistas, dada a opção de Beethoven por colocá-los a cantar em conjunto, integrando-os com o coro. Pouco comum na época, e radicalmente diferente das missas de Haydn, é a que a missa em Dó maior apenas começa e se encerra nessa tonalidade, passeando por várias outras ao longo de seus movimentos. Há alguns bons momentos fugais, e um toque surpreendente, embora não completamente original (há um precedente famoso na Missa em Si menor de J. S. Bach), com o retorno da música do Kyrie no finalzinho do Dona Nobis Pacem.

As três peças que arredondam o disco nada têm de sacro: são todas frutos da pretensão de Ludwig de ficar rico como compositor de óperas em italiano. A primeira, Ah, perfido!, é a mais famosa ária de concerto que ele compôs e já lhes foi apresentada algumas vezes em nossa jornada por sua obra, numa delas jocosamente comparada às faixas dum compacto de Silvio Cesar. As outras duas – o dueto Ne’ giorni tuoi felici (“Em teus dias felizes”) e o trio Tremate, empi, tremate (“Tremei, ímpio, tremei”) – são como trabalhos de conclusão de curso, produtos dos estudos de composição vocal e prosódia em italiano sob orientação de Antonio Salieri, debruçando-se especificamente sobre o problema de escrever duetos e trios naquele idioma. Como exercícios que são, quase todos números vocais de concerto de Beethoven não tiveram sua orquestração completa pelo compositor. A única exceção foi Tremate, que talvez considerou boa o bastante para ser apresentada, o que só veio a acontecer em 1814, o ano em que Leonore teve uma segunda chance nos palcos como Fidelio, e tendo como solistas justamente a Leonore e o Fidelio da estreia da ópera ressurrecta.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Missa em Dó maior para solistas, coro e orquestra, Op. 86
Composta em 1807
Publicada em 1812
Dedicada ao conde Ferdinand Kinsky

1 – Kyrie
2 – Gloria
3 – Credo
4 – Sanctus
5 – Benedictus
6 – Agnus Dei

Janice Watson, soprano
Jean Rigby, contralto
John Mark Ainsley, tenor
Gwynne Howell, baixo
Corydon Singers
Corydon Orchestra
Matthew Best, regência

“Ah! perfido!”, cena e ária para soprano e orquestra, Op. 65
Composta em 1796
Publicada em 1805
Dedicada (no manuscrito) à condessa Joséphine de Clary

7 – Scena: Ah! perfido, spergiuro
8 – Aria: Per pietà, non dirmi addio

Janice Watson, soprano
Corydon Orchestra
Matthew Best, regência

9 – “Ne’ giorni tuoi felici”, dueto para soprano, tenor e orquestra, WoO 93 (1802)

Janice Watson, soprano
John Mark Ainsley, tenor
Corydon Orchestra
Matthew Best, regência

10 – “Tremate, empi, tremate”, trio para soprano, tenor, baixo e orquestra, Op. 116 (1802)

Janice Watson, soprano
John Mark Ainsley, tenor
Gwynne Howell, baixo
Corydon Orchestra
Matthew Best, regência

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Variações Diabelli (Brendel) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Variações Diabelli (Brendel) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

A extrema elegância vienense de Alfred Brendel combina esplendidamente com esta bela obra tardia de Beethoven. Aliás, Brendel gravou três vezes esta peça. A última gravação foi esta, feita em estúdio no ano de 1988. É a mais calma das três e aqui não estou falando de ritmos, mas de humor geral. Esta música parece ter sido feita para Brendel, tal sua naturalidade, sofisticação e graça ao abordá-la.

As 33 variações sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120, são mais conhecidas como Variações Diabelli. Elas foram escritas entre 1819 e 1823 e são frequentemente consideradas um dos maiores conjuntos de variações de teclado, juntamente com as Variações Goldberg de J. S. Bach. A obra foi composta depois que Diabelli, um conhecido editor e compositor de música, no início de 1819, ter enviado uma valsa de sua criação a todos os compositores importantes do Império Austríaco, incluindo Franz Schubert, Carl Czerny, Johann Nepomuk Hummel e o arquiduque Rudolph, pedindo a cada um deles para escrever UMA variação sobre ele. Seu plano era publicar todas as variações de um volume patriótico chamado Vaterländischer Künstlerverein e usar os lucros para beneficiar órfãos e viúvas das Guerras Napoleônicas. A história muitas vezes contada, mas agora questionável, das origens desse trabalho, é que Beethoven inicialmente recusou-se a participar do projeto de Diabelli, descartando o tema como banal, indigno de atenção. Pouco tempo depois, segundo a história, ao saber que Diabelli pagaria um preço considerável, Beethoven mudou de ideia e decidiu mostrar o quanto poderia ser feito com tão pouco. Sabe-se lá se é verdade.

33 Variationen C-dur uber einen Walzer von Anton Diabelli, Op.120:
01. Tema : Vivace & Variation 1 : Alla marcia maestoso
02. Variation 2 : Poco allegro
03. Variation 3 : L’istesso tempo
04. Variation 4 : Un poco piu vivace
05. Variation 5 : Allegro vivace
06. Variation 6 : Allegro ma non troppo e serioso
07. Variation 7 : Un poco piu allegro
08. Variation 8 : Poco vivace
09. Variation 9 : Allegro pesante e risoluto
10. Variation 10 : Presto
11. Variation 11 : Allegretto
12. Variation 12 : Un poco piu moto
13. Variation 13 : Vivace
14. Variation 14 : Grave e maestoso
15. Variation 15 : Presto scherzando
16. Variation 16 : Allegro
17. Variation 17 : Allegro
18. Variation 18 : Poco moderato
19. Variation 19 : Presto
20. Variation 20 : Andante
21. Variation 21 : Allegro con brio – Meno allegro
22. Variation 22 : Allegro molto (alla ‘Notte e giorno faticar’ di Mozart)
23. Variation 23 : Allegro assai
24. Variation 24 : Fughetta (Andante)
25. Variation 25 : Allegro
26. Variation 26 : (Piacevole)
27. Variation 27 : Vivace
28. Variation 28 : Allegro
29. Variation 29 : Adagio ma non troppo
30. Variaiton 30 : Andante, sempre cantabile
31. Variation 31 : Largo, molto espressivo
32. Variation 32 : Fuga (Allegro)
33. Variation 33 : Tempo di minuetto moderato

Alfred Brendel, piano

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Alfred Brendel dando um susto no pessoal do PQP Bach

PQP

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Christus am Ölberge, Op. 85 – King – Harwood – Klee

Já lhes falei que não sou um grande fã do único oratório de Beethoven, mas o fato é que, até agora, a melhor versão da obra não tinha sido publicada por aqui. Resolvido: se não será esta gravação a colocar Ludwig no patamar – posição que ele, aliás, nunca almejou – dos grandes oratoristas, acho que o canto impecável de James King e Elizabeth Harwood, ambos no auge de suas capacidades vocais, sob a condução segura do já veteraníssimo Bernhard Klee deixa o Christus am Ölberge tão bonito quanto ele pode ser. E mais não lhes conto, porque eu já lhes contei antes.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Christus am Ölberge, oratório para solistas, coro e orquestra, Op. 85
Composto em 1803
Publicado em 1811

1 – Introdução: Grave – Adagio
2-  Recitativo: “Jehovah, du mein Vater!”
3 – Ária: “Meine Seele ist erschuttert”
4 – Recitativo: “Erzittre, Erde!”
5 – Ária: “Preist des Erlosers Gute”
6 – Recitativo: “Verkundet, Seraph, mir dein Mund”
7 – Dueto: “So ruhe denn”
8 – Recitativo: “Wilkommen, Tod!”
9 – Coro dos soldados: “Wir haben ihn gesehen”
10 – Recitativo: “Die mich zu fangen augezogen”
11 – Coro dos soldados: “Hier ist er”
12 – Recitativo: “Nicht ungestraft”
13 – Trio: “In meinen Adern wuhlen”
14 – Coro dos soldados: “Auf, ergreifet den Verrater!”

15 – Coro dos Anjos “Welten singen Dank und Ehre”

James King, tenor (Jesus)
Elizabeth Harwood, soprano (
Serafim)
Franz Crass, baixo (Pedro)
Wiener Singverein
Wiener Symphoniker
Bernhard Klee, regência

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Egmont, Op. 84 – Die Weihe des Hauses, Op. 124 – Föttinger – Malkovich – Haselböck

Quando o Burgtheater de Viena, em 1809, decidiu fazer uma nova montagem do “Egmont” de Johann Wolfgang Goethe, estreado vinte anos antes, não poderiam ter feito melhor escolha para o autor de sua música incidental. Beethoven idolatrava Goethe e respondeu à encomenda com grande entusiasmo, dedicação e, no que lhe era realmente incomum, rigoroso cumprimento dos prazos combinados. A montagem foi um sucesso e, ainda mais importante para Ludwig, Goethe adorou a música, que, nas palavras do mestre das Letras, evocou o caráter de seu drama com “notável gênio”.

“Egmont”, a tragédia, acompanha os dias finais de Lamoraal, o conde flamengo de Egmont, que luta contra a opressão dos invasores espanhóis capitaneados pelo duque de Alba. Abandonado pelos correligionários, o conde é aprisionado pelos inimigos. Clärchen, sua amada, vem a seu socorro e tenta, sem sucesso, libertá-lo. Desesperada com a falha de seus esforços, Clärchen suicida-se. Egmont é, enfim, condenado à morte e encara com altivez o caminho para o patíbulo, certo de que sua ilibada trajetória e dedicação à causa que lhe custará a vida inspirará seus compatriotas no caminho para a liberdade. A música de Beethoven para “Egmont” é pouco ouvida além da poderosa abertura, o que é uma pena, pois, a despeito da pouca coesão entre suas peças, tem vários momentos memoráveis – sobretudo as duas canções de Clärchen e a “Sinfonia da Vitória” que evoca o fim heroico de Lamoraal. As semelhanças da trama com a de “Leonore” – o herói aprisionado, a heroína que vem em seu socorro – são notáveis, e não se pode duvidar de que elas tenham instigado Ludwig, talvez ressentido com o fracasso de sua única ópera, que reestrearia cinco anos depois, amplamente retrabalhada, como “Fidelio”.

A gravação que escolhi provém de Resound, uma série muito especial produzida por Stephan Reh e dirigida por Martin Hasselböck. Nela, a Wiener Akademie Orchester executa obras de Beethoven, sob a regência de Hasselböck, não só com instrumentos originais, mas com as forças orquestrais usadas nas estreias e, sempre que possível, nos locais em que elas aconteceram. Como o Burgtheater em que se ouviu pela primeira vez o “Egmont” não existe mais, e o teatro com esse nome que hoje há em Viena é uma reconstrução de um novo Burgtheater, destruído por bombardeios, escolheu-se fazer a gravação num outro notável teatro vienense: o Theater in der Josefstadt, o mais antigo teatro da cidade ainda em funcionamento, e que foi reinaugurado em 1822 com a abertura Die Weihe des Hauses (“A Consagração da Casa”), também incluída no disco.

As gravações da música incidental de “Egmont” costumam incluir uma parte para narrador que, embora não previstas no original, ajudam a contextualizar a música de cena, na ausência do texto de Goethe. Já lhes alcançamos aqui, anteriormente, uma poderosa versão narrada pelo inesquecível Bruno Ganz. Para a série Resound, foram feitas versões em alemão e inglês, e cada qual ficou a cargo de um grande ator. A primeira foi lida pelo austríaco Herbert Föttinger, de distinta carreira no teatro vienense, que foi um excelente Fausto e um notável Valmont em “Ligações Perigosas”, além de diretor duma montagem de “Fidelio” regida por Nikolaus Harnoncourt no próprio Theater an der Wien em que a ópera estreou e, não menos importante, diretor artístico do Theater in der Josefstadt em que foi feita a gravação. Já a versão em inglês é lida pelo brilhante John Malkovich, que curiosamente também viveu um Valmont inesquecível, mas no cinema, e cujo estilo harmoniza tão bem com a música, executada com o conjunto instrumental menor que o costumeiro, que passou a ser meu “Egmont” favorito.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Música para a Tragédia “Egmont” de Johann Wolfgang von Goethe, Op. 84
Composta entre 1809-1810
Publicada em 1810 (abertura) e 1812 (demais peças)

1 – Abertura. Sostenuto, Ma Non Troppo – Allegro
2 – Monólogo e Canção: Die Trommel gerührt
3 – Monólogo e Entreato no. 1: Andante
4 – Monólogo e Entreato no. 2: Larghetto
5 – Monólogo e Canção: Freudvoll und leidvoll, gedankenvoll sein
6 – Monólogo e Entreato no. 3: Allegro
7 – Monólogo e Entreato no. 4: Poco sostenuto e risoluto
8 – Monólogo e Música: Clärchens Tod bezeichnend: Larghetto
9 – Melodrama: Poco sostenuto
10 – Monólogo e Sinfonia da Vitória: Allegro con brio

Bernarda Bobro, soprano
Wiener Akademie Orchester
Martin Haselböck,
regência

“Die Weihe des Hauses”, Abertura em Dó maior, Op. 124
Composta em 1822
Publicada em 1825
Dedicada ao príncipe Nikolai Golitsin
11 – Maestoso e sostenuto – Allegro

Wiener Akademie Orchester
Martin Haselböck, regência

Versão em alemão, com narração de Herbert Föttinger
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Versão em inglês, traduzida por Christopher Hampton e narrada por John Malkovich
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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sexteto, Op. 81b – Septeto, Op. 20 – The Gaudier Ensemble

Se Viena em 1810 estava uma baderna, imaginem então como estava a abadernada vida de Ludwig van Beethoven. Sem dinheiro, e com dificuldades de negociar a venda de suas obras, recorreu àquele velho golpe, que tantas vezes aqui apontamos, de requentar suas obras antigas e atingir novos editores. E se lhe faltava foco para as tarefas mais essenciais da vida, que se diria então das suas filigranas? Naturalmente, assim, o outrora meticuloso catálogo de suas composições publicadas também foi tragado pelo vórtex da zorra em que sua vida mergulhou. O resultado foi que Beethoven tocou o ficken Sie sich para seu próprio catálogo e acabou por publicar duas obras como Opus 81, o que levou a posteridade a considerar a sonata Lebewohl como Op. 81a, e o requentado sexteto para trompas e quarteto de cordas como o Op. 81b.

Requentado, sim, mas muito bom – e o jovem Ludwig, afinal de contas, sabia escrever para sopros. O sexteto foi provavelmente composto em 1795, nos seus primeiros anos em Viena, enquanto estudava com Haydn. Não se sabe em que circunstâncias, nem para quem foi composto. O fato de ter sido publicado, quinze anos depois, em Bonn pela firma de Nikolaus Simrock, que já publicara a sonata para violino e piano, Op. 47 (aquela que eu gostaria de chamar de “Bridgetower” mas tanta gente insiste em chamar de “Kreutzer”), talvez indique que ela foi escrita para conterrâneos do compositor. Talvez o próprio Simrock, nascido em Mainz, fosse o músico que Beethoven tivesse em mente: amigo do compositor desde os tempos em que tocaram juntos na orquestra do Eleitor de Colônia, na qual Simrock era trompista e Beethoven tocava viola (insira aqui sua piada de violista: _____________________), é muito plausível que ainda tivesse a capacidade de tocar uma das exigentes partes de trompa, que ficam ainda mais difíceis nos instrumentos sem válvulas daquela época. Qualquer que seja seu destinatário, este sexteto é a única obra de Ludwig na tradição da serenata-divertimento para sopros e cordas em que Mozart e Haydn foram tão prolíficos. Uma obra de Mozart, aliás – o quinteto para trompa e cordas, K. 407, na mesma tonalidade de Mi bemol maior -, é tão notavelmente semelhante ao sexteto que não parece haver muita dúvida de que ela foi a inspiração para a obra do renano.  Escrita em três movimentos, diferentemente dos divertimentos, que costumavam ter mais de cinco, ele tem um caráter decididamente virtuosístico para as trompas, e a prescrição no frontispício da primeira edição – a de que um contrabaixo dobrasse a parte do violoncelo – sugere fortemente que o sexteto tenha o caráter dum miniconcerto para duas trompas, com um vibrante Allegro de abertura, um Adagio cantável, como um dueto de ópera, e um serelepe finale com toques emulando aqueles de trompa de caça. A saborosa obra, aqui, tem a companhia do famoso Septeto, Op. 20, que tanto lucro deu a Beethoven e que ficou tão famoso que o compositor chegou mesmo a renegá-lo, aborrecido com seu sucesso que, a seu ver, ofuscava obras suas bastante melhores. A interpretação é do Gaudier Ensemble, um conjunto de distintos instrumentistas de algumas das melhores orquestras europeias, com o sempre ótimo som da Hyperion garantindo o prazer e a fidelidade da experiência aural.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Septeto em Mi bemol maior para violino, viola, clarinete, trompa, violoncelo, fagote e contrabaixo, Op. 20
Composto entre 1799-1800
Publicado em 1802
Dedicado à imperatriz Maria Theresa da Áustria

1 – Adagio – Allegro con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Tempo di menuetto
4 – Tema con variazioni. Andante
5 – Scherzo – Allegro molto e vivace
6 – Andante con moto alla marcia – Presto

The Gaudier Ensemble:

Richard Hosford, clarinete
Robin O’Neill, fagote
Jonathan Williams, trompa
Marieke Blankestijn, violino
Roger Tapping, viola
Christoph Marks, violoncelo
Stephen Williams, contrabaixo

Sexteto em Mi bemol maior para duas trompas, dois violinos, viola e violoncelo, Op. 81b
Composto provavelmente em 1795
Publicado em 1810

7 – Allegro con brio
8 – Adagio
9 – Rondo: Allegro

The Gaudier Ensemble:

Jonathan Williams e Philip Eastop, trompas
Marieke Blankestijn e Iris Juda,
violinos
Jane Atkins,
 viola
Christoph Marks,
 violoncelo

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Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano, Op. 81a (“Lebewohl”) & Op. 31 nos. 1 & 2 – Perahia

Beethoven ficou tiririca ao saber que seu editor resolveu dar à sonata para piano, Op. 81a, um subtítulo em francês. Apesar de ser amplamente conhecida como “Les Adieux”, em deferência ao compositor nós não a chamaremos assim. Bastaria mencionar que o título original, “Lebewohl” (“Adeus”), aparece acompanhando as três primeiras notas do movimento de abertura, mas vamos além: naquele turbulento 1809, o francês era provavelmente o último idioma que Ludwig gostaria de ouvir. Napoleão, que invadira novamente a Áustria, bombardeou Viena em 11 de maio, muito para o desespero de Beethoven, que passou a noite em claro, afogando-se em travesseiros, temendo que o ruído dos canhões detonasse ainda mais sua já precária audição. No dia seguinte, os franceses tomaram a capital austríaca, num déjà vu muito indigesto para quem já tinha visto sua única ópera fracassar na estreia porque o público era quase todo de invasores franceses. Ademais, o adeus a que o título se refere só poderia ser dito em alemão, pois foi certamente neste idioma que Beethoven despediu-se de seu aluno e patrono, o arquiduque Rudolph, que deixara Viena um mês antes para refugiar-se com a família imperial na Hungria. Instigado pelos sinceros sentimentos despertados pela partida daquele seu grande amigo, Ludwig dedicou-lhe uma sonata para piano, sob cujo primeiro movimento anotou “O Adeus (“Lebewohl”) – Viena, 4 de maio de 1809 – por ocasião da partida de Sua Alteza Imperial, o venerável arquiduque Rudolph”. Os dois movimentos restantes foram iniciados mais tarde, no mesmo ano, talvez até depois do armistício que levou os franceses a deixarem a Áustria, depois de abocanharem vários nacos de seu território. O arquiduque só voltaria a Viena em janeiro de 1810, e a sonata em sua homenagem iria a prensa um ano depois, com os subtítulos gálicos que enfureceram o compositor. Beethoven, que sempre se referiu à sonata como “Lebewohl, Abwesenheit und Wiedersehen” (“Adeus, Ausência e Reencontro”), assim expressou seu descontentamento ao editor:

“Acabo de receber o “Adeus” etc. e devo apontar que há outras cópias com um título em francês – por quê? “Lebewohl” é muito diferente de “les adieux”; é dito a uma só pessoa com o mais caloroso afeto; o outro, a grupos, a cidades inteiras!”

Independentemente do título, sempre considerei esta obra críptica uma armadilha à espera de qualquer pianista que se disponha à monumental jornada pelas trinta e duas sonatas. Ela, de fato, já foi o calcanhar de Aquiles de muitos grandes beethovenianos, mais ou menos como a “Pastoral” costuma ser entre as sinfonias. Ainda que a “Lebewohl” muitas vezes seja chamada de programática, Beethoven nunca descreveu seu programa, pelo que se depreende que sua intenção era mais evocar sentimentos do que contar uma história. É, enfim, muito difícil convencer numa obra tão elaborada, que o compositor anotou tão meticulosamente com instruções, e eu acho que o maravilhoso Murray Perahia não tem pares nessa sensível leitura da “Lebewohl”, que a um só tempo faz justiça à riqueza da composição e honra o memorial que Beethoven legou a seu grande amigo.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Das Três sonatas para piano, Op. 31
Compostas em 1802
Publicadas em 1803

Sonata no. 2 em Ré menor, “Tempestade”
1 – Largo – Allegro
2 –  Adagio
3 – Allegretto

Sonata no. 3 em Mi bemol maior, “Caça”
4 – Allegro
5 – Scherzo – Allegretto vivace
6 – Menuetto – Moderato e grazioso
7 – Presto con fuoco

Sonata para piano em Mi bemol maior, Op. 81a, “Les Adieux”
Composta entre 1809-10
Publicada em 1811
Dedicada a Rudolph, arquiduque da Áustria

8 – Das Lebewohl (Les Adieux): Adagio – Allegro
9 – Abwesenheit (L’Absence): Andante espressivo (In gehender Bewegung, doch mit viel Ausdruck)
10 – Das Wiedersehen (Le Retour): Vivacissimamente (Im lebhaftesten Zeitmaße)

Murray Perahia, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Fantasia para piano, coro e orquestra, Op. 80 – Concerto para piano, violino e violoncelo em Dó maior, Op. 56 – Chamayou – Conunova – Clein – Kadouch – Equilbey

Depois de tanto lhes escrever – e de tanto vocês me aguentarem -, permitir-me-ei ser muito sucinto e direto.

Como sabem (ou talvez não, pois volta e meia alguém manda mensagem dando a entender que considera que o blogue tem um só autor), o PQP Bach é fruto de um trabalho colaborativo, não remunerado e, para alguns de nós, tibiamente reconhecido. Todos nós pagamos nossos boletos com outras lidas, e nenhum deles é pago com música. Músicos, aliás, quase não somos – poucos tiveram treinamento musical formal. Melômanos, claro, somos todos, e essa obsessão comum acabou por nos aproximar, a partir da criação do blogue pelo patrão, há quase quatorze anos, e da construção gradual, combinando convocações, autoconvites e casualidades, de nossa cambada de autores.

E não, não nos conhecemos todos. Alguns se conhecem, e uns poucos conhecem a maioria dos outros. Estamos mais ou menos esparramados pelo Brasil, e até fora dele, a maioria longe de seu pago, polinizando música pela blogosfera enquanto a vida, volta e meia, nos taca fogo na cara e alguma boa alma nos vem apagá-lo com o tamanco. Comunicamo-nos muito, é verdade, mas nos encontramos menos do que gostaríamos. A ideia dum grande encontro pequepiano, claro, está sempre presente, mas o fato é que temos que nos conformar, na prática, com miniencontros, normalmente tomando um goró, batendo um rango, ou na frente duma TV, assistindo a um péssimo Gre-Nal e com um gato ciumento no colo (caso verídico).

O mais perto que chegamos do megaencontro foi no ano passado, quando o colega e muso Avicenna reuniu-se com alguns de nós e com sua incrível família e nos proporcionou uma tremenda tarde de sábado e um banquete de estragar as já indecentes panças. Graças ao trânsito, cheguei grosseiramente atrasado e, a despeito da alegria de ter comparecido, senti que não consegui expressar ao anfitrião minha gratidão, se não pela acolhida imperial, pela oportunidade de conhecê-lo e à sua família. Faltava-lhe também retomar as postagens, o que nos prometeu fazer tão logo as circunstâncias lhe permitissem.

Pois bem: agora que Avicenna está de volta ao blogue, quis alcançar-lhe um agrado, mas tão logo ele voltou, acabou por anunciar seu desligamento por motivos de força maior. Não vi melhor maneira de homenageá-lo do que trazendo uma postagem com sua musa, a divina Sandrine Piau. Vá lá que ela não é muito fã de Beethoven, e que sua participação nesse disco é praticamente uma ponta como solista na ademais pouco exigente Fantasia Coral. Mas sei que isso não importará a Avicenna. O que importa, sim, é que ele está novamente aqui com a gente, e que certamente uivará ao ouvir sua querida Piau.

Grato por tudo, Mestre de Avis!

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Fantasia em Dó menor para piano, coro e orquestra, Op. 80, “Fantasia Coral”
Composta em 1808
Publicada em 1810
Dedicada a Maximilian Joseph, Rei da Baviera

1 – Adagio
2 – Finale: Allegro – Meno allegro (Allegretto) – Allegro molto – Adagio ma non troppo – Marcia, assai vivace – Allegro – Allegretto ma non troppo, quasi andante con moto (»Schmeichelnd hold und lieblich klingen«) – Presto

Bertrand Chamayou, piano
Sandrine Piau, soprano
Anaik Morel, contralto
Stanislas de Barbeyrac, tenor
Florian Sempey, barítono
Accentus
Insula Orchestra
Laurence Equilbey, regência

Concerto em Dó maior para violino, violoncelo, piano e orquestra, Op. 56
Composto entre 1803-05
Publicado em 1807
Dedicado a Joseph Franz Maximilian, príncipe Lobkowitz

4 – Allegro
5 – Largo (attacca)
6 – Rondo alla polacca

Alexandra Conunova, violino
Natalie Clein, violoncelo
David Kadouch, piano
Insula Orchestra
Laurence Equilbey, regência

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Aguardando o uivo do Mestre de Avis

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Fantasia para piano, coro e orquestra, Op. 80 – Egmont, Op. 84 – “Ah, perfido!”, Op. 65 – Abertura Leonore no. 3, Op. 72a – Kissin – Ganz – Studer – Abbado

O brontossáurico concerto de 22 de dezembro de 1808, ao qual já nos referimos várias vezes ao longo da série e que será objeto duma postagem específica, foi certamente um dos mais memoráveis de todos os tempos. Beethoven, não satisfeito com as três horas e meia de sua música que já programara, incluindo as estreias públicas das sinfonias nos. 5 e 6, do quarto concerto para piano e de dois movimentos da missa em Dó maior, decidiu oferecer à já assoberbada audiência um grand finale que reunisse as forças vocais e instrumentais envolvidas nos números pregressos – ainda que tivesse, como de fato aconteceu, que lhes raspar com vigor o fundo do tacho da energia, certamente quase toda despendida na execução de tanta e tão exigente música.

O grand finale, claro, foi a Fantasia para a incomum combinação de piano, coro e orquestra, Op. 80, a única composição escrita especialmente para aquela noite. Como o lucro das bilheterias reverteria para seus surrados bolsos, Ludwig tentou preparar-se da melhor maneira possível. Infelizmente, essa maneira possível era sua própria, destemperada e atrapalhada maneira, que ainda por cima se viu obrigada a transpor obstáculos logísticos e artísticos para que o concerto se realizasse, o que incluiu contratação de músicos, ensaios e arranca-rabos diversos. Não é difícil imaginar que, mesmo para os bagunçados padrões beethovenianos, a composição da Fantasia Coral deu-se em condições de completa baderna, com o previsível cenário de cópias das partes sendo feitas na última hora, de instrumentistas lendo à primeira vista as partituras ainda com tinta úmida, e com Beethoven improvisando o solo inicial porque simplesmente não o conseguira colocar no papel. O resultado artístico, naquela congelante noite de inverno, foi pífio: o compositor-pianista e a orquestra não se entenderam (houve mesmo um momento em que tiveram que recomeçar a peça), o coro embabanou-se, a plateia reagiu conforme o termômetro, e a obra foi rapidamente esquecida. Sua publicação em Leipzig, dois anos depois e que em nada ajudou a ressuscitá-la, e foi notória somente pela dedicatória ao rei bávaro, uma ideia dos editores que instilou mais alguns galões de ira no já tão genioso Beethoven. Foi só muito depois da morte do compositor, e particularmente depois do imenso sucesso de sua Nona Sinfonia, que a Fantasia Coral voltou a ser apreciada como uma precursora da obra mais famosa, cujo finale, nas palavras de Ludwig, era “no estilo de minha fantasia para piano e coro, mas numa proporção mais grandiosa, com solos vocais e coros baseados nas palavras da famosa e imortal canção An die Freude de Schiller”. De fato, o artifício de fazer seguir a um tema com variações uma apoteose coral com a palavra “Freude” (“Alegria”) só não torna a fantasia mais familiar que o próprio tema, muito parecido com aquele que permeia a Ode sobre o poema de Schiller, e que Beethoven tomou de sua canção Gegenliebe (WoO 118).

Hoje em dia, se não imensamente popular, a Fantasia Coral tem sido revisitada com frequência para, assim como em sua estreia, encerrar eventos musicais muito especiais. É o caso da gravação que lhes apresento, realizada ao vivo na noite de Ano Novo de 1991. Eu era muito novo e estudava para o vestibular, vivia de mesada em cruzeiros-novos, e sonhava em assistir a um concerto na Philharmonie. No entanto, mesmo que tivesse a oportunidade de me catapultar para Berlim e infiltrar-me clandestinamente na veneranda sala de concertos, eu nem sei se teria roupa para testemunhar o grande Bruno Ganz recitando o “Egmont” de Goethe, entre intervenções de Cheryl Studer, com Abbado regendo os filarmônicos locais. E, ainda que tivesse roupa, nem sei se teria compostura de, no final de tudo, ouvir Evgeny Kissin, então um garoto de vinte anos, tocar a Fantasia Coral desse jeito, com toda facilidade. O efeito do programa, que ainda inclui a ária “Ah, perfido!” e uma poderosa “Leonore no. 3”, é arrebatador – o que dá uma ideia da saturação sensorial que não aturdiu o público vienense daquela noite lá de 1808, que, depois dessa hora e pouco que passamos com Abbado, ainda tinha mais três horas de Beethoven para escutar.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Música para a Tragédia “Egmont”, de Johann Wolfgang von Goethe, Op. 84
Composta em 1810
Publicada entre 1810-12

1 – Abertura
2 – Lied
3 – Zwischenaktmusik I (entreato)
4 – Lied
5 – Zwischenaktmusik III
6 – Zwischenaktmusik IV
7 – Musik. Klärchens Tod bezeichnend
8 – Melodram
9 – Siegessymphonie

Bruno Ganz, ator
Cheryl Studer, soprano

Ah, perfido!“, recitativo e ária para soprano e orquestra, Op. 65
Compostos em 1796
Publicados em 1805
Dedicados a condessa Josephine von Clary-Aldringen

10 – Recitativo: “Ah, perfido!” (Dó maior) – Ária: “Per pietà, non dirmi addio” (Mi bemol maior)

Cheryl Studer, soprano

Abertura  “Leonore no. 3”, em Dó maior, Op. 72b
Composta em 1806

11 – Adagio – Allegro

Fantasia em Dó menor para piano, coro e orquestra, Op. 80, “Fantasia Coral”
Composta em 1808
Publicada em 1810
Dedicada a Maximilian Joseph, Rei da Baviera

12 – Adagio – Finale: Allegro – Meno allegro (Allegretto) – Allegro molto – Adagio ma non troppo – Marcia, assai vivace – Allegro – Allegretto ma non troppo, quasi andante con moto (»Schmeichelnd hold und lieblich klingen«) – Presto

Yevgeny Kissin, piano
Cheryl Studer, soprano
John Aler, tenor
Friedrich Molsberger, baixo
RIAS-Kammerchor

Berliner Philharmoniker
Claudio Abbado, regência

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Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano Opp. 79, 27 no. 1, 31 no. 2 e 109 – Hewitt

Se a Op. 78 é uma obra-prima de concisão, a singeleza da Op. 79 é tanta que os estudiosos da obra de Beethoven chegaram a pensar que ela fosse uma obra da juventude que foi à prensa tardiamente – sim, de novo o velho truque de Ludwig para descolar alguns groschen. Quando o manuscrito foi enfim encontrado, no mesmo caderno em que estavam o quarteto de cordas, Op. 74 e a magistral sonata “Lebwohl”, Op. 81a, entendeu-se que a simplicidade fora proposital. Subtitulada “Sonata facile” no primeiro manuscrito, e inicialmente esboçada na tonalidade repleta de teclas brancas de Dó maior – a mesma da “Sonata Fácil”, K. 545 de Mozart, publicada alguns anos antes -, a Op. 79 acabou escrita em Sol maior e chamada de “Sonatina”, conforme sugestão do próprio compositor. Ainda que esteja ao alcance dos amadores, é um desafio considerável fazer-lhe justiça sem recair em frugalidade. Para honrar essa missão, trago a gravação duma grande figura canadense do piano, que construiu sua fama com interpretações magistrais de obras de Bach – e que, para alívio dos tantos leitores-ouvintes que têm Glenn Gould inscrito em seus Livros do Ódio, não é ele, e sim Angela Hewitt. Nos dez minutinhos, se tanto, que ela leva para nos dar sua impressão da Op. 79, temos limpidez de fraseado, humor e muita energia contida entre o serelepe “Alla tedesca” da abertura, cheio de estridentes acciaccature,  e o abrupto final, que dá até impressão de obra inconclusa. Não quero levar aqui mais tempo a contar-lhes da sonatina que Hewitt levará para tocá-la, então deixo vocês com ela e só aviso que a breve obra, aqui, soará como um despretensioso interlúdio entre as três obras-primas bem mais parrudas que a rodeiam na gravação.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Ré menor, Op. 31 no. 2, “Tempestade”
Composta em 18
Publicada em 1803

1 – Largo – Allegro
2-  Adagio
3 – Allegretto

Sonata “quasi una fantasia” em Mi bemol maior, Op. 27 no. 1
Compostas em 1801
Publicada em 1802
Dedicada à princesa Josephine von Liechtenstein

4 – Andante – Allegro – Andante – attacca:
5 – Allegro molto e vivace – attacca:
6 – Adagio con espressione – attacca:
7 – Allegro vivace

Sonata para piano em Sol maior, Op. 79
Composta em 1809
Publicada em 1810

8 – Presto alla tedesca
9 – Andante
10 – Vivace

Sonata para piano em Mi maior, Op. 109
Composta em 1820
Publicada em 1821
Dedicada a Maximiliane Brentano

11 – Vivace ma non troppo – Adagio espressivo
12 – Prestissimo
13 – Andante molto cantabile ed espressivo. Gesangvoll mit innigster Empfindung

Angela Hewitt, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano Opp. 78 (“À Thérése”) & 106 (“Hammerklavier”) – Gould

Mais de quatro anos depois de compor a tonitruante “Appassionata”, Beethoven voltou à sonata para piano. O ínterim, como sabemos, foi ocupado por grandes obras, de amplos gestos – duas sinfonias, quatro concertos, importantes quartetos de cordas – e transtornado por desgraças. A progressão da surdez e o desespero com seu isolamento crescente somaram-se mais uma invasão napoleônica, que levou à fuga de muitos de seus patronos e ao agravamento de sua penúria material.

O difícil período até o armistício foi passado na propriedade dos Brunsvik/Brunszvik, família de aristocratas húngaros que foi de fundamental importância para Ludwig. Franz von Brunsvik foi um generoso patrono e dedicatário de várias obras do compositor, tinha duas irmãs para quem Beethoven lecionou piano e que imortalizou, cada qual à sua maneira: Josephine, que é a mais provável destinatária da famosa carta à “Amada Imortal”, e Therese, a quem dedicou a sonata que ouvirão a seguir.

O conturbado ínterim entre a “Appassionata” e a Op. 78 reflete-se no caráter dessa obra, praticamente o oposto de sua grandiloquente, pretensiosa predecessora. Concisa, direta e sem firulas, foi a única composição de Beethoven na incomum tonalidade de Fá sustenido maior – tão rara e cheia de sustenidos em sua armadura de clave que o compositor sonegou vários deles no manuscrito. A sonata resume-se a dois breves movimentos: o primeiro intensamente lírico, o segundo cheio de verve, e é quase só piscar os olhos que está tudo terminado. Apesar de sua brevidade, ela era, junto com a “Appassionata”, uma das sonatas favoritas de Beethoven, opinião que, do alto de minha desimportância, compartilho com o grande homem, por ser um microcosmos de sua genial capacidade de invenção ao piano.

A interpretação de Glenn Gould, para variar, ignora amplamente muitas das indicações do compositor. Nada há aqui, claro, que se compare à sua sabotagem contra a “Appassionata”, mas o lindo cantabile do primeiro movimento é apenas sugerido, e Gould passa quase sem pausas para o finale, a que atribui um ritmo frenético. Ainda assim, esta é uma de minhas interpretações favoritas da Op. 78, e é um mistério por que, mesmo gravada em estúdio, não tenha sido lançada durante a vida do pianista. Somente nos anos 90 ela foi posta em disco, pareada com uma “Hammerklavier” transmitida pela Canadian Broadcasting Corporation, pela qual não sinto o mesmo entusiasmo. O próprio Gould declarou, várias vezes, que não se impressionava com os grandes gestos da “Hammerklavier” e que a considerava antipianística. Mais que isso, ela foi a única obra que suscitou, até onde pude saber, uma sua reclamação pública acerca de seus desafios técnicos – ele a chamou de “horrendamente difícil”, e isso não era algo que se ouvia dele todo dia. A técnica impecável de Gould, claro, assegura uma limpidez incomum a esta mais transcendental das sonatas de Beethoven, mas seu pendor por escolher tempos mais ruminativos, que aumentava a medida em que colecionava grisalhos, acaba tirando muito do elã da obra, especialmente do primeiro movimento. O extraordinário Adagio, cerne da “Hammerklavier”, tem uma leitura muito bonita que, no entanto, nada tem da paixão e do sentimento prescritos na indicação do andamento, e a fuga do finale, apesar do esperado show-room da incomparável capacidade de Gould de realizar com clareza as mais intrincadas passagens contrapontísticas, acaba padecendo da mesma competente frigidez.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Fá sustenido maior, Op. 78, “À Thérèse”
Composta em 1809
Publicada em 1810
Dedicada a Therese von Brunsvik

1 – Adagio cantabile – Allegro, ma non troppo
2 – Allegro vivace

Sonata para piano em Si bemol maior, Op. 106, “Große Sonate für das Hammerklavier”
Composta entre 1817-1818
Publicada em 1819
Dedicada ao arquiduque Rudolph da Áustria

3 – Allegro
4 – Scherzo. Assai vivace
5 – Adagio sostenuto. Appassionato e con molto sentimento
6 – Largo – Allegro risoluto

Glenn Gould, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Fantasia para piano, Op. 77 – Variações sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120 – Bagatelas, Op. 119 – Rudolf Serkin

Ao longo dessa série repetimos um ‘cadinho de vezes que a fama de Beethoven como o melhor pianista de seu tempo antecedeu aquela como compositor, e mesmo com esta consolidada ainda havia muito interesse por um seu outro postulado à glória: o talento como improvisador.

Mais de um século antes da irrupção do jazz, e uma década antes do proto-jazz com que encerrou sua visionária Op. 111, Ludwig causava frisson ao exibir sua capacidade de improvisar tanto sobre temas próprios quanto sobre outros a ele sugeridos. Além das eventuais surras musicais que aplicava sobre o eventual incauto que o desafiava para um duelo – e já prometi anteriormente que o nocaute em Daniel Steibelt será objeto de postagem específica -, era muito comum que Beethoven pavoneasse sua criatividade durante seus concertos, tanto nos privados, nos salões da aristocracia que o patrocinava, quanto nos públicos.

Entre estes, um dos mais célebres – e infames – foram as quatro horas de música e hipotermia vividas por uma plateia vienense no gelado 22 de dezembro de 1808, em que o compositor estreou as sinfonias nos. 5 e 6, o concerto no. 4 para piano e a fantasia coral, e ainda achou disposição para apresentar dois movimentos da missa em Dó maior. Como se não fosse o bastante, houve por bem também apresentar uma improvisação ao piano que, segundo algumas fontes, foi anos depois posta em papel e publicada como seu Op. 77.

A Fantasia para piano, única composição de Beethoven assim intitulada, é muitas vezes descrita na tonalidade de Sol menor – o que só engana aqueles que abrem a partitura, olham a armadura da clave e não passam da primeira página. Depois duma abertura que entremeia escalas descendentes e tentativas de cantabile, há uma sucessão de modulações inesperadas para tonalidades não relacionadas – Lá bemol maior, Si bemol maior, Ré menor, e novamente Lá bemol – até chegar a Si menor e, por fim, a um episódio em Si maior em que um tema se segue a algumas variações. Quando tudo parece se encaminhar para um final convencional, as escalas descendentes da abertura retornam e, após uma última ilusão de uma coda em Si maior, Beethoven bem- (ou mal-?) humoradamente nega a resolução aguardada pelo ouvinte, finalizando com uma última escala muito abrupta e um lacônico, solitário Si grave.

É natural que uma peça tão livre abra amplas oportunidades para o intérprete, e que a discografia do Op. 77, dessa forma, comporte leituras extraordinariamente diferentes. Depois de muito refletir sobre qual deveria oferecer aos leitores-ouvintes, resolvi oferecer a primeira que conheci, com o incrível Rudolf Serkin. Além de todas as qualidades que fizeram dele um grande beethoveniano, há em sua interpretação tanto a valorização dos diferentes coloridos tonais e dos contrastes entre os episódios, quanto um senso de continuidade que faz com que os compassos finais também tenham humor, e não só desconcerto.

Infelizmente, o disco em que eu tinha a Op. 77 com Serkin – um saco de gatos em que atiraram também as sonatas “Patética” e a feroz “Hammerklavier” – sucumbiu a um, bem, ataque felino não provocado, de modo que tive que recorrer ao submundo das torrentes para encontrar esta alternativa, em que a Op. 77 tem o luxuoso prelúdio das Variações Diabelli e das bagatelas do Op. 119. As Diabelli com Serkin são tão magistrais que eclipsam a pobre fantasiazinha, mas insisto em que a escutem. Mesmo que sua origem não remonte ao concerto-mastodonte de 1808, as circunstâncias em que ela foi completada – na propriedade do dedicatário, von Brunsvik, e após um ano miserável permeado por penúria econômica, bombardeios napoleônicos e invasão de Viena – apontam para uma motivação muito especial do compositor em celebrar o armistício e  preservar para a posteridade um instantâneo de sua capacidade como improvisador. Ouvi-la, pois, também é raro privilégio de abrir uma janela sonora para a mais livre das facetas do gênio de Beethoven.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trinta e três variações em Dó maior para piano sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120
Compostas entre 1819-23
Publicadas em 1823
Dedicadas a Antonie Brentano

1 – Theme: Vivace
2 – Variation 1: Alla marcia maestoso
3 – Variation 2: Poco allegro
4 – Variation 3: L’istesso tempo
5 – Variation 4: Un poco più vivace
6 – Variation 5: Allegro vivace
7 – Variation 6: Allegro ma non troppo e serioso
8 – Variation 7: Un poco più allegro
9 – Variation 8: Poco vivace
10 – Variation 9: Allegro pesante e risoluto
11 – Variation 10: Presto
12 – Variation 11: Allegretto
13 – Variation 12: Un poco più moto
14 – Variation 13: Vivace
15 – Variation 14: Grave e maestoso
16 – Variation 15: Presto scherzando
17 – Variation 16: Allegro
18 – Variation 17: Allegro
19 – Variation 18: Poco moderato
20 – Variation 19: Presto
21 – Variation 20: Andante
22 – Variation 21: Allegro con brio – Meno allegro – Tempo primo
23 – Variation 22: Allegro molto, alla « Notte e giorno faticar » di Mozart
24 – Variation 23: Allegro assai
25 – Variation 24: Fughetta (Andante)
26 – Variation 25: Allegro
27 – Variation 26: (Piacevole)
28 – Variation 27: Vivace
29 – Variation 28: Allegro
30 – Variation 29: Adagio ma non troppo
31 – Variation 30: Andante, sempre cantabile
32 – Variation 31: Largo, molto espressivo
33 – Variation 32: Fuga: Allegro
34 – Variation 33: Tempo di Menuetto moderato

Onze Bagatelas para piano, Op. 119
Compostas entre 1820-22
Publicadas em 1823

35 – Allegretto –  Andante con moto – A l’Allemande – Andante cantabile – Risoluto – Andante — Allegretto –  Allegro, ma non troppo – Moderato cantabile – Vivace moderato – Allegramente – Andante, ma non troppo

Fantasia para piano, Op. 77
Composta em 1809
Publicada em 1810
Dedicada ao conde Franz von Brunsvik

36 – Allegro – Poco adagio

Rudolf Serkin, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Prometheus; Aberturas Leonore, Coriolanus (Marriner/Stuttgart) #BTHVN250

Neste 2020 dedicado à memória de Beethoven, nosso colega Vassily já abordou em detalhes as obras que aparecem neste disco, mas vou me arriscar a tecer mais alguns comentários sobre essas obras programáticas em que, ao contrário da maioria das sinfonias e sonatas, Beethoven expressou para as plateias de seu tempo a sua adesão a uma série de valores do Iluminismo alemão, em resumo: o conhecimento trazendo a luz e libertando da escuridão.

Otto Maria Carpeaux resumiu assim o enredo da única ópera de Beethoven, inicialmente chamada Leonore, depois Fidélio:

No calabouço sombrio de uma fortaleza, o tirânico governador Pizarro mandou encarcerar o nobre Florestan, que ousara manifestar ideias de liberdade. O infeliz parece perdido. Nem o salvariam os heroicos esforços de sua mulher Leonore que, disfarçada em homem, sob o nome suposto de Fidélio, tentava libertar o marido. Só no último momento, quando na escuridão noturna do cárcere já se preparava o assassínio, ressoam longe as cornetas que anunciam a chegada do ministro e a libertação.

Para Carpeaux, a abertura Leonore nº 3 é no fundo uma grandiosa sinfonia, intensamente agitada como a luta pela liberdade, até ressoar o toque de corneta, tocada fora da sala de concerto, iniciando-se o desfecho jubiloso. É uma verdadeira sinfonia de programa, tão grande, que não serve bem para abrir uma noite de ópera.

A abertura Coriolanus se baseia na trágica história de um general romano, transformada em teatro pelo inglês William Shakespeare e pelo austríaco Heinrich Joseph von Collin (1771–1811). Exilado de Roma, Coriolanus organiza os exércitos de seus antigos inimigos para atacar a capital. Às portas de Roma, a mãe e a esposa de Coriolano, usando ao mesmo tempo para a emoção e a argumentação racional, conseguem convencê-lo a desistir de atacar sua cidade natal. Como em Leonore/Fidélio, mais uma vez, as mulheres fogem do tradicional papel de donzelas em busca de um marido.

Como bem lembrou Vassily, apesar de ter recebido o nome de “abertura” (ouverture), Coriolanus é uma peça independente: não há registro sequer da intenção de fazê-la seguir-se de outros números de música incidental, como era a praxe da época. Assim, ao escrever uma obra musical autônoma inspirada por uma outra, literária, Beethoven inaugurava um novo gênero: a abertura de concerto, pedra fundamental da tradição de música programática que, em algumas décadas, ganharia corpo com o trabalho de Schumann, Berlioz, Brahms, dando origem aos poemas sinfônicos de Liszt e Strauss que são outro nome para a mesma coisa.

Escrita para um conjunto orquestral pequeno e notavelmente mais leve que as outras obras para o palco de Beethoven, Prometheus era originalmente um ballet cheio de cenas bucólicas mostrando os primórdios da humanidade livremente inspiradas no mito grego do titã que presenteia a humanidade com o fogo e as “artes da civilização”. A partitura é a única em que Beethoven escreveu para a harpa.

Nesta gravação, Marriner selecionou os pontos mais emblemáticos de Prometheus: a abertura e algumas cenas mais bucólicas onde a harpa e as madeiras brilham sob a batuta deste regente que é sobretudo um grande mozartiano. E, é claro, a dança final, uma contradança reaproveitada de uma composição da juventude e que ressurgiria também nas variações para piano, Op. 35 e no colossal finale da sinfonia Eroica.

 

Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Prometheus; Aberturas Coriolanus, Leonore 2 e 3
1. Overture Coriolanus, Op. 62
2. Overture Leonore No. 2, Op. 72a
3. Overture Leonore No. 3, Op. 72b
Die Geschopfe des Prometheus (The Creatures of Prometheus), Op. 43:
4. Overture
5. Act I: Allegro vivace
6. Act II: Adagio
7. Act II: Pastorale
8. Act II: Andante
9. Act II: Finale: Allegretto
Orchestra: Stuttgart Radio Symphony Orchestra
Conductor: Sir Neville Marriner

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Deixo ainda um bônus: a mais grandiosa, épica e triunfal de todas as gravações da abertura Leonore nº 3, com Sergiu Celibidache e a Filarmônica de Munique:

Baixe aqui – Download Bonus Here – Leonore 3 (Celibidache/Munich)

Estátua de Beethoven na casa onde ele viveu em Bonn
#BTHVN250, por René Denon

Pleyel

#BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Concerto nº 5 “Emperor” – Emil Gilels, Orchestre National de France, Antal Dorati

Poderia classificar esta gravação como pertencendo ao fim de uma era, o fim de uma era de gigantes, quando os dinossauros andavam sobre a Terra. Mas não farei isso exatamente em respeito à estes dois grandes músicos, Emil Gilels e Antal Dorati, que durante décadas encantaram multidões com seu talento. Os dois ainda frequentaram os palcos por alguns anos, Gilels faleceu em 1985, enquanto que Dorati veio a falecer em 1988.

Antal Dorati era húngaro, mas se naturalizou norte americano, era dez anos mais velho que Gilels, e provavelmente foi um dos músicos que mais gravaram discos na história, principalmente ali entre os anos 50 e 60, quando realizou gravações históricas, principalmente com a então Minneapolis Symphony Orchestra, hoje conhecida com Minesotta Orchestra.

Este registro que ora vos trago foi realizado ao vivo em 1976, na cidade suíça de Lausanne, e nos apresenta dois músicos muito experientes, tocando uma das maiores obras já compostas na história. Minha sugestão é que os senhores, principalmente se estão aqui no sul do país enfrentando esta onda de frio, com direito a neve, enfim, que os senhores abram uma garrafa de um bom vinho, sentem em suas melhores poltronas e deixem-se embalar pelo talento destes dois excepcionais músicos.

01 Piano Concerto No. 5 in E-Flat Major Op. 73 Emperor I. Allegro (Live Recording Lausanne 1976)
02 Piano Concerto No. 5 in E-Flat Major Op. 73 Emperor II. Adagio un poco mosso (Live Recording Lausanne 1976)
03 Piano Concerto No. 5 in E-Flat Major Op. 73 Emperor III. Rondo. Allegro ma non troppo (Live Recording Lausanne 1976)

Emil Gilels – Piano
Orchestre National de France
Antal Dorati – Conductor

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Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 7 / Egmont (Leopold Stokowski)

Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 7 / Egmont (Leopold Stokowski)

Pessoal, depois de um tempão novamente volto a postar algumas das grandes gravações do imenso maestro que foi Leopold Stokowski (1882 – 1977). Esta que é a sétima parte da mini biografia do “hómi” se estende no período de 1940 até 1954. O contrato de Stokowski com a Philadelphia Orchestra expirou na virada de 1940. Então, ele anunciou a criação de uma nova orquestra a All-American Youth Orchestra. Stokowski fez um teste com cerca de 1000 jovens músicos já pré-selecionados de todas as partes dos Estados Unidos, selecionando 90 jovens. Stokowski ainda mesclou músicos experientes da Orquestra da Filadélfia. Nesta postagem AQUI nós descrevemos as peripécias de Leopold e sua jovem orquestra na América do Sul em 1940.  As performances de Stokowski em 1940 com esta orquestra eram geralmente novas e excitantes e bem recebidas pelos críticos.

Com a renúcia de Toscanini, Leopold Stokowski subiu ao posto da NBC Symphony para realizar a temporada de 1941-1942. Esta nomeação de Stokowski foi salutar para os concertos da NBC Symphony, não só por causa de suas grandes habilidades de condução, mas também por sua programação tipicamente inovadora, Stokowski fez a estréia americana da cantata sinfônica de Prokofiev, “Alexander Nevsky” , trechos da ópera de Prokofiev, “The Love for Three Oranges” , com apenas duas décadas, a suíte “Firebird” de Stravinsky, o balé de “Ramuntcho” de Deems Taylor, “The Planets” de Gustav Holst, várias orquestrações de Bach e Chopin. Muitas dessas performances também foram gravadas pela RCA Victor. O Departamento do Tesouro dos EUA pediu ao maestro para conduzir uma série de concertos beneficentes de guerra Stokowski então realizou uma série de concertos entre 1943 e 1944, incluindo 25 transmitidos por ondas curtas para entreter as tropas.

Em 1944, o prefeito da cidade de Nova York, Fiorello La Guardia, convidou Leopold Stokowski para formar e conduzir a Sinfônica de Nova York, que seria baseada em um Templo Muçulmano, que se tornara propriedade da cidade de Nova York devido ao não pagamento de impostos. Uma orquestra popular com preços de entrada muito baixos era o que naquele momento queria Stokowski. Seus concertos foram realizados geralmente com lotação total. Mas em pouco tempo o conflito entre a Diretoria da orquestra buscando cortar gastos e Stokowski buscando expandir o tamanho e a atividade da orquestra,resultou em ruptura na qual Stokowski renunciou. Leonard Bernstein, no início de sua carreira como diretor, assumiu a Sinfônica de Nova York.

Em 1946, Arthur Judson, o gerente da New York Philharmonic e presidente da Columbia Artists Management (gerente de vários maestros e solistas famosos) convidou Stokowski para se tornar o principal regente convidado da Filarmônica de Nova York. O primeiro concerto de Stokowski na Filarmônica foi em 26 de dezembro de 1946. Stokowski e a Filarmônica também gravaram Mozart – Symphony no 35 “Haffner”. Curiosamente esta foi a única gravação de Stokowski de uma sinfonia de Mozart, além da gravação acústica de 9 de maio de 1919 do terceiro movimento do Symphony no 40 K550.

Com a introdução do disco 33 1/3 RPM de longa duração pela Columbia em 1948, Stokowski fez uma série de LPs bem recebidos com a New York Philharmonic, demonstrando mais uma vez sua capacidade de vender seu amplo repertório. Em 1950 Stokowski e a Orquestra Filarmônica de Nova York também apresentaram uma performance monumental da oitava sinfonia de Mahler. Após a decisão da Filarmônica de Nova York de nomear Mitropoulos como diretor de música, Stokowski cortou suas relações com a orquestra para a temporada seguinte e partiu para a Europa durante o verão de 1950. Durante 1951-1954, Stokowski era maestro convidado de orquestras na Europa.

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A gravação que ora compartilho com os amigos do novo blog eu gosto bastante, sobretudo da interpretação da sinfonia número sete do gênio renano. Leopold está com nada menos que 93 aninhos, é uma interpretação com muita intensidade e impacto dramático, existem poucos exageros “Stokowskianos” na execução da sinfonia, no geral, é uma leitura de imensa vitalidade rítmica e o conjunto é formidável ! Apreciem sem moderação !
To be continued…..

Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 7 / Egmont
01 – Beethoven – ‘Egmont’ Overture, op.84
02 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, I. Poco sostenuto–Vivace
03 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, II. Allegretto
04 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, III. Presto
05 – Beethoven – Symphony No.7 in A major, op.92, IV. Allegro con brio

“Egmont” – New Philharmonia Orchestra, Kingsway Hall, January 1973
“Symphony No 7” – New Philharmonia Orchestra, Kingsway Hall, 16 June 1975

Leopold Stokowski

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Leopold, Leopold…!!!

Ammiratore

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonia Nº 9 (Dudamel) #BTHVN250

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonia Nº 9 (Dudamel) #BTHVN250

IM-PER-DÍ-VEL !!!

A Nona Sinfonia faz parte de nossa cultura artística de tal forma que é praticamente impossível abordá-la como se fosse uma novidade. E é uma obra tão respeitada que não suportaríamos grandes audácias de quem quer que fosse. Este CD é algo realmente especial. Ele é uma tremenda demonstração de competência e segurança da Orquestra Sinfônica Simón Bolívar da Venezuela. É uma gravação que tornou-se referencial em razão da grandiosidade, da emoção envolvida e de vários acertos em termos de abordagem. As forças de Dudamel nos chegam incrivelmente precisas e polidas, produzindo linhas esplêndidas de belos sons. Dudamel também demonstra um agudo senso de drama, respeitando pausas que parecem eternidades para depois catapultar a orquestra com magníficas explosões. Tudo muito perfeito, respeitoso e enérgico,. Os corais e vocais também estão impecáveis. É ouvir e se apaixonar.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sinfonia Nº 9 (Dudamel)

1. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: I, Allegro ma non troppo
2. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: II, Scherzo, Multo vivace
3. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: III, Adagio molto e cantabile
4. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: IV, Finale Part I
4. Beethoven: Symphony No. 9 in D Major: IV, Finale Part II

Simón Bolívar Symphony Orchestra of Venezuela
Gustavo Dudamel

Coro Nacional Juvenil Simón Bolívar
Lourdes Sánchez chorus master – chorus master
Mariana Ortíz – soprano
J’nai Bridges – mezzo-soprano
Joshua Guerrero – tenor
Soloman Howard – bass

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Dudamel e seus bolivarianos: espetacular!

PQP