Um disco bem antigo, com interpretações atualmente apenas aceitáveis, mas que vale pela Trio Sonata que abre o CD. Se você quiser ouvir uma grande versão das outras obras que figuram no CD, a provável campeã é esta aqui. Meus ouvidos garantem veementemente que a BWV 1038 é de Bach, mas… A Trio Sonata BWV 1038 de Bach para Flauta, Violino e Continuo propõe um enigma. Ele sobreviveu como um conjunto de peças escritas por Johann Sebastian Bach – mas a fonte não fornece um compositor. Assim, sua autenticidade tem sido questionada repetidas vezes. De acordo com as pesquisas mais recentes, entretanto, presume-se que esta bela sonata seja uma obra original de Bach.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Flötensonaten – Flute Sonatas / Triosonate – Trio Sonata BWV 1038 (Ensemble Trazom)
Trio Sonata In G Major BWV 1038 For Traverso, Violin And Basso Continuo
1 Largo 3:14
2 Vivace 1:01
3 Adagio 1:58
4 Presto 1:22
Flute Sonata In E Flat Major BWV 1031 For Traverso And Obl. Fortepiano
5 Allegro Moderato 3:17
6 Siciliano 2:18
7 Allegro 4:25
Flute Sonata In G Minor BWV 1020 For Traverso And Obl. Fortepiano
8 Allegro 3:37
9 Adagio 3:16
10 Allegro 5:00
Flute Sonata In E Major BWV 1035 For Traverso And Basso Continuo
11 Adagio Ma Non Tanto 2:22
12 Allegro 3:06
13 Siciliano 3:11
14 Allegro Assai 3:12
Flute Sonata In E Minor BWV 1034 For Traverso And Basso Continuo
15 Adagio Ma Non Tanto 3:08
16 Allegro 2:39
17 Andante 3:24
18 Allegro 4:36
Cello – Stefan Fuchs (2)
Ensemble – Ensemble Trazom
Flute [Traverso] – Julia Dickson
Harpsichord, Fortepiano – Urte Lucht
Violin – Susanne von Bausznern
A série The Originals, da DG, costuma ser tiro certo. Apesar da absoluta confusão do repertório, este CD é maravilhosamente bem interpretado pelos Oistrakh em diversas formações orquestrais. As obras são tão díspares entre si que dá vontade de ouvir tudo separadamente. Mas, enfim, eram outros tempos e ninguém morria por falta de coerência. Posto este CD por ele ter sido uma audição habitual na casa de meus pais (os outros). É um disco muito alegre do começo ao fim. De certa forma, proporciona um contraste muito caloroso com a preferência contemporânea por performances de época para a maioria destas peças. (Nota: eu AMO e PREFIRO performances de época!). Prezo especialmente os duetos de Wieniawski porque raramente são gravadas. O que é mais legal é que muitas dessas peças são populares entre estudantes de violino, e ter dois violinistas estelares tocando-as é muito gostoso de ouvir.
Bach / Jiří Benda / Händel / Sarasate / Vivaldi / Wieniawski: Obras para Violino(s) com David & Igor Oistrakh
Obras para Violino(s) com David & Igor Oistrakh
Antonio Vivaldi:
1. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 1. Allegro 3:58
2. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 2. Larghetto 4:24
3. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 3. Allegro 4:00
J. S. Bach:
4. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 1. Adagio 4:29
5. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 2. Allabreve 2:53
6. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 3. Alla breve 2:35
7. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 4. Presto 4:56
G.F. Handel:
8. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 1. Andante – Allegro 5:12
9. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 2. Arioso 3:36
10. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 3. Allegro 2:01
J. G. Benda:
11. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 1. Moderato 6:37
12. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 2. Largo 5:27
13. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 3. Allegro 2:42
H. Wieniawski:
14. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.2 in E flat major 5:14
15. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.5 in E major 1:55
16. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.4 in A minor 1:31
P. de Sarasate:
17. Navarra for two violins, Op.33
David Oistrakh (Conductor, Violin),
Igor Oistrakh (Violin)
Franz Konwitschny (Conductor),
Gewandhaus Orchestra
Royal Philharmonic Orchestra e outros
Mesmo já tendo passado vinte e sete anos de sua realização, essa gravação de Masaaki Suzuki continua atual, se comparada com outras mais recentes. O cravista e maestro japonês dá um show de interpretação, com uma técnica apuradíssima e uma sensibilidade única. Não temos aqui aquelas interpretações mecânicas, por demais técnicas e virtuosísticas. Não por acaso, Suzuki é um dos maiores intérpretes da obra de Bach nesse século. Com seu conjunto Bach Collegium Japan vem se dedicando a gravar a obra do gênio de Leipzig em sua integra. Quem viver, verá.
Mesmo sendo considerada uma obra fundamental no repertório, “O Cravo Bem Temperado” só foi publicado 51 anos após a morte de Bach, porém cópias manuscritas por seus alunos e discípulos circularam por toda a Europa, tendo chegado às mãos de Beethoven, Mozart e Haydn, que a estudaram com atenção. O famoso maestro Hans von Bülow considerava a obra ‘O Velho Testamento do Piano’, e Schumann o considerava ‘o pão do dia a dia do pianista‘. Não por acaso, até hoje os prelúdios e fugas do Cravo são utilizados na educação musical.
Temos várias gravações de excelente qualidade dessas obras aqui no PQPBach, destacaria a recém lançada pelo lendário maestro e cravista Trevor Pinnock, que o colega René Denon postou há não muito tempo. Interpretadas ao piano, a gravação de Glenn Gould continua sendo referência dentre os ‘jurássicos’, e András Schiff dentre as gravações atuais. Vale a pena serem baixadas para as devidas comparações. Suzuki segue a linha da interpretação historicamente informada, sendo um pouco mais criterioso e detalhista em sua abordagem, se podemos falar assim.
Espero que apreciem, pretendo trazer outras gravações desse incrível músico japonês, como já comentei anteriormente, uma referência em se tratando de Bach neste século XXI.
CD 1 – Das wohltemperierte Klavier, Buch I
1 – 24 – Praeludium und Fuge, BWVs 846 a 857
Dantone começou a gravar muito jovem e era um cravista muito enfeitado. Suas ornamentações pesavam. Conheço umas gravações onde ele deveria fazer o contínuo, mas não havia o que o segurasse. Ele queria viver, sonhar, amar e aparecer mais do que o solista. Argh! Porém… Seja porque Bach não lhe dá espaço, seja porque meu pai impõe o mesmo respeito que impunha a mim, a WF e CPE em casa, o fato é que esta gravação do Cravo Bem Temperado é uma joia que você deve ouvir. Sim, você. Estou falando com quem, caralho? Aqui, Dantone está saudavelmente contido dentro da música de papai, o que é uma maravilha porque é um baita instrumentista. Ou então Tavinho cresceu, ficou um homenzinho, passou a cumprir funções táticas e deixou de ser aquele peladeiro ao estilo de Guiñazu, que está em todos os lugares do campo menos onde deve.
J.S. Bach: The Well Tempered Clavier. Book I (2001) 2CD
José Eduardo D’Elboux é um pequepiano. Volta e meia ele comenta algum post, está sempre por aí. Há poucos anos, ele me mandou este CD que eu ouvi e deixei de lado por estar passando uma fase meio anti-rock progressivo. Mas hoje o peguei gostei muito do que ouvi. Os clientes da LivrariaBamboletras (2 links) também. As pergutavam o que era aquilo e o José Eduardo ficaria feliz porque um deles perguntou se era o ELP. Achei ótimo e muito divertido. Ele é dividido em duas partes: a primeira composta por D’Elboux sozinho ou com parceiros e a segunda com arranjos de eruditos de outrem ou par D’Elboux.
Como disse, às vezes, D’Elboux soa muito como o grupo que mais admira, o Emerson, Lake & Palmer, mas sua voz natural me parece mais tranquila do que com a fúria habitual dos ingleses. Gostei muito dos arranjos de eruditos. Seu Coriolano e o início da Sinfonia Nº 4, Romântica, de Bruckner, ficaram excelentes, assim como a Toccata e Fuga em Ré Menor, BWV 565, de Bach.
D’Elboux fez sua vida como engenheiro. Foi uma opção consciente. “Especialmente no Brasil, onde o tipo de música que gosto é pouco divulgada, preferi ter uma carreira como profissional de engenharia (o que também gosto) e levar o lado musical como hobby – mas fazendo exatamente o que eu queria em Música, sem concessões, uma vez que não iria depender financeiramente disso. (…) Foi minha “cabeça-dura”, de insistir no que acredito, que fez, desde meu início em 1982 com as primeiras tentativas de bandas, até formar o Tau Ceti em 1988 (cuja semente já estava em minha banda anterior, o Antares, de 1985), e lançar o primeiro álbum em 1995… Depois de um longo tempo parado, retomando a Música ainda insisti e lancei mais um álbum em 2019, mais de 20 anos depois do primeiro. E, neste, já sem outros músicos que topassem a empreitada, fiz um álbum solo onde me responsabilizei por tudo, desde composições e tocar os teclados, como programar os demais instrumentos, arranjos, produção, etc.”.
Para quem chegou da Lua ontem, o rock progressivo (também abreviado por prog rock ou prog) é um gênero que se desenvolveu na Inglaterra e nos EUA em meados da década de 1960, atingindo o pico no início da década de 1970. O estilo foi uma consequência das bandas psicodélicas que abandonaram as tradições padrão em favor de instrumentação e técnicas de composição mais frequentemente associadas ao jazz ou à música clássica. Elementos adicionais contribuíram para o rótulo de “progressivo”: as letras eram mais poéticas, a tecnologia era aproveitada para novos sons, a música se aproximava da condição de “arte” e o estúdio, mais do que o palco, tornou-se o foco da atividade musical, que muitas vezes envolvia criar música para ouvir em vez de dançar.
.: interlúdio :. D’Elboux / Beethoven / Bruckner / Borodin / Bach: Meus Dois Mundos
Parte 1 — Mundo Prog
1. Prelúdio para Sintetizador (D’Elboux) 1:23
2. D’Elboux is on the Table (D’Elboux) 3:17
3. Boto (D’Elboux / Iantorno) 2:21
4. Tempestades Noturnas (D’Elboux / Cesarino) 2:52
5. Reflexões Ectoplasmáticas (D’Elboux) 4:55
6. Prelúdio-Improviso para Piano (D’Elboux) 5:16
Como vocês sabem, sofro de hipobachemia, mal que aflige algumas pessoas que ficam muito tempo longe de J.S. Bach. Durante as crises causadas pela síndrome, ficamos trêmulos, irritadiços como se fôssemos menstruar e não conseguimos ouvir compositores que desperdiçam notas como se estivessem bebendo água na torneira da praça. Então, sempre PRECISO voltar a ele como a um barco seguro. Este repertório é algo raro, apesar de sua alta qualidade. OK, não falemos em qualidade, é sinônimo de Bach.
J. S. Bach (1685-1750): Missae Breves, BWV 234 & 235 (Pygmalion)
1. Motet: “Der Gerechte kommt um” 6:23
2. Messe Brève en Sol Mineur, BWV 235: I. Kyrie 5:35
3. Messe Brève en Sol Mineur, BWV 235: II. Gloria 2:57
4. Messe Brève en Sol Mineur, BWV 235: III. Gratias 3:11
5. Messe Brève en Sol Mineur, BWV 235: IV. Domine fili 4:54
6. Messe Brève en Sol Mineur, BWV 235: V. Qui tollis peccata mundi 4:07
7. Messe Brève en Sol Mineur, BWV 235: VI. Cum sancto spiritu 4:07
8. Messe Brève en La Majeur, BWV 234: I. Kyrie 5:42
9. Messe Brève en La Majeur, BWV 234: II. Gloria 5:41
10. Messe Brève en La Majeur, BWV 234: III. Domine Deus 5:37
11. Messe Brève en La Majeur, BWV 234: IV. Qui tollis peccata mundi 6:53
12. Messe Brève en La Majeur, BWV 234: V. Quoniam tu solus 3:09
13. Messe Brève en La Majeur, BWV 234: VI. Cum sancto spiritu 3:14
Homenagem aos 300 anos da estreia da Paixão segundo João de Johann Sebastian Bach
7/4/1724 – 7/4/2024
Nesta obra de Fra Angelico João está representado
O dia 7 de abril de 1724 foi a sexta-feira da Semana Santa daquele ano e as pessoas que estiveram na Igreja de São Nicolau voltaram para casa com a sensação de terem presenciado algo muito especial. Durante o serviço religioso a música, composta pelo novo Cantor da Igreja de Santo Tomás, fora especialmente maravilhosa.
Bach havia sido nomeado recentemente para o cargo, substituindo o grande músico Johann Kuhnau. O cargo oferecido pela Igreja Protestante era muito prestigiado, mas demandava muito trabalho. As tarefas incluíam tocar órgão, ensinar Latim e Música na escola da igreja, compor a música para as igrejas de Santo Tomás e de São Nicolau, reger música e treinar os músicos de duas outras igrejas. Bach foi o terceiro candidato a ser escolhido para o cargo e possivelmente relutou em aceitá-lo, mas em casa havia muitas bocas para serem alimentadas.
Quando Bach se pôs a escrever sua Johannes Passion, conhecia alguns modelos antigos e outros contemporâneos. Os oratórios da Paixão apresentam a narrativa da morte de Jesus intercalada por árias refletivas, coros e corais. Seu antecessor Kuhnau teve uma obra desse tipo apresentada em 1721 e havia um libreto escrito por Barthold Heinrich Brockes (1680-1747) com o título Jesus torturado e morto pelos pecados deste mundo que havia sido musicado por Handel e por Telemann. Havia também uma Paixão segundo João, com libreto de J. G. Postel, que fora musicada pelo jovem Handel aos 19 anos.
John Butt
Bach estava com 39 anos, no auge de sua profissão e certamente queria mostrar aos conselheiros e aos fiéis que fazia jus ao cargo. Além disso, esse gênero tinha um apelo especial sobre a comunidade pelo fato de que a ópera de Leipzig havia colapsado um pouco antes da chegada de Bach. É verdade que o oratório é bem diferente de uma ópera, especialmente esse que já vem com spoiler, mas a expectativa devia ser grande, o que deve ter dado a João Sebastião motivação mais que suficiente para tratar a empreitada com grande cuidado e originalidade.
A versão ouvida naquela ocasião, há 300 anos atrás, foi modificada e reapresentada em 1725, depois mais uma vez em 1732. A versão que conhecemos é uma revisão que Bach fez em 1749, mas que não chegou a ser apresentada por Bach, que morreria pouco depois. Veja mais informações aqui e aqui.
O que se pode esperar da obra? Veja a tradução de um texto que poder ser encontrado na íntegra aqui, feita com a ajuda do Chat PQP: Na verdade, a Paixão de João contém vários ousados traços imaginativos aos quais Bach não voltaria na Paixão segundo São Mateus. O belo e plangente refrão de abertura, um exórdio dirigido a Jesus, é surpreendentemente dissonante e dá o tom para uma composição ousada de uma aparente espontaneidade que desmente sua cuidadosa construção. A parte 2 também começa com uma passagem particularmente memorável, embora por razões muito diferentes: é aqui que o coro realmente mostra seus dentes. Retratando a multidão que clamava pela execução de Jesus, o coro recebe uma música particularmente cruel e rancorosa com escalas cromáticas ascendentes e um turbilhão de cordas. Mesmo momentos suaves, como a ária soprano ‘Ich folge dir gleichfalls’, são frequentemente assombrados por seções cromáticas sutis e escuras.
As últimas fases da obra têm um notável sentido de impulso, sintetizado pela ária de baixo ‘Eilt, ihr angefocht’nen Seelen’ que é pontuada pelo coro que pergunta urgentemente ‘Wohin?’. Após a morte de Jesus, há uma seção reflexiva mais prolongada do que na Paixão de São Mateus, incluindo o terno “Ruht wohl”, uma peça de encerramento para coro (antes de um coral final) que forma um paralelo estrutural com a abertura da obra. Talvez como o próprio Evangelho de João, o que falta à partitura de Bach na lógica convencional e na transparência narrativa, compensa com uma beleza sobrenatural, convicção e um forte sentido poético.
John e sua turma na entrada do PQP Bach Theater em Edinburgh
A gravação escolhida para essa postagem especial é liderada por John Butt que já apareceu algumas vezes no blog e é um excelente músico. (John Butt é professor de música na Universidade de Glasgow, diretor musical da Dunedin Consort e artista principal da OAE. Sua carreira começou com sua nomeação como acadêmico de órgão no King’s College Cambridge, e isso levou a vários cargos acadêmicos e de desempenho (incluindo Organista da Universidade da Califórnia, Berkeley, 1989-97). Seu trabalho, como músico e estudioso, gravita em torno da música dos séculos 17 e 18, mas ele também está preocupado com as implicações do passado em nossa cultura atual).
O que ela tem diferente de outras recentes gravações é que a Paixão é apresentada em um contexto litúrgico, como poderá ser observado nos números extra de música ao início e ao fim dos arquivos. Essas partes assim como os detalhes das faixas da gravação estão nos arquivos no formato pdf.
John Butt treinando o coro dos aspirantes a contribuintes do blog do PQP Bach…
The recording was named a Gramophone Award Finalist, ‘Recording of the Month’ by three separate publications and topped the UK Specialist Chart upon its release in 2013.
Aproveite!
René Denon
Não deixe de visitar essa outra postagem com algumas informações sobre a obra e uma gravação também primorosa…
Vamos às explicações. Trevor Pinnock fez uma bela gravação das Partitas para o selo Archiv na década de 1980 — é esta que ora vos posto –, mas há uma gravação mais recente que é uma melhoria significativa tanto em termos do som gravado, quanto no que diz respeito à interpretação, que subiu vários degraus. Trata-se da gravação de Hänssler. O PQPBach tem ambas. Pinnock é sempre bom, mas ele parece estar no topo na outra versão. Os trinados e ornamentos são relaxados e uniformes, seu toque legato é incomparável. Os movimentos de dança são perfeitos, sem serem apressados ou frenéticos. Tudo parece mais simples sem ser superficial. Mas esta versão aqui é também sensacional, é o trampolim para a outra. E é muito bom ver um grande artista evoluir. A competição é obviamente acirrada neste repertório e não farei nenhuma comparação com versões para piano. Huguette Dreyfus é uma concorrente, embora eu ache Pinnock mais flexível, mais interessante musicalmente e com melhor qualidade de som. Masaaki Suzuki é bom se você quiser tempos mais relaxados e um pouco mais de ar entre você e o instrumento. Aos meus ouvidos, Suzuki é menos “parecido com Bach” do que Pinnock. É elegante, mas de alguma forma um pouco distante e enigmático. Scott Ross é péssimo. Excetuando Ross, eu viveria feliz com qualquer versão para cravo, mas estas duas de Pinnock moram no meu ventrículo esquerdo, que é onde o coração bate mais forte.
J. S. Bach (1685-1750): 6 Partitas, BWV 825-830 (Pinnock – Archiv)
Partita No. 1 In B Flat Major, BWV 825 = B-dur = En Si Bémol Majeur
1-1 1. Praeludium 1:57
1-2 2. Allemande 4:12
1-3 3. Corrente 2:50
1-4 4. Sarabande 4:09
1-5 5. Menuet I/II 2:35
1-6 6. Gigue 2:27
Partita No. 2 In C Minor, BWV 826 = C-moll = En Ut Mineur
1-7 1. Sinfonia. Grave Adagio 4:34
1-8 2. Allemande 5:30
1-9 3. Courante 2:00
1-10 4. Sarabande 2:48
1-11 5. Rondeaux 1:27
1-12 6. Capriccio 3:34
Mais uma vez temos a oportunidade de propriamente ouvir a apaixonante obra prima do padroeiro do blog, a Paixão segundo Mateus. Longe vão os dias nos quais dispúnhamos apenas dos LPs da Abril Cultural com trechos da gravação de Eugen Jochum. Agora, com os muitos CDs coletados ao longo de décadas, com os arquivos musicais mais as plataformas de streaming, fico atarantado com a imensa possibilidade de escolha.
As dores do mundo persistem…
Eu costumo ouvir essa obra nesses dias, por gosto da música, mas também como uma maneira de me elevar espiritualmente, se me permitem. Dito ainda de outra forma, de fazer um esforço para me distanciar das coisas terrenas, que são importantes, mas que têm a terrível tendência de nublar nossa perspectiva de buscar algo mais perene, mais etéreo e mais elevado. Nada como arte, em todas as suas formas, musical, plástica, em palavras, para nos colocar a caminho dessa busca de algo mais divino do que apenas humano.
Além disso, essa grande obra que retrata a redenção, o perdão, a esperança, obtidas de um sobre-humano sacrifício, me faz refletir nas grandes dores pelas quais passam hoje tantos de nossos semelhantes. Vários conflitos, plenos de injustiça, desamor e desrespeito, estão indo e vindo no noticiário, alguns temerosamente perto de nós mesmos.
Mas como o papel do blog é chamar sua atenção para a música, aqui está ela, mais uma gravação da Paixão do Outro Evangelista, aquele que nasceu em 1685…
Aqui o ótimo maestro Ricardo Chailly dirige um conjunto espetacular, com imensa tradição. A orquestra e os coros são de Leipzig, lugar no qual o grande compositor passou seus últimos anos, de 1723 até 1750. Claro que a abordagem é tradicional, nada de instrumentos de época, mas algumas lições do movimento HIP aparecem, especialmente no andamento geral da música.
Eu não consigo deixar de me emocionar naqueles momentos cruciais, que sempre demandam um disfarçado levar de mãos e dedos as olhos…
O coro de abertura, aqui tocado com mais energia do que com doloridas notas. As árias Buss und Reu, para contralto, e Blute nur, du liebes Herz!, para soprano, são de ouvir com lencinhos nas mãos. No outro disco há a sublime Erbame dich, mein Gott, com violino obligato, para contralto e a ária Aus Liebe will mein Heiland sterben, para soprano.
A ária Erbame dich é realmente muito especial. Yehudi Menuhin amava esta peça e há algumas gravações com ele acompanhando a cantora da ocasião disponíveis no Youtube. Eu gosto de algumas dessas gravações avulsas, como essa e essa aqui .
Há também alguns momentos nos recitativos que são espetaculares e que desaguam em belíssimos corais ou árias. Como exemplo temos a cena da última ceia, o momento que a turba opta por Barrabás e o momento que na cruz, Jesus clama pelo Pai – Eli, Eli, lemá sabactâni. Mas não vou ficar aqui a dar spoilers, vá logo ouvir a música.
Uma música sublime aliada à imagem criada pelos retratos de um rechonchudo senhor com sua peruca reforça uma imagem de Bach como um homem maduro, já depois de seus sessenta anos, genial em sua consumada arte de compor obras primas perfeitas.
Claire Huangci
Mas houve um jovem Johann Sebastian que explorava seus talentos e sua virtuosidade nos teclados diversos, apossando-se das obras estabelecidas nas gerações precedentes e ensaiando suas próprias criações. As peças desse disco – toccatas – são desses anos de juventude. Veja o que diz sobre elas o ótimo Karl Geringer: Entre as obras que Bach produziu em seus anos de formação merecem menção uma fantasia e um grupo de toccatas. Ele sentia-se atraído pelo caráter livre e rapsódico dessas formas, que lhe ofereciam uma boa oportunidade para contrastes espetaculares entre as seções individuais. A lógica inflexível e as proporções bem equilibradas de composições ulteriores estão ausentes na maioria dessas peças, mas [elas] exibem o ardor e a fértil imaginação características do jovem gênio.
Como prelúdio ao conjunto das sete toccatas deixadas pelo jovem Bach, a ótima e também bastante jovem pianista Claire Huangci interpreta o arranjo para piano da famosa Toccata e fuga em ré menor feito por Ferruccio Busoni.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Toccata e Fuga em ré menor, BWV565 (Arr. F. Busoni for piano)
O álbum começa com a tocata mais famosa da história da música, embora não seja o tipo de obra que estamos acostumados a ouvir tocada em uma gravação de piano solo. A transcrição de Ferruccio Busoni da mundialmente famosa Tocata de Ré menor de Bach, que pega a obra normalmente ouvida em um poderoso órgão barroco e a toca de maneira romantizada em um teclado de piano, fornece um início cativante, parecendo soprar as teias de aranha das teclas, aguçando o nosso apetite pelo Bach original e as suas sete tocatas. Todas foram escritas durante os anos de Bach em Weimar e dão-lhe vida como um compositor bem versado na arte séria do contraponto barroco, mas que contrasta esta maestria com execuções virtuosas e improvisadas e passagens lentas e sonhadoras. [tradução feita com a ajuda do Chat PQP]
Johann Sebastian Bach, se isto fosse possível, estaria completando hoje 339 anos de idade. Eu diria que são 339 anos muito bem vividos. Após um post mortem um tanto obscuro, Papai Bach retornou no século XIX para ocupar definitivamente o posto de um dos grandes gênios da humanidade, uma das provas de que o ser humano pode ser grandioso sem provocar guerras e violência.
Ouço Bach desde antes dos dez anos de idade, quando saí do banheiro aos gritos perguntando que música era aquela que meu pai pusera na vitrola — era o Concerto Nº 3 de Brandenburgo. Comemoro hoje com 5 gloriosos CDs na música de câmara de Bach fantasticamente bem interpretados por interpretados por Reinhard Goebel e sua turma, atualmente desfeita. O correto é comemorar com cerveja, pois Johann Sebastian a amava e produzia toneladas dela.
Não dá pra resistir ao timbre do violino barroco de Reinhard Goebel, e à precisão de Robert Hill. Impecável também está o violoncelista Jaap Ter Linden interpretando as Sonatas para Viola da Gamba.
Bach 339 anos !!! – Johann Sebastian Bach (1685-1750): Kammermusik 5 CDs (Musica Antiqua Köln / Reinhard Goebel)
CD 1
01 Sonata No 1 in B Minor for Violin and Harpsichord – BWV1014 – I. Adagio
02 Sonata No 1 in B Minor for Violin and Harpsichord – BWV1014 – II. Allegro
03 Sonata No 1 in B Minor for Violin and Harpsichord – BWV1014 – III. Andante
04 Sonata No 1 in B Minor for Violin and Harpsichord – BWV1014 – IV. Allegro
05 Sonata No 2 in A Major for Violin and Harpsichord – BWV1015 – I. [ohne Satzbezeichnung]
06 Sonata No 2 in A Major for Violin and Harpsichord – BWV1015 – II. Allegro assai
07 Sonata No 2 in A Major for Violin and Harpsichord – BWV1015 – III. Andante un poco
08 Sonata No 2 in A Major for Violin and Harpsichord – BWV1015 – IV. Presto
09 Sonata No 3 in E Major for Violin and Harpsichord – BWV1016 – I. Adagio
10 Sonata No 3 in E Major for Violin and Harpsichord – BWV1016 – II. Allegro
11 Sonata No 3 in E Major for Violin and Harpsichord – BWV1016 – III. Adagio ma non tanto
12 Sonata No 3 in E Major for Violin and Harpsichord – BWV1016 – IV. Allegro
13 Sonata No 4 in C Minor for Violin and Harpsichord – BWV1017 – I. Siciliano ( Largo)
14 Sonata No 4 in C Minor for Violin and Harpsichord – BWV1017 – II. Allegro
15 Sonata No 4 in C Minor for Violin and Harpsichord – BWV1017 – III. Adagio ma non tanto
16 Sonata No 4 in C Minor for Violin and Harpsichord – BWV1017 – IV. Allegro assai
17 Sonata No 5 in F Minor for Violin and Harpsichord – BWV1018 – I. Largo
18 Sonata No 5 in F Minor for Violin and Harpsichord – BWV1018 – II. Allegro
19 Sonata No 5 in F Minor for Violin and Harpsichord – BWV1018 – III. Adagio
20 Sonata No 5 in F Minor for Violin and Harpsichord – BWV1018 – IV. Vivace
01 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019 – I. Allegro
02 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019 – II. Largo
03 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019 – III. Allegro
04 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019 – IV. Adagio
05 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019 – V. Allegro
06 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1020 – I. Ohne Satzbezeichnung
07 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1020 – II. Adagio
08 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1020 – III. Allegro
09 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1022 – I. Ohne Satzbezeichnung
10 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1022 – II. Allegro e presto
11 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1022 – III. Adagio
12 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1022 – IV. Presto
13 Fugue for Violin and Harpsichord – BWV1026 – Allegro
14 Suite for Violin and Harpsichord – BWV1025 – I. Fantasia
15 Suite for Violin and Harpsichord – BWV1025 – II. Courante
16 Suite for Violin and Harpsichord – BWV1025 – III. Entree
17 Suite for Violin and Harpsichord – BWV1025 – IV. Rondeau
18 Suite for Violin and Harpsichord – BWV1025 – V. Sarabande
19 Suite for Violin and Harpsichord – BWV1025 – VI. Menuett
20 Suite for Violin and Harpsichord – BWV1025 – VII. Allegro
21 Sonata for Violin and Bass Continuo – BWV1021 – I. Adagio
22 Sonata for Violin and Bass Continuo – BWV1021 – II. Vivace
23 Sonata for Violin and Bass Continuo – BWV1021 – III. Largo
24 Sonata for Violin and Bass Continuo – BWV1021 – IV. Presto
01 Sonata for Violin and Basso Continuo in E minor, BWV1023 – I – Adagio ma non tanto
02 Sonata for Violin and Basso Continuo in E minor, BWV1023 – II – Allemande
03 Sonata for Violin and Basso Continuo in E minor, BWV1023 – III – Gigue
04 Sonata for Violin and Basso Continuo in C minor, BWV1024 – I – Adagio
05 Sonata for Violin and Basso Continuo in C minor, BWV1024 – II – Presto
06 Sonata for Violin and Basso Continuo in C minor, BWV1024 – III – Affettuoso
07 Sonata for Violin and Basso Continuo in C minor, BWV1024 – IV – Vivace
08 Sonata for Violin and Basso Continuo in A major, BWV Anh.153 – I – Allegro
09 Sonata for Violin and Basso Continuo in A major, BWV Anh.153 – II – Largo
10 Sonata for Violin and Basso Continuo in A major, BWV Anh.153 – III – Allegro assai
11 Sonata for Violin and Basso Continuo in A major, BWV Anh.153 – IV – Adagio
12 Sonata for Violin and Basso Continuo in A major, BWV Anh.153 – V – Allegro
13 Sonata No.1 for Viola da Gamba and Harpsichord in G major, BWV1027 – I – Adagio
14 Sonata No.1 for Viola da Gamba and Harpsichord in G major, BWV1027 – II – Allegro ma non tanto
15 Sonata No.1 for Viola da Gamba and Harpsichord in G major, BWV1027 – III – Andante
16 Sonata No.1 for Viola da Gamba and Harpsichord in G major, BWV1027 – IV – Allegro moderato
17 Sonata No.2 for Viola da Gamba and Harpsichord in D major, BWV1028 – I – Adagio
18 Sonata No.2 for Viola da Gamba and Harpsichord in D major, BWV1028 – II – Allegro
19 Sonata No.2 for Viola da Gamba and Harpsichord in D major, BWV1028 – III – Andante
20 Sonata No.2 for Viola da Gamba and Harpsichord in D major, BWV1028 – IV – Allegro
01 Viola Da Gamba Sonata No. 3 – BWV1029 – I – Vivace
02 Viola Da Gamba Sonata No. 3 – BWV1029 – II – Adagio
03 Viola Da Gamba Sonata No. 3 – BWV1029 – III – Allegro
04 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019a – I – Presto
05 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019a – II – Largo
06 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019a – III – Cantabile
07 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019a – IV – Adagio
08 Sonata for Violin and Harpsichord – BWV1019a – V – Presto
09 Sonata No. 1 for Flute and Bass Continuo – BWV1033 – I – Andante-Presto
10 Sonata No. 1 for Flute and Bass Continuo – BWV1033 – II – Allegro
11 Sonata No. 1 for Flute and Bass Continuo – BWV1033 – III – Adagio
12 Sonata No. 1 for Flute and Bass Continuo – BWV1033 – IV – Menuett I,II
13 Sonata No. 2 for Flute and Bass Continuo – BWV1034 – I – Adagio
14 Sonata No. 2 for Flute and Bass Continuo – BWV1034 – II – Allegro
15 Sonata No. 2 for Flute and Bass Continuo – BWV1034 – III – Andante
16 Sonata No. 2 for Flute and Bass Continuo – BWV1034 – IV – Allegro
17 Sonata No. 3 for Flute and Bass Continuo – BWV1035 – I – Adagio
18 Sonata No. 3 for Flute and Bass Continuo – BWV1035 – II – Allegro
19 Sonata No. 3 for Flute and Bass Continuo – BWV1035 – III – Siciliano
20 Sonata No. 3 for Flute and Bass Continuo – BWV1035 – IV – Allegro assai
01 Partita for Solo Flute in A minor – BWV1013 – I – Allemande
02 Partita for Solo Flute in A minor – BWV1013 – II – Corrente
03 Partita for Solo Flute in A minor – BWV1013 – III – Sarabande
04 Partita for Solo Flute in A minor – BWV1013 – IV – Bouree (Anglaise)
05 Sonata No.1 for Flute and Harpsichord in B minor – BWV1030 – I – Andante
06 Sonata No.1 for Flute and Harpsichord in B minor – BWV1030 – II – Largo e dolce
07 Sonata No.1 for Flute and Harpsichord in B minor – BWV1030 – III – Presto-Allegro
08 Sonata No.2 for Flute and Harpsichord in Eb major – BWV1031 – I – Allegro moderato
09 Sonata No.2 for Flute and Harpsichord in Eb major – BWV1031 – II – Siciliano
10 Sonata No.2 for Flute and Harpsichord in Eb major – BWV1031 – III – Allegro
11 Sonata No.3 for Flute and Harpsichord in A major – BWV1032 – I – Vivace
12 Sonata No.3 for Flute and Harpsichord in A major – BWV1032 – II – Largo e dolce
13 Sonata No.3 for Flute and Harpsichord in A major – BWV1032 – III – Allegro
Reinhard Goebel – Violin
Robert Hill – Cembalo
Jaap Ter Linden – Cello
Henk Bouman – Cembalo
Wilbert Hazelzet – TransversFlöte
Amanhã tem níver de Papai Bach. São 339 anos entre nós. Então, nada como um Hantaï para comemorar. Ele é um dos principais mensageiros de Bach em nosso conturbado planeta. Não há muito o que pensar aqui. Há uma escassez mundial de bons cravistas — por alguma razão, todo mundo parece estar gravando Bach no piano — mas simplesmente não há comparação, toda a beleza das obras para teclado de Bach só são reveladas no cravo, na minha opinião. Hantaï é um apaixonado por essa música e este é um notável CD. Hantaï revela um enorme amor por essa música — atributo não tão comum quanto você imagina — e nos traz esplêndidas interpretações delas. E não esqueça: Bach é comemorado com cerveja! Sempre!
J. S. Bach (1685-1750): Toccatas BWV 913-5 / Suite “aufs Lautenwerk” BWV 996 / Sonata BWV 964 (Hantaï)
Suite For Lute In E Minor, Bwv 996 (Bc L166) (15:12)
1 1. Praeludio (Passagio – Presto) 2:13
2 2. Allemande 3:05
3 3. Courante 2:20
4 4. Sarabande 3:55
5 5. Bourrée 0:58
6 6. Gigue 2:32
7. Prelude For Keyboard In D Major (Six Little Preludes No. 4), Bwv 936 (Bc L67) 1:41
Toccata For Keyboard In D Minor, Bwv 913 (Bc L144) (14:04)
8 [Introduction] 0:45
9 [Adagio] 2:06
10 Thema 3:31
11 [Adagio] 3:24
12 Allegro 4:11
Toccata For Keyboard In E Minor, Bwv 914 (Bc L145, 163) (7:24)
13 [Introduction] 0:34
14 Un Poco Allegro 1:33
15 Adagio 1:58
16 Fuga: Allegro 3:08
17 Fantasia For Keyboard In G Minor, Bwv 917 (Bc L140) 2:13
Toccata For Keyboard In G Minor, Bwv 915 (Bc L148) (9:14)
18 [Presto] – Adagio 1:16
19 Allegro – Adagio 3:40
20 Fuga 4:16
Sonata Arranged For Keyboard In D Minor (after Bwv 1003, Possibly By J.G. Müthel), Bwv 964 (Bc L184) (22:09)
21 Adagio 3:46
22 Thema: Allegro 6:59
23 Andante 5:39
24 Allegro 5:40
Nos vídeos abaixo, você pode saber exatamente do que se trata. A surpresa é que você pode usar o cupom PQPBACH e receber 30% de desconto no concerto do dia 21 de março aqui em Porto Alegre, cidade de PQP Bach… Alguma vantagem nós, porto-alegrenses, merecemos ter. Afinal, já basta a gente sofrer há quase 4 anos com um bolsonarista na prefeitura. Mil vezes 339 anos com Bach do que 4 com o Melo.
Ah, e Bach se comemora com cerveja. Ele a amava e produzia em quantidades industriais — música e cerveja.
Este é um álbum quádruplo com um interessante cantinho do repertório bachiano. Há as Cantatas acima e as Missas Breves. A qualidade do registro de Herreweghe faz sonhar. O homem é muuuuuito bom! Excelentes cantatas, compreensiva regência, grandes cantores, orquestra perfeita.
Uma vez, disse que tinha toda obra de Bach em CDs. Alguém me desafiou a apresentar as Missas Luteranas. Respondi que as tinha. Quiseram que eu as mostrasse, pois seriam raríssimas (descobri depois que são efetivamente pouco gravadas). Então, aqui estão elas.
Na semana passada, declarei ser ateu — não vejo gravidade alguma em ser destituído de sentimentos religiosos, é uma vantagem que possuo… –, e me disseram que era por isso que tínhamos tão pouca música sacra. Deve ser uma piada, pois amo a música sacra e a temos até em demasia por aqui. Foram palavras de quem não conhece o blog.
Apenas para situar, as partes cantadas da missa católica tradicional dividiam-se em duas categorias: o Ordinário, que consistia no Kyrie, Glória, Credo, Sanctus com Benedictus e Agnus Dei, cantadas o ano inteiro (com exceção do Glória por ocasião da Quaresma e do Advento); e o Próprio, que continha o Intróito, o Gradual, o Aleluia, o Ofertório e a Comunhão – partes que, como o nome sugere, mudavam em função das comemorações que variavam de acordo com a conveniência e com o calendário litúrgico.
Quando Martinho Lutero afixou suas 95 objeções ao Catolicismo Romano na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517, acelerando o processo de Reforma da Igreja institucional, um de seus objetivos era tornar os ofícios religiosos acessíveis ao público.
Na verdade, ele não tinha grande coisa contra a música católica latina, mas propunha uma liturgia na língua da congregação, para que os fiéis participassem e o canto não ficasse restrito ao coro, num latim rebuscado onde apenas uma meia dúzia de privilegiados, donos de cadeiras cativas nas igrejas, conseguiam entender.
Desse modo, nos serviços luteranos do período barroco continuaram a ser usadas partes do Ordinário latino da Missa, em arranjos polifônicos.
O Kyrie, por exemplo, era tocado no primeiro domingo do Advento, enquanto o Glória era executado no Natal e o Sanctus nos dias mais solenes, enfim. Surgia, pois, uma espécie de “missa breve”, que, embora não tivesse despertado muito a atenção dos compositores luteranos, foi musicada quatro vezes por Johann Sebastian Bach.
Tais Missas Brevis (BWV 233 – 236) provavelmente originaram-se depois de 1735, ficando conhecidas como as missas protestantes (ou luteranas) de Bach. É lícito duvidar, porém, que as mesmas se destinassem a Leipzig. É muito mais provável que o seu destinatário fosse o conde Franz Anton von Sporcl, de Lissa, Boêmia. Tal senhor tinha o interesse em que as crenças protestante e católica se reaproximassem. Como a obra de Bach representa uma tentativa notável de fundir elementos litúrgicos das duas religiões, a versão não é de todo desprezível.
Ao contrário de outras grandes obras sacras de Bach – como a Missa em si menor, as paixões, as cantatas, ou o Oratório de Natal -, as Missas Brevis não têm despertado tanto o interesse dos pesquisadores e praticamente não são executadas. A Missa Brevis em Fá Maior, como as demais, também se divide em movimentos para coro e árias para solistas com acompanhamento orquestral, segundo o modelo das Cantatas de Igreja. Esta semelhança formal das missas com as cantatas pode ser explicada pelo fato de Bach não ter adequado algumas partes dessas missas. Tais trechos vieram de antigos coros ou árias de cantatas já compostas por ele anos antes.
A despeito das diferenças, as quatro missas possuem várias características em comum e os modelos originais da maioria dos movimentos estão preservados nas Cantatas compostas por volta de 1723/26, quando Bach residia em Leipzig.
Assim, todas as Missas Brevis começam com um coro sobre o texto do Kyrie, seguido do Gloria em que coros no início e no final emolduram árias. A Missa em Fá Maior é a que contém o menor número de paródias de movimentos de cantatas de igreja, ao passo que as em sol menor e sol maior consistem exclusivamente em tais adaptações.
Particularmente interessante na Missa em Fá Maior é o Kyrie. Nesta missa, o baixo vocal introduz como cantus firmus o Kyrie Eleison, Christe Eleison da Litânia (nome de outra peça de Bach) e, simultaneamente, a orquestra entoa a música do hino protestante Christe du Lamm Gottes, exemplo claro da intenção do compositor em mesclar elementos das liturgias católica e protestante.
J. S. Bach (1685-1750) – Cantatas BWV 131, 73, 105, 39, 93, 107, Missas Breves (Herreweghe)
CD 1
1. BWV 131 – Aus Der Tiefen Rufe Ich, Herr, Zu Dir –
2. BWV 131 – So Du Willst, Herr, Sunde Zurechnen –
3. BWV 131 – Ich Harre Des Herrn –
4. BWV 131 – Meine Seele Wartet Auf Den Herrn –
5. BWV 131 – Israel, Hoffe Auf Den Herrn –
6. BWV 73 – Herr, Wie Du Willt, So Schick’s Mit Mir –
7. BWV 73 – Ach, Senke Doch Den Geist Der Freuden –
8. BWV 73 – Ach, Unser Wille Bleibt Verkehrt –
9. BWV 73 – Herr, So Du Willst –
10. BWV 73 – Das Ist Der Vaters –
11. BWV 105 – Herr, Gehe Nicht Ins Gericht Mit Deinem Knecht –
12. BWV 105 – Mein Gott, Verwirf Mich Nicht Alt –
13. BWV 105 – Wie Zittern Und Wanken –
14. BWV 105 – Wohl Aber Dem, Der Seinen Burgen –
15. BWV 105 – Kann Ich Nur Jesum Mir Zum Freunde Machen –
16. BWV 105 – Nun, Ich Weiss, Du Wirst Mir Stillen –
CD 2
1. BWV 39 – Brich Dem Hungrigen Dein Brot –
2. BWV 39 – Der Reiche Gott Wirft Seinem Uberfluss –
3. BWV 39 – Seinem Schopfer Noch Auf Erden –
4. BWV 39 – Wohlzutun Und Mitzuteilen –
5. BWV 39 – Hochster, Was Ich Habe –
6. BWV 39 – Wie Soll Ich Dir, O Herr –
7. BWV 39 – Selig Sind, Die Aus –
8. BWV 93 – Wer Nur Den Lieben Gott Lasst Walten –
9. BWV 93 – Was Helfen Uns Die Schweren Sorgen? –
10. BWV 93 – Man Halte Nur Ein Wenig Stille –
11. BWV 93 – Er Kennt Die Rechen Freudenstunden –
12. BWV 93 – Denk Nicht In Deiner Drangsalshitze –
13. BWV 93 – Ich Will Auf Den Herren Schaun –
14. BWV 93 – Sing, Bet Und Geh Auf Gottes Wegen –
15. BWV 107 – Was Willst Du Dich Betruben –
16. BWV 107 – Denn Gott Verlasset Keinen –
17. BWV 107 – Auf Ihm Magst Du Es Wagen –
18. BWV 107 – Wenn Auch Gleich Aus Der Hollen –
19. BWV 107 – Er Richt’s Zu Seinen Ehren –
20. BWV 107 – Drum Ich Mich Ihm Ergebe –
21. BWV 107 – Herr, Gib, Dass Ich In Dein’ Ehre –
CD 3
1. Messe, Bwv233 : Kyrie
2. Messe, Bwv233 : Gloria : Gloria In Excelsis Deo
3. Messe, Bwv233 : Gloria : Domine Deus
4. Messe, Bwv233 : Gloria : Qui Tollis Peccata Mundi
5. Messe, Bwv233 : Gloria : Quoniam Tu Solus Sanctus
6. Messe, Bwv233 : Gloria : Cum Sancto Spiritu
7. Messe, Bwv236 : Kyrie
8. Messe, Bwv236 : Gloria : Gloria In Excelsis Deo
9. Messe, Bwv236 : Gloria : Gratias Agimus Tibi
10. Messe, Bwv236 : Gloria : Domine Deus
11. Messe, Bwv236 : Gloria : Quoniam Tu Solus Sanctus
12. Messe, Bwv236 : Gloria : Cum Sancto Spiritu
CD 4
1. Messe, Bwv235 : Kyrie
2. Messe, Bwv235 : Gloria : Gloria In Excelsis Deo
3. Messe, Bwv235 : Gloria : Gratias Agimus Tibi
4. Messe, Bwv235 : Gloria : Domine Fili Unigenite
5. Messe, Bwv235 : Gloria : Qui Tollis Peccata Mundi
6. Messe, Bwv235 : Gloria : Cum Sancto Spiritu
7. Messe, Bwv234 : Kyrie
8. Messe, Bwv234 : Gloria : Gloria In Excelsis Deo
9. Messe, Bwv234 : Gloria : Domine Deus, Rex Coelestis
10. Messe, Bwv234 : Gloria : Qui Tollis Peccata Mundi
11. Messe, Bwv234 : Gloria : Quoniam Tu Solus Sanctus
12. Messe, Bwv234 : Gloria : Cum Sancto Spiritu
13. Sanctus, Bwv238 : Sanctus
Agnes Mellon (Soprano),
Barbara Schlick (Soprano),
Gerard Lesne (Contratenor)
Christoph Pregardien (Tenor),
Howard Crook (Tenor)
Peter Kooy (Baixo),
Philippe Herreweghe
Collegium Vocale Ghent (Coral e Orquestra)
Eu sempre gostei de ouvir a música que Bach compôs para teclado interpretada ao piano. Bach ao piano! Um dos meus CDs mais antigos é o que poderíamos chamar jurássico – Alexis Weissenberg tocando Bach. (Esse disco, pasmem, foi gravado há mais de cinquenta anos.) Na verdade, Alexis toca transcrições para piano de obras de Bach, feitas principalmente por Busoni, como a Chacone, que eu custei a descobrir ter sido composta para violino solo. Bem, tratando-se de Bach, não dá para afirmar peremptoriamente isso…
O pianista Olivier Cavé é impecável e já andei postando uma ou outra coisa com ele, não deixe de conferir, caso ainda não tenha feito. Assim, o disco, apesar do piano, pode ser considerado ‘autêntico’. Reúne peças da juventude de João Sebastião, dos tempos que andava por Weimar, as voltas com o príncipe muito musical Johann Ernst von Saxe-Weimar, que morreu muito jovem, em 1715.
Temos quatro transcrições de concertos feitas para cravo de originais italianos. Dois deles do famoso Padre Vermelho, e mais dois, um de cada um dos irmão Alessandro e Benedetto Marcello. O programa segue com o magnífico Concerto Italiano, que de tanto transcrever concertos italianos, Bach viu-se capaz de compor uma ‘transcrição’ originalíssima, que prescindia de um concerto original, mais uma das muitas provas de sua genialidade criativa.
Para terminar o programa mais duas peças bem conhecidas com ares italianos – a Aria variata alla maniera italiana e o Capriccio sopra la lontananza del suo fratello dilettissimo. O libreto é um primor. Veja uma tradução livre de um dos seus parágrafos iniciais, feita com a ajuda do já conhecido Chat PQP:
Ao longo de sua extraordinária carreira de compositor, Bach nunca se cansou de copiar à mão música de outros compositores, e o senso de ecletismo que o levava a reproduzir Frescobaldi e adaptar as obras de Pergolesi foi sua maneira de alcançar uma síntese e criação muito pessoais, onde a especulação abstrata, a poesia e a busca didática encontraria seu lugar.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto em fá maior, BWV 978 (original de Antonio Vivaldi RV 310)
Allegro
Largo
Allegro
Concerto em ré menor (original de Alessandro Marcello), BWV974
Allegro
Adagio
Presto
Concerto em sol maior, BWV 973 (original de Antonio Vivaldi RV 299)
Allegro
Largo
Allegro
Concerto em ré menor, BWV 981 (original de Benedetto Marcello, Op. 1, 2)
Adagio
Vivace
Grave
Prestissimo
Concerto Italiano, BWV971
Allegro
Andante
Presto
Aria Variata in A minor, BWV989 ‘alla Maniera Italiana’
Aria
Variazione I
Variazione II
Variazione III
Variazione IV
Variazione V
Variazione VI
Variazione VII
Variazione VIII
Variazione IX
Variazione X
Capriccio sopra la lontananza del suo fratello dilettissimo, BWV992
Arioso (Adagio)
Fughetta
Adagiosissimo
Andante
Allegro poco – Aria del postiglione
Fuga all’imitazione della posta
Olivier Cavé, piano
Olivier Cavé numa estreita rua de uma famosa cidade da Itália…
Faixas Bônus
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para violino em sol maior, Op. 3, 3 – RV 310
Allegro
Largo
Allegro
Concerto Italiano & Rinaldo Alessandrini
Concerto para cravo (do original de Vivaldi RV 310), BWV 978
Allegro
Largo
Allegro
Rinaldo Alessandrini, cravo
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto para violin em sol maior, RV 299
Allegro
Largo cantabile
Allegro
L’Arte dell’Arco & Federico Guglielmo
Alessandro Marcello (173 – 1747)
Concerto para oboé, cordas e contínuo em rpe menor
De uma crítica quase anônima: I liked the approach, Bach has plagia, or rather, he reinterpreted Italian music to his sauce and it’s pretty successful!
Good record, interesting to discover Bach from this angle.
On the other hand, in the long run, the disc may seem a little monotonous
The quality of the performance is impeccable and I liked!
Esses ‘Six concerts avec plusieurs instruments’ foram dados pelo nosso compositor-mor para o Margrave Christian Ludwig von Brandenburg-Schwedt em 1721, bem possivelmente pelo seu aniversário de 44 anos. Uma das características marcantes desses concertos é a variedade. Cada concerto tem uma instrumentação própria, diferente daquela dos outros concertos.
O famoso regente e pioneiro do movimento HIP Reinhard Goebel propôs a teoria da alegoria, segundo a qual a escolha dos instrumentos faria referência a aspectos da vida do Margrave e que isso seria claramente visto por ele.
Concerto No. 1: o uso das duas trompas faz referência à caça, da qual o Margrave era especialmente afeito. Além disso, o violino piccolo (violino polaco) faz referência ao lado polonês (Schwedt) da família de Christian Ludwig.
Concerto No. 2: o trompete faz referência a deusa Fama, uma alusão à própria fama do nobre senhor.
Concerto No. 3: a insistência do número três – 3 violinos, 3 violas, 3 violoncelos – fazem uma alusão à trindade e ao status divino (?) do aniversariante. Bach era vidrado nessas significações numéricas e triplas lhe eram especialmente caras. Basta mencionar também o Concerto Triplo, por exemplo.
Concerto No. 4: o uso das flautas doce e o solo de violino aludem a um aspecto pastoral, uma referência à maneira amável do Margrave comandar e reger os destinos de seus súditos.
Concerto No. 5: nesse concerto a flauta tem um papel concertante sobre um motivo de batalha nos violinos, assim como as passagens altamente virtuosísticas no cravo indicariam a necessidade de o dirigente suplantar o gosto pela guerra.
Concerto No. 6: a escolha de instrumentos desse concerto é a mesma usada na música fúnebre alemã desde 1650. Essa referência indicaria a insignificância da vida terrena e a efemeridade da vaidade – vanitas – todas essas coisas bastante óbvias ao grande nobre.
Dorothee Oberlinger
Adorei a coisa toda e qualquer desculpa para ouvir ainda mais uma vez estes lindos concertos me parece válida e, apesar da avalanche de postagens com gravações especiais dessas obras, decidi trazer mais essa, produzida por músicos alemães e que ainda não foi apresentada por essas paragens.
Além de Rüdiger Lotter, a gravação conta com artistas como Dorothee Oberlinger (flauta doce), Laura Vukobratovic (trompete), Olga Watts (cravo) e Hille Perl (gamba), entre outros.
Resposta dada em um chat sobre a melhor gravação dos tais Concertos: So the final choice fell on a dark horse pointed out by premont Gordo: Rüdiger Lotter and his Hofkapelle München. New kids on the block to keep an eye on. Why? The perfomances are a breath of fresh air: spontaneous, very energetic like Harnoncourt and Savall but remarkably balanced, never over the top. Still: probably not for the fainthearted…. For those looking for a “pretty” version, Kuijken II is a perfect match. The sound of the Hofkapelle is very clear and natural. Another point is that I’m not always into Bach in “foreign” accents – this is profoundly idiomatic. I also like how they treat each concerto very much according to its own individual character – some amazing instrumental solos to be heard.
Com a ajuda do Chat PQP: Assim, a escolha final recaiu sobre um azarão apontado por Gordo: Rüdiger Lotter e sua Hofkapelle München. New kids on the block para se ficar de olho. Por quê? As performances são uma lufada de ar fresco: espontâneas, muito enérgicas como Harnoncourt e Savall, mas notavelmente equilibradas, nunca exageradas. Ainda assim: provavelmente não é para os tímidos…. Para quem procura uma versão “bonita”, Kuijken II é a combinação perfeita. O som do Hofkapelle é muito claro e natural. Outro ponto é que nem sempre gosto de Bach com sotaque “estrangeiro” – isso é profundamente idiomático. Eu também gosto de como eles tratam cada concerto de acordo com seu caráter individual – alguns solos instrumentais incríveis para serem ouvidos.
Aproveite!
René Denon
Rüdiger Lotter visitando a Muralha do Castelo do PQP Bach em Itaipava…
Gostei muito. As gravações são todas ao vivo, tomadas na Tonhalle de Zurique, com aplausos. Trata-se de uma coleção dos ‘bis depois de Beethoven’ que András Schiff deu durante seu ciclo das 32 sonatas do mestre entre 2004 e 2006. Com 52 minutos, equivalem a um banquete dos finais clássicos dos recitais do pianista – de Bach, Haydn e Mozart, passando por Beethoven até Schubert. Se você pensa nos bis como coisas leves, bem, eles podem ser ou não ser. Esses compositores escreveram muitas peças características que são menos ambiciosas do que as grandes sonatas, mas que não devem ser descartadas como miniaturas. Composições mais curtas, sim, mas com longas reflexões por trás delas.
O que tocar depois de uma noite de, digamos, cinco sonatas de Beethoven? Nada, afirmariam muitos pianistas. E Schiff está de acordo com aqueles que, depois da última Sonata de todas (a famosa Op. 111), considerariam a adição de qualquer coisa que não fosse o silêncio como um terrível erro. No entanto, ele nos chega com uma atitude do tipo “por que não?, não há razão para negar a um público entusiasmado um pouco mais de música, desde que estejam relacionadas com as sonatas ouvidas anteriormente”. Os bis variam em extensão e escopo, desde a pequena Giga em Sol maior de Mozart, K. 574 (1’42” e bem traiçoeira), até a Sonata em Sol menor de dois movimentos de Haydn (nº 44 em Hob.) que chamou a atenção de vários grandes pianistas, como Sviatoslav Richter. E ainda temos Bach! Uma joia de CD!
J. S. Bach / Beethoven / Haydn / Mozart / Schubert: Encores After Beethoven (Bis depois de Beethoven) (András Schiff)
Three Piano Pieces D 946 (Franz Schubert)
1 No. 1 e- Flat minor. Allegro assai 07:26
2 Allegretto c minor D 915 (Franz Schubert) 04:59
3 Eine kleine Gigue in G Major KV 574 (Wolfgang Amadeus Mozart) 01:42
Sonata g minor Hob XVI :44 (Joseph Haydn)
4 Moderato 09:33
5 Allegretto 04:04
6 Hungarian Melody in b minor D 817 (Franz Schubert) 03:59
7 Andante favori F major WoO 57. Andante grazioso con moto (Ludwig van Beethoven) 08:41
Partita No. 1 B-flat Major BWV 825 (Johann Sebastian Bach)
8 Menuet I & II 02:32
9 Gigue 02:33
Prelude and Fugue b-flat minor BWV 867 (Johann Sebastian Bach)
10 Prelude 02:30
11 Fugue 03:27
Uma joia! Esta coleção de Cantatas Seculares foi lançada mil vezes em quinhentos formatos diferentes. Comprei-a lá por 2005 em dois volumes de 4 CDs cada um. Aqui está o primeiro. São gravações realizadas antes de 1985, creio, pela Hänssler Classic. Helmuth Rilling foi o primeiro a gravar as Cantatas Completas de Bach e ainda assim, quase 40 anos após terem sido lançadas pela primeira vez, em celebração do tricentenário de Bach em 1985, a coleção continua a ser uma das principais, uma pela qual as outras interpretações são julgadas. Rilling, nascido em 1933 em Stuttgart, é aclamado como maestro, pedagogo e estudioso de Bach. Em 1954 fundou o Gächinger Kantorei, que onze anos depois uniu forças com o Bach Collegium Stuttgart como seu parceiro orquestral regular. Foi nesta altura que Rilling iniciou o seu trabalho intensivo com a música de Johann Sebastian Bach. Ele também defendeu fervorosamente a música coral negligenciada do período romântico e promoveu a música contemporânea encomendando e executando regularmente peças de compositores de nosso tempo. Esta série de CDs traz as famosas Cantatas do Café (BWV 211), a dos Camponeses (BWV 212) e as lindíssimas BWV 208 e 209. A BWV 213 também é uma loucura de bonita.
J. S. Bach (1685-1750): 8 Cantatas Seculares (Profanas), BWV 208 a 215 (Rilling) 4 CDs
CD1
BWV 208 “Was Mir Behagt Ist Nur Die Muntre Jagd”
1 Sinfonia (BWV 1046a)
2 1. Recitativo: Was Mir Behagt Ist Nur Die Muntre Jagd
3 2. Aria: Jagen Ist Die Lust
4 3. Recitativo: Wie? Schönste Göttin! Wie?
5 4. Aria: Willst Du Dich Nicht Mehr Ergötzen
6 5. Recitativo: Ich Liebe Dich Zwar Noch!
7 6. Recitativo: Ich, Der Ich Sonst Ein Gott In Diesen Feldern Bin
8 7. Aria: Ein Fürst Ist Seines Landes Pan!
9 8. Recitativo: Soll Dan Der Pales Opfer Hier Das Letzte Sein?
10 9. Aria: Schafe Können Sicher Weiden
11 10. Recitativo: So Stimmt Mit Ein
12 11. Coro: Lebe, Sonne Dieser Erden
13 12: Duetto: Entzücket Uns Beide
14 13. Aria: Weil Die Wollenreichen Herden
15 14. Aria: Ihr Felder Und Auen
16 15. Coro: Ihr Lieblichste Blicke! Ihr Freudige Stunden
BWV 209 “Non Sa Che Sia Dolore”
17 1. Sinfonia
18 2. Recitativo: Non Sa Che Sia Dolore
19 3. Aria: Parti Pur E Con Dolore
20 4. Recitativo: Tuo Saver Al Tempo
21 5. Aria: Ricetti Gramezza E Pavento
CD2
BWV 210 “O Holder Tag, Erwünschter Zeit”
1 1. Recitativo: O Holder Tag, Erwünschte Zeit
2 2. Aria: Spielet, Ihr Beseelten Lieder
3 3. Recitativo: Doch, Haltet Ein, Ihr Muntern Saiten
4 4. Aria: Ruhen Hie, Matte Töne
5 5. Recitativo: So Glaubt Man Denn
6 6. Aria: Schweigt, Ihr Flöten
7 7. Recitativo: Was Luft? Was Grab?
8 8. Aria: Großer Gönner, Dein Vergnügen
9 9. Recitativo: Hochteurer Mann
10 10. Aria: Seid Beglückt, Edle Beide
BWV 211 “Schweigt Stille, Plaudert Nicht” (Kaffeekantate)
11 1. Recitativo: Schweigt Stille, Plaudert Nicht
12 2. Aria: Han Man Nicht Mit Seinen Kindern
13 3. Recitativo: Du Böses Kind, Du Loses Mädchen
14 4. Aria: Ei! Wie Scheckt Der Coffee Süße
15 5. Recitativo: Wenn Du Mir Nicht Den Coffee Läßt
16 6. Aria: Mädchen, Die Von Harten Sinnen
17 7. Recitativo: Nun Folge, Was Dein Vater Spricht
18 8. Aria: Heute Noch, Liebe Vater, Tut Es Doch
19 9. Recitativo: Nun Geht Und Sucht Der Alte Schlendrian
20 10. Coro: Die Katze Läßt Das Mausen Nicht
CD3
BWV 212 “Mer Hahn En Neue Oberkeet” (Bauernkantate)
1 1. Ouverture
2 2. Aria (Duetto): Mer Hahn En Neue Oberkeet
3 3. Recitativo: Nu, Mieke, Gib Dein Guschel Immer Her
4 4. Aria: Ach, Es Schmeckt Doch Gar Zu Gut
5 5. Recitativo: Der Herr Ist Gut
6 6. Aria: Ach, Herr Schösser, Geht Nicht Gar Zu Schlimm
7 7. Aria: Es Bleibt Dabei
8 8. Aria: Unser Trefflicher, Lieber Kammerherr
9 9. Recitativo: Er Hilft Uns Allen, Alt Und Jung
10 10. Aria: Das Ist Galant
11 11. Recitativo: Und Unsre Gnädge Frau
12 12. Aria: Fünfzig Taler Bares Geld
13 13. Recitativo: Im Ernst Ein Wort!
14 14. Aria: Klein Zschocher Müsse So Zart Und Süße
15 15. Recitativo: Das Ist Zu Klug Vor Dich
16 16. Aria: Es Nehme Zehntausend Dukaten
17 17. Recitativo: Das Klinkt Zu Liederlich
18 18. Aria: Gib, Schöne, Viel Söhne
19 19. Recitativo: Du Hast Wohl Recht
20 20. Aria: Dein Wachstum Sei Feste
21 21. Recitativo: Und Damit Sei Es Auch Genug
22 22. Aria: Und Daß Ihr’s Alle Wißt
23 23. Recitativo: Mein Schatz! Erraten
24 24. Chor: Wer Gehn Nun
BWV 213 “Laßt Uns Sorgen, Laßt Uns Wachen”
25 1. Coro: Laßt Uns Sorgen, Laßt Uns Wachen
26 2. Recitativo: Und Wo? Wo Ist Die Rechte Bahn
27 3. Aria: Schlafe, Mein Liebster
28 4. Recitativo: Auf! Folge Meiner Bahn
29 5. Aria: Treues Echo, Treues Echo
30 6. Recitativo: Mein Hoffnungsvoller Held!
31 7. Aria: Auf Meinen Flügeln Sollst Du Schweben
32 8. Recitativo: Die Weiche Wollust Locket Zwar
33 9. Aria: Ich Will Dich Nicht Hören, Ich Will Dich Nicht Wissen
34 10. Recitativo: Geliebte Tugend
35 11. Aria, Duetto: Ich Bin Deine
36 12. Recitativo: Schaut, Götter, Dieses Ist Ein Bild
37 13. Coro: Lust Der Völker, Lust Der Deinen
CD4
BWV 214 “Tönet, Ihr Pauken! Erschallet, Trompeten!”
1 1. Coro: Tönet, Ihr Pauken! Erschallet, Trompeten!
2 2. Recitativo: Heut Ist Der Tag
3 3. Aria: Blast Die Wohlgegriffnen Flöten
4 4. Recitativo: Mein Knallendes Metall
5 5. Aria: Fromme Musen! Meine Glieder!
6 6. Recitativo: Unsre Königin Im Lande
7 7. Aria: Kron Und Preis Gekrönter Damen
8 8. Recitativo: So Dringe In Das Weite Erdenrund
9 9. Coro: Blühet Ihr Linden In Sachsen
BWV 215 ” Preise Dein Glücke, Gesegnetes Sachsen”
10 1. Coro: Preise Dein Glücke, Gesegnetes Sachsen
11 2. Recitativo: Wie Können Wir, Großmachtigster August
12 3. Aria: Freilich Trotzt Augustus’ Name
13 4. Recitativo: Was Hat Dich Sonst, Sarmatien, Bewogen
14 5. Aria: Rase Nur, Verwegner Schwarm
15 6. Recitativo: Ja, Ja! Gott Ist Uns Noch Mit Seiner Hülfe Nah
16 7. Aria: Durch Die Von Eifer Entflammeten Waffen
17 8. Recitativo: Laß Doch, O Teurer Landesvater, Zu
18 9. Coro: Stifter Der Reiche, Beherrscher Der Kronen
Neste belo disco, os 6 Schübler Chorales estão metidos entre outras peças, como Fantasias, Toccatas e Prelúdios. Uma bela escolha da Naxos. Gostei da opção. Fazia tempo que não nos dedicávamos ao órgão de meu pai. Dizem que era o instrumento preferido dele. É um belo aparato, ele efetivamente tinha um poderoso órgão. Foram 21 filhos, 20 “legítimos” e um fora dos dois casamentos. Era uma máquina de beber cerveja, fazer filhos e de criar beleza. E W. Rübsam é um representante autêntico desses estranhos seres que tocam mais de um teclado com as mãos e ainda o fazem com os pés, tudo ao mesmo tempo, como se fossem aranhas. Um discaço!
J. S. Bach (1685-1750): Schübler Chorales BWV 645-650 / Dorian Toccata e Fugue BWV 538 e outras peças (Rübsam)
1 Wachet auf, ruft uns die Stimme, BWV 645 04:54
2 Fantasia e Fuga em Dó Menor, BWV 537 09:49
3 Wo soll ich fliehen hin, BWV 646 02:17
4 Wer nur den lieben Gott last walten, BWV 647 03:39
5 Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 538 14:46
6 Meine Seele erhebt den Herrn, BWV 648 02:44
7 Peça d’Orgue em Sol Maior, BWV 572, “Fantasia em Sol Maior” 10h30
8 Ach, bleib bei uns, Herr Jesus Cristo, BWV 649 02:39
9 Kommst du nun, Jesus, vom Himmel herunter, BWV 650 03:48
10 Prelúdio e Fuga em Dó Maior, BWV 545 12:53
Obs. de PQP: Neste ano de 2016, o mundo falará muito em Florence Foster Jenkins. Afinal, Stephen Frears acaba de finalizar a cinebiografia desta absurda, patética e desafinadíssima cantora com Meryl Streep no papel principal. Ela é simplesmente hilariante. As plateias desenvolveram uma curiosa convenção. Quando ela chegava em momentos particularmente horríveis em que eles tinham que rir, eles explodiam em aplausos e assobios para poderem rir livremente, sem machucar tanto a auto-estima — na verdade uma inabalável fortaleza — da pobre cantora. Ouçam o que ela consegue fazer nesta que é sua melhor gravação (não estou ironizando). Ouvir ‘A Faust Travesty’ é algo só para os fortes, mas ‘A Rainha da Noite’, ‘Biassy’ e ‘Like a Bird’ também quase me mataram. Mas deixemos a palavra para Das Chucruten.
Hoje vou postar uma pérola da indústria fonográfica do século XX, que de vez em quando deixa escapar suas máculas de maneira muito divertida. Esta é o que podemos chamar de raridade humorística da música.
Florence Foster Jenkins foi uma moça da alta sociedade americana, nascida ainda no final do séc.XIX, casada durante pouco tempo com um médico, e depois com um ator que virou seu empresário. Ao que parece sua família era muito rica e lhe permitiu manter-se de forma extravagante mesmo depois de uma separação. Consta que ela sempre quis ser cantora, mas nem seus pais nem seu marido deram bola, então ela resolveu seguir por conta própria. O resultado é que ela se autopromoveu e começou a organizar apresentações de canto às próprias custas.
Chamou a atenção dos críticos porque era totalmente desprovida de qualquer musicalidade mínima: não entendia a pulsação rítmica, era incapaz de manter-se no ritmo; não conseguia afinar-se minimamente e tinha uma pronúncia de língua estrangeira que beirava o ridículo. Não obstante, suas apresentações se tornaram “cult”, e, mesmo sabendo que o público ia assisti-la para o escárnio, dizia que os risos eram “inveja profissional”.
Pouco antes de morrer, em 1944, conseguiu apresentar-se no Carnegie Hall e gravou seu único disco de 78 rotações (aos 70 anos de idade!), que é a pérola que aqui vos apresento. O mérito do pianista acompanhador é grande, um verdadeiro malabarista que consegue, com maestria, seguir um motorista bêbado. O CD ainda tem umas faixas bônus com uma sátira ao Fausto de Gounod, cantado de forma invertida, e muito propriamente, chamado “A Faust Travesty”. Agradeço à minha amiga Ana Lucia pela introdução desta Diva na minha discografia
Abraços.
Meryl Streep como Florence em filme de Stephen Frears que será lançado este ano
FLORENCE FOSTER JENKINS – THE GLORY (???) OF HUMAN VOICE / A FAUST TRAVESTY
01 Mozart: Die Zauberflöte, K 620 – Queen Of The Night Aria
02 Lyadov: Die Musikdose, Op. 32
03 Cosme McMoon: Like A Bird
04 Delibes: Lakme – Ou Va La Jeune Hindoue_
05 Cosme McMoon: Serenata Mexicano
06 David: La Perle Du Bresil – Charmant Oiseau
07 Bach,J.S. / Pavlov: Biassy
08 Strauss, Jr.: Die Fledermaus – La Chauve-Souris_ Adele’s Laughing Son – Air D’adele – ‘mein Herr Marquis’
09 Gounod: A Faust Travesty: Valentine’s Aria (Ere I Leave My Native Land)
10 Gounod: A Faust Travesty: Jewel Song (O Heavenly Jewels)
11 Gounod: A Faust Travesty: Salut, Demeure Chaste Et Pure (Emotions Strange)
12 Gounod: A Faust Travesty: Final Trio (My Heart Is Overcome With Terror)
Florence Foster Jenkins, Soprano
Cosme McMoon, pianist
Jenny Williams – Thomas Burns, singing the Faust parody
Lorenz Christoph Mizler foi, entre muitas coisas, médico, matemático e compositor. Ele estudou teologia em Leipzig nos primeiros anos da década de 1730 e também composição musical. De alguma forma acabou associando-se a Johann Sebastian Bach a quem chamava de bom amigo. Mizler posteriormente mudou-se para a Polônia e fixou-se em Varsóvia onde praticou medicina. Ele tinha grande interesse em teoria musical e fundou a Sociedade Correspondente de Ciências Musicais. Os sócios contribuíam enviando trabalhos musicais teóricos ou práticos.
Vários compositores conhecidos faziam parte da Sociedade. Telemann, Handel, Graun e o padroeiro do blog, que associou-se em 1747, quando contribuiu com as Variações Canônicas sobre ‘Vom Himmel hoch’. No ano seguinte enviou a Oferenda Musical e para 1749 planejava enviar a Arte da Fuga.
Não é surpresa então que essa obra soe um pouco acadêmica e se você conhece Bach como o compositor da Ária na Corda Sol ou Jesus, a Alegria dos Homens, vai ficar perplexo. Praticar a audição de A Arte da Fuga é um de meus passatempos favoritos.
Como não há indicação de qual instrumento ou quais instrumentos devem ser usados para se executar a música há muitas diferentes abordagens, inclusive a especulação de que a obra havia sido feita para ser ouvida na mente, um verdadeiro exercício intelectual. É claro que isso deixaria de fora toda a plebe ignara que não lê notação musical. De qualquer forma, com a abundância de gravações ninguém precisa privar-se de ter contato com essa criação genial de Bach. As mais abundantes são aquelas nas quais se usa um instrumento de tecla como um cravo, um piano ou um órgão ou aquelas nas quais se usa um quarteto de cordas. Outras combinações musicais mais exotéricas também podem ser usadas, tais como conjunto de sopros (metais ou madeiras), marimbas ou um conjunto de acordeão com viola da gamba e violino.
Eu gosto muito da gravação da postagem na qual reina a criatividade de Heribert Breuer, um organista, regente, compositor e arranjador alemão. Ele estudou em Heidelberg, Berlim e Colônia com Helmuth Rilling e outros professores.
No libreto ele conta como pensou muito no tipo de formação que usaria para orquestrar a Arte da Fuga: minha orquestração usaria quatro quartetos e um instrumento solo com teclado.
Meu conceito era do espectro tonal mais transparente possível, cujas cores deveriam formar um contrapeso à polifonia sempre presente da obra.
O primeiro contraponto é interpretado pelo clássico quarteto de cordas. Os ritmos marcantes do segundo contraponto exigem uma instrumentação que deixe clara sua relação com as raízes do ‘cool jazz’. Dois pianos, vibrafone e contrabaixo representam a ‘música contemporânea’. No terceiro contraponto temos mais contrastes: sua expressividade cromática e desenvolvimento dinâmico explícito exigem recursos românticos, representados aqui por um quarteto de sopros – oboé, clarinete, trompa e fagote. O quarto contraponto, com o qual termina a primeira parte, sugere um mundo pré-bachiano, no qual o cromatismo e os ritmos pulsantes são evitados. Este estilo Música Antiga é representado por duas flautas doces e duas violas da gamba. Os cânones são interpretados por cravo ou órgão (apenas órgão, no disco).
Deixo aqui parte de uma crítica, entre as mais amenas que encontrei, que ajuda a descrever o que segue:
What then follows is too complicated to describe here but is a combination of all instrumental premutations as the counterpoint becomes more complex. Breuer took 25 years to do it, so one can imagine the complexity of the result. It does make for satisfying listening and serves to remind us just how amazing the Art of Fugue is. [O que se segue é muito complicado de descrever aqui, mas é uma combinação de todas as mutações instrumentais anteriores à medida que o contraponto se torna mais complexo. Breuer levou 25 anos para fazê-lo, então pode-se imaginar a complexidade do resultado. Ele faz uma audição satisfatória e serve para nos lembrar o quão incrível é a Arte da Fuga].
No livreto Heribert termina dizendo que gostaria que seu arranjo pudesse removesse dessa obra uma carga de abstração que tão comumente lhe é atribuída e que ajude a mostrar para os ouvintes a atemporalidade que reside bem no âmago da peça. Eu gostei do disco, a despeito das críticas e aguardo o vosso veredito: valeu o download?
The orchestra is made up of members of the major Berlin orchestras, its personnel varying with the program. For the Art of Fugue project, the Leipzig String Quartet, piano duettists Aglaia Bätzner and Cristina Marton, and vibraphone player Edgar Guggeis joined as guests.
Nomes dos específicos músicos estão em um documento na pasta do download.
Certainly the Musica Contemporanea group, with its jaunty, bounce-along approach, sounds out of place. [Uma crítica não muito favorável ao disco…]
Uma pena, eu gostei bastante do quarteto contemporâneo. Ouça lá no Contraponto 14, pouco depois do terceiro minuto, como eles dão o ar da graça…
Não creio que haja necessidade de se falar mais nada sobre as Variações Goldberg, meus colegas já gastaram muita tinta de caneta para comentar essa obra tão peculiar, e ao mesmo tempo, tão importante para o desenvolvimento da música ocidental como a conhecemos hoje. A partir de um tema, uma belíssima ‘Aria’ Bach escreve 32 variações sobre esse tema. Coisa de gênio mesmo. Composta originalmente para teclado, no correr dos séculos já vimos várias gravações com os mais diversos instrumentos, desde quarteto de saxofones, passando por versões para dois pianos, quarteto de cordas, etc.
Hoje trago para os senhores o fenômeno chamado Rachel Podger nos brindando com uma ‘releitura”, ou como diz o próprio título do CD, as “Variações Goldberg Reimaginadas”. O responsável por esta releitura e adaptação tão ousada é o cravista e maestro Chad Kelly.
Para não me estender muito no texto sugiro a leitura do interessante texto do mesmo presente no livreto em anexo ao arquivo. Ali, Kelly explicar sua forma de trabalho para realizar tal empreitada. Porque, vamos combinar, tem se de ter uma certa dose de coragem para encarar um petardo no nível das Goldberg e ‘traduzi-la’ para o nosso século, transcrevendo-a para instrumentos de sopro e de cordas, e ao mesmo tempo respeitando e obedecendo as normas e regras das interpretações historicamente informadas.
Rachel Podger e seu conjunto Brecon Baroque novamente nos brindam com uma interpretação impecável, como não poderia deixar de ser em se tratando desses músicos, inclusive nos fazendo esquecer do ‘exotismo’ do projeto. O que ouvimos são as Goldberg sim, mas com outra roupagem.
Esta é a minha última postagem do ano de 2023, e preciso pedir desculpas para os senhores por ter postado tão pouco neste ano, felizmente com a chegada de outros membros ao grupo do PQP Bach minha ausência nem foi tão sentida assim. A vida da gente é um nada no mundo, porém os diversos fatores que afetam nosso dia a dia acabam se refletindo naquilo que não entendemos tão importante, vindo portanto a deixa-los de lado. O que é uma pena, pois entendo o PQP Bach como uma terapia.
Queria também pedir desculpas aos colegas do blog, pedi o espaço do dia 25 de dezembro para postar um Oratório de Telemann, porém não achei a obra tão relevante quanto esta empreitada de Miss Podger e sua turma. Então por favor, entendam esta postagem como um presente de Natal, inclusive estou disponibilizando os arquivos em FLAC para os mais puristas e em MP3 para aqueles que não se importam com a qualidade do áudio, querem apenas degustar a obra.
Um Feliz Natal para todos, e um ano de 2024 pleno de alegrias e realizações.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Bach Goldberg Variations Reimagined (Podger, Kelly, Brecon Baroque)
1 ARIA
2 VARIATION 1
3 VARIATION 2 / VARIATION 3 CANONE ALL’UNISONO / VARIATION 4 / VARIATION 5
4 VARIATION 6 CANONE ALLA SECONDA / VARIATION 7 AL TEMPO DI GIGA / VARIATION 8
5 VARIATION 9 CANONE ALLA TERZA / VARIATION 10 FUGHETTA
6 VARIATION 11 / VARIATION 12 CANONE ALLA QUARTA
7 VARIATION 13
8 VARIATION 14
9 VARIATION 15 CANONE ALLA QUINTA IN MOTO CONTRARIO, ANDANTE
10 VARIATION 16 OUVERTURE / VARIATION 17
11 VARIATION 18 CANONE ALLA SESTA
12 VARIATION 19
13 VARIATION 20
14 VARIATION 21 CANONE ALLA SETTIMA / VARIATION 22 ALLA BREVE
15 VARIATION 23 / VARIATION 24 CANONE ALL’OTTAVA
16 VARIATION 25 ADAGIO / VARIATION 26
17 VARIATION 27 CANONE ALLA NONA / VARIATION 28
18 VARIATION 29 / VARIATION 30 QUODLIBET / ARIA DA CAPO
Impossível evitar, o espírito de Natal está no ar. Meu vizinho colocou em sua casa tantas luzes com motivos natalinos que até a NASA já detectou o nosso bairro em seu mapa mundi de luminosidade. Fora isso, com as economias devidamente empregadas em bacalhau, a ceia deverá ser farta.
De qualquer forma, Natal remete à família e eu penso um pouco na minha. O ano teve, como deve ter acontecido na sua, altos e baixos. Impossível ser diferente, está nos genes.
Aqui comemoramos o primeiro ano de aniversário de minha neta mais nova, que está em ótimo desenvolvimento, assim como sua irmãzinha, um ano mais velha. Essa já conta até 10, reconhece e nomeia todas as cores. Ela repete tudo o que ouve, haja cuidado com o que se diga perto dela.
Uma querida cunhada está se despedindo da vida, uma nota de tristeza. Mas que vida cheia de amor e dedicação que tem sido essa. Força pedimos, confiança temos.
Assim vamos exercitando ao máximo a prática de esticar o tempo para conseguir fazer tudo o que planejamos, como o catártico escrever desta postagem.
Enfim, o que queremos para a noite de Natal? Eu quero estar rodeado de pessoas queridas, ouvir vozes e risos familiares. Ganhar abraços e beijos. Dar e receber aqueles telefonemas ou ZAP-mensagens que nos aproximam daquelas vozes que por alguma razão não podem estar ao pé de nós. Mas que no ano que vem, quem sabe?
Para a postagem, escolhi um álbum tipicamente produzido para a ocasião. Metade do disco com números do Messias de Handel, cantado em alemão (pasmem!), mas regido pelo inglês Sir Neville Marriner. A outra metade tem números do Oratório de Natal do imenso João Sebastião Ribeiro, padroeiro do blog. Aqui, forças mistas, anglo-germânicas. São vozes conhecidas para os que já ouvem música há algum tempo e precisam ser ouvidas pelos que ainda estão se aventurando nessas águas. Tudo muito lindo.
Aleluia!
George Frideric Handel (1685 – 1759)
Messiah – Der Messias HWV 56 (Highlights)
(sung in German)
2 Tröste dich, mein Volk … & Nr.3 Alle Tale macht hoch erhaben (Accompagnato & tenor arie)
4 Denn die Herrlichkeit Gottes (Chorus)
8 O du, der Wonne verkündet in Zion (Contralto aria)
11 Denn es ist uns ein Kind geboren (Chorus)
12 Pifa
14 Und alsbald war da bei dem Engel (Accompagnato sopran)
15 Ehre sei Gott in der Höhe (Chorus)
36 Warum denn rasen und toben die Heiden im Zorne (Bass aria)
39 Hallelujah! (Chorus)
40 Ich weiß, daß mein Erlöser lebet (Soprano aria)
47 Würdig ist das Lamm, das da starb (Chorus)
Lucia Popp (soprano)
Brigitte Fassbaender (contralto)
Robert Gambill (tenor)
Robert Holl (bass)
Südfunkchor (Klaus Martin Ziegler)
Radio-Sinfonieorchester Stuttgart des SWR
Sir Neville Marriner
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Christmas Oratorio, BWV 248 (Highlights)
1 Jauchzet, frohlocket, auf, preiset die Tage (Chorus)
Sou um traidor. Avisei para o grupo do PQP Bach que não publicaria nada relativo ao Natal, só que a caixinha deste álbum triplo cruzou na minha frente e eu me perguntei: por que não, né? É uma boa gravação, mas que não se compara com esta aqui nem com outras postadas no passado e que estão com os links quebrados (como a de Herreweghe). Ou como a desta sensacional versão de Harnoncourt que está com os links válidos.
Então é Natal. O Natal do pior ano de minha vida, mas a gente sempre pensa que vai melhorar. E vai.
Tchau, 2023. Nunca mais retorne!
Solitários, decidimos que o formigueiro, pisoteado e destruído,
seja reconstruído. Por cada um de nós, solitariamente.
J. S. Bach (1685-1750): Oratório de Natal, BWV 248 (Failoni / Oberfrank)
Christmas Oratorio, BWV 248,
Disc 1
Part I: Jauchzet, frohlocket, auf, preiset die Tage
1 Jauchzet, frohlocket, auf, preiset die Tage! (Chorus) 07:13
2 Recitative: Es begab sich aber, zu der Zeit (Evangelist) 01:18
3 Recitative: Nun wird der Held aus Davids Stamm (Alto) 00:46
4 Aria: Bereite dich, Zion (Alto) 05:15
5 Chorale: Wie soll ich dich empfangen (Chorus) 01:16
6 Recitative: Und sie gebar ihren ersten Sohn (Evangelist) 00:22
7 Chorale and Recitative: Er ist auf Erden kommen arm (Soprano, Bass) 02:45
8 Aria: Grosser Herr und starker Konig (Bass) 04:51
9 Chorale: Ach, mein herzliebes Jesulein! (Chorus) 01:04
Christmas Oratorio, BWV 248, Part II: Und es waren Hirten in derselben Gegend
10 Sinfonia 05:54
11 Recitative: Und es waren Hirten in derselben Gegend (Evangelist) 00:41
12 Chorale: Brich an, du schönes Morgenlicht (Chorus) 01:16
13 Recitative: Und der Engel sprach zu ihnen (Evangelist, Angel) 00:43
14 Recitative: Was Gott dem Abraham verheissen (Bass) 00:40
15 Aria: Frohe Hirten, eilt, ach eilet (Tenor) 04:09
16 Recitative: Und das habt zum Zeichen (Evangelist) 00:22
17 Chorale: Schaut hin! dort liegt im finstern Stall (Chorus) 00:46
18 Recitative: So geht denn hin! ihr Hirten geht (Bass) 00:49
19 Aria: Schlafe, mein Liebster, geniesse der Ruh (Alto) 09:22
20 Recitative: Und alsobald war da bei dem Engel… (Evangelist) 00:15
21 Ehre sei Gott in der Hohe (Chorus) 02:31
22 Recitative: So recht; ihr Engel, jauchzt und singet (Bass) 00:24
23 Chorale: Wir singen dir in deinem Heer (Chorus) 01:19
Disc 2
Christmas Oratorio, BWV 248, Part III: Herrscher der Himmels, erhore das Lallen
1 Herrscher des Himmels, erhore das Lallen (Chorus) 02:00
2 Recitative: Und da die Engel von ihnen gen Himmel führen (Evangelist) 00:11
3 Lasset uns nun gehen gen Bethlehem… (Chorus) 00:45
4 Recitative: Er hat sein Volk getrost’ (Bass) 00:41
5 Chorale: Dies hat er alles uns getan (Chorus) 01:00
6 Aria (Duet): Herr, dein Mitleid, dein Erbarmen (Soprano, Bass) 08:26
7 Recitative: Und sie kamen eilend (Evangelist) 01:12
8 Aria: Schliesse, mein Herze, dies selige Wunder (Alto) 04:51
9 Recitative: Ja, ja! mein Herz soll es bewahren (Alto) 00:21
10 Chorale: Ich will dich mit Fleiss bewahren (Chorus) 01:05
11 Recitative: Und die Hirten kehrten wieder um (Evangelist) 00:24
12 Chorale: Seid froh dieweil (Chorus) 00:57
13 Herrscher des Himmels, erhore das Lallen (Chorus) 02:12
Christmas Oratorio, BWV 248, Part IV: Fallt mit Danken, fallt mit Loben
14 Fallt mit Danken, fallt mit Loben (Chorus) 05:05
15 Recitative: Und da acht Tage um waren (Evangelist) 00:37
16 Recitative and Chorale: Immanuel, o susses Wort! (Bass, Soprano) 02:22
17 Aria: Flosst mein Heiland, flosst dein Namen… (Soprano) 06:15
18 Recitative: Wohlan! dein Name soll allein… (Bass and Soprano) 01:26
19 Aria: Ich will nur dir zu Ehren leben (Tenor) 05:12
20 Chorale: Jesus richte mein Beginnen (Chorus) 01:35
Disc 3
Christmas Oratorio, BWV 248, Part V: Ehre sei dir, Gott, gesungen
1 Part 5. Am Sonntag nach Neujahr: Coro 06:35
2 Recitative: Da Jesus geboren war zu Bethlehem… (Evangelist) 00:26
3 Chor und Recitative: Wo ist der neugeborne Konig der Juden? (Alto) 01:46
4 Chorale: Dein Glanz all Finsternis verzehrt (Chorus) 01:08
5 Aria: Erleucht auch meine finstre Sinnen (Bass) 04:08
6 Recitative: Da das der Konig Herodes horte (Evangelist) 00:15
7 Recitative: Warum wollt ihr erschrecken? (Alto) 00:32
8 Recitative: Und liess versammeln alle Hohenpriester (Evangelist) 01:13
9 Aria (Terzetto): Ach, wenn wird die Zeit erscheinen? (Soprano, Alto, Tenor) 05:57
10 Recitative: Mein Liebster herrschet schon (Alto) 00:23
11 Chorale: Zwar ist solche Herzensstube (Chorus) 01:27
Christmas Oratorio, BWV 248, Part VI: Herr, wenn die stolzen Feinde schnauben
12 Herr, wenn die stolzen Feinde schnauben (Chorus) 04:51
13 Recitative: Da berief Herodes die Weisen heimlich (Evangelist, Herodes) 00:43
14 Recitative: Du Falscher, suche nur den Herrn zu fallen (Soprano) 00:47
15 Aria: Nur ein Wink von seinen Handen (Soprano) 04:32
16 Recitative: Als sie nun den Konig gehoret hatten (Evangelist) 01:05
17 Chorale: Ich steh an deiner Krippen hier (Chorus) 01:16
18 Recitative: Und Gott befahl ihnen im Traum (Evangelist) 00:21
19 Recitative: So geht! Genug, mein Schatz geht nicht von hier (Tenor) 01:49
20 Aria: Nun mogt ihr stolzen Feinde schrecken (Tenor) 04:25
21 Recitative: Was will der Hollen Schrecken nun (Soprano, Alto, Tenor, Bass) 00:31
22 Chorale: Nun seid ihr wohl gerochen (Chorus) 03:21
Total Playing Time: 02:28:09
Lyricist(s): Franck, Johann; Gerhardt, Paul; Henrici, Christian Friedrich; Luther, Martin; Rist, Johann; Runge, Christoph; Weissel, Georg; Werner, Georg
Conductor(s): Oberfrank, Géza
Orchestra(s): Budapest Failoni Chamber Orchestra
Choir(s): Hungarian Radio Choir
Artist(s): Kertesi, Ingrid; Mukk, Jozsef; Nemeth, Judit; Tóth, Janos
A série “Great Pianists of the 20th Century”, lançada em 1999, juntou grandes gravações de 72 pianistas: algumas muito conhecidas e reeditadas como Arrau tocando Beethoven, Larrocha tocando Albéniz etc.; outras que não são tão fáceis de se encontrar, como é o caso da Fantasia de Schumann por Freire ou destas várias gravações feitas por Robert Casadesus entre 1947 e 1963.
A comparação entre os franceses Robert Casadesus e Alfred Cortot serve como ilustração do fato de que grandes figuras artísticas resistem à categorização em “escolas”. Enquanto Cortot buscava nas obras o que era mais romântico e frequentemente se movia por inspirações momentâneas, Casadesus, pelo contrário, buscava projetar a estrutura e a lógica interna de cada obra.
Então Cortot, assim como Guiomar Novaes (brasileira com educação em grande medida francesa), ambos se destacavam em suas interpretações de Chopin e Schumann. Já Casadesus, com sua elegência e clareza – mas também com momentos de brilho pianístico – talvez tenha sido o maior intérprete de Scarlatti e Rameau da sua época. Na mesma Paris onde vivia Casadesus, o crítico musical francês Claude Rostand escrevia sobre Domenico Scarlatti:
Apesar da liberdade, fantasia e humor impulsivo que caracterizam Scarlatti – na alegria como na emoção -, suas sonatas seguem um modelo mais ou menos constante. Nessas centenas de sonatas, as dificuldades técnicas não são objetivos em si mesmos: nenhuma ostentação, muita elegância. Quanto à invenção rítmica, ela é inesgotável, o que torna ainda mais notável o fato das sonatas jamais tatearem a confusão, mas serem sempre de uma naturalidade e transparência jamais igualada. (Rostand, 1950, Les chefs-d’œuvre du piano, tradução especial para este blog)
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 15 ago 1931
Casadesus também gravou muito Mozart, ausente nesta coleção, e Beethoven, que aparece com uma sonata do seu opus 2 dedicado a Haydn. Ela é tocada aqui com menos arroubos sentimentais do que nas interpretações de Arrau ou Pollini: mesmo no movimento lento “Largo apassionato”, Casadesus privilegia – como antes no Scarlatti – a elegância, característica importante do chamado classicismo vienense.
E Casadesus tocava, claro, a música dos compositores franceses que ele conheceu pessoalmente: Fauré, Debussy, Ravel. Embora o som do Concerto para mão esquerda de Ravel – com o grande maestro Eugene Ormandy – denuncie que a gravação é antiga e em mono (1947), ainda assim é muito interessante ouvirmos um pianista que conheceu bem o compositor: após o primeiro contato em 1922 quando Ravel ouviu Casadesus tocar o Gaspard de la nuit, os dois fizeram uma turnê em 1923 na Espanha e Inglaterra, não tenho certeza se a dois pianos ou se com Ravel regendo. Foram anos de amizade que tornaram Casadesus, por motivos óbvios, um intérprete respeitado das obras de Ravel.
Great Pianists of the Century – Robert Casadesus (1899-1972) CD1 Jean-Philippe Rameau:
1. Gavotte
2. Le Rappel des Oiseaux
3. Les Sauvages
4. Les Niais de Sologne
Johann Sebastian Bach:
5-12. French Suite No. 6 in E, BWV 817
Domenico Scarlatti:
13. Sonata in E, K. 380
14. Sonata in A, K. 533
15. Sonata in D, K. 23
16. Sonata in G, K. 14
17. Sonata in B Minor, K. 27
18. Sonata in D, K. 430
Ludwig van Beethoven:
19-22. Sonata in A, Op. 2 No. 2
CD2 Claude Debussy:
En blanc et noir (For 2 Pianos, with Gaby Casadesus)
1. Avec Emportement
2. Lent. Sombre
3. Scherzando
Gabriel Fauré:
4-9. Dolly Suite, Op. 56
10. Prélude in D-flat, Op. 103 No. 1
11. Prélude in G Minor, Op. 103 No. 3
12. Prélude in D Minor, Op. 103 No. 5
13. Nocturne No. 7 in C-sharp Minor, Op. 74
14. Barcarolle No. 5 in F-sharp Minor, Op. 66
15. Impromptu No. 5 in F-sharp Minor, Op. 102
Maurice Ravel:
16. Piano Concerto in D “For the left hand”
The Philadelphia Orchestra, Conductor: Eugene Ormandy