UM BAITA CD !!!
CD lindamente cedido para a extração do áudio pelo musicólogo Prof. Dr. Paulo Castagna. De valor inestimável!
Ah, que saudade de postar alguma coisa de Antonio Carlos Gomes, o compositor brasuca que mereceria um lugar muito mais destacado no cenário mundial, como disse em comentário um de nossos amigos que aqui acessam: “the most neglected composer of opera”. O cara era muito bom!
Aqui teremos uma seleção de alta categoria de árias de Carlos Gomes, executadas por uma grande orquestra, a Sinfônica da Escola de Música da UFRJ, cantadas por grandes solistas e regida por um competentíssimo maestro: Ernani Aguiar: assim como Alberto Nepomuceno executou Nunes Garcia, José Siqueira se debruçou sobre Lobo de Mesquita, o compositor Ernani Aguiar (um dos eruditos brasileiros mais executados no mundo atualmente) dedica-se a gravar Carlos Gomes: um compositor enaltece outro e vai-se criando uma linha que liga todos eles.
Nosso colega CVL já havia postado este CD, mas o link estava expirado há tempos e acabamos sobrepondo as postagens. REuní ambas aqui e, por isso, reproduzo as palavras do CVL, muito mais entendido de música que eu:
Um equívoco de maestros e musicólogos que já se tornou lugar-comum é que Carlos Gomes foi um compositor brasileiro de música italiana, e daí eles cobrarem que o compositor campineiro deveria ter sido uma coisa que ele não foi nem pensou ser: um Nepomuceno, um Mignone, um Nazareth ou um Villa, i. é, comprometido ou preocupado com a formação da identidade da música brasileira. Talvez isso viesse com o tempo (e sabe-se lá de que forma) – por sorte, outros musicólogos (que honestamente não sei citar) tomaram a defesa do nosso maior operista.
O que Carlos Gomes foi, foi o compositor com o segundo maior número de récitas na Itália no período em Verdi era imbatível (cerca de 15 anos depois da morte de Donizetti, até o sucesso de Puccini) e Ponchielli nem sequer lhe fazia rastro; foi o compositor que fez sucesso involuntário com O Guarani por conta do exotismo que atraía os olhos europeus, mas que insistia aos demais ter escrito partituras melhores, como Fosca; foi o compositor das Américas mais representativo em seu tempo; e foi o compositor que emplacou a única ópera composta por um americano encenada com alguma regularidade no Velho Mundo. Pra mim, me basta isso para que a música do autor de Quem sabe? seja eternamente respeitada.
Aqui vai uma seleção de árias e duetos desconhecidos, a título de prelúdio para mais dois posts futuros. Destaque para Era un tramonto d’oro, da ópera-oratório Colombo – pucciniana, decerto, mas muito bela.
Sobre as obras deste álbum, preferi transcrever o encarte:
O fracasso da “Fosca” representou para Carlos Gomes a maior decepção de sua carreira. Após o êxito em sua terra natal, com suas óperas com texto em português, e o triunfo no Scala de Milão com “II Guarany”, não imaginava que um trabalho que apresentava maiores virtudes musicais e no qual apostava no sucesso, fosse tão friamente recebido. A ópera Salvator Rosa foi sua tentativa, coroada de êxito, de novamente cair nas graças da crítica e do público, mesmo que para tal fossem necessárias algumas concessões e escrever aquilo que o público esperava ouvir. Tal atitude, entretanto, não é um demérito da obra e, antes, serviu para torná-la sua ópera mais popular e a que mais vezes foi representada durante o século XIX.
O enredo escolhido facilitou o sucesso. Baseia-se no romance “Masaniello” do escritor francês Eugène Mirécourt (1812-1880) que trata da revolta dos napolitanos contra o domínio espanhol em 1647, fato verídico da história italiana e que, com certeza, despertou os brios patrióticos do público.
Talvez o melhor exemplo dessa preocupação do compositor com o sucesso esteja na canzoneta Mia Picirella, cantada pelo personagem Generaielo logo no início do primeiro ato. Nela encontramos o melodismo esparramado e de efeito seguro, que fazia o público sair cantando ao término do espetáculo. Foi aqui gravada na sua versão de concerto e, como no original, com o soprano fazendo o papel masculino do pajem de Salvator Rosa.
No segundo ato encontra-se um dos momentos de maior dramaticidade da ópera, a ária de baixo Di sposo di padre, cantada pelo Duque D’Arcos, o vilão da história. O musicólogo italiano Marcello Conati diz que “este trecho é justamente famoso pela qualidade do declamado (tão descobertamente verdiano), pela nobreza da melodia, pela articulada diferenciação dos sentimentos expressa através da música, em que o discurso orquestral procede de maneira autônoma no tocante ao canto”.
Maria Tudor foi escrita após o estrondoso sucesso de Salvator Rosa e é uma ópera que não goza de grande prestígio, apesar de alguns trechos realmente inspirados. Foi termi-nada às pressas, pouco tempo antes da estréia, em função da morte de um dos libretistas, Emilio Praga. O outro libretista foi o compositor Artigo Boito, cuja participação, apesar de não vir creditada na partitura, é comprovada através da correspondência de Carlos Gomes com a Casa Ricordi. Para terminar o libreto foram chamados Angelo Zanardini e Ferdinando Fontana. O insucesso da ópera em sua estréia deveu-se ao momento político delicado, quando os jornais italianos começavam uma campanha de defesa dos compositores italianos contra os diversos “estrangeiros”, entre os quais estava Carlos Gomes [insucesso que, diga-se de passagem, foi alimentado pela imprensa: nas récitas seguintes, a aceitação da ópera foi crescente], e também devido a falta de tato do compositor ao escolher um enredo no qual o mocinho da historia é um aventureiro italiano assassinado por uma rainha inglesa, por não ser correspondida em seu amor.
A Romanza de Fabiani (Sol ch’io ti stiori), localizada no início do terceiro ato, é urna das mais belas árias de tenor escritas por Carlos Gomes, com as acentuações apaixonadas do recitativo inicial e as frases largas que conduzem à região aguda da voz, valorizada por uma bem equilibrada orquestração.
Com Lo Schiavo Carlos Gomes volta a abordar um enredo brasileiro, desta vez elaborado por seu amigo Visconde de Taunay. O libreto, produzido por Rodolfo Paravicini, foi outro que grandes transtornos causou ao compositor, a ponto de inviabilizar a estreia da ópera em Bolonha, para onde era destinada. Apesar da temática nacional, em nenhum momento encontramos elementos característicos de música brasileira, nem mesmo durante a “Dança dos Tamoios”, apesar de alguns comentaristas mais otimistas vislum-brarem “certas estranhezas rítmicas” ou mesmo “temas de sabor agreste”. É, antes, música da melhor escola italiana. A musica de “Lo Schiavo” é, sem dúvida, um passo à frente daquela de Maria Tudor. As linhas melódicas são mais elegantes e envolventes, os personagens mais bem caracteri-zados, sendo associados a motivos melódicos próprios, retornando o compositor proce-dimentos já utilizados na Fosca. Ao mesmo tempo a orquestra alinhava o discurso dramático, sendo importante elemento descritivo.
A famosa ária Sogni d’amore é cantada, no quarto ato, por Iberê, o índio escravo que é obrigado a casar-se com Ilara a mando do Conde Rodrigo, que pretende afastá-la de seu filho Américo, que por ela é apaixonado. Iberê lamenta o seu amor não correspondido e mostra-se disposto a sacrificar-se para que Ilara e Américo possam, finalmente, ficar juntos.
A ópera Condor foi encomendada pelo Scala de Milão para a temporada de 1891. De todas é a que menos é representada, amargando um imerecido ostracismo. Nela já se percebem “novos comportamentos da linha melódica”. O belíssimo Noturno que abre o terceiro ato merece figurar ao lado de outros tantos recursos sinfônicos de óperas italianas que alçaram voo isoladamente. Como os Intermezzos da “Manon Lesecaut ” de Puccini e da “Cavaleria Rusticana” de Mascagni. Nele destaca-se, a bem dosada orquestração, onde sobressai o Solo de oboé e a apaixonada melodia a cargo das cordas.
O Poema Vocal-Sinfônico Colombo foi escrito em 1892 para as comemorações ao quarto centenário da descoberta da América. Apesar de ter recebido este título do próprio compositor tem, na verdade, a estrutura de uma ópera. A ária Era um tramonto d’oro é apresentada no primeiro ato quando Colombo narra suas desventuras amorosas dizendo ser este o motivo pelo qual deseja descobrir novas terras. O dueto Non fosti mai si bel é cantado por Isabel e Fernando, Reis de Espanha, a quem Colombo pede ajuda para realizar seu sonho de descobrir um mundo novo. Diante da dúvida de Fernando, Isabel pede para que confie em Colombo, a quem finalmente o Rei decide fornecer marujos e navios para a viagem. No último ato, Isabel canta sua ária Vittoria!Vittorita! momento no qual saúda Colombo após a vitoriosa jornada.
(texto extraído do encarte)
Ouça, ouça! Deleite-se!
Palhinha: o belíssimo Noturno da ópera Condor, que figura entre as melhores obras orquestrais de Carlos Gomes:
http://youtu.be/ZEsq1P9XWj0
Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Cortina Lírica
01. Salvator Rosa – Mia Piccirella
02. Salvator Rosa – Di Sposo Di Padre
03. Maria Tudor – Romanza di Fabiani
04. Lo Schiavo – Sogni d’Amore
05. Condor/Odaléa – Noturno
06. Colombo – Era un Tramonto d’Oro
07. Colombo – Non Fosti mai si Bel
08. Colombo – Vittoria, Vittoria
Carol McDavit, Soprano (faixas 01, 02, 07 e 08)
Fernando Portari, Tenor (faixas 03 e 07)
Inácio de Nonno, Barítono (faixas 04 e 06)
Maurício Luz, Baixo (faixa 02)
José Francisco Gonçalves, Oboé (Faixa 05)
Orquestra Sinfônica da Escola De Música da UFRJ
Ernani Aguiar, regente

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Bisnaga
IM-PER-DÍ-VEL !!!
MAIS UM BAITA DISCÃO!!
Nas aberturas e prelúdios por ele comandadas neste álbum é possível visualizar as mudanças que foram ocorrendo na obra de Carlos Gomes, pois as peças nos são elencadas em ordem cronológica. Gomes começa totalmente verdiano: as aberturas das duas primeiras óperas, A Noite do Castelo e Joanna de Flandres, estreadas no Brasil, lembram algo como Nabucco e Il Trovatore. Já Il Guarany imprime alguns traços nacionalistas, mas ainda se apresenta bastante ligada à escola italiana e à influência da figura onipresente de Verdi no cenário operístico milanês. Na escura Fosca, Carlos Gomes flerta com a ópera alemã: há uma tênue ligação com os wagnerianos, mas ainda era difícil se desvencilhar dos padrões italianos. Seguem-se as elaboradas overtures de Salvator Rosa e Maria Tudor: Nhô Tonico era compositor maduro e essas aberturas são mais densas e mostram um domínio maior dos instrumentos da orquestra. Temos então as obras de Lo Schiavo e Odaléa: dez anos de hiato na produção de óperas (entre Maria Tudor e Lo Schiavo) mostram um Carlos Gomes menos pesado e muito mais elegante, bem diferente do padrão das obras gomianas mais difundidas: ele se aproxima dos padrões da escola francesa e estava melhor do que nunca (é, particularmente, o que entendo como o que de melhor de Carlos Gomes que há)! Infelizmente nos deixou com apenas 60 anos e só nove óperas acabadas… Com mais tempo nos teria legado ainda mais e melhores tesouros…
UM BAITA DISCÃO!!
SEN-SA-CIO-NAL!!!
Mas voltemos, que estou dispersando muito… Bom, hoje temos a versão comandada pelo competentíssimo Ernani Aguiar, que além de importante regente e compositor contemporâneo, é grande pesquisador e incentivador da música erudita brasileira, especialmente a colonial/imperial.
Um baita CD!

Carlos Gomes alterou o nome original da ópera de Condor para Odaléa, tendo em vista possíveis apresentações na França, onde o nome do protagonista criaria um terrível cacófato com “con d’or” (ou cone de ouro, o apelido que se dava à região pubiana feminina, eufemizando aqui o termo)…

Ao mesmo tempo, as preferências, em dez anos, mudavam na Itália: os compositores da geração de Carlos Gomes eram preteridos pelos da Giovane Scuola (os veristas). Autores como Gomes, que estavam na transição entre o Romantismo tradicional e o Verismo encontravam dificuldades para encenar suas óperas. Pese nisso o tempo no qual Gomes não produziu nenhuma peça, o que contribuiu para a perda de visibilidade na cena artística de então.
Hoje é o aniversário de Niza de Castro Tank e, embora as mulheres odeiem que se diga a idade, aviso que 


Já peço desculpas aos ouvintes ávidos das óperas de Antonio Carlos Gomes que estamos postando todas as quintas. Sei que há gente esperando de madrugada para logo obter os arquivos, mas alguns problemas técnicos impediram de colocar no ar esta bela Maria Tudor nas primeiras horas deste 1º de março. Mas a ópera chegou, com algumas horas de atraso e lá se foi metade deste dia… Paciência, agora ela aí está para o deleite de vocês.
Para além disso, Carlos Gomes escolheu uma peça difícil para musicar: o drama de Victor Hugo sobre a rainha inglesa Maria Tudor lhe tomou muito mais tempo do que ele previa. Gomes apostou, acertadamente, no prestígio que o famoso escritor francês detinha na Itália, mas a necessidade de reescrever o libreto já existente do romance impossibilitou que seu parceiro Ghislanzoni o fizesse (por questões de ética, um libretista não sobrescrevia a obra de outro). Parecia que tudo conspirava contra naquele momento: Gomes contratou o poeta Emilio Praga, mas este estava envolvido também em uma separação litigiosa, teve depressão, problemas com álcool e drogas e acabou falecendo antes mesmo de concluir o texto, que teve de ser completado por Angelo Zanardini e Ferdinando Fontana, tornando o libreto entregue a Gomes um tanto “remendado”. a História, ainda assim, era ótima e renderia uma grande ópera:
Se você entrou no P.Q.P.Bach algumas vezes hoje, vai ver que o post foi mudando, foi crescendo. Ele já havia ido ao ar quando pude acrescentar o texto. Coisas que acontecem depois do carnaval, quando colocamos a vida em ordem…
Uma coisa que me dá uma ponta de ânimo é ver que, mesmo havendo poucas execuções e gravações da obra de Nhô Tonico, elas vêm ocorrendo com uma frequência maior de uns 15 anos pra cá, muito por conta das comemorações do centenário de falecimento do compositor, em 1996, que ajudaram a tirar um pouco a poeira que há tempos vinha cobrindo e obscurecendo sua belíssima obra: tivemos aí as gravações búlgaro-brasileiras d’O Guarani, Maria Tudor, Fosca e duas desta Salvator Rosa, ambas italanas, além da restauração das partituras e montagem da nunca gravada Joanna de Flandres (e, pouco antes, a montagem de Neshling com Plácido Domingo para O Guarani). Ainda é pouco, se compararmos com nomes grandes, como Verdi, Wagner ou Puccini, mas há pequenos avanços e ver que as montagens foram feitas no exterior dá-me o conforto de perceber que o nome de Antonio Carlos Gomes tem recebido um pouco mais do merecido reconhecimento que lhe é devido, afinal, em seu tempo era o segundo operista mais executado e assistido na Itália, atrás somente de Verdi, que reinava absoluto no cenário operístico de então.
Depois de conhecer somente sucessos estrondosos com A Noite do Castelo, Joanna de Flandres e Il Guarany, Antônio Carlos Gomes ficou apreensivo com a recepção mediana do público e dura da crítica em Fosca. Já casado e com uma vida de ostentação (morava em um palacete num subúrbio de elite de Milão) que lhe exigia elevados custos para sua manutenção, Gomes se viu necessitado de compor rapidamente uma nova peça para obter renda e manter seu alto padrão de vida. Mais que isso, para “recuperar” sua imagem, que ele via como que manchada ante o público pela recepção não tão boa de Fosca.
Assim, apenas um ano após sua estreia da quarta ópera, Carlos Gomes fazia subir ao palco sua quinta obra do gênero: Salvator Rosa, que traz a história do personagem-título (que existiu realmente: Rosa era pintor, músico, ator e poeta e criou um importante círculo artístico em sua cidade), envolvido numa revolta popular em Nápoles contra os dominadores espanhóis e, cruel coincidência, apaixonado por Isabella, filha do governante hispânico, Duque d’Arcos.
175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes
Mais uma que é IM-PER-DÍ-VEL: a gravação histórica comemorando o centenário da ópera Fosca, com grandes nomes nacionais do canto lírico.
Carlos Gomes estava feliz e se sentia seguro para escrever uma peça já com um enredo italiano. Seu contato com o libretista de renome Antonio Ghislanzoni (que escrevia para nada menos que Verdi) lhe rendeu uma história que ainda tinha uma ponta de exotismo: tendo como pano de fundo um ataque de corsários a Veneza, mostra o dilema da protagonista, Fosca (uau! uma mulher pirata) que, ao perceber que seu amor pelo capitão veneziano Paolo, seu refém na Ístria, não é correspondido, comete suicídio, envenenando-se (ih, contei o final!).



A Noite do Castelo foi composta quando Carlos Gomes ainda era aluno do Conservatório da Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Como já mostrava talento, a pequena Campinas não conseguiu segurá-lo e o rapaz já alçava voos mais altos, já estava na capital do país. Pelo que historiadores afirmam, Tonico era um aluno brilhante e se destacava dos demais.
