Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (3) Il Guarany (1994-Neshling/Domingo) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Il Guarany é a ópera mais conhecida de Antonio Carlos Gomes e também a mais executada e mais gravada, embora não seja a melhor delas. Isso não significa de forma alguma que ela seja ruim, muito pelo contrário: o sucesso estrondoso que teve na Itália e no Brasil refletem que ali havia um compositor que conseguia trazer algo de novo à fórmula já batida da ópera italiana e que veio dar ares renovados e mais fôlego ao formato.
Interessante é perceber que Carlos Gomes chega à Itália sem os preconceitos musicais que tinham os compositores daquela terra: a insinuação de uma forma de leitmotiv, utilizando-se da abertura para indicar trechos de árias que aparecerão posteriormente para criar uma unidade, é uma característica comum às óperas alemãs, coisa à qual os milaneses tinham uma certa aversão (e que deu certo nesse caso: foi muito bem recebida). O mesmo ocorria com alguns instrumentos de sopro que Gomes inseria na orquestração, também de matriz alemã. Mas o que esperar de um compositor criado dentro da banda marcial do pai em Campinas, cidade já influenciada pela cultura alemã (à época um dos maiores centros atratores de imigrantes teutos para o Brasil, que iam trabalhar nas fazendas de café)?
Em sua ópera seguinte, Fosca, Gomes abusou de inovações, aproximando-se mais da escola alemã. Acabou desagradando público e crítica, mas isso vocês verão na postagem de daqui a sete dias…
Mantenho aqui o belo texto do CVL que postou originalmente essa peça com observações muito sensatas, embora bastante pessoais:

Tenho pouquíssima afinidade por óperas (parece todos os meus manos de consideração também, pois atinei que poucas são disponibilizadas aqui – geralmente, barrocas ou wagnerianas), mas já estava na hora de postar uma nacional. E nada melhor do que começar com o carro-chefe de todas elas. Só que não sei o que dizer: não me vem a menor inspiração para fazer um texto legal, para instigar vocês a baixar O guarani. Também não quero escrever o que vocês vão achar escrito em qualquer outro lugar.
Posso dizer somente que, tirando a Protofonia (muito lenta para o que estamos acostumados), a gravação é “prestável”. O álbum foi muito vendido e é tido como referência (por Sylvio Lago em Arte da regência, p. ex.), embora eu não o ache para tanto. Bom será para os mais iniciantes identificar como os temas da referida Protofonia/Sinfonia, escrita meses depois da estréia, aparecem ao longo do drama – em especial o tema principal, que funciona como um leitmotiv [a tal característica alemã].

Confesso que gosto mais da primeira versão, a antigona, regida por Armando Belardi. Aqui algumas peças estão mais lentas e a soprano que interpreta Ceci, Veronica Villaroel, é muito competente, mas fiquei mal acostumado com a leveza inumana da voz de Niza de Castro Tank e, talvez por isso, não me deslumbre tanto com a solista chilena… Mas há a precisão da batuta de John Neshling, com o som límpido que lhe é característico, e a voz marcante de um dos grandes tenores do século, Plácido Domingo, que valem demais a audição.

Por fim: muito bom! Não deixe de ouvir!
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Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Il Guarany (1870)
Libreto: Antônio Scalvini
Baseado no romance homônimo de José de Alencar

Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Scorre il Cacciator
Ato I – 03 L’idalgo vien + Gentile di cuore’
Ato I – 04 Cecilia, esulta, Reso ai nostro lari + Salve, possente Vergine
Ato I – 05 Che brami + Sento una forza indômita
Ato II – 06 Son giunto in tempo + Vanto io pur superba cuna
Ato II – 07 Ecco la grotta del convegno + Serpe vil
Ato II – 08 Udiste + L’oro è un ente sì Giocondo
Ato II – 09 Ebben, miei fidi + Senza tetto, senza cuna
Ato II – 10 Oh, come è bello in ciel!+ C’era una volta un príncipe
Ato II – 11 Tutto è silenzio + Donna, tu forse l’única
Ato II – 12 Miei fedeli + Vedi quel volto lívido
Ato III – 13 Aspra, crudel, terribil
Ato III – 14 Canto di guerra + Giovinetta, nello sguardo
Ato III – 15 Qual rumore + Or bene, insano
Ato III – 16 Tu, gentil regina + Il passo estremo omai s’appresta
Ato III – 17 Ebben, che fu + Perché di meste lagrime
Ato III – 18 Morte! + O Dio degli Aimorè
Ato III – 19 Che fia + Sorpresi siamo
Ato IV – 20 Né torna ancora + In quest’ora suprema
Ato IV – 21 No, traditori + Gran Dio, che tutto vedi
Ato IV – 22 Padre! + Con te giurai di vivere

Pery – Placido Domingo, tenor
Cecilia – Veronica Villaroel, soprano
Gonzalez – Carlos Alvarez, barítono
Don Antonio de Mariz – Hao Jiang Tian, baixo
Don Alvaro – Marcus Haddock, tenor
Cacique – Boris Martinovic, baixo
Ruy Bento – Graham Sanders, barítono
Alonso – John-Paul Bogart, tenor
Pedro – Pieris Zarmas, baixo

Chor und Extrachor der Oper der Stadt Bonn,
Orchester der Beethovenhalle Bonn
John Neschling, regente
Bonn, 1994

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (168Mb – 2CD, cartaz, info e resumo da ópera)

Ouça! Deleite-se!

 

CVL
revalidado/recauchutado por Bisnaga

31 comments / Add your comment below

  1. Talvez o problema com as óperas seja a língua (até o Guarani tem libreto em italiano), o que dificulta acompanhar a ação dramática , e também a inconveniêcia de apenas ouvir uma arte que além de ouvida precisa ser vista , já que é também teatro. Se alegada a possibilidade de se assistir através do vídeo , é justo lembrar que assim como teatro, talvez a ópera só funcione bem ao vivo. Creio que o interesse nas óperas barrocas e wagnerinas se deva a que possam ser apreciadas como música absoluta , ao menos em alguns trechos , independentemente do drama.

  2. Existe um dito popular “que espera, alcança” e eu respondo: o quê???????.Algum tempo não me recordo bem, deixei uma sugestão de postarem essa o´pera como forma de sair um pouco de Villa Lobos, não que menospreso, mas comercialidade em cima da depressão. A resposta veio de imediato “sem chances…” dizia o imail. Amante de Antonio Carlos Gomes que sou, fui a caça pelas infileiradas tentativas de obter o arquivo, já que meu bolachão deu o que tinha de da, achei, degustei com uma boa taça de Sauvignon branco. Trata-se de uma gravação da Orquestra e Coro do Teatro Municipal de São Paulo, sobre a regencia de Armando Belardi de 1959.Agora me deparo com “sem chances…” aqui. Fico grato assim mesmo por saber que cedo ou tarde, nossos musicos tomam forma e conhecimento pelos amantes da boa musica classica. De coração e sem maldade, obrigado.é por isso que aprecio esse blog e não deixo de visita-lo todos os dias. CONTINUI ASSIM.

  3. Concordo e estou contigo nesta afirmação. Creio que estava movido por um interresse esarcebado, ja que na minha humilde opinião, vejo Carlos Gomes mais influente-musicalmente falando – que Villaa Lobo. Desculpe a comoção e continuo pestigiando seu trabalho que ao meu ver é excelente comparado a outros. Grato mais uma vez e se possivel, poste operas, bastante operas e operetas, bem como a linha que rege o blog.
    Abraço e fica na paz.

  4. parabens pelo blog.
    Tô procurando essa obra completa faz um tempinho, quando vi aqui, achei que era piada, mal posso esperar pra baixar e degustar toda a obra.
    Até agora só conheço a parte que é tocada na “voz do Brasil”.
    ^
    Tô especialmente procurando O Guarani a mando duma professora que quer porque quer mostrar esse tema aos nossos estudantes (aula de Literatura Brasileira).
    ^
    Na arte bem feita, não há comparações. Claro, eu ouço falar mais em Villa Lobos do que em Carlos Gomes, acho meio injusto, porem, são representantes dígnos da nossa cultura.
    Tô procurando tambem as bachianas brasileiras…
    🙂
    mais uma vez: parabens pelo blog

  5. Não concordo com a opnião de que o problema daópera é a linguagem. Se fosse assim os musicais e diversas canções seriam problemáticas

    1. Concordo com vocês e posso dizer com toda certeza que a melhor gravação que tive oportunidade de ouvir da Protofonia, foi a com o Benito Juarez e a Sinfônica de Campinas, mas só existe em vinil.

  6. Bom dia,
    O rapidshare diz que o arquivo foi removido; tem como revalidá-lo, por favor? busco há muito esta obra…
    Muito obrigado,
    Fernando

    1. Você está certo, Avicenna. Não sei atualmente, com esse novo acordo ortográfico, mas até então a gramática prescrevia a inicial maiúscula em todas as palavras nos títulos de livros, exceto preposições – ainda que, no uso convencional, nome de habitante (indicando coletividade ou não) seja com minúscula. Apenas segui uma convenção de redação e estilo de alguns jornais onde o uso de itálico faz com que se precise escrever apenas a inicial em caixa alta. O negócio é que não há como se botar itálico no título do post, o que fiz no corpo do texto.

      Um PS.: “Guarani” não tem acento, pois é oxítona terminada em i.

      1. Questão de estilo.

        Os Anglófonos Gostam De Capitalizar Todas As Palavras De Títulos, Inclusive Verbos E Preposições (Até “E”!).

        Os francófonos não capitalizam nada: seus títulos são idênticos a frases, nos quais só vão com maiúsculas nomes próprios.

        Vou com os franceses. Acho títulos assim uma delícia: escrevo normalmente, boto aspas em volta e corro pro abraço.

        Como “guarani” é um gentílico (portanto nome comum em português), escrevo sempre “O guarani”. Pra mim, o Guarani é aquele time de Campinas – que, aliás, deve voltar logo à segunda divisão. 🙂

  7. Boa tarde.
    Eu, assim como o colega Fabio, estava a procura desta gravação tão elogiada e bem avaliada, mas não encontro em lugar algum links ativos. Se algum dia você puder revalida-los ou postar novamente aqui no blog, ficarei imensamente agradecido.

    Abraços.

  8. Um texto legal para essa postagem seria fazer uma introdução ao romantismo indianista brasileiro, citando José de Alencar e sua tríade indianista (O Guarani, Iracema, Ubirajara), dar algumas informações sobre o autor e sobre como a obra foi recebida no país e no exterior.

  9. MISERICÓRDIA, P.Q.Bach e todos os amigos, revitalize o linko de O GUARANI! É um orgulho para a música brasileira… Preciso ouvir a ópera imediatamente. Em breve vou ler O Guarani, e isso não pode ser feito sem a música. O tempo urge. Atenda à súplica de um brasileiro que ama a música. Obrigado desde já…

  10. Olá, pessoal…
    Também andava atrás de ‘O Guarani’…
    E, por sorte, encontrei. Então, passo para vocês:

    http://www.megaupload.com/?d=VGBLI8DA
    http://www.megaupload.com/?d=6W91HXPP
    http://www.megaupload.com/?d=XPE7RQNO
    http://www.megaupload.com/?d=4UCKD6XR

    Em cada local está o Ato correspondente, de I a IV!
    Pude, assim, baixar a Obra completa, através da Orquestra e Coro do Teatro Municipal de São Paulo.

    Abraços a todos, e
    Grato por tudo!

    Francisco.

  11. Obrigado Francisco!

    Apesar da gravação não ser nada boa…equalização, captação, etc… É um dos poucos registros que temos! Apesar das críticas ruins sobre o Guarani, uma delas em 1996, no WP, Tim Page: “imaginem Bellini sem harmonia, Rossini sem imaginação e um jovem Verdi sem dinamismo”.. ufanismos à parte, é uma ópera muito agradável, carrega uma abertura memorável e tem passagens muito bonitas, principalmente nos coros…
    Obrigado e aquela luz!

  12. ESTA OPERA

    não pode nem deve ser alvo de comentário apressado ou nascido sob o jugo de insonias ou ao toque de bebidas
    alcoólica de toda e qualquer origem e gosto humano…
    Trata-se
    de HINO BRASILEIRO.
    Não ouvido por brasileiros que enlutam as cores da bandeira brasileira.
    Tirando DELA,as vivas cores do VERDE,AMARELO, AZUL e BRANCO
    Diz isto
    JoãoRibeiroPadilha
    78 de idade
    Brasileiro Nato
    SP 2312.11 sexta feira 17h14

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