Antônio Carlos Gomes (1836-1896): Il Guarany

Antônio Carlos Gomes (1836-1896): Il Guarany

Il Guarani 01‘Il Guarani” não é apenas a mais conhecida e apreciada ópera brasileira, mas também uma das poucas óperas latino-americana que de quando em vez é representada nos teatros europeus. Antônio Carlos Gomes nasceu a 11 de julho de 1836, em Campinas, então Vila de São Carlos, no Estado de São Paulo. Morreu a 16 de setembro de 1896 em Belém do Pará. Em 1864, com uma bolsa de estudos oferecida pelo Imperador Dom Pedro II, segue para Milão, Itália, onde vai estudar com o maestro Lauro Rossi. Sua obra-prima, “Il Guarani”, foi a primeira produção na Itália. Com libreto de Antonio Scalvini, vem diretamente do famoso romance homónimo de José de Alencar (1829 – 1877). A estreia de “Il Guarany” ocorreu a 19 de março de 1870 no Teatro Scala de Milão, e foi um triunfo. O compositor recebeu a Ordem da Coroa do Rei Vítor Manuel, e a Casa Lucca comprou a partitura, no mesmo dia da estreia, por três mil liras (um dinheirão na época). A estreia nacional da Ópera ocorreu no Teatro Lírico Provisório do Rio de Janeiro a 2 de dezembro de 1870, no dia do 45.° aniversário do Imperador Dom Pedro II, que prestigiou o acontecimento, e concedeu, após o triunfo, a Ordem da Rosa a Carlos Gomes.

Na classificação do autor, “O Guarani” se intitula ópera-baile. O libreto de Antonio Scalvini possui a seguinte advertência inicial: “Este drama foi baseado no estupendo romance de mesmo título do célebre escritor brasileiro José de Alencar. Os nomes guaranis e aimorés são os de duas das tantas tribos indígenas que ocupavam as várias partes do território brasileiro antes que os portugueses introduzissem ali a civilização europeia. Segundo o autor do romance, Peri era o chefe dos guaranis. Esta tribo tinha índole mais dócil do que as outras, ao contrário dos Aimorés, que sempre foram os mais implacáveis inimigos dos brancos. Dom Antônio de Mariz, personagem histórico e não fictício, foi um dos primeiros que governaram o lugar em nome do Rei de Portugal, e que tombou vítima dos conflitos com os nativos”.

Nas duas estreias (europeia e brasileira), a ópera ainda não tinha sua famosa “Protofonia”, só escrita em 1871, e que era substituída por um simples Prelúdio. A belíssima página aproveita temas folclóricos, como “Eu fui no Tororó”, repetido, depois, na ópera, de maneira e tratamento magistrais. Na “Protofonia” há a síntese dos principais motivos.

Nesta gravação reedição (compilada de quatro noites de performance ao vivo em 1994), o dueto “Sento una forza indomita” surge de forma atraente nas mãos de Placido Domingo (1941) e Veronica Villaroel e termina em aplausos explosivos e arrebatadores do público. Mas o verdadeiro prazer da platéia vai para a heroína – C’era una volta un principe; Gentile di cuore. A gravação é boa para uma apresentação ao vivo – e tosses e solavancos foram poucos ou principalmente editados. Todos os cantores parecem fazer bem os papéis, nada de extraordinário e Villaroel é a estrela do show e não Plácido Domingo. Il Guarany é o trabalho mais importante de Carlos Gomes e é bom vê-lo gravado por um elenco de primeira linha em um selo internacional.

Nesta gravação da Sony, o barítono Carlos Alvarez (como Gonzales) dá um excelente desempenho no segundo ato com “Senza tetto, sensa cuna” (Sem abrigo, sem refúgio) (ver Faixa 9 a partir de 1:22 minutos). Além disso, eu gostei do primeiro ato dueto Pery / Cecilia (Plácido Domingo / Verónica Villaroel) que é dramático, bem como encantador: “Sento una forza indomita” (Eu sinto uma força irresistível) (ver Faixa 5 a partir de 1:58 minutos). A soprano Verónica Villaroel é muito boa em: “Gentile di cuore” ( Tender-hearted) (ver Faixa 3 a partir de 6:39 minutos), e “C’era una volta un principe” (Houve uma vez um príncipe) (ver Faixa 10 a partir de 3:50 minutos). A qualidade dramática e voz poderosa de Plácido Domingo é evidente no segundo ato na ária de Pery: “Vanto oi pur superba cuna” (eu sou de alto nascimento).

Enquanto a história, essa se passa no Brasil do século XVI (sobre o amor da nobre Cecília portuguesa e do nobre nativo Pery) no litoral do Rio de Janeiro, onde os índios aimorés e guaranis estão em guerra. Cecília, filha de Dom Antônio de Mariz, velho fidalgo português e chefe dos caçadores de uma colônia lusitana, está comprometida a casar-se com Dom Álvaro, um aventureiro português, que por sua vez, está prometido a uma índia aimoré. Mas Cecília apaixona-se pelo índio Peri, líder da tribo guarani, que por corresponder ao amor da menina, resolve apoiar os caçadores em sua luta contra os aimorés. Gonzales, outro aventureiro português, hóspede de Dom Antônio, planeja trair os companheiros, sequestrando Cecília, mas Peri descobre o plano e impede a tentativa. Pouco depois, Peri é aprisionado pelos guerreiros.

Ciente do amor entre Peri e Cecília, o cacique resolve sacrificá-los. Com a repentina chegado do velho Dom Antônio e seus companheiros, tudo se acalma, mas uma nova traição de Gonzales faz com que Dom Antônio e Cecília sejam encarcerados em seu próprio castelo. Peri vai em busca da amada, pois sabe que D. Antônio pretende matar-se e levá-la consigo. Peri implora para salvar Cecília e o pai dela, emocionado com o amor entre os dois, batiza Peri, tornando-o cristão. Cecília e Peri fogem e, ao longe, vêem a explosão do castelo com D. Antônio, que sacrificou a vida para salvar a da filha, ao lado dos inimigos.

Sob o ponto de vista romântico, portanto, “O Guarani” narra uma história de amor, os dois quase adolescentes – Cecília tem 16 anos e Peri, 18 -, é a descoberta do amor de forma pura, que começa com a amizade e se desenvolve de forma arrebatadora, transpondo as diferenças étnicas e culturais do casal. A ópera evidencia a vida difícil dos primeiros colonizadores portugueses em terras brasileiras e relata, através da personagem Cecília, o vertiginoso processo de amadurecimento que os jovens estrangeiros eram obrigados a enfrentar. Cecília, que no primeiro ato mostra-se uma adolescente frágil, amadurece durante o espetáculo. Convivendo com perdas, medos, insegurança, transforma-se numa mulher forte, capaz de tomar decisões difíceis e disposta a enfrentar qualquer dificuldade. Seu desenvolvimento é proposto claramente pelo compositor também no amadurecimento musical das peças cantadas pela personagem.

Há pouco no material musical que sugere a nacionalidade do compositor. O estilo é mais ou menos italiano e a obra soa em grande medida como Verdi no período intermediário. Ainda assim, embora não seja uma obra-prima, ela contém alguns números agitados e melodias poderosas (contendo, em particular, uma série de duetos memoráveis), e é bem construída e espetacularmente marcada. Em suma, não há como duvidar do nível de inspiração de Carlos Gomes, e no geral é uma ópera muito satisfatória que pode ser recomendada aos amantes de Verdi até com algum entusiasmo. Aliás tem uma lenda que conta que o grande Verdi já glorioso e consagrado, teria dito de Carlos Gomes: “Questo giovane comincia dove finisco io!” (“Este jovem começa de onde eu termino!”). Mostra o quanto acreditava no seu potencial como compositor.

O Regente John Neschling nasceu no Rio de Janeiro, em 1947. Sobrinho-neto do compositor Arnold Schoenberg e do maestro Arthur Bodanzky, muito cedo começou a estudar piano e seguiu a vocação para regência com Hans Swarowsky, em Viena, e com Leonard Bernstein, em Tanglewood. Na minha modesta opinião um grande maestro (apesar da política sempre estragar tudo, mas isso não vem ao caso agora).
Escrever sobre o Sr. José Plácido Domingo Embil é fácil, ele é o tenor que mais representou papéis na história, são mais de 135 personagens operísticos, o cara é fodástico. Imagina decorar 135 óperas em italiano, alemão, inglês, francês, espanhol…. etc. Participou com protagonista em filmes como do diretor Franco Zefirelli (Otello, Cavalleria Rusticana e Pagliacci). Carismático, um artista verdadeiro.

O libreto em “pdf” e a história “passo a passo” com fotos do encarte original da Sony está junto no arquivo de dawnload com as faixas, extraído do livro “As mais Famosas Óperas”, Milton Cross (Mestre de Cerimônias do Metropolitan Opera). Editora Tecnoprint Ltda., 1983.

Pessoal, abrem-se as cortinas e deliciem-se com a bonita música de Carlos Gomes !

Disc: 1
1. Il Guarany: Sinfonia
2. Il Guarany: Act One: Scorre Il Cacciator (Coro, Gonazles, Alvaro, Ruy, Alonso)
3. Il Guarany: Act One: L’iadalalgo Vien -‘Gentile di cuore’ (Ruy, Alonso, Coro, Alvaro ,Gonzales, Antonio, Pery,Cecilia)
4. Il Guarany: Act One: ‘Cecilia, esulta. Reso ai nostri lari’ – ‘Salve, possente Vergine’ (Antonio, Cecilia, Alvaro, Gonzales, Ruy, Alonso, Coro, Pery)
5. Il Guarany: Scena E Duetta ‘Perry!’ – ‘Che brami?’ – ‘Sneto una forza indomita’ (Cecilia, Pery)
6. Il Guarany: Act Two: ‘Son Giunto In Tempo!’ – ‘Vanto Io Pur Superba Cuna’ – (Pery)
7. Il Guarany: Act Two: ‘Ecco la grotta del convegno’ – ‘Serpe vil’ (Gonzales, Alfonso, Ruy, Pery)
8. Il Guarany: Act Two: ‘Udiste?’ – ‘L’oro e un ente si giocondo’ (Alonso, Ruy, Coro)
9. Il Guarany: Act Two: ‘Ebben, miei fidi’ – ‘Senza tetto, senza cuna’ (Gonzales, Ruy, Alonso, Coro)
10. Il Guarany: Act Two: ‘Oh, come e bello il ciel!’ – ‘C’era una volta un principe’ (Cecilia)

Disc: 2
1. Il Guarny: Act Two: ‘Tutto e silenzio’ – ‘Donna, tu foresel’unica’ (Gonzales, Cecilia, Coro, Alvaro)
2. Il Guarny: Act Two: ‘Miei fedeli’ – ‘Vedi quel volto livido’ (Gonzales, Alvaro, Antonio, Pery, Cecilia, Coro, Ruy, Alonso, Pedro)
3. Il Guarny: Act Three: ‘Aspra, crudel, terribil’ (Coro)
4. Il Guarny: Act Three: ‘Canto di guerra’ – ‘Giovinetta, nello sguardo’ (Cacico, Coro, Cecilia)
5. Il Guarny: Act Three: ‘Qual rumore’ – ‘Or bene, insano’ (Cacico, Coro, Cecilia, Pery)
6. Il Guarny: Act Three: ‘Tu, gentil regina’ – ‘Il passo estremo omai s’appresta’ (Cacico, Coro)
7. Il Guarny: Act Three: ‘Ebben, che fu’ – ‘Perche di meste largrime’ (Cecilia, Pery)
8. Il Guarny: Act Three: ‘Morte!’ – ‘O Dio deglil Aimore’ (Cacico, Coro)
9. Il Guarny: Act Three: ‘Che fia?’ – ‘Sorpresi siamo’ (Cacico, Coro, Cecilia, Antonio)
10. Il Guarny: Act Four: ‘Ne torna ancora?’ – ‘In quest’ora suprema’ (Coro, Alonso, Ruy, Gonzales)
11. Il Guarny: Act Four: ‘No, traditori’ – ‘Gran Dio, che tutto vedi’ (Antonio, Pery)
12. Il Guarny: Act Four: ‘ Padre!’ – ‘Con te giurai di vivere’

– Don Antonio de Mariz, velho fidalgo português, baixo – Hao Jiang Tian
– Cecília (Ceci), sua filha, soprano – Verónica Villarroel
– Pery, cacique dos guaranis, tenor – Plácido Domingo
– Dom Alvaro, aventureiro português, tenor – Marcus Haddock
– Gonzales, aventureiro espanhol, barítono – Carlos Álvares
– Ruy Bento, aventureiro espanhol, tenor – Graham Sanders
– Alonso, aventureiro espanhol, baixo – John-Paul Bogart
– O Cacique dos Aimorés, baixo ou barítono – Boris Martinovic
– Pedro, homem de armas de Don Antonio, tenor – Pieris Zarmas
– Aventureiros de diversas nacionalidades, homens e mulheres da colónia portuguesa, selvagens Aimorés

Chor und Extrachor der Oper der Stadt Bonn
Orchester der Beethovenhalle Bonn
Conductor :John Neschling

Gravado ao vivo entre os dias 5 e 14 de junho de 1994 na “Oper der Stadt Bonn” Alemanha

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 -Todos falavam de sua vasta cabeleira, apelidaram-no de “testa di leone” (cabeça de leão) !
-Todos falavam de sua vasta cabeleira, apelidaram-no de “testa di leone” (cabeça de leão) !

AMMIRATORE

Antonio Carlos Gomes (1836-1896) – Sonata em Ré (movimentos I e IV – transcrições para camerata de violões) [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!

 

MEUS QUERIDOS, ISSO É APENAS PARA ATIÇAR VOSSAS VONTADES: SEMANA QUE VEM, QUANDO O P.Q.P.BACH COMPLENTARÁ 6 ANINHOS DE EXISTÊNCIA, POSTAREI ESTA MESMA SONATA, NO ORIGINAL, COM O ESTUPENDO QUARTETO BESSLER-REIS

No momento, fiquem com essa genial transcrição da peça para violões:

Vi as transcrições para piano de obras do Vivaldi postadas recentemente pelo PQP e não me contive (será que estou com inveja? Preciso consultar meu analista…): achei que seria muito importante disponibilizar essas duas modestas transcrições para violão (modestas pela quantidade, de forma alguma pela qualidade), com o 1º e o 4º movimentos da Sonata em Ré, na qual encontramos o conhecido Burrico de Pau.
A Sonata em Ré foi composta por Carlos Gomes em 1894, dois anos antes de sua morte. Já era ele um compositor maduro e, em seus últimos trabalhos, percebe-se uma elaboração maior com as cordas e um destaque maior para elas (pela formação de banda de Gomes, os sopros sempre tiveram um papel mais destacado do que em outros compositores de mesmo gênero e período). É uma peça dificílima, com arpejos, pizzicatos, espicatos, saltos muito destacados da primeira para a quarta corda, enfim, de técnica apuradíssima, que só intérpretes muito bons conseguem dar conta de executá-la fielmente.
E imaginar que o Burrico de Pau foi composto quando Carlos Gomes viu a sobrinha brincando com um daqueles cavalinhos com cabo de vassoura…
Nessas duas transcrições, muito bem executadas, a Camerata Octopus faz parecer que a peça foi feita para violão, e não para orquestra de cordas, tal são a beleza e agilidade das músicas e a precisão dos intérpretes.
Ouça, que estas levam o selo de IM-PER-DÍ-VEIS !

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836 – Belém, 1896)
Sonata em Ré: Transcrições para Violão

01. Sonata em Ré – I. Allegro moderato
02. Sonata em Ré – IV. Vivace: O Burrico de Pau

Camerata de Violões Octopus (Conservatório de Tatuí, SP), 2004.
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (8Mb)

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Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (9) Colombo (1997-Aguiar) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

SEN-SA-CIO-NAL!!!
Já sabes que não era possível deixar passar este centenário colombiano sem dar sinal de vida. O tal ‘nhô-Colombo’ andou em 1492 agarrando macacos pelo mato e metendo medo na gente. Eu, porém, que sou meio ‘home’, meio ‘macaco velho’, acabo de me vingar dele, pois agarrei no tal ‘nhô-Colombo” e botei-o em música desde o Dó mais grave até a nota mais aguda da rua da amargura. Estou vingado, arre diabo!” Assim Antonio Carlos Gomes falava empolgado de sua obra Colombo em carta a um de seus amigos…
E com este Colombo, chegamos ao fim das postagens da integral das óperas de Antonio Carlos Gomes, que atinge neste dia a respeitável marca de 27 posts neste blog irrefragavelmente completo, igualando-se, em número, ao poderoso Dvořák, dentre os estrangeiros, e chegando ao posto de terceiro brasileiro mais postado aqui (atrás somente de Nunes Garcia e de Lobo de Mesquita – e este último que se cuide: futuras postagens gomianas poderão roubar-lhe o confortável posto). Sem competição, Avicenna, só me empolguei.
Creio que posso afirmar sem problemas que somos o único blog que disponibiliza todas as óperas gravadas do compositor campineiro. Foram 14 postagens em mais de três meses. Isso porque ele terminou apenas nove óperas que em vida: Carlos Gomes deixou 22 projetos inacabados, desde óperas inconclusas a libretos nunca musicados. Como prometi falar sobre eles, saio um pouco do assunto de Colombo e uso o texto de Marcos Góes que os elenca:
1. América, de autor desconhecido, ambientado em Puebla, no México, em 1822. Há suposições não comprovadas de que ele se baseie num argumento esboçado por Salvador de Mendonça. América é o nome de uma das personagens, e não do continente. Sem música.
2. Celeste, de Ghislazoni, que não chegou a ser musicado.
3. Cromwell, de autor desconhecido, ídem.
4. Emma di Catania (1874?), atribuído a Ghislanzoni, ídem.
5. Ezzelino da Romano (1889), de Gino Gerosa, passado no século XIII em Verona e Pádua. Sem música.
6. Kaila, de autor desconhecido, de que há referência numa carta de 1º de dezembro de 1894 a seu amigo o escritor Alfonso Mandelli; mas não se encontrou música alguma para ela.
7. La Canzone di Miro, de autor desconhecido, sem data, passado na Giudecca veneziana e com trechos em dialeto vêneto; sem música.
8. Le Maschere, de Ghislanzoni, que ficou longos anos nas mãos do compositor até que, em 1877, o libretista se irritou e pediu-o de volta; sem música.
9.Leona, de autor desconhecido, talvez de Ghislanzoni.
10. Marinella (1872), de Ghislanzoni; sem música.
11. Os Mosqueteiros (1871), de D’Ormeville, apresentado a Carlos Gomes logo após a estréia do Guarani. No Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro há manuscritos para canto e piano, de difícil leitura, de partes do ato I e fragmentos do II.
12. Moema, de Alfredo D’Escragnolle Taunay.
13. Morena, (1887) de autor desconhecido, com manuscritos guardados no MHN do Rio. Na Sevilha de 1560, o estudante Don Ramiro, filho de um dos Grandes de Espanha, Don Pedro de Granada, apaixona-se pela cigana andaluza Morena. Essa era a ópera prometida ao empresário Mario Musella, que não perdoava a Carlos Gomes o não cumprimento do contrato. Em 1998, quando houve a recuperação de Joana de Flandres, anunciou-se também que o musicólogo mineiro Luís Gonzaga de Aguiar estava trabalhando na restauração de Morena. Esse material poderá revelar muito sobre os processos criadores do compositor quando for pesquisado e editado.
14. Ninon de Lenclos, de autor desconhecido, de que não há nem libreto nem música. Atribui-se o texto ora a Paravicini, ora a Ghislanzoni ou D’Ormeville. Em suas reminiscências do compositor, de quem foi amigo, o violista Vincenzo Cernicchiaro afirma que ela foi iniciada em 1876. E Nello Vetro diz que há referência a ela numa carta de julho de 1879 à Ricordi, depois da Maria Tudor. Provavelmente a história é a mesma da comédia Ninon Lenclos, com texto e música de Antônio e Gaetano Cipollini, encenada no Lírico Internacional de Milão, em 1895.
15. Il Cantico degli Cantici (1894), “esboço em um ato” de Felice Cavalotti. É obra irreverente, pesadamente anticlerical, envolvendo a paixão do seminarista Antônio por Pia, a filha do militar aposentado coronel Soranzo. Nenhuma música foi encontrada.
16. Il Cavaliere Bizzarro (1889), de Domenico Crisafulli, passado na Espanha em 1350; sem música.
17. O Gênio do Oriente (1895), de autor desconhecido, que lhe teria sido encomendado pela família real portuguesa, “para louvar os feitos lusitanos nas descobertas dos novos mundos”; sem música.
18. Oldrada ou Zema (1884?), de Ghislanzoni; sem música.
19. Palma, de Angelo Zanardini, com entrecho oriental passado em Bagdá. Por esse libreto, numa carta de 7 de novembro de 1879 a Giulio Ricordi, o compositor chegou a demonstrar grande entusiasmo, dizendo que, com essa ópera, sonhava “ganhar a palma da vitória”. Mas não se encontrou música escrita para ela.
20. Gli Zingari, de Ghislanzoni, outro libreto que ficou muito tempo em mãos de Antônio Carlos. Em carta de 8 de abril de 1895, Ponchielli lhe perguntava se tinha renunciado a ele e, em caso afirmativo, se poderia cedê-lo.
21. Eros, de Alfonso Mandelli
22. Bianca di Santa Flora, de Ghislanzoni, sobre os quais não há muita informação.

Essa quantidade até assusta, não?! Como eu gostaria que Carlos Gomes fosse mais constante e levasse pelo menos uma parte dessas obras até o fim…
Mas voltemos, que estou dispersando muito… Bom, hoje temos a versão comandada pelo competentíssimo Ernani Aguiar, que além de importante regente e compositor contemporâneo, é grande pesquisador e incentivador da música erudita brasileira, especialmente a colonial/imperial.
Eu não poderia de deixar de postar, na semana passada, a versão de Armando Belardi (aqui), por ser histórica: a primeira gravação de Colombo (e de grande qualidade também), mas ela vinha com alguns indesejáveis cortes. Esta gravação de hoje, no entanto, além da qualidade de todo o conjunto – orquestra, coro, solistas e regente – é integral, sem nenhum corte. Ela recebeu o prêmio de melhor CD de 1998 pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Pouca coisa, não?
Ressalto que temos aqui o mais maduro Carlos Gomes que se conhece, com uma vida atribulada, cheia de decepções, mas que pouco ou quase nada disso se pode perceber em suas composições. Uma dica: se você não é chegado em música de ópera, com solistas, não deixe de baixar: conheça pelo menos o belíssimo Interlúdio (faixa 17), só instrumental. Essa obra, por ser um poema sinfônico, possui mais trechos destinados ao coro do que aos solistas, diferente de uma ópera tradicional. Você verá Carlos Gomes com outros olhos, bem diferente do que vimos nas primeiras peças: agora mais denso, coeso, com melhor domínio da orquestração e dos seus efeitos dramáticos. Muito bom!
Ouça esta joia que lhe oferecemos! Conheça mais de Carlos Gomes!

Antônio Carlos Gomes (1836 – 1896)
Colombo – poema vocal sinfônico em quatro partes.
Libreto de Albino Falanca (pseudônimo de Albino Falcão)

Parte 1 – 03 Ove sono
Parte 1 – 04 Gran Dio! Qual Suono!
Parte 1 – 05 Ave, Del Mar
Parte 1 – 06 Chi Sei
Parte 1 – 07 Era Um Tramonto D’oro
Parte 1 – 08 E Allor Perche
Parte 1 – 09 Te Deum
Parte 2 – 10 Gloria! Trionfo!
Parte 2 – 11 Pur a Toccar
Parte 2 – 12 Non Fosti Mai Si Bel
Parte 2 – 13 Sire! Augusta Regina!
Parte 2 – 14 Non Puo Que Rea Vertigine
Parte 2 – 15 E Se Cio Fosse
Parte 2 – 16 Quest’Uom non Mente
Parte 3 – 17 Interludio
Parte 3 – 18 E Sempre Puro Il Ciel
Parte 3 – 19 Que Vedo! Um Guizzo!
Parte 3 – 20 Ei Sol Onmipotente
Parte 3 – 21 A Perir di Morte
Parte 3 – 22 Che Avvenne
Parte 4 – 23 Intermezzo
Parte 4 – 24 Pavesa La Piazza
Parte 4 – 25 Fanfarras
Parte 4 – 26 Vittoria! Vittoria!
Parte 4 – 27 A’piedi Tuoi, Regina
Parte 4 – 28 Inno Al Nuovo Mondo

Cristóvão Colombo – Inácio de Nonno, barítono
Isabel de Castela – Carol McDavit, soprano
Fernando de Aragão – Fernando Portari, tenor
Frade – Maurício Luz, baixo
Dona Mercedez – Flávia Fernandes, mezzo-soprano
Don Ramiro – Antonio Pedro de Almeida, tenor
Don Diego – Eliomar Nascimento, baixo

Coro Sinfônico da Escola de Música da UFRJ
Coro de ópera da Escola de Música da UFRJ
Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFRJ
Ernani Aguiar, regente
Rio de Janeiro, 1997.

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (92Mb – 2CD, cartaz e info da ópera)
VEJA O RESUMO AQUI – SEE THE SYNOPSIS HERE
…E depois, claro, deixe um comentário, flores, bombons, ovos de páscoa. Só não me deixe só…

Ouça! Deleite-se!

“Humm! Gostei das óperas desse moço Carlos Gomes!”

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (9) Colombo (1964-Belardi) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Um baita CD!
Apresentamos nesta semana o patriótico poema coral-sinfônico Colombo (aqui agrupado entre as óperas; embora não seja, se aproxima do formato), a última obra de vulto de Antonio Carlos Gomes, apresentada três anos antes de sua morte.
As coisas não iam nada bem pra Carlos Gomes: depois das recepções ruins da injustiçada Odaléa (confira aqui) na Itália e no Brasil, ele voltou a Milão um tanto desanimado. Encontrou lá seu filho Carlos André doente, com tuberculose (este faleceria apenas dois anos depois do pai. Sua única descendente que sobreviveria e que organizaria seu legado seria sua filha Ítala), o que lhe abateu ainda mais.
Como se aprontavam festejos em vários locais pelo 4º dentenário do Descobrimento das Américas, Carlos Gomes começava então a trabalhar em uma peça que tratasse da saga de Colombo, com vistas em alguns concursos, como modo de saldar suas dívidas:

Ainda no Brasil, pedira a seu amigo, o deputado Annibal Falcão, que lhe escrevesse um poema sobre Cristóvão Colombo. Era duplo o objetivo de Carlos Gomes: o concurso que a Prefeitura de Gênova abrira para uma obra musical em homenagem ao IV Centenário do Descobrimento da América; e concurso semelhante que escolheria a cantata a ser apresentada em Chicago, durante a exposição que celebraria essa efeméride. Desta vez, viu-se frustrado. Não foi premiado nem em Chicago nem nas Festas Colombianas de Gênova, onde o comitê organizador preferiu o Cristoforo Colombo de Alberto Franchetti (Lauro Machado Coelho).

Os problemas pessoais não interferiram na qualidade ca composição gomiana. Carlos Gomes continua, em Colombo, a seguir alguns padrões que apresentara em Odaléa: há uma partitura mais leve e mais coesa, bastante melodiosa (esta, admitamos, não tanto quanto aquela ópera) e uma organização mais ágil e sucinta. Além de tudo, esse formato, de poema sinfônico, não admite peças tão extensas. Aqui também, como em Lo Schiavo, ele foge dos padrões comuns e coloca um barítono para o papel do conquistador italiano.
A execução da peça está a cargo de Armando Belardi, um dos grandes entusiastas da obra do mestre campineiro, provavelmenteo regente que mais gravou Carlos Gomes: aqui no P.Q.P., Belardi está em Il Guarany, Fosca, Odaléa e este Colombo. Cercado, também, de ótimos solistas, numa gravação (e captação, graças a Deus) de alta qualidade. Um senão: há alguns cortes.
Semana que vem, a última postagem da série: a versão de Colombo regida por Ernani Aguiar (integral), que considero melhor ainda que esta de Belardi.
Ouça, que vale muito a pena!

Antônio Carlos Gomes (1836 – 1896)
Colombo – poema vocal sinfônico em quatro partes.
Libreto de Albino Falanca (pseudônimo de Albino Falcão).

01 Introdução
02 Ove sono
03 Tal_ cui non ha la terra
04 Era un tramonto d’oro
05 Gloria! trionfo
06 Pur a toccar l’eccelsa ambita meta
07 Non fosti mai si bel
08 Augusta regina
09 È sempre puro il ciel_ calmo il mar
10 Vitoria! Vitoria!
11 Salve immortal conquistator

Colombo – Constanzo Mascitti, barítono
Isabella – Lucia Quinto Morsello, soprano
Fernando – Sérgio Albertini, tenor
Il Frate – Paulo Adonis, baixo
Don Diego – Paulo Scavone, baixo
Dona Mercedes – Mariângela Rea, mezzo-soprano
Don Ramiro – João Calil, tenor

Orquestra e Coro do Theatro Municipal de São Paulo.
Armando Belardi, Regente
São Paulo, 1964.

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE 90Mb (CD, cartaz, info e resumo da ópera)
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Ouça! Deleite-se!

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (8) Condor/Odaléa (1986-Belardi) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Odaléa: IM-PER-DÍ-VEL !!!

Se fôssemos colocar um subtítulo para Odaléa (ou Condor), seria provavelmente “a ópera injustiçada”. Aqui Antonio Carlos Gomes está no auge de seu refinamento orquestral e melódico, mas a peça não emplacou: foi a obra certa no momento mais errado…
Gomes aceitou a encomenda de Cesare e Enrico Corti de uma ópera para a temporada de 1891 no Scala de Milão. Foi escolhido num cenário em que as grandes editoras de música  que dominavam a cena milanesa (Riccordi e Sonzogno) estavam em ferrenha disputa, por ser respeitado e por não ter contrato com nenhuma delas. Junto com a encomenda, já lhe foi entregue o libreto de Mario Canti para musicar. A história de Canti se passa em Samarcanda (cidade antiquíssima, de cultura persa, no atual Uzbequistão), onde a rainha, Odaléa, se apaixona por Condor, chefe das hordas que invadem seu país. Traindo seus patrícios, Condor é ameaçado, assim como Odaléa, e a única maneira de salvar sua amada é sacrificando sua própria vida para abater a fúria dos invasores.
Carlos Gomes alterou o nome original da ópera de Condor para Odaléa, tendo em vista possíveis apresentações na França, onde o nome do protagonista criaria um terrível cacófato com “con d’or” (ou cone de ouro, o apelido que se dava à região pubiana feminina, eufemizando aqui o termo)…
A ópera estreou em 1891 no Scalla com um elenco de primeira categoria, mas foi recebida com frieza pelo público. Um ano antes, subia ao palco a Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, uma revolução nos cânones operísticos italianos de então, que faria cair no gosto do público o formato dos veristas, da Giovane Scuola. Carlos Gomes introduziu em Odaléa mais inovações, mas a sua peça não era tão avançada como a de Mascagni: a crítica, sem uma análise aprofundada da partitura, estampou Gomes como um compositor tradicional demais. Ainda assim, a ópera teve dez récitas e foi a segunda mais assistidas no Scalla em 1891. Gomes a apresentou no mesmo ano no Rio de Janeiro, mas sua imagem, tão ligada ao imperador D. Pedro II, deposto pouco tempo antes, também fez com que o público e a crítica cariocas o vissem como um profissional antiquado, analisando-o pela sua postura política, e não pela sua música.
Dessa forma, Odaléa/Condor, foi apresentada apenas por uma temporada no Brasil e duas na Itália em todo o século XIX, e executada poucas vezes no século XX. Com o distanciamento que só o tempo proporciona, críticos e musicólogos têm afirmado que Condor é uma ópera das mais bem elaboradas de Carlos Gomes. É perceptível que ele buscava um caminho novo e o estava encontrando, aproximando-se da escola francesa.

Como na Fosca, percebe-se no Condor um esforço consciente de renovação formal. Há soluções harmônicas e empregos vocais que mostram o quanto Gomes acompanhava as modificações introduzidas pelos veristas no idioma do melodrama italiano – e que, na verdade, ele antecipara nas páginas mais inovadoras da Fosca ou da Maria Tudor. Haja vista a tessitura ousada do “Vampe folgori, rivolte!”, na entrada de Odalea no início do ato III, seguida da declamação entrecortada de “Febre fatal, sogno crudel d’ebra follìa!”, marcada andante cantabile con grande passione. (…). Há também, lado a lado do reconhecível estilo melódico do compositor – aqui tão inspirado quanto no Schiavo – um refinamento de expressão que mostra Gomes em dia com a ópera francesa, de que Condor retém o modelo: a elegância da música faz pensar em Gounod, Saint-Saëns, Massenet.
Um dos sinais da atenção à escola francesa, é o grande cuidado de Gomes – traço também presente na nova escola – em caracterizar musicalmente os ambientes (isso, de resto, já fora anunciado pela “Alvorada” do Escravo). O ambientismo do Condor está presente nos temas de sabor oriental que ele utiliza. Mas a escrita orquestral é muito bem trabalhada, não só no Prelúdio, no Noturno que introduz o ato III, ou no balé. mas também no acompanhamento instrumental, muito elaborado, e de alto grau de autonomia em relação à linha vocal.
O melodismo de Gomes está lá, sim, mas com movimentos mais flexíveis. O corte dos temas é menos tradicional do que no Guarany; menos popularesco do que no Salvator Rosa. Levam um passo à frente a madura expressão da Maria Tudor e do Schiavo. Há em Condor, em suma, a busca visível de um novo roteiro estético; ou, como diz Andrade Muricy, “não um ‘canto de cisne’, mas uma indistinta, tateante aurora”.
Condor/Odalea tem divisão em números muito tênue. Tende para a estrutura em blocos contínuos que Verdi consolidara no Otello; e, nesse sentido, confirma uma tendência já perceptível no autor desde o Guarany. Além da predominância, já observada, do tipo de vocalidade que faz a voz ascender subitamente do registro central para a região aguda – técnica que vai proliferar no Verismo –, é característica no Condor a preocupação com um tipo de declamação que valorize a clara pronúncia das palavras. E esse é outro ponto em que está intimamente associada à nova escola.

Condor/Odaléa é a ópera mais sucinta e mais ágil de Carlos Gomes. Tem também algumas das suas páginas mais bem escritas. Aqueles dez anos de hiato entre Maria Tudor (1879) e Lo Schiavo (1889) possibilitaram um grande refinamento na orquestração gomiana. As peças instrumentais, a abertura (que anuncia o oriente num delicado solo de harpa), o noturno e o balé são de uma beleza ímpar, e os trechos cantados são obras de muito esmero. A gravação, aviso, é ruim. Não pelos solistas, nem pela orquestra (Armando Belardi sempre se cercou de gente competente), mas pela captação quase caseira; é, no entanto, a única gravação que conheço, por isso não tiraria d forma alguma o “imperdível” lá do início.
Mas esqueça essas falhas, deixe-se levar pelas melodias magistrais desta última ópera de Carlos Gomes, coloque os problemas de lado e viaje para terras distantes na música de Nhô Tonico!
Semana que vem e na próxima, a última peça (disponibilizarei duas gravações): o Oratório Colombo, que, embora não seja, incluímos na categoria das óperas.
Bom, chega de lenga-lenga! Ouça! Ouça!

Odalea/Condor (1891)
Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Libreto original: Mário Canti

Ato I – 01 Prelúdio
Ato I – 02 Nele Regno delle Rose
Ato I – 03 Dell’Arme il Segnal
Ato I – 04 Aquila Pellegrina che Fendi L’etra a Vol
Ato I – 05 Dea Celeste Ideal
Ato II – 06 Già L’Albappar Fedeli Alla Preghiera
Ato II – 07 Orda Crudel Feroce
Ato II – 08 Orda Selvaggia
Ato II – 09 Vedo Commossa Ell’é
Ato III – 10 Noturno
Ato III – 11 Quanto Silenzio a me D’Intorno
Ato III – 12 Avea Sulatana Altera
Ato III – 13 Ti Vedo Ognor, intua Follia Sublime
Ato III – 14 Le mie stelle salutano in Te
Ato III – 15 Fissami in volto, Dimmi

Odalea – Renata Lucci, soprano
Condor – Sérgio Albertini, tenor
Adin – Niza de Castro Tank, soprano
Zuleida – Tereza Boschetti, mezzo-soprano
Almazor – Benedito Silva, baixo
O Mufti – Jairo Vaz, baixo

Orquestra e Coro do Teatro Municipal de São Paulo
Armando Belardi, regente
Sala Cidade de São Paulo, 1986

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE  75Mb (CD, cartaz, info e resumo da ópera)
Mas deixe um comentário. Menos de 3% dos usuários nos escrevem. Ô, solidão…

Ouça! Deleite-se!


“Outros cães uivam para a lua. Treinei o meu para tocar Bach” 
Parabéns, Bach, pelos 327 anos (embora este seja um post sobre Carlos Gomes)!

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (7) Lo Schiavo (1959-Guerra) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Ah, Lo Schiavo, a segunda ópera mais famosa de Antonio Carlos Gomes e a segunda a ser gravada na história! Que deleite para os ouvidos esta obra simplesmente IM-PER-DÍ-VEL!
Carlos Gomes passou dez anos amargos sem conseguir subir uma ópera no palco. Depois de Maria Tudor, ele tinha movimentada e desagradável vida pessoal: discussões, separação, construção de um palacete que ele não conseguia manter (a famosa Villa Brasília, hoje um conservatório em Milão), hipotecas, dívidas para suster seu luxo… Gomes parecia que queria manter uma ilusão, para si e para os demais, de que estava tudo bem, de ostentar, a duras penas, uma imagem melhor do que a realidade. Talvez tenha imaginado que viver num palacete com belíssimos afrescos com araras em suas paredes conseguisse abater seu sofrimento. Sabemos que Tonico tinha um temperamento indócil, com várias crises de ira. Era, pelo que se pode saber pelos seus biógrafos, uma pessoa difícil de se lidar (ora, Beethoven era terrível. Por que Carlos Gomes não poderia ser intratável também?). Sofria também com um forte complexo de  inferioridade: qualquer mínimo sinal negativo na aprovação de suas obras era motivo para se achar o pior dos compositores, mesmo sendo o segundo em número de récitas na Itália da década de 1870. Devia também ter fortes problemas de depressão, pois iniciava muitos trabalhos e os abandonava em seguida.
E Lo Schiavo nasceu nesse turbilhão de problemas pessoais de Carlos Gomes, de projetos de óperas iniciados e nunca concluídos. A história original tratava de um texto de forte veia abolicionista, de 5, 6 páginas, escrito pelo Visconde de Taunay para Gomes. O texto daria uma ótima ópera, pois tinha bom enredo: revoltas de escravos, refúgios em quilombo e amor entre o senhor branco e a escrava negra. Os editores italianos não gostaram da ideia de um protagonista negro e escravo, simples, pobre, diferente de doutros protagonistas negros daquele tempo, como Aída (princesa etíope) e Otelo (que se tornara nobre). Assim, optou-se por transformar os escravos em índios e transportar a história para o século XVI, durante a Confederação dos Tamoios, o que criou algumas incongruências históricas à trama que obrigaram Tonico a se desdobrar pra resolvê-la com uma música coerente e boa.
Ao mesmo tempo, as preferências, em dez anos, mudavam na Itália: os compositores da geração de Carlos Gomes eram preteridos pelos da Giovane Scuola (os veristas). Autores como Gomes, que estavam na transição entre o Romantismo tradicional e o Verismo encontravam dificuldades para encenar suas óperas. Pese nisso o tempo no qual Gomes não produziu nenhuma peça, o que contribuiu para a perda de visibilidade na cena artística de então.
Não conseguindo estrear Lo Schiavo em Milão, o compositor entrou em contato com autoridades do Brasil e, por intervenção particular (apoio, bênção e imposição, mesmo)  do Imperador D. Pedro II, a ópera acabou estreando, finalmente, em 1889, no Rio de Janeiro, pouco mais de um mês antes da queda da Monarquia no país (e um ano após a abolição: melhor não tratar de escravidão negra naquele ambiente tenso, não?). O sucesso foi estrondoso: o público carioca pôde ver o Carlos Gomes que conheceu moço em sua obra mais melodiosa e com uma de suas orquestrações mais refinadas.

Do ponto de vista estrutural, Lo Schiavo é uma ópera de números relativamente convencional. Mas apresenta Carlos Gomes em um de seus melhores momentos de inspiração melódica – capaz de “encontrar harmonias e timbres raros, de aproveitar ritmos inusitados e de utilizar modulações as mais eficazes e inesperadas” (Marcus Góes). Como no Guarany, a música é, de um modo geral, italianada. Mas, como observa João Itiberê da Cunha, num ensaio publicado na Revista Brasileira de Música, há nela “certas estranhezas rítmicas e temas de sabor agreste e mesmo selvagem, que nada têm a ver com a música da Europa, e muito menos com a italiana. Sempre que Carlos Gomes quer apresentar o elemento autóctone do Brasil, sejam guaranis, tamoios ou aimorés, ele encontra no seu estro acentos característicos e inéditos, que surpreendem pela força de expressão e pela novidade, já não diremos pelo exotismo. (Lauro Machado Coelho)”

Lo Schiavo é uma ópera não tanto dramática em sua música, mas muito mais melodiosa e muito mais coesa e refinada, de uma orquestração mais elegante. Aqui Calos Gomes apresenta um domínio dos conjuntos instrumentais muito mais maduro.

Com Lo Schiavo, o ímpeto dramático de Gomes tende a atenuar-se; ele entra em uma fase reflexiva na qual o dinamismo do discurso musical se transforma em pintura de ambiente. O interesse, agora, redide primordialmente nas partes líricas; as dramáticas, embora não estejam privadas de eficiência, não atingem a intensidade de certas páginas da Fosca nem a imediateza que era uma das características do Guarany. A estrutura dramatúrgica apresenta carências que não são irrelevantes, principalmente na definição dos caracteres; mas algumas situações são bem conduzidas, com sentimento poético e resultados convincentes no plano da expressão teatral. A composição apresenta um equilíbrio geral, que lhe é conferido por uma certa organização estilística, o faz com o Escravo seja considerado, pela maioria dos estudiosos, uma das óperas mais bem-sucedidas de Carlos Gomes. (Marcos Conati)

Essa ópera é uma das melhores melodias de Gomes. A Alvorada, no início do quarto ato, é das peças mais belas por ele escritas em toda a sua carreira. Além da delicada abertura e das árias como “quado nascesti tu” e “O ciel di Parahyba“. Nessa montagem, a segunda gravação mundial de uma ópera de Carlos Gomes (alguns meses mais recente que Il Guarany de Belardi), temos nomes de cantores que fizeram história em nossos teatros, como a elegantíssima Ida Miccolis e o portentoso Lourival Braga, em um raro barítono protagonista.
Resumo da ópera: é muito bom! Não deixe de conhecer!
(Semana que vem, a ópera mais curta e tão melodiosa quanto esta: Odalea)

Lo Schiavo (1889)
Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Libreto: Rodolfo Paravicemi
Baseado em história do Visconde de Taunay

Ato I – 01 Preludio
Ato I – 02 Oggi imene qui prepara
Ato I – 03 Seghi e sorveglia i passi miei
Ato I – 04 In aspra guerra per la mia terra
Ato I – 05 Nobre stirpe del brasilio soul
Ato I – 06 Di ribellione Autore ti festi or ora
Ato I – 07 Ah! Per pietà!
Ato I – 08 Partito è! Gran Dio!
Ato II – 09 Piacer! Eccola Cura
Ato II – 10 Conte voi abigliarmi sembrate
Ato II – 11 Quando nascesti tu
Ato II – 12 Perchè! Gioia che di
Ato II – 13 Danza Indigena – Carigio
Ato II – 14 Danza dei canottieri
Ato II – 15 Danza Indigena – Goitacà
Ato II – 16 Baccanale
Ato II – 17 Un astro splendido nel cielo appar
Ato II – 18 Lo sguardo in me fissati
Ato III – 19 Oh Ciel di Parahyba
Ato III – 20 Fra questi fior que adori
Ato III – 21 Fragile cor di Donna
Ato III – 22 Gerrier Prodi e Fedele
Ato IV – 23 Siam Traditi si Amo perduti
Ato IV – 24 Sogni d’amore, spereanze di pace
Ato IV – 25 Alvorada
Ato IV – 26 Come serenamente
Ato IV – 27 Ecco l’ombra mia funesta
Ato IV – 28 Benchè le insigne
Ato IV – 29 Addio, fedele martire

Ilara – Ida Miccolis, soprano
Ibere – Lourival Braga, barítono
Americo -Alfredo Colosimo, tenor
Conde Rodrigo – Luiz Nascimento, baixo
Condessa de Boissy – Antea Claudia, soprano
Gianfera – Marino Terranova, barítono
Goitaca – Alvarany Solano, baixo
Lion – Carlos Dittert, baixo

Orquestra e Coro do Teatro Municipal de Rio de Janeiro
Santiago Guerra
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 1959.

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (110Mb – 2CD, cartaz, info e resumo da ópera)
Ouça! Deleite-se! Mas antes, deixe um comentário pra gente…

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (6) Maria Tudor (1998-Malheiro) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Meu Deus! Essa é IM-PER-DÍ-VEL!!!

Maria Tudor, a sexta ópera de Antonio Carlos Gomes (a sexta que ele terminou;  se vocês vissem quantas ele deixou para trás, ficariam assustados, mas disso trataremos outro dia) finalmente ganha uma versão integral e bem acabada, como  merecia uma das melhores óperas do compositor campineiro.

Essa peça, densa e pesada, foi, como dissemos na postagem precedente (aqui), acintosamente rejeitada em sua estreia com vaias encomendadas, de pessoas que defendiam a apresentação de compositores italianos nos teatros de Milão, repugnando as obras do brasileiro Carlos Gomes de pronto, sem ouví-las. Isso embaçou o brilho desta ópera em suas apresentações posteriores, mas não pode lhe tirar as qualidades técnicas. A crítica da época, levada pelas tais vaias, teceu comentários negativos, várias deles infundados, de Maria Tudor, que foi seguidamente melhor apreciada conforme as récitas eram executadas.

Críticas que se tornam descabidas a partir do momento em que temos a opertunidade de fazer um exame isento da ópera em sua forma integral – como a que nos foi dada, em 1998, pela gravação do maestro Luiz Fernando Malheiro, o primeiro neste século a executar Maria Tudor absolutamente sem cortes. O que se constata é que se trata de uma obra perfeitamente equilibrada que, ao mesmo tempo, faz a síntese entre a gran maniera da ópera tradicional – por exemplo, o amplo concertato “Cielo! È l’uom da me tradito…” com que se encerra o ato III – e a modernidade de escrita. Os traços inovadores se revelam com as sonoridades inusitadas do Prelúdio, no qual Conati foi o primeiro a perceber “um surpreendente sabor pré-mascagnano”. É muito rica a combinação de timbres do primeiro tema, que reaparecerá várias vezes, no corpo da obra, sempre associado a situações de mistério, de expectativa. Segue-se uma marcha em largo cantabile espressivo – “de cativante beleza na sua solenidade e em seu desenvolvimento harmônico” (Góes) –, que será ouvida no final, quando Fabiano for levado para o cadafalso. A ela se fundem habilmente outros temas da ópera.
Maria Tudor ainda é uma ópera de números e, nesse sentido, de estrutura conservadora – não correspondendo, portanto, ao gosto da platéia mais sofisticada. Mas exemplifica perfeitamente a capacidade de Carlos Gomes de caracterizar musicalmente as suas personagens. (Lauro Machado Coelho)

Vemos aqui um Carlos Gomes maduro, bem conceituado no meio musical de seu tempo, com uma peça de peso, um compositor que apresentava inovações melódicas e de estilo, tentando renovar o batido esquema da ópera tradicional italiana, e que fazia a transição para o verismo, que despontaria em nomes como Mascagni e Puccini nas décadas seguintes. E esta gravação búlgaro-brasileira consegue dar o volume e a qualidade que a peça exige.
Muito boa! Ouça!

Maria Tudor (1876)
Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Libreto: Emilio Praga
Baseado no romance de Victor Hugo

Ato I – 01 Preludio
Ato I – 02 Coro e ronda – Le Reggia Tripudia
Ato I – 03 Romanza – Qianti Raggi del ciel
Ato I – 04 Scena – Buon Fratello e dolce Padre
Ato I – 05 Arioso – Tanti il mio cor, bell`angelo
Ato I – 06 Scena Non più m’attendono al lavoro
Ato I – 07 Serenata – Le all’ora bruna
Ato I – 08 Scena e Duetto – Canta sempre, canta, o bela
Ato II – 09 Coro – Viva il Re della fulgida mensa
Ato II – 10 Scena – Grazie vi rendo
Ato II – 11 Scena – Grazie, prodi cantor
Ato II – 12 Duetto – Colui que no canta
Ato II – 13 Scena, racconto e quarteto
Ato II – 14 Madrigale, Coro – Corse ciprigna
Ato II – 15 Scena – L’odii… Vendetta avrai
Ato II – 16 Gran Scena ed Aria – Finale secondo
Ato III – 17 Scenetta Dell’Ironia – Non Vo Gemme, Non vo fior
Ato III – 18 Romanza – Sol Ch’io Ti Sfiori
Ato III – 19 Scena e Duetto – Qual Ape Nomade
Ato III – 20 Scena e Baccanale
Ato III – 21 Sarabanda
Ato III – 22 Inno Della Regina – Dio Salvi L’eccelsa Regina
Ato III – 23 Danza Burlesca – Ripresa Del Baccanale
Ato III – 24 Scena e Duettino – Questo Cerchietto Splendido
Ato III – 25 Pezzo Concertante – Finale terzo
Ato IV – 26 Monologo ed Aria – O Mie Notte D’amor
Ato IV – 27 Scena Delle grida
Ato IV – 28 Aria – Lugubre Giocoliero
Ato IV – 29 Gran Scena Drammatica – Duetto – Qui Nell’ombra

Maria Tudor – Eliane Coelho
Giovanna – Elena Chavdarova-Isa
Fabiani – Kostadin Andreev
Don Gil – Franco Pomponi
Gilberto – Svetozar Ranguelov
Pagem – Elena Stoyanova
Lord Montagu – Ivan Ivanov
Lord Clinton – Biser Georgiev
Arauto – Stoil Georgiev

Sophia National Opera Orchestra
Sophia National Opera Choir
Luís Fernando Malheiro, regente
Plamen Kartaloff, regisseur (diretor)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (7-29) (135Mb – 2 CD, cartaz, info e resumo da ópera)
E deixe suas impressões, gratidões, flores, etc. nos comentários…

Ouça! Deleite-se!

Bisnaga

]Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (6) Maria Tudor (1978-Perusso) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Já peço desculpas aos ouvintes ávidos das óperas de Antonio Carlos Gomes que estamos postando todas as quintas. Sei que há gente esperando de madrugada para logo obter os arquivos, mas alguns problemas técnicos impediram de colocar no ar esta bela Maria Tudor nas primeiras horas deste 1º de março. Mas a ópera chegou, com algumas horas de atraso e lá se foi metade deste dia… Paciência, agora ela aí está para o deleite de vocês.

Maria Tudor nasce no momento que marca o início da decadência de Carlos Gomes, decadência pessoal e financeira, que seja bem destacado: em termos de composição, a meu ver ele nunca deixou de melhorar continuamente.
Gomes estava envolvido em vários problemas: seu casamento desmoronava, sua mulher o acusava de adultério e a situação estava insustentável. Houve um processo de separação tenso e Gomes acabou cedendo e, embora ainda oficialmente casados, permitiu a Adelina Peri viver com seus filhos em outra casa, pagando pensão a ela. Somavam-se a isso as disputas entre os diretores dos teatros de Milão e as exigências da Riccordi, que detinha os direitos de suas obras, de impor essa ou aquela solista em suas apresentações.
Para além disso, Carlos Gomes escolheu uma peça difícil para musicar: o drama de Victor Hugo sobre a rainha inglesa Maria Tudor lhe tomou muito mais tempo do que ele previa. Gomes apostou, acertadamente, no prestígio que o famoso escritor francês detinha na Itália, mas a necessidade de reescrever o libreto já existente do romance impossibilitou que seu parceiro Ghislanzoni o fizesse (por questões de ética, um libretista não sobrescrevia a obra de outro). Parecia que tudo conspirava contra naquele momento: Gomes contratou o poeta Emilio Praga, mas este estava envolvido também em uma separação litigiosa, teve depressão, problemas com álcool e drogas e acabou falecendo antes mesmo de concluir o texto, que teve de ser completado por Angelo Zanardini e Ferdinando Fontana, tornando o libreto entregue a Gomes um tanto “remendado”. a História, ainda assim, era ótima e renderia uma grande ópera:

Muito pouco da Maria Tudor real aparece no drama de Hugo. Como de hábito, o poeta dá aos fatos históricos uma interpretação livre. Imagina o envolvimento de Maria com o aventureiro italiano Fabiano Fabiani, a quem protege, por mais que a corte o despreze. Este, porém, a trai com Jane, moça do povo a quem seduziu por ter descoberto que ela é, na realidade, a herdeira da rica família dos Talbot. Jane (Giovanna na ópera) foi recolhida e educada por Gilbert, um cinzelador que tenciona casar-se com ela. O envolvimento da moça com Fabiano é descoberto por Simon Renard, embaixador da Espanha – cujo rei almeja casar-se com a soberana inglesa (no libreto, ele recebe o nome de Don Gil). O embaixador revela a Gilbert o namoro de sua amada com Fabiano. E o cinzelador, enciumado, aceita tornar-se o instrumento dos planos do espanhol. Denuncia à rainha a infidelidade de seu favorito, mas acaba sendo preso como seu cúmplice numa tentativa de regicídio, para que Maria possa castigar Fabiano, condenando-o à morte. No último momento, Maria se arrepende e pede a Don Gil que troque os condenados, fazendo Gilbert morrer no lugar do italiano. O embaixador espanhol não atende a seu pedido, e é o favorito quem é mandado ao cadafalso. (Lauro Machado Coelho)

A peça, que Carlos Gomes imaginava inicialmente fácil, no entanto, exigiu muito trabalho para adaptar as vozes dos personagens ao timbre necessário para representá-los, acima de tudo à personagem título, a ambígua rainha inglesa, cruel mas apaixonada, impiedosa mas condoída pela situação de seu amado. Colocava-se também a dificuldade para o público em aceitar uma protagonista que era ao mesmo tempo mocinha e vilã e um vilão que era também vítima. Até as vésperas da estreia, Carlos Gomes ainda fazia correções na partitura e, inseguro que era, diz-se que nunca gostou do resultado atingido.
A ópera, difícil, acabou por ser o mote para uma grande decepção de Carlos Gomes: desafetos pessoais, fãs de outra solista, preterida na montagem, críticos nacionalistas que refutavam os modelos trazidos pelo compositor “brasiliano” foram ao teatro prontos para vaiar a peça que, para piorar, tinha um antagonista italiano no enredo. Foi a primeira vez que Carlos Gomes foi vaiado. Foi um primeiro senão na carreira até então imaculada, de Nhô Tonico.

Mas – e em meio a extremos sucessos há sempre um “mas” – o sucesso e a fama de Carlos Gomes mais cedo ou mais tarde haveriam de despertar a inveja e as reclamações dos italianos. A reação viria, forte e compacta, e quem pagaria a conta seria a “MARIA TUDOR”, criada na Scala em 1879 em meio a vaias pré-fabricadas.
O ano de 1879 foi um ano infeliz na vida de Gomes. A separação da mulher Adelina Peri se desenvolveu litigiosamene em tribunal com todos os ingredientes de estilo: ofensas, acusações, brigas por quinquilharias, tudo à vista de todos. Será em 1879 que Gomes perderá o filho Mario Antonio, morto aos quatro anos de idade.
Antes desses acontecimento, no entanto, a imprensa e grande parte do público, por ela influenciado, prepararam um conjunto de argumentos contra Carlos Gomes que apareceria escrito antes, durante e depois das duas únicas récitas da MARIA, ocorridas em 27 e 29 de março de 1879.
Como era possível um “indiano selvaggio” ter suas óperas postas na Scala enquanto “talentosos” compositores italianos tinham de se contentar com teatros menores? E aí eram citados compositores italianos que hoje ninguém conhece, como um certo Dominicetti, de quem se diziam maravilhas em detrimento de Gomes. Disse-se até que o Dominicetti estava servindo de modelo a compositores alemães da época…
Assim, a MARIA foi vaiada sem piedade, por uma reação chauvinista de baixíssimo nível. No entanto, é ela uma belíssima ópera, com uma abertura muito bem composta, com trechos de grande beleza, como o dueto Fabiani/Giovanna “L´amore l´estasi”, como o dueto Maria/Fabiani “Colui che non canta” , como a preciosa grande ária de Maria “O mie notti d´amor”, como a notável marcha lenta do início e do final da ópera, como a ária de Fabiani. Uma ópera que depois teria seus modelos e inovações copiados na própria Itália, principalmente na era do verismo. (Marcus Góes)

A própria crítica teve que rever as suas colocações à medida que as novas récitas eram crescentemente mais bem recebidas pelo público. Ao final da temporada que esteve em cartaz, Maria Tudor tinha se redimido: era aplaudida e aclamada pelo público, que, agora, não estava lá preparado para denegrir a imagem do compositor brasileiro, mas sim pra fruir a obra de um autor já muito respeitado no meio milanês, o que lhe fazia jus: Maria Tudor possui uma orquestração mais refinada, burilada e complexa que suas obras anteriores. Carlos Gomes fez uma bela obra que, a despeito, da recepção ruim, é hoje considerada uma de suas melhores óperas e é a terceira mais executada dele no Brasil (atrás d’O Guarani e de Lo Schiavo).
A montagem que lhes presenteamos é a primeira gravação, histórica, ocorrida no Theatro Municipal de São Paulo, sob a batuta do experiente regente argentino Mário Perusso, diretor do importante Teatro Colón, de Buenos Aires (apenas o maior teatro de ópera das Américas), com solistas das terras platinas de alto quilate. Infelizmente devo advertir para três senões desta gravação: a captação de som da obra, ao vivo, não é das melhores e, embora haja grandes solistas, a orquestra comete alguns pequenos deslizes na execução. Além disso, foram feitos alguns cortes na partitura. Ainda assim, ouça, que é um registro da maior importância!
Semana que vem, a gravação mais recente, realizada na Bulgária (e sem cortes!), sob Luís Fernando Malheiro.
Ouça, ouça, ouça, ouça!!

Maria Tudor (1879)
Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Libreto: Emilio Praga
Baseado no romance de Victor Hugo

Ato I – 01 Preludio
Ato I – 02 Coro e ronda – Le Reggia Tripudia
Ato I – 03 Romanza – Qianti Raggi del ciel
Ato I – 04 Scena – Buon Fratello e dolce Padre
Ato I – 05 Arioso – Tanti il mio cor, bell`angelo
Ato I – 06 Scena – Non più m’attendono al lavoro
Ato I – 07 Serenata – Le all’ora bruna
Ato I – 08 Scena e Duetto – Canta sempre, canta, o bela
Ato II – 09 Coro – Viva il Re della fulgida mensa
Ato II – 10 Scena – Grazie vi rendo
Ato II – 11 Corse ciprigna (madrigale – coro)
Ato II – 12 Scena – Grazie, prodi cantor
Ato II – 13 Duetto – Colui que no canta
Ato II – 14 Scena, racconto e quarteto
Ato II – 15 Scena – L’odii… Vendetta avrai
Ato II – 16 Gran Scena ed Aria – Vendetta! vendetta! – Finale secondo
Ato III – 17 Che ve ne par
Ato III – 18 Romanza – Sol Ch’io Ti Sfiori
Ato III – 19 Scena e Duetto – Qual Ape Nomade
Ato III – 20 Viva Fabiani! viva!
Ato III – 21 Inno Della Regina – Dio Salvi L’eccelsa Regina
Ato III – 22 Danza Burlesca – Ripresa Del Baccanale
Ato III – 23 Scena e Duettino – Questo Cerchietto Splendido
Ato III – 24 Pezzo Concertante – Finale terzo
Ato IV – 25 Monologo ed Aria – O Mie Notte D’amor
Ato IV – 26 Scena Delle grida
Ato IV – 27 Aria – Lugubre Giocoliero
Ato IV – 28 Gran Scena Drammatica – Duetto – Qui Nell’ombra

Maria Tudor – Mabel Veleris, soprano
Fabiano Fabiani – Eduardo Álvares, tenor
Don Gil – Fernando Teixeira, barítono
Gilberto – Wilson Carrara, baixo
Lord Montago – Assadur Kiulitzian, tenor
Lord Clinton – Luis Orefice, barítono
Giovanna – Adriana Cantelli, soprano
Pagem – Leyla Tajer, soprano
Arauto – Odnilo Romanini, baixo

Orquestra e Coro do Teatro Municipal de São Paulo
Mário Perusso, regente
Teatro Municipal de São Paulo, 1978

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Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (5) Salvator Rosa (2004-Benini) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Se você entrou no P.Q.P.Bach algumas vezes hoje, vai ver que o post foi mudando, foi crescendo. Ele já havia ido ao ar quando pude acrescentar o texto. Coisas que acontecem depois do carnaval, quando colocamos a vida em ordem…
Sem mais delongas e desculpas em andrajos, apresentamos a vocês nesta semana mais uma versão da ópera Salvator Rosa, de Antonio Carlos Gomes, esta, uma luxuosa montagem ocorrida no Festival del Valle D’Itria em 2004, sob a batuta de Maurizio Benini, contando a história (romanceada) do pintor, ator e poeta italiano (1615-1673). Acredito que seja a gravação mais recente de uma ópera de Gomes.
Uma coisa que me dá uma ponta de ânimo é ver que, mesmo havendo poucas execuções e gravações da obra de Nhô Tonico, elas vêm ocorrendo com uma frequência maior de uns 15 anos pra cá, muito por conta das comemorações do centenário de falecimento do compositor, em 1996, que ajudaram a tirar um pouco a poeira que há tempos vinha cobrindo e obscurecendo sua belíssima obra: tivemos aí as gravações búlgaro-brasileiras d’O Guarani, Maria Tudor, Fosca e duas desta Salvator Rosa, ambas italanas, além da restauração das partituras e montagem da nunca gravada Joanna de Flandres (e, pouco antes, a montagem de Neshling com Plácido Domingo para O Guarani). Ainda é pouco, se compararmos com nomes grandes, como Verdi, Wagner ou Puccini, mas há pequenos avanços e ver que as montagens foram feitas no exterior dá-me o conforto de perceber que o nome de Antonio Carlos Gomes tem recebido um pouco mais do merecido reconhecimento que lhe é devido, afinal, em seu tempo era o segundo operista mais executado e assistido na Itália, atrás somente de Verdi, que reinava absoluto no cenário operístico de então.
Já afirmei na postagem passada que Salvator Rosa foi um tremendo sucesso em sua estreia. Reafirma Marcus Góes:

Tal foi o sucesso do “SALVATOR ROSA” em 1874 em Gênova, que foi com essa ópera que a Scala de Milão abriu sua temporada no mesmo ano. Gomes se tornou figura popular da capital lombarda. Todos falavam de sua vasta cabeleira, apelidaram-no de “testa di leone” (cabeça de leão), os restaurantes ofereciam pratos “à Carlos Gomes” e uma taça de sorvetes “Peri e Cecilia” com sorvetes de chocolae e creme lado a lado. Os humoristas diziam que quem então fazia música em Milão era um índio…

Sobre a peça em si não irei comentar muito, pois tanto já foi dito na postagem anterior. Posso lhes afirmar que esta montagem é muito boa! Boa orquestra, grandes solistas, apenas com aqueles problemas advindos da gravação ao vivo, o que não compromete o todo, ou seja, uma grande ópera de Carlos Gomes numa ótima apresentação, portanto, IM-PER-DÍ-VEL!!!

Salvator Rosa (1874)
Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Libreto: Antonio Ghislanzoni
Baseado na novela Masaniello, de Charles Jean-Baptiste Jacquot

Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Mia Piccirella
Ato I – 03 Vero Figliuol do Napoli
Ato I – 04 All’armi! Addio Io Vuol!
Ato I – 05 Forma sublime, etérea
Ato I – 06 Salvator! Celaveti Figute
Ato I – 07 Via l’arte e l’alegria
Ato I – 08 Delle truppe rispondi
Ato I – 09 Padre, a te il grido innalzasi
Ato I – 10 Quel dolce resguardo m’ha beato il cor!
Ato II – 11 È desso! È proprio desso!
Ato II – 11 È desso! È proprio desso!
Ato II – 13 Di Masanielo il mensagier
Ato II – 14 Sulle rive della Chiaia… L’acento dell’amor
Ato II – 15 Per questa augusta imagin del Dio
Ato II – 16 A festa! A festa!
Ato II – 17 Poichè vi piace udir
Ato II – 18 Largo! Largo a Masanielo
Ato II – 19 Povero Nacqui, e ai perfidi
Ato II – 20 Viva! Viva! Su! Accorriamo!
Ato II – 21 Dov’è l’eroe del popolo
Ato III – 22 Le tazze Colmiamo
Ato III – 23 Strane parole mormorar le intensi
Ato III – 24 Di quelle sale il lezzo uccide
Ato III – 25 Là sù quel fragil legno
Ato III – 26 Si cerchi Masanielo
Ato III – 27 D’aura di luce ho d’uopo
Ato III – 28 Alla infelice suora sol rea d’amor
Ato III – 29 Sola il mio bianco crine
Ato IV – 30 Serenata
Ato IV – 31 Purchè ci sia del vino
Ato IV – 32 Al Ballo alle mense la notte
Ato IV – 33 Salvator! Libero sei!
Ato IV – 34 Ah! Ti trovo, Gennariello!
Ato IV – 35 Padre, in quela chiesa una strage si compie

Salvator Rosa – Mauro Pagano, tenor
Gennariello, jovem servo de Salvator – Sofiya Solovey, mezzo soprano
Duque dos Arcos, vice-rei de Napoli – Francesco Ellero D’Artegna, tenor
Isabella, sua filha – Francesca Scaini, soprano
Masaniello – Gianfranco Cappelluti, barítono
Conde de Bajadoz – Leonardo Gramegna, tenor
Fernandez, comandante das tropas espanholas – Salvatore Cordella, tenor
Bianca, dama espanhola – Annalisa Carbonara, soprano
Irmã Inês – Tiziana Spagnoletta, soprano
Fra Lorenzo, traidor – Emil Zhelev, baixo

Coro da Camera di Bratislava
Pavol Prochazka, regente do coro
Orchestra Internazionale d’Italia
Maurizio Benini, regente
Festival del Valle D’Itria
Palazzo Ducale, Martina Franca, 2004

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Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (5) Salvator Rosa (1977-Blech) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Depois de conhecer somente sucessos estrondosos com A Noite do Castelo, Joanna de Flandres e Il Guarany, Antônio Carlos Gomes ficou apreensivo com a recepção mediana do público e dura da crítica em Fosca. Já casado e com uma vida de ostentação (morava em um palacete num subúrbio de elite de Milão) que lhe exigia elevados custos para sua manutenção, Gomes se viu necessitado de compor rapidamente uma nova peça para obter renda e manter seu alto padrão de vida. Mais que isso, para “recuperar” sua imagem, que ele via como que manchada ante o público pela recepção não tão boa de Fosca.
Assim, apenas um ano após sua estreia da quarta ópera, Carlos Gomes fazia subir ao palco sua quinta obra do gênero: Salvator Rosa, que traz a história do personagem-título (que existiu realmente: Rosa era pintor, músico, ator e poeta e criou um importante círculo artístico em sua cidade), envolvido numa revolta popular em Nápoles contra os dominadores espanhóis e, cruel coincidência, apaixonado por Isabella, filha do governante hispânico, Duque d’Arcos.
Carlos Gomes desta vez abriu mão de inovações e cedeu ao gosto do público e dos padrões italianos. Abandonou o leitmotiv que havia aparecido em Fosca e buscou, com o prestigioso libretista Ghislanzoni, daquela mesma obra, apresentar uma história com a qual os italianos se identificassem mais. O personagem principal é um pintor e revolucionário muito querido no imaginário da Itália. Somam-se a isso os trechos dos insurgentes, cheios de patriotismo, as cenas de festas, bailes e bons duetos, além da tradicional e recorrente história de amor arrebatador que, levado às últimas consequências, culmina em morte… E depois da densa, escura e dramática Fosca, Gomes fez de Salvator Rosa, mesmo se tratando de tragédia, uma ópera muito mais leve, talvez a mais leve por ele escrita até então, com um fraseado mais simples e claro e com a presença de personagens cômicos, como Gennariello, divertido ajudante adolescente de Salvator interpretado por uma soprano travestida de homem. Sua ária, “Mia Piccirella”, se tornaria muito popular na Itália daquele tempo.
Com tantos elementos favoráveis, Salvator Rosa agradou imensamente ao público e teve uma estreia verdadeiramente estrondosa, a ponto de Carlos Gomes ter que retornar ao palco nada menos de 36 vezes para receber os incessáveis aplausos da plateia!!!

Vejamos um pouco sobre a música em si de Salvator Rosa:

Do ponto de vista da orquestração, Salvator Rosa é tão bem cuidada quanto a Fosca, embora harmonicamente possua texturas mais simples. O emprego freqüente dos tutti instrumentais, o cromatismo de certas passagens impetuosas, a veemência com que Carlos Gomes se expressa em determinados momentos já anunciam, à distância, a ênfase característica dos veristas. Uma página sinfônica especialmente bem escrita é a abertura, construída sobre os temas das árias e duetos principais. No artigo sobre a ópera para o já citado Carlos Gomes: uma Obra em Foco, Leo Laner faz cuidadosa análise dessa abertura, demonstrando – inclusive através de um gráfico que ajuda a visualizar seus três episódios e a ordem em que neles os temas se entrelaçam – o equilíbrio e a harmonia de proporções obtida pelo compositor.
Portanto, embora visando a cativar o favor do público com o retorno a moldes mais acessíveis, o compositor mostra também ter atingido, nessa ópera, um estágio de grande maturidade na utilização de seus recursos expressivos. É pena, portanto, que tantos trechos mais vulgares acabem empanando o brilho de outras páginas mais bem compostas (Lauro Machado Coelho)

Na gravação que disponibilizamos, a primeira integral desta ópera, estão nomes importantíssimos da cena lírica nacional, como Benito Maresca (falecido no ano passado), Ruth Staerke e Paulo Fortes. Só figurões de nossa música!
Em tempo, Salvator Rosa é a ópera mais conhecida de Carlos Gomes na Itália. Então, ouça-a: se o exigente público de lá obrigou Carlos Gomes a voltar tantas vezes ao palco, sob calorosas ovações, a peça só pode ser IM-PER-Dí-VEL!!!

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Salvator Rosa (1874)
Libreto: Antonio Ghislanzoni
Baseado na novela Masaniello, de Charles Jean-Baptiste Jacquot

Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Mia Piccirella
Ato I – 03 Vero Figliuol do Napoli
Ato I – 04 All’armi! Addio Io Vuol!
Ato I – 05 Forma sublime, etérea
Ato I – 06 Salvator! Celaveti Figute
Ato I – 07 Via l’arte e l’alegria
Ato I – 08 Delle truppe rispondi
Ato I – 09 Padre, a te il grido innalzasi
Ato I – 10 Quel dolce resguardo m’ha beato il cor!
Ato II – 11 È desso! È proprio desso!
Ato II – 11 È desso! È proprio desso!
Ato II – 13 Di Masanielo il mensagier
Ato II – 14 Sulle rive della Chiaia… L’acento dell’amor
Ato II – 15 Per questa augusta imagin del Dio
Ato II – 16 A festa! A festa!
Ato II – 17 Poichè vi piace udir
Ato II – 18 Largo! Largo a Masanielo
Ato II – 19 Povero Nacqui, e ai perfidi
Ato II – 20 Viva! Viva! Su! Accorriamo!
Ato II – 21 Dov’è l’eroe del popolo
Ato III – 22 Le tazze Colmiamo
Ato III – 23 Strane parole mormorar le intensi
Ato III – 24 Di quelle sale il lezzo uccide
Ato III – 25 Là sù quel fragil legno
Ato III – 26 Si cerchi Masanielo
Ato III – 27 D’aura di luce ho d’uopo
Ato III – 28 Alla infelice suora sol rea d’amor
Ato III – 29 Sola il mio bianco crine
Ato IV – 30 Serenata
Ato IV – 31 Purchè ci sia del vino
Ato IV – 32 Al Ballo alle mense la notte
Ato IV – 33 Salvator! Libero sei!
Ato IV – 34 Ah! Ti trovo, Gennariello!
Ato IV – 35 Padre, in quela chiesa una strage si compie

Salvator Rosa – Benito Maresca, tenor
Isabella – Nina Carini, soprano
Masaniello – Paulo Fortes, barítono
Gennariello – Ruth Staerke, soprano
Duca d’Arcos – Edilson Costa, baixo
Conde de Badajoz – Aguinaldo Albert, tenor
Fernandez – Ayrton Nobre, tenor
Corcelli – Wilson Carrara, baixo
Bianca – Leyla Taier, soprano
Soror Ines – Leyla Taier, soprano
Fra Lorenzo – Boris Farina, baixo

Orquestra e Coro do Theatro Municipal de São Paulo
Simon Blech, regente
Theatro Municipal de São Paulo, 1977

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Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (4) Fosca (1997-Malheiro) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Estou ficando até sem graça de escrever isso sempre, mas não dá pra deixar de dizer: é IM-PER-DÍ-VEL!!!
Quando se aproximaram os anos para se completar o centenário de morte de Antonio Carlos Gomes (em 1996), ocorreram vários eventos, como o conjunto “A Música e o Pará”, que postamos no ano passado aqui, aqui, e aqui, e as montagens meticulosamente bem acabadas realizadas na Bulgária de Il Guarany, sob a batuta de Julio Medaglia, e de Maria Tudor e Fosca, estas sob a regência do competente Luís Fernando Malheiro.
Por essa época houve, no Brasil, um convênio com a Bulgária para megalômanas montagens aqui na terrinha da ópera Aída, de Verdi, com seus cenários gigantes, trazidos do país do Leste Europeu (foi executada em locais imensos: estádios e pedreiras de Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, São Paulo e Campinas). O intercâmbio rendeu frutos e nos anos que se seguiram, os búlgaros puderam conhecer as óperas de Carlos Gomes, tendo o conterrâneo Plamen Kartaloff como regisseur, músicos e solistas de sua terra e as regências sob a responsabilidade de grandes maestros brasileiros. Essas apresentações foram de enorme êxito e se registraram em CDs, dos quais temos esta Fosca para vos apresentar (mais pra frente teremos também a Maria Tudor de Malheiro)!
O que dizer desta montagem? Inevitavelmente vou compará-la com a de Armando Belardi, realizada por ocasião do centenário da peça, em 1973 (e que você pode conferir aqui). A versão de Belardi, creio que a primeira gravação mundial da ópera, é histórica, heróica e, também de alta qualidade: a orquestra a executa muito bem e foram reunidos alguns dos melhores solistas do país naquele tempo. Porém, eu tendo a gostar mais desta montagem de Malheiro por alguns motivos superficiais, como a melhor captação de som e a sua limpeza, sem os espocados do vinil (podem me tachar de insensível, mas prefiro sem os ruídos do bolachão); e por motivos musicais, mesmo: os solistas são tão bons quanto os da versão brasileira e a orquestra tem melhores cordas, o que não desabona a nacional, apenas constata uma característica dos grupos do Leste Europeu: a perfeição dos naipes de cordas. Se os aqui são bons, os de lá, sou forçado a admitir, são impecáveis.
Em suma, Fosca é uma ópera belíssima, é a melhor de Carlos Gomes e esta é a melhor montagem!
Ah, semana que vem teremos Salvator Rosa, a ópera mais conhecida de Carlos Gomes na Itália.
Confira! Não deixe de ouvir!

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Fosca (1873)
Libreto: Antonio Ghislanzoni,
Baseado em Le Feste delle Marie: Storia Veneta del Secolo X, de Luigi Capranica

Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Coro e Scena – Buon di, compagni
Ato I – 03 Scena – Salute al capitano
Ato I – 04 Preghiera – Fratel, da, un fascino
Ato I – 05 Stretta e Scena – Ah Crudeli
Ato I – 06 Aria – D’amore l’ebbrezze
Ato I – 07 Scena e Duetto – Cara citta natia
Ato I – 08 Finale Primo – Scena e Terzettino – La tua rivale odiata
Ato II – 09 Atto Secondo – Scena d’amore e duettino – Soli, del mondo immemori
Ato II – 10 Dialogo e Canzone – Io vengo dai mondi
Ato II – 11 Terzetto – Mirate questa collana
Ato II – 12 Scena e frase – Bel cavaliero… sposa gentile
Ato II – 13 Duettino – Gia troppo al mio supplizio
Ato II – 14 Aria – Quale orribile peccato
Ato II – 15 Marcia e Coro Nuziale
Ato II – 16 Finale Secondo – Pezzo Concertato – Pazza! Pazza! É ver!
Ato III – 17 Atto Terzo – Scena ed Aria – Ad Ogni Mover Lontan di Fronda
Ato III – 18 Scena e Duetto – Orfana e Sola
Ato III – 19 Coro di Corsari – Dei Due Mente
Ato III – 20 Scena e Duetto – Tu La Vedrai Negli Impeti
Ato IV – 21 Scena del Consiglio e Strofe – Son Capitano
Ato IV – 22 Invettiva – Coro – Di Venezia la Vendetta
Ato IV – 23 Scenetta – Ti Allegra, o Giovane
Ato IV – 24 Romanza – Ah! Se Tu Sei Fra Gli Angeli
Ato IV – 25 Gran Scena – Alfin Tremanti e Supllici
Ato IV – 26 Quartetto – Scena Finale – Non M’Aborrir, Compiangimi

Fosca, pirata da Ístria – Gail Gilmore, soprano
Paolo, capitão veneziano – Roumen Doykov, tenor
Delia – Kassimira Stoyanova, soprano
Cambro, escravo de Gaiolo – Niko Issakov, barítono
Gaiolo, irmão de Fosca – Svetozar Ranguelov, baixo
Doge de Veneza – Stoil Gueorguiev, baixo
Michele Giotta, pai de Paolo – Peter Bakardzhiev, baixo

Sophia National Opera Orchestra
Sophia National Opera Choir
Luís Fernando Malheiro, regente
Plamen Kartaloff, regisseur (diretor)
Sofia, 1997

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Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (4) Fosca (1973-Belardi) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Mais uma que é IM-PER-DÍ-VEL: a gravação histórica comemorando o centenário da ópera Fosca, com grandes nomes nacionais do canto lírico.
Chegou a vez de apresentarmos a vocês Fosca, a ópera que sempre foi a queridinha de Antonio Carlos Gomes, a que ele considerava ser sua melhor obra. E grande parte dos estudiosos concordam com isso.
Tudo conspirava a favor: sua primeira grande ópera nas terras europeias tinha sido um enorme sucesso e alguns compositores, como Ponchielli, chegavam a consultá-lo na montagem de suas obras, ele adquiria prestígio e se tornava referência para muitos músicos. Além disso, Gomes tinha ganhado muito dinheiro e, exibicionista, mandara construir um palacete nos arredores de Milão (a Villa Brasilia, ainda existente, hoje um conservatório) e acabava de se casar com uma delicada e jovem pianista, Adelina Peri.
Carlos Gomes estava feliz e se sentia seguro para escrever uma peça já com um enredo italiano. Seu contato com o libretista de renome Antonio Ghislanzoni (que escrevia para nada menos que Verdi) lhe rendeu uma história que ainda tinha uma ponta de exotismo: tendo como pano de fundo um ataque de corsários a Veneza, mostra o dilema da protagonista, Fosca (uau! uma mulher pirata) que, ao perceber que seu amor pelo capitão veneziano Paolo, seu refém na Ístria, não é correspondido, comete suicídio, envenenando-se (ih, contei o final!).
A ópera teve bom público e foi até bem aceita, embora não obtivesse o sucesso estrondoso de Il Guarany. Mas a crítica musical foi muito dura e, puritana e fechada aos padrões italianos, o acusou de wagnerianismo, vendo, na forma de orquestração e no uso mais destacado de leitmotiv da obra, uma espécie de sacrilégio.
Carlos Gomes, embora incompreendido, estava no auge: já compositor de renome, compunha sua obra tecnicamente mais complexa. Aqueles comentários da crítica sobre suas óperas anteriores, de que a qualidade entre as árias era oscilante, aqui já não podem ser aplicados: Fosca é obra redonda, muito bem acabada de uma orquestração bastante superior ao que Gomes tinha feito até então.

Lauro Machado Coelho nos conta um pouco mais da obra e sua qualidade técnica:
O estilo mais elaborado de orquestração e o uso de motivos recorrentes fizeram com que desta vez o compositor fosse acusado de “wagnerismo” (embora não possa haver duas personalidades mais dissemelhantes no mundo da música). A ópera foi também prejudicada pelo fato de Kraus [intérprete de Fosca na estreia da ópera], de tipo físico atarracado e pouca desenvoltura em cena, ser incapaz de projetar uma personagem título forte, selvagem, que não hesita em se destruir na tentativa de obter o que deseja. Mas, principalmente, o Guarany tinha criado uma expectativa que a Fosca não preenchia, justamente por ser mais bem escrita do que a média dos espetáculos da época, e por não fazer concessões ao gosto popular. No Perseveranza, em 18 de fevereiro, Filippo Filippi foi muito elogioso, ressaltando a originalidade da partitura e não hesitando em afirmar que ela era superior ao Guarany “como música, como obra de arte e como drama musical”. E protestava contra “esses senhores que ouvem a música em pé, nos vestíbulos, de costas para o palco, e escutando a música por alto, [e depois] decretam que não há novidade, nem melodia, nem efeito… decretos inapeláveis que não posso admitir.”
A Fosca não chegou a ser um fracasso, como já se quis afirmar. Mas não foi tampouco a repetição do sucesso retumbante do Guarany, que Carlos Gomes desejara. (…) O que é uma pena, pois, musicalmente, Fosca é a ópera mais bem acabada de Carlos Gomes. O libreto de Ghislanzoni não chega a ser grande coisa. Embora forneça ao compositor as situações costumeiras que lhe permitem escrever números eficientes.
Portanto, se há deficiências no libreto, a música as supre amplamente – e este não é o primeiro caso na ópera italiana. A Fosca é a obra de um compositor confiante, animado com o sucesso, que está vivendo uma fase feliz, e sente-se com coragem para experimentar formas incomuns nos teatros italianos. Em trechos como o dueto “Già troppo al mio suplizio”, do ato II, Carlos Gomes entrelaça ousadamente melodias independentes, criando ricos efeitos polifônicos; e escreve cenas de conjunto bastante complexas, a mais imponente das quais é a do final da ópera. O comentário orquestral é muito trabalhado, com o uso de motivos recorrentes. Mas à maneira melódica verdiana, sem o desenvolvimento sinfônico do modelo wagneriano. O estilo de declamação é bastante livre. Quando a protagonista exclama: “Pazza!… pazza!… è ver!… Oh quale orror… son pazza!… Ira… dolore… amore… tutto è folia…”, as indicações para a cantora pedem, de uma palavra para a outra praticamente, mudanças de dinâmica e estilo de canto de uma flexibilidade surpreendente: parlato, interroto, convulso… cantabile grandioso e con forza… parlato piano… agitato forte… dolce piano… ritenuto pianissimo… Essa declamação, que transita constantemente do parlato para o arioso, e dali para o cantabile, contribui para tornar as fronteiras entre os números menos definidas, o que resulta em cenas construídas com blocos mais contínuos. É de Julian Budden o comentário: “Fosca contém, em seu ato II, o concertato final mais complexo antes do ato III do Otello.” E mesmo os números fechados recebem tratamento original, que os distancia da média das árias da época, em que se repetem as receitas de efeito comprovado da tradição. É o caso de “Quale orribile peccato” (Fosca, ato II), “Ad ogni mover lontan di fronda” (Délia, ato III), ou “Ah, se tu sei fra gli angeli” (Paolo, ato IV)
(Lauro Machado Coelho)

Suas obras posteriores manteriam também qualidade que Carlos Gomes atingiu em Fosca. Esta, de sua parte, é mais densa, mais escura e mais pesada que sua predecessora Il Guarany. E melhor, mais elaborada. Temos aqui, sem sombra de dúvida, um grande compositor!
Desligue tudo que há de ruidoso na sua casa, dê-se um tempo e ouça!

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Fosca (1873)
Libreto: Antonio Ghislanzoni,
Baseado em Le Feste delle Marie: Storia Veneta del Secolo X, de Luigi Capranica

Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Coro e Scena – Buon di, compagni
Ato I – 03 Scena – Salute al capitano
Ato I – 04 Preghiera – Fratel, da, un fascino
Ato I – 05 Stretta e Scena – Ah Crudeli
Ato I – 06 Aria – D’amore l’ebbrezze
Ato I – 07 Scena e Duetto – Cara citta natia
Ato I – 08 Finale Primo – Scena e Terzettino – La tua rivale odiata
Ato II – 09 Atto Secondo – Scena d’amore e duettino – Soli, del mondo immemori
Ato II – 10 Dialogo e Canzone – Io vengo dai mondi
Ato II – 11 Terzetto – Mirate questa collana
Ato II – 12 Scena e frase – Bel cavaliero… sposa gentile
Ato II – 13 Duettino – Gia troppo al mio supplizio
Ato II – 14 Aria – Quale orribile peccato
Ato II – 15 Marcia e Coro Nuziale
Ato II – 16 Finale Secondo – Pezzo Concertato – Pazza! Pazza! É ver!
Ato III – 17 Atto Terzo – Scena ed Aria – Ad Ogni Mover Lontan di Fronda
Ato III – 18 Scena e Duetto – Orfana e Sola
Ato III – 19 Coro di Corsari – Dei Due Mente
Ato III – 20 Scena e Duetto – Tu La Vedrai Negli Impeti
Ato IV – 21 Scena del Consiglio e Strofe – Son Capitano
Ato IV – 22 Invettiva – Coro – Di Venezia la Vendetta
Ato IV – 23 Scenetta – Ti Allegra, o Giovane
Ato IV – 24 Romanza – Ah! Se Tu Sei Fra Gli Angeli
Ato IV – 25 Gran Scena – Alfin Tremanti e Supllici
Ato IV – 26 Quartetto – Scena Finale – Non M’Aborrir, Compiangimi

Fosca, pirata da Ístria – Ida Miccolis, soprano
Paolo, capitão veneziano – Zaccaria Marques, tenor
Delia, noiva de Paolo – Agnes Ayres, soprano
Cambro, escravo de Gaiolo – Constanzo Mascitti, barítono
Gaiolo, irmão de Fosca – Mario Rinaudo, baixo
Doge de Veneza – Benedito Silva, baixo
Michele Giotta, pai de Paolo – Sebastião Sabié, baixo

Orquestra e Coro do Teatro Municipal de São Paulo
Armando Belardi, regente
São Paulo, 1973

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Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (3) Il Guarany (1994-Neshling/Domingo) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Il Guarany é a ópera mais conhecida de Antonio Carlos Gomes e também a mais executada e mais gravada, embora não seja a melhor delas. Isso não significa de forma alguma que ela seja ruim, muito pelo contrário: o sucesso estrondoso que teve na Itália e no Brasil refletem que ali havia um compositor que conseguia trazer algo de novo à fórmula já batida da ópera italiana e que veio dar ares renovados e mais fôlego ao formato.
Interessante é perceber que Carlos Gomes chega à Itália sem os preconceitos musicais que tinham os compositores daquela terra: a insinuação de uma forma de leitmotiv, utilizando-se da abertura para indicar trechos de árias que aparecerão posteriormente para criar uma unidade, é uma característica comum às óperas alemãs, coisa à qual os milaneses tinham uma certa aversão (e que deu certo nesse caso: foi muito bem recebida). O mesmo ocorria com alguns instrumentos de sopro que Gomes inseria na orquestração, também de matriz alemã. Mas o que esperar de um compositor criado dentro da banda marcial do pai em Campinas, cidade já influenciada pela cultura alemã (à época um dos maiores centros atratores de imigrantes teutos para o Brasil, que iam trabalhar nas fazendas de café)?
Em sua ópera seguinte, Fosca, Gomes abusou de inovações, aproximando-se mais da escola alemã. Acabou desagradando público e crítica, mas isso vocês verão na postagem de daqui a sete dias…
Mantenho aqui o belo texto do CVL que postou originalmente essa peça com observações muito sensatas, embora bastante pessoais:

Tenho pouquíssima afinidade por óperas (parece todos os meus manos de consideração também, pois atinei que poucas são disponibilizadas aqui – geralmente, barrocas ou wagnerianas), mas já estava na hora de postar uma nacional. E nada melhor do que começar com o carro-chefe de todas elas. Só que não sei o que dizer: não me vem a menor inspiração para fazer um texto legal, para instigar vocês a baixar O guarani. Também não quero escrever o que vocês vão achar escrito em qualquer outro lugar.
Posso dizer somente que, tirando a Protofonia (muito lenta para o que estamos acostumados), a gravação é “prestável”. O álbum foi muito vendido e é tido como referência (por Sylvio Lago em Arte da regência, p. ex.), embora eu não o ache para tanto. Bom será para os mais iniciantes identificar como os temas da referida Protofonia/Sinfonia, escrita meses depois da estréia, aparecem ao longo do drama – em especial o tema principal, que funciona como um leitmotiv [a tal característica alemã].

Confesso que gosto mais da primeira versão, a antigona, regida por Armando Belardi. Aqui algumas peças estão mais lentas e a soprano que interpreta Ceci, Veronica Villaroel, é muito competente, mas fiquei mal acostumado com a leveza inumana da voz de Niza de Castro Tank e, talvez por isso, não me deslumbre tanto com a solista chilena… Mas há a precisão da batuta de John Neshling, com o som límpido que lhe é característico, e a voz marcante de um dos grandes tenores do século, Plácido Domingo, que valem demais a audição.

Por fim: muito bom! Não deixe de ouvir!
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Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Il Guarany (1870)
Libreto: Antônio Scalvini
Baseado no romance homônimo de José de Alencar

Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Scorre il Cacciator
Ato I – 03 L’idalgo vien + Gentile di cuore’
Ato I – 04 Cecilia, esulta, Reso ai nostro lari + Salve, possente Vergine
Ato I – 05 Che brami + Sento una forza indômita
Ato II – 06 Son giunto in tempo + Vanto io pur superba cuna
Ato II – 07 Ecco la grotta del convegno + Serpe vil
Ato II – 08 Udiste + L’oro è un ente sì Giocondo
Ato II – 09 Ebben, miei fidi + Senza tetto, senza cuna
Ato II – 10 Oh, come è bello in ciel!+ C’era una volta un príncipe
Ato II – 11 Tutto è silenzio + Donna, tu forse l’única
Ato II – 12 Miei fedeli + Vedi quel volto lívido
Ato III – 13 Aspra, crudel, terribil
Ato III – 14 Canto di guerra + Giovinetta, nello sguardo
Ato III – 15 Qual rumore + Or bene, insano
Ato III – 16 Tu, gentil regina + Il passo estremo omai s’appresta
Ato III – 17 Ebben, che fu + Perché di meste lagrime
Ato III – 18 Morte! + O Dio degli Aimorè
Ato III – 19 Che fia + Sorpresi siamo
Ato IV – 20 Né torna ancora + In quest’ora suprema
Ato IV – 21 No, traditori + Gran Dio, che tutto vedi
Ato IV – 22 Padre! + Con te giurai di vivere

Pery – Placido Domingo, tenor
Cecilia – Veronica Villaroel, soprano
Gonzalez – Carlos Alvarez, barítono
Don Antonio de Mariz – Hao Jiang Tian, baixo
Don Alvaro – Marcus Haddock, tenor
Cacique – Boris Martinovic, baixo
Ruy Bento – Graham Sanders, barítono
Alonso – John-Paul Bogart, tenor
Pedro – Pieris Zarmas, baixo

Chor und Extrachor der Oper der Stadt Bonn,
Orchester der Beethovenhalle Bonn
John Neschling, regente
Bonn, 1994

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (168Mb – 2CD, cartaz, info e resumo da ópera)

Ouça! Deleite-se!

 

CVL
revalidado/recauchutado por Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (3) Il Guarany (1959-Belardi) [link atualizado 2017]

184 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

 

Duplamente IM-PER-DÍ-VEL
Nesse dia histórico (marquem aí na agenda: 19 de janeiro de 2012), nós, do P.Q.P.Bach conseguimos disponibilizar para vocês a fantástica, megalômana, inoxidável, esfuziante e histórica primeira gravação mundial de Il Guarany, de nosso grande operista Antônio Carlos Gomes, realizada em 1959, sob a batuta de Armando Belardi. Foi esse o primeiro registro integral de uma ópera de Gomes. Todas, exceto Joanna de Flandres, viriam depois. O Guarani, a mais popular das obras gomianas, seria também a mais registrada. Há coisa de sete gravações (três mais conhecidas: 1959-Armando Belardi, 1996-Julio Medaglia e 1994-John Neshling, com Plácido Domingo, que revalidaremos na semana que virá).
Nhô Tonico, já vivendo em Milão, conseguiu ingressar no concorridíssimo e prestigioso Conservatório da cidade. Por ser aluno de grande talento, não demorou para que passasse a ter aulas particulares com o diretor, o também compositor Lauro Rossi. Naquela cidade, o centro da ópera no mundo, a qual poucas cidades faziam frente, compôs duas operetas, uma em 1866 e outra em 1868, ambas com razoável sucesso.
Tornou-se amigo do libretista Antonio Scalvini, a quem chamou para adaptar a obra de José de Alencar. Era um sonho já antigo de Carlos Gomes, que aspirava transformar em ópera o romance entre o índio Peri e a bela moça europeia Ceci, desde que O Guarani foi publicado em forma de folhetim na imprensa carioca de fevereiro a abril de 1857. Ele já comentara com seu mestre no Rio, Francisco Manoel da Silva (nada mais, nada menos que o autor de nosso Hino Nacional, o maior compositor vivo no Brasil de então, após a morte do padre Nunes Garcia e a ida de Neukomm para Paris) que essa história produziria a grande ópera nacional. Com bolsa do governo na Itália, Il Guarany foi uma forma também de demonstrar retorno ao investimento que fizeram nele, expondo o Brasil lá fora.
Il Guarany começou com tudo: estreou no Alla Scalla, principal teatro de Milão, com um sucesso estrondoso. Não era para menos, pois a ópera unia vários fatores interessantes: um compositor de uma terra exótica, o Brasil, um enredo também exótico sobre indígenas, árias muito bem construídas e bons intérpretes. A curiosidade dos italianos pelo exotismo da peça aliada à facilidade de Gomes de compor belas melodias levou Carlos Gomes ao estrelato. Tonico atingia uma fama tal que nenhum artista das Américas tinha conhecido ainda. Essa onda de exotismo já vinha atingindo a Europa, em uma febre que tinha origem na França e chegava na Itália, com as produções operísticas como as indianas Lakmé (Delibes) e Os Pescadores de Pérolas (Bizet) ou A Africana (Meyerbeer), ou até mesmo a egípcia Aida (Verdi), que estava sendo composta quando Il Guarany estreou.

“Nas mãos de Scalvini e D’Ormeville (libretista francês que auxiliou Scalvini), Il Guarany sofreu diversas modificações em relação a Alencar. Desapareceram algumas personagens: Diogo de Mariz, o irmão de Cecília, e Isabel, a filha bastarda de Dom Antônio. Loredano – na verdade o religioso renegado frei Angelo di Luca – foi transformado no aventureiro espanhol González, decerto para não ferir a susceptibilidade dos italianos, que não gostariam de ver um compatriota como vilão. Surgiu o cacique dos aimorés, que se apaixona por Ceci; e chegou-se a pensar numa filha desse cacique, que se enamoraria de Peri – mas a idéia não foi adiante. Para a estréia, em 19 de março de 1870, no Teatro alla Scala, Carlos Gomes ainda não tinha escrito a abertura. Havia um Prelúdio de construção bem mais simples.
O cenógrafo era Carlo Ferrario e o figurinista, Luigi Zamperoni. As ilustrações da época demonstram que ambos executaram um belíssimo trabalho. Francesco Villani e Maria Sass interpretavam o índio Pery e a portuguesinha Ceci; Enrico Storti fazia o aventureiro González. O Cacique marcou a estréia italiana do futuro criador de Iago e Falstaff: o barítono francês Victor Maurel, na época com apenas 22 anos. Eugenio Terziani era o regente da estréia. (...) Pela ópera, o compositor seria também condecorado, na Itália, em 20 de março, como Cavaleiro da Coroa; e no Brasil, em 30 de novembro, com a Ordem da Coroa.
O novo e o pessoal estão presentes em Il Guarany, e de forma que não é apenas aparente. Se não há motivo, como quer Leo Laner, para que se supervalorize a obra mais conhecida de nosso compositor, é também injusta a afirmação de Wilson Martins, no terceiro volume da História da Inteligência Brasileira, de que ela “é o triunfo enganador de fórmulas musicais esgotadas”. Contestando essa opinião, Marcus Góes pergunta:
“Seriam uma fórmula esgotada na ópera italiana a utilização de melodias modinheiras, os ritmos em síncope, os acordes e escalas de sétima diminuída à moda da música popular brasileira da época, a fuga a modelos de números fechados, as combinações tímbricas das marchas do terceiro ato, os acompanhamentos plangentes em quiálteras alternadas e tudo o que vimos na análise musical acima feita?”
A análise musical a que Góes se refere é o levantamento que ele faz, nas pp. 110-127 de seu estudo, ao qual remeto o leitor, dos “inúmeros exemplos de música de notória origem e inspiração brasileiras, espalhados por toda a partitura, ora de modo facilmente perceptível, ora embutidos nos comentários da orquestra em fugazes citações”. Góes elenca, por exemplo, o “acentuado sabor modinheiro” do trecho “Poi s’averrà un lieto dì risciogliere il voto sugli altar”, cantado por Don Antônio, Alvaro e Ceci; ou do famoso “Sento una forza indomita”, de Peri. Ressalta a origem brasileira de um maneirismo típico de Gomes, as quiálteras no acompanhamento, que dão ao ritmo um aspecto quebradiço, citando o “La natura e Dio t’ispirino un lamento che, gemendo, risponda al mio tormento!” E observa que, “na introdução da balada de Ceci, no ato II, o allegro brillante em 6/8 é de fazer inveja a um violeiro de seresta, preparando o seu ‘pinho’.” Chamando também a atenção para o fato de que os achados de Gomes inspirariam compositores italianos da época, Góes traça paralelos entre trechos do Gauarany e passagens na obra de Ponchielli. E dá especial importância ao fato de que:
“Em O Guarani, CG ‘abre’ o discurso musical em benefício da ação dramática, ou seja, não a bloqueia em números fechados tipo recitativo-ária-cabaletta. O compositor, ávido de demonstrar sua capacidade – uma real capacidade, diga-se – é absolutamente genial na fragmentação do discurso musical, através de melodias curtas e incisivas, de rápidas citações orquestrais, no uso constante de modulações inesperadas, na busca de ritmos em síncope – no que era mestre, inclusive por serem típicos esses ritmos da música popular que se fazia no Brasil –, na exploração constante da variedade tonal. Não era isso que Boito e os intelectuais da época queriam?” (Lauro Machado Coelho)

Depois de tudo isso, que mais posso dizer?
Apenas, que aprecie esta gravação que tem, claro, todas as limitações de um registro de mais de 60 anos atrás, mas feita com capricho. Que conhece outras gravações, perceberá que, talvez para caber no disco, algumas partes de recitativos foram cortadas, mas nada que nos deixe perder o contexto e o clima.
Os solistas são muito bons, mas sou forçado a achar que a soprano Niza de Castro Tank rouba a cena, pois a partitura pede uma soprano lírico-coloratura como ela. Sua voz é tão leve, parece uma flauta… Não vi ainda outra intérprete de Ceci com agudos tão fáceis como os dela…
Ah, faltou dizer: Carlos Gomes já era compositor maduro, mas melhoraria muito mais nas obras seguintes. Com Il Guarany atingiu o auge: era jovem, bem-sucedido, amado, tudo estava dando certo. Depois teria vários problemas, atingiria grandes sucessos, mas nunca mais o mesmo.

Ah, chega de falar! Ouça! Ouça! Ouça! Ouça!

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Il Guarany (1870) (1870)
Libreto: Antônio Scalvini
Baseado no romance homônimo de José de Alencar

Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Scorre il Cacciator
Ato I – 03 Diálogo e entrada de Perí
Ato I – 04 Gentile di Cuore
Ato I – 05 Sento una Forza Indómita
Ato I – 06 Ave Maria
Ato II – 07 Vanto Io Pur – Ária de Perí
Ato II – 08 L’oro è une ente si Giocondo
Ato II – 09 Senza tetto senza cuna
Ato II – 10 C’era una volta un príncipe
Ato II – 11 Tutto é silenzio – Concertato
Ato III – 12 Aspra, Crudel
Ato III – 13 Bailado
Ato III – 14 Canto di Guerra
Ato III – 15 Canto di Guerra
Ato III – 16 Or Bene, Insano
Ato III – 17 Il Passo Estremo
Ato III – 18 Perché di Mestre Lagrime
Ato III – 19 Dio degli Aymoré
Ato IV – 20 In quest’ora suprema – Con te Giurai di vivere – Ferma, Olá!
Ato IV – 21 No, Traditori – Cena do Batismo

Pery – Manrico Patassini, tenor
Cecilia – Niza de Castro Tank, soprano
Gonzalez – Lourival Braga, barítono
Don Antonio de Mariz – José Perrota, baixo
Don Alvaro – Paschoal Raymundo, tenor
Cacique – Juan Carlos Ortiz, baixo
Ruy Bento – Roque Lotti, tenor
Alonso – Waldomiro Furlan, baixo

Orquestra e Coro do Teatro Municipal de São Paulo
Armando Belardi, regente
São Paulo, 1959 – primeira gravação mundial

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – (153Mb – 2CD, cartaz, info e resumo da ópera)

Ouça! Deleite-se!

 

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (2) Joanna de Flandres (trechos) [link atualizado em 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes


Joanna de Flandres foi a segunda ópera de Antônio Carlos Gomes. Trabalho de fôlego para o rapaz ainda moço, que contava com 27 anos na sua estreia. Depois do grande sucesso da primeira, Carlos Gomes resolveu manter a fórmula (em time que está ganhando não se mexe…): uma nova história que se passa em castelos e no tempo das Cruzadas. Se deu certo na primeira vez, haveria de dar certo novamente. E deu. Um novo e grande sucesso do aluno do Conservatório da Escola de Bellas Artes, que via sua fama aumentar cada vez mais.
Havia aqui e ali alguns deslizes, diziam ser o primeiro ato muito longo (ocupa metade de toda a ópera) e depois a história parecia correr muito rapidamente, havia algumas inconstâncias. Porém, Gomes já estava mais afiado com esse formato que ainda lhe era recente (sua primeira ópera estreara havia dois anos, somente), aprendia sempre e refinava sua composição.

Lauro Machado Coelho, conta-nos um pouco sobre a ópera:

Devido a adiamentos na produção, Joana de Flandres, prevista para estrear em 10 de setembro de 1863, só subiu à cena no dia 15. O libreto original, do jornalista Salvador de Mendonça, também se passa no tempo das Cruzadas e conta a história de Joana, apaixonada pelo libertino trovador Raul de Mauleon. Ela acusa de impostor o próprio pai, o conde Balduíno, que volta da Terra Santa após muitos anos de ausência, pois não quer lhe devolver o trono, no qual pretende instalar o amante. Theresina Bayetti, Giuseppe Mazzi e Acchile Rossi, regidos por Carlo Bossoni, criaram essa segunda ópera.
A marca verdiana ainda é forte: Conati chama a atenção para a analogia entre a cavatina “Foram-me os anos da infância” e a ária de Elvira no ato I do Ernani. Mas Luiz Heitor já vê nesta partitura acentos mais pessoais, identificando traços quase schubertianos nas modulações do “prodigioso melodismo” do jovem compositor. Uma certa flutuação básica, porém, que haveria de marcar toda a obra do compositor, foi percebida, na Joana de Flandres, pelo crítico do Jornal do Commercio que, em 17 de setembro, escrevia:
“Tem ele muita facilidade e espontaneidade na composição; essa mesma facilidade, contudo, o faz às vezes descer da altura em que poderia manter-se e cai, aqui e ali, no trivial”.

Carlos Gomes, ainda assim, atingiu enorme sucesso com sua segunda ópera e, se a primeira peça do gênero não foi suficiente para que ele conseguisse a almejada bolsa de estudos no exterior, foi Joanna de Flandres que provou ser ele um compositor de gabarito, acima do nível dos demais de sua terra e de seu tempo, e que lhe garantiu as bênçãos do Imperador para a concessão da bolsa. Gomes mudava-se para Milão no ano seguinte.

A carreira italiana de Carlos Gomes inicia-se em 1864, quando ele chega a Milão com uma bolsa de 1:800$000 que lhe fora concedida pelo governo brasileiro. Essa escolha era do agrado de D. Pedro II, que admirava seu talento. O imperador deu o seu placet ao nome do campineiro, indicado a Tomás Gomes dos Santos – diretor da Academia de Belas Artes, de que dependia o Conservatório – como o mais talentoso aluno daquela escola, merecedor de “fazer seus estudos em qualquer conservatório da Itália”. Para que se tenha uma idéia do que representava, na época, esse valor, basta lembrar que 800$000 era a renda anual que um cidadão precisava comprovar, se quisesse candidatar-se a senador do Império; e 400$000, caso almejasse a uma cadeira de deputado. Para que lhe fosse concedida bolsa tão liberal, contribuiu o sucesso de suas duas primeiras óperas.

O caminho de sucesso de Carlos Gomes estava se alinhando. Depois das operetas “Nella Luna” e “Se as minga”, já compostas em Milão, estrearia a ópera que o levaria ao estrelato: Il Guarany, mas essa fica para a semana que vem…

Infelizmente, Joanna de Flandres nunca foi gravada na íntegra ou, se há tal gravação, se perdeu em um número pequeno de cópias que não nos alcançou. Algumas partes dela, porém, foram executadas aqui e al, por orquestras e intérpretes variados. Logo, estes arquivos que disponibilizamos não são um CD, mas uma reunião do que já foi gravado dessa ópera, que, após sua esteia, só foi novamente executada em 2005, no Teatro Alpha, porém, sem a gravação do CD que se havia planejado na ocasião.
Do pouco desta peça que aqui temos para mostrar-vos, já se percebe uma grande qualidade na composição de Carlos Gomes, especialmente na abertura da ópera e nas melodiosas árias de Joanna e de Raul.
Sem mais delongas, ouçamos a segunda e última ópera em português de Nhô Tonico!

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Joanna de Flandres (1863) – trechos reunidos
Libreto: Salvador de Mendonça

AtoI – 01 Abertura (A)
AtoI – 02 Cena e Racconto na Conjuração (B)
AtoI – 03 Cena e Cavatina de Joanna (B)
AtoI – 04 Cena e Canto Final Primeiro (B)
AtoI – 05 Quinteto Final (B)
AtoII – 06 Ária de Raul-Foi meu Amor um sonho (B)
AtoIII – 07 Intermezzo (C)
Bônus-AtoI – Cavattina de Joanna (A)
Bonus-AtoII – Ária de Raul-Foi meu Amor um sonho (D)

A
Niza de Castro Tank, soprano
Orquestra Sinfônica de Campinas
Cláudio Cruz, regente
Campinas, 2004

B
Joanna de Flandres – Julianne Daud, soprano
Raul de Mauleón – Fernando Portari, tenor
Humberto de Courtray – Paulo Szot, barítono
Balduíno – Savio Sperandio, baixo
Margarida de Flandres – Marcia Guimarães, soprano
Burg – Sérgio Weintraub, tenor
(Orquestra organizada para esta apresentação)
Regência Fabio Oliveira
Teatro Alfa, São Paulo, 2005

C
Orquestra do Festival do Centenário de Carlos Gomes
Andi Pereira, regente
Theatro da Paz, Belém, 1996

D
Juan Thibault , tenor
Orquestra Nacional da Rádio do MEC
Alceo Bocchino, regente
Campinas, 14 de Setembro de 1978

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (43Mb – faixas, cartaz, info e resumo da ópera)

Ouça! Deleite-se!


caricatura de Carlos Gomes by Stegun

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Óperas – (1) A Noite do Castelo [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antônio Carlos Gomes


Antes de mais nada, essa é IM-PER-Dí-VEL !!!

Bom, desejo a todos os nossos honrados usuários/frequentadores um maravilhoso 2012 e, para começar bem este Ano Novo, nada melhor que disponibilizarmos para vocês as óperas de Antônio Carlos Gomes.
E como é interessante manter uma ordem cronológica, pois se torna possível ver a evolução do compositor, vamos começar com a primeira ópera do mestre: A Noite do Castelo.
Aguardem: cada quinta-feira postaremos uma ópera de Nhô Tonico.

Carlos Gomes não compôs muitas óperas, não foi desses que faziam mais de uma peça dessa envergadura por ano. Em trinta anos, compôs apenas doze peças do gênero: oito óperas, três operetas (Se sa minga, Nella Luna e Telégrafo Elétrico) e um oratório (Colombo, que aqui incluiremos na categoria das óperas), ou seja, uma peça a cada 3 anos (tristemente, suas operetas e sua segunda ópera, Joanna de Flandres, nunca foram gravadas – me corrijam se eu estiver errado). Disso se depreende que Gomes levava tempo na composição, burilava as árias, as melodias, escolhia bons libretos.

A Noite do Castelo foi composta quando Carlos Gomes ainda era aluno do Conservatório da Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Como já mostrava talento, a pequena Campinas não conseguiu segurá-lo e o rapaz já alçava voos mais altos, já estava na capital do país. Pelo que historiadores afirmam, Tonico era um aluno brilhante e se destacava dos demais.
Ele vinha buscando há algum tempo um texto que o possibilitasse escrever uma boa ópera. Quando tomou contato com o poema de Antônio Feliciano de Castilho, logo procurou um libreto para a composição, encontrando o de Antônio José Fernandes dos Reis. E, quando começou a escrever a peça, enviou uma carta para seu pai, confiante: “Meu bom pai. Escrevo esta só para não demorar uma boa notícia. Afinal tenho um libreto. Foi extraído do poema de Castillo – A Noite do Castelo. Hoje mesmo começo a trabalhar na composição da ópera, prepare-se portanto, para vir ao Rio de Janeiro em 1861. Saudades muitas às manas e aos manos, principalmente ao Juca, abençoe-me como a seu filho muito grato. Carlos.” Realmente, a ópera nacional, com texto em português, estrearia no ano previsto e teria um enorme êxito. Carlos Gomes estava tão convicto da qualidade de sua música e do sucesso que dedicou a peça ao Imperador Pedro II (S.M.I = Sua Majestade Imperial). Com essa ópera e a seguinte, Joanna de Flandres, encenda dois anos depois, foi laureado com a bolsa de estudos que o levou a Milão, o centro do mundo operístico de então.

Sobre a música, não tive a petulância de escrever, pois há um excelente texto do crítico Lauro Machado Coelho, sobre a ópera, que transcrevo abaixo:
A Noite do Castelo (…) estreou em 4 de setembro de 1861, no Teatro Lírico Fluminense. A história de Leonor – dividida entre a paixão por Fernando e a promessa de fidelidade a seu noivo, Henrique, que partiu para as Cruzadas e ela crê morto há tempos – foi cantada por Luiza Amat, Andrea Marchetti e Luigi Marina, sob a regência de Júlio José Nunes. A música é muito influenciada por Donizetti, Bellini e, principalmente, Verdi. É Marcello Conati quem observa:
“Era inevitável que, diante da sua primeira experiência teatral, antes mesmo de proceder à busca de uma linguagem pessoal, Carlos Gomes se baseasse em estruturas já consolidadas e no âmbito de um gosto amplamente compartilhado pela público brasileiro daquela época. Dessas estruturas e desse gosto, a ópera verdiana representava a fase estilística mais avançada; era, portanto, perfeitamente natural que Gomes se voltasse principalmente para Verdi e, a partir de seu estilo, tencionasse medir as possibilidades expressivas da língua brasileira.”
Luiz Guimarães Jr. menciona, no Perfil Biográfico que redigiu de Carlos Gomes em 1870, o entusiasmo com que, aos quinze anos, o rapaz descobriu a partitura do Trovatore. Ora, é justamente dessa ópera a influência mais forte que Conati identifica na Noite do Castello, mostrando como a imprecação de Leonor, no último ato, “oferece evidentes analogias com o início do trio do ato I do Trovatore”. Mas adverte:
“O que importa realmente destacar, para além de eventuais analogias temáticas, é a particular predisposição de Gomes, que permanecerá constante no decurso de sua atividade como operista, a dinamizar o discurso musical, conforme as exigências da ação cênica; o sentido de seu tributo a Verdi deve ser, pois, considerado nesses termos, de funcionalidade dramática, que quer prevalecer sobre toda e qualquer pesquisa de caráter estilístico ou, mais simplesmente, lingüístico.”
Já existe, portanto, em embrião, um talento teatral seguro, embora, de uma maneira geral, sejam pouco originais os resultados artísticos obtidos, mesmo porque os estudos de escrita vocal, feitos no Conservatório do Rio de Janeiro, a partir de 1860, com seu professor de Composição, o italiano Gioacchino Giannini, fazem com que Carlos Gomes seja desajeitado ao musicar um texto em português.

Carlos Gomes estava aprendendo: era sua primeira ópera e muito mais viria nos anos que se seguiram. Veja! Conheça-o!

Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
A Noite do Castelo (1861)
Libreto: Antônio José Fernandes dos Reis
Baseado no poema narrativo de Antônio Feliciano de Castilho

CD1
Ato I – 01 Abertura CD1
Ato I – 02 Viva Fernando
Ato I – 03 Era Alta Noite
Ato I – 04 Nestes Sítios que viram minha Infância
Ato I – 05 Em Sono Plácido
Ato I – 06 Exulta Orlando
Ato I – 07 Desde Crianças se Amaram Ternos
Ato I – 08 Ímpios os Laços
Ato II – 09 Prelúdio
Ato II – 10 Oh, Sim! Sofri Cruéis Saudades
CD2
Ato II – 11 Onde Iria o Fantasma Ocultar-se
Ato II – 12 Quem eu sou
Ato II – 13 Onde Iria o Fantasma Ocultar-se
Ato II – 14 Pois se Tu eras Finado
Ato III – 15 Prelúdio
Ato III – 16 Já do Fundo do Abismo
Ato III – 17 Sobre os Restos de Fernando
Ato III – 18 Tu Fernando que adorei por filho
Ato III – 19 Henrique, Henrique
Ato III – 20 Basta, Mulher
Ato III – 21 Tu que a mim desde criança

Leonor – Niza de Castro Tank, soprano
Conde Orlando, pai de Leonor – José Dainese, barítono
Henrique, marido de Leonor – Luis Tenaglia, tenor
Fernando – Alcides Acosta, tenor
Ignez – Lucia Pessagno, mezzo soprano
Raymundo, servo – José A. Marson, barítono
Pajem – Fernando J. C. Duarte, baixo
Roberto – Personagem mudo

Orquestra Sinfônica de Campinas
Coral da UNICAMP
Coral da USP
Benito Juarez, regente
Campinas, 14 de Setembro de 1978

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (116Mb – 2CD, cartaz, info e resumo da ópera)

Ouça! Deleite-se!

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896) – A Música e o Pará (box 4 CDs) [link atualizado 2017]

175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes

Este é o primeiro post deste que vos fala (espero que tudo saia correto, até eu aprender a usar as ferramentas direito…) e, lendo os valorosos comentários sobre a Missa de Nossa Senhora da Conceição, vimos (toda a equipe do pqpbach se reuniu e confabulou) que seria injusto privá-los da coleção completa de A Música e o Pará. Assim, continuamos nossas comemorações pelos 175 anos de Carlos Gomes (até julho do ano que vem ainda dá pra festejar sem sair do número cabalístico) com um pouco mais deste graaaaande compositor.

Esta é uma pequena caixa de 4 CDs.
O 1º CD, sobre as obras da juventude, mostra que Carlos Gomes (chamado lá nas terras campineiras de Nhô Tonico, assim íntimo, quase como um parente próximo para seus habitantes) já se destacava desde moçoilo. Suas obras iniciais não podem ser consideradas simples: percebe-se nas aberturas e prelúdios deste álbum um compositor completo, antenado com movimentos do exterior, especialmente da música italiana (que, como se pode ver nas peças de outros compositores brasileiros da Colônia, sofria-se certa influência do Lácio). Enquanto muitos ainda estavam ligados ao classicismo, Carlos Gomes arriscava elementos do romantismo, com uma orquestração mais limpa e dramática. A belíssima missa, composta aos 23 anos, também guarda seus traços românticos e operísticos.

O 2º CD, dedicado às canções, perpassa toda a existência de Tonico, mostrando várias fases do compositor. Carlos Gomes compôs cavatinas e modinhas durante toda a sua vida, com um pé na música erudita e outro em músicas mais populares de seu tempo, o mesmo que ocorreu a vários compositores posteriores a ele e contemporâneos seus, como Radamés Gnattali (que compunha choros e peças orquestrais ao mesmo tempo) e Schubert… Eram músicas de salão, geralmente executadas em festas da alta sociedade, mas, diferentemente da forma simples das modinhas daquele tempo, as de Carlos Gomes apresentam estruturas um pouco mais complexas e coloraturas mais difíceis para o intérprete, saindo do lugar-comum e aproximando-as de árias operísticas. Além disso, o rapaz era poliglota: há peças em português, italiano e francês.

o 3º CD da coleção “A Música e o Pará” busca fazer um panorama dos vários tipos de peças que o compositor produziu para piano. Cabe aqui uma reflexão: os longos anos de execução radialística diária da abertura d’O Guarani em “A Voz do Brasil” solidificaram no imaginário brasileiro (que a ouve todo santo dia às 19 horas desde 1934) uma ideia errônea e simplista de que Carlos Gomes é daqueles compositores de uma só obra ou, no máximo, o autor de apenas uma ópera importante que fez sucesso no exterior. A massificação da Protofania difundiu, com certeza, seu nome pelos grotões do país mas, por outro lado, associou-o tão unicamente àquela obra que acabou por prejudicar a imagem de Gomes como compositor completo que era. E ele foi muito mais que um compositor de óperas: teve expressiva produção de canções, modinhas, polcas, hinos, cantatas, missas e peças instrumentais para banda, cordas e piano. As obras pianísticas são, depois das canções, as que ele compôs em maior número. Aqui se poderáouvir marchas, hinos, polcas, valsas, etc. Carlos Gomes não foi, como se poderá ver, nenhum Chopin: não elaborou estudos nem explorou as técnicas e possibilidades do instrumento ao seu extremo, pois nem era esse seu intuito. Suas obras de piano são mais leves e menos engajadas na exploração do intrumento em si como expressão. Nove das 14 peças aqui selecionadas se prestavam a apresentações em festas e recepções da alta sociedade, mais intimistas, da mesma forma as canções do CD 2 desta coleção. Foram compostas para momentos de confraternização e congraçamento. Há ainda 5 marchas e hinos-marchas, mais sérias e ligadas a eventos maiores. Se vê, aí, que o mesmo Carlos Gomes que fazia música para pequenos acontecimentos e festas de amigos estava também presente com seu trabalho em grandes obras (óperas), acontecimentos públicos e missas, denotando sua habilidade e versatilidade compossitiva.

Já o 4º CD, e último volume deste box A Música e o Pará (tá certo, não é um box, mas é mais elegante dizer que é), finalmente traz excertos de peças que tornaram o compositor campineiro célebre: as óperas. Como vimos tentando deixar bem explícito, Nhô Tonico não foi apenas um compositor operístico, foi muito mais que isso, mas, admitamos, nessa categoria que ele mais se destacou. No fim, todos os quatro CDs do conjunto foram muito bem organizados, abarcando as vertentes nas quais ele mais se dedicou (peças orquestrais, religiosas, canções, peças para piano e… óperas) e dão um panorama bastante justo do que Carlos Gomes produziu de música durante sua vida e este CD, o derradeiro, vai, como não se poderia deixar de mostrar do compositor, apresentar várias árias (e um coro) que abrangem toda sua produção operística. Das nove óperas que compôs (se considerarmos o oratório Colombo dentro dessa categoria), seis estão aqui representadas. É, então, possível ver como Gomes era bom melodista: suas árias são muito bonitas: o belíssimo dueto de Ceci e Peri, Sinto uma força indômita, fica ecoando na mente por dias, e não são menos tocantes as belas Foram os anos de infância, ou Oh, come splendido e Pavera il primo fior, além do dramático coro em Morte.
As peças apresentadas não estão com acompanhamento orquestral, mas com o piano se desdobrando em muitos instrumentos e, claro, solistas de alta categoria nas melodias.

É importante que se tenha em conta que a captação de som não é das melhores, ainda mais em se tratando de apresentações ao vivo (pode-se perceber gente tossindo em alguns trechos), mas o time de intérpretes é muito bom e garante a fiel qualidade de execução das obras. E ainda, dada a dificuldade de encontrarmos gravações de Carlos Gomes, esta se torna ainda mais valorosa.

Bom, chega de bla-bla-blá! Conheçamos mais um pouco do Nhô Tonico!

A Música e o Pará
Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)

CD 1 – Peças da Juventude
01. Prelúdio original da ópera Il Guarany
02. Abertura da ópera A noite do castelo
03. Intermezzo da ópera Joanna de Flandres
04. Prelúdio da opereta Se sa minga
05. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 1. Kyrie
06. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 2. Gloria
07. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 3. Laudamus
08. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 4. Domine Deus
09. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 5. Qui tollis peccata mundi
10. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 6. Qui sedes ad dexteram Patris
11. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 7. Cum Sancto Spiritu
12. Missa de Nossa Senhora da Conceição – 8. Gloria

Leila Guimarães, soprano
Alpha de Oliveira, soprano
Jean-Paul Franceschi, tenor
Piero Marin, barítono
Orquestra do Festival do Centenário de Carlos Gomes
Andi Pereira, regente
Teatro da Paz, Belém, setembro de 1996.

CD 2 – Canções
01. Lo Sigaretto
02. Giulietta mia
03. Tu m’ami
04. Io ti vidi
05. Lontana
06. Fra cari genitori
07. Rondinella
08. Realtà
09. Addio
10. Canta ancor
11. La preghiera dell’orfano
12. Qui pro quo
13. Dolce Rimprovero
14. La regata
15. Suspiro d’alma
16. Bela ninfa de minh’alma
17. Quem sabe?
18. Mon bonheur
19. Foi meu amor um sonho (da ópera Joanna de Flandres)

Reginaldo Pinheiro, tenor
Paulo José Campos de Melo, piano
Teatro da Paz, Belém, setembro de 1996.

CD 3 – Peças raras para Piano
01. Llalayü (polka caratteristica) – Piano: Eliana Cutrim
02. Storiella Marinaresca – Piano: Lenora Menezes de Brito
03. Hymn for the first Centennial of the American Independence – Piano: Lenora Menezes de Brito, Flauta: Harley Rayol Rodrigues
04. Angelica (Schottisch) – Piano: Lenora Menezes de Brito
05. Bilboquet – Piano: Eliana Cutrim
06. L’orioulo (galope) – Piano: Eliana Cutrim, Sinos: Maria José Moraes
07. Piccola Polka – Piano: Lenora Menezes de Brito
08. La Stella brasiliana (valtz brillante) – Piano: Lenora Menezes de Brito
09. Spagnoletta – Piano: Eliana Cutrim, Castanholas : Vanildo Monteiro
10. Natalizio (Marcia Festosa) – Piano: Eliana Cutrim
11. Inno Marcia – Piano: Eliana Cutrim, Lenora Menezes de Brito
12. Marcha Nupcial – Piano: Eliana Cutrim, Lenora Menezes de Brito
13. Marcha Militar – Piano: Eliana Cutrim, Lenora Menezes de Brito
14. Hino Triunfal a Camões – Piano: Eliana Cutrim, Lenora Menezes de Brito

Eliana Cutrin, piano
Lenora Menezes de Brito, Piano
Teatro da Paz, Belém, setembro de 1996.

CD 4 – Trechos Líricos
01. Fosca – A miei disegni +Tu La vedrai negli impeti
02. Lo Schiavo – Sospettano di me + Sogni d’amore
03. Lo Schiavo – Alba dorata + O ciel di Parahyba
04. Colombo – Era um tramonto d’oro + Pavera Il primo fior
05. Salvator Rosa – Di stupore ho l’alma ripiena + L’accento Dell amor inebria
06. Joanna de Flandres – Foram-me os anos de infância
07. Lo Schiavo – Oh, come splendido + Come serenamente
08. Fosca – Orfana e Sola
09. Il Guarany – Sinto uma Força Indômita (transcr. para português)
10. Il Guarany – Morte

Leila Guimarães, soprano
Alpha de Oliveira, soprano
Adriana Queiroz, Soprano
Jean-Paul Franceschi, tenor
Piero Marin, barítono
Paulo José Campos de Melo, piano
Coro do Centenário
Teatro da Paz, Belém, setembro de 1996.

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (349Mb – 4CD)

Boa audição.

Bisnaga.