Não se deixe enganar pela capa deste disco, certamente o resultado do esforço de algum estagiário que ficou encarregado do Departamento de Arte da gravadora. O disco é ótimo, assim como o título – música espanhola.
Joaquín adorou o trabalho da manicure do pessoal do PQP Bach…
Você deve saber, eu tenho uma queda por esse tipo de música e aqui o programa é todo em torno do excelente pianista basco Joaquín Achúcarro, que no dia 1 de novembro completará 90 anos. A postagem é também uma forma (modesta) de celebrarmos sua arte.
O disco foi lançado em 2014, mas o conteúdo é uma antologia de gravações feitas em 1978.
A primeira peça, Noches en los jardines de España, de Manuel de Falla, ocupa as três primeiras faixas e é para piano e orquestra. A peça que começara como uns noturnos para piano, acabou nesta forma graças ao incentivo do pianista francês Ricardo Viñes – a quem foi dedicada.
A segunda parte do recital, digamos assim, consiste em um conjunto de peças para piano solo. De Isaac Albéniz temos Granada e Sevilla, da Suíte Espanhola, que provavelmente você conhece nas transcrições para violão, nas interpretações de grandes como Andrés Segóvia, Julian Bream ou John Williams. Além dessas, também Navarra, que foi completada por Déodat de Séverac.
As três outras peças são danças. A Danza de la seducción, das Danzas Gitanas de Joaquín Turina; Andaluza, a quinta das Danzas Españolas de Enrique Granados; Canción y danza No. 6, de Federico Mompou.
O libreto descreve tudo: com suas grandes ondulações melódicas. A influência da guitarra com seu som ponteado e seco e, apesar de tudo, rico em harmonias… a influência árabe, cigana. Bom, got it?
SONY DSC
Há um nome não citado no disco, mas que talvez deva ser lembrado, antes de seguirmos para as letrinhas finais. Isaac Albéniz, Enrique Granados e Manuel de Falla estudaram com Felipe Pedrell (1841 – 1922), que dedicou sua vida ao desenvolvimento de uma escola de música espanhola, fundamentada nas canções nacionais folclóricas e nas obras primas do passado. Estes três compositores, assim como os outros dois (mais recentes) Joaquín Turina e Federico Mompou, estudaram em Paris e lá se aperfeiçoaram, mas retornaram à Espanha, onde continuaram a desenvolver suas carreiras. Na música, assim como nas ciências, experiências no exterior são vitais. Pedrell e seu pessoal sabia disso… e hoje?
Achúcarro, feliz por reaparecer no blog, depois de tantos anos…
Se lamenta Joaquín Achúcarro (Bilbao, 1932) de que los melómanos comiencen a referirse a él como ‘leyenda viva del piano’. “Ni soy tan viejo ni soy tan grande; además, con los años, uno va encogiendo”, dice con sonrisa cómplice y casi picarona. A sus contentas 88 primaveras, el maestro bilbaíno conserva intacta su mirada inteligente, contagiosa y franca. Los ojos transparentes también mantienen la luminosidad de siempre. Veja a entrevista aqui.
Quando vi a notícia da morte de Sir Harrison Birtwistle lembrei-me da capa de um disco que vi em uma das revistas Gramophone, muitos anos atrás. O álbum ficou entre aqueles muitos que, por razões diversas, nunca cheguei a ouvir. Pode parecer um desinteresse pela música do nosso tempo, mas não é, pois que sou demais curioso pelo que se passa em torno de mim. Talvez oferta demais, tempo de menos e limitações físicas (acesso aos discos, pois que ir à concertos é ainda mais complicado, no meu caso). Foi assim, tentando contornar essa falta que coloquei uns dois ou três discos de Sir Harry no meu pen-drive. Ainda estou lidando com eles, mas achei que já era hora de dividir um deles com vocês.
Neste disco temos duas peças – um concerto para piano, música contemporânea, escrito em 2014, e uma suíte da ópera Gawain, a tal música da já mencionada capa de álbum na Gramophone.
Responses (Sweet Disorder) é uma obra comissionada pelo projeto musica viva, que reúne a Bayerischen Rundfunks, London Philharmonic Orchestra, Casa da Música Porto e Boston Symphony Orchestra. Esta é a sua primeira gravação. É um (segundo) concerto para piano (o anterior chama-se Antiphonies) e ganhou o subtítulo do livro de ensaios escrito por Robert Maxwell, amigo de Birtwistle: Sweet Disorder and the Carefully Careless.
Gawayn’s Journey é música adaptada por Elgar Howarth da ópera Gawain, na qual a parte das vozes foi adaptada para instrumentos de sopros, como o flugelhorn, cor anglais e trompete.
No livreto que se encontra junto aos arquivos, podemos ler que Birtwistle é um arquiteto do som em uma estranha geometria. Mais: ‘No teatro da imaginação orquestral de Harrison Birtwistle o concerto é um diálogo entre o indivíduo e a multidão. O indivíduo pode ser um herói sendo aclamado, um político sendo questionado, um acusado sendo julgado, um imigrante encontrado dificuldades em ser entendido, um oficial tentando manter a ordem, um investigador recebendo respostas conflitantes’.
Realmente, há um forte elemento de teatro na música de Birtwistle e através dela começo a fazer uma imagem da pessoa que ele foi – uma voz essencialmente individual.
No artigo sobre ele, escrito por Andrew Clements, que você poderá ler na íntegra aqui, descobrimos mais um pedacinho do que ele foi. Clements menciona um importante compositor que lhe teria dito: ‘Quando eu ou você olhamos por uma janela, nós vemos mais ou menos as mesmas coisas. Mas, se Harry olhasse pela janela, ele veria algo totalmente diferente’.
A canção Das himmlische Leben (A Vida no Céu) tem como letra um poema folclórico da coleção Des Knaben Wunderhorn e descreve a vida celestial sob a perspectiva de uma criança de tempos quase medievais: Há comida em abundância e música celestial!
Sabine Devieilhe, solista da postagem
Este texto faz contraponto à letra de uma outra canção, Das irdische Leben (A Vida na Terra), na qual a criança implora comida à mãe, que promete, mas ao fim da canção, a criança está morta. A canção da vida no céu deve ter sido uma boa inspiração para Mahler, que a compôs em 1892 e desejava usá-la como último movimento de sua Terceira Sinfonia, composta entre 1893 e 1896. É bom lembrar que Mahler era compositor apenas nas folgas, compondo nas férias de verão ou nos domingos. Sua principal atividade, que consumia seu tempo, era a regência. No entanto, para a Terceira Sinfonia, Mahler compôs um último movimento totalmente orquestral – um adagio originalmente intitulado ‘O que o amor me diz’, de proporções mais adequadas ao projeto, que terminou em uma alentada sinfonia. Ficou então a canção em busca de uma sinfonia que veio posteriormente – a Quarta – que assim como a Primeira, tem tamanho mais convencional, durando menos de uma hora e com uma orquestra menos gigantesca. Eu tenho uma afeição enorme por esta sinfonia, especialmente pelo seu terceiro movimento, um adagio deslumbrante, com seu momento de clímax espetacular – tantãs e timbales – o céu vindo abaixo e o retorno à calma, desaguando na canção da vida celestial.
Reri Grist
O segundo movimento, com seu áspero solo de violino é uma prova e tanto para os intérpretes. Há também a escolha da voz que cantará a canção do quarto movimento. É preciso uma boa dose de ingenuidade e frescor, sem desandar para sofisticação. Um dos principais divulgadores da obra de Mahler, Leonard Bernstein, gravou esta sinfonia em 1960, regendo a Filarmônica de Nova Iorque, tendo como solista Reri Grist, uma cantora soprano que estava bem no início de sua carreira. Em sua outra gravação, frente a Orquestra do Concertgebouw, de Amsterdã, gravada em 1988, o solista foi um garoto soprano, Helmut Wittek. Helmut tornou-se engenheiro de som, posteriormente.
Erté – Meio-dia
Esta gravação da postagem tem algo bastante especial. A orquestra Les Siècles usa instrumentos de época e suas gravações de obras do fim do século 19 e início do século 20, como Le Sacre du printemps, de Stravinsky, têm sido reveladoras, em termos de sonoridade, mas também receberam ótimas críticas do ponto de vista puramente musical. Acredito que este seja também o caso desta gravação e isso foi o que me levou a fazer esta postagem. O libreto que acompanha o arquivo musical tem uma entrevista bastante interessante com o regente François-Xavier Roth, na qual ele fala das motivações para fazer a gravação, assim como sobre planos de futuras gravações. O libreto também traz uma lista detalhada da origem dos instrumentos usados na gravação. A solista é uma ótima cantora e a questão da interpretação da canção no último movimento, buscando essa ingenuidade sem cair na armadilha da sofisticação é resultado da colaboração dela com o regente, como ele explica na entrevista. Assim, não deixe de desfrutar essa renovadora interpretação desta linda peça musical…
O arguto Lebrecht tem alguns ótimos pitacos sobre essa particular sinfonia de Maher: The fourth is Mahler’s smallest symphony, though still requiring an orchestra of 100 and lasting almost an hour. The score is littered with tripwires. How to pace the opening sleighbells effect baffles most conductors. […] The next pitfall comes at the start of the second movement, where Mahler tells the concertmaster to set aside his expensive violin and play rough and offkey, like a gypsy fiddle. […] The third movement, one of Mahler’s great adagios, can melt ice in Alaska, and the fourth contains a soprano song about animals frolicking in heaven, before they are eaten for lunch. Mahler wants it sung naively, ‘without irony’. (Arrisco uma tradução traiçoeira: A quarta é a menor das sinfonias de Mahler, mesmo assim demanda uma orquestra de 100 e demora quase uma hora. A partitura está repleta de armadilhas. O andamento do efeito dos sininhos de trenós na abertura atrapalha (confunde) a maioria dos regentes. A próxima armadilha está no início do segundo movimento, no qual Mahler diz ao primeiro violino para deixar de lado seu violino caríssimo e tocar fora do tom e com aspereza, como um violinista cigano. O terceiro movimento, um dos maiores adágios de Mahler, pode derreter gelo no Alasca, e o quarto tem uma canção para soprano que fala de animais brincando alegremente no céu, antes de serem comidos no almoço. Mahler quer que ela seja cantada com ingenuidade, ‘sem ironia’.)
O resumo da crítica de John Quinn para a MusicWeb International, que pode ser lida na íntegra aqui, também é reveladora: Perhaps in time I’ll become more attuned to François-Xavier Roth’s energetic way with the first movement. But even if I don’t, this is still a compelling, provocative and stimulating account of Mahler’s Fourth to which I’m certain I shall return in the future. The attractions of hearing Mahler’s music played on instruments of his time are manifold and it seems to me that Roth and his colleagues here offer many insights into the score. Mahler’s Fourth is one of the most popular of his works but perhaps that’s because some listeners – and conductors too – tend to overlook the troubled, unsettling nature of the music and focus instead on the surface charm. There’s little danger of such seduction here, I suggest.
The performance has been recorded in excellent sound. That, allied to the spare textures, allows for a great deal of inner detail to emerge very naturally. The documentation, in French, English and German, is good.
This is a thought-provoking rendition of the Fourth which all Mahlerians should hear.
Richard Fairman também faz uma crítica ‘fair’, no Financial Times: Think of this as a fascinating alternative to the many fine recordings already on the market. It will be interesting to see how Roth and Les Siècles fare if they press on to the more challenging peaks on Mahler’s symphonic journey.
Um artigo mais longo sobre a experiência de gravar a Quarta Sinfonia de Mahler usando instrumentos de época, na famosa Gramophone…
A crítica pode ser lida aqui: ‘I absolutely adored this performance.’
François-Xavier ao saber das críticas de sua gravação…
É chegada a Primavera e festivamente os pássaros a saúdam com alegres canções… Assim começa o poema que acompanha o Primeiro Concerto da coleção publicada por Antonio Vivaldi em Amsterdã, em 1725, com o justo nome Il cimento dell’armonia e dell’inventione. Os quatro primeiro concertos da coleção ganharam uma identidade própria e Vivaldi, para muitos é o compositor das quatro estações. Nada mais justo.
Eu não ouço esses concertos com frequência, pois diversidade musical é algo essencial para mim, mas sempre que, por essa ou aquela situação, ouço alguma interpretação desses cavalos de batalha do barroco, eu os aprecio.
Assim, não foi diferente no caso desse disco, que ouvi apropriadamente nos primeiros dias desta Primavera em curso, aqui no Brasil.
Kati dando umas dicas para os violinistas da PQP Bach Orchestra…
O nome Kati Debretzeni pode não ser muito conhecido, a menos que você goste de ler a formação das orquestras. Ela assumiu a posição de líder violinista do English Baroque Soloists, sob a regência de Sir John Eliot Gardiner, em 2000. Ela atua em inúmeros grupos musicais que adotam as práticas de instrumentos antigos e, desde 2008, é uma das líderes no conjunto de violinos da Orchetra of the Age of Enlightenment.
Esta gravação foi feita em fevereiro de 2013, em uma igreja nos subúrbios de Londres, e deve ser por isso que os violinos realmente tremem de frio no último concerto. Mas na memória dos músicos estava bem presente as cores, cheiros e lembranças da Primavera!
Antonio Lucio Vivaldi (1678 – 1741)
As Quatro Estações
Concerto No. 1 em mi maior Op. 8 No. 1, RV 269 – La primavera
Allegro
Largo e pianissimo sempre
Danza pastorale: Allegro
Concerto No. 2 em sol menor Op. 8 No. 2, RV 315 – L’estate
Allegro non moto
Adagio – Presto
Presto
Concerto No. 3 em fá maior Op. 8 No. 3, RV 293 – L’autunno
Allegro
Adagio molto
Allegro
Concerto No. 4 in fá menor Op. 8 No. 4, RV 297 – L’inverno
In 1986, a group of inquisitive London musicians took a long hard look at that curious institution we call the Orchestra, and decided to start again from scratch. They began by throwing out the rulebook. Put a single conductor in charge? No way. Specialise in repertoire of a particular era? Too restricting. Perfect a work and then move on? Too lazy. The Orchestra of the Age of Enlightenment was born.
Since then, the OAE has shocked, changed and mesmerised the music world.
Period-specific instruments have become just one element of its quest for authenticity. Today the OAE is cherished more than ever. It still pushes for change, and still stands for excellence, diversity and exploration. More than thirty years on, there’s still no orchestra in the world quite like it.
Impossível imaginar obra musical mais conhecida do que a Quinta Sinfonia de Beethoven. Desde a sua composição e estreia, em 1807, 1808, nenhuma outra obra musical permaneceu mais continuamente nos concertos e, posteriormente, nas gravações das grandes e pequenas orquestras. Nunca saiu de moda, mas suas interpretações sofreram com modismos ao longo do tempo.
Foi uma das primeiras peças que ouvi à exaustão, nos discos da Editora Abril, gravação com Otto Klemperer. Não a versão granítica, com a Philharmonia Orchestra, selo EMI, mas uma mais antiga, como som mais fuleiro, mas tempos mais ágeis. E vieram muitas outras gravações. Algumas mais notáveis, como a do Carlo Maria Giulini regendo a Orquestra de Los Angeles, a inabalável do Carlos Kleiber regendo a Filarmônica de Viena, posteriormente emparelhada com também magnifica gravação da Sétima Sinfonia.
DG e suas lindas capas…
Depois vieram as orquestras com instrumentos de época e a maneira como ouvimos Beethoven não mais seria a mesma. Não consigo deixar de comparar o efeito que o movimento HIP teve na maneira como ouvimos música barroca e clássica à retirada de muitas mãos de verniz que escureciam algumas luminosas pinturas de mestres tais como Rembrandt e Vermeer.
Como o tempo é implacável com tudo e todos, um certo refluxo ocorreu nesse movimento e as grandes orquestras incorporaram as lições do movimento das práticas de época e o fluxo de inúmeras gravações dessas obras continuam a invadir o mercado, agora também pelas plataformas de streaming e pelos audazes blogs de divulgação da boa música. Tanto que há até um certo fastio. Eu, por exemplo, tenho no estoque de possíveis audições a gravação do ciclo das sinfonias do Ludovico na gravação do Yannick Nézet-Séguin regendo a Chamber Orchestra of Europe, mas não me animei para ouvir. Provavelmente usarei o meu tempo para ouvir a gravação do Harnoncourt regendo a mesma orquestra.
Pois então, eu já ouvi essas duas sinfonias muitas vezes e para que uma nova gravação chegue a me tentar, custa. Já estava com esses arquivos em estoque no pen drive há um bom tempo, mas não havia entrado na sintonia de ouvir. Sempre há uma pilha de novidades me tentando e açoitando minha curiosidade que essas obras do repertório mais tradicional ficam um pouco de lado. Pois foi que numa viagem que deveria ser de um ou dois dias, mas que levou bem mais do que isso, para um lugar longe do meu acesso ao enorme arquivo de novidades que o PQP Bach Vault sempre me coloca à disposição que precisei me contentar com o que havia à mão por lá. Foi assim que ouvi o primeiro movimento da Sétima, enquanto caminhava em torno do lago, pois que lá havia um lago. Achei a interpretação arrojada, diferente das que lembrava ter ouvido, talvez por estar caminhando, com as endorfinas fluindo e fiquei ainda mais feliz. No outro dia foi a vez da Quinta Sinfonia e, de novo, a sensação de reencontro, de ‘puxa, por que não ouvi isso antes e mais vezes’…
Você sabe, Beethoven compôs estas obras com a clara intenção de chocar, de impactar os ouvintes, como realmente o fez. E é isso que eu ouvi nestas arrojadas gravações. Você pode ter suas versões preferidas, como as do Gunter Wand, Bernard Haitink, David Zinman, Charles Mackerras, Thomas Adès, especialmente se você, como eu, não liga tanto para o número de acessos no Spotify na hora de escolher o regente das sinfonias, e poderá voltar às essas gravações depois de ouvir estas, com o Teodor Currentzis regendo a MusicAeterna. Aposto que fará indulgências ao meu entusiasmo por elas. Não deixe de ouvi-las, especialmente se for caminhar… leve a Sétima!
Veja parte da crítica da BBC Music Magazine, que você poderá ler na íntegra aqui e aqui: Where appropriate, they generate a rapier-like thrust that sweeps aside conventional thinking. It’s an exhilarating helter-skelter ride, which finds Currentzis (as if in full meditative flow) focusing on the music’s emotional narrative with electrifying powers of single- minded concentration.
musicAeterna
Sobre a orquestra:The musicAeterna Orchestra and the musicAeterna Choir are among the most sought-after Russian ensembles, constantly seeking to extend themselves creatively, whether in terms of their historically informed performances, their new interpretations of 19th- and 20th-century works or their premieres of contemporary compositions. Their members hail from 15 countries.
Momento em que Teodor sutilmente encoraja os metais da PQP Bach Orchestra…
Entre 1973 e 1989 os colecionadores de LPs e, posteriormente CDs, especialmente aqueles que apreciavam música para piano, puderam colecionar uma série de ótimos discos, lançados pelo selo CBS Masterworks e, posteriormente Sony. Eram álbuns trazendo o solista Murray Perahia, que ficava melhor a cada disco, mas sempre em repertório bastante clássico: Schumann, Chopin, Schubert, Mozart (a série de Concertos para Piano, com a ASMF). Havia também Mendelssohn (incluindo os Concertos para Piano) e, um pouco depois, Beethoven. Algumas Sonatas para Piano e a série dos Concertos para Piano, acompanhado pela Orquestra do Concertgebouw, regida por seu titular – Bernard Haitink. Além desses, esporádico Bartók, um Quarteto com Piano de Brahms, com o Quarteto Amadeus, e a dobradinha de Concertos para Piano de Schumann e Grieg. Aqui, a Orquestra da Rádio Bávara regida por Sir Colin Davis.
Este fluxo de belezuras, que seguiria depois com mais outras maravilhas, como o disco das Baladas de Chopin, o das Sonatas para Piano de Mozart, e de algumas tantas parcerias, foi turbilhonado em 1990 e 1991 por dois discos fora da curva – não em qualidade técnica ou beleza sonora, mas sim na escolha do repertório. Em 1990 foi lançado o disco The Aldeburgh Recital, com as Variações em dó menor, de Beethoven, o Carnaval de Viena, de Schumann e … tá dam… Liszt e Rachmaninov. E em 1991, um disco com o Prelúdio, Coral e Fuga, de César Franck e mais Liszt. Muito bem, são estes os discos da postagem.
Depois, o fluxo retomou sua regularidade, com bons discos de parcerias. Aliás, quando se juntava em parceria era sempre de nível excelente – Sir Georg Solti e Radu Lupu, ao piano, acompanhou Dietrich Fischer-Dieskau em uma gravação do Winterreise, o remake do Concerto de Schumann, agora com Claudio Abbado regendo a Berliner Philharmoniker. Aí vieram os discos com música mais antiga. Primeiro o maravilhoso álbum com música de Handel e Scarlatti, depois Bach – Suítes Inglesas, Variações Goldberg, Concertos para Piano, Partitas! Ah, as Partitas! E, para não dizer que tenha deixado de lado os clássicos, um e outro disco de Beethoven (ainda na Sony), o espetacular disco dos Estudos de Chopin e o tremendo disco com música de Brahms – Variações sobre um tema de Handel. Houve a mudança de casa, as Suítes Francesas, de Bach, inaugurando o selo amarelo, e finalmente o disco com a Hammerklavier e a Ao Luar. A qualidade sempre muito alta, mas os hiatos passaram a ser grandes – houve o ferimento no dedo com as complicações que seguiram. Mas essa lengalenga toda é para enfatizar o quanto os dois discos desta postagem são estranhos no ninho. A música de César Franck, Rachmaninov e Liszt não mais voltaram a frequentar os discos de Murray Perahia. Como essas peças foram para aí? A resposta tem a ver com Vladimir Horowitz.
Murray Perahia tinha 17 anos quando Horowitz bateu na porta de sua casa e disse: Poderia falar com o Sr. Perahia? Murray respondeu: Vou chamar meu pai. Não, respondeu Volodya, eu quero falar com Murray Perahia. Eu sou o Sr. Horowitz. O jovem Perahia ainda não havia realmente entendido de quem se tratava. A casa ficava em Nova Iorque, no bairro do Bronx, com muitos judeus. Todo o mundo se chamava Horowitz lá, disse Perahia na entrevista em que contou esta história.
Murray Perahia ainda não havia se decidido completamente pela carreira de pianista e enrolou. Horowitz esperou mais treze anos para finalmente aproximar-se de Murray Perahia, ganhar a sua amizade e tornar-se seu professor. Neste tempo, ele já era famoso e tinha uma carreira estabelecida. Era o pouco que faltava para definitivamente estabelecer Perahia como o pianista especialíssimo que ele tem sido.
Sobre essa experiência, Murray disse: Nós exploramos o piano ‘virtuoso’. Quando se aprende as cores que o piano pode oferecer, se descobre também o escopo do que se pode alcançar ao tocar o piano.
Horowitz lhe disse: Se você quer ser mais do que um virtuoso, primeiro você precisa se tornar um virtuoso!
Creio que esses dois discos são resultado dessa experiência, de chegar lá e depois ir além…
BD: Do you play differently for the microphone than you do for a live audience?
MP: I think yes. There’s an excitement that goes into a live concert that’s very hard to capture in a recording. Sometimes it works; sometimes it goes. It’s not to say that it’s impossible, but I do find that it’s different to play for an audience.
Antonio Vivaldi é mais conhecido pelos quatro primeiros concertos de seu Opus 8, Il cimento dell’armonia e dell’inventione, chamados ‘As Quatro Estações’. Mas, o primeiro conjunto de concertos de sua autoria a ser publicado em Amsterdam, em 1771, foi seu Opus 3, L’estro armonico – um conjunto com quatro concertos para um violino, quatro para dois violinos e quatro para quatro violinos.
Vivaldi foi um mestre da propaganda, nomeando maravilhosamente suas publicações. Il cimento dell’armonia e dell’inventione pode ser traduzido como A mistura amalgamada da harmonia e da invenção e L’estro armonico, algo como O fantástico espírito criativo e a harmonia…
Rinaldo Alessandrini
O regente e cravista desta maravilhosa gravação da postagem explica em uma entrevista o sentido da palavra: ‘Estro is an attitude. You could translate it as a combination of fantasy and skill. In Italian, to be estroso is to be someone who has imaginative ideas, and lots of them’. Arriscando uma tradução: ‘Estro é uma atitude (essa parte foi mole…). Você poderia traduzir esta palavra como uma combinação de fantasia e habilidade. Em italiano, ser estroso é ser alguém com ideias imaginativas, muitas delas’. Ah, no Dicionário de Palavras Cruzadas, estro significa ‘veia artística’!!
Este conjunto de concertos chamou a atenção do mundo musical da época para a inventividade do padre e, em especial, a atenção de Johann Sebastian Bach, que além de genial, estava muito atento ao que acontecia ao seu redor. Ele tanto estudou e provavelmente interpretou estes concertos que arranjou seis deles em diferentes combinações de instrumentos. Três concertos para um violino foram transcritos para cravo solo, dois concertos para dois violinos (um deles também um violoncelo) foram transcritos para órgão e o mais espetacular deles, para quatro violinos, foi transcrito para quatro cravos e cordas.
Esta gravação, além de nos apresentar os concertos de Vivaldi em uma estrosa gravação com instrumentos de época e com um instrumento para cada parte, também traz as transcrições feitas por Bach, em seguida de cada um dos respectivos concertos originais de Vivaldi.
Sobre a inventividade que o padre veneziano exibiu na composição destes maravilhosos concertos, veja o que o Alessandrini disse: ‘All these ideas coming one after another creates a suspense – nobody can say what’s coming in the next bar’. (Todas essas ideias surgindo uma após a outra cria um suspense – ninguém consegue dizer o que virá na próxima barra’.)
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
L’estro armonico, Op. 3
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Seis concertos para diferentes combinações de instrumentos
Vivaldi – Concerto No.1 para quatro violinos em ré maior RV 549
Vivaldi – Concerto No.2 para dois violinos em sol menor RV 578
Vivaldi – Concerto No.3 para violino em sol maior RV 310
Bach – Concerto cravo solo em fá maior BWV 978 (arranjo do Concerto RV 310)
Vivaldi – Concerto No.10 para quatro violinos em si menor RV 580
Bach – Concerto para quatro cravos lá menor BWV 1065 (arranjo do Concerto RV 580)
Vivaldi – Concerto No.11 para dois violinos e violoncelo em ré menor RV 565
Bach Concertor para orgão (solo) em ré menor BWV 596 (arranjo do Concerto RV 565)
Vivaldi – Concerto No.12 para violino em mi maior RV 265
Bach – Concerto cravo solo BWV 976 em dó maior (arranjo do Concerto RV 265)
Vivaldi – Concerto No.4 para quatro violinos em mi menor RV 550
Vivaldi – Concerto No.5 para dois violinos em lá maior RV 519
Vivaldi – Concerto No.6 para violino em lá menor RV 356
Vivaldi – Concerto No.7 para quatro violinos em fá maior RV 567
Vivaldi – Concerto No.8 para dois violinos em lá menor RV 522
Bach – Concerto para orgão (solo) em lá menor BWV 593 (arranjo do Concerto RV 522)
Vivaldi – Concerto No.9 para violino em ré maior RV 230
Bach – Concerto para cravo solo em ré maior BWV 972 (arranjo do Concerto RV 230)
Alessandrini de olho no número de acessos da postagem…
Sobre o conjunto, os solistas e a gravação, a crítica na Gramophone não poupa elogios: ‘I can’t remember when I last enjoyed a Vivaldi album as much as this’.
Having previously tackled Vivaldi’s operas, a vibrant sense of theatre clings to Alessandrini’s every interpretative decision; and while he’s typically all over the detail, he never loses sight of how movements relate to one another. BBC Music Magazine
Of particular note is the organ playing by Lorenzo Ghielmi, who has a great knack for picking vibrant registrations, and the lovely integrated harpsichord playing by Alessandrini, Andrea Buccarella, Salvatore Carchiolo, and Iganzio Schifani. All in all, this set of discs ranks right up among the best renditions of the concertos. Fanfare
Postagem dupla com (o melhor da) música brasileira! Uma pergunta irrespondível: o que é música brasileira? Ah, mas é música que pode ser reconhecida imediatamente, isso sim! Uma frase que pesquei por aí: ‘Rica em sonoridade, criatividade e elementos rítmicos, a música brasileira talvez seja uma das mais conhecidas no exterior’.
Gosto do ‘talvez seja’. Mostra um certo cuidado, pois que não precisamos ser arrogantes nem ultra categóricos. E do fim da frase: uma das mais conhecidas no exterior… Para quem sofre de complexo de vira-lata, a afirmação que vem do ‘exterior’ é imediatamente acatada. Considerações assim agora deixadas de lado, vamos à postagem!
Adorei esse disco do Raphael Rabello e Dino Sete Cordas, tanto que decidi postá-lo. Na busca sobre mais informação para essas mal traçadas linhas, descobri que em 31 de outubro deste ano (2022), Raphael faria sessenta anos! Pois ele que se revelou um virtuose ainda muitíssimo jovem e teve de Herondino José da Silva, o Dino Sete Cordas, uma grande influência. Foi por isso que iniciou sua carreira musical tocando este instrumento. Assim, o primeiro disco da postagem é um encontro do aluno e do mestre, mas de certa forma é o encontro de dois mestres. O disco é uma pérola e precisa ser reconhecido.
Dino experimentando um violão de 7½ cordas do acervo do PQP Bach do bairro Santo Cristo, no Rio de Janeiro
Buscando informações sobre ele encontrei muitas louvações no Amazon e uma resenha interessante da qual ouso transcrever um pedacinho: Reza a lenda que o Raphael, com 10 anos de idade, teria escutado o Vibrações até o disco ficar imprestável, tentando imitar tudo o que o Dino fazia. Reza a lenda que o Raphael imitava até os óculos e o jeito de se vestir do Dino. Reza a lenda que o Dino inclinava o violão quando fazia uma baixaria pra o Raphael não ver.
Jonas, César, Carlinhos, Dino e Jacob
Daí a motivação para a segunda postagem: o clássico Vibrações! Baixei do You Tube, para começar, e mandei vir o disco pelo Mercado Livre – tudo usando nosso riquíssimo orçamento do PQP Bach! E está aí, outro disco maravilhoso! A faixa ‘Lamento’ está tocando exatamente agora! Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, era famoso e foi inovador acrescentando algumas novidades ao Choro. Esse disco tem a primeira formação do conjunto Época de Ouro e foi gravado em 1967, pouco tempo antes da morte de Jacob. Os integrantes do conjunto eram: Dino Sete Cordas (Horondino José da Silva), tocando violão de sete cordas (😉), César Faria (Benedito Cesar Ramos de Faria) e Carlos Leite (Carlos Fernandes de Carvalho Leite), nos violões, Jonas Silva (Jonas Pereira da Silva), no cavaquinho, Gilberto d’Ávila, no pandeiro, e Jorginho (Jorge José da Silva), ritmista. César Faria é pai do Paulinho da Viola!
Sobre a música, basta ouvi-la e desfrutar! E se puder, divulgue! É muito boa para ficar esquecida…
Raphael Rabello & Dino 7 Cordas
Conversa De Botequim (Noel Rosa e Vadico)
Jongo (João Pernambuco)
Escovado (Ernesto Nazareth)
Alma De Violinos (Lamartine Babo e Alcyr Pires Vermelho)
“1 X 0” (Um A Zero) (Pixinguinha e Benedito Lacerda)
Odeon (Ernesto Nazareth e Hubaldo)
Sons De Carrilhões (João Pernambuco)
Segura Ele (Pixinguinha e Benedito Lacerda)
Desvairada (Garoto)
Graúna (João Pernambuco)
Sonho De Magia (João Pernambuco)
Raphael Rabello, violão
Herondino José da Silva (Dino Sete Cordas), violão 7 cordas
Nas faixas Segura Ele, Conversa de Botequim, Graúna e 1 x 0, participação especial de Jorginho do Pandeiro, Neco do Cavaquinho e Celso Silva, na cacheta, tamborim, agogô e reco-reco
Sobre o primeiro disco, de um entusiasta, no Amazon: Listen to the great contrapuntal back-and-forth. On your first few times through, you’ll be blown away by Raphael’s technique, but when you’ve listened to it twenty times you’ll keep listening to hear how Dino plays the 7 string. Wonderful music. ‘Must have’ for any guitar player.
Eu gosto imensamente dos Prelúdios, as peças de Debussy que eu mais ouço. Procuro ouvir a cada gravação que cruza o meu caminho – a curiosidade nos faz agir de modos estranhos. Umas são notáveis, outras apenas interessantes. Com o passar do tempo, acumulei um bocado delas e nesses dias de #DEBUSSY160, andei revisitando meu acervo e selecionei estas gravações para mais uma postagem…
Steven Osborne – Se me torcessem o braço para escolher uma única gravação para viver daqui para frente, poderia ser essa! Não, silly, calma, é apenas retórica, que aqui no PQP Bach vivemos um ambiente de plena liberdade, até ouvir Berlioz e Rachmaninov pode, só não relatem ao boss! Steven Osborne é um virtuose capaz de tocar ‘quaquer coisa’, o que pode ser um pouco perigoso em certos repertórios. Aqui, com a produção da Hyperion, assim como no seu outro disco com música de Debussy, ele acertou em cheio! Veja o que o Penguin Guide disse: Even in a crowded Debussy catalogue where competition is abundant, Steven Osborne is an artist to be reckoned with. He has a real feeling for keyboard colour, a keen imagination and na effortless technique. A very well-balanced recording from the Henry Wood Hall. E eu acrescento que a produção é de Andrew Keener!
Michel Béroff – Estas gravações são de 1977, quando o pianista era bastante jovem. Temos uma abordagem mais impetuosa do que a média, digamos assim. Veja o que nos disse um crítico: Beroff’s playing is very masculine with huge dynamic range and pushing technical boundaries, and yet artistically and aesthetically very mature. He also possesses keenest sense for tonal colouring and delicacy (listen to Preludes Book 1&2). I do not agree with his judgment of tempo in Clair de lune (played too fast) and in some other slower pieces, but this set is by far the most satisfying complete set for me and stands repeated listening.
A crítica trata de um conjunto de gravações que incluem outras peças, como os Estudos, que aparecerão em outras postagens, por esses dias. Atenção, portanto!
Ivan Ilic – Ouvi esta gravação dos Prelúdios há pouco tempo e fiquei muito bem impressionado. O virtuosismo e precisão assim como a gravação me chamaram logo a atenção. Outra coisa a observar é a ordem que ele escolheu para apresentar os Prelúdios, diferente da usual. Quando estamos esperando um prelúdio, surge outro… Veja algumas críticas ao disco, que é de 2008: Ilic can join the best exponents of these evocative and sound-conscious pieces. He plays with admirable poise and clearly relishes both the evocative and expressive powers within each one. He also commands a wide range of colour and dynamics, both essential to painting pictures…There is no shortage of imagination in Ilic s playing but he doesn t overdo the imagery or the potential for sentimentality; nor does he force the more dramatic numbers and his articulation (as throughout) is impressive…Ilic brings individuality to his task that makes for persuasive listening and this is a release that I am pleased to have and recommend. –Classical Source, UK, August 6th 2008
There is much in American pianist Ivan Ilic’s performances of Debussy’s Book 1 and 2 Preludes to draw fresh responses from such well-known works. The clarity in his playing, and minimal use of pedal, gives sharp definition where others prefer a more reverberant haze…[in] character pieces [such] as General Lavine eccentric, Ilic’s personality is at its most decisive. –The Scotsman, UK, August 29th 2008
Pierre-Laurent Aimard – é um pianista francês que estudou com Yvonne Lorid e Maria Curcio. Ganho primeiro prêmio no Olivier Messiaen Competition e foi membro fundador do Ensemble InterContemporain, a convite de Pierre Boulez. Como pianista se dedica à música mais atual. Apesar disso, também gravou música mais antiga, como os Concertos para Piano de Beethoven, a convite de Harnoncourt, assim como a Arte da Fuga, de Bach. Suas interpretações dessas obras tem um olhar mais moderno, um viés mais racional, por assim dizer. Pois foi esse aspecto que me levou a ouvir suas interpretações da música de Debussy e de incluir suas gravações dos Prelúdios nesta postagem. Aqui temos trechos [positivos] de duas críticas sobre elas: As you’d expect, Aimard’s accounts of the 24 pieces are technically impeccable, whether articulating every rhythmic detail in La Danse de Puck, or perfectly layering the chordal accumulations of La Cathédrale Engloutie, but there is something matter of fact about it all, a lack of character and colour, and certainly very little humour, whether in La Sérénade Interrompue or Hommage à S Pickwick Esq. The Guardian
For him [Aimard], Debussy must always be allowed his own voice and few performances on record have proceeded with so little impediment or with greater transparency and lucidity. DG’s sound is of demonstration quality… Gramophone
Melvyn Tan – nasceu em Singapura, mas ainda muito jovem mudou-se para a Inglaterra para estudar piano, primeiro na Yehudi Menuhin School e, depois, no Royal College of Music. Durante seus estudos, interessou-se pelo cravo e por instrumentos antigos, como o pianoforte. Com este instrumento fez conhecidas gravações dos Concertos para Piano de Beethoven, assim como algumas das sonatas e alguns Concertos para Piano de Mozart. Foi, portanto, com alguma surpresa que conheci estas suas gravações dos Prelúdios de Debussy usando um moderno (grand) piano. E concordo plenamente com o que o Penguin Guide diz sobre elas: The intelligence and sensitivity that made his fortepiano playing so vivid and alive are well in evidence here, and his Debussy has refinement and imagination that will not disapoint his many admirers.
Yukio Yokoyama – é um destes talentos que se revelam na mais tenra infância. Começou seus estudos no Japão e em 1986 foi estudar no Conservatório de Paris com bolsa do governo francês. Estudou com Jacques Rouvier e Vlado Perlemuter. Ganhou muitos prêmios internacionais e é um pianista fenomenal. Ficou famoso por interpretar em concertos ao longo de um período de dez meses não só todas as sonatas para piano de Beethoven como também todas as variações e as bagatelas. Eu já tenho ouvido seu disco com os Prelúdios de Debussy muitas vezes nesses últimos dois ou três anos e convido você a fazer o mesmo…
A essa coleção, acrescente as ótimas gravações disponíveis na postagem das Integrais da Obra para Piano de Debussy, com os pianistas François Chaplin, François-Joel Thiollier, Jean-Efflam Bavouzet, Jean-Yves Thibaudet, Martino Tirimo, Noriko Ogawa e Théodore Paraskivesko!
Aproveite!
René Denon
Debussy pronto para ir ao rega-bofes preparado para ele pelo pessoal do PQP Bach…
A obra para piano de Claude Debussy é inovadora, belíssima e não é imensa. É uma tentação para os pianistas e gravadoras colocá-la toda em um conjunto de quatro a cinco discos – L’integrale de l’oeuvre pour piano!
Talvez o primeiro pianista a fazer isso tenha sido Walter Gieseking, mas muitos outros fizeram isso depois dele e certamente continuarão a fazê-lo.
Eu acho fascinante poder ouvir toda essa obra, uma maravilhosa coleção, em um período relativamente curto de tempo… O desenvolvimento de um compositor genial todo colocado ao seu dispor em, digamos, uma semana?
Alguns pianistas vão um pouco além e incluem todas as pecinhas, mesmo as de juventude, ou as versões para piano desta ou daquela obra para outro tipo de combinação de instrumentos, fazendo com que um quinto disco (ou mesmo um sexto) seja acrescentado ao usual conjunto de quatro discos.
Mas, quais são as obras que fazem o núcleo destas coleções? Há peças isoladas e algumas coleções – conjuntos, trípticos ou suítes. Vamos fazer uma lista dessas que você não pode perder, facilitando assim um pouco a sua navegação pelos arquivos da postagem.
Peças avulsas:
Rêverie (1890)
Deux arabesques (1890-1)
L’isle joyeuse (1903 – 04)
… d’un cahier d’esquisses (1903)
Hommage à Haydn (1909)
La plus que lente (1910)
Berceuse héroïque (1914)
Page d’album e Élégie (1915)
Conjuntos de Peças:
Images (oubliées) (1894)
Pour le piano (1894-1901)
Suite bergamasque (1890-1905)
Images I (1901-1905)
Estampes (1903)
Images II (1907)
Children’s Corner (1906-1908)
Préludes Livre I (1910) – Livre II (1913)
La Boîte a joujoux (1913)
Études (1915)
Há outras peças, mas esse é o mapa ao qual você poderá recorrer para navegar nas sete integrais que escolhi para a postagem. Afinal, é mês do aniversário de 160 anos do Claude!
Das peças avulsas, a maior e (talvez) a primeira a apresentar as características que distinguem as inovações de Debussy é L’isle joyeuse.
Entre as coleções, certamente se destacam as Images, Estampes, Préludes e Études. Esta última coleção, de um período difícil da vida de Debussy, é um resultado de sua amizade com o seu editor, Jacques Durand, que o encarregou de uma nova edição da obra de Chopin. Essa atividade o inspirou para produzir seus próprios estudos, cujo conjunto é, para muitos, sua mais completa obra-prima.
Aproveito para lhe fazer um convite: na medida em que for ouvindo as peças, faça um esforço para expandir seus interesses culturais além da música. Este pode ser um aspecto do legado que nos foi deixado por Debussy, que tinha enorme interesse nas outras artes, das quais tirava muitas inspirações. Pintura, escultura, poesia… as pistas estão em todas as partes. Tente fazer o percurso inverso enquanto desfruta deste maravilhoso mundo sonoro.
Vamos às nossas coleções.
François Chaplin – Uma das mais completas, teve seus discos gravados pela Disques Pierre Verany (Arion) ao longo dos anos 2000 até 2007. Como a gravadora e o pianista são franceses, temos certeza que o sotaque está correto. Além disso, as revistas francesas especializadas em música, como a Diapason, receberam muito bem os lançamentos, na medida em que iam saindo. O sexto disco é um apêndice e traz textos de Debussy (que escrevia sobre música com o pseudônimo de Monsieur Croche) recitados por Jean Piat, que são ilustrados musicalmente por François Chaplin.
François-Joel Thiollier – Viva a Naxos! Cinco lindos discos, em particular o disco com os prelúdios, muito bem gravados e lançados entre 1994 e 1997. O pianista Fançois-Joel Thiollier já havia provado seu valor com alguns discos (incluindo a integral da obra para piano) de Ravel. Na época de seu lançamento os concorrentes eram peso-pesado, como o excelente Zoltan Kocsis, mas Thiollier oferecia uma ótima opção, como você poderá ouvir aqui. Veja o que a American Record Guide disse: Thiollier plays it beautifully…it was a real treat to hear this warm, sweet piano tone emerge out of complete silence.
Volume 1
[1-4] Suite Bergamasque
[5] Nocturne
[6] Danse bohemienne
[7] Rêverie
[8] Mazurka
[9-10] Deux arabesques, L. 66
[11] Valse romantique (L. 71)
[12] Ballade
[13] Danse – Tarantelle styrienne
[14-16] Pour le piano
Volume 2
[1] Le petit nègre
[2-7] Children’s Corner
[8-11] La Boite A Joujoux
[12-17] 6 Epigraphes antiques
Volume 3
[1-3] Images pour piano I
[4-6] Images pour piano II
[7-9] Estampes
[10-12] Images oubliées
[13] La plus que lente
[14] L’isle joyeuse
Volume 4
[1-24] Préludes
Volume 5
[1-12] Études
[13] D’un cahier d’esquisses
[14] Hommage à Haydn
[15] Élégie, L138
[16] Morceau de concours
[17] Page d’album: Pièce pour l’oeuvre du ‘Vêtement du blessé’
Jean-Efflam Bavouzet – Aqui temos mais um pianista francês, mas a produção é do selo Chandos que é inglês. Nesta coleção a integral de divide em cinco discos, mas o quinto contém três balés… Além disso, este conjunto já frequentou as páginas do blog antes, quando foi postada pelo nosso colaborador-raiz, FDP Bach. Esta talvez seja a integral mais ‘completa’ que reúne qualidades artísticas e técnicas que a colocam na preferência de muitas pessoas. Eu sou bastante reticente e desgosto um pouco das comparações, especialmente em se tratando de gravações musicais. Veja, cada gravação traz em si uma longa história e há muitos aspectos que podem ser apreciados, mas levei em consideração a qualidade global deste item para trazê-lo novamente em uma postagem.
Jean-Yves Thibaudet – Ooppss… mais um pianista francês com selo inglês. Esta gravação é mais antiga do que a anterior, lançamentos entre 1996 e 2000, mas é espetacular, do ponto de vista técnico e tem a qualidade de colocar tudo (?) em quatro discos. Veja como o Penguin Guide fala bem dele (pelo menos dos dois primeiros discos): Beautifully recorded, […] looks set to take first place in a competitive field. The Préludes are among the finest in record. Sobre a gravação dos Prelúdios: Always a crisp and articulate pianist, Thibaudet´s Préludes display greater freedom and imagination than is sometimes the case with him.
Martino Tirimo é cipriota, pianista desde a mais tenra idade, estudou em Londres e Viena. Ganhou muitos prêmios e é ótimo pianista. Tem gravações de (todas) as peças solo para piano de Beethoven, de Schubert, mas essa coleção de quatro CDs com a obra para piano de Debussy é o que eu mais ouvi dele e é ótima. Foi gravada entre 1988 e 1991 para o selo inglês Carlton Classics e já teve várias novas edições. Veja o que o Jed Distler, da Classics Today, disse: For starters, Tirimo’s warm, beautifully nuanced sonority and the alluring resonance of the Rosslyn Hill Chapel in Hampstead mesh in a way that evokes the composer’s “piano without hammers” ideal without sacrificing rhythmic backbone. Tirimo’s strong rhythm and care with scaling dynamics factors into this impression. Sobre a gravação dos Prelúdios, o Penguin Guide disse: Complete on one super-baigain CD, Tirimo’s set offers excellent value, his sensitive playing enhanced by fine digital sound. Por um ano de minha vida, este disco (Prelúdios) foi o que eu mais ouvi da música para piano de Debussy e esta coleção é especial para mim.
Noriko Ogawa estudou no Tokyo College of Music e na Julliard School, em Nova Iorque. Ganhou em 1987 o prestigioso Leeds International Piano Competition, o que definitivamente impulsionou sua carreira de pianista internacional. Esta coleção de seis discos com a obra completa para piano, de Debussy, gravada pelo excelente selo (ótimo som) BIS entre 2001 e 2011, certamente mostra que não é necessário nascer em solo francês para falar esse idioma musical. A Gramophone disse o seguinte sobre o segundo disco da série: We have had to wait some time for volume 2 of Noriko Ogawa’s Debussy cycle on BIS, but the wait is made gloriously worthwhile. Every bar of these new performances confirm Ogawa as a most elegant, scrupulously sensitive interpreter of ‘music like a dream from which one draws away the veil’ (Debussy). O Penguin Guide afirma que ela é ‘a superb interpreter of this repertoire’.
CD1
[1-2] Arabesques
[3] Danse, “Tarantelle styrienne”
[4] Ballade
[5] Valse romantique
[6] Rêverie
[7-10] Suite bergamasque
[11] Mazurka
[12] Nocturne
[13.] Danse bohemienne
[14-16] Pour le piano
CD2
[1-3] Images, Book 1
[4-6] Images, Book 2
[7-9] Images oubliees
[10-12] Estampes
[13] Masques
[14] L’isle joyeuse
CD3
[1-12] Preludes, Book
[13] …D’un cahier d’esquisses
[14] Morceau de concours
[15] Hommage a Haydn
[16] The Little Nigar
[17-22] Children’s Corner
[23] La plus que lente
CD4
[1-12] Preludes, Book 2
[13] Berceuse heroique
[14] Page d’album, “Piece pour le Vetement du blesse”
[15] Élégie
[16-19] La boite a joujoux (version for piano)
CD5
[1-12] Études
[13] Étude retrouvée
[14] Intermede (arr. of Piano Trio No. 1: II. Scherzo-Intermezzo)
[15-20] Epigraphes antiques (version for solo piano)
[21] Les soirs illumines par l’ardeur du charbon
CD6
[1] Fugue pour le concours de fugue (1881) (arr. N. Ogawa for piano)
[2] Fugue pour le concours de fugue (1882) (arr. N. Ogawa for piano)
[3] Fugue pour le concours de fugue (1883) (arr. N. Ogawa for piano)
[4] Fugue pour le concours d’essai, Prix de Rome Competition (1882) (arr. N. Ogawa for piano)
[5] Fugue pour le concours d’essai, Prix de Rome Competition (incomplete) (1883) (arr. N. Ogawa for piano)
Théodore Paraskivesko nasceu na Romênia, mas naturalizou-se francês. Estudou com Magda Tagliaferro, Yvonne Lefébure e Nadia Boulanger. Faz assim uma ponte entre a tradição de pianistas franceses mais próximos ao tempo de Debussy com esta geração representada pelos outros pianistas. Nova geração, mas não exatamente novíssima… Estas gravações foram feitas entre 1976 e 1980, e as conheci já em CDs, lançados pelo selo Calliope. Ela muito contribuiu para meu enorme interesse e admiração pela obra para piano de Debussy.
Com tantas comemorações, Claude precisou descansar e relaxar um pouquinho…
Tenho feito um esforço de virtualmente sempre disponibilizar arquivos flac e mp3 em minhas postagens, mas considerando o volume de informação desta particular postagem, optei por disponibilizar apenas os arquivos mp3. Espero contar com a compreensão daqueles que preferem os arquivos flac, mas tenho certeza que a qualidade dos arquivos disponibilizados não os desapontará nem deixará de fazer brilhar a beleza desta música de que tanto gosto. Espero que aproveite bastante, mas há muito mais Debussy em estoque!
Os Estudos foram compostos por Debussy em 1915, como resultado de seu trabalho na edição das obras de Chopin. Essa tarefa lhe havia sido proposta por seu editor, Jacques Durand, parte de uma estratégia de animá-lo e ajuda-lo a passar por um período particularmente difícil da vida. O resultado é uma coleção de obras primas, por muitos consideradas o que há de melhor em sua obra. Ele mesmo teria dito que as peças ‘são um aviso aos pianistas para que nem tentem se profissionalizar, a menos que tenham mãos fenomenais’! Em sua correspondência com Durand, disse:
Estou certo que você irá concordar comigo que não há necessidade de
evidenciar o mecanismo instrumental apenas para parecer mais
comprometido, um toque de charme não vai machucar ninguém. Chopin
provou isso e fez com que essa necessidade se tornasse arrogante.
Nesta postagem trazemos algumas gravações desta coleção…
Anne Queffélec estudou no Conservatório de Paris e posteriormente em Viena com Paul Badura-Skoda, Jörg Demus e Alfred Brendel (assim como o fez Imogen Cooper). Teve sua carreira de pianista impulsionada ao ganhar competições de piano em Munique e Leeds. Desde os anos 1970 tem feito gravações de música principalmente francesa sempre com muito boa recepção de crítica e público. A Gramophone refere-se às suas gravações como “Delicious playing”, “Outstanding … thoughtful, poetic”, “Articulate, clear-textured and vivacious, this is commendable”.
Veja como ela respondeu a um de seus entrevistadores:
You will close the program with Debussy and Ravel. Why did you include those composers and those works?
AQ: The second half is dedicated to Debussy’s Reflets dans l’eau and Ravel’s Miroirs because I love these marvellous pieces! By programming Reflets and Miroirs together seemed to me connected to this idea of “reflections”, even if the music itself in Ravel ensemble, in the individual titles of the five pieces, don’t give us the key for the global name of Miroirs. This remains a mystery; we have to be like Alice in Wonderland, and agree to follow Ravel, and go through the mirrors in turn!
Michel Beroff gravou essencialmente toda a obra para piano de Debussy nos anos 1970 para a EMI, oferecendo uma visão mais virtuosística e incisiva. Sua gravação dos Prelúdios está na postagem que dediquei a esta obra e aqui temos a sua gravação dos Estudos. Veja o que disse de suas gravações um crítico amador, mas arguto: My search for complete recording of Debussy’s solo piano music had ended there, until I came across Michel Beroff through his awe-inspiring recording of Messiaen’s Vingt regards and astounding Prokofiev Concerti recording.
Mitsuko Uchida – A partir de 1984 até 1989 a Philips lançou uma série de discos com música de Mozart, Sonatas e Concertos para piano, com uma solista japonesa – Mitsuko Uchida, que vieram a se tornar referência destas obras. Até acusadas de perfeitas, essas gravações foram… De qualquer forma, a menos de um disco com Sonatas para Piano de Chopin, o nome de Uchida ficou associado à Mozart. Posteriormente, gravou os Concertos para Piano de Beethoven, algum Schumann, alguma coisa da trinca Schoenberg, Berg e Webern e muito Schubert. Assim, sua gravação dos Estudos de Debussy desperta alguma surpresa, mas que surpresa! Para muitos, essa é a gravação que não pode faltar em qualquer coleção de discos de Debussy. Se eu fosse forçado por meios mesmo não muito cruéis a escolher uma gravação dos Estudos de Debussy, não vacilaria e a escolheria. Bom, é retórica, eu sei, mas dá a medida de quanto importante é esse disco. O Penguin Guide deixa de lado a tradicional fleuma inglesa e rasga a seda: Mitsuko Uchida’s remarkable account of the Études on Philips is not only one of the best Debussy piano records in the catalogue, but also one of the best recordings in the instrument. Em uma publicação semelhante, da Gramophone, lemos: The harmonic language and continuity of the Études is elusive even by Debussy’s standards, and it takes na artist of rare gifts to play them ‘from within’, at the same time as negotiating their finger-knotting (trança-dedos) intricacies. Mitsuko Uchida is such an artist.
De um maravilhado crítico amador: For some inexplicable reason this is Uchida’s only disc of Debussy. She is an ideal Debussy musician, with the technique, the intelligence, the sensibility and the capacity to be mercurial that his music demands. With the étudess, only Aimard comes close. A classic account.
Philippe Bianconi já apareceu aqui em nossa versão de ‘o cantor mascarado’, quando interpretou os Concertos para Piano de Brahms. É um pianista notável e sua gravação chegou até aqui por apresentar uma visão um pouco mais ponderada, dando um pouco mais de ‘ar’ aos estudos. Além dos estudos, sua gravação traz outras peças para piano que levam a mão do sempre disponível e amigo André Caplet. Vale a pena explorá-las.
Veja a lista de ‘extras’:
Élégie, L138
Le Martyre de Saint Sébastien – Suíte
I. La Cour des Lys. Prélude (transcription André Caplet)
II.Danse extatique (transcription André Caplet)
III. La Chambre magique (transcription André Caplet)
Pierre-Laurent Aimard é um pianista mais geralmente associado à música moderna e/ou contemporânea e foi colaborador de Pierre Boulez. Assim, sua abordagem da música mais tradicional, como os Concertos para Piano de Beethoven ou Mozart, das obras de Bach e, em particular, de Debussy, traz um olhar diferenciado. Veja a crítica que este disco recebeu do compêndio da Gramaphone de 2009: With Pierre-Laurent Aimard the sheer freshness and novelty of this music come across strongly. So does the ardour; whereas some players are content with mood and atmosphere, his communication of feeling is acute. Assim como foi o caso do disco do Bianconi, aqui os Estudos não estão sozinhos. Neste caso, estão acompanhados de uma ótima interpretação das Images.
Espero que tenha gostado das opções que apresento aqui… Acrescente também as ótimas gravações que estão na postagem da Integral das Obras para Piano com os pianistas François Chaplin, François-Joel Thiollier, Jean-Efflam Bavouzet, Jean-Yves Thibaudet, Martino Tirimo, Noriko Ogawa e Théodore Paraskivesko.
Alô Radamés, te ligo
Aqui fala o Tom Jobim
Vamos tomar um chope
Te apanho na mesma esquina
Já comprei o amendoim
Imagine alguém que tenha sido parceiro de Tom Jobim, Villa-Lobos, Pixinguinha… O pai era músico nascido na Itália – apaixonado por óperas de Verdi. Quando nasceram os filhos foi logo tascando: Aída, Ernani… e Radamés!
Adivinhe o nome de pelo menos três enormes personagens da nossa música aqui reunidos…
Radamés Gnattali foi músico completo – pianista (interpretou o Concerto nº 1 de Tchaikovsky no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Arnold Glüchman), compositor, arranjador, regente. Seu Concerto para Piano No. 2 foi interpretado nos Estados Unidos da América por Arnaldo Estrella, acompanhado pela Orquestra da Filadélfia sob a regência de Eugene Ormandy, que escreveu na partitura usada na ocasião: To Mr. Gnattali – with admiration for his excellent Piano Concerto, E. O. Philadelphia, 3rd April 1943.
Radamés com o outro Rabello
Este disco da postagem foi uma agradabilíssima surpresa num domingo meio chato. Estava em busca de um disco de Raphael Rabello e dei com meus costados neste, de seu sobrinho, o pianista Luís Rabello. Gostei tanto do disco que imediatamente me pus a preparar a postagem. E que a música fale por si, baixe logo e aproveite – delicie-se!
Quizz: Qual ator você escalaria para o papel de Luís Rabello?
Para saber um pouco mais sobre o maestro, pode ver aqui e aqui.
In the music of Radames Gnattali (1906-1988) you will discover a fabulous craftsman, a great inventor of memories, a relentless experimenter. Gnattali is one of the major figures of the Brasilian 20th century musical landscape and Luis Rabello is likely the most authoritative exponent of his piano output.
The album is a portrait of Gnattali’s piano music, with heart warming melodies, dazzling virtuosity and a blend of Brazilian musical flavours where Classical music meets Jazz, Bossa-Nova, Samba and Choro.
Luis Rabello is a Brazilian classical pianist living in the Netherlands. Rabello was born in Rio de Janeiro into a family of renowned musicians who represented traditional musical genres in Brazil such as the Choro, Samba and Bossa Nova. [Prestomusic.com]
Aproveite!
René denon
Um poema de Tom Jobim para Radamés Gnattali:
Meu amigo Radamés é coisa melhor que tem
É um dia de sol na floresta, é a graça de querer bem
Radamés é água alta, é fonte que nunca seca
É cachoeira de amor, é chorão, é rei da peteca
Deu sem saber que dava e deu muito mais que tinha
Multiplicaram-se os pães, multiplicou-se a sardinha
O Radar é concertista, compositor, pianista, orquestrador, maestrão
E, mais que tudo, é amigo, navega junto contigo
É constante doação
Ajudou a todo mundo, e mais ajudou a mim.
Alô Radamés, te ligo
Aqui fala o Tom Jobim
Vamos tomar um chope
Te apanho na mesma esquina
Já comprei o amendoim
Os pais de Claude Debussy eram pessoas simples – uma costureira e um balconista – e ficaram cheios de planos quando ele, com apenas dez anos, foi aceito no Conservatório de Paris para estudar piano. Uma carreira como pianista, virtuose do instrumento, seria a realização de um sonho. Mas, bem pouco tempo depois, a realidade se mostrou outra, para grande exasperação tanto dos pais quanto dos professores. O garoto adorava distorcer cada efeito do pobre instrumento e não parava de murmurar, como se estivesse todo o tempo falando com o instrumento. A avaliação dos mestres: ótimo acompanhante e dono de grande invenção harmônica, mas não um pianista!
Hoje é impossível falar da música para piano sem mencionar Claude Debussy, cuja obra para piano certamente deixou sua marca e influência. Basta pensar nos Prelúdios e nos Estudos.
Neste momento em que o colocamos em destaque pela passagem de 160 anos de seu nascimento, decidi evidenciar nesta postagem o aspecto desta obra que lança um apelo aos pianistas virtuoses. É claro, não deu para explorar o tema até o fundo (ah, se Conde Vassily se atracasse com isso…), mas a ideia é pontuar, lembrar esse aspecto.
Minhas limitações e poucos recursos me deixaram com estes dois pianistas, um do século 20, que de certa forma, também foi o século da música para piano de Claude: Vladimir Horowitz; o outro é bem atual e atuante: Marc-André Hamelin.
O primeiro arquivo é o conteúdo de um disco gravado por Marc-André Hamelin, todo dedicado a peças de Debussy. Os dois conjuntos de três peças para piano cada um, Images I e II, escritos entre 1901 e 1907, e o segundo livro dos Prelúdios, de 1912-13.
A música contida aqui nos revela como Debussy era inspirado pelas mais diferentes formas de arte e como ele conseguia recriar, de forma inovadora, as diferentes belezas – impressões – palavra que ele mesmo não aceitava, em sua própria arte.
Mas, aviso aos navegantes! Se você ainda não conhece esta música, a primeira parte do disco demanda um bom momento para ser ouvida, sem pressas ou ansiedades. Permita que as belezas sonoras extraídas do piano possam ser devidamente apreciadas. Se você prefere mais ação, vá até os prelúdios, depois de ouvir alguns movimentos das Images e, depois, volte… Não há pressa!
Marc-André Hamelin, em pose de pianista…
Veja os nomes das peças das Images: Reflets dans l’eau, Et la lune descend sur le temple qui fut, Poissons d’or. Para realizar estas peças é necessário sensibilidade, inteligência, controle do tempo e o requisito que motivou a postagem, virtuosismo. Basta pensar no último dos Prelúdios, aqui interpretado magistralmente por Hamelin: Feux d’artifice.
O segundo arquivo, que oferecemos apenas em mp3, é uma compilação de algumas (poucas, pena…) peças de Debussy que Volodya tocava. Ele, que assim como Marc-André Hamelin, poderia tocar ‘qualquer coisa’, tinha estas peças em seu repertório. Aqui reunimos gravações feitas em estúdio com gravações ‘ao vivo’. Na verdade, duas peças são apresentadas duas vezes cada uma, gravadas assim, primeiro em estúdio e depois a gravação ao vivo.
A faixa 00 lhe dará uma ideia de como reage o pessoal do PQP Bach quando Volodya aparece por aqui, mas se isso te incomodar muito, pode simplesmente excluí-la.
A seleção de Horowitz começa com alguns Prelúdios, quatro deles: “Les fées sont d’exquises danseuses, Bruyères, “General Lavine” – eccentrique e La terrasse des audiences du clair de lune. Todos em comum com o Hamelin. Um estudo para mostrar que era perfeito nos arpejos e duas típicas peças de encores: Serenade for the doll, da Suíte Children’s Corner, para deixar a plateia bem quietinha (que um bom pianista é assim, bota todo o mundo sob seu feitiço), fechando o petit recital com L’isle joyeuse, para sair nos ombros da multidão!
Primeiro Arquivo
Claude Debussy (1862 – 1918)
Images pour piano – Livro 1
Reflets dans l’eau
Hommage à Rameau
Mouvement
Images pour piano – Livro 2
Cloches à travers les feuilles
Et la lune descend sur le temple qui fut
Poissons d’or
Préludes – Livro 2
Brouillards: Modéré
Feuilles mortes: Lent et mélancolique
La Puerta del Vino: Mouvement de Habanera
Les fées sont d’exquises danseuses: Rapide et léger
Bruyères: Calme
«General Lavine»—excentric: Dans le style et le mouvement d’un Cake-Walk
Marc-André adorando conhecer a coleção de pianos do PQP Bach em Boston
The hallmarks of Hamelin’s style are always in evidence, and the clarity with which the polyphonic aspects of Reflets dans l’eau come through gives a sense of momentum rarely perceived in this piece.
BBC Music Magazine, janeiro de 2015
Hamelin’s stature, extraordinary from the start, increases with every new issue. And here in his latest album he subdues his legendary, transcendent technique to convey Debussy’s very essence with a surpassing ease and naturalness….Hamelin’s glistening sonority is flawlessly captured by the Hyperion team. This is a disc to treasure.
Gramophone, novembro de 2014
Segundo Arquivo
Claude Debussy (1862 – 1918)
Aplausos para Horowitz
Prelude IV, Book II – Les fees sont d’exquises danseuses (Gravação em Estúdio)
Prelude IV, Book II – Les fees sont d’exquises danseuses (Gravado ao Vivo)
Prelude V, Book II – Bruyeres (Gravação em Estúdio)
Prelude V, Book II – Bruyeres (Gravado ao Vivo)
Prelude VI, Book II – General Lavine-eccentric Cake-Walk (Gravação em Estúdio)
Préludes VII, Book II – La terrasse des audiences du clair de lune (Gravação ao Vivo)
Étude – Pour les arpeges composes- Dolce e lusingando (Gravado ao Vivo)
Serenade for the Doll – Allegretto ma non troppo (Gravado ao Vivo)
As faixas 0, 2, 4 e 6 foram gravadas ao vivo em um concerto no Woolsey Hall da Yale University em 13 de novembro de 1966.
As faixas 1, 3 e 5 foram gravadas em estúdio entre 1962 e 1963. Produção de Thomas Frost. (Estas faixas fazem parte dos dois primeiros volumes de uma coleção lançada pela Sony com gravações de Horowitz e trazem as sessões de gravação feitas entre 1962 e 1963 no estúdio montado pela Columbia na mansão do artista, que se recusava a se mostrar num estúdio.)
As três últimas faixas foram gravadas no Concerto do Carnegie Hall de 1966. (Também fazem parte da coleção mencionada anteriormente.)
O número 790 da 11th Avenue de NYC fica próximo a endereços famosos para os amantes da música – Carnegie Hall, Lincoln Center for Performing Arts e, uns três quarteirões dali, a Broadway.
Foi neste lugar que a pianista Hiroko Sasaki terminou a sua busca por um piano para realizar a gravação dos Prelúdios, de Debussy. O projeto já vinha amadurecendo há muitos anos e finalmente ela estava na fase de encontrar um instrumento adequado para realiza-lo, assim como o imaginava. No endereço citado, há uma firma de restauração de pianos de concerto e para colecionadores, a Klavierhaus. E foi buscando entre os pianos lá dispostos que ela avistou um piano realmente diferente – vermelho com uma suntuosa decoração de apliques folheados a ouro, Chinoiserie – à Louis XV.
Ela o experimentou quase que por diversão e se apaixonou por ele. O instrumento é um piano Pleyel, construído em 1873 pela Pleyel, Lyon & Cie, de Paris. Foi construído em uma estrutura original de cravo, que o coloca ainda mais em uma situação sui-generis.
Hiroko conta que tocou alguns dos prelúdios no lindo piano e percebeu que havia encontrado o instrumento para realizar o seu projeto. Nem tudo estava perfeito, no entanto. Havia limitações, especialmente no volume de som a que nos acostumamos perceber nas interpretações de alguns prelúdios. Mas, os outros aspectos falaram mais alto e adaptações foram feitas pela pianista. O antigo piano lhe revelou coisas sobre essa música que ela ainda não percebera. Assim, espero que você ao ouvir o disco também descubra ou reencontre aspectos que essa maravilhosa música certamente pode lhe oferecer.
A famosa pianista Mitsuko Uchida arranjou para que a garota de Hiroko Sasaki, de 13 anos, deixasse o Japão para estudar na Yehudi Menuhin School, na Inglaterra. Aos 16 anos ela foi estudar com o lendário Leon Fleisher, no Curtis Institute, completando seus estudos em 1994. Além de carreira solo, Hiroko faz parte de um conjunto camerístico, o Amadeus Trio, ao lado de David Teie e Timothy Baker.
Essa postagem também faz parte das comemorações pelos 160 anos do nascimento de Claude Debussy (#DEBUSSY160) e eu escolhi esta gravação dos Prelúdios, que eu tanto gosto. É claro, esta é apenas uma gravação entre tantas, mas a cada audição, mesmo de não tão famosos intérpretes, consigo desfrutar dessa maravilhosa música.
O que você não pode deixar de ouvir?
Em se tratando dos Prelúdios, há muitos pequenos tesouros sonoros com os quais você pode se deleitar. A Catedral Submersa, no primeiro livro, certamente chama a atenção e gruda na memória. Mas há outros também, como o hiperativo Le vent dans la plaine. Mais um dos meus favoritos é Les sons et parfums tournent dans l’air du soir, pelo seu nome e atmosfera inebriante.
No livro 2, não deixe de passar pela Puerta del Vino, com toda a sua espanholice e deixe-se carregar pelos últimos dois – Les tierces alternées (o único título sem poesia, ou com poesia concreta) e os Fogos de Artifício, comemorando um 14 de julho, viva a França!
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes – Livre 1
Danseuses de Delphes
Voiles
Le vent dans la plaine
Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir
When acclaimed pianist Hiroko Sasaki was looking for an instrument to record the Debussy Preludes on, she happened to spot a strange looking instrument, which turned out to be a Pleyel concert grand built in 1873, and she instantly fell in love with it. The piano, built in a beautifully ornamented harpsichord case, offers her the special sonorities, dynamics and colours that she thinks are essential in Debussy, who himself owned a Pleyel piano, his favourite instrument.
The result is fascinating, the familiar music is clothed in a new sound, the pianissimos seem to come from “a piano without hammers”, as Debussy wanted it. But an instrument needs a master to sound great, and Hiroko Sasaki does marvels with these 24 character pieces, full of atmosphere, caprice and imagination.
Louis XV Chinoiserie…
“exquisite proportion, rare poetic understatement, and a connoisseur’s in-depth grasp of many unusual textual options.”
— Musical America
Debussy: Preludes Books I and II review – beautiful sound Debussy would have recognised
Hiroko Sasaki’s performances, on an immaculately restored piano from 1873, have a sense of rightness about them
— Andrew Clements
Não perca, especialmente descubra que as fadas são dançarinas exóticas!
René Denon
Se você gostou dos Prelúdios de Debussy, não deve deixar de visitar essa postagem aqui:
Paul Jacobs foi um pianista muito especial… As suas outras gravações de obras de Debussy para o selo Nonesuch poderão ser encontradas nas duas próximas postagens:
Se houvesse um único critério para estabelecer se este ou aquele compositor teria passagem para o panteão dos imortais, na minha opinião, seria o reconhecimento imediato de alguma de suas peças, melodia (tune), vocês me entendem, pelos ‘trouxas’, aquelas pessoas que não são como nós e raramente ouvem música ‘clássica’, quem dirá leem os nomes das peças nas capas dos discos ou nos visores do streaming.
Lembra-se da sequência no início do filme ‘Amadeus’, de Milos Forman, na qual o idoso Salieri experimentando seu já não tão lento afundamento no esquecimento? Nenhum de seus ‘hits’ é reconhecido pelo padre que o assiste, mas eis que por encanto, um delas ascende os olhos do sacerdote desejoso de agradar ao decrépito Salieri – Sim, está sim, eu reconheço bem! – Pois esta não é minha, é da ‘criatura’! Assim é como Salieri se referia à Mozart.
Aplicando este mundano (admito) critério a Debussy ele teria passe livre para o tal panteão, um único bilhete no qual estaria escrito Clair de lune! Uma única evidência para tão ousada afirmação: basta lembrar do filme Frankie and Johnny (1996), com a deslumbrante Michelle Pfeiffer e o carismático Al Pacino. Se você não se lembra do filme, busque a última cena dele. Eu digo pela música, a melodia de Clair de lune surge na forma como foi composta por Debussy, para piano, e depois vai se transmutando em uma peça para orquestra. A continuidade das cenas embalada pela música é bastante interessante, levando em conta o momento em que o filme foi feito.
Henri Büsser, quando jovem…
Neste disco temos algo assim, a música composta originalmente por Debussy para piano é apresentada em roupas de música para orquestra. A orquestração não é de Debussy, mas é quase como se fosse. Os orquestradores eram muito próximos, colaboradores e amigos dele, Henri Büsser e André Caplet.
Começamos com a Petit suíte, composta em 1899 para piano a quatro mãos e orquestrada por Henri Büsser em 1907, que foi plenamente aprovada por Debussy e é um sucesso desde então. A posto que você nunca deixará de reconhecer os acordes iniciais do primeiro movimento, En bateau.
Adivinhe qual ator seria escalado para fazer o papel do Caplet…
Em 1905 nasceu Chouchou, a filha de Debussy, que acabou escrevendo para ela a suíte Children´s Corner. A dedicatória ‘dear little Chouchou, with tender apologies from her father for what follows’, assim como os títulos dos movimentos, foram dados em inglês pelo próprio Claude. Ele gostava de inglês, especialmente dos escritos de Edgar Allan Poe. A orquestração ficou aos cuidados de André Caplet, amigo e colaborador de Debussy e também compositor. Entre os movimentos desta suíte, a Serenade for the Doll era um dos encores de Horowitz.
Em 1913, o ilustrador André Hellé (veja a capa do disco) sugeriu a Debussy que compusesse um balé para fantoches, descrevendo as aventuras de brinquedos que ganham vida. O tema faz sucesso desde sempre. Debussy certamente conhecia os balés de Tchaikovsky e de seu contemporâneo inovador Stravinsky. O resultado foi La Boîte à joujou que ele compôs para piano e iniciou a orquestração, mas que só foi terminada em 1919, de novo, por Caplet.
Pascal Rophé e a ONPL achando a Sala de Concertos do PQP Bach em Pomerode encantadora…
With the present disc, Pascal Rophé and his Orchestre National des Pays de la Loire pay tribute to their great countryman, Claude Debussy – but not with the standard orchestral fare. Debussy Orchestrated paints a portrait of a light-hearted composer, seen through the eyes of two of his collaborators, Henri Büsser and André Caplet, who transferred the works recorded here from the keyboard to the orchestra. [Resumo do site Prestomusic]
Both La boîte à joujoux and the similarly enchanting Children’s Corner are performed with deft panache by this quality orchestra, whose subtly shaded tone and style sound much more like those of earlier French vintages than the globalised full-colour sonority dominating elsewhere today. There are outstanding individual players, among them the principal oboe, whose haunting contribution to ‘The Little Shepherd’ in Children’s Corner is a special moment. [BBC Music Magazine, maio de 2022]
the playing is exquisite….a wonderfully engaging disc of great charm. [Gramophone, abril de 2022]
Aproveite!
René Denon
Pascal Rophé… Rophé!
Resposta do nosso quizz:
Quizz 2: Qual o nome da rádio, do programa de rádio e do apresentador do mesmo, no filme Frankie e Johnny?
Os três homens não poderiam ser mais diferentes, nos aspectos e temperamentos… Apesar de cada um ter já um nome firmado como solista de seu próprio instrumento, quando se reuniam formavam um conjunto notável, pela maneira como se completavam musicalmente, recriando com rara espontaneidade as obras para trio com piano. Tanto que seu exemplo ajudou a firmar este tipo de conjunto. Esse famoso trio costumava reunir-se com regularidade para ensaiar, estudar novas peças, mas também para falar de literatura, pintura, dança e, é claro, música. Mas eis que em certa ocasião, lá se foi o violoncelista para sua natal Catalunha por uns tempos, deixando o pianista e o violinista às voltas com sonatas, incluindo a famosa Sonata de César Franck. Pois foi assim, num destes dias, o pianista chegou mais cedo e o violinista atrasou mais do que o costume. O pianista, para não se entediar, começou, de brincadeira, a tocar a sonata TODA. Isso mesmo, não apenas a pouco trivial parte do piano, mas, assim cantando com o teclado, ia incluindo também a parte do violino. Bom, o pianista era um bamba e quando o violinista ouviu um trecho, foi logo prometendo nunca mais se atrasar – pois que senão você fará o recital sozinho, disse ele.
P. Casals, J. Thibaud e A. Cortot
Confesso ter imaginado isso tudo, mas que a história é plausível, ah, isso é. O trio a que me refiro era formado por Alfred Cortot (piano), Jacques Thibaud (violino) e Pablo Casals (violoncelo). O trio foi formado em 1905 e esteve ativo por décadas. Há registros dos três e, também, de Cortot e Thibaud tocando a tal Sonata de César Franck. Mas a postagem de hoje trata principalmente do pianista, regente e arranjador Alfred Cortot.
Como geralmente faço, estava revirando umas pilhas de discos que temos acumulados aqui no vault do PQP Bach Coop. em busca de coisas que goste ou de que possa vir a gostar. Acabei encontrando um disco que apesar de bem interessante, não chegou à postagem. Teve, no entanto, o mérito de indicar este arranjo – transcrição – da Sonata para Violino de César Franck para piano solo, feito por Alfred Cortot. Sai em busca de outras gravações e encontrei mais três discos com a peça. Depois de trocentas audições, dois deles acabaram entrando para a postagem. Eu nem sou assim um ouvinte assíduo das peças de Franck, acho que sua Sinfonia fica muito tempo taxiando antes de decolar e tal. Mas a Sonata para Violino, essa merece lugar de destaque. Minha gravação referência é a feita por Kyung-Wha Chung (violino) e Radu Lupu (piano), mas há muitas outras, excelentes.
No primeiro disco escolhido para a postagem, interpretados pelo ótimo pianista He Yue, encontramos um punhado de transcrições para piano de obras de diversos compositores, feitas por Cortot. As escolhas das fontes revelam dois aspectos das atividades ligadas ao piano. A de professor, que se preocupava com o aspecto técnico. Para ele, a música da Bach era muito importante na formação de um pianista. Esse aspecto está aqui na forma de uma transcrição da Toccata e Fuga em ré menor BWV 565. Imagino se o Capitão Nemo conhecia essa…
Mas Cortot também tinha um olho na audiência. Veja quais dois maravilhosos Lieder ele escolheu para transcrever: Wiegenlied, uma canção de ninar, de Brahms, e Heidenröslein, um dos maiores sucessos de Schubert. O Largo do Concerto em fá menor de Bach também tem uma dessas marcantes melodias, que gruda na memória da gente. Há também os desafios para qualquer pianista, dar conta sozinho de música que foi concebida para conjuntos maiores, como a Suíte Dolly, de Gabriel Fauré, escrita para duo de piano, o Largo da Sonata para Violoncelo de Chopin e a Sonata de César Franck, que completa o disco e foi a motivação para a postagem.
O segundo disco oferece música escrita originalmente apenas por César Franck, incluindo a tal transcrição para piano solo da Sonata para violino e piano feita por Cortot. Aqui uma interpretação um pouco diferente, talvez mais contida do que o virtuosismo do He Yue, mas o som produzido por Domenico Codispoti é muito bonito e não lhe falta virtuosismo e brilho quando chega a hora disso. A outra peça é uma transcrição para piano de um Prelúdio, Fuga e Variações escrito para órgão, feita por Harold Bauer. Bauer é também um ótimo personagem para se descobrir, mas hoje a postagem é do Cortot. Fechando o disco, uma outra peça notável de Franck, o Prelúdio Coral e Fuga, escrito para piano. Esta peça é figurinha carimbada nos álbuns de vários grandes pianistas, como Stephen Hough, Murray Perahia ou Evgeny Kissin. (Não perca, em breve, no seu PQP Bach mais próximo…)
Disco 1
Música transcrita para piano por
Alfred Cortot (1877 – 1962)
escrita originalmente por:
Gabriel Fauré (1893 – 1897)
Suíte Dolly, Op. 56
Berceuse
Mi-a-ou: Allegro vivo
Le jardin de Dolly: Andantino
Kitty-valse: Tempo di valse
Tendresse: Andante
Le pas espagnol: Allegro
Johann Sebastian Bach (1685 -1750)
Toccata e Fugue em ré menor, BWV565
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Wiegenlied, Op. 49 No. 4 (Lullaby)
Johann Sebastian Bach (1685 -1750)
Concerto para Cravo em fá menor, BWV 1056:
Largo
Frédéric Chopin (1810 – 1849)
Sonata para violoncelo em sol menor, Op. 65
Largo
Franz Schubert (1797 – 1828)
Heidenröslein, D257
César Franck (1822 – 1890)
Sonata para violino em lá maior
Allegretto ben moderato
Allegro
Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
Allegretto poco mosso
He Yue, piano
Gravação: 27, 28 de outubro de 2012
Music Hall, Gu Lang Yu Piano School, Central Music Conservatory, Xiamen City, China
Legendary pianist Alfred Cortot’s distinguished reputation as an educator is demonstrated in these magnificent arrangements of chamber music for solo piano. They cover every aspect of technique and expression, from Bach’s demanding Toccata and Fugue in D minor to Fauré’s delectable Dolly Suite and the grand scale of Franck’s Violin Sonata. Award-winning pianist He Yue is a young and rising star of the Chinese musical firmament.
Disco 2
César Franck (1822 – 1890)
Sonata para violino em lá maior (Arranjo de Alfred Cortot)
Allegretto ben moderato
Allegro
Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
Allegretto poco mosso
Prelúdio, Fuga e Variações Op. 18 (Arranjo de Harold Bauer)
This CD contains the CD premiere of the transcription for piano solo of the Franck violin sonata, made by Alfred Cortot, a fascinating pianistic tour de force, the new pianistic textures giving a special sonority to the unique harmonies of this master piece. The Prélude, fugue et variation is originally an organ work, and is transcribed for piano by the famous pianist Harold Bauer. The Prélude, chorale et fugue is Franck’s pianistic pièce de résistance, although also here the influence of Franck the organist is never far away. An excellent new recording by Italian pianist Domenico Codispoti, playing with a beautiful blend of grandeur and intimacy, and a wonderful transparency (listen to the canonic 4-th movement of the violin sonata!).
Aproveite!
René Denon
Alfred testando um piano Pleyel da coleção do PQP Bach…
Este disco está a um passo de ser um disco de gatinhos. Para quem teve o privilégio de viver o suficiente sabe que havia discos de (capas com) gatinhos, recheados com os melhores movimentos de música ‘clássica’, retirados do acervo (monumental) da gravadora Philips.
É claro que o resultado costumava ser uma coleção, uma antologia com os melhores momentos, mas que assim reunidos poderia resultar de uma Dança do Sabre, de Katchaturian, surgir após a Ária da Suíte Orquestral No. 3, de Bach… e ainda, a tal endiabrada dança dos furiosos guerreiros anteceder o (possivelmente) mais famoso movimento de uma Suíte Francesa – Clair de Lune, de Debussy. Mas os discos de gatinhos vendiam muito bem e levaram as sementes da música clássica para muitos futuros apreciadores.
Aqui temos assim uma coleção de ‘melhores momentos’, mas com um repertório que guarda uma maior afinidade, girando em torno de peças de música francesa ou próxima, para piano a duas ou a quatro mãos. Os dois intérpretes, Ludmilla Guilmault e Jean-Noël Dubois intercalam-se nos solos e eventualmente se juntam em algumas das faixas.
Este disco reúne peças de compositores de grande renome com peças brilhantes de compositores menos conhecidos e me surpreendeu pela sua contagiante amabilidade e alegria. Minha simpatia foi totalmente conquistada pelas duas peças de Séverac, que ocupam as faixas dois e três. Essas duas peças interpretadas a quatro mãos revelam lindas sonoridades e um frescor contagiante.
Assim, sem qualquer pudor de esbanjar alegria, o disco desfila peças de Debussy – alguns prelúdios, a já mencionada Clair de lune e dois irresistíveis movimentos da Petit Suite. A escolha entre os muitos prelúdios é bem interessante e diversa. O disco começa calmamente com Voiles, depois haverá poesia de Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir, as brincadeiras da Serenata interrompida e completará com as pirotecnias de Feux d’artifice.
Há duas nobres e sentimentais valsas de Ravel, assim como os tristes pássaros e dois deliciosos números da Suíte da Mamães Gansa.
Não poderia faltar alguma coisa bem-humorada da música de Camille Saint-Saëns, dois movimentos do Carnaval dos Animais: os contrastantes Hémiones e Aquarium. Fauré inaugura o clima fandango espanhol com o espetacular Le pas espagnol, da Suíte Dolly, e o clima continua com duas peças de Manuel de Falla – uma dança espanhola (de La Vida Breve) e a Dança Ritual do Fogo (de El Amor Brujo).
Para fechar o cortejo, em clima de bis, a Marcha Turca de Mozart, que em certos trechos ganha um reforço sonoro…
Um disco para ser ouvido pelo prazer das lindas peças e que para algumas pessoas pode servir para despertar o interesse por este tipo de música, assim como no passado fizeram os discos de gatinhos.
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes, Livre 1, L. 117
Voiles
Ludmilla Guilmault, piano
Déodat de Séverac (1872 – 1921)
En Vacances, Vol. 1
Où l’on entend une vieille boîte à musique
Valse romantique
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
Maurice Ravel (1875 – 1937)
Valses nobles et sentimentales, M. 61
Assez lent, avec une expression intense
Vif
Ludmilla Guilmault, piano
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes, Livre 1, L. 117
Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir
Plus d’infos sur le ”Exotisme, Sonorités pittoresques” Concert-spectacle pour piano solo et à 4 mains par le Duo Cziffra à Paris
Dans ce choix de répertoire que j’ai choisie de Debussy, ravel, Fauré, Saint-Säens, séverac, De Falla, Mozart sont des compositeurs qui nous font voyager par leur couleur locale de leur nouveaux timbres pianistiques avec notamment ce prélude les Sons et les Parfums de Debussy, des accords qui habillent des harmonies voluptueuses au rythme impressionnisme.
L’odeur hispanisante.
Exotisme exprime pour moi une harmonie du soir, propice à l’évocation d’un lointain passé.
Exotisme, des images qui semblent solliciter, l’ouïe, la vue, le toucher, l’odorat, établissant en musique ces correspondances ténues que Baudelaire, le premier devina en poésie.
Des sensations de couleurs d’exotisme.
Des odeurs d’oeuillet et d’arguardiente, une atmosphère de castagnettes avec la Sérénade Interrompue de Claude Debussy.
Ces pièces orientales de Ravel, Laideronette, impératrice des pagodes pour piano à 4 mains nous évoque ces pays lointains, ce dépaysement par le recours au patrimoine musical de chaque compositeur.
Falla tient à faire son miel des fleurs du folklore.
Falla, c’est l’Andalousie et son flamenco, des voluptueux jardins andalous, des Nuits à l’âpre.
Séverac, possède une sonorité charnue, couleur en taches plus vives, en pâte plus épaisse, ce goût des échelles modales. Il nous conte les paysages traversés, inspiration de sa chère Méditerranée.
Essa noite tive um sonho no qual il Petre Rosso reclamava da ausência de suas músicas nas postagens do blog – sono stato abbandonato…
Concerto no Ospedalle della Pietà
E olha que ele me parecia preparado para participar de um enorme concerto, cercado que estava de músicos com trompetes, trompas da caccia, e vários oboés, caramelas e coisas do gênero. Estou preparando uns concertos que chamarei concerti com molti instromenti, para encurtar os nomes, segredou-me o padre compositor. Posso me dar ao luxo de esbanjar imaginação na combinação de tantos instrumentos, pois tenho muitas alunas talentosas no Ospedalle della Pietà, que são maestras em toda a sorte de instrumento musical. Aquela Anna Maria, por exemplo, toca violino principalmente, mas também toca cravo, violoncelo, viola d’amore, alaúde e todos os instrumentos de pinicar… Entenda bem, nada de penicos!
Esses concertos faziam muito sucesso e atraiam os visitantes e turistas em Veneza para os concertos no Ospedalle e, como as órfãs ficavam escondidas, ocultas do público, suas inusitadas sonoridades causavam muitas surpresas. Os concertos com muitos instrumentos também faziam sucesso nos festivais promovidos por instituições religiosas como o convento de São Lourenço e a igreja Santa Maria Celeste, que aplicavam boa grana contratando orquestras que atraiam muitas pessoas.
Faziam também sucesso além da Sereníssima República de San Marco, chegando em terras germânicas, como na corte de Dresden, onde atuava Pisandel, amigo e antigo aluno de Don Antônio.
Aproveite para embarcar nesta viagem pelo mundo barroco e ouça este ótimo disco, bem inglês, desde o selo até os músicos, mas bastante afinado com as práticas do maestro Vivaldi. Eles já andaram por aqui apresentando seus discos com música sacra do padre…
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto em fá maior, RV574
Elizabeth Wallfisch (violino), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa)
Allegro
Grave
[Allegro]
Concerto funebre em si bemol maior, RV579
Katharina Spreckelsen (oboé), Colin Lawson (chalumeau), Elizabeth Wallfisch (violino), Katherine McGillivray (viola all’inglese), Jane Norman (viola all’inglese), Jane Coe (viola all’inglese)
Largo – Allegro poco poco – Adagio
Allegro
Concerto em ré maior, RV562
Elizabeth Wallfisch (violino), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa)
Andante – Allegro
Grave
Allegro
Concerto em fá maior, RV97
Katherine McGillivray (viola d’amore), Andrew Clark (trompa), Roger Montgomery (trompa), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote)
Largo – Allegro
[Largo]
Allegro
Concerto em ré maior, RV781
Crispian Steele-Perkins (trompete), James Ghigi (trompete)
Allegro
Grave
Elizabeth Wallfisch (violino)
Allegro
Concerto em dó maior, RV555
Rebecca Miles (flauta doce), Emma Murphy (flauta doce), Katharina Spreckelsen (oboé), Colin Lawson (chalumeau), Elizabeth Wallfisch (violino), Katherine McGillivray (viola all’inglese), Jane Norman (viola all’inglese), James O’Donnell (cravo), James Johnstone (cravo)
Allegro
Largo
Allegro
Lucy Howard (violino), Walter Reiter (violino em tromba marina)
Concerto em ré menor, RV566
Rebecca Miles (flauta doce), Emma Murphy (flauta doce), Katharina Spreckelsen (oboé), Alexandra Bellamy (oboé), Alastair Mitchell (fagote), Elizabeth Wallfisch (violino), Walter Reiter (violino)
O pessoal que escreve crítica gostou do disco: ‘Why mince words? This collection is one of the best Vivaldi records I have heard since I began reviewing records 40 years ago. Every movement is sheer delight’ (American Record Guide)
‘A fascinating collection of unusually-scored concerti’ (Classic CD)
E você, vai deixar passar essa chance?
Aproveite!
René Denon
PS: Se você gostou desta música, vai querer visitar também esta postagem aqui:
Imagine você como um jovem pianista dando um recital no qual comparece o compositor de algumas das peças a serem tocadas e, naquele trecho que você ensaiou trocentas vezes, tropeça? Bem, na verdade, a única pessoa no auditório que poderia notar sua escorregadela seria o próprio compositor. Mais tarde, logo depois do concerto, você tem a oportunidade de conversar com o compositor: E aí, o que achou? Gostou de minhas interpretações, a despeito da escorregada na Pastorella? Isso é tudo o que consegue tartamudear diante do autor, mas é surpreendido por uma sonora gargalhada… Mais surpreso por ouvir que ele gostou é por descobrir que ele mesmo havia, certa vez, tropeçado no mesmo trecho.
Foi assim que nasceu uma forte colaboração artística entre o compositor Francis Poulenc e o então jovem pianista Gabriel Tacchino, colaboração esta que durou por alguns anos.
Gabriel Tacchino tornou-se uma referência para a obra para piano de Poulenc. Na entrevista que você poderá ler no livreto ele afirma que a música para piano de Poulenc busca a simplicidade e é sensível e perspicaz, assim como o próprio compositor. Sua música tem um caráter lírico, uma elegância despretensiosa e uma distinta linguagem harmônica, que a torna imediatamente reconhecível.
Estas características todas podem ser vistas ao longo das faixas deste disco, uma coletânea feita por Gabriel Tacchino dentre a obra toda gravada por ele, acrescida de uma ou outra faixa gravada para a ocasião. Como ele mencionou na entrevista, com este lançamento pretendia popularizar esta obra, buscando um equilíbrio entre a frivolidade e seriedade que fazem parte dela.
Os três movimentos perpétuos, que aparecem um pouco no início do disco, não foram as primeiras peças para piano de Poulenc que eu ouvi, mas foram as primeiras nas quais eu identifiquei como sendo dele, com as características que tornam suas peças tão distintas e especiais. Não deixe de ouvi-las também neste recital de música francesa de Rubinstein.
Eu já postei dois discos só com música para piano de Poulenc, mas este, devido ao arranjo do programa, é bem especial.
Yvonne Printemps
Há dois aspectos da música para piano de Poulenc que gostaria de realçar com a ajuda do disco. Sua música reflete seu amor pelas canções populares de seu tempo, criando uma maior proximidade entre a música popular e a música (digamos) erudita. Isso fica evidente nas duas primeiras faixas: Les chemins de l’amour (título que dispensa tradução) e uma Hommage à Edith Piaf. Esta última peça traz a mistura de sentimentos e sensualidade que ele admirava nela. Quanto a valsa cantada, Les chemins de l’amour é uma canção que ele compôs para Yvonne Printemps em 1940. Como disse Gabriel Tacchino, Poulenc dobrou a melodia vocal no piano, para dar à voz ainda mais apoio e, por isso, este pequeno milagre pode ser apresentado como uma peça para piano solo, sem nenhuma perda. Esta é uma das faixas gravadas especialmente para a coleção.
Volodia adorou a anedota…
Outra coisa que era fundamental para Poulenc com respeito à interpretação de suas músicas diz respeito ao tempo. Eu prefiro um punhado de notas erradas, mas nunca acelerar ou retardar o tempo! A propósito disso, Tacchino uma vez questionou as marcas do metrônomo dadas por Poulenc para sua Toccata, que era terrivelmente difícil manter-se estritamente naquele tempo, muito rápido, como indicado na partitura. Poulenc então perguntou-lhe: “Você ouviu a gravação feita por Horowitz? Não? Bem, você deve ouvi-la e posso lhe dizer que ELE toca no tempo que eu determinei”. Depois disso, Poulenc teria pedido a Gabriel que lhe trouxesse sua partitura da peça e nela escreveu: “Para meu querido Tacchino, que tocará a Toccata alla Volodia…”
A propósito, a Toccata é a última faixa do disco!
Francis Poulenc (1899 – 1963)
Léocadia, FP 106 I. Les chemins de l’amour
15 Improvisations, No. 15 em dó menor ‘Hommage à Edith Piaf’
Mélancolie
Trois Mouvements perpétuels
Assez modéré
Très modéré
Alerte
Novelette No. 3 em mi menor, sur un thème de Manuel de Falla
15 Improvisations, No. 12 em mi bemol maior ‘hommage à Schubert’
Les Soirées de Nazelles – Variação II. Le coeur sur la main
Suite française (d’après Claude Gervaise), FP80
Pastourelle em si bemol maior, de “L’Éventail de Jeanne”, FP 45b
Presto em si bemol maior
8 Nocturnes
Sans traîner
Assez allant
Improvisations, No. 13 em lá menor
Suite française (d’après Claude Gervaise), FP80
Bransle de Champagne. Modéré mais sans lenteur
Sicilienne. Très doucement
Valsa em dó maior
2 Novelettes, FP 47: I. Modéré sans lenteur
Suite française d’après Claude Gervaise, FP 80b: I. Bransle de Bourgogne. Gai mais sans hâte
Villageoises
Valse tyrolienne. Gai
Staccato. Pas vite
Polka. Sans hâte
8 Nocturnes, FP 56: IV. Bal fantôme. Lent, très las et piano
10 Improvisations, FP 63
7 em dó maior (Modéré sans lenteur)
2 em lá bemol maior (Assez animé)
Bourrée, au Pavillon d’Auvergne
Thème varié
Variation III – Pastorale
Variation VI – Ironique
Suíte para Piano em dó maior, FP 19: I. Presto
5 Impromptus, FP 21: III. Très modéré
Novelettes, FP 47: II. Très rapide et rythmé
Sonata para piano a quatro mãos, FP 8: II. Rustique
Críticas da Amazon podem ser tendenciosas, mas achei esta aqui bastante razoável: If you discovered the music of Francis Poulenc during the 60s or 70s, it is most likely that you had an LP of Maestro Tacchino playing. After decades, I still remember those EMI/Angel records, the discovery and the pleasure of listening to such melodic richness, without an ounce of sugary excess. No wonder, Gabriel Tacchino was the only pupil Poulenc had, studying also under the tutelage of the great Jacques Fevrier. More authentic it cannot be! […] By the end of this disc I was literally elated. As if I was sitting at a beautiful parisian Café, enjoying patisserie with coffee, and watching people go by. A listening ride worth having.
Aproveite!
René Denon
Gabriel Tacchino experimentando um dos grandes pianos do PQP Bach…
Aqui em casa adoramos os encontros e desencontros do Chefe Hong e da Senhora Dentista – Hong Du-sik, o faz tudo de Gongjin, cidade costeira da Coréia do Sul e Yoon Hye-jin, dentista que se transferiu para a pequena cidade. O resto do elenco é muito divertido. Mi-seon é a ‘miga’ de Hye-jin e faz com o policial Choi Eun-chul um par à la Papagena-Papageno, mas aqui é a Mi-seon a líder da dupla, pois o policial Eun-chul é a pessoa mais tímida na face da terra.
A Papagena-Mi-seon e seu par…A simpática Senhora Gam-ri
A terceira idade também está presente, como a sábia e simpática Senhora Kim Gam-ri, que tem a figura de avó-funcional do Tamino da série, o faz-tudo Du-sik.
Mas por que estou mencionando isto tudo nesta postagem de Schubert? Bem, por nada… é que eu gostei do disco e gosto bastante da K-série, que assisto com minha querida, que ao ver a capa do disco no painel multimídia do carro em nossa última viagem, quis logo saber se Suyoen Kim e Dong-Hyek Lim seriam os protagonistas de alguma nova K-série…
Suyoen Kim
Suyoen Kim é coreana, mas nasceu em Münster, na Alemanha. Começou a tocar violino muito cedo e tornou-se a mais jovem estudante em uma escola de música alemã ao ser admitida como aluna externa na Detmold Musikhochschule. Aos 16 anos já dava concertos com famosas orquestras e participava de competições internacionais.
O pianista Dong-Hyek Lim também estudou na Alemanha, na Hochschule für Musik de Hanover e aperfeiçoou-se na Julliard School com Emanuel Ax. Dong-Hyek Lim é um dos muitos pianistas que receberam atenção e apoio no início de suas carreiras da especialíssima Martha Argerich. Esta é a primeira aparição dele aqui no blog, mas esperamos recebe-lo com mais frequência de agora em diante.
Enquanto isso, aproveitem este disco com música para violino e piano no mestre Schubert, pois que esse repertório não é muito vasto e relativamente pouco explorado.
A Sonata foi composta em 1828, junto com outras três sonatinas, enquanto o Rondó e a Fantasia são do último período de Schubert. Ele as compôs para o violinista Josef Slavík e pianista Carl Maria von Bocklet, que as interpretaram em 1827 ou 1828, mas antes da morte de Schubert.
Sobre a Fantasia: Harriet Smith compares recordings of Schubert’s Fantasie for Violin & Piano in C major, D934. It’s a piece which baffled its audience when it was premiered in 1828, because it was much longer and more complexly structured than the conservative Viennese audience was used to. Despite using a recognisable melody of one of Schubert’s own songs in its central variation movement, a contemporary review remarked that the piece took rather more time and concentration than “a Viennese is prepared to devote to pleasures of the mind.” Great virtuosity is required from both violin & piano, so which duo of performers will come out on top?
Veja o que disse Dong-Hyek Lim sobre a música de Schubert, a propósito de outro de seus discos: I feel privileged that I can now present my thoughts and ideas about Schubert.
Aproveite!
René Denon
A cara que o Dong-Hyek fez quando lhe perguntamos se ele assiste as K-séries…
O disco desta postagem já apareceu PQP Bach em 27 de fevereiro de 2013. Foram duas as postagens feitas naquele dia, segundo palavras do Presidente-Diretor, o próprio PQP Bach, autor da postagem de então. Ele gostou do disco, confiram lá!
Rafal Blechacz, pianista do dia…
De qualquer forma, os links não estão mais ativos, há muito sumidos com o vanished rapidshare. Como gostei bastante, tratei de dedicar-lhe nova postagem, que aqui vai.
Ele reúne três sonatas para piano de três compositores clássicos, que viveram partes de suas vidas em Viena e, de certa forma, se conheceram bem uns aos outros, apesar de Beethoven e Mozart terem se encontrado pessoalmente muito brevemente.
As sonatas são representantes do gênero clássico e trazem características deste período, mas as similaridades acabam por aqui. Elas foram compostas em momentos totalmente diferentes nas carreiras de cada um deles e cada uma delas revela em parte as personalidades de seus criadores, que não poderiam ser mais diferentes.
A Sonata em mi bemol maior, Hob. XVI: 52 (Hoboken), também conhecida pela numeração L. 62 (Landon), é a última sonata para piano composta por Haydn, em 1794, no seu último período criativo. Ele estava no auge da fama, já aposentado dos serviços à família Esterházy, viajando para Londres a convite do empresário J.P. Salomon. A sonata foi dedicada à pianista inglesa Therese Jansen, de quem foi padrinho de casamento e a quem dedicou os Trios com Piano Hob. XV: 27-29.
Esta é possivelmente a sonata mais conhecida de Haydn e merece a fama. As características de bom humor e ótimo gosto estão presentes e eu fiquei muito impressionado com a transição do segundo (Adagio) para o terceiro movimento (Presto) nesta interpretação do Rafal Blechacz, em geral mais identificado com o repertório romântico, como a música de Chopin.
A Sonata em lá maior, op. 2, 2 faz parte do primeiro grupo de sonatas para piano que Beethoven publicou e foi dedicada a Haydn, de quem Beethoven foi ‘aluno’. Apesar do baixo número de opus, ela foi composta em 1796, quando Beethoven tinha 26 anos e algumas sonatas para piano em seu portfólio. É bom lembrar também que Beethoven oscilou, no início de sua carreira, entre intérprete e compositor. Naqueles dias sua fama recaia principalmente em seus talentos como improvisador. A sua sonata já se distingue das demais no disco por ter quatro movimentos, sonata grande, com um brincalhão scherzo seguindo o Largo appassionato, Beethoven sempre quebrando o clima, e é arrematada por um gracioso rondó.
A última sonata do disco é a mais antiga delas, Sonata em ré maior, K. 311, composta por Mozart em 1777 em sua estada em Augsburg e Mannheim, no caminho de Paris. Ela foi publicada lá, em conjunto com as Sonatas K. 309 e 310 e são de um período intermediário do compositor. O primeiro movimento é o que eu considero um exemplo de música líquida, devido à sua fluidez, especialmente na interpretação de Rafal Blechacz. Com sua elusiva simplicidade, é uma típica obra de Mozart – que nos conquista sem que saibamos por que, basta ouvir e sorrir.
Rafał Blechacz has been named the 2014 PQP Bach Artist…
Textural transparency, expressive economy, creative inspiration, high humour and strategically placed silences characterise these three Haydn, Beethoven and Mozart sonatas, as well as Rafal Blechacz’s splendid, beautifully recorded interpretations. […] . In short, Blechacz’s third solo release (his second for DG) is by far his strongest yet.
Aproveite!
René Denon
PS: Se você gostou desta postagem, poderá se interessar por estas outras.
Aqui, sonatas de Beethoven intercaladas com sonatas de Beethoven…
Traduttore – traditore, diria Umberto Eco, um autor largamente traduzido e um tradutor extremamente prolífico. Quando alguém traduz, precisa inventar, recriar, e, portanto, trair. Mas não fossem as traduções, quantas obras-primas ficariam restritas aos seus espaços culturais de origem? Não resisto a fazer um paralelo entre a literatura e a música e, guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorreu com Johann Sebastian Bach.
Fico imaginando a avidez com que ele deve ter devorado as partituras de músicas italianas e francesas – Vivaldi e tantos outros – levadas pelo príncipe Johann Ernst, sobrinho do Duque de Saxe-Weimar, para esta corte, em sua visita por lá, por volta de 1713, após viajar pela Bélgica e Holanda.
Bach e seu amigo Telemann seguiam o conceito de imitatio e aemulatio,o princípio da imitação inicial, passando então a um estágio de desenvolvimento que buscava superar a imitação – vide o Concerto Italiano.
Bach começou a copiar as obras italianas e ao mesmo tempo passou a arranja-las, transcrevê-las para os seus próprios instrumentos – o cravo e o órgão.
Isso certamente legitima todos os compositores, maiores e menores, que se debruçaram sobre suas obras e as estudaram e as transcreveram, relendo-as segundo suas próprias perspectivas artísticas e seus próprios talentos. Com isso, as tornaram ainda mais acessíveis e as disponibilizaram para um público maior.
Algumas peças de Bach – a Chaconne da Partita em ré menor para violino eu conheci primeiro na transcrição feita por Ferruccio Busoni, para piano, peça que abre este disco. Algumas transcrições são mais traidoras, assim como esta Chaconne de Busoni, que parece maior, mais tonitruante, do que a peça original, para violino solo. Mas, quem sabe se essa mesma não seria uma transcrição de uma peça ainda mais anterior, para órgão?
Capitão Nemo verificando se a afinação do órgão estava adequada…
Outras guardam mais a singeleza do original, como ocorre nas transcrições feitas por Dame Myra Hess (Jesus, Alegria dos Homens…) e pelo incansável Wilhelm Kempff (Siciliano). Se o seu coração não se derreter com As Ovelhinhas Podem em Segurança Pastar, transcrição de Christopher Le Fleming, pode ir correndo fazer um exame no cardiologista mais próximo, pois que ele se transmutou em pedra.
A Suíte de Rachamaninov, arranjada de três peças da Partita em mi maior, vai surpreender muita gente, que associa este compositor aos arroubos românticos e acordes inalcançáveis.
E para arrematar, imagine o Capitão Nemo, tendo que ficar alguns dias em um porto, sem poder se deliciar com os sons do órgão, esperando uma completa revisão no Nautilus. É claro, ele alugaria um flat com um piano e atacaria a Toccata e Fuga em ré menor, na transgressão de Ferruccio Busoni, assim como está na peça que arremata o disco.
Este é um entre muitos discos com transcrições das obras de Bach para piano que tenho ouvido. Pretendo postar alguns mais, acrescentando mais insultos à esta injúria… O pianista da vez é inglês e bem conhecido por suas gravações das obras de Ravel, Debussy e Scriabin. Ele é atualmente professor do Royal College of Music de Londres.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Transcrições:
Ferruccio Busoni (1866 – 1924)
Chaconne da Partita em ré menor para violino, BWV 1004
Prelúdio Coral BWV645 ‘Wachet auf, ruft uns die Stimme’
Prelúdio Coral BWV659 ‘Nun komm, der Heiden Heiland’
Gordon Fergus-Thompson no Salão de Pianos do PQP BachLord Berners mostrando para a equipe do PQP Bach o piano no qual fez sua transcrição…
De todos os transcritores deste disco, de longe, o mais impressionante, não por sua obra, mas por sua excentricidade, é Lord Berners. Como não sou de dar spoiler, espero que você faça o dever de casa e descubra por você mesmo…
No dia 13 de maio de 2022 faleceu o organista Simon Preston. Em 4 de agosto ele completaria 84 anos. Simon Preston teve contato com a música muito cedo e aos cinco anos já havia se decidido pelo órgão. Foi organista de Westminster e Oxford até 1987, quando assumiu uma carreira de organista de concerto, apresentando-se pelo mundo todo.
Retrato do artista quando jovem
Seguindo um vago plano de postar as gravações das obras para órgão de Bach que ele gravou para a Deutsche Grammophon, decidi acrescentar este disco com o Pequeno Livro para Órgão, como uma homenagem em sua memória.
O título Orgelbüchlein pode dar uma impressão de despretensiosa, mas é o resultado de um planejamento até ousado. Em um realmente pequeno livro de 15,5 por 19 cm, Bach escreveu no alto de cada página nomes de 164 corais e tratou de preencher o livro com as composições que estão neste disco – 45 Prelúdios Corais. Essas composições foram criadas no período em que Bach passou em Weimar (1708 a 1717) mas o projeto ficou inconcluso com sua mudança para Cöthem. Em Weimar Bach dispunha do órgão da capela da corte que foi reconstruído entre 1712 e 1714 sob a sua orientação e determinações.
O título da obra, escrito pelo próprio Bach, diz: Pequeno Livro de Órgão, no qual o estudante de órgão é instruído sobre como deve desenvolver de diversas maneiras um coral e, ao mesmo tempo, adquirir experiência no uso do pedal, o qual, em cada um destes corais, é tratado como inteiramente obbligato.
Na edição de 1996 de The Penguin Guide to CD, o verbete dedicado a este disco é curto, mas eloquente: Simon Preston conveniently gathers all 45 chorales of the Orgelbüchlein on to a single (74-minute) CD and plays them with persuasive musicianship on a fine Danish organ.
Realmente, o disco foi gravado na Igreja Abbey, Sorø, na Dinamarca. Uma lista com os corais se encontra nos arquivos.
Nos fins da década de 1710, Bach escreveu a primeira versão de um concerto no qual o papel do cravo passou de coadjuvante para protagonista. Na versão final de 1721, como o Concerto de Brandenburgo No. 5, surgia o primeiro Concerto para Cravo – com direito a uma longa cadenza.
Outros viriam pelo próprio Johann Sebastian e muitos mais pelos seus filhos e pelos outros herdeiros musicais.
O cravo começou a ceder lugar para o piano que assumiu esse papel de protagonista nos concertos – como nos muitos e maravilhosos Concertos de Mozart, que são herdeiros dos concertos de Johann Christian…
Esfahani achou a travessia Rio-Niterói fascinante…
O cravo teve seu retorno, promovido por Wanda Landowska, que não queria interpretar apenas as músicas do passado e conseguiu que compositores seus contemporâneos, como Francis Poulenc e Manuel de Falla escrevessem peças para ela.
Não faz muito tempo fiz uma postagem apresentando obras de compositores bem recentes – John Rutter, Philip Glass e Jean Françaix, interpretados pelo cravista Christopher D. Lewis.
Pois temos aqui uma novidade – um concerto para cravo escrito para o espetacular Mahan Esfahani pelo compositor dinamarquês Poul Ruders.
Se você acha que vai encarar longos trechos de música que não dá para assobiar, está bem enganado. O concerto é lindo e você vai ouvi-lo muitas vezes. Aposto uma cocada…
Esfahani achou a sede do Departamento de Música Nova do PQP Bach muito descolada…Segerstam buscando nos arredores de Erechim inspiração para a sua trecentésima quadragésima quinta sinfonia…
Recorded live with Aarhus Symphony Orchestra and renowned harpsichordist Mahan Esfahani, under the direction of Leif Segerstam, at the world premiere in Aarhus, Denmark on September 10, 2020.
The Harpsichord Concerto was commissioned by Aarhus Symphony Orchestra and the Royal Scottish National Orchestra, for Mahan Esfahani.
The UK premiere took place on November 6, at Caird Hall in Dundee, with the Royal Scottish National Orchestra, under the direction of Thomas Søndergård.
O pianista Alexander ‘Lexo’ Toradze faleceu em 11 de maio de 2022 em South Bend, Indiana, EUA. Toradze foi professor de piano na Indiana University at South Bend por vários anos. Ele nasceu 69 anos antes em Tbilisi, Geórgia.
Em seu blog – SlippeDisc –, Norman Lebrecht conta que Lexo estava tocando um concerto de Shostakovich com a Vancouver Symphony Orchestra quando sofreu uma insuficiência cardíaca aguda. Mesmo assim, continuou até o fim do concerto: The pianista who played on through heart failure has died, foi o título da postagem.
O testemunho do regente Gerard Schwarz transcrito no post deixa evidente como o pianista era bem quisto pelos colegas.
Entre as suas gravações mais conhecidas há a integral dos Concertos para Piano de Prokofiev, acompanhado pela Kirov Orchestra, regida por Valery Gergiev. Eu tenho outros dois discos muito bons, gravados pela EMI (quando a EMI existia…), com peças solo de Ravel, Mussorgsky, Stravinsky e Prokofiev. O Gaspard de la nuit dele é comparável à gravação feita por Ivo Pogorelich e as Três Cenas de Petrushka estão bem juntas da gravação feita por Maurizio Pollini. Bem, essa é a minha opinião…
Este disco com os Concertos de Shostakovitch está ótimo!
Sobre o disco: Really beautiful renditions. Fabulous, confident secure playing – you really can just relax and enjoy every note. Powerful, lyrical and mischievous by turns. Highly recommended!
Sobre o pianista: Alexander Toradze is universally recognised as a masterful virtuoso in the grand Romantic tradition. With his unorthodox interpretations, deeply poetic lyricism, and intense emotional excitement, Alexander Toradze lays claim to his own strong place in the lineage of the great Russian pianists.