FDP Bach volta às sinfonias de Tchaikovsky. Desta vez, segue a Sinfonia nº3, bela, melancólica, em outros momentos pungente, mas angustiante, é um retrato de um artista angustiado, atormentado, melancólico, eternamente em luta contra seus demônios interiores, mas que ao mesmo tempo produziu uma obra belíssima, com melodias inesquecíveis. A regência de Jansons como sempre é segura e vibrante.
P.S. Uma correção: na postagem anterior informei que Jansons era lituano. Me equivoquei, e graças à um leitor atento nosso, fui corrigido: Na verdade ele nasceu em Riga, na Letônia, portanto é letão.
1- Symphony No. 3 In D Major Op. 29: I – Moderato assai (Tempo di marcia funebre) – Allegro brillante – P.I. Tchaikovsky
2. Symphony No. 3 In D Major Op. 29: II – Alla tedesca: Allegro moderato e semplice
3. Symphony No. 3 In D Major Op. 29: III – Andante elegiaco
4. Symphony No. 3 In D Major Op. 29: IV – Scherzo: Allegro vivo
5. Symphony No. 3 In D Major Op. 29: V – Finale: Allegro con fuoco – Tempo di polacca
Oslo Philarmonic Orchestra
Mariss Jansons – Director
Saint-Saëns nunca me apaixonou demais. OK, a Sinfonia do Órgão é espetacular, este Concerto para Violoncelo também, mas… não dá para falar mal do altamente erudito e grande viajante tiozão que CS-S. Imaginem que ele tinha impulsos súbitos de viajar e viajava para os lugares mais malucos de um dia para outro e isso numa época em que fazê-lo era complicado. Ele conheceu o Sri Lanka, a Indochina, o Egito e lugares tão exóticos e bisonhos quanto Rio de Janeiro e São Paulo! E isso em 1899! Pior, vocês não acreditar, mas ele foi aos Estados Unidos! Morreu em Argel numa dessas viagens.
Grande Saint-Saëns! Excelente CD!
Camille Saint-Saëns (1835-1921): Complete Works for Cello & Orchestra (Bollon, Moser)
1. Cello Concerto No. 1 in A minor, Op. 33
2. Cello Concerto No. 2 in D minor, Op. 119: Allegro moderato e maestoso – Andante sostenuto
3. Cello Concerto No. 2 in D minor, Op. 119: Allegro non troppo – Cadenza – Molto allegro
4. Suite for cello & orchestra, Op. 16bis: Prélude
5. Suite for cello & orchestra, Op. 16bis: Sérénade
6. Suite for cello & orchestra, Op. 16bis: Scherzo
7. Suite for cello & orchestra, Op. 16bis: Romance
8. Suite for cello & orchestra, Op. 16bis: Finale
9. Romance for horn (or cello) & orchestra (or piano) in F major, Op. 36
10. Allegro appassionato, for cello & piano (or orchestra) in B minor, Op. 43
11. The Swan (from ‘Carnival of the Animals’), original (for 2 pianos & ensemble) and arrangements
Johannes Moser, violoncelo
SWR Stuttgart Radio Symphony Orchestra
Fabrice Bollon
Mais um CD com os Quartetos de Shostakovich com o Éder. O Quarteto Nº 1, Op. 49, de 1938 tem um tom surpreendentemente leve e neoclássico. Foi composto quando Shosta tinha 32 anos. Ele traz movimentos curtos, melodias líricas, livre da angústia das obras posteriores. O Quarteto Nº 8, Op. 110, de 1960 é o mais famoso da série. Foi composto em 3 dias durante uma crise de depressão suicida, em Dresden. É autobiográfico. Shosta usa as iniciais D-S-C-H como tema recorrente — sua “assinatura musical”. É pura tragédia pura, com movimentos repletos de citações de suas sinfonias (como a Nº 5) e do canto judaico “Vítimas do Fascismo”. Sim, parte dos judeus mudaram e hoje são agentes do que há de pior… O Quarteto Nº 9, Op. 117 (1964) teve sua primeira versão em 1961. O estilo aqui é abstrato e experimental, com dissonâncias e um final ambíguo. Rapidamente: Nº 1, juventude e clareza; Nº 8, obra-prima da dor, densa e pessoal; Nº 9: reinvenção pós-trauma, enigmático.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Quartetos Nº 8, 1 e 9 (Éder Quartet)
String Quartet No. 8 in C Minor, Op. 110
1 I. Largo 04:41
2 II. Allegro molto 02:42
3 III. Allegretto 04:08
4 IV. Largo 05:05
5 V. Largo 03:42
String Quartet No. 1 in C Major, Op. 49
6 I. Moderato 04:16
7 II. Moderato 04:37
8 III. Allegro molto 02:25
9 IV. Allegro 03:24
String Quartet No. 9 in E-Flat Major, Op. 117
10 I. Moderato con moto 04:26
11 II. Adagio 03:58
12 III. Allegretto 03:54
13 IV. Adagio 03:36
14 V. Allegro 10:03
Começo a postar as sinfonias de Tchaikovsky, inúmeras vezes solicitadas aqui no blog. Optei por essa versão do jovem Mariss Jansons (lituano, nascido em 1943) devido aos comentários elogiosos lidos em alguns sites especializados. E creio que ninguém irá se decepcionar com a escolha. Quando gravou essa integral, Jansons tinha pouco mais de 40 anos, e já era diretor da Filarmônica de Oslo, após ter estudado no conceituado Conservatório de Leningrado (atual St. Petersburg)e após ter sido assistente de ninguém mais, ninguém menos do que Herr Karajan na Filarmônica de Berlim. Currículo invejável. Mas temos aqui as duas primeiras sinfonias de Tchaikowsky. Obras de juventude, porém que já mostram o espírito e a alma russas devidamente impregnadas, e que também já mostram um compositor preparado para voos maiores. A elas, pois…
Symphony nº 1, in G minor, op. 13, “Winter Daydreams”
1 – Allegro tranquilo
2 – Adagio cantabile ma non tanto
3 – Scherzo. Allegro scherzando giocoso
4 – Finale. Andante lugubre – Allegro maestoso
Symphony nº 2, in C Minor, op. 17, “Little Russian”
5 – Andante sostenuto – Allegro vivo
6 – Andantino marziale, quasi moderato
7 – Scherzo and Trio – Allegro molto vivace
8 – Finale. Moderato assai – Allegro vivo
Não sei se Pinnock e seu The English Concert gravaram o Messias antes deste disco de 1986, apenas sei que, há 30 anos atrás, eles já estavam preparados para fazerem aquele que é, na minha opinião, o melhor registro do famoso oratório de Händel. Pois esta turma tem (ou tinha) Händel no DNA. Essas aberturas, ouvidas juntas, guardam algo de pomposo, talvez de repetitivo, mas a sonoridade da orquestra de Pinnock estava finamente preparada para mais. Como amo a música barroca, me lambuzei e me satisfiz mesmo aqui. Um belo disco.
Georg Friedrich Händel (1685-1759): Aberturas
Alceste; HWV 45 Act 1: Grand Entrée
1 Maestoso 2:46 Agrippina;
HWV 6 Sinfonia:
2 Without Tempo Indication – Allegro – Adagio 4:04 Il Pastor Fido; HWV 8a
3 Without Tempo Indication – Lentement 4:12
4 Largo 3:53
5 Allegro 2:12
6 (Menuet) 2:00
7 Adagio 8:20
8 (Allegro) 3:24 Saul; HWV 53
Act 1: Sinfonia
9 Allegro 4:05
10 Larghetto – Adagio 2:42
11 Allegro 2:38
12 Andante Larghetto 2:40 Act 2: Sinfonia “Wedding Symphony”
13 Largo _ Allegro 4:44 Teseo; HWV 9
Ouverture
14 Largo – Without Tempo Indication 5:19 Samson; HWV 57
15 Andante – Adagio 3:53
16 Allegro 1:42
17 Menuetto 2:17
Não chega a ser um CD para ser recebido com fanfarras, mas é legal. É Rossini, o que já lhe garante alguma simpatia. A orquestra de Budapeste é muito boa, Fischer é excelente, porém eu não sou o cara correto para avaliar essas coisas operísticas ou mesmo obras de um cara que gosta tanto de melodias, etc. Ouçam vocês e me contem, tá? Eu me diverti, achei agradável, mas não sei se é bom… E esta é a terceira e última oração adversativa deste post. Por exemplo, a tal Sinfonia para Cordas é uma joia, viram? Tchau.
Gioachino Rossini (1792-1868): Instrumental Music (Fischer, Budapest Festival Orchestra)
1 Overture to La scala di seta (The Silken Ladder) 6:06
2 Serenata for 2 violins, viola, cello, flute, oboe & English horn in E flat major, QR vi/31 7:42
3 Sonata a quattro (String Symphony) No. 1 in G major Moderato 8:08
4 Andantino 4:14
5 Allegro 2:51
6 Rendez-vous de chasse, for 4 hunting horns & orchestra in D major, QR ix/45 3:27
7 Variazioni a più istrumenti obbligati in F major, for 2 violins, viola, cello & clarinet, QR ix/1 10:29
8 Andante, Theme and Variations, for flute, clarinet, horn & bassoon in F major, QR vi/18 9:35
9 Overture to Semiramide 12:20
A Sinfonia Nº 1, Op. 10, de Dmitri Shostakovich, é uma obra revolucionária — composta quando ele tinha apenas 19 anos (1924–1925) e estreada em 1926 pela Orquestra Filarmônica de Leningrado. Mesmo sendo uma peça de juventude, já revela seu gênio dramático, a ironia mordaz e a maestria orquestral. Shostakovich compôs a sinfonia como trabalho de formatura no Conservatório de Leningrado, sob pressão financeira (sua família passava dificuldades após a Revolução Russa). A URSS dos anos 1920 vivia um período de relativa liberdade artística (antes do stalinismo), o que permitiu a ousadia da obra. A estreia foi um sucesso estrondoso, projetando Shosta como o maior talento da nova música soviética. A obra escapa dos clichês da época: não é heroica, mas cheia de ambiguidades. Prepara o terreno para suas sinfonias posteriores, onde a tensão entre conformismo e subversão se tornaria vital. Já o Concerto para Piano, Trompete e Orquestra de Cordas, Op. 35 (1933) é uma das obras mais irreverentes e brilhantes do compositor, misturando ironia, virtuosismo e uma pitada de escândalo. Foi composto durante um raro período de “folga” artística antes do Grande Expurgo stalinista. Shostakovich estava envolvido com música para cinema e teatro, daí o tom cinematográfico — de cinema mudo no final do Concerto! — e satírico da obra. A obra foi chamada de “frívola” e “burguesa” — um prenúncio dos ataques que sofreria em 1936. Shostakovich adorava música de cabaré, e isso transparece nos ritmos sincopados e no trompete malcomportado…
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 1 e Concerto para Piano Nº 1 (Rudy, Antonsen, Jansons)
Symphony No. 1 In F Minor, Op. 10
1 I: Allegretto – Allegro Non Troppo 8:20
2 II: Allegro 4:56
3 III: Lento – 9:08
4 IV: Allegro Molto – Lento – Allegro Molto 9:32
Concerto For Piano, Trumpet And Strings In C Minor, Op. 35
Piano – Mikhail Rudy*
Trumpet – Ole Edvard Antonsen
5 I: Allegro Moderato – Allegro Vivace – Moderato – 5:58
6 II: Lento – 8:30
7 III: Moderato – 1:41
8 IV: Allegro Con Brio – Presto – Allegretto Poco Moderato – Allegro Con Brio 6:45
Conductor – Mariss Jansons
Orchestra – Berliner Philharmoniker
Tom inventou Matita Perê (1973) e começou a gravá-lo no Rio. Não estava gostando do resultado. Achou que precisava de melhores músicos e maior qualidade de gravação.
(Ouvindo o disco, você logo entende que a exigência era enorme. O álbum alterna canções com música instrumental, indo com naturalidade do popular ao erudito).
Foi para Nova Iorque com os poucos brasucas que se salvaram da experiência carioca, bancou tudo do próprio bolso e fez um dos melhores álbuns de música brasileira de todos os tempos. Estava com 46 anos e tinha todo o prestígio e consideração do mundo.
Os temas escolhidos por Jobim para Matita Perê passam da leveza e doçura, das praias, barquinhos e garotas, para a natureza e lendas do um Brasil profundo, sertanejo. Ele compõe a partir de suas observações e da leitura de autores como Guimarães Rosa e dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Mário Palmério.
Para o crítico musical Zuza Homem de Mello, “Matita Perê é um disco que pouco a pouco foi sendo compreendido, entendido e principalmente admirado. É um marco na carreira de Tom Jobim”.
A faixa de abertura traz aquele que se tornaria um dos maiores clássicos do compositor, Águas de março, cujo título foi retirado de poema de Olavo Bilac.
Já a faixa-título, uma suíte, cita o folclore e nasce de suas leituras, em especial do conto Duelo de Guimarães Rosa, que contou com a colaboração de Paulo César Pinheiro na letra.
Paulo César Pinheiro falou sobre a parceria: “O Tom me procurou, porque eu tinha uma música no Festival da Canção chamada Sagarana, parceria com o João de Aquino. Tom ouviu, ficou impressionado e me ligou dizendo que tinha ideias semelhantes àquelas”.
(Quando vocês se depararem com a próxima lista de Melhores Canções Brasileiras de Todos os Tempos, procurem por uma chamada Matita Perê. Se ela não estiver presente, abandonem a lista e falem mal do criador dela).
Matita Perê marca o início da temática ecológica na obra de Tom Jobim, que seguiria com força em discos como Urubu (1975), Terra Brasilis (1980) e Passarim (1987).
Ao mesmo tempo, evidencia-se o Jobim sinfônico, claramente influenciado por Villa Lobos, em faixas como Crônica da casa assassinada, baseada no romance de Lúcio Cardoso, outra suíte com quase 10 minutos de duração, feita para a trilha do filme de Paulo César Sarraceni.
Não deixe de ouvir. É falha grave desconhecer este disco.
Tom Jobim: Matita Perê
1 Águas de Março (Antônio Carlos Jobim) — 3:56
2 Ana Luiza (Antônio Carlos Jobim) — 5:26
3 Matita Perê (Antônio Carlos Jobim, letra de Paulo César Pinheiro) — 7:11
4 Tempo do Mar (Antônio Carlos Jobim) — 5:09
5 The Mantiqueira Range (Paulo Jobim) — 3:31
6 Crônica da Casa Assassinada (Antônio Carlos Jobim) — 9:58
a. “Trem Para Cordisburgo”
b. “Chora Coração” (letra de Vinícius de Moraes)
c. “Jardim Abandonado”
d. “Milagre e Palhaços”
7 Rancho nas Nuvens (Antônio Carlos Jobim) — 4:04
8 Nuvens Douradas (Antônio Carlos Jobim) — 3:16
Antônio Carlos Jobim – piano, violão e vocal
Claus Ogerman – arranjos (exceto faixa 3) e regência
Dori Caymmi – arranjo da faixa 3
João Palma – bateria e percussão
Airto Moreira – bateria e percussão
George Devens – percussão
Harry Lookousky – spalla
Frank Laico – engenharia de áudio
Ray Beckenstein – flautas e madeiras
Phil Bodner – flautas e madeiras
Jerry Dodgion – flautas e madeiras
Don Hammond – flautas e madeiras
Romeo Penque – flautas e madeiras
Urbie Green – trombone
Ron Carter – baixo
Richard Davis – baixo
Aqui Langgaard equilibra-se com um pé atrás e outro à frente do seu tempo. Na obra Insektarium, de 1917, temos um dos primeiros usos de técnicas expandidas de piano: sim, aquelas em que o pianista encosta nas cordas do instrumento e outras coisas do tipo.
E em outras peças com títulos poéticos como “Nas luzes fracas do outono” e “Como um ladrão à noite”, Langgaard atualiza o piano romântico de Schumann e de Liszt como ele já havia feito nas obras postadas há dois anos aqui. Atualiza, ou seja, traz sua própria voz, pois ele raramente soa como um imitador dos clássicos do século anterior. E, ao mesmo tempo – com exceção dos momentos de piano expandido – há um certo modo-de-ser romântico que é uma das marcas de Langgaard.
Impressionante, então, que Langgaard seja tão pouco tocado. Um segredo que só os dinamarqueses conhecem.
Rued Langgaard:
1. Som En Tyv On Natten (As a Thief in the Night), BVN 211a (1930)
2-10. Insektarium, BVN 134 (1917)
I. Forficula auricularia: Tempo ad libitum
II. Acridium migratorium: Mosso! Mosso!
III. Melontha vulgaris: Rubato
IV. Tipula oleracea
V. Libelulla depressa: Presto
VI. Anobium pertinax: Tempo ad libitum
VII. Musca domestica: Agitato – Slowly – [Tempo I]
VIII. Julus terristis: Prestissimo
IX. Culex pipiens
11. Skyggeliv (Shadow Life), BVN 307 (1914-1945)
12. I Det Blafrende Efteraarslygteskaer (In The Flickering Autumn Lamplight), BVN 206 (1933)
13-17. Le Béguinage, BVN 369 (1949)
18-20. Chiesa madre, BVN 367 (1949)
21. Sponsa Christi tædium vitæ, BVN 297 (1944)
“The emotional centre of the Sonata in B-flat major is found in the ‘Andante cantabile’, an operatic aria transferred to the keyboard idiom.”
Mozart andava longe de minha vitrola, falta grave que demandava reparo urgente. O fato é que estou passando de fase, mudando e adaptando-me mais uma vez, arrastado pelas novas tecnologias. Eu sempre fui arrojado na incorporação de avanços tecnológicos nos meus afazeres e nos entretenimentos. Ouvia LPs, mas gravava fitas cassete (lembram) para ouvir no Walkman! Quando surgiram os CDs fiz a transição com a celeridade que o bolso me permitia. Fui trocando, vendendo os LPs para os amigos, para os donos de sebos de LPs e investindo nos CDs. A transição dos CDs para os arquivos digitais foi mais lenta, ainda tenho miles de CDs acumulados pela casa, mas ouço-os cada vez mais raramente. Pelo menos fisicamente, pois a música continua toda aqui, muitos verões atrás passei a digitalizá-los e tenho-os todos por aqui em HDs e parte na nuvem, mesmo os que já enferrujaram. Nestas duas últimas semanas comecei a usar de maneira mais ‘metódica’ uma plataforma de distribuição de música. Escolhi TIDAL e estou adorando! Com isso, estou assim como pinto no lixo, fuçando as novidades, que são tantas, haja tempo. Foi assim que dei com o pianista Andreas Haefliger.
O sobrenome é conhecido do pessoal que gosta de cantores, houve um tenor Ernst Haefliger. O pessoal aqui na repartição acabou de me contar que Andreas é filho do Ernst. Houve, também, um grande matemático, André Haefliger. O Haefliger matemático estudou as folheações, uma parte muito bonita da Matemática.
Uma folheação é a divisão ou um preenchimento de um ambiente matemático em subespaços, todos de mesma dimensão, empilhados uns sobre os outros, como um doce de mil-folhas ou uma resma de papel que caiu na piscina e as folhas tornaram-se ligeiramente enrugadas.
Mas, ahãmmm…. divago! Voltemos ao Mozart. As novas gravações do Haefliger pianista que vi no TIDAL me fizeram tomar o percurso inverso, de volta aos LPs, pois havia um no qual Andreas interpretava sonatas para piano de Mozart e eu me lembrei dele com gosto. O LP era do período em que a Sony tomou o lugar da CBS. Como você pode bem imaginar, o LP já não existe mais há tempos e o CD (pois que tive a encarnação do disco em CD também), se está ainda comigo, deve estar em alguma das caixas que ainda não abri desde a mudança. Assim, vasculhei HDs e espaços nas nuvens e acabei achando uma ripagem (lembram que fazíamos essas coisas?) para mp3 que está ótima para consumo.
Como me lembrava, o disco é ótimo, uma tarde agradabilíssima ao som dessas três sonatas do Wolfie interpretadas pelo jovem Andreas. Ele andou (re)gravando mais sonatas de Mozart, mas ainda não cheguei lá, está tudo lá no TIDAL. Por ora, vamos de coisas (nem tão) velhas (assim) em mídia mais recente.
Da resenha de um crítico amador da Amazon: The three sonatas collected here are among my favorites. The F-major sonata is very personal, while the Bb-major one is virtuosic and resourceful. Finally, the emotional c-minor sonata (preceded by the c-minor prelude), shows a side of Mozart that we are not especially familiar with, one which appears to lead directy into Beethoven’s piano compositions. This is an excellent CD, both for those who have never heard Mozart’s sonatas and those are familiar and who would like to hear a fine rendition of them.
Concordo plenamente com o Timmy!
Aproveite!
René Denon
Andreas experimentando um dos pianos da coleção do PQP Bach Corp.
Nascido em 24 de junho de 1935 na California, Terry Riley é certamente um dos quatro ou cinco mais importantes compositores vivos neste planeta. Mas ao contrário de outros vivos ou recentemente falecidos como Sofia Gubaidulina, Arvo Pärt e Valentyn Silvestrov, Riley compôs pouca coisa para as formações usuais no mundo da música de concerto, como orquestra, piano solo, etc. Na verdade ele até tem algumas obras nesse sentido mais comum da palavra “obra”, especialmente para quarteto de cordas após longa colaboração com o Kronos Quartet (postados por PQP e FDP aqui e aqui). Mas durante a maior parte da sua vida, e creio que também a parte mais interessante, ele se dedicou a obras fortemente ligadas ao improviso, ao sabor do momento, seja com teclados e loops de fitas, seja com instrumentos acústicos. Na década de 1970 e 80 ele, como se fosse um jovem estudante, seguia em turnês o cantor indiano Pandit Pran Nath (1918-1996) meio como um aprendiz segue um guru. Riley, então, acaba sendo um pouco esquecido como compositor sério por ter sua vida tão marcada por esse sentido forte do improviso que também é inseparável de outros estadunidenses como John Coltrane e Keith Jarrett (e aqui um parêntese: nós brasileiros seríamos bem estúpidos ao dizermos que esses americanos do norte inventaram a música improvisada do século XX e XXI, é claro que ela está em muitos lugares do planeta, a música escrita europeia é bem mais exceção do que regra).
In C, composta em 1964, é a obra de Terry Riley mais tocada e gravada até hoje. Estreada em San Francisco por um grupo de músicos próximos a Riley, a peça é composta de fragmentos que se misturam de maneira diferente em cada performance: além disso, pode ser tocada por instrumentos diferentes, o que aumenta o sabor único de cada versão. A influência do improviso do jazz sobre um compositor nascido nos EUA é mais ou menos óbvia então nem precisamos explicar mais, né? Em 1967 e 68, In C recebeu as primeiras performances em Nova York e Londres, sendo descrita como hipnótica e altamente original. Em 1969 Alexei Lubimov organizou a estreia da peça na União Soviética e na plateia estava gente como Sofia Gubaidulina e Alfred Schnittke.
Aqui, temos as minhas duas gravações preferidas da obra: a primeira gravada em San Francisco, mesma cidade onde In C havia estreado 25 anos antes. O grupo é conduzido pelo compositor, que também canta. A outra gravação, sem a participação direta de Riley, é mais distante do espírito original, mas tenho certeza de que agradou ao compositor: o grupo é formado majoritariamente por músicos africanos que dão um toque todo especial nas percussões e nas vozes cantadas, mas há também dois ou três europeus, incluindo o veterano Brian Eno.
Não sou um admirador incondicional de Robert Schumann, mas há coisas que amo com toda a paixão. Dentre elas, estão este quinteto e quarteto absolutamente perfeitos. E aqui o grande Emerson String Quartet recebe El Imparable Menahem Pressler, ex-líder do saudoso Beaux Arts Trio, para uma interpretação de referência das obras. Tudo aqui é maravilhoso, mas o Andante cantabile do Quarteto é algo realmente especial e sempre me lembra uma cena dilacerante de um filme há muito visto de Alexander Kluge. Casualmente, o In modo d’una marcia foi largamente utilizado por Ingmar Bergman no belíssimo Fanny e Alexander, Um Schumann para admiradores de Bach? Também, mas antes penso que seja duas das mais gloriosas obras de música absoluta já compostas e que abrem o horizonte para Johannes Brahms.
Não deixe de ouvir.
Robert Schumann (1810-1856): Quinteto e Quarteto para Piano, Op. 44 e 47
1. Piano Quintet in E flat, Op.44 – 1. Allegro brillante 8:56
2. Piano Quintet in E flat, Op.44 – 2. In modo d’una marcia (Un poco largamente) 8:54
3. Piano Quintet in E flat, Op.44 – 3. Scherzo (Molto vivace) 4:48
4. Piano Quintet in E flat, Op.44 – 4. Allegro, ma non troppo 7:24
5. Piano Quartet in E flat, Op.47 – 1. Sostenuto assai – Allegro ma non troppo 8:45
6. Piano Quartet in E flat, Op.47 – 2. Scherzo (Molto vivace) 3:38
7. Piano Quartet in E flat, Op.47 – 3. Andante cantabile 7:12
8. Piano Quartet in E flat, Op.47 – 4. Finale (Vivace) 7:45
Shostakovich utilizou os quartetos de cordas para expressar o que não podia em sinfonias (mais vigiadas pelo regime). Do Nº 8 em diante, eles se tornam cartas cifradas sobre morte, culpa e resistência. Mas falemos rapidamente sobre as obras deste CD. Porém, vejam bem, o Quarteto Nº 4, Op. 83, de 1949, foi censurado! Escrito durante o zhdanovismo, apenas foi estreado em 1953, após Stalin morrer. O Quarteto Nº 6, Op. 101, é de 1956 e o contexto já é o do “Degelo” de Khrushchev. Shostakovich respirava alívio. Destaque para o movimento Lento. Já o Quarteto Nº 7, Op. 108, de 1960, é breve e intenso, uma obra-prima. É dedicado à memória de sua primeira esposa e cheio de um luto contido. Nina Varzar (Varzar-Shostakovich) era uma física brilhante, foi o porto seguro de Shostakovich durante os anos de perseguição stalinista. Sua morte mergulhou Shostakovich em uma depressão profunda. O Éder Quartet — cujo nome é dedicado ao ex-ponta-esquerda o Atlético-MG e da Seleção Brasileira — é impecável. PQP Bach também é fake news e tio do Whats.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Quartetos Nº 4, 6 e 7 (Éder Quartet)
String Quartet No. 4 in D Major, Op. 83
1 I. Allegretto 03:17
2 II. Andantino 07:14
3 III. Allegretto 03:44
4 IV. Allegretto 08:24
String Quartet No. 6 in G Major, Op. 101
5 I. Allegretto 06:47
6 II. Moderato con moto 05:16
7 III. Lento 05:20
8 IV. Lento – Allegretto 07:46
String Quartet No. 7 in F-Sharp Minor, Op. 108
9 I. Allegretto 03:38
10 II. Lento 03:24
11 III. Allegro 05:32
Um clássico de capa nova. A anterior era branquinha, lembram? Para um CD como este, penso que as apresentações sejam dispensáveis. Por isso iremos com certa urgência à música. Uma excelente apreciação!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Concerto para piano e orquestra No. 22 em Mi bemol maior, K. 482
01. Allegro
02. Andante
03. Allegro
Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra No. 3 em Dó menor, Op. 37
04. Allegro con brio
05. Largo
06. Rondo (Allegro)
Sviatoslav Richter, piano
Philharmonia Orchestra
Riccardo Muti, regente
Uma ópera sobre Tosca nunca seria um sucesso – a ação inclui cenas de tortura, tentativa de estupro, assassinato, uma execução e alguém se jogando para a morte do alto de um castelo – simplesmente brutal!!
Puccini e Toscanini foram grandes amigos, mas a estreia de Tosca foi dada por um outro maestro…
Esse foi um dos argumentos usados pelo editor Ricordi e por seu libretista Luigi Illica para induzirem um agora desconhecido compositor de óperas ceder o direito sobre o libreto baseado na peça de Victorien Sardou. E eles acrescentaram que toda a história decorre em torno das 24 horas de um dia de junho de 1800, num momento de conflitos de todas as ordens – republicanos contra monarquistas, Áustria contra Itália, Napoleão contra o mundo. O compositor nem vacilou, passou para frente a batata quente. No outro dia o contrato para a composição da ópera e o primeiro copião do libreto estavam nas mãos de Puccini. Ele havia se interessado pela história desde o lançamento da peça, em 1889, mas andava ocupado com La Bohème e Manon Lescaut. O libreto de Illica ainda estava longe do que Puccini queria e mais um colaborador foi chamado a bordo. Giuseppe Giacosa já havia trabalhado nos libretos das outras óperas de Puccini e, após muitas noites de tesoura e cola, de pressões do editor, muito esperneio, o resultado é essa maravilha que podemos ouvir, com a música de Puccini.
É famosa e impossível não citar a frase de Giacosa sobre duas das mais famosas óperas de Puccini – La Bohème e Tosca: “La Bohème é pura poesia e nenhuma ação; Tosca é só ação, sem poesia.” Mas eu discordo um pouquinho, sobre a parte da poesia… No início do terceiro ato, que eu adoro, um pastorzinho canta, logo na abertura, os versos a seguir:
Io de’ sospiri, / te ne rimanno tantti / pe’ quante foje / ne smoveno li venti.
Algo assim como: Meus suspiros são tantos quanto são as folhas levadas pelo vento…
Voltando ao assunto da ópera, assim como sabia Guimarães Rosa: “Mas nada disso vale a fala, porque a história de um burrinho, como a história de um homem grande, é bem dada no resumo de um só dia de sua vida.” Realmente, toda a ação da ópera se dá no resumo de um dia, no mês de junho de 1800. Cada um dos três atos tem como cenário um lugar que realmente existe em Roma.
A igreja real
O primeiro ato se dá na Igreja Sant’Andrea della Valle. Nela encontramos um fugitivo da polícia política, o consul da breve República Romana, Cesare Angelotti, que estava nas garras do Barão Scarpia. Na Igreja onde ele busca refúgio encontra o pintor Mario Cavaradossi, amante de Tosca e simpatizante da República. Cavaradossi está pintando uma Maria Madalena, inspirado em uma linda loura de olhos azuis, exatamente a irmã do fugitivo. Isso, é claro, acaba despertando o furor e o ciúme de Tosca, desconfiada por ouvir os cochichos de Mario e Cesare, que se esconde numa das capelas. Tosca é uma famosa cantora de ópera, católica fervorosa e por sua posição monarquista.
Um tiro de canhão da conta da fuga do prisioneiro e tudo se precipita, com a chegada de Scarpia e seus asseclas em busca do fugitivo. Scarpia desconfia de Cavaradossi e joga com os sentimentos exacerbados de Tosca. O ato termina num tour de force, com a notícia da derrota de Napoleão o coro da igreja entoa um Te Deum, durante o qual o perverso Scarpia se regozija com a possibilidade de dupla vitória – prender os fugitivos e possuir Tosca: Con spasimo d’amor, […] um vai para a ponta da corda, a outra direto para os meus braços!
O segundo ato ocorre no Palazzo Farnese – onde vive Scarpia – que está jantando. Nesse local se dará cenas terríveis: a tortura de Cavarodossi, cujos gritos acabam fazendo Tosca fazer um acordo com o malvado e vil Barão. A tentativa de estupro, seguida do assassinato – a punhalada certeira, desfechada pela brava Tosca. Ela havia negociado sua fuga com Mario (duplo salvo-conduto, essas coisas) que deveria ter sua morte encenada de mentirinha.
O terceiro ato se passa no Castelo Sant’Angelo, onde Mario passa a noite – será fuzilado ao amanhecer. Eu adoro esse breve fechamento da ópera. Uma montanha russa de emoções. O prelúdio desse ato é um pouco mais longo, afinal estamos esperando raiar o dia. O tema da ária de despedida do pintor é apresentado pela orquestra, belíssimo!!!
Cavaradossi que é pintor diz essa maravilha de frase: L’ora è fuggita, e muoio disperato, e non ho amato mai tanto la vita… (A hora se foi e eu morro desesperado, e nunca amei tanto a vida).
Após uma sequência dos dois amantes, a execução, seguida da descoberta da tragédia por Tosca e a chegada da notícia da morte de Scarpia. Perseguida, Tosca se precipita do alto do castelo, lançando um último desafio: Scarpia, nos veremos diante de Deus!
A ópera termina com o triângulo (nada) amoroso esfacelado pela morte de seus três vértices. É uma opera inovadora, a história cheia de violência e os sentimentos levados aos extremos. Os três protagonistas vivem situações de extrema tensão e há pontos que não podem deixar de chamar a atenção do ouvinte.
Jonathan Tetelman, o Mario, Mario, Mario
O papel do mocinho, o pintor-tenor, é brindado com a ária Recondita armonia, no primeiro ato, mas especialmente a ária de despedida no terceiro ato, Elucevan le stelle. Tosca teve como uma de suas principais intérpretes a fabulosa Maria Callas, mas também tantas outras, como a rival Renata Tebaldi. A ária Vissi d’arte é a própria declaração de dedicação à essa maravilhosa profissão. O malvadão também é um protagonista inesquecível. Seu grande momento no primeiro ato mostra seu terrível caráter, durante o Te Deum. A sua presença no segundo ato ocupa um grande espaço no palco, contrapondo-se a Tosca, até a sua morte. Apesar dela, sua ações o colocam também no terceiro ato, apesar de não aparecer mais.
Para tão maravilhosa peça escolhi uma gravação estalando de nova – a soprano Eleonora Buratto, o tenor Jonathan Tetelman e o barítono Ludovic Tézier são excelentes e estão no primor de suas carreiras. O regente Daniel Harding acabou de assumir a orquestra da Academia Nazionale di Santa Cecilia e essa é a sua primeira gravação com ela. Muito auspiciosa. A produção é da Deutsche Grammophon, primorosa. Aqui a explicação dada no início de uma crítica mencionada mais abaixo: The three performances in late October last year were Harding’s inaugural concerts with his new band (along with a Verdi Requiem). The British conductor doesn’t have a lot of opera on his CV – and barely any trace of Puccini – but opera very much comes with the territory in this job. (As três apresentações no final de outubro do ano passado foram os concertos inaugurais de Harding com sua nova banda (junto com um Réquiem de Verdi). O maestro britânico não tem muita ópera em seu currículo – e quase nenhum traço de Puccini –, mas a ópera é parte integrante deste trabalho.)
Ao final de sua resenha para a Gramophone, Mark Pullinger escreveu: When I did a Tosca Collection survey (8/22), I plumped for Renata Tebaldi (Molinari-Pradelli) slightly ahead of Leontyne Price (Karajan). Those 1950s recordings remain in pole position but, even given occasional reservations over Harding, this new account boasts the finest Tosca cast of the digital era and is a recording I’ll be returning to often in years to come.
Como estamos entrando na era de renovação de arquivos ou mesmo de maneira de semear a boa música na web, essa gravação vem bem a calhar!
Aproveite!
René Denon
Ao saber que um dos personagens da ópera se chama Cesare Angelotti, o prestativo Departamento de Artes do PQP Bach Corporation mandou essa ilustração para a postagem…
O que pode acontecer quando Jordi Savall resolve fazer um concerto com repertório de Bach e Vivaldi e convida Pierre Hantaï e Pablo Valetti (do Café Zimmermann) e mais a La Capella Reial de Catalunya para participarem dele? E ainda toca sua viola da gamba? Bem, meus caros, quem não consegue imaginar o resultado ouça o disco para comprovar a perfeição e adentrar no nirvana. Este concerto foi gravado ao vivo em 2013 na Capela Real de Versalhes e eu sugiro que você não apenas ouça como decore cada nota.
J. S. Bach e A. Vivaldi: Magnificat & Concerti
01 – Antonio Vivaldi – Concerto con 2 violini e viola da gamba, archi e continuo, RV 578 I. Adagio e spiccato – Allegro
02 – Antonio Vivaldi – Concerto con 2 violini e viola da gamba, archi e continuo, RV 578 II. Larghetto
03 – Antonio Vivaldi – Concerto con 2 violini e viola da gamba, archi e continuo, RV 578 III. Allegro
04 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 I. Magnificat
05 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 II. Et exultavit
06 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 III. Et misericordia eius
07 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 IV. Fecit potentiam
08 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 V. Deposuit potentes
09 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 VI. Esurientes
10 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 VII. Suscepit Israel
11 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 VIII. Sicut locutus est
12 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 IX. Gloria Patri
13 – Antonio Vivaldi – Magnificat en Sol mineur, RV 610 X. Sicut erat in principio
14 – Johann Sebastian Bach – Concerto pour clavecin en Re mineur, BWV 1052 I. Allegro
15 – Johann Sebastian Bach – Concerto pour clavecin en Re mineur, BWV 1052 II. Adagio
16 – Johann Sebastian Bach – Concerto pour clavecin en Re mineur, BWV 1052 III. Allegro
17 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 I. Magnificat
18 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 II. Et exultavit
19 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 III. Quia respexit
20 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 IV. Omnes generationes
21 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 V. Quia fecit mihi magna
22 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 VI. Et misericordia
23 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 VII. Fecit potentiam
24 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 VIII. Deposuit potentes
25 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 IX. Esurientes
26 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 X. Suscepit Israel
27 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 XI. Sicut locutus est
28 – Johann Sebastian Bach – Magnificat en Re majeur, BWV 243 XII. Gloria Patri
Personnel:
Hanna Bayodi-Hirt, Johannette Zomer soprano / Damien Guillon – contreténor / David Munderloh – ténor / Stephan MacLeod – baryton
La Capella Reial de Catalunya
et participants sélectionnés de la IIIe Académie 2013
Le Concert des Nations
Pierre Hantaï – clavecin
Manfredo Kraemer, Pablo Valetti – violini concertanti
Atendo agora a um pedido antigo, e reforçado nos últimos tempos. O concerto de Schumann já tem duas outras opções, com a Martha Argerich e com o Murray Perahia, mas esta versão que agora posto tem o Concerto de Grieg, um dos mais belos do repertório pianístico. E o intérprete é outro grande especialista nos românticos, o chileno Claudio Arrau.
Já tive oportunidade de ouvir diversas versões destes dois concertos, mas Arrau é um grande especialista em ambos. Seu fraseado é claro, e é muito contido, Extrai da melodia toda a beleza nela contida, sem cair em tentações maiores. Aqui é ajudado pelo grande Christoph von Dohnanyi, que dirige a excepcional Royal Concertgebouw Orchestra, Amsterdam.
Com certeza, um grande momento do piano romântico.
Edvard Grieg (1843-1907) – Piano Concerto in A Minor, op. 16, Robert Schumann (1810-1856) – Piano Concerto in A Minor, op. 54
01 Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 1 – Allegro molto moderato
02 Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 2 – Adagio
03 Grieg – Piano Concerto in A Minor, op. 16 – 3 – Allegro moderato molto e marcato
04 Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 1 – Allegro affetuoso
05 Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 2 – Intermezzo
06 Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – 3 – Allegro vivace
Claudio Arrau – Piano
Royal Concertgebouw Orchestra, Amsterdam
Christoph von Dohnányi – Conductor
Busquei as informações abaixo na Wikipedia. Na verdade, procurei este disco — que é consistentemente bom e bem interpretado — por causa dos muitos filmes que imortalizaram sua música. Acho que vocês vão gostar ou, no mínimo, achar curioso ouvir Rota fora daquilo que parecia ser seu habitat, o cinema.
Nino Rota (Milão, 3 de Dezembro de 1911 — Roma, 10 de Abril de 1979) foi um compositor italiano, célebre por suas composições executadas no cinema.
Ficou conhecido por ter composto música para filmes de Federico Fellini, Luchino Visconti e Francis Ford Coppola.
Biografia
Nascido em Milão em 1911, no seio de uma família de músicos, Nino Rota foi inicialmente estudante da Orefice e Pizzetti. Ainda em criança, mudou-se para Roma onde terminou os seus estudos no conservatório de Santa Cecília em 1929 com Alfredo Casella. Entretanto, tornou-se num ‘enfant prodige’, famoso tanto como compositor, quanto como maestro. A sua primeira actuação, ‘L’infanzia de San Giovanni Battista’, foi realizada em Milão e Paris no ano de 1923, e a sua comédia lírica, ‘Il Principe Porcaro’ foi composta em 1926.
De 1930 a 1932, Nino Rota viveu nos Estados Unidos da América. Ganhou uma bolsa de estudos no Curtis Institute of Philadelphia, onde frequentou as aulas de composição de Rosario Scalero e as aulas de orquestra dadas por Fritz Reiner.
Regressou à Itália onde se licenciou em literatura na Universidade de Milão. Em 1937, iniciou a sua carreira docente que o levou à direcção do conservatório de Bari, um título que manteve desde 1950 até a data do seu falecimento em 1979.
Carreira
Após as suas composições ‘juvenis’, Nino Rota escreveu as seguintes óperas: ‘Ariodante’ (Parma, 1942), ‘Torquemada’ (1943), ‘Il cappello di paglia di Firenze’ (Palermo, 1955), ‘I due timide’ (RAI, 1950, Londres, 1953), ‘La notte di un neurastenico’ (Premio Italia, 1959, La Scala, 1960), ‘Lo scoiattolo in gamba’ (Veneza, 1959), ‘Aladino e la lampada magica’ (Nápoles, 1968), ‘La visita meravigliosa’ (Palermo, 1970), ‘Napoli milionaria’ (Spoleto Festival, 1977).
Escreveu também os seguintes ballets: ‘La rappresentazione di Adamo ed Eva’ (Perugia, 1957), ‘La Strada’ (La Scala, 1965), ‘Aci e Galatea’ (Roma, 1971), ‘Le Molière Imaginaire’ (Paris e Bruxelas, 1976) e ‘Amor di poeta’ (Bruxelas, 1978) para Maurice Bejart.
Para além destes, há uma quantidade infindável de trabalhos seus para orquestra, interpretados antes da Segunda Grande Guerra, que ainda hoje se fazem ouvir em todo mundo.
Cinema
O seu trabalho no mundo do cinema data desde os anos 40. A filmografia inclui nomes de practicamente todos os realizadores notáveis da sua época, dos quais se eleva incontornávelmente o nome de Federico Fellini. Rota compôs para todos os filmes de Fellini, desde o ‘The White Sheik’ de 1952, até ao ‘The Orchestra Rehearsal’, de 1979. A lista dos outros realizadores inclui os nomes de Renato Castellani, Luchino Visconti, Franco Zeffirelli, Mario Monicelli, Francis Ford Coppola, King Vidor, René Clément, Edward Dmytryk e Eduardo de Filippo. Também compôs a música de várias produções teatrais de Visconti, Zefirelli e de Filippo.
Nino Rota (1911-1979): Música de Câmara (Kremerata)
1.Piccola Offerta Musicale for wind quintet (1943)
2.Sarabanda e Toccata per Arpa (1945) – 1 Sarabanda
3.Sarabanda e Toccata per Arpa (1945) – 2 Toccata
4.Trio per flauto, Violino e Pianoforte (1958) – 1 Allegro ma non troppo
5.Trio per flauto, Violino e Pianoforte (1958) – 2 Andante sostenuto
6.Trio per flauto, Violino e Pianoforte (1958) – 3 Allegro vivace con spirito
7.Ippolito gioca per Pianoforte (1930)
8.Il Presepio for soprano and string quartet (1958)
9.Catilena (1971)
10.Intermezzo per Viola e Pianoforte
11.Puccettino nella giungla (1971)
12.Nonetto (1959) – 1 Allegro
13.Nonetto (1959) – 2 Andante
14.Nonetto (1959) – 3 Allegro con spirito
15.Nonetto (1959) – 4 Canzone con Variazioni
16.Nonetto (1959) – 5 Vivacissimo
Kremerata Musica:
Anna Maria Pammer: soprano
Felix Renggli: flute
Sharon Bezaly: flute
Markus Deuter: oboe
Heinz Holliger: oboe
Bernhard Zachhuber: clarinet
Elmar Schmid: clarinet
Radovan Vlatkovic: horn
Volker Altmann: horn
Klaus Thunemann: bassoon
Lorelei Dowling: bassoon
Maria Graf: harp
Hanna Weinmeister: violin
Gidon Kremer: violin
Gérard Caussé: viola
Firmiam Lermer: viola
Howard Penny: cello
Erich Hehenberger: double bass
Alena Chernushenko: piano
Mascha Smirnov: piano
Marino Formenti: piano
Oleg Maisenberg: piano
Hagen Quartet: string quartet
Formada em 2009, a sensacional banda de rua Tuba Skinny evoluiu de uma coleção avulsa de músicos de rua para um conjunto sólido dedicado a levar o som tradicional de Nova Orleans ao redor do mundo. Com base em uma ampla gama de influências musicais — do spirituals ao blues da era da Depressão, do ragtime ao jazz tradicional — seu som evoca a rica herança musical de sua casa em Nova Orleans. A banda conquistou seguidores por meio de seu som distinto, seu compromisso em reviver canções há muito perdidas e suas performances ao vivo arrasadoras. Se você for ao YouTube, vai se impressionar com a competência do grupo, com destaque para as mulheres. Este é o terceiro CD do Tuba. Este é o tipo de música de Nova Orleans que faz uma pessoa sorrir e bater os pés quando uma música é alegre e gemer com um sorriso cúmplice quando é triste.
Tuba Skinny: Garbage Man
1 Broken Hearted Blues 3:45
2 Any Kind-A-Man 4:04
3 Frosty Morning 5:34
4 How Do They Do It That Way 3:07
5 Sweet Mama Hurry Home 3:42
6 Mother’s Son-In-Law 3:46
7 Nobody’s Blues But Mine 5:57
8 Some Of These Days 4:30
9 Weary Eyed Blues 4:49
10 Minor Drag 3:23
11 Muddy Water 4:00
12 Garbage Man 3:02
Cornet – Shaye Cohn
Guitar, Vocals – Kiowa Wells
Trombone – Barnabus Jones
Tuba – Todd Burdick
Vocals – Erika Lewis
Washboard – Robin Rapuzzi
“Ravel é um relojoeiro suíço” – Stravinsky (língua de trapo)
Ravel nasceu há 150 anos, mas sua música soa bastante ‘moderna’ aos meus ouvidos amantes do barroco e do clássico.
Dos compositores que atuaram no século XX, Ravel foi o que me cativou primeiro. Deve ter sido por causa do seu Concerto para Piano.
Esta postagem tem a música de Ravel, mas algumas peças estão sendo apresentadas numa outra roupagem, numa forma diferente da qual estamos acostumados, pelo menos a maioria delas. Eu gostei tanto das ‘adaptações’ que resolvi trazê-las para os visitantes do blog.
No primeiro disco-arquivo temos o Trio com Piano na sua glória e roupagem tradicional, interpretado ao piano, violino e violoncelo, acompanhado de duas outras obras, e apresentadas em transcrições para trio com piano. A famosa Pavane pour une infante défunte e a suíte Le tombeau de Couperin.
A Pavane nasceu no finzinho do século XIX em versão para piano solo, quando Ravel ainda estudava. Ganhou uma versão orquestral em 1910. A transcrição apresentada aqui foi feita pelos membros do Linos Piano Trio que interpretam as peças do primeiro arquivo. Eles também são os trans(gre)tores da suíte Le tombeau de Couperin, composta também para piano solo, mas entre 1914 e 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Cada uma das ‘danças’ da suíte é dedicada à memória de um amigo que morreu durante o conflito. Foi um período bastante difícil na vida de Ravel.
O Linos Trio esperando a barca em Charitas para ir de Niterói para o Rio… eles adoraram Camboinhas
Os membros do Linos Piano Trio têm cinco nacionalidades. Só em um mundo globalizado como o que vivemos tal coisa é possível:
O músico tailandês radicado em Londres, Prach Boondiskulchok, desfruta de uma carreira singularmente diversificada como pianista, pianista forte e compositor. Igualmente à vontade improvisando ornamentos do século XVIII e compondo com harmonias micro tonais, suas apresentações o levaram a palcos e festivais internacionais.
Com seu estilo de performance vibrante e talento natural para o entretenimento, o violinista teuto-brasileiro nascido em Londres, Konrad Elias-Trostmann, quebra a barreira frequentemente encontrada entre o público e o intérprete. Apresentações de música de câmara o levaram a locais como o Carnegie Hall, o Wigmore Hall, o Melbourne Recital Centre, o Seoul Arts Centre e a Sala Cultural Itaím, em São Paulo. Recentemente, Konrad foi nomeado segundo violino principal da Essener Philharmoniker e é regularmente convidado como segundo violino principal ou spalla assistente por orquestras de renome mundial.
O músico multifacetado francês radicado em Berlim, Vladimir Waltham, se sente igualmente à vontade com violoncelo, violoncelo barroco e todos os tamanhos de instrumentos da gamba. Elogiado por seu “tom luminoso” pela Gramophone, Vladimir é apaixonado por compartilhar a mais ampla paleta musical possível, em um repertório que abrange da Idade Média a colaborações com compositores e estreias mundiais, bem como tudo entre eles.
Numa entrevista eles explicaram brevemente como o trio se formou: Sempre foi um fascínio para cada um de nós desafiar os limites musicais, por isso é muito apropriado que a “história de origem” do nosso conjunto seja centrada em uma obra que transcende os limites do gênero trio para piano. Em 2007, quando peças obscuras ainda não eram amplamente digitalizadas, lembro-me de descobrir com entusiasmo que uma das minhas peças favoritas, “Verklärte Nacht” de Schönberg para sexteto de cordas, também existia em uma transcrição para trio para piano de Eduard Steuermann. Logo, colegas que compartilham esse entusiasmo se juntaram a mim para tocá-la, e esse foi o conjunto que se tornou o Linos Piano Trio.
Quatro das peças de Le tombeau de Couperin foram magistralmente orquestradas por Ravel para pequena orquestra. O segundo disco-arquivo tem uma transcrição dessa versão orquestral para quinteto de sopros – flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa, feita por Mason Jones. Eu não consegui verificar com absoluta certeza, mas acredito que o arranjador Mason Jones foi o principal trompista da Philadelphia Orchestra por muito tempo, atuando durante os período de Leopold Stokowsky e Eugene Ormandy.
Pacíficos músicos do Pacific Quintete
Os intérpretes aqui são os membros do Pacific Quintet, Aliya Vodovozova (flauta), Fernando José Martínez Zavala (oboé), Liana Leßmann (clarinete), Kenichi Furuya (fagote) e Haeree Yoo (trompa). Veja como o primeiro disco deles foi anunciado: O álbum de estreia do Pacific Quintet reflete a diversidade de seus integrantes e seu foco principal. Também homenageia o compositor que inspirou o conjunto: Leonard Bernstein. Indo além do repertório clássico tradicional, o premiado quinteto (clarinete, trompa, flauta transversal, oboé e fagote) apresenta música de seus países de origem: Japão, Honduras, Coreia do Sul, Alemanha e Ucrânia/Turquia, em um programa que transcende suas culturas, línguas e tradições.
O pessoal do PQP Bach adorou a palhinha dada pelo PQ
Sobre o Pacific Quintet: “Making music with friends is one of the most wonderful things about our job and this is just what the Pacific Quintet do. They are talented and dedicated musicians who are also great friends and they take much pride and joy in making music together. I have watched them develop into a world class quintet […] and I am so proud of their success.” Sarah Willis (French horn player & member of the Berlin Philharmonic Orchestra)
Um de nossos visitantes já está desfrutando da boa música de Ravel…
Sobre a gravação do Linos Piano Trio: It’s a great pleasure to hear Ravel’s majestic and technically demanding Piano Trio without insertions of meaningless rubato, and with every note in place. The only thing I was left wishing for was a more scrupulous observation of his dynamic markings. BBC Music Magazine
The Linos Piano Trio’s performances feature string vibrato, as well as occasional portamento. The superb execution, intensity, flexibility, and tonal richness of the ensemble’s performances would, I think, gratify audiences of any era. Fanfare
O lendário pianista morávio Alfred Brendel faleceu pacificamente ontem de manhã, aos 94 anos, em sua casa em Hampstead, Londres.
Era outubro de 1996 e estávamos embarcando no primeiro Ciclo de Grandes Intérpretes da SCHERZO. A grande novidade daquele outono foi que, no dia 15 daquele mesmo mês, o grande pianista Alfred Brendel (Loučná nad Desnou, Tchecoslováquia, 5 de janeiro de 1931) finalmente retornou a Madri pela primeira vez, interpretando as três últimas sonatas de Beethoven após uma longa ausência da capital, de mais de 22 anos. Foi um concerto memorável!
Após aquele primeiro concerto Scherzo, iniciou-se uma intensa e amigável relação pessoal com ele e com Maria Makhno, sua companheira inseparável nos últimos 30 anos. Brendel retornou à série Scherzo até oito vezes, a última em 22 de maio de 2007. Todos os seus concertos foram grandes eventos, com suas interpretações completas de obras essenciais de Haydn, Mozart, Beethoven, Schumann e Schubert. Ele era um mestre absoluto do repertório, começando com aquela primeira coleção completa de Beethoven para o selo austríaco Vox (1957-63), que surpreendeu a todos e se tornou uma referência em gravação por muitos anos, até que ele as gravou novamente em formato digital entre 1992 e 1995, desta vez para o selo Philips, onde foi artista exclusivo por quase quatro décadas.
O grande pianista morávio foi um dos Grandes , o penúltimo sobrevivente de uma geração de pianistas incríveis como Gulda, Pollini, Lupu e Ashkenazy (que ainda está vivo, embora aposentado dos palcos há vários anos). Homem culto, era um grande amante do cinema (seu cineasta favorito era Buñuel, a quem adorava e sabia todos os seus filmes de cor), conhecedor do mundo das artes em geral e da pintura em particular. Escritor brilhante, era também um ávido leitor de literatura e poesia.
Brendel era um músico completo e um grande amante da música (e enfatizo isso porque nem todos os artistas o são). Ele era frequentemente encontrado na plateia de grandes salas de concerto, grandes casas de ópera e festivais de verão, especialmente em Salzburgo, no London Proms e na Schwarzenberg Schubertiade, onde se apresentava regularmente.
Cuenca, 2016
Entre as muitas ocasiões em que nos encontramos e compartilhamos uma refeição, houve uma muito especial há quase nove anos (outra em 4 de setembro de 2016). Foi uma viagem inesquecível a Cuenca com os dois e Juan Carlos Garvayo e sua família, outro grande amigo do maestro. Brendel apreciou muito aquela viagem, e sempre nos lembraremos do impacto que o Museu de Arte Abstrata de Cuenca, fundado por Zobel, teve sobre ele. Nos encontramos várias vezes depois disso, e ele sempre nos lembrava daquela viagem e daquela cidade maravilhosa que tanto o impressionara.
A última vez que tivemos a oportunidade de nos encontrar foi durante um almoço em sua casa em Londres, há pouco menos de um ano, em 4 de setembro de 2024. Curvado e com aparência mais velha, ele ainda conservava uma lucidez incrível e seu senso de humor perspicaz. Ele nos contou que passava até seis horas escrevendo textos para suas próximas palestras todas as manhãs e estava trabalhando arduamente em um novo livro.
Hampstead, Londres, setembro de 2024
Soubemos da triste notícia de seu falecimento no início da tarde de ontem. Paradoxalmente, naquela mesma manhã acordei com outra notícia, desta vez mais agradável: a Associação Franz Schubert de Barcelona havia me concedido o Prêmio Franz Schubert em sua terceira edição, a mesma distinção que Alfred Brendel recebeu na primeira edição, em 2021. O júri o considerou “uma referência absoluta no reconhecimento da obra pianística de Schubert”.
Em suma, aqueles de nós que tiveram a imensa sorte de conhecer e interagir de perto com o Maestro Brendel podem se considerar privilegiados. Ele foi um grande presente da vida. Sem dúvida, sentiremos sua falta, mas Brendel sempre permanecerá conosco. Sempre guardaremos suas interpretações magistrais, sua escrita impecável, mas, acima de tudo, guardaremos com carinho aquelas experiências únicas que ele guardou para sempre em nossas memórias. Ele viveu uma vida rica e intensa e teve a sorte de gozar de ótima saúde mental até seus momentos finais. Era uma pessoa muito cativante, com uma sensibilidade muito especial. Que ele descanse em paz.
Antônio Moral
Alfred Brendel sobe ao piano para seu recital final na série Great Performers, em maio de 2007. Foto: Rafa Martín / Fundação Scherzo.
Obs: Todas as fotos são de Rafa Martin / Fundação Scherzo
Alfred Brendel, considerado um dos pianistas mais talentosos do mundo, faleceu aos 94 anos. O compositor e poeta faleceu em paz em Londres, cercado por seus entes queridos, na terça-feira. A maioria dos críticos o reconheceu como um dos principais intérpretes das obras de Beethoven. [Trechos da BBC News]
Antecipamos esta postagem para prestar nossa homenagem ao grande pianista.
O nome da Sonata Op. 31, No. 2, surgiu de uma história contada por Anton Schindler. Ao perguntar ao compositor qual seria a chave para esta sonata e para a sonata ‘Appassionata’, teria ouvido de Beethoven: “Leia A Tempestade de Shakespeare”.
É verdade que Schindler não é o mais fiel narrador de histórias e, como ‘A Tempestade’ em alemão é ‘Der Sturm’, poderia ser que Beethoven estivesse se referindo à um livro de Christoph Christian Sturm, que estava logo ali perto dos dois, na prateleira de livros do voraz leitor Ludovico. Vá saber…
Em 2020 tivemos uma overdose, uma quase tsunami de postagens sobre Beethoven e sua obra, devido aos 250 anos de nascimento do grande compositor. Parece que todos os arquivos foram buscados e postadas neste ano. Fomos com tanta sede ao pote que as postagens sobre ele rarearam, ficaram espaçadas, e alguns de nossos colaboradores se colocaram assim, meio que de molho. Mas, creiam, nosso gosto e interesse pela música de Beethoven e pelas suas gravações continuam altíssimos por aqui. Sempre que me deparo com um lançamento novo, ou mesmo um relançamento de suas obras, entre os miles de discos que recebemos diariamente aqui na repartição, fico logo tentado a postar.
O disco do Haefliger eu vi logo na época do seu lançamento, lá em 2022, mas por alguma razão, caiu numa pasta de outras obras e ficou meio que esquecido. Agora, com minhas incursões pela plataforma TIDAL me dei com ele novamente e o ouvi de novo e de novo.
Alfred Brendel
Como estava também em busca de gravações mais antigas, mas não jurássicas, acabei ouvindo a gravação feita ao vivo por Alfred Brendel, mas a de seu segundo ciclo (digital) para a Philips. Como gostei muito dos dois discos, achei que deveria dividir com vocês.
As sonatas reunidas no Opus 31 foram compostas no início do novo século (XIX) e marcam uma tomada nova de rumos, o período ‘Clássico’ é deixado cada vez mais para trás. Esta seria última vez que ele reunia três sonatas em um número de opus, as anteriores foram aquelas dos Opus 2 e Opus 10. Essa era uma prática, de reunir grupos de 12, 6 ou 3 peças numa edição, que se estendera do período barroco para o clássico, que facilitava a venda das partituras.
Andreas numa postura mais romântica para interpretar as sonatas do grande Ludovico
Recentemente postei um disco do Andreas Haefliger mais jovem interpretando sonatas para piano de Mozart e agora temos a oportunidade de ouvi-lo em um trabalho mais recente. Ele tem sido ativo como pianista solo, gravando sonatas de Beethoven acompanhadas de algumas outra peças de outros compositores, um projeto intitulado ‘Perspectives’, mas também atua como músico de câmara e como acompanhante de cantores, como é o caso do barítono Matthias Goerne.
Já o outro pianista da postagem, Alfred Brendel, é muito conhecido e foi ativo até os primeiros anos do século XXI. Além de ter sido excelente pianista e ter deixado um legado enorme de gravações de altíssimo nível, Brendel trabalhou com pianistas mais jovens, como Imogen Cooper, Paul Lewis, Amandine Savary, Till Fellner e, mais recentemente, Kit Armstrong. Brendel também dedicou tempo acompanhando grandes cantores, como Hermann Prey e Dietrich Fischer-Dieskau.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Piano Sonata No. 16 in G major, Op. 31 No. 1
Allegro vivace
Adagio grazioso
Rondo. Allegretto
Piano Sonata No. 17 in D minor, Op. 31 No. 2 ‘Tempest’
Largo – Allegro
Adagio
Allegretto
Piano Sonata No. 18 in E flat major, Op. 31 No. 3 ‘The Hunt’
Collectors who’ve followed Haefliger’s Beethoven over the course of his earlier ‘Perspectives’ series will not be surprised by the high craft and musical intelligence throughout this release. Gramophone MagazineApril 2022
Haefliger groups together the three sonatas of Op 31, and plays them without any self-indulgence, but with a finely calculated combination of exuberant bravura and beautifully controlled introspection.
The Guardian 3rd February 2022
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Piano Sonata No. 16 in G major, Op. 31 No. 1
Allegro vivace
Adagio grazioso
Allegretto
Piano Sonata No. 17 in D minor, Op. 31 No. 2 ‘Tempest’
Largo – Allegro
Adagio
Allegretto
Piano Sonata No. 18 in E flat major, Op. 31 No. 3 ‘The Hunt’
Allegro
Scherzo (Allegretto vivace)
Menuetto (Moderato e grazioso)
Presto con fuoco
Alfred Brendel (piano)
Recorded: 1992-11
Recording Venue: “The Maltings”, Concert Hall, Snape
Fazer o quê? Um bom CD com a pianista fictícia Svetlana Stanceva e o maestro também fictício Alberto Lizzio. Bom som, boa interpretação, tudo comprado baratinho no século XX atrás da chamada Cortina de Ferro e lançada no mundo ocidental sob nomes falsos, orquestra falsa, tudo falso, tudo criado pelo esperto produtor e regente Alfred Scholz, que não apenas existiu como escreveu uma biografia de Lizzio. Mas ouçam: a coisa é de primeira linha. Aliás, sugiro a leitura do excelente romance Leopold, de Luiz Antônio Assis Brasil. Há muito de Mozart nesta história centrada em seu pai. Um dos três melhores livros brasileiros lançados em 2024, certamente.
W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 23 e 26 / Fantasia K. 397 para Piano (Stanceva, Lizzio)
Klavierkonzert Nr. 23 A-Dur, K. 488 / Piano Concerto No. 23 In A Major, K. 488
1 Allegro 10:47
2 Andante 5:53
3 Presto: Allegro Assai 7:53
Klavierkonzert Nr. 26 D-Dur K. 537 ‘Krönungskonzert’ / Piano Concerto No. 26 In D Major K. 537 ‘Coronation’
4 Allegro 14:31
5 Larghetto 5:45
6 Allegretto 12:14
7 Phantasie D-Moll, K. 397 / Phantasy In D Minor, K. 397 4:57
W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 20 e 21 / Rondo alla Turca K. 331 (Stanceva, Lizzio)
Klavierkonzert Nr. 20 D-Moll, K. 466 – Piano Concerto No. 20 In D Minor, K. 466
1 Allegro 13:50
2 Romanze 8:42
3 Rondo: Allegro Assai 8:01
Klavierkonzert Nr. 21 C-Dur, K. 467 ‘Elvira Madigan’ – Piano Concerto No. 21 In C Major, K. 467 ‘Elvira Madigan’
4 Allegro Maestoso 14:32
5 Andante 5:35
6 Andante Vivo Assai 7:02
7 Rondo Alla Turca Aus Sonata Nr. 11 A-Moll, K. 331 – Rondo Alla Turca From Sonata No. 11 In A Minor, K. 331 3:33
Se não me engano, faz muito tempo que não posto estes concertos, e como eles fazem falta …
A violinista alemã Franziska Pietsch faz um belo trabalho aqui, considerando o quão difíceis e complexos são estes concertos. E ela também não é mais uma garotinha, ao contrário, já está adentrada nos cinquenta e tantos anos, e talvez falte a impetuosidade da juventude em alguns momentos desta gravação, principalmente no Concerto nº1, mas nada que comprometa o conjunto. Sentimos então a maturidade musical da artista se manifestando, principalmente a partir do belíssimo final do último movimento, e é nestes momentos mais emotivos e eloquentes da obra que sentimos seu tremendo senso de equilíbrio e confiança.
Na montanha russa de emoções do Segundo Concerto Franziska nos envolve na intrincada estrutura harmônica, por vezes quase tropeçando na trama que Prokofiev teceu com maestria e genialidade. Não temos aqui tempo para muitos suspiros e sussurros, é como se tudo ocorresse nas sombras, mas por vezes conseguimos enxergar momentos de luz e esperança. Considerando o momento histórico em que o compositor viveu, período de sombras e tensões, conseguimos entender o enredo da obra, por assim dizer. E assim, novamente naqueles momentos mais líricos, como o magnífico Andante assai, a maturidade artística e musical de Franziska se impõe.
Desafios existem para serem superados, diz o velho clichê. E Franziska Pietsch os encara com autoridade e confiança. Vale a pena conhecer esta violinista, aqui acompanhada pelo ótimo Cristian Macelaru, à frente da Deutsches Symphonie-Orchester Berlin.
Violin Concerto No. 1 in D major, Op. 19
I. Andantino 9:31
II. Scherzo: Vivacissimo 4:00
III. Moderato – Allegro moderato 8:25
Violin Concerto No. 2 in G minor, Op. 63
I. Allegro moderato 11:27
II. Andante assai – Allegretto 10:10
III. Allegro, ben marcato 6:31
Franziska Pietsch
Deutsches Symphonie-Orchester Berlin
Cristian Măcelaru
Após repostar os discos que aparecem logo abaixo neste blog, com as Toccatas de Bach em pianos modernos, resolvi ouvir no Youtube algumas gravações de cravistas. Pinnock: muito bom. Esfahani: muito bom. Até aí, nenhuma surpresa. A surpresa veio com essa gravação feita nos anos 1990 pela cravista suíça que não é tão famosa assim. Os mais velhos talvez se lembrarão do nome dela acompanhando Arthur Grumiaux nas sonatas de Bach para violino e cravo. Mas as gravações solo dela parecem ser um segredo guardado por poucos aficcionados.
Os timbres do cravo variam bastante entre as toccatas. Assim como os andamentos. Como alguém que ouviu com alguma atenção as várias toccatas de Alessandro Scarlatti (aqui), dou o meu palpite sobre esse enigmático gênero barroco: não se trata de exercícios para demonstrar virtuosismo. Não se trata de “se amostrar”. A grande questão na toccata é a liberdade da fantasia, o inesperado, a surpresa: pouco adianta analisar a competência (ou incompetência) do contraponto nos momentos fugato – há uma entrevista de Gould, citada no libreto do disco recém re-postado, na qual ele critica o contraponto do jovem Bach autor das toccatas em comparação com o autor maduro do Cravo Bem Temperado. Esse tipo de crítica é bem irrelevante quando se trata de toccata barroca: o importante aqui é a invenção, até um certo gosto pelas colagens de trechos que não combinam muito entre si: aqui uma fuga, ali umas escalas soltas, depois uma parada dramática seguida de nova fuga… Estamos longe das grandes formas cheias de simetrias e estamos perto do… coração? ou ao menos perto da liberdade dos dedos do cravista J.S. Bach, mas dedos que – repito – estão menos preocupados em se amostrar e mais preocupados em se divertir.