Bacalhaus, no mar, em Portugal, fazem
Façamos, vamos amar…
Eu ouvi este disco pela primeira vez há poucos dias e fiquei simplesmente mesmerizado. Ouço no caminho para o trabalho, na hora do descanso, enquanto ando pela casa procurando coisas para fazer.
E agora o disco provocou uma onda de buscas por outras coisas com ele relacionadas. Estou ouvindo os dois ótimos LPs de Miúcha e Tom Jobim. Esses eu conhecia.
A primeira canção do disco, uma verdadeira ‘âncora’ que nos prende a ele, é uma tradução (feita por Carlos Rennó) de uma canção de Cole Porter. A original eu conhecia, mas não lembrava onde estava. Imediatamente essa canção me fez lembrar das gravações em dueto reunindo Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. É claro que na nossa versão Louis usa saias…
Algumas outras faixas do disco eu conhecia de outros projetos ou mesmo de ouvir no rádio.
Na minha busca da canção de Cole Porter a encontrei nas gravações Ella & Louis, mas aí ela é interpretada apenas pelo Satchmo, Ella deve ter ido tomar um cafezinho nessa. Na coleção de songbooks, no disco de Cole Porter, Ella Fitzgerald canta o Let’s Do It (Let’s Fall in Love). Mas o dueto Chico Buarque e Elza Soares é um primor. O contraste das duas vozes apimenta a brincadeira. Veja como ela canta o verso ‘Gatinhas com seus gatões fazem, tantos gritos de ais’. Inesquecível!
Nas 14 canções do disco, em cada uma delas Chico está acompanhado de um parceiro ou uma parceira diferente. Só Tom Jobim aparece em duas, mas em uma dela a Miúcha também canta. E como são diversas e diferentes essas parcerias, assim como os estilos musicais. Chama a atenção como Chico se adapta cantando assim com um ou assado com outra, dependendo dos diferentes estilos.
Os sotaques dos ‘estrangeiros’ dão um charme a mais ao disco, como na malandrice da deliciosa Rosa, cantada com Sergio Endrigo. No início da canção ouvimos ‘Arrasa o meu projeto de vida’ e, logo mais, ‘Ah, Rosa, e o meu projeto de vida?’.
‘A Mulher do Aníbal’, de Jackson do Pandeiro, cantada em parceria com Zeca Pagodinho é outra espetacular, assim como ‘Desalento’, em compadrice com Mestre Marçal, de entregar os pontos. Carcará, com João do Vale, é afiada como bico de gavião, uma verdadeira força da natureza.
E o Jonny Alf, Seu João Alfredo, brincando com Seu Chopin? Miles de maravilhes.
Os hermanos, Pablo Milanés e Ana Belén, contribuem com duas canções inesquecíveis – basta ouvir uma vez só e verá que será eternamente Yolanda. Em ‘Piano na Mangueira’, Dionne Warwick mostra que poderia ser assim uma prima de alguma dama do samba – Dona Ivone Lara, talvez? Como é lindo ouvi-la cantar em português.
‘Dinheiro em Penca’ e ‘Não Sonho Mais’, esta última com Elba Ramalho, são dois ‘tours de force’, para fechar o disco com vontade de ouvir de novo.
É provável que todos vocês conheçam já o disco, mas se você é como eu e ainda não havia ouvido falar dele, corra e baixe rapidinho. Esse é ‘papa-fina’!
- “Façamos” (de Cole Porter; versão de Carlos Rennó; com Elza Soares)
- “Desalento” (de Chico Buarque e Vinicius de Moraes; com Mestre Marçal)
- “Sem você” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes; com Tom Jobim)
- “Mar y Luna” (de Chico Buarque e adaptação de San José; com Ana Belén)
- “Dueto” (de Chico Buarque, com Nara Leão)
- “A mulher do Aníbal” (de Genival Macedo e Nestor de Paulo; com Zeca Pagodinho)
- “A Rosa” (de Chico Buarque; com Sergio Endrigo)
- “Até pensei” (de Chico Buarque; com Nana Caymmi)
- “Seu Chopin, desculpe” (de Johnny Alf, com Johnny Alf)
- “Yolanda” (de Pablo Milanés, com Pablo Milanés)
- “Carcará” (de João do Vale e José Cândido; com João do Vale)
- “Piano na Mangueira” (de Tom Jobim e Chico Buarque; com Dionne Warwick)
- “Dinheiro em penca” (de Tom Jobim e Cacaso; com Miúcha e Tom Jobim)
- “Não sonho mais” (de Chico Buarque; com Elba Ramalho)
Com Chico Buarque
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MP3 | 320 KBPS | 138 MB

Disco coletânea reunindo gravações de diversos artistas, em dueto com Chico Buarque. Projeto e produção executiva: Vinicius França. Coordenação de produção: Adriana Ramos e Hugo Pereira Nunes. Assistente de produção: Paula Mello.
Formidável!
René Denon
O Chico é o maior compositor de canções do mundo. A única razão porque acho que vale a pena ser português é poder entender o que ele escreve.
Obrigado
Olá, Rui!
Seu comentário chegou num momento muito oportuno, estava aqui realmente precisando de um alento. Já andava cá um pouco desmotivado, achando que as postagens significam pouco para as pessoas, quando você me dá essa alegria.
Eu tenho certeza que há miles de razões pelas quais vale a pena ser português e poder apreciar as lindas letras das canções é uma delas. As palavras não são exatamente o meu forte, sou mais figurativo, mais geométrico, mas amo-as de paixão e escrever esses maltratados textos para o blog é uma maneira de tentar cativá-las, um pouco.
Enfim, obrigado!
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Forte e caloroso abraço do
René