A postagem de hoje nem se importará tanto com a peça em questão – o rondó em Si bemol maior que, pelo que consta, foi o finale das duas primeiras versões do concerto para piano na mesma tonalidade, e que foi descartado por Beethoven em prol do rondó com que o publicou. Apesar do descarte, parece que ele o tinha em alguma estima, pois foi mantido entre seus papeis até a morte – provavelmente atirado sobre o piano Broadwood de cordas arrebentadas que era a estrela da sala de estar, e sob o qual havia um penico. Resgatado do pandemônio do apartamento mais bagunçado de Viena, foi completado (dir-se-ia retocado) por seu aluno Carl Czerny e publicado postumamente em 1829.
A postagem de hoje importa, sim, por seu intérprete – o decano dos pianistas, um poeta do teclado, um cidadão do mundo cuja trajetória se confunde com as bonanças e as desgraças dos últimos noventa e tantos anos desse planeta.
Max Pressler nasceu numa família judia em Magdeburg, em 1923, e viu-se expelido de sua Alemanha natal em 1939, por conta da violência que se seguiu à Kristallnacht. A imigração para a Palestina salvou-lhe a vida – ao contrário de todos os familiares que ficaram na Europa, trucidados por genocidas -, mas não o livrou da fome. Mudou seu nome para Menahem, imigrou para os Estados Unidos após a guerra e, depois de vitórias em concursos pianísticos, iniciou uma bem-sucedida carreira como solista e pedagogo, logo eclipsada por seu distinto papel como pedra fundamental do legendário Trio Beaux Arts, do qual participou desde sua primeira formação, em 1955 – quando era seu membro mais jovem -, até a dissolução do trio, inacreditáveis cinquenta e três anos depois. Quando seu último violinista, o brilhante Daniel Hope, foi buscar uma carreira solo, não quis perder tempo a buscar um substituto: naquele mesmo 2008, saiu em turnê pelo mundo com o membro remanescente do Beaux Arts, o violoncelista recifense Antonio Meneses, e com ele fez uma gravação lapidar das sonatas de Beethoven para violoncelo e piano. Não contente com isso, o incansável Pressler – que, com 1,56 m de altura, é praticamente uma formiga atômica a exsudar energia – retomou a carreira de solista e lançou, ao completar noventa anos, sua primeira gravação solo em muitas décadas. E foi além: em 2012, mais de setenta anos depois da fuga da morte que o tornou apátrida, tornou-se novamente cidadão alemão e, aos noventa e um anos, despediu-se de 2014 estreando com a Filarmônica de Berlim em seu Concerto de São Silvestre.
Acham pouco? Pois hoje, aos noventa e seis, e certamente o mais idoso pianista em atividade, Pressler ainda faz planos. Fosse ele um total incompetente, ainda seria fascinante ouvir em nossos dias alguém que já tocava piano numa época que eu sequer consigo imaginar colorida. Mas Pressler é um artista extraordinário, e esperamos que este seu ótimo Beethoven (apesar das eventuais capenguices da orquestra) lhes dê alguma medida de sua arte enquanto aguardamos o próximo produto de sua inquietude.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15
(cadências de Beethoven) Composto em 1795 Publicado em 1801 Dedicado à princesa Anna Louise Barbara Odescalchi
1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo. Allegro scherzando
Rondó em Si bemol maior para piano e orquestra, WoO 6
Completado por Carl Czerny (1791-1857) Composto em 1793 Publicado em 1829
4 – Rondo: Allegro – Andante – Tempo I – Presto
Menahem Pressler, piano Vienna Opera Orchestra Moshe Atzmon, regência
Se você acha sua idade um impedimento para tocar com a Filarmônica de Berlim, Menahem Pressler chegou para mudar seus conceitos: ei-lo a estrear com os berlinenses, aos tenros 91 anos.
Um excelente disco de Nicola Benedetti, que, apesar do nome, é escocesa. Neste Fantasie, seu quarto álbum, ela apresenta uma seleção de peças para violino que são muito amadas e que formam uma impressionante demonstração de qualidade interpretativa. A combinação de peças virtuosísticas de influência cigana com meditações e canções introspectivas funcionou maravilhosamente e mostram a maturidade de Benedetti. Ela foi vencedora do concurso de jovens músicos da BBC e depois estabeleceu uma carreira fantástica com grandes orquestras do Reino Unido, EUA e Japão, recebendo elogios por suas ousadas interpretações de concertos como os de Tchaikovsky, Mendelssohn, Sibelius, Glazunov e Szymanowski. Para Fantasie, Benedetti deixou de lado os grandes concertos para explorar algumas obras do recital padrão, mas também incluindo músicas não tão conhecidas, como a linda The Lark Ascending, de Vaughan Williams, uma das maiores obras para violino que, nos últimos três anos, foi eleita a peça favorita de música clássica da inglesa Classic FM, mas ainda pouco divulgada fora das ilhas.
1 Zigeunerweisen Op.20
Composed By – Pablo de Sarasate
Conductor – Vasily Petrenko
Leader – James Clark (6)
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
8:59
2 The Lark Ascending
Composed By – Ralph Vaughan Williams
Conductor – Andrew Litton
Leader – Vesselin Gellev
Orchestra – The London Philharmonic Orchestra
15:57
3 Introduction And Rondo Capriccioso In A Minor
Composed By – Camille Saint-Saëns
Conductor – Vasily Petrenko
Leader – James Clark (6)
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
9:19
4 Meditation From “Thais”
Composed By – Jules Massenet
Conductor – Daniel Harding
Leader – Carmine Lauri
Orchestra – The London Symphony Orchestra
5:39
5 Tzigane
Composed By – Maurice Ravel
Conductor – Vasily Petrenko
Leader – James Clark (6)
Orchestra – Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
10:02
6 Spiegel Im Spiegel
Composed By – Arvo Pärt
Piano – Alexei Grynyuk
7 Vocalise Opus 34 No.14
Composed By – Sergey Rachmaninov*
Piano – Alexei Grynyuk
6:11
8 Apres Une Reve
Composed By – Gabriel Fauré
Piano – Alexei Grynyuk
As duas obscuras cantatas presentes nessa gravação, compostas por um Beethoven que ainda não fizera vinte anos, foram suas primeiras obras de fôlego e, talvez, as primeiras a darem pistas de que o casmurro violista da corte do Eleitor de Colônia viria a ser um gênio da Humanidade.
Joseph II, Imperador Romano-Germânico, conduziu em sua década final de vida uma notável série de reformas em todo império, sobretudo em Viena, sua capital. Sua morte, em 1790, encerrou a década josefiniana, permeada pelo Iluminismo e que coincidiu, em sua maior parte, com aquela em que Mozart viveu na capital (e quem assistiu a “Amadeus” lembrará de Joseph, que reclamava das “notas demais” nas obras de Wolfgang). Beethoven, que chegaria a Viena somente depois da morte de Joseph, estava bastante familiarizado com seu espírito: sua Bonn natal era controlada por Viena, e abrigava o palácio do Eleitor de Colônia – título que pertenceu, nos últimos anos de Ludwig por lá, a Maximilian Franz, irmão de Joseph II. Ademais, participou, a convite de seu professor, Gottlob Neefe, de associações iluministas – uma das quais, a Lesegesellschaft (Sociedade de Leitura) encomendou-lhe uma cantata alusiva à morte do imperador, com letra de outro membro da sociedade, um certo Severin Anton Averdonk.
A Cantata sobre a Morte do Imperador Joseph II, composta naquele mesmo 1790, nunca foi executada durante a vida de Beethoven e só iria à prensa quase cem anos depois de sua composição, dentro do afã de editar suas obras completas na monumental Beethoven Gesamtausgabe. Aparentemente, as orquestras recusaram-se a tocá-la devido a dificuldades técnicas – o que deve ter deixado Ludwig com cara de tacho, pois uma obra assim, extensa e com um tema tão específico, dificilmente poderia ser reaproveitada. Ela é notável pelo intenso coro de abertura, no Dó menor que seria seu emblema, e que se repete no final, com poucas modificações além da coda. Diferentemente da maior parte de suas obras não publicadas, Beethoven tinha essa cantata em alguma consideração, uma vez que se baseou na ária “Da stiegen die Menschen an’s Licht” de seus dezenove anos para escrever a luminosa “O Gott! Welch’ ein Augenblick” de Leonore/Fidelio.
Sua obra-irmã, a Cantata pela Elevação do Imperador Leopold II, foi provavelmente composta naquele mesmo 1790, ano em que o irmão de Joseph II foi eleito e coroado em Frankfurt. Diferentemente da sua contraparte, e com aproximadamente metade de sua duração, ela abre sem-cerimoniosamente, como se a peça já estivesse em curso, e vai crescendo em intensidade até seu brilhante final. Chama a atenção, entre os números, a ária “Fliesse, Wonnezähre, fliesse!”, com uma difícil parte coloratura para soprano, que certamente não foi destinada a uma cantora das províncias, e sim a alguma notável intérprete em particular. A ária, bem como o trio que antecede o coro final, reflete o interesse e familiaridade do jovem renano para com a opera seria, que provavelmente conhecia bem através das companhias que passavam por Colônia e por seu trabalho na orquestra do Eleitor, em Bonn. Ainda que a cantata para Leopold seja menos ambiciosa que aquela para Joseph, ela é especialmente interessante pelo seu coro de encerramento, que tem vários gestos, além da própria tonalidade que remetem àquele do final da Nona Sinfonia, incluindo o uso repetido da palavra “Millionen”, que aparece tanto na “Stürzet nieder, Millionen, an dem rauchenden Altar!” da obra de juventude quanto na “Ihr stürzt nieder, Millionen?” que pôs em música em sua maturidade.
Ainda que não sejam obras-primas consumadas, e que talvez fosse demais querer isso dum jovem de dezenove anos, elas haverão de surpreender os leitores-ouvintes que imaginaram que Beethoven foi tão só um compositor de colheitas tardias. Essa gravação, sob a sempre impecável condução de Matthew Best, é dum cuidado que raramente vemos ter com obras obscuras. Além da distinta voz do baixo belga José van Dam, há o brilho da soprano Janice Watson, que não só fará “Da stiegen die Menschen an’s Licht” evocar a grande ária de Leonore/Fidelio, como também será a lembrança que provavelmente lhes ficará desse bom disco.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Cantata sobre a Morte do Imperador Joseph II, para solistas, coro e orquestra, WoO 87 Composta em 1790 Publicada em 1888
1 – No. 1, Coro: “Todt, stöhnt es durch die öde Nacht!”
2 – No. 2, Recitativo: “Ein Ungeheuer, sein Name Fanatismus”
3 – No. 3, Ária: “Da kam Joseph, mit Gottes Stärke”
4 – No. 4, Ária com coro: “Da stiegen die Menschen an’s Licht”
5 – No. 5, Recitativo: “Er schläft von den Sorgen seiner Welten entladen”
6 – No. 6, Ária: “Hier schlummert seinen stillen Frieden”
7 – No. 7, Coro:” Todt, stöhnt es durch die öde Nacht!”
Janice Watson, soprano Jean Rigby, mezzo-soprano John Mark Ainsley, tenor José van Dam, baixo Corydon Singers Corydon Orchestra Matthew Best, regência
Cantata pela Elevação do Imperador Leopold II, para solistas, coro e orquestra, WoO 88 Composta em 1790 Publicada em 1888
8 – No. 1, Recitativo com coro: “Er schlummert … schlummert!”
9 – No. 2, Ária: “Fliesse, Wonnezähre, fliesse!”
10 – No. 3, Recitativo: “Ihr staunt, Völker der Erde!”
11 – No. 4, Recitativo – Trio: “Wie bebt mein Herz vor Wonne! – Ihr, die Joseph ihren Vater nannten”
12 – No. 5, Coro: “Heil! Stürzet nieder, Millionen”
Judith Howarth, soprano Jean Rigby, mezzo-soprano John Mark Ainsley, tenor José van Dam, baixo Corydon Singers Corydon Orchestra Matthew Best, regência
“Opferlied”, para soprano, coro e orquestra, Op. 121b Composta e publicada em 1824
13 – Mit innigem andächtigem Gefühl, in ziemlich langsamer Bewegung
Jean Rigby, mezzo-soprano Corydon Singers Corydon Orchestra Matthew Best, regência
“Meeresstille und Glückliche Fahrt”, cantata para solistas, coro e orquestra, Op. 112 Composta entre em 1814–5 Publicada em 1822 Dedicada a Johann Wolfgang von Goethe
Judith Howarth, soprano Janice Watson, soprano Jean Rigby, mezzo-soprano John Mark Ainsley, tenor José van Dam, baixo Corydon Singers Corydon Orchestra Matthew Best, regência
Este é um resumo bastante incompleto do que foi a carreira do extraordinário Collegium Aureum, grupo que teve sua origem na Harmonia Mundi e que foi um dos principais pioneiros das interpretações historicamente informadas.
Mais um disco excelente! Alegre, feliz, luminoso e com novo show do Collegium Aureum!
Jean-Philippe Rameau foi um dos maiores compositores do período Barroco-Rococó. Na França, porém, é tido como a maior expressão do Classicismo musical.
Filho de organista na catedral de Dijon, seguiu a carreira do pai, na qual distinguiu-se desde cedo, trabalhando em várias catedrais. Não foi apenas um dos compositores franceses mais importantes do século XVIII, como também influenciou a teoria musical. Seu estilo de composição lírica pôs fim ao reinado póstumo de Jean-Baptiste Lully, cujo modelo dominara a França por meio século.
Até 1722 Rameau compusera apenas poucas e curtas peças para teclado e obras sacras, mas a publicação de seu tratado sobre harmonia naquele ano marcou o começo de um período muito produtivo, conhecendo a fama. Suas Pièces de Clavecin foram publicadas em 1724, seguidas por um novo livro de teoria, em 1726, e de obras para teclado e cantatas, em 1729. Somente aos cinquenta anos ingressou no terreno da música cênica, compondo sua primeira ópera, Hippolyte et Aricie, um grande sucesso que lhe valeu a posição de principal operista francês de seu tempo. Escreveu várias óperas em vários gêneros, sempre acolhidas com entusiasmo, e mesmo desencadeando grandes polêmicas por sua ousadia, inventividade e pelas novidades que introduziu. Sua música caracteriza-se por um dinamismo que contrasta com o estilo mais estático de Lully.
Era também professor de cravo, bastante em moda na Paris de sua época. A técnica do dedilhado dos instrumentos de teclado deve muito a Rameau. Foi “Compositor da Câmara do Rei”, sendo agraciado poucos meses antes de morrer com o título de Cavaleiro. Seu funeral foi cercado de pompa, recebendo também homenagens em muitas cidades como um compositor excepcional que orgulhava a nação.
Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Les Indes galantes / Dardanus — Coleção Collegium Aureum Vol. 3 de 10
Les Indes Galantes (ballet suite)
01. I. Ouverture
02. II. Entrée des quatre nations
03. III. Menuet I et II
04. IV. Forlane
05. V. Rondeau. Danse du Grand Calumet de la Paix executee par les sauvages
06. VI. Air pour les amours
07. VII. Contre-danse
08. VIII. Air pour les Persans
09. IX. Air vif pour Zephire et la Rose
10. X. Air pour Borée et la Rose
11. XI. Air des Fleurs
12. XII. Air tendre pour la Rose
13. XIII. Gavotte pour les Fleurs
14. XIV. Tambourin
15. XV. Chaconne
Dardanus (suite)
16. I. Ouverture. Lent et majestueux; vite
17. II. Marche pour les differentes nations. Gai
18. III. Menuet tendre en Rondeau. Modéré
19. IV. Tambourin I et II
20. V. Air vif
21. VI. Rigaudon I et II
22. VII. Air en Rondeau. Gaiment
23. VIII. Entree. Gracieusement et un peu gai
24. IX. Sommeil. Rondeau tendre
25. X. Tambourin I et II
26. XI. Chaconne
Acabo de chegar de viagem, uma viagem tensa, embaixo de chuva, em uma estrada esburacada, e por estar em obras, cheia de desvios, e claro, muito movimentada, ainda mais em um final de tarde de domingo. E no meio do caminho, parei para tomar uma água e esticar as pernas, liguei o Spotify para procurei alguma coisa leve para ouvir e encontrei esta maravilha aqui, esta verdadeira jóia, um lançamento do selo Glossa, que vem se destacando por suas gravações do repertório barroco. Músicos bem conhecidos, orquestra idem, não pode dar errado. Tudo macaco velho nesse repertório. Federico Guglielmo é figurinha tarimbada no violino barroco. Violinista, musicólogo, pesquisador tarimbado, faz isso já há bastante tempo, e já é referência há bastante tempo. Acompanhando-o, temos outro Federico, o Sardelli, outro nome muito conhecido para quem admira o barroco italiano. Portanto, quando o ouvimos, sabemos que ali realmente temos músicos que sabem o que estão fazendo. E depois que comecei a ouvir, a viagem tornou-se mais prazerosa, mas ainda tensa, devido à chuva. Chegando em casa, corri para o computador, e fuçando entre meus tradicionais fornecedores, eis que o encontro facilmente. Lançamento quentinho, recém saído do forno.
Creio que Vivaldi seja uma daquelas unanimidades, daqueles compositores que dificilmente deixam o ouvinte infeliz. Estas obras que trago não são tão gravadas assim, algumas são reconstruções do próprio Sardelli, em um detalhado e delicado trabalho de pesquisa.
Mas, meu caro FDPBach, quem diabos é Ana Maria para quem estes concertos são dedicados? Ah, cara pálida, leia o booklet, e delicie-se com o texto. Como comentei acima, tudo o que o selo Glossa lança é de qualidade, bem pesquisado e documentado. Não temam, garanto-lhes que vai valer a pena gastar alguns neurônios para traduzir o texto, senão, o Google Translator está sempre à disposição.
Quando comentei sobre este CD no nosso grupo de Whattsap, imediatamente o comandante PQPBach e seu Vice-Almirante Avicenna foram incisivos: por que ainda não o postastes? Então. ei-lo ai, mas que malandro.
Antonio Vivaldi Lost Concertos for Anna Maria Reconstruction by Federico Maria Sardelli
Concerto rv 772 for violin, strings & bc in D major
1 Allegro
2 Grave
3 Allegro
Concerto rv 775 for violin, organ, strings & bc in F major
4 [Allegro]
5 [Adagio]
6 Allegro
Concerto rv 771 for violin, strings & bc in C minor
7 Andante
8 Grave
9 Allegro
Concerto rv 808 for violin, organ, strings & bc in C major
10 [Andante]
11 [Largo]
12 Allegro
Concerto rv 818 for violin, strings & bc in D major
13 Allegro
14 Largo
15 Allegro
Concerto rv 774 for violin, organ, strings & bc in C major
16 Allegro
17 Adagio
18 Allegro
Federico Guglielmo solo violin
Roberto Loreggian organ
Modo Antiquo
Federico Maria Sardelli – Conductor
Nada presente nesse disco faria muita falta ao mundo, mas os completistas certamente chiariam, então cumpriremos a tabela e apresentaremos as árias avulsas de Beethoven com acompanhamento de orquestra.
Três delas – “Ah, Perfido!”, “Ne’ giorni tuoi felice” e “Tremate, empi, tremate” – já são nossas conhecidas. Somar-lhes-emos algumas outras, também em italiano, e igualmente escritas como exercícios de prosódia naquela língua que Ludwig apresentou a seu professor, Antonio Salieri. Já mencionamos algumas vezes que o sonho dourado de nosso herói era triunfar na ópera. No entanto, assim como a sombra amedrontadora de Haydn pairava sobre sua música instrumental, sobre quaisquer planos seus de óperas em italiano sobrevoavam os fantasmas das magníficas obras-primas de Mozart, particularmente a trinca Le Nozze/Così/Don. Ao longo de sua vida madura, no entanto, o fantasma italiano de Beethoven seria bem outro: o compositor de maior sucesso em todo continente, o bon gourmand que paria óperas em borbotões, o extraordinariamente rico e famoso e inibidor de fortuna de qualquer outro operista, Gioachino Rossini.
Vamos às árias.
Primo amore, piacer del ciel (“Primeiro amor, prazer celestial”) é previsivelmente sentimental e foi o primeiro fruto dos estudos de prosódia italiana. No, non turbati (“Não, não temas”) é, assim como Ne’ giorni tuoi felici, baseada em texto do onipresente Pietro Metastasio, autor de libretos multiplamente reciclados pelos mais diversos compositores, inclusive o Kapellmeister Salieri, que os usava também como material de ensino.
Mais interessantes, acho eu, são as árias em alemão, todas ao estilo dos Singspiele que faziam imenso sucesso em Viena, e nenhum mais que a obra-prima de Mozart – sempre ele -, sua “Flauta Mágica”. O welch ein Leben, ein ganzes Meer von Lust e Soll einSchuh nicht drücken foram compostas para inserção no Singspiel Die schöneSchusterin oder Die pücefarbenen Schuhe, de Ignaz Umlauf, que tinha sido nomeado Kapellmeister de Singspiele (sim, houve esse cargo) pelo imperador Joseph II. As árias restantes datam dos anos de Bonn: a assanhadinha Prüfung des Küssens (“Teste de beijo”)—Meine weiseMutter spricht / Küssen, Küssen, Kind, ist Sünde! (“Minha sábia mãe dizia/Beijar, beijar, criança, é pecado!”) e a marota Mit Mädeln sich vertragen (“Dando-se bem com garotas”), que se baseia num Singspiel com textos de Goethe e foi revisada nos primeiros anos de Ludwig em Viena.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
1 – “Ah! perfido!”, cena e ária para soprano e orquestra, Op. 65 (1796)
2 – “Primo amore”, cena e ária para soprano e orquestra, WoO 92 (1790-92)
3- “No, non turbarti”, ária para soprano e orquestra, WoO 92a (1801-02)
Hanne-Lore Kuhse, soprano
4 – “Ne’ giorni tuoi felici”, dueto para soprano, tenor e orquestra, WoO 93 (1802)
Hanne-Lore Kuhse, soprano Eberhard Büchner, tenor
5 – “Tremate, empi, tremate”, trio para soprano, tenor, baixo e orquestra, Op. 116 (1802)
Hanne-Lore Kuhse, soprano Eberhard Büchner, tenor Siegfried Vogel, baixo
6. – “Prüfung des Küssens”, ária para baixo e orquestra, WoO 89 (1790-92)
7 – “Mit Mädeln sich vertragen”, ária para baixo e orquestra, WoO 90 (1790-92)
Siegfried Vogel, baixo
Duas árias para o Singspiel“Die schöneSchusterin” de Ignaz Umlauf, WoO 91b (1795-96)
8 – No. 1: “O welch ein Leben”, para tenor e orquestra
Eberhard Büchner, tenor
9 – No. 2: “Soll ein Schuh nicht drücken”, para soprano e orquestra
Este é um resumo bastante incompleto do que foi a carreira do extraordinário Collegium Aureum, grupo que teve sua origem na Harmonia Mundi e que foi um dos principais pioneiros das interpretações historicamente informadas.
Uma versão maravilhosa destas peças populares — e ótimas — de Händel. Eu adorei ouvir esta gravação que faz justiça à alta qualidade das obras.
A Música para Fogos de Artifício é uma suíte para instrumentos de sopro composta por Händel em 1749, a pedido do rei George II da Grã-Bretanha, para ser apresentada sob fogos no Green Park, em Londres, em 27 de abril de 1749. A música celebra o fim do Guerra da Sucessão Austríaca e assinatura do Tratado de Aix-la-Chapelle (Aachen) em 1748.
A Música Aquática é outra coleção de movimentos orquestrais, frequentemente dividida em três suítes. Sua estreia se deu em 17 de julho de 1717, após o rei George I encomendar um concerto para ser executado dentro do Tâmisa. Sim, isso mesmo. O concerto foi executado originalmente por cerca de 50 músicos, situados sobre uma barca nas proximidades da barca real, a partir da qual o monarca escutava a peça com seus amigos mais próximos. Uma nojeira. Aproveitando-se da correnteza do rio, as barcas se dirigiam a Chelsea. O rei Jorge gostou tanto das suítes que pediu a seus músicos, já esgotados, que tocassem-na por três vezes durante o tempo do percurso. Uma nojeira II. Mas a música de Händel é do caralho.
Georg Friedrich Händel (1685-1759) : Música para Fogos de Artifício e Música Aquática — Coleção Collegium Aureum Vol. 2 de 10
CD02: Handel – Music for the Royal Fireworks; Water Music (76:17)
George Frideric Handel (1685-1750)
Music for the Royal Fireworks, HWV 351
01. I. Ouverture
02. II. Bourrée
03. III. La Paix
04. IV. La Rejouissance
05. V. Minuet I
06. VI. Minuet II
Water Music, Suite N.1 in F, HWV 348
07. I. Ouverture
08. II. Adagio e staccato
09. III. Allegro – Andante – Allegro
10. IV. Allegro
11. V. Air
12. VI. Minuet
13. VII. Bourrée
14. VIII. Andante
15. IX. Hornpipe
Water Music, Suite N.2 in D-Dur, HWV 349
16. I. Ouverture
17. II. Alla Hornpipe
18. III. Minuet
19. IV. Lentement
20. V. Bourrée
Water Music, Suite N.3 in G-Dur, HWV 350
21. I. Andante
22. II. Rigauden I & II
23. III. Menuet I & II
24. IV. Gigue I & II
O lançamento deste disco foi ontem (escrevo na linda tarde de 2 de outubro de 2020) e deixou-me assim, um pouco surpreso.
O Fauré Quartett é formado por Konstantin Heidrich (violoncelo), Erika Geldsetzer (violino), Sascha Frömbling (viola) e Dirk Mommertz (piano). Estes quatro músicos alemães formaram este conjunto de câmera há 25 anos, quando estudavam em Karlsruhe. A escolha do nome se deve ao fato de que naquele ano de 1995 comemorava-se os 150 anos de nascimento do Gabriel e a música deste ótimo compositor francês os reuniu e mostrou a possibilidade de assim atuarem profissionalmente.
Minha surpresa vem do fato de que, apesar do nome, o grupo ainda não havia registrado as peças do homônimo compositor. Realmente, eles gravaram os quartetos de Mozart, de Brahms, e realizaram outros interessantes e ousados projetos para a Deustche Grammophon, mas nada de Fauré, até ontem…
Parece que eles passaram 25 anos se preparando para realmente fazer jus à música que tanto os inspirou. Posso vos garantir que valeu a espera. O disco é excelente.
O pianista do grupo, Dirk Mommertz, explica que os membros do grupo estão realmente muito conectados e isto gera algum risco: manter exatamente aquilo que uma música como a de Fauré precisa, o imprevisível, uma sensação de estar no ar, de leveza, mas também a profundidade que está dentro dela.
Veja como o Google tradutor do alemão verteu a mensagem de lançamento do álbum: O lançamento do novo disco é iminente! Estamos comemorando 25 anos do Quarteto Fauré. É por isso que Gabriel Fauré pode ser ouvido no CD. Muito! Seus dois quartetos de piano, Op. 15 e Op. 45, são adoçados com cinco canções: Notre Amour, Les Berceaux, Après un rêve, Clair de lune e Mandolin em um arranjo agradável de Dietrich Zöllner. O CD estará disponível a partir de 2 de outubro!
Adoçados (versüßt) pode não ser muito elogioso para nossos ouvidos, mas tenho certeza que o contexto cultural alemão deve ser diferente. Digo isso por que achei os arranjos de impecável bom gosto. Acrescentei no arquivo que você já deve estar baixando gravações das canções Les Berceaux, Après un rêve, Clair de lune e Mandolin, nas vozes excepcionais de Gerard Souzay e Janet Baker, para que você compare e tire as suas próprias conclusões.
Gabriel Fauré (1845 – 1924)
Quarteto com Piano No. 2, Op. 45
Allegro molto moderato
Allegro molto
Adagio non troppo
Allegro molto
Canções arranjadas para Quarteto com Piano (Dietrich Zöllner)
E o pianista do Fauré Quartett continua explicando: “One discovers much that is wonderful in Fauré’s music, from the darkest depths in the slow C minor movement, to the airiness and cheerfulness of some of the art songs we arranged and recorded” […] It is “incredibly challenging to cope with such emotional fluctuations along with all the imponderables as a member of an ensemble that has been rehearsing this music for over twenty years now. But it is exactly this that has perhaps driven us to rethink just about everything as much as possible. You have to look for a truth that offers validity.”
Na minha opinião, eles saíram-se brilhantemente do desafio!
Aproveite!
RD
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Não sou muito afeito a fatiar gravações. Acho que a escolha e organização do repertório no disco devem ser respeitadas, sobretudo quando partem dos intérpretes. Ao ingressar nos próximos capítulos da obra completa de Beethoven e na exploração de algumas composições obscuras e pouco gravadas, serei obrigado, todavia, a recorrer ao expediente que tanto desaprovo. Em minha defesa, devo dizer que as próprias gravadoras o fazem sem muito escrúpulo, incluindo a grandalhona Deutsche Grammophon, que serviu em sua Complete Beethoven Edition um picadinho de vários discos de seu acervo, aos quais somou contribuições licenciadas de outras gravadoras.
Começo com três versões da “Canção Elegíaca”, Op. 118, dedicada por Beethoven a seu ex-senhorio, o barão Pasqualati, que lhe cedeu um confortável apartamento em que viveu intermitentemente entre 1804 e 1815. O renano, sempre intempestivo, mudava-se muito, de modo que Pasqualati manteve o apartamento sempre disponível, sem alugá-lo a outros, na certeza de que seu célebre inquilino haveria de voltar. A obra em questão foi composta como um memorial à “esposa transfigurada de meu estimado amigo Pascolati (sic)”, que falecera muito jovem, e estreada na mansão do barão num aniversário da morte dela. Pasqualati ser-lhe-ia muito grato, e apoiou Beethoven pelo resto da vida do compositor, alcançando-lhe comida e goró mesmo quando ele estava doente demais para sustentar-se.
O curto poema, de autor desconhecido, menciona a brevidade da vida e os votos de que a volta aos Céus não seja pranteada, e a música de Beethoven atém-se à singeleza do texto, demonstrando sua capacidade de ser expressivo mesmo dentro de formas concisas. Embora seja hoje mais frequentemente executada com grande coro e orquestra, a estreia contou apenas com solistas vocais e quarteto de cordas, e a primeira edição incluiu um acompanhamento de piano. As três versões, conforme mencionamos, estão incluídas nesta gravação.
A “Canção de Sacrifício“, Op. 121b, marca mais uma obsessão de vida toda do compositor com um poema. Ao feitio do que aconteceu com a “Ode à Alegria” de Schiller, musicar a “Opferlied” de Friedrich von Matthisson (1761-1831) foi um projeto a que voltou repetidas vezes ao longo da carreira. Beethoven adorava Matthison, o autor da célebre “Adelaide”, a quem dedicou com muita devoção seu Op. 46. Ele conheceu “Opferlied” ainda em seus tempos de Bonn, e o poema causou-lhe tão forte impressão que seu último verso, “Das Schöne zu dem Guten!” (“O Belo ao Bom!”) aparece frequentemente em sua correspondência e em suas partituras autógrafas. O texto, que descreve um jovem que oferece um sacrifício a Zeus, para que ele lhe resguarde a liberdade e lhe permita desfrutar a beleza das coisas, tanto na juventude quanto na velhice, certamente calava fundo em Beethoven, sempre tão preocupado com sua subsistência cotidiana e com as incertezas sobre seu futuro. Ele escreveu nada menos que quatro composições sobre o poema: duas canções de câmara, e duas são obras corais. A segunda delas, para soprano solista, coro e orquestra, data de 1823-24 e é, disparadamente, a mais executada. Nesta gravação, ela antecede a primeira versão, composta em 1822 e estreada em Pressburg (hoje Bratislava, Eslováquia) que requer soprano, contralto e tenor, além do coro e do acompanhamento de dois clarinetes, trompa, viola e violoncelo.
A “Bundeslied“, Op. 122, baseia-se em poema de Goethe, outro ídolo de Beethoven, que o musicou ainda em 1797. Ao recorrer ao velho golpe de reescrever obras antigas para vendê-las na maturidade, Beethoven tomou um tufo (como se diz em minha Forno Alegre natal) quando ela foi recusada pelos editores em 1823, um gesto sem precedentes para com aquele que era, com folgas, o mais célebre compositor vivo. Ele retocou a obra e deu-lhe a forma que hoje conhecemos, com solistas, coro feminino e acompanhamento de pares de clarinetes, trompas e fagotes – um conjunto instrumental que muito ouviu e para o qual escreveu nos tempos de Bonn. A breve composição, que celebra de modo jubiloso uma união – talvez um casamento – está à altura do texto de Goethe, a quem Beethoven nunca deixou de honrar, e será uma grata surpresa a quem não a conhece.
Temo que não possa dizer o mesmo da cantata “O Momento Glorioso“, Op. 136, uma obra de ocasião escrita para bajular as inúmeras cabeças coroadas presentes em Viena para o Congresso que, em 1814, redesenhou a Europa pós-napoleônica. Não podemos censurar nosso herói por ter aproveitado a oportunidade, que lhe permitiu se exibir como o mais importante compositor do continente e, ainda mais importante, ganhar algum dinheiro com isso. A composição é deliberadamente sensacionalista e pode até lhes soar agradável, uma vez que Beethoven lança mão de vários clichês para impressionar a realeza, que obviamente adorou o puxassaquismo. Escrita para solistas, coro e orquestra, a cantata tem seis movimentos bem contrastantes. Os solistas vocais representam figuras alegórica: a primeira soprano simboliza Viena; a segunda, uma profetisa; o tenor é um gênio, e o baixo, o Líder do Povo. O coro inicial descreve uma figura coroada caminhando por um arco-íris de paz, que no recitativo seguinte é identificada como Viena, a trajar o manto real. Na ária com recitativos e coros a seguir, Viena saúda os governantes ali reunidos e lhes conta que está sediando o maior evento de todos os tempos. Após, a profetisa conclama as nações a agradecer a Deus por tê-las salvado, e um quarteto dos solistas afirma que os velhos tempos pré-napoleônicos estão de volta e que a Europa voltará a se erguer. Por fim, um coro celebratório, ao qual se somam vozes infantis, saúda novamente os participantes do Congresso e, numa fuga final, tece loas a Viena (chamada pelo seu nome romano, Vindobona) e ao glorioso momento que dá o título à cantata.
Os amigos de Beethoven, conhecedores de seus pendores libertários e antissistema, sorriram amarelo para a obra descaradamente bajulatória. O compositor, no entanto, não sofreu com qualquer contradição e colheu todas as oportunidades que lhe sorriram junto com o sucesso. Ele sempre dependera de contribuições de patronos da nobreza e estava muito otimista com a possibilidade de surfar a onda de popularidade e ganhar dinheiro como compositor oficial de grandes eventos. Não tinha grande consideração pelas cabeças coroadas, que para ele eram frívolas e sem gosto musical – o que é atestado pelo fato da cantata ter feito tanto sucesso na estreia quanto a barulhenta “Vitória de Wellington”, e muito mais que uma obra-prima como a Sétima Sinfonia, ambas tocadas na ocasião. Beethoven, que começara a carreira a burilar cuidadosamente tudo o que levava a público, perdera finalmente o prurido em vender seu trabalho em negócios de ocasião – ou, como se diria no boleiro mundo de hoje, aprendera enfim a jogar para a torcida.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Elegischer Gesang, para solistas, coro e orquestra, Op. 118 Composto e publicado em 1814 Dedicado ao barão Johann von Pasqualati
1 – Langsam und sanft
San Francisco Choral Artists The Alexander String Quartet
Elegischer Gesang, para coro e piano, Op. 118
2 – Langsam und sanft
Nicolai Krügel, piano Deutscher Jugendkammerchor Florian Bengfer, regência
Elegischer Gesang, para solistas, coro e orquestra, Op. 118
3 – Langsam und sanft
Ambrosian Singers London Symphony Orchestra Michael Tilson Thomas, regência
Opferlied, para soprano, coro e orquestra, Op. 121b Composto e publicado em 1824
4 – Mit innigem andächtigem Gefühl, in ziemlich langsamer Bewegung
Lorna Haywood, soprano Ambrosian Singers London Symphony Orchestra Michael Tilson Thomas, regência
Opferlied, para solistas, coro e orquestra, Op. 121b 5 – Mit innigem andächtigem Gefühl, in ziemlich langsamer Bewegung
Maikki Säikkä, soprano Kristina Raudanen, mezzo-soprano Andreas Nordström, tenor The Key Ensemble Turku Philharmonic Orchestra Leif Segerstam, regência
Bundeslied, para solistas, coro e orquestra, Op. 122 Composto entre 1823-24 Publicado em 1825
6 – In rascher geschwinder Bewegung
Ambrosian Singers London Symphony Orchestra Michael Tilson Thomas, regência
Der glorreiche Augenblick, cantata para solistas, coro e orquestra, Op. 136 Composta em 1814 Publicada em 1837
7 – Coro: “Europa steht!”. Allegro, ma non troppo
8 – Recitativo: “O seht sie nah’ und näher treten!”. Andante
9 – Aria com coro: “O Himmel, welch’ Entzücken!”. Allegro
10 – Recitativo: “Das Auge schaut”
11 – Recitativo e quarteto: “Der den Bund im Sturme fest gehalten”. Allegro
12 – Coro: “Es treten hervor”. Poco allegro
L’uba Orgonášová, soprano Iris Vermillion, mezzo-soprano Timothy Robinson, tenor Franz Hawlata, baixo Vincenzo Bolognese, violino Coro di Voci Bianche dell’Arcum Coro dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia Myung-Whun Chung, regência
Este é um resumo bastante incompleto do que foi a carreira do extraordinário Collegium Aureum, grupo que teve sua origem na Harmonia Mundi e que foi um dos principais pioneiros das interpretações historicamente informadas.
O CD que abre a coleção é esplêndido, verdadeiramente notável. São concertos duplos para dois cravos ou para cravo e pianoforte. CPE foi o mais talentoso filho de Bach, secundado por Wilhelm Friedemann. Vejam a lista de executantes. É a nata dos anos 60 e 70.
Segundo filho de Johann Sebastian Bach e Maria Barbara Bach, o talento de CPE se manifestou já na infância, recebendo completa e esmerada educação musical de seu pai, mas inicialmente tencionava dedicar-se profissionalmente ao Direito, estudando na Universidade de Leipzig e na Universidade de Frankfurt. Ao terminar o curso em 1738 foi empregado pelo rei Frederico II da Prússia como cravista, para quem trabalharia pelos trinta anos seguintes. Em 1768 sucedeu seu padrinho, Georg Philipp Telemann, na posição de kantor do Johanneum de Hamburgo, uma escola latina, bem como tornou-se diretor de música municipal, responsável pela música das cinco principais igrejas da cidade e pela ornamentação de cerimônias cívicas, onde permaneceria ativo até sua morte em 1788. Foi um grande dinamizador do ambiente musical de Hamburgo, além de ligar-se a importantes figuras da literatura e da filosofia, participando de clubes e sociedades de debates.
Deixou obra volumosa, com mais de 750 composições entre peças para teclado solo, concertos, sinfonias, música sacra, música de câmara e lieder. Cravista virtuoso, cerca de metade de sua produção é para o teclado, além de ter deixado um importante tratado técnico que exerceu grande impacto. Sua música é louvada pela sua originalidade, inventividade, vigor, elegância e incomum expressividade, caracterizando o chamado Estilo Galante ou Rococó. Introduziu importantes inovações em termos de forma, estilo, estrutura e harmonia, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da sonata clássica, e é considerado um dos precursores da formação do idioma e das formas musicais típicos do Classicismo. Ao mesmo tempo, a intensidade da expressão emocional, a imprevisibilidade e os fortes contrastes de sua música o qualificam também como um dos primeiros românticos.
Seu prestígio foi muito grande enquanto viveu, tido como um dos maiores virtuosos, compositores e professores de sua época, mas na primeira metade do século XIX declinou radicalmente e sua produção foi largamente esquecida. Sua obra começou a ser resgatada na década de 1860, mas embora voltasse a ser mais apreciado, ainda era tido como uma figura menor, de talento limitado, notável mais por ter sido um agente destacado na consolidação da linguagem clássica do que pelos méritos intrínsecos de suas composições. Esta visão só começou a ser revertida na segunda metade do século XX, quando os estudos a seu respeito iniciaram uma fase de acelerada multiplicação e aprofundamento, mas permaneceu influente até a década de 1990. Desde então sua reputação vem sendo rapidamente recuperada, já sendo considerado em ampla escala como um dos mais importantes, originais e influentes compositores do século XVIII.
C.P.E. Bach (1714-1788): Coleção Collegium Aureum Vol. 1 de 10
Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788)
Doppelkonzert für Cembalo, Fortepiano und Orchester, Es-dur, Wq.47
01. I. Allegro di molto
02. II. Larghetto
03. III. Presto
Sonatine für 2 Cembali und Orchester, D-dur, Wq.109
04. Presto – Tempo di Minuetto
Doppelkonzert für 2 Cembali, Fortepiano und Orchester, F-dur, Wq.46
05. I. Allegro
06. II. Largo
07. III. Largo
Eric Lynn Kelley, harpsichord (Wq.47 & Wq.109)
Jos van Immerseel, fortepiano (Wq.47), harpsichord (Wq.109)
Alan Curtis, harpsichord (Wq.46)
Gustav Leonhardt, harpsichord (Wq.46)
Collegium Aureum
Eu realmente não esperava muitas reações acerca das centenas de canções folclóricas que Beethoven arranjou para George Thomson. Também, pudera: ingressar no capítulo mais volumoso e menos conhecido de sua obra não poderia suscitar reação outra, e eu sabia, enfim, que os comentários da essas postagens seriam quietos como criptas. Tamanha foi a indiferença a elas que eu poderia ter até terconfessado em qualquer delas um bárbaro crime, que eu jamais acabaria denunciado. Até Reginaldo Rossi, vejam só!, eu andei postando, sem que leitor-ouvinte algum por isso pedisse minhas entranhas.
Daria por encerrado este capítulo, portanto, não fosse a manifestação de um colega daqui do blog, que me falou com entusiasmo da descoberta que estas postagens lhe proporcionaram. Contou-me que lhe foi uma verdadeira revelação constatar a elegância e o respeito com que Beethoven, a personificação do gênio individualista e ensimesmado, foi capaz de tratar as melodias dos outros, e que revelavam seu imenso talento como arranjador. Esse mesmo colega, grande conhecedor das coisas da vida e, claro, das coisas da Música, contou-me que se permitiu a surpresa porque muito aprecia a melódica celta, e que por isso foi talvez a única pessoa no planeta a baixar as gravações que postei. Por fim, disse-me que gostara muito das canções irlandesas, mas que estranhara, até por conta de sua procedência, da pronúncia muito erudita do inglês nas gravações que encontrou.
Ele não está sozinho nessa queixa – e queixas, aliás, nunca faltaram acerca das edições de canções folclóricas feitas por George Thomson naquele início do século XIX. Mesmo que tenha encomendado os arranjos para um artista do calibre de Beethoven, e antes dele para gente como Hummel e Haydn, a maior parte de suas publicações acabou por encalhar. As críticas, claro, não se centravam sobre a música – os alvos eram suas letras, muitas das quais consideradas pífias, pouco afeitas à música e, por isso, nada atraentes para serem cantadas.
Thomson, no entanto, planos melhores para com as letras de suas edições. Assim como confiara as canções escocesas para a poesia de seu amigo Robert Burns (1759-1796), o bardo nacional da Escócia, ele convidara o poeta irlandês Thomas Moore (1779-1852) para fazer o mesmo com as canções da Ilha Esmeralda. Não teve sorte: Burns encontrou a morte bem antes de completar a encomenda de Thomson, e Moore, depois de muito relutar, acabou por recusar a proposta. E foi além: a convite de editores irlandeses, resolveu ele próprio compor poemas para canções folclóricas irlandesas com música de John Andrew Stevenson (1761-1833). Suas “Irish Melodies”, publicadas em dez volumes entre 1808 e 1834, foram um sucesso avassalador que assegurou a Moore, além de fortuna, a posição até hoje pouco discutida de poeta nacional da Irlanda.
Thomson, claro, acusou o golpe dessa puxada de tapete, mas quem mais o sentiu foram suas publicações, que, a despeito da música de Beethoven, tiveram acolhida morna não só nas ilhas britânicas, como também no continente – onde canções como “The Last Rose of Summer” e “The Minstrel Boy”, ambas entre as “Melodies” de Moore, eram ouvidas em todos os salões – e nos Estados Unidos, onde foram vendidas um milhão de cópias da primeira.
As edições de Thomson, mesmo esquecidas, seguiram carregando a pecha de sua poesia medíocre. Ainda assim, carregavam consigo também o ilustre nome de Beethoven, de modo que não faltaram ideias de relançá-las com outras letras. Somente dois séculos depois de sua publicação, em 2014, as canções folclóricas irlandesas arranjadas por Ludwig foram não só gravadas na íntegra pela primeira vez, como também foram ouvidas com poemas dignos de sua grande música.
Esta gravação que ora lhes apresento foi fruto da dedicação da vida inteira de um homem: Tomás Ó Suilleabháin (1919-2012), um funcionário público irlandês que manteve uma carreira musical paralela como barítono. Seu xodó, no entanto, sempre foi o projeto duma primeira edição e gravação completamente irlandesas dos arranjos que Beethoven fez das canções folclóricas de seu país. Como todo o resto da pequena fração do mundo que escutou esses arranjos, Ó Suilleabháin (melhor sobrenome!) era muito crítico às letras que Thomson conseguiu para elas. Assim, com a valiosa ajuda do professor Barry Cooper, grande estudioso da obra de Beethoven, e após diversos mergulhos nos arquivos da Biblioteca Estatal de Berlim, ele completou uma edição crítica e completa das canções irlandesas, quase só com poemas de Moore e de Burns, um pouco antes de falecer, em 2012.
A presente gravação, realizada por professores e alunos do Conservatório de Música e Drama da capital irlandesa, inclui não só as sessenta e quatro canções irlandesas arranjadas para Thomson, mas também oito versões originais que foram refeitas, a pedido do editor, por serem difíceis demais para pianistas amadores. Os leitores-ouvintes que conheceram as gravações que lhes apresentamos antes perceberão que, além das letras, há algumas pequenas diferenças musicais nos arranjos, essencialmente repetições ou alguns prolongamentos de notas, a fim de acomodar os novos poemas. Ó Suilleabháin preferiu limitar, sempre que possível, o acompanhamento ao piano, por considerar que as partes de violino e violoncelo detratavam um pouco a simplicidade requerida por algumas das canções. A maior diferença, no entanto, estará no nítido “sotaque” irlandês – que, se não literal, na pronúncia das letras, certamente é bem forte em outros aspectos da gravação. Se não se pode dizer que Beethoven realizou uma apropriação cultural, alheio que estava aos poemas e à cultura da Irlanda, por ter recebido apenas as melodias para harmonizar e arranjar, podemos afirmar que este projeto de muito fôlego é uma merecida reapropriação que os irlandeses fizeram de parte de sua cultura, com a esmerada contribuição dum renano genial.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Canções irlandesas, arranjadas para voz e conjuntos mistos, com acompanhamento de piano, violino e violoncelo, WoO 152-154, 157 (excertos) e 158 (excertos) Originalmente publicadas entre 1814-16 com letras escolhidas por George Thomson (1757-1851) Reeditadas com novas letras escolhidas por Tomás Ó Súilleabháin (1919-2012) e republicadas em 2019
Os números entre parênteses indicam a numeração original das canções no catálogo de Kinsky-Halm (WoO) ou de Willy Hess (Hess)
1- Go Where Glory Waits Thee (Air: Maid of the Valley – Thomas Moore)
(WoO 153/10)
2 – Though the Last Glimpse of Erin (Air: The Lady in the Desert – Thomas Moore)
(WoO 152/17)
3 -O Were My Love Yon Lilac Fair (Air: My Dear Eveleen, 1ª versão – Robert Burns)
(WoO 152/5)
4 – O Whistle an’ I’ll Come to Ye (Air: The Black Joke – Robert Burns)
(WoO 152/14)
5 – Ance Mair I Hail Thee (Air: Dermot – Robert Burns)
(WoO 152/16)
6 – When I Was a Maid (Air: Kitty Tyrrel – James Kenney)
(WoO 152/9)
7 – Row Gently Here (Thomas Moore)
(WoO 152/18)
8 – At Night (Air: The Snowy-Breasted Pearl – Thomas Moore)
(WoO 153/1)
9 – Silent, O Moyle (Air: My Dear Eveleen – Thomas Moore)
(WoO 152/6)
10 – When Through the Piazzetta (Air: Autumn Morn – Thomas Moore)
(WoO 152/3)
11 – Their Groves o’ Sweet Myrtle (Air: Paddy Whack – Robert Burns)
(WoO 152/12)
12 – The Catrine Woods (Air: Abigail Judge, 1 ª versão – Robert Burns)
(Hess 196)
13 – Tho’ Women’s Minds (Air: The Kerry Jig – Robert Burns)
(WoO 152/4)
14- Come, Take the Harp (Air: The Summer is Coming – Thomas Moore)
(WoO 152/2)
15 – What Can a Young Lassie (Air: Let Other Men Sing – Robert Burns)
(WoO 153/4)
16 – By Yon Castle Wa’ (Air: The Bold Dragon – Robert Burns)
(WoO 153/3)
17 – Young Jamie (Air: Paddy O’Rafferty – Robert Burns)
(WoO 153/14)
18 – How Dear to Me the Hour (Air: The Twisting of the Rope, 1ª versão – Thomas Moore)
(Hess 197)
19 – Oh! No—Not E’en When First We Loved (Air: Little Harvest Rose – Thomas Moore)
(WoO 152/7)
20 – Nights of Music (Air: The Legacy – Thomas Moore)
(WoO 152/23)
21 – Of A’ the Airts the Wind Can Blaw (Air: The Captivating Youth – Robert Burns)
(WoO 153/2)
22 – When Thro’ Life Unblest We Rove (Air: Lament for Owen Roe O’Neill – Thomas Moore)
(WoO 158/2/7)
23 – Ae Fond Kiss (Air: Lough Sheelin – Robert Burns)
(WoO 152/20)
24 – My Luve is Like a Red, Red Rose (Text: Robert Burns)
(WoO 152/8)
25 – The Small Birds Rejoice (Air: Young Terence McDonough – Robert Burns)
(WoO 152/1)
26 – I dream’d I lay (Air: O Molly, 1ª versão – Robert Burns)
(Hess 194)
27 – Lovely Young Jessie (Air: A Trip to the Dargle – Robert Burns)
(WoO 152/15)
28 – Farewell to the Highlands (Air: Paddy’s Resource – Robert Burns)
(WoO 152/24)
29 – Thou Emblem of Faith (Air: I would rather than Ireland – John Philpot Curran)
(WoO 152/11)
30 – They Came from a Land Beyond the Sea (Air: Peggy Bawn – Thomas Moore)
(WoO 152/13)
31 – At the Mid Hour of Night (Air: I Once Had a True Love, 1ª versão – Thomas Moore)
(WoO 152/25)
32 – If Sadly Thinking (Text: John Philpot Curran)
(WoO 152/10)
33 – Quick! We Have But a Second (Text: Thomas Moore)
(WoO 152/21)
34 – O Stay, Sweet Warbling Woodlark (Air: Garyone, 1ª versão – Robert Burns)
(WoO 152/22)
35 – Go Then—‘Tis Vain to Hover (Air: The Pretty Girl Milking the Cows, 1ª versão – Thomas Moore)
(Hess 198)
36 – Those Evening Bells! (Text: Thomas Moore)
(WoO 152/19)
37 – Mary Morison (Air: My Dear Eveleen, 2ª versão – Robert Burns)
(Hess 192)
38 – The Catrine Woods (Air: Abigail Judge, 2ª versão – Robert Burns)
(WoO 153/12)
39 – How Dear to Me the Hour (Air: The Twisting of the Rope, 2ª versão – Thomas Moore)
(WoO 153/15)
40 – I dream’d I lay (Air: O Molly, 2ª versão – Robert Burns)
(WoO 153/5)
41 – The Girl I Love (Air: I Once Had a True Love, 2ª versão – J. J. Callanan)
(WoO 154/2)
42 – We May Roam Through This World (Air: Garyone, 2ª versão – Thomas Moore)
(WoO 154/7)
43 – Come, May, with All Thy Flowers (Air: The Pretty Girl Milking the Cows, 2ª versão – Thomas Moore)
(WoO 154/9)
44 – Oh! Had We Some Bright Little Isle (Air: Síle Ní Ghadhra – Thomas Moore)
(WoO 154/6)
45 – As Vanquished Erin (Text: Thomas Moore)
(WoO 153/20)
46 – The Day Returns (Text: Robert Burns)
(WoO 153/16)
47 – Ah, Me! When Shall I Marry Me? (Air: The Humours of Ballamagairy – Oliver Goldsmith)
(WoO 153/8)
48 – The Kiss, Dear Maid (Text: Lord Byron)
(WoO 153/9)
49 – The Young Rose (Air: The Old Head of Denis – Thomas Moore)
(WoO 158/2/1)
50 – I’d Mourn the Hopes (Air: Killeavy – Thomas Moore)
(WoO 154/12)
51 – Oh! Breathe Not His Name (Air: The Brown Maid – Thomas Moore)
(WoO 154/11)
52 – When He Who Adores Thee (Air: The Fox’s Sleep – Thomas Moore)
(WoO 154/10)
53 – Fly Not Yet (Air: Planxty Kelly – Thomas Moore)
(WoO 154/1)
54 – Love’s Young Dream (Air: The Old woman – Thomas Moore)
(WoO 154/3)
55 – When Spring Begems the Dewy Scene (Air: St Patrick’s Day – Thomas Moore)
(WoO 154/4)
56 – Lesbia Hath a Beaming Eye (Air: Nora Creina – Thomas Moore)
(WoO 154/8)
57 – Avenging and Bright (Air: Cruachán na Féinne – Thomas Moore)
(WoO 154/5)
58 – O Bonie Was Yon Rosy Brier (Text: Robert Burns)
(WoO 153/7)
59 – When Thou Shalt Wander (Air: the Brown Thorn – Thomas Moore)
(WoO 153/18)
60 – Kate Kearney (Air: Kate Kearney/The Beardless Boy – Lady Morgan)
(WoO 153/17)
61 – Oh! Breathe Not His Name (Air: Castle O’Neill – Thomas Moore)
(WoO 158/2/2)
62 – Awa’ wi’ your Witchcraft (Air: The Fair-Haired Child, 1ª versão – Robert Burns)
(WoO 153/11)
63 – Come, Rest in This Bosom (Air: The Fair-Haired Child, 2ª versão – Thomas Moore)
(Hess 195)
64 – Thou Fair Eliza (Air: Sláinte Rí Philib – Robert Burns)
(WoO 153/19)
65 – Oh! Weep for the Hour (Air: The Pretty Girl of Derby O – Thomas Moore)
(WoO 157/11)
66 – Let Erin Remember (Air: The Red Fox – Thomas Moore)
(WoO 157/6)
67 – Kitty of Coleraine (Text: Traditional)
(WoO 157/8)
68 – The Minstrel Boy (Air: The Moreen – Thomas Moore)
(WoO 157/2)
69 – Erin, O Erin! (Air: Táimse im’ Chodladh/Cauld Frosty Morning – Thomas Moore)
(WoO 158/2/5)
70 – Hark! The Vesper Hymn Is Stealing (Air: The Groves of Blarney – Thomas Moore)
(WoO 153/6)
71 – Farewell! – But Whenever (Air: Moll Roone – Thomas Moore)
(WoO 153/13, Hess 178)
72 – Erin! The Tear and the Smile in Thine Eyes (Air: Eibhlín a Rúin/Robin Adair – Thomas Moore)
(WoO 157/7)
Alunos e professores doConservatory of Music and Drama of the Dublin Institute of Technology: Sopranos: Colette Boushell, Shauna Buckingham, Sinéad Campbell-Wallace, Tara McSwiney, Aoife O’Sullivan e Edel Shannon Mezzo-sopranos: Alison Browner e Leanne Fitzgerald Tenores: Andrew Boushell, Niall Gallagher, Eamonn Mulhall e Lawrence Thackeray Barítonos: David Howes e David Scott Pianistas: Darina Gibson, Shirin Goudarzi-Tobin, Edward Holly, Roy Holmes, Mairéad Hurley, Catherina Lemoni-O’Doherty, David Mooney, Pádhraic Ó Cuinneagáin, Danusia Oslizlok, Aoife O’Sullivan-Hubbard, Margaret O’Sullivan Farrell, Mary Scarlett, e Alison Thomas | www.dit.ie/conservatory/staff/alisonthomas Duo Chagall: Gillian Williams (violino) e Arun Rao (violoncelo)
Discos com música de um único compositor costuma ser o normal, mas há também aqueles discos nos quais o artista apresenta um recital escolhendo peças de vários compositores que mais se adequam às suas características ou habilidades. Estes discos podem ser apenas montados pelas gravadoras para homenagear o artista ou para fins comerciais mesmo.
Entre estes extremos temos aqueles discos que reúnem duas obras que se tornaram ‘dobradinhas’ ao longo da história das gravações. As duplas mais famosas são os quartetos de cordas de Debussy e Ravel e os concertos para piano de Schumann e Grieg.
Digo Schumann e Grieg pois Schumann é mais velho e compôs o seu concerto primeiro, que serviu de inspiração para o mais jovem compositor. Mas as prevalências acabam aqui, pois que os dois concertos são obras espetaculares e, a menos que você seja um absoluto negacionista do romantismo, deve amar estas obras.
Seguindo, portanto, a linha de apresentar obras representativas do repertório clássico para o Desafio PQP, escolhi estes dois concertos para esta que já é a quarta rodada.
Conta a história que em 1845 Clara Schumann estreou o Concerto do maridão como solista em uma apresentação em Dresden. Alguns anos depois, em outro concerto que fez em Leipzig, esteve presente o então jovem norueguês Edvard Grieg, que ficou encantado com a obra do compositor mais velho e inspirado pela sua beleza e romantismo logo deitou mãos à obra. E então, como diz o adágio, o resto é história.
Para tornar o desafio ainda mais interessante, temos aqui não uma gravação, mas duas gravações deste par de ‘cavalos de batalha’. Doravante elas serão tratadas por Desafio A e Desafio B.
Para ganhar o nome inscrito em um tijolo na virtual calçada da fama do PQP Bach, você precisará nomear os artistas das duas gravações.
E mais não digo pois que os nossos argutos e dedicados Sherlockes musicais são capazes de farejar mesmo nos mais rarefeitos bites digitais dos arquivos postados.
Vamos, aproveitem estas duas gravações dos lindos concertos e digam-me sem demora os nomes e sobrenomes dos intérpretes!
Robert Schumann (1810 – 1856)
Concerto para Piano em lá menor, Op. 54
I. Allegro affetuoso
II. Intermezzo: Andantino grazioso e III. Allegro vivace
Reafirmo aqui a questão motivadora desta espécie de ‘coluna’ do PQP Bach… Como se fosse a Seção de Palavras Cruzadas:
O quanto o conhecimento antecipado do intérprete afeta nossa apreciação de um disco?
Nossos ouvidos podem ser levados a apreciar com mais condescendência aqueles intérpretes que amamos ou ficarem de sobrepostos para as escorregadelas daqueles com os quais não simpatizamos. Isto sem contar com as muitas gravações que não nos chamam particularmente a atenção. Pois aqui você tem a oportunidade de ouvir uma boa música sem pré-julgamentos de qualquer tipo… Pelo menos até que o desafio não seja resolvido!
Aproveite!
René Denon
PS: Se você se interessou pelos desafios, poderá encontrar os anteriores clicando nos links a seguir.
Sim, eu sei, mais uma vez trago as Sonatas para Piano e Violino de Beethoven, mas e daí? A dupla de intérpretes são Corey Cerovsek e Paavali Jumppanen, violino e piano, respectivamente. Um canadense, outro finlandês. Dois nomes desconhecidos para muitos, talvez Jumppanen já seja conhecido de alguns, principalmente por suas leituras de Beethoven, muito recomendadas. Mas antes de tudo, dois músicos jovens em gravações recentes (ok, estes registros são de 2006, mas se comparadas com as de Szeryng / Rubinstein que postei dia há algumas semanas, isso foi ontem). Vamos então dar a voz à nova geração.
Nunca cansarei de ouvir estas obras, elas fazem parte de minha vida, é Beethoven em sua essência, é o gênio por trás de tudo isso. É o cara que nasceu há quase duzentos e cinquenta anos e que está sendo celebrado de todas as formas, no mundo inteiro. Não posso concordar neste caso com a frase de Nelson Rodrigues, para quem toda unanimidade é burra. Aqui não.
Tenho certeza de que os senhores irão gostar. Se não, fazer o que, né? Nem tudo é exatamente como a gente quer.
CD 1
Sonata No. 1 in D Major, Op. 12 No. 1
1 Allegro con brio
2 Tema con Variazioni. Andante con moto
3 Rondo. Allegro
Sonata No. 3 in E-flat Major, Op. 12 No. 3
4 Allegro con spirito
5 Andante con molta espressione
6 Rondo. Allegro molto
Sonata No. 9 in A Major, Op. 47 «Kreutzer»
7 Adagio sostenuto – Presto
8 Andante con Variazioni (I-IV)
9 Presto
CD 2
Sonata No. 2 in A Major, Op. 12 No. 2
1 Allegro vivace
2 Andante, più tosto Allegretto
3 Allegro piacevole
Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 «Spring»
4 Allegro
5 Adagio molto espressivo
6 Scherzo. Allegro molto
7 Rondo. Allegro ma non troppo
Sonata No. 6 in A Major, Op. 30 No. 1
8 Allegro
9 Adagio molto espressivo
10 Allegretto con Variazioni (I-VI)
Sonata No. 8 in G Major, Op. 30 No. 3
11 Allegro assai
12 Tempo di Minuetto, ma molto moderato e grazioso
13 Allegro vivace
CD 3
Sonata No. 4 in A Minor, Op. 23
1 Presto
2 Andante scherzoso, più Allegretto
3 Allegro molto
Sonata No. 7 in C Minor, Op. 30 No. 2
4 Allegro con brio
5 Adagio cantabile
6 Scherzo. Allegro
7 Finale. Allegro – Presto
Sonata No. 10 in G Major, Op. 96
8 Allegro moderato
9 Adagio espressivo
10 Scherzo. Allegro
11 Poco Allegretto – Adagio espressivo – Tempo I –
Allegro – Poco Adagio – Presto
A última postagem da longa série de arranjos de canções folclóricas de Ludwig é uma Babel: canções em vários dialetos de alemão, e em dinamarquês, polonês, russo, espanhol, húngaro e italiano dividem o caderno com o único, e bem tangencial, contato de Beethoven com a língua portuguesa.
“Seus lindos olhos”, sobre a qual nada mais achei, parece ser uma modinha do século XVIII. A diminuta letra dá conta da habitual chaga cardíaca que espera em vão curar-se:
Seus lindos olhos
Mal que me viram
Crucis feriram
Meu coração.
Se Amor protege
A chama nossa,
Talvez se mova
A compaixão
Vir pode um dia,
Dia d’encanto,
Qu’em que o pranto
Vertido em vão.
Se Amor alenta
Esta esperança
Em paz descansa
Meu coração”
A modinha é tão curta que, quando achamos que conseguimos decifrar o canto, ela já acabou. Ainda assim, fica evidente o imenso talento de Beethoven como arranjador, ao extrair o máximo de sumo de canções sobre as quais nada conhecia, nem as letras, e harmonizá-las em atraentes peças de câmara. Esse seu afã fica comovente quando nos damos conta de que ele próprio nunca viajou muito para fora do mundo alemão: além duma viagem com a mãe aos Países Baixos, quando ainda era um garoto em Bonn, Berlim foi o mais longe que ficou de sua base vienense. Ainda assim, ávido leitor que era, suponho que deixasse sua imaginação voar bem alto para transpor-se àqueles lugares todos de onde vinham as canções que arranjava. Sempre que tento imaginar a cena que ele pintou para si mesmo ao transpor uma canção tão sentimental para duas vozes masculinas, falho tão miseravelmente quanto Ludwig falharia se lhe pedíssemos para imaginar como o retratariam naquele Portugal tão remoto que pariu “Seus lindos olhos”:
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Vinte e três canções de diversos povos, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 158d Arranjadas entre 1816-17 Publicadas em 1943
1 – Ridder Stigs Runer. Vivace
2 – 0 Horch auf, mein Liebchen. Andantino
3 -Wegen meiner. Allegretto
4 – Wann i in der Früh aufsteh. Comodo
5 – Teppich-Krämer‑Lied. [Comodo]
6 – A Madel, ja a Madel. [Allegro moderato]
7 – Wer solche Buema afipackt. [Poco allegretto]
8 – Ich mag di nit nehma. Moderato
9 – Oj, oj upiłem się karzcmie. Allegro ma non troppo
10 – Poszła baba po popiół. Poco allegretto
11 – Yo no quiero embarcarme. Allegretto
12 – Duet – Seus lindos olhos. Andante con sentimento
13 – Во лесочке комарочков (Vo lesochke komarochkov). Allegro
14 – Ах, реченьки, реченьки (Akh, rechenki, rechenki). Andante assai espressivo
15 – Как пошли наши подружки (Kak poshli nashi podruzhki). Allegretto
16 – Schöne Minka, ich muß scheiden! Andante amoroso con moto
17 – Lilla Carl. Andantino
18 – An ä Bergli bin i gesässe. Andante
19 – Una paloma blanca. Tempo di Bolero
20 – Duet – Como la mariposa soy. Tempo di Bolero
21 – Tiranilla Española. Andantino espressivo
22 – Édes kinos emlékezet. Allegro
23 – Da brava, Catina. Allegretto
Das Seis canções de diversas nações, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 158c
24 – No. 2: Non, non, Colette n’est point trompeuse
Air Français, para voz, violino, violoncelo e piano, WoO 158d (Hess 168) (1817)
25 – Allegretto
Das Doze canções de diversos povos, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 157
26 – No. 12: La gondoletta. Allegretto scherzando
27 – No. 4: O Sanctissima. Andante con moto, ma con pietà
Duas canções folclóricas austríacas para voz, violino, violoncelo e piano (1820)
28 – Das liebe Kätzchen, Hess 133
29 – Der Knabe auf dem Berge, Hess 134
Juliette Allen, soprano Dania El Zein, soprano Natalie Pérez, mezzo-soprano Łukasz Romejko, tenor Vincent Lièvre-Picard, tenor Jean-François Rouchon, barítono Alessandro Fagiuoli, violino Andrea Musto, violoncelo Jean-Pierre Armengaud, piano
A pior pizza que já comi em minha vida foi em Milão. Vá lá. Pizza de aeroporto não é coisa em que nos possamos fiar, mas a pizza do aeroporto de lá talvez só não seja pior do que a produzida pela Subway. Imaginem um disco de arremesso olímpico besuntado com uma coisa vermelha e ácida – segundo dizem, molho de tomates. De passagem, todavia, era o melhor que eu poderia ter conseguido. Decerto que ao lado da sua soberba Catedral, Milão talvez ofereça algo melhor. Milão, que nos evoca ópera e cânticos.
No alvorecer da Idade Média foi um dos maiores centros da ascendente Igreja Cristã, em um tempo no qual sua influência se espalhava como uma sombra, destruindo templos pagãos, perseguindo filósofos, queimando tesouros literários, cometendo tropelias bem diferentes das que poderia aprovar seu ídolo, o JC. Mas por outro lado, enquanto alguns pensadores do momento, os chamados Patrísticos, demonizavam a música como algo sensual e típico dos costumes pagãos, o bom e doce Santo Ambrósio compunha cânticos que atraiam multidões para seu templo e para seu credo, fundando a chamada Igreja Ambrosiana, com uma tradição canora mais antiga que o Canto Gregoriano.
Aproximadamente dois milênios mais tarde a música seria bem diferente e felizmente profaníssima. E se nada tinha a ver com o passado, agora Milão era visitada por um ‘angelo’. Quando do seu grande sucesso na Itália, foi como batizaram o então jovem Mr. Baker, Il Angelo. O Tromba d’Oro. Resultou que uns idiotas roubaram seu trompete achando que era de ouro mesmo. Foram grandes as aventuras de Chet na Itália naqueles tempos, que lhe valeram inclusive algum tempo atrás das grades. Conta-se que ao entardecer se ouvia um mágico trompete se espalhando sobre os telhados e montes toscanos, como se a carceragem de Lucca guardasse um anjo trompetista – e quem sabe se não era verdade mesmo! Alguns artistas nascem com tal gênio que os poderíamos dizer alados. Como sempre, caímos no mesmo argumento: um dos melhores discos de fulano. A profusão de qualidade na obra de Chet é avassaladora, sob diversos aspectos e sujeita a discussões sobre sua performance, expressão, habilidade. Mas acontece que este é sim um dos seus grandes registros. Os solos são de uma beleza, frescor e perfeição que poderiam ter sido compostos anteriormente e com todo bom gosto e sabedoria. Não foram, era improvisado mesmo, após as encantadores exposições temáticas. Já transcrevi alguns deles e posso provar a excelência arquitetônica da coisa, pela teoria e pela prática. Todas as faixas são standards consagrados do jazz, de autores como Charlie Parker, Tadd Dameron, Miles Davis, Sonny Rollins e Gerry Mulligan. Com destaque especial para Indian Summer, adorável tema do compositor Victor Herbert (de quem existe um fabuloso concerto para violoncelo, vale procurar).
Após calhamaços de canções mononacionais, aqui vem alguma variedade.
No começo, canções escocesas – o grupo seguinte àquele publicado como seu Op. 108. Quando estes arranjos foram publicados em Viena, Beethoven foi muito elogiado por, enfim, captar com eles “o verdadeiro espírito escocês” . Esses elogios, que surgiram em vários jornais e foram amplamente papagaiados pelos críticos, transformaram-se em constrangimento quando se revelou que, a despeito do “música por Beethoven” na capa das edições vienenses, os temas eram todos do folclore escocês, assunto de que tanto Ludwig quanto qualquer dos críticos, agora com cara de tacho, sabiam lhufas na capital imperial. O que Beethoven sabia era que Thomson pagava bem por arranjos de canções escocesas. Numa das primeiras cartas ao editor, ele tascou:
P.S.: Eu também ficarei contente em concretizar sua vontade de harmonizar as pequenas árias escocesas; e sobre isso eu aguardo uma proposta mais firme, uma vez que é bem sabido que Herr Haydn recebeu uma libra por cada canção”
Não se sabe se Thomson pagou mais barato por Beethoven. O fato é que Ludwig não ficou insatisfeito, nem com o trabalho, no qual se esmerou, tampouco com o pagamento, porque sempre aceitava novas encomendas de arranjos.
Entre elas estavam as sete canções do WoO 158b que, apesar de chamadas de “britânicas”, voltam-se mais para a Irlanda que para a Grã-Bretanha: citam a harpa irlandesa, citam o castelo dos O’Neill, e uma vez mais clamam pelo nome de Erin – e quem se perguntar quem é essa moça tantas vezes mencionada nas canções irlandesas, acertará se responder que é a própria Irlanda (Éire), assim chamada romanticamente. Há, para arredondar, canções inglesas e escocesas, nenhuma tão imensamente célebre quanto Auld lang syne da coleção precedente.
A gravação se encerra com uma das duas séries de canções de países sortidos que Beethoven arranjou para Thomson. Predominam, uma vez mais, canções das ilhas britânicas, mas o destaque vai para a diminuta “Non, non, Colette n’est point trompeuse”, e por duas razões. A primeira é que, apesar do francês ser amplamente usado na época como lingua franca, ela a única canção nesse idioma entre as mais de cento e sessenta que Ludwig arranjou, fenômeno provavelmente explicado pela extrema impopularidade de um homem que o falava: Napoleão Bonaparte. A segunda é que sua letra e melodia vieram duma ópera chamada Le Devin du Village (“O Adivinho da Aldeia”), e que foi composta por… Jean-Jacques Rousseau (sim, aquele mesmo Rousseau!)
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Doze canções escocesas, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 156 Arranjadas entre 1815-19 Publicadas entre 1822-41
1 – No. 4: Ye shepherds of this pleasant vale. Andantino quasi allegretto
2 – No. 3: Up! Quit thy bower. Allegretto spiritoso
3 – No. 7: Polly Stewart. Andantino più tosto
4 – No. 10: Glencoe. Andante espressivo
5 – No. 2: Duncan Gray. Allegretto
6 – No. 8: Womankind. Andantino espressivo assai
7 – No. 1: The Banner of Buccleuch. Andantino quasi allegretto
8 – No. 6: Highland Harry. Allegretto spiritoso
9 – No. 12: The Quaker’s Wife. Andantino con moto quasi allegretto
10 – No. 9: Lochnagar. Andante affettuoso
11 – No. 5: Cease your funning. Andantino quasi allegretto
12 – No. 11: Auld lang syne. Allegretto
Dame Felicity Lott, soprano Ruby Philogene, mezzo-soprano John Mark Ainsley, tenor Thomas Allen, barítono Marieke Blankestijn e Elizabeth Layton, violinos Ursula Smith, violoncelo Malcolm Martineau, piano
Sete canções britânicas, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 158b Arranjadas entre 1813-17
13 – No. 1: Adieu, My Lov’d Harp
14 – No. 7: Lament for Owen Roe O’Neill
15 – No. 5: Erin! O Erin!
16 – No. 4:. Red Gleams the Sun on Yon Hill Tap
17 – No. 2: Castle O’Neill
18 – No. 6: O Mary, Ye’s Be Clad in Silk
19 – No. 3: O Was Not I a Weary Wight! (Oh ono chri!)
Sarah Walker, mezzo-soprano Timothy Robinson, tenor Krysia Osostowicz, violino Ursula Smith, violoncelo Malcolm Martineau, piano
Seis canções de diversas nações, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 158c Arranjadas entre 1817-20
20 – No. 3: Mark Yonder Pomp of Costly Fashion
21 – No. 1: When My Hero in Court Appears
22 – No. 4: Bonnie Wee Thing
23 – No. 5: From Thee, Eliza, I Must Go
24 – No. 6. Sem título (instrumental)
25 – No. 2: Non, non, Colette n’est point trompeuse
Catrin Wyn Davies, soprano Ruby Philogene e Sarah Walker, mezzo-sopranos John Mark Ainsley e Toby Spence, tenores Thomas Allen, barítono Elizabeth Layton e Krysia Osostowicz, violinos Ursula Smith, violoncelo Malcolm Martineau, piano
Este longo projeto de postagem das óperas de Richard Wagner (1813-1883) com o colega Ammiratore na verdade já era um projeto antigo meu, FDPBach, que até a chegada do colega, era o único membro do PQPBach que gostava do polêmico compositor alemão. Como alguém que não gosta de se envolver em polêmicas, principalmente nesse complexo período histórico em que vivemos, sempre procurei destacar a questão musical antes da ideológica.
Em algumas postagens tivemos sim alguns comentários em que evitamos discutir, somos um espaço democrático, antes de tudo, mas em certas situações somos obrigados a intervir, momentos em que há o desrespeito às pessoas envolvidas no Blog. Não vou entrar em detalhes, quem acompanha o blog e lê os comentários sabe do que estou falando. Mesmo sendo totalmente gratuito ainda assim somos criticados por alguns que se acham no direito de intervir, ou interferir no nosso lazer. Sim, considero o PQPBach antes de tudo um momento de lazer, de relaxamento. Brinco com meus colegas dizendo que sou um músico frustrado, por isso resolvi escrever sobre música. Não tenho a mesma formação de outros colegas, que, como músicos amadores, ou até mesmo profissionais, possuem um discurso mais teórico, conhecem o linguajar técnico, enfim. Escrevo o que sinto, antes de tudo, afinal ouço música clássica há mais de quarenta anos. Por vezes posso soar um tanto quanto disperso, não, talvez esse não seja o termo correto, digamos que, ao contrário do colega Vassily Gerinkhovich, cujo conhecimento enciclopédico, eu diria, que possui, escreve quase uma tese em seus apaixonados textos, por vezes prefiro o máximo da concisão, mas aí existe o fator contexto, ou seja, como estou naquele momento.
Tenho um tipo de acordo com minha esposa nos sábados ou domingos de manhã: enquanto ela se envolve com trabalhos domésticos, como lavar ou passar roupa, posso sentar em frente do computador e me dedicar ao PQPBach. Produzo mais e melhor nestes horários. Basta ver a quantidade de rascunhos que tenho iniciados, 99% deles serão excluídos mais tarde. Como se fosse uma preparação. Essa seria a minha metodologia.
Mas a metodologia do colega Ammiratore é bem diferente: mesmo tendo uma profissão altamente complexa e exigente, ele consegue encontrar tempo para se dedicar a escrever estes verdadeiros livros em cada postagem sua. Sua dedicação é exemplar, é antes de tudo um pesquisador nato, vai atrás de todas as informações disponíveis sobre o assunto, auxiliado por uma das maiores coleções de discos de ópera que já conheci. O homem deve ter mais de mil cds de óperas, imaginem os senhores, sem falar nos vinis. E mesmo assim, ainda corre atrás de gravações alternativas, procura no Spotify, faz as comparações, conhece profundamente o assunto, e podemos sentir o quanto ama o que faz.
Aliás, convenhamos, todos amamos o que fazemos, senão não perderíamos tempo fazendo o que fazemos. E são horas e mais horas dispensadas, lhes garanto. Nestes tempos de pandemia que vivemos, estamos passando muito tempo dentro de casa.
Creio que todos conhecemos o tema de abertura dessa longa ópera, Os Mestres Cantores de Nuremberg, está em todas as coletâneas com aberturas de óperas de Wagner. Grandiosa, imponente, tem uma temática polêmica, que até hoje, cento e cinquenta anos e dois anos após sua estréia, ainda causa desconforto e polêmicas, com o perdão da redundância.
Então, vamos ao que viemos. Com a palavra, Ammiratore:
De todas as postagens que fizemos das óperas do mestre alemão esta foi, de longe, a mais complicada a dar os “tratos à bola”. É o encerramento do projeto da integral e esperamos que seja com chave de ouro! “Die Meistersinger von Nurnberg” é a única comédia composta pelo mestre , em particular, está cheia de referências ricas aos eventos da vida de Wagner, à sua visão da arte e – talvez mais do que em qualquer uma de suas obras – às suas visões políticas. O tempo de criação da obra coincidiu com um período de grande revolta política e social, no final do qual se mantinha a tão esperada unificação da Alemanha com a fundação do Império Alemão. Embora os primeiros esboços da ópera sejam de 1845, Wagner só iniciou a confecção do libreto em 1861. No ano seguinte deu início à composição da música, é interessante mencionar que a abertura da ópera, o Prelúdio, foi a primeira parte a ser escrita por Wagner, já no início de 1862, tão logo terminou o libreto. Embora a música ainda não estivesse composta, ele já tinha ao menos vários esboços. O que o autor não previu, no entanto, foi que os tempos seguintes seriam alguns dos mais tumultuados de sua vida, o que retardaria a finalização da ópera em muitos anos. Em 1867, ao terminar finalmente a composição, Wagner aos 54 anos de idade, havia acrescentado novos temas que, embora importantíssimos para a trama, não foram incluídos no Prelúdio. O Prelúdio já havia sido estreado em Leipzig, no dia 31 de outubro de 1862, sob a direção do compositor. Neste turbulento período, algo extremamente importante para Wagner, como pessoa, cresce e muda profundamente sua vida: o relacionamento com Cosima von Bülow, 24 anos mais jovem, que é oficialmente selada pelo casamento dois anos após a estreia de Meistersinger. Ela foi a mulher que permaneceu ao seu lado até sua morte – amante, mãe de seus filhos, secretária e proprietária de Wahnfried. Com seu talento teatral único, Wagner cria a partir de seus próprios sentimentos de amor, atitudes políticas e perspectivas de arte, uma obra única em sua vasta obra, a mais alemã e, ao mesmo tempo, a mais autorreferente de suas óperas.
É sabido que Wagner se identificou com os heróis masculinos de suas óperas em alto grau. O fato de ele refletir seu caso amoroso com Cosima no relacionamento entre os personagens Sachs e Eva faz parte da mistura de arte e vida, típica de Wagner. É notável, no entanto, que Wagner não apenas tenha um “avatar” dentro do Meistersinger, mas dois (ou até três !): Walther seria o Wagner do período criativo intermediário marcado pelo jovem rebelde “Sturm und Drang”, do Holandês Voador, Tannhäuser e Lohengrin, enquanto Sachs é o mais maduro Wagner, da Tetralogia do Anel (Das Rheingold, Die Walküre, Siegfried e Götterdämmerung), Tristan, Meistersinger e Parsifal. E nesse jogo mental, David seria o Wagner ainda imaturo das Fadas, Proibição de Amar e de Rienzi. O nível de ação e interpretação artística, biografia e seu próprio desenvolvimento composicional inequivocamente estão relacionados entre si. Eva é uma musa idealizada e uma mulher realmente desejável ao mesmo tempo, “a mulher mais nobre de Parnaso” e “a mulher mais bonita do paraíso”. No Meistersinger, “a arte se torna assunto próprio”, escreve Martin Gregor-Dellin em sua monografia de Wagner. “A esse respeito, o Meistersinger também é uma auto-interpretação de uma arte que ainda luta por reconhecimento, mas de duas maneiras: tanto no sensual, quanto no artístico: auto-justificação e auto-celebração “.
Richard é empresário de teatro com coração e alma desde a mais tenra infância: escreve peças de teatro, cuida dos equipamentos e da produção e as executa. Ele esculpe o teatro de marionetes que seu padrasto Ludwig Geyer o deixou, e em sua autobiografia diz que os bonecos eram feitos das sobras dos tecidos que os alfaiates jogavam fora. Na adolescência, ele também experimenta produções com atores de carne e osso: os amigos da escola são trazidos como colaboradores, e o próprio diretor era Wagner e ele supervisiona a confecção de todos os adereços e atribui grande importância a cada pequeno detalhe.
A alegria e a paixão obsessiva com a qual Wagner se apresenta e apresenta seu trabalho não deixarão o compositor até sua morte. Ele é o melhor vendedor de suas próprias obras, porque ninguém é capaz de apresentar suas obras com tanta ênfase e plasticidade como o próprio. Reza a lenda que a leitura de seus libretos, Wagner se torna para os ouvintes um fascinante ator de teatro. Pode-se imaginar as performances de maneira vívida: uma pequena audiência de no máximo 10 a 15 pessoas, sentada quieta em cadeiras, escutando encantada a palestra de um único homem, que assume todos os papéis de sua própria peça, meio lendo, meio recitando de cor, repetidamente também agindo de forma cenográfica. E todo o espetáculo não dura cerca de uma hora dada a extensão dos textos da obra e a suposição de que também leria as instruções da cena, às vezes detalhadas. A leitura do libreto de Meistersinger em 5 de fevereiro de 1862 no cômodo da editora Schott, em Mainz, certamente levou várias horas. O maestro e amigo de Wagner, Wendelin Weißheimer, que foi diretor de música no Stadttheater em Mainz naquele ano, relata a maneira impressionante e marcante o que foi essa leitura e que nenhum dos presentes certamente se esqueceria durante sua vida. “A capacidade de modular sua voz era tão grande que Wagner logo não precisou mais nomear os personagens envolvidos. Todos sabiam logo: agora é Eva, Stolzing, Sachs ou Pogner conversando, com David e Beckmesser, com sua interpretação parecia absolutamente impossível confundi-los com os outros. Mesmo na confusão animada do Meistersinger, cada um se destacava do outro com tanta clareza que já era possível ouvir um conjunto formal que levou a pequena plateia ao êxtase”. Wagner nunca se cansa de repetir essas “produções” a cada oportunidade. Apenas dez meses após a memorável leitura em Mainz, o encontramos novamente em Viena, na casa do amigo médico e cantor Josef Standhartner, lendo e tocando o libreto recentemente concluído. Desta vez, a plateia também inclui o influente crítico Eduard Hanslick que acabou se reconhecendo na figura de Beckmesser, como alguns relatos da ocasião mostram o marcador que o “sem noção” do Wagner usava estava o escrito “Hanslich” ao invés do nome do personagem (Beckmesser). O fato de as declarações de Hanslick sobre Wagner se tornarem mais hostis logo após essa leitura é uma das muitas lendas colocadas no mundo pelo próprio Wagner. Todas essas leituras serviram principalmente para promover o novo trabalho. Mas parece ter sido tudo, menos um exercício obrigatório para Wagner, era a sua brincadeira e lhe dava ainda mais prazer do que para seu público.
Em Leipzig, em novembro de 1868 (cinco meses após a estréia do Meistersinger em Munique), Wagner impressionou o jovem estudante de filologia Friedrich Nietzsche (era o primeiro encontro entre os dois gênios), neste caso foi uma palestra musical: “Antes e depois da janta, Wagner tocava todas as partes importantes do Meistersinger, imitando todas as vozes e sendo muito exuberante”, Nietzsche relata em uma carta a seu colega Erwin Rohde e acrescenta: “Ele é um homem incrivelmente animado e ardente, que fala muito rapidamente, é muito engraçado e único, o humor da interpretação de Wagner muitas vezes é alimentado por seu desejo de se apresentar, cria uma conexão emocional e performativa entre ele e os protagonistas de suas peças absolutamente hipnotizante”.
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Entre 1423 e 1796 a cidade imperial de Nuremberg foi de importância central no Império Alemão, como repositório das jóias imperiais (a representação dos imperadores e reis do Sacro Império Romano). A cidade, que se tornou a primeira cidade alemã a se tornar protestante em 1525, experimentou seu apogeu devido ao excelente artesanato e à localização favorável para o comércio no século XVI. Artistas como o escultor Veit Stoss, o poeta e dramaturgo (e sapateiro) Hans Sachs ou o pintor Albrecht Dürer são testemunhas da florescente vida artística de Nuremberg. A Guerra dos Trinta Anos selou o declínio econômico da cidade. No final do século XVIII, não restava muito da antiga glória. No entanto, a estrutura medieval da cidade foi preservada e constituía o ponto de partida para uma nova atribuição de significado.
Decisivos aqui são os ensaios teóricos da arte de Wilhelm Heinrich Wackenroder e Ludwig Tieck, publicados em 1796 sob o título Herzentergießungen. Eles como amantes da arte, que lembram a antiga grandeza de Nuremberg em uma espécie de nostalgia romântica: “Nürnberg! Você, cidade mundialmente famosa do passado, com que prazer percorri seus becos tortos, com que amor infantil olhei para as casas e igrejas de seu avô, nas quais está impresso o sólido traço de nossa antiga arte patriótica! Quão profundamente eu amo as formações da época, que falam uma linguagem tão grosseira, poderosa e verdadeira! Como eles me trazem de volta a esse século cinza, já que você, Nuremberg, era a animada escola fervilhante de arte patriótica e um espírito artístico transbordante e bastante frutífero vivia e tecia dentro de suas paredes: – porque o mestre Hans Sachs e Adam Kraft, o escultor e acima de tudo, Albrecht Dürer com seu amigo Willibald Prickheimer e tantos outros homens de honra altamente elogiados ainda estavam vivos! Quantas vezes eu desejei voltar naquele tempo! Para os românticos alemães, Nuremberg representa um tipo de autenticidade nacional perdida durante o período barroco e o Iluminismo, quando as pessoas se tornaram muito orientadas para a França. Nuremberg se torna o epítome de um germanismo extinto. “O período da própria força terminou”, diz a manifestação do coração e de outros lugares: “obras frias, silenciosas e sem caráter são o fruto”. (Wagner era bastante filho de seu tempo com suas teorias de uma decadência geral da cultura.) O desejo de Nuremberg medieval tardio é o desejo de melhor, a verdadeira Alemanha que já foi, mas não é mais. A Nuremberg de outrora se torna um paraíso perdido”.
A “viagem nostálgica” a Nuremberg na Idade Média alemã rendeu frutos de estilo histórico, primeiro na Baviera, mas logo em toda a Alemanha: após o casamento do rei Ludwig I, avô Ludwig II, com Therese von Sachsen-Hildburghausen foi criado os Festivais Nacionais com desfiles festivos em trajes históricos da Idade Média (inspiração para a Oktoberfest de Munique) assim a partir de outubro de 1810 os festivais nacionais e folclóricos eram organizados em todo o país. Wagner coloca estes desfiles históricos do século XIX no início da cena festiva de seu Meistersinger (início do terceiro ato). Para seus contemporâneos, o festival tinha muita importância política. O vestuário histórico das personagens nada mais é do que um meio de símbolo político. A história é usada por e para o presente (e também para o futuro). Nessa alegre ópera, todo presente soa como se já fosse uma memória…… ai no século XX o partido do “vocês-sabem-quem” se apossou das ideias e sentimentos dos mais influentes artistas e filósofos do século XIX para ajudar a compor dogmas deste infeliz partido, desembocando na injustificável e trágica Segunda Guerra Mundial.
“Na minha opinião, usar mal o Die Meistersinger como suporte para um nacionalismo arrogante e complacente é trair a mais grosseira ignorância de sua verdadeira natureza. Seria preciso ser surdo, cego e totalmente imperceptível para entender essa sublime representação da alegria humana, com seu potencial utópico, e ler nele um comício do Partido. Qualquer tentativa de forçar o trabalho a moldar ideologicamente é uma distorção. ” (Wolfgang Wagner em sua autobiografia “Atos”)
Texto baseado no encarte do LP (Jochum), www.bayreuther-festspiele.de, www.wagneropera.net, www.theguardian.com.
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O Enredo
A história de “Die Meistersinger von Nurnberg” está centralizada na volta dos tradicionais torneios de canções realizados na Alemanha pelas guildas medievais. Artesãos, com inclinações artísticas, constituíam guildas nas principais cidades, admitindo como membros apenas aqueles que obtinham êxito segundo os regulamentos de um teste de canção, com regras estritas relativas ao ritmo, tom e tema.
Um dos mais destacados mestres cantores foi Hans Sachs, que viveu em Nuremberg durante a primeira metade do século XVI. Sapateiro por profissão, foi também um poeta de considerável fama. Os nomes dos outros mestres cantores na ópera são igualmente tomados da história.
A magnífica abertura, familiar como número sinfônico, apresenta os temas dominantes da ópera, a dignidade e a autoridade dos mestres cantores, exemplificadas por Hans Sachs, e o amor de Eva e Walther.
Libreto do compositor, baseado em acontecimentos reais da história dos mestres cantores da Alemanha do século XVI Lugar: Nuremberg, Alemanha
Primeira apresentação: Munique, 21 de junho de 1868. No Teatro Nacional de Munique, sob a regência de Hans von Bülow.
Ato 01 Cena 01 Na Igreja de Santa Catarina, em Nuremberg. A esquerda, as últimas filas de bancos. No primeiro plano, o espaço aberto do coro, onde alguns membros da congregação estão cantando o coral final do serviço religioso, o “Coro da Congregação” (“Da zu Dir der Heiland kam”). Entre os fiéis estão Eva e Madalena. De pé, encostado a uma coluna, a pequena distância, está Walther von Stolzing. Olha fixamente para Eva, que lhe dirige um olhar ocasional enquanto canta. Madalena, percebendo, olha para ela em sinal de reprovação.
Quando Eva e a ama estão saindo, após a conclusão do serviço religioso, Walther se aproxima e, falando baixinho, pede a Eva que lhe conceda uma simples palavra. A jovem pede a Madalena que vá procurar seu lenço, que deixara no banco. Enquanto Madalena procura pelo lenço, voltando depois mais duas vezes para outras coisas, Walther pergunta se Eva é comprometida. A ama responde que ela está destinada a ser a noiva do homem que ganhar o torneio dos mestres cantores, que será realizado no dia seguinte. Durante a conversa, entra David e puxa uma cortina, deixando à mostra todo o resto da igreja. Quando Walther, profundamente perturbado pela resposta de Eva, volta-se por um momento, Eva pede a Madalena que a ajude a conquistar seu amor, a quem compara com a figura bíblica de David do retrato de Albrecht Dúrer.
Madalena repete o famoso nome bíblico, demonstrando emoção, enquanto que David, o aprendiz, aparece e pergunta quem está chamando por ele. Carrega uma régua e um pedaço de giz amarrado a um barbante. Lembrando-se de um amor de juventude por Madalena, olha para a jovem ardentemente quando responde às perguntas dela sobre os preparativos que está fazendo. Conta que está preparando acomodações para os mestres, que farão um julgamento preliminar para um certo número de aprendizes que estão tentando ser membros da guilda. Madalena aconselha Walther a fazer o melhor possível naquela oportunidade, apresentando-se aos mestres como um possível candidato para a competição final, onde ele talvez poderá ganhar a amada Eva como sua noiva. Madalena pede a David que cuide bem do cavalheiro, ensinando-lhe como bem proceder na prova. Os namorados conseguem marcar um encontro para a noite antes que a ama leve Eva para fora.
Cena 02
Entram alguns aprendizes, e David manda-os trabalhar. Eles arrumam os bancos, colocam uma cadeira especial para o examinando, e começam a construir uma plataforma. Nesse ínterim, David explica a Walther os detalhes do torneio de canção, e o cavalheiro, mergulhado em seus pensamentos, senta-se na cadeira do desafiante. Ouve atentamente David, que está sendo ensinado tanto na versificação quanto no canto por Hans Sachs. Para ser um mestre, diz David, alguém deve ser não apenas um cantor, mas também um bom poeta. Walther decide entrar no torneio. David volta agora sua atenção para os aprendizes, achando que eles fizeram uma plataforma muito grande, e manda que a refaçam com menores dimensões. Sobre ela colocam a cadeira, uma pequena mesa, um quadro-negro, e depois envolvem toda a plataforma com uma cortina preta. Quando terminam o trabalho, dão-se as mãos e dançam em volta, cantando um coro, onde desejam boa sorte a Walther na sua competição.
Cena 03
Tomam seus lugares em um banco ao fundo quando entram os mestres cantores. Walther senta-se em um banco na frente. O primeiro a aparecer é Pogner, acompanhado por Beckmesser, que lhe pede que fale por ele a Eva, em defesa de sua causa. Walther os interrompe para saudar Pogner, e Beckmesser olha para ele com suspeitas, ruminando sobre as perspectivas de um rival em tão crucial momento. Pogner apresenta Walther aos outros, e deixa-o cantar no julgamento preliminar.
É feita a chamada dos mestres cantores, após o que todos eles se sentam. Mas, antes que se dediquem à ordem do dia, Pogner se dirige a eles em um longo monólogo conhecido como “Discurso de Pogner” (“Das schõne Fest”). Diz que viajou por toda a Alemanha, e que ficou particularmente pesaroso pelo fato de que, aparentemente, os burgueses são tidos em pouca estima pelo público. Diz que a impressão é que eles estão somente interessados em coisas materiais e em dinheiro, não se preocupando com cultura e arte. Para provar ao povo que os burgueses não são meros materialistas, acrescenta Pogner, vai dar uma especial contribuição ao torneio anual de canção, oferecendo a mão de sua filha Eva ao homem que ganhar a competição.
A maioria dos burgueses dá sua aprovação, mas Hans Sachs protesta que, para que haja justiça, deve ser dada à noiva alguma escolha no que se refere a marido. Acrescenta que o povo também deve ser chamado a dar sua opinião, particularmente quanto às qualificações do cantor. Quando alguns dos mestres expressam suas dúvidas a respeito do julgamento do público em matéria de arte, Pogner sugere que, como um compromisso, seja permitido a Eva rejeitar o vencedor, mas não poderá se casar com outro, pois o disputante deverá ser um mestre cantor ou ninguém mais. Após muita discussão, a proposta de Pogner é aceita.
Em seguida, Pogner apresenta formalmente Walther como candidato. Os mestres perguntam-lhe onde aprendeu a arte do canto, e ele responde em uma melodiosa ária “Am stillen Herd”. Diz que estudou a arte no livro do antigo menestrel Walther von der Vogelweide, e na natureza. “Quando o prado libertou-se do gelo, e o tempo de verão retomou, aquilo que, antes, nas longas noites de inverno, o velho livro me ensinara, agora ressoava claramente, no esplendor da floresta, e eu podia ouvir os cantos amplamente, nas florestas de Vogelweid, também aprendi a cantar.”
Sachs expressa sua aprovação, mas os outros têm dúvidas acerca daquele inusitado tipo de treinamento. Perguntam ao cavalheiro que tema escolherá para sua canção, e ele anuncia que o amor será o seu tema. Senta-se na cadeira do cantor. Beckmesser toma o lugar de Marcador, parando para advertir Walther que somente lhe são permitidos sete erros.
A ardente canção de amor de Walther (“Fanget an! So rief der Lenz in den Wald”), sendo uma espontânea expressão de suas emoções, quebra praticamente todas as regras tradicionais, e violentas indicações de desaprovação são ouvidas da plataforma do Marcador. A despeito do furioso riscar do giz na pedra, Walther prossegue inalterável, até que Beckmesser puxa a cortina sobre a pedra, que está coberta de marcas de giz. “Começai! Assim ditou a primavera à floresta o que isso ecoou sonoro: e, enquanto o som flutuava em ondas, cada vez mais distantes, de longe vinha um rumor que se aproximava, expandia-se e ressoava entre a floresta, com o abrigo de doces vozes. como o som crescia! Como o ribombar dos sinos, o tropel da alegria ressoava! a floresta respondia logo ao chamado que lhe trouxe nova vida, e entoava a doce canção da primavera! Num espinheiro, consumido de ciúme e dor, o inverno teve de se recolher. Com folhas secas farfalhando ao seu redor, aguardou e planejou como poderia destruir aquela alegre cantoria. Mas: começai! – Assim ecoou em meu peito, antes que ele conhecesse o amor. Senti que ele crescia dentro de mim, como se me acordasse de um sonho. Meu coração enchia meu peito com seu agitado palpitar. Meu sangue pulsava, submetido a este novo sentimento. Numa cálida noite, com uma força superior, uma hoste de suspiros arremessava ao mar, num intolerável movimento de felicidade, Os Mestres Cantores de Nuremberg o peito como de imediato respondeu prontamente ao chamado que lhe trouxe uma nova vida; dê o tom maravilhosa canção de amor!”
Sarcasticamente, Beckmesser enumera as falhas na canção, e vários mestres acrescentam suas críticas. Kothner aponta uma indesculpável infração das regras: Walther levantou-se da cadeira enquanto estava cantando. Hans Sachs protesta contra o arbitrário julgamento dos mestres, mas é derrotado por Beckmesser, que reúne seus colegas à sua volta, apontando os erros do cantor. Com exceção de Sachs e Pogner, são unânimes na sua desaprovação. Walther, impaciente e irado por sua reprovação, expressa seu desprezo pelas regras hediondas, proclamando que, não obstante tudo, cantará de acordo com os ditames de seu coração. Dito isto, sai raivoso da igreja. Sachs, que ouviu atentamente a canção de Walther, dá sua aprovação ao talento e coragem do cavalheiro. Beckmesser pede uma decisão oficial, e os mestres afirmam que o candidato está rejeitado. Asperamente discutindo o assunto, saem, enquanto os aprendizes sobem à plataforma e tiram os bancos. As vozes dos homens e dos rapazes se unem em um vivo coro (“Glúck auf zum Meistersingen”).
Todos se separam, em uma grande agitação; alegre tumulto dos aprendizes, que se apossaram da cabine do Marcador e dos bancos dos Mestres de um impulso; produz-se uma confusão só no meio dos Mestres até a saída. – Sachs, que demorou sozinho sobre o centro da cena, olha com um ar meditativo a cadeira do cantor vazia e a tabuleta; as cortinas se fecham, e os aprendizes apoderam-se igualmente da cadeira do cantor, onde está Sachs, olhando para ela, que, por sua vez, se afasta, fazendo um gesto cômico de desânimo e de mau humor.
Ato 02 Cena 01
Uma rua em Nuremberg, cortada no centro por um beco que vai até o fundo, com casas de ambos os lados. A cena apresenta, em primeiro plano, uma rua ocupada nos lados de sua extensão, e janelas de sacada dão para uma ruela que vai e vem para o fundo da cena e parece fazer um ângulo; duas casas de canto fazem frente aos espectadores; uma tem o aspecto bastante rico, à direita – é a casa de Pogner; a outra, mais simples, está à esquerda – é a casa de Hans Sachs. Perto da casa de Pogner, uma grande tília; perto se encontra um sabugueiro em flor. Serena tarde de verão; durante o curso das primeiras cenas, a noite cai progressivamente. David se ocupa de fechar o exterior das abas das janelas que dão para a rua. Os outros aprendizes fecham da mesma maneira as janelas das outras casas, cantando enquanto trabalham. David se encarrega das janelas da loja de Sachs.
Madalena sai da casa de Pogner, chama David, e lhe pergunta sobre o julgamento da canção. Ele lhe diz que Walther foi rejeitado. A ama volta depressa para casa, enquanto os aprendizes dançam à volta de David, zombando dele. Está a ponto de irritar-se quando surge Sachs e os dispersa. A rua volta a ficar quieta quando os aprendizes vão para suas casas.
Cena 02
Pogner e Eva, de braços dados, vêm se aproximando pelo beco, conversando sobre o torneio de canção. Sentam-se em um banco de madeira sob uma árvore em frente à casa deles, e logo depois Madalena chama-os para o jantar. Enquanto Pogner está entrando, a ama consegue sussurrar novas sobre Walther. Muito contrariada, Eva decide pedir conselho a Hans Sachs.
Cena 03
O sapateiro está sentado na sua banca de trabalho, e David está perto da porta. Fecha metade da porta, manda David dormir, e se prepara para trabalhar. Num longo solilóquio (“Wie duftet doch der Flieder”) relembra a canção de Walther. Sachs dispõe os seus materiais de trabalho à mão, senta-se em frente à mesa sobre o banco, abandona, porém, o trabalho, e com a mão no queixo e o cotovelo disposto sobre a mesa, o corpo encostado na porta, que está fechada. “Como é suave e marcante o perfume do sabugueiro!- E é tão relaxante e quer que eu diga algo. O que importa o que eu lhe diga? Sou apenas um pobre e humilde homem. Se o trabalho não ficar a gosto, você poderá, amigo, libertar-me. Melhor seria esticar o couro, e abandonar toda poesia! (Ele toma impetuosa e ruidosamente o material de trabalho. Abandona de novo, lembra-se novamente de algo, e canta) Ainda assim, não poderia. Sinto e não posso entender. Não posso prosseguir e tampouco esquecer. Se eu a retenho, não posso medi-la! Mas, então, como reter aquilo que me parece incomensurável? As regras não se adequavam e, no entanto, não havia nenhum erro! Soava tão antigo e, no entanto, tão novo, como o cantar dos pássaros em doce Maio! Quem quer que ouvisse e fosse seduzido, imitasse o pássaro, sofreria a zombaria e a desgraça:- Sob o comando da primavera, a doce necessidade colocou em seu peito, e ele cantou como devia, como devia e como podia. Observei bem isso. O pássaro que cantou hoje, tinha um bico bem formado. Se ele incomodou os Mestres, certamente agradou a Sachs.” Ele retoma com serenidade o seu trabalho.
Cena 04
Eva interrompe suas reflexões, seguindo-se um interessante diálogo musical (“Gut’n Abend, Meister”). Sachs revela sua grande afeição por Eva, que dá a entender que ela ficaria muito contente se o próprio sapateiro vencesse o torneio e a tomasse como sua noiva. Desdenhosamente, rejeita Beckmesser como um pretendente. Sachs, comovido por sua devoção, diz-lhe gentilmente que ele é muito velho para ela. Quando a conversa se dirige para Walther, o sapateiro, deliberadamente, fala de modo depreciativo a respeito dele. Aborrecida por causa das palavras de Sachs, Eva, afinal, se deixa trair, revelando seus verdadeiros sentimentos. Quando ela sai para atender ao chamado de Madalena, Sachs fica satisfeito ao verificar que suas conjecturas sobre o romance eram corretas. “Como eu pensava. Agora preciso encontrar uma saída!” Ele fica deveras preocupado com isso, enquanto, em seguida, também se põe a fechar a porta na parte de cima, de modo que ela somente ainda deixe passar um pouco de luz: ele mesmo desaparece assim quase totalmente e fica na espreita ouvindo o diálogo entre Eva e Madalena. Madalena diz a Eva que Beckmesser planeja uma serenata para ela naquela noite com a canção que escreveu para o torneio.
Cena 05
Em seguida, aparece Walther, e Eva se dirige para ele, saudando-o calorosamente. Desalentado, Walther lhe diz que a decisão dos mestres cantores pôs um fim a todas as suas esperanças. Irritado e impaciente, ataca a cegueira e a obstinação daqueles mestres, e depois implora a Eva que fuja com ele. De repente, soa a trompa do guarda-noturno, e Eva pede ao namorado que se esconda até que ele passe. Ela corre para casa. No seu curioso e medieval canto, o guarda-noturno anuncia que são dez horas, balançando sua lanterna enquanto segue seu caminho. Sachs, tendo ouvido atrás da porta a conversa entre os amados, entreabre cautelosamente a porta, dizendo que os dois devem estar prevenidos para não dar um passo errado.
Eva, vestida com as roupas de Madalena, sai de casa e corre para os braços de Walther. Quando se dirigem para o beco, Sachs abre toda a porta, dirigindo um forte jato de luz de sua lanterna. Rapidamente, eles procuram se esconder nas sombras. Eva adverte-o que eles não podem ser vistos pelo sapateiro. Desalentado, Walther ouve Eva lhe dizer que o sapateiro é Sachs, e que, longe de ser amigo dele, está ao lado dos mestres contra o recém-chegado. Walther está pronto a correr à loja e pedir explicações, quando Beckmesser aparece vindo pelo beco.
Cena 06
Parando na frente da casa de Pogner, começa a afinar seu alaúde, e depois olha para a janela de Eva, onde Madalena, usando as roupas de Eva, está sentada. Nesse ínterim, Sachs coloca seu banco de trabalho no limiar da porta, e faz os preparativos para começar a trabalhar. Beckmesser está a ponto de iniciar sua serenata quando Sachs começa a martelar, cantando um barulhento refrão, “Jerum! Jerum! Halla-hallo-he!”. Beckmesser, tentando se controlar, pede a Sachs para ficar calado, mas o sapateiro responde que tem de terminar seu trabalho. Desesperado, Beckmesser sugere que Sachs atue como marcador de sua canção e bata um prego quando ele ouvir um erro. Nem bem começou sua balada (“Den Tag seh’ich erscheinen”) quando começam as batidas, e quanto mais ele canta, mais depressa Sachs bate. Afinal, Sachs consegue terminar o sapato, e ergue-o em triunfo. Canta em louvor do “sapato do marcador” (“Mit den Schuhen ward ich fertig schier”), chamando-o assim porque foi feito enquanto as batidas de seu martelo marcavam os erros de um suposto mestre. Um sapato, como uma canção, observa ele, deve ser muito bem feito. Enquanto isso, Beckmesser prossegue com sua serenata, quase não conseguindo mais se controlar.
Logo depois cabeças surgem nas janelas, e em um coro irritado os vizinhos pedem silêncio. David abre sua janela, e vendo Beckmesser fazendo uma serenata à sua amada (Madalena), pula para fora com um pedaço de pau e começa a bater no seu rival. Eles abandonam as janelas de suas casas e, um a um, vêm, com seus trajes de dormir, para o meio da rua. Sachs, que por um tempo tinha observado o crescente tumulto na rua, apaga a lamparina e empurra sua porta e a deixa um pouco entreaberta, de maneira a poder sempre observar, a partir de seu lugar, os que estão sob a tília. Isto provoca uma tremenda confusão, na qual toda vizinhança — burgueses, artesãos, aprendizes, mulheres e crianças — eventualmente toma parte. Walther e Eva acompanham a progressão do tumulto com uma crescente inquietação. Walther cinge Eva com seu sobretudo e a encosta toda contra si, e escondem-se embaixo do pé de tília, puxando o arbusto até que ambos se tomem invisíveis. No auge do quiproquó, Walther e Eva saem de seu esconderijo. Sacando a espada, o cavalheiro tenta abrir caminho entre a multidão. Sachs sai de sua loja, detém Walther, e empurra Eva para a casa dela. Pogner recebe Eva e puxa-a para dentro de casa. Sachs, parado, dá um pontapé na porta da oficina, e indo para fora, brande sua correia de sapateiro e assenta, com força, um golpe sobre David, que está diante dele; e nesse tempo, arrasta Walther, a quem segura imobilizado, para dentro de casa, fechando e trancando a porta atrás deles.- Beckmesser, posto em liberdade por David, em razão da atenção de David em Sachs, procura apressado a fuga através da multidão.
A trompa do guarda-noturno soa acima do tumulto, e a multidão some como por encanto. Pouco depois, ele surge para dizer que são onze horas (“Hórt ihr Leut’, und lasst euch sagen”) na rua que ficou novamente deserta e silenciosa. “Ouvi, gente, o que direi: Já bateram onze horas. Cuidado com fantasmas e espíritos, Que eles não lhes roubem a alma. Que Deus os proteja”! Toca a trompa. – O clarão da lua cheia aparece, e ela brilha, muito viva, sobre a rua; o vigia noturno retira-se a passos lentos e dobra a esquina. Os temas da confusão e da serenata de Beckmesser surgem rapidamente na orquestra quando cai o pano.
Ato 03 Cena 01
O interior da oficina de Hans Sachs. O prelúdio, também uma peça favorita de concerto, é dominado pelos temas associados a Hans Sachs. É manhã, e o sol inunda o cómodo. Na oficina de Sachs. Ao fundo, está meio entreaberta a porta que dá para a rua. À direita, uma porta que dá para o quarto. À esquerda, uma janela com flores; do lado, uma mesa se trabalho. Sachs está sentado em uma cadeira de braços perto da janela, através da qual o brilho do sol nascente, cai sobre ele. Ele tem diante de si, sobre as pernas, um grosso livro e está absorvido em lê-lo. – David vem vindo da rua, entra pela porta e depara-se com Sachs e dá uns passos para trás. Ele fica seguro de que Sachs nem deu conta de sua presença, adentra mais, deposita uma cesta de mão, que carrega, sobre a mesa de trabalho perto da janela e observa o seu conteúdo; retira flores e fitas coloridas de dentro dela; finalmente, encontra uma salsicha e uma torta. Prepara-se para comer um pedaço de uma delas quando Sachs, que continua parado e calmo, sem olhar para ele, com forte ruído, vira as páginas do livro.
Alertado pelo barulho da página sendo virada, ele recoloca escondido a comida, e respeitosamente toma seu lugar junto de Sachs. Diz-lhe que entregou os sapatos de Beckmesser, e tenta se desculpar pelo seu comportamento da noite anterior (“Ach, Meister, wolPt ihr mir verzeih’n!”). Explica que tudo aconteceu por causa de Madalena, porque ela sempre foi gentil para com ele. De repente, Sachs fecha o livro com força, e David cai de joelhos com medo. Mas os pensamentos do sapateiro estão em outro lugar. Parece ter se esquecido de David, mas depois pede-lhe para repetir seus versos para aquele dia. O rapaz atende com uma ingénua canção sobre São João, sendo que no dia do santo é realizado o festival (“A m Jordan Sankt Johannes stand”). A mente ainda está confusa com Beckmesser, David canta as primeiras frases da desastrosa serenata. Quando Sachs olha espantado, ele corrige a confusão. Sachs ainda o ouve um pouco, e depois manda-o tratar de suas obrigações.
Ficando só, Sachs canta a magnífica ária (“Wahn! Wahn! Uberall Wahn!”), na qual discorre sobre a raiva e a discórdia que campeiam pelo mundo, até mesmo ali, na pacífica Nuremberg. Afirma que, ao menor pretexto, seus bons vizinhos brigam uns com os outros tomados de raiva cega, como se estivessem sob alguma influência malévola. Conclui dizendo que a loucura dos bons burgueses poderia ser utilizada para algum propósito útil. “Loucura! Loucura! Todos estão loucos! Onde quer que eu procure, nas crônicas da cidade ou do mundo, tento e não consigo descobrir por que as pessoas se atormentam e lutam entre si, até tirar sangue, tola e inutilmente! Ninguém recebe prêmios ou agradecimentos por isso! Batem em retirada e julgam-se caçados! Não ouvem seus próprios gritos de dor, quando se chafurdam em suas próprias carnes. Acham que estão tendo prazer! Quem dará um nome para isso? É a velha loucura, sem a qual nada pode acontecer! É somente para ganharem novas forças no sono: de repente ela desperta, então quem poderá detê-la? Quanta paz há nos costumes leais. Contente com suas proezas e trabalho, está, no centro da Alemanha, minha querida Nuremberg! (Ele olha a vista da cidade, pleno de uma profunda e calma alegria). Mas, numa noite passada, para prevenir um contratempo, causado pelo ardor juvenil, um homem não sabia o que fazer. Um sapateiro, na sua oficina, puxou o fio da loucura: logo, as alamedas, vielas e ruas foram tomadas pela fúria! Homem, mulher, operário e criança, se atracaram como loucos e cegos. Se a loucura estiver predominando, é necessário, agora, que uma chuva caia, para, com cortes, golpes e surras, aplacar o fogo da ira. Deus, como isso aconteceu? Um duende deve ter ajudado: nem um pirilampo podia encontrar sua parceira. Ele começou a confusão! Estava no sabugueiro: véspera da Noite de São João! Mas, agora, é dia de São João! Agora vejam como Hans Sachs trata de conduzir a loucura para um resultado mais nobre: pois se a loucura não nos deixar em paz, até mesmo em Nuremberg, deixêmo-la livre, a serviço de tarefas que são raras, em atividades comuns, mas que, sem essa loucura, nunca poderão se realizar. ”
Cena 02
Após o término, entra Walther vindo de outro cómodo. Sachs cumprimenta-o afetuosamente, seguindo-se um melodioso dueto (“Grúss Gott, mein Junker”). Walther diz a Sachs que teve um sonho tão maravilhoso, mas mal se atreve a pensar nele com medo de que sua magia se desvaneça. Sachs pede-lhe que o faça, dizendo que as melhores inspirações do homem nascem de sonhos. Nas frases da “Canção do Prémio”, cantada na sua totalidade mais tarde na competição, Walther descreve seu sonho, enquanto Sachs, ouvindo com crescente interesse, escreve enquanto ele canta. Walther interrompe ocasionalmente a canção para discuti-la com Sachs. O sapateiro, percebendo que esta é a canção destinada a ganhar o prêmio, faz certas sugestões quanto à rima e à forma musical, de maneira a ter a aprovação dos mestres. Pede uma segunda estância, e Walther atende com um belo refrão, no qual descreve como a visão de sua amada veio até ele no fim do dia (“Abendlich glúhend”). Foi, então, que ele ouviu a canção mágica que agora o inspira. Sachs aconselha Walther a tentar o prêmio, e em seguida ambos saem para se prepararem para o festival.
Cena 03
Beckmesser é visto da rua, espiando a porta da oficina; constatando que a sapataria está deserta, ele abre a porta e avança. Encontra-se ricamente vestido, mas demonstra estar, entretanto, em lastimável estado. Ele boceja, se coça e se estica, depois bruscamente se sobressalta, procurando um banquinho, onde com dificuldade se senta; mas, instantaneamente, ele se levanta de um pulo, e se fricciona novamente nos braços. Ele parece um sonâmbulo, desesperado, indo para aqui e ali, até chegar ao atelier. Em seguida se detém e meticulosamente eleva os olhos para a janela, mas termina por bater a testa na sacada da casa; faz um gesto de raiva, mas termina por bater de novo a testa. Finalmente, seu olhar cai sobre o texto que Sachs havia escrito, ditado por Walther, e que foi abandonado sobre a escrivaninha; ele o toma com curiosidade; ao lê-lo, o faz com uma crescente agitação: agora, as intenções veladas de Sachs estão claras, murmura enquanto examina o papel, pois aquilo prova que ele está planejando entrar no torneio. Ouvindo a porta abrir-se atrás dele, Beckmesser esconde o papel no bolso no mesmo momento em que entra Sachs.
O sapateiro saúda sarcasticamente, mas Beckmesser asperamente o acusa de tentar eliminá-lo da competição por envolvê-lo deliberadamente em uma rixa de rua (“O Schuster, voll von Ránken”). Acusa Sachs de uma trama para afastar todos os rivais para que ele possa ganhar a mão de Eva. Tirando o papel do bolso, balança-o diante do nariz de Sachs, gritando que ali está a prova da trapaça do sapateiro. Sua raiva se transforma em surpresa quando Sachs oferece-lhe a canção de presente. Quando ele, afinal, se convence de que Sachs não está armando alguma contra ele, sai da loja em triunfo, gritando para Sachs que ele o recompensará algum dia por causa de seu gesto nobre. Quando Sachs olha para ele, balançando tristemente a cabeça, entra Eva ricamente adornada, usando um vestido branco todo cintilante.
Cena 04
A conversa deles leva a um belo dueto (“Sieh, Evchen!”). Em encantadora confusão, ela lhe diz que um de seus sapatos novos está muito apertado. Sabendo muito bem o motivo por que ela veio, Sachs ajoelha-se para examinar o sapato, e assim se encontra quando Walther abre a porta, e fica parado ali. Está usando o esplêndido traje de um cavalheiro, e Eva fica deslumbrada de surpresa. Sachs leva o sapato para sua banca, volta as costas para o público, e começa a trabalhar.
Walther, olhando para Eva em êxtase, canta o refrão da sua canção do sonho, que Eva ouve como encantada. “Por que as estrelas demoraram em suas adoráveis danças? Tão luminosa e clara com suas tranças, acima de todas as mulheres, gloriosa de se ver, exibe-se, em delicada cintilação, uma guirlanda de estrelas”! Sachs, voltando com o sapato, diz a Eva para guardar bem a canção, pois ela é uma obra-prima. Vencida pela emoção, Eva irrompe em lágrimas, e cai nos braços de Sachs. Profundamente comovido, ele gentilmente se livra do abraço, entregando-a a Walther.
Num brilhante refrão, que tem em si alguns ecos de “Tristão e Isolda” (“O Sachs, mein Freund!”), Eva confessa seu amor por Sachs, dizendo que o destino decretou de maneira diferente para que ela não fosse sua noiva. “Oh, Sachs, meu amigo, bom homem! Como posso recompensá-lo por tudo nobre homem! O que seria de mim sem seu amor, sem ti! Tivera eu sempre permanecido uma criança, não terias me despertado! Através de ti, elevei o meu espírito! Amadureci! Despertada por ti, só através de ti, pensei livremente, nobremente e integralmente! Fizeste-me florescer! Sim, querido Mestre, insulta-me se quiseres, mas eu estava laborando no caminho certo, pois se eu pudesse escolher, eu te escolheria, a ninguém mais; se fosses meu marido, eu daria o prêmio a ti e a mais ninguém. Mas, agora, fui tomada por um tormento desconhecido. Se eu me casar hoje é porque não tive outra escolha: foi necessidade, compulsão! Tu mesmo, meu Mestre, ficarias consternado”. Com um certo arrependimento, Sachs responde que as circunstâncias lembram-lhe a triste história de Tristão, e que preferiria não representar o papel de Rei Marke. Um tema de “Tristão” soa suavemente através da orquestra para marcar suas palavras. “Minha criança, de Tristão e Isolda, conheço esta triste história: Hans Sachs foi esperto e não quis nada da herança do senhor Marke. – Foi na hora certa que descobri o homem certo; senão, no fim, teria ido de encontro a tudo isto”.
A entrada de Madalena e David modificam a atmosfera da cena. Saudando-os, Sachs proclama, em um vibrante refrão (“Aha! da streicht schon die Lene”), que nasceu uma nova canção e precisa ser batizada. Ele e Eva são seus padrinhos, enquanto Madalena e David são as testemunhas. Para tornar o rapaz aceito como testemunha, Sachs promove-o a artesão imediatamente, ordenando-lhe que se ajoelhe e dando-lhe um tapa no ouvido, o símbolo tradicional da sagração de seu novo posto.
Eva canta um alegre refrão (“Selig, wie die Sonne”), introduzindo o magnífico quinteto que encerra a cena. Eva diz que a canção mágica de Walther acabou com todo o seu aborrecimento, enquanto Walther exclama que foi o amor dela que a inspirou. Embora se rejubilando com Eva, Sachs confessa um pouco de remorso porque o amor dela agora pertence a outro. Madalena e David expressam sua felicidade pelo fato de que agora podem se casar, pois David é um homem livre. Na conclusão, Sachs convida todos para o festival. A cortina desce, mas a música continua num brilhante e festivo tema misturado com a fanfarra de trompetes. No seu clímax, a cortina se abre para mostrar a cena colorida do festival de canção.
Cena 05
Depois de um prelúdio, a cena é mudada imediatamente. Ela representa agora o prado, num plano horizontal, vendo-se ao fundo, longe, a cidade de Nuremberg. O rio Pegnitz serpenteia, arrastando-se do outro lado do prado. Botes decorados com motivos alegres, com bandeiras multicores, descarregam, constantemente, novos passageiros na pradaria, onde terá lugar a festa. São burgueses de diferentes grêmios, ricamente vestidos e acompanhados de suas esposas e filhos. Um grande estrado, lotado de bancos, se eleva à direita; ele está decorado com as bandeiras das corporações que já chegaram; as corporações ou grêmios que vão chegando, em comitiva, colocam, igualmente, suas bandeiras sobre esse estrado dos cantores, que permanecerá assim delas rodeado, em três dos seus lados. Nos limites da cena encontram-se instaladas tendas, onde se distribuem bebidas e guloseimas de toda sorte. Nos locais das tendas reina uma alegre animação. Os burgueses com suas mulheres e filhos assentam-se e se instalam à sua maneira sobre o terreno. Os aprendizes dos Mestres Cantores, em trajes de festa, elegantemente enfeitados de fitas e flores, munidos de longos bastões também enfeitados, têm, de modo divertido, o encargo de arautos e de mestres-de-cerimônia. Eles recebem à borda da água os que chegam, organizam as comitivas e as conduzem até o estrado do concurso de canto; depois que o portador do estandarte do grêmio tiver colocado sua bandeira no local reservado no estrado, os burgueses da corporação e seus acompanhantes se dispersam, a seu gosto, pelas tendas. Os sapateiros vêm de ser recebidos nas margens do rio e são conduzidos para a frente da cena.
As várias guildas desfilam, desfraldando seus estandartes identificadores, e cantando vibrantes coros. Depois, entram os mestres em uma solene procissão, e tomam seus lugares na plataforma. Depois que todos tomam seus lugares, os aprendizes pedem silêncio, surgindo Hans Sachs. E saudado com um majestoso hino de aclamação (“Wach’auf, es nahet gen den Tag”). Sachs, que permaneceu imóvel, a atenção perdida para longe, para mais longe da multidão, dirige enfim os olhos sobre ela, com uma expressão de íntima confiança e, emocionado, começa a falar, com a voz embargada, após recompor-se ao cabo de alguns instantes. “Vós tornais as coisas leves, mas para mim é difícil; Vós prestai a este pobre homem muitas homenagens. Se devo me submeter a essa honra, então que seja a de me sentir querido por vós. Grande honra já me foi concedida, quando hoje fui nomeado o porta-voz. E sobre o que o meu discurso versará? Acreditai-me, estará repleto de altas honrarias. Como vós já honrais a Arte tão profundamente, é necessário provar que os que partilham dela, para elevá-la ainda mais, estão acima de todos os prêmios. Um Mestre, rico e de mente elevada, irá entregar, hoje, sua filhinha, seu maior tesouro, entre todos seus bens e posses, para o cantor que, no concurso de canções, vencer, diante de todos. Como a coroa do mais alto prêmio, esta será a recompensa. Então, ouvi, e concordai comigo: o concurso está aberto ao poeta. Vós, Mestres, que quiserem tentar, a cada um eu o proclamarei diante do povo: pensai no raro prêmio do concurso, e quem quer que seja o vencedor, que seja puro e nobre, tanto ao fazer a corte, como ao cantar. Aquele que ganhar os louros, os quais nunca, tanto no passado, como no presente, em tão alto nível foram colocados, agora com esta adorável e pura donzela, nunca se arrependerá deste dia em Nuremberg. Com os mais altos e dignos valores, honrará a arte de seus Mestres”!
Grande movimento na multidão e Sachs vai até Pogner, que lhe estende a mão com emoção e dá uma palavra amigável a Pogner, e depois abre o torneio formalmente. Em primeiro lugar, chama Beckmesser que está desesperadamente tentando decorar a canção de Walther, fazendo um derradeiro esforço de última hora para memorizar as palavras. O aprendiz o conduz ao lugar do cantor, um monte de terra. Nervoso, tropeça, reclama que o monte está escorregadio, e ordena aos rapazes que firmem mais a terra. Rindo entre eles, os moços firmam-no mais.
Com uma exagerada reverência a Eva, Beckmesser inicia sua canção. Tenta reproduzir as palavras do poema de Walther com a melodia de sua serenata, com ridículos resultados. Distraído pelas zombarias da multidão, esquece as palavras e canta tomado de pânico. Quando conclui num desesperado e final esforço, o povo rompe numa torrente de riso sarcástico. Dirigindo-se à plataforma, atira o papel no rosto de Sachs, gritando que o sapateiro o traiu tendo lhe entregado sua miserável canção. Sai furioso, desaparecendo na multidão.
Calmamente, Sachs anuncia que ele meramente escreveu as palavras da canção, que é a inspiração de um distinto visitante, que poderá cantá-la da maneira correta. A seu chamado, Walther se apresenta, e canta a grande “Preislied” (“Canção do Prémio”), o ponto alto da ópera (“Morgenlich leuchtend im rosigen Schein”). É uma poética descrição do milagre que inspirou sua canção. Canta o deslumbramento de um jardim mágico, onde, sob uma árvore encantada, viu a mais bela das mulheres. Acrescenta que, junto a ela, soube que aquela encantadora jovem e sua Musa eram a mesma pessoa. Sua Musa, canta exultante, é Eva, e a música que ela inspirou transportou ambos às alturas do Parnaso e do Paraíso. Os mestres e o povo, em um acompanhamento coral às frases finais da canção, comentam, com surpresa e deslumbramento, a beleza da canção. “Brilhando na rosada luz da manhã, o ar carregado de flores e essências, repletas de alegrias inimagináveis, um jardim me convidou..e, sob uma maravilhosa árvore, (Kothner, absorvido, deixa cair o manuscrito, que ele havia começado a reler com os outros Mestres), recheada de frutos, para se contemplar, no abençoado sonho de amor, ousadamente prometendo realização.. dos mais elevados desejos de alegria a mais linda donzela: Eva no Paraíso!………Ao por-do-sol, a noite me envolveu. No caminho de um abismo, aproximei-me de uma fonte de água pura, que sorriu sedutora para mim. Lá embaixo de um loureiro, com estrelas cintilando, através de suas folhas, como no despertar de um sonho de poeta, avistei um sagrado e lindo semblante. Borrifando-me com o precioso líquido vi a mulher mais esplendorosa: a Musa do Parnaso!………Em que dia mais gracioso, vim despertar de um sonho de poeta! O Paraíso com o qual tinha sonhado, numa aurora de esplendor, estende-se diante de mim. E a primavera, sorrindo, mostrou-me o caminho. Ela, nascida ali, a eleita do meu coração, quadro mais adorado da terra, destinada a ser a minha musa, tão sagrada e serena, estava pronta para ser cortejada por mim, no brilhante dia de sol. Ao vencer com a canção: Ganhei o Parnaso e o Paraíso” !
Walther recebe o prémio por aclamação unânime. Eva coloca a coroa do vencedor na sua cabeça, e ambos se ajoelham diante de Pogner para receber sua bênção. Entretanto, quando Pogner apresenta ao cavalheiro a corrente de ouro da Corporação dos Mestres, ele a repele com uma demonstração de amargura. A isto, Sachs se ergue e, em um eloquente refrão (“Verachtet mir die Meister nicht”), exorta-o a não rejeitar o prémio dos mestres. Embora suas regras possam parecer intolerantes e inflexíveis, prossegue, são eles que mantêm os padrões da arte alemã. Aqueles que reverenciam essa arte devem conservá-la para o futuro, quando a Terra será devastada. “Não desprezes os Mestres, eu ordeno, e honra a arte deles! Tudo aquilo que faz a justa honra deles, tu o conquistaste aqui. Não pelos teus ancestrais ilustres, nem pelo teu brasão, nem por tua lança ou espada, mas pelo fato de seres um poeta, que um Mestre te admitiu, para que recebas hoje a maior de todas as felicidades. Assim, pensa nisso com gratidão: como a Arte poderá ser indigna se tais tesouros são seus prêmios? Por nossos Mestres terem manejado assim, cuidadosamente, com carinho, pensando no melhor, é que a Arte continua genuína: se ela não permanecesse aristocrática e antiga, quando Cortes e Príncipes a abençoaram, malgrado os anos difíceis, ela permaneceu germânica e verdadeira; E se ela floresceu só aqui, onde tudo é cansaço e dureza, vê como ela superou tudo e continua honrada. O que mais pediria aos Mestres? Ficai em alerta! As artimanhas do mal nos ameaçam: se o povo e o reino alemão, um dia, sucumbirem, sob uma falsa lei estrangeira, então nenhum príncipe entenderá mais seu povo, e neblinas estrangeiras, com vaidades estrangeiras, plantarão em nossa terra germânica. O que é alemão e verdadeiro ninguém saberá mais, ninguém viverá mais na honra dos Mestres Germânicos! Portanto, eu digo a ti: honra teus Mestres Germânicos, pois assim atrairás bons fluídos! E se ajudares nos empreendimentos deles, até o Santo Império poderá se dissolver em brumas, mas, para nós, sempre permanecerá a sagrada Arte Germânica”!
O povo faz eco a essas palavras em um triunfante coro. Eva tira a coroa da cabeça de Walther, colocando-a na de Sachs. Este, por seu turno, pega a corrente de ouro com Pogner, e a entrega a Walther. Pogner ajoelha-se diante de Sachs, enquanto os mestres fazem um gesto de homenagem. Os Mestres Cantores, mãos elevadas, fazem um gesto em direção a Sachs, reconhecendo-o, por chefe. Todos os presentes- finalmente, Walther e Eva também – unem-se ao povo no seu canto final e num vibrante coro, o povo aclama o querido sapateiro de Nuremberg (“Heil Sachs! Hans Sachs!”). O povo agita chapéus e lenços, numa demonstração de entusiasmo; os aprendizes dançam empurrando-se aos gritos e juntando maravilhados as mãos. “Viva Sachs! O querido Sachs! de Nuremberg!”.
Cai o pano
Texto do “Enredo” baseado no Livro “As mais Belas Óperas” do Milton Cross e www.agrandeopera.com.br.
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Personagens e intérpretes
Die Meistersinger von Nurnberg – Herbert von Karajan (1908-1989) Após a Segunda Guerra Mundial, as potências aliadas determinaram a supressão de todo trabalho wagneriano na Alemanha. No entanto, cabeças mais sábias prevaleceram e, em 1951, o Festspielhaus de Bayreuth foi reaberto sob a gestão dos netos de Wagner que recomeçaram encarando uma imensa responsabilidade, eles estavam empenhados para tentar prosseguir e deixar o passado para trás junto com todas as associações que o Festival representava para a era nazista. Uma das montagens de reinauguração foi o “Die Meistersinger” que ora compartilhamos com os amigos do blog.
Embora alguns ex-nazistas estivessem envolvidos na produção, o objetivo do renascimento do Festival foi amplamente alcançado. Devemos a Walter Legge e sua equipe da Columbia que a presente e histórica produção fosse gravada para a posteridade. As gravações foram feitas durante um ensaio e cinco apresentações no Bayreuth Festspielhaus em julho e agosto de 1951 e este foi um ano divisor de águas no que diz respeito a gravações importantes. A presente gravação é uma versão remasterizada que foi originalmente tirada em fita magnética e emitida pela primeira vez em LP (do qual deriva a presente transferência) e em 68 lados no maior conjunto de discos de 78 rpm já dedicado a um único trabalho. Foi um triunfo para a equipe que trabalhou em Bayreuth e em minha opinião a performance individual que mais se destacou foi feita pelo ainda jovem maestro Herbert von Karajan.
Por mais irregular que uma gravação de palco possa ser, com fidelidade limitada do início da era do LP, este conjunto ainda transmite o entusiasmo que acompanha o festival recém-reaberto. O elenco é bom, mas a gravação mantém o interesse deste entusiasta por causa da condução firme e viva de Herbert von Karajan, e também da performance arrebatadora da jovem Elisabeth Schwarzkopf como Eva, os críticos asseguram que esta é uma das melhores performances da personagem já gravadas. O ressonante Sachs de Otto Edelman que mostra a grande tradição dos cantores de Bayreuth da primeira metade do século XX, ele é ótimo E sua voz era muito bonita e dramaticamente expressiva. Hans Hopf é um bom Walther von Stolzing. O Beckmesser de Erich Kunz não precisa de comentários, pois ele era um ator vocal lendário e este foi um dos papéis de sua assinatura. Minha nula opinião o ponto alto desta gravação é o grande quinteto do Ato 3 é cantado com perfeição absoluta. Não consigo me lembrar de outra gravação desta música sublime como Elisabeth Schwarzkopf, Otto Edelmann, Hans Hopf, Ira Malaniuk e Gerhard Unger fazem aqui. Impressionante. Claro que existem várias gravações desta ópera com um som muito melhor, mas nenhuma delas chega muito perto do coração e da alma deste trabalho de “confirmação” do jovem maestro Karajan, esta não é simplesmente uma gravação histórica para estudiosos e entusiastas da música como eu, é o grande “ponto de virada” do Kaiser “K”. Após 69 anos, ainda é uma das grandes performances gravadas desta linda ópera !
Eva, filha de Veit Pogner soprano – Elisabeth Schwarzkopt
Walther von Stolzing, jovem cavalheiro da Francônia tenor – Hans Hopf
Madalena, ama de Eva mezzo-soprano – Ira Malaniuk
David, aprendiz de Hans Sachs tenor – Gerhard Unger
Hans Sachs, sapateiro, mestre cantor baixo – Otto Edelmann
Veit Pogner, ferreiro, mestre cantor baixo – Frederick Dalberg
Sisxtus Beckmesser, oficial de registro, mestre cantor baixo – Erich Kunz
Kunz Vogelgesang, peleteiro, mestre cantor tenor – Erich Majkut
Fritz Kothner, padeiro, mestre cantor baixo – Heinrich Pflanzl
Hermann Ortel, saboeiro, mestre cantor baixo – Heinz Tandler
Balthazar Zorn, fundidor, mestre cantor tenor – Josef Janko
Conrad Nachtigall, fabricante de cintos, mestre cantor baixo – Hans Berg
Augustin Moser, alfaiate, mestre cantor tenor – Gerhard Stolze
Ulrich Eisslinger, açougueiro, mestre cantor tenor – Karl Mikorey
Hans Foltz, artesão de cobre, mestre cantor baixo – Arnold van Mill
Hans Schwarz, tecelão de meias, mestre cantor baixo – Heinz Borst
Vigia noturno, baixo – Werner Faulhaber
Trabalhadores e aprendizes das guildas, burgueses, gente do povo, músicos, crianças
Chor and Orchester der Bayreuther Festspiele, recorded in: 1951
Herbert von Karajan, Dirigent
Die Meistersinger von Nurnberg – Eugen Jochum (1902-1987) Esta outra gravação que estamos compartilhando tem uma execução orquestral maravilhosa, a direção clara e direta de Jochum é lindamente calorosa, com um grau de paixão quando necessário. A execução excelente da orquestra atinge níveis notáveis no Ato 3. Quanto ao elenco, Fischer-Dieskau fez gravações memoráveis de Wagner (postamos algumas delas nesta série). Esta eu acredito ser uma das melhores performances, seu Sachs é quente e ressonante (eitaaa…dá uma dupla interpretação daquelas, mas prossigamos!). Domingo está meio que a deriva aqui…. é um dos seus primeiros trabalhos wagnerianos, a dicção não está lá tão boa (os conservadores metem pau sem dó) ele parece lutar contra a dicção alemã ainda pouco familiar, mas e a voz…. putz é infalivelmente soberba, seu canto seguro e forte é para se admirar, junto com o tom rico, o legato suave e o som incansavelmente brilhante é maravilhoso! Catarina Ligendza é de razoável para boa no papel de Eva. Felizmente Eva não é um
Eugen Jochumpapel tão importante na ópera. Roland Hermann é um Beckmesser venenoso, Horst Laubenthal é um bom David e Christa Ludwig é, claro, uma excelente Madalena, é excelente o Pogner de Lagger, não menos brilhante é o Kothner de Feldhoff. Todos eles contribuem para a alta qualidade deste conjunto.
Se você não se incomoda principalmente com a dicção perfeita do idioma Alemão, como tenho certeza de que não incomodará para a maioria dos amigos, com certeza, é um magnífico download. A execução orquestral da Orchester der Deutschen Oper Berlin sob a direção do Eugen Jochum é encantadora.
Eva, filha de Veit Pogner soprano – Catarina Ligendza
Walther von Stolzing, jovem cavalheiro da Francônia tenor – Plácido Domingo
Madalena, ama de Eva mezzo-soprano – Christa Ludwig
David, aprendiz de Hans Sachs tenor – Horst R. Laubenthal
Hans Sachs, sapateiro, mestre cantor baixo – Dietrich Fischer-Dieskau
Veit Pogner, ferreiro, mestre cantor baixo – Peter Lagger
Sisxtus Beckmesser, oficial de registro, mestre cantor baixo – Roland Hermann
Kunz Vogelgesang, peleteiro, mestre cantor tenor – Peter Maus
Fritz Kothner, padeiro, mestre cantor baixo – Gerd Feldhoff
Hermann Ortel, saboeiro, mestre cantor baixo – Klaus Lang
Balthazar Zorn, fundidor, mestre cantor tenor – Loren Driscoll
Conrad Nachtigall, fabricante de cintos, mestre cantor baixo – Roberto Bañuelas
Augustin Moser, alfaiate, mestre cantor tenor – Martin Vantin
Ulrich Eisslinger, açougueiro, mestre cantor tenor – Karl-Ernst Mercker
Hans Foltz, artesão de cobre, mestre cantor baixo – Miromir Nikolic
Hans Schwarz, tecelão de meias, mestre cantor baixo – Ivan Sardi
Vigia noturno, baixo – Victor von Halem
Orchester der Deutschen Oper Berlin, 1976
Eugen Jochum, Dirigent
Die Meistersinger von Nurnberg – Philippe Jordan (1974)
Uma novidade para fechar as postagens da integral do Wagnão: um vídeo que está disponível no YouTube que baixei e dei uma editada pois o som estava ruim e dividi em “atos”, um legítimo PQPOriginals para os amigos do blog. O que dizer desta montagem que impressionou este insignificante e obtuso admirador? Complexo, perturbador, brilhante, exuberante, engraçado: são alguns dos adjetivos que acho que definem bem a montagem do Festival de Bayreuth para o “Die Meistersinger von Nurnberg” de julho de 2017.
Um homem se superestima pelo seu apelo sexual e talento para cantar uma serenata para a sua pretendente tarde da noite. O barulho irrita os vizinhos. Nesta divertida cena dos Mastersingers, o diretor Barrie Kosky enxeraga um enorme potencial para a violência em sua produção. A cena de espancamento de repente se transforma em um pesadelo alemão: o “pogrom”. Beckmesser, que é o nome do homem que cantava a serenata, recebe uma máscara de judeu e um balão gigantesco se infla no palco, mostrando a caricatura de uma cabeça judia. A interpretação do Meistersinger de Kosky é complexa e perturbadora, para a grande fuga coral que encerra o segundo ato, há vaias raivosas vinda do público que assiste à representação, porque os atinge profundamente (e a Chanceler estava lá).
É original e inteligente…. Barrie Kosky conta o enredo dessa ópera em três níveis: primeiro como uma história da família de Richard Wagner, segundo como um drama artístico e por fim um arranjo experimental, como a morte pode se tornar um “mestre” da Alemanha, por que os mestres cantores históricos de Nuremberg com seus propósitos inofensivos e artísticos se transformaram numa multidão assassina.
A peça começa enganosamente alegre com o prelúdio. Encontramos Wagner na sala de sua casa. Franz Liszt e o maestro Hermann Levi se encontram para tomar chá na sala de estar da Haus Wahnfried, pacotes são entregues sem parar, portas abrem e fecham, crianças vetsidas de Wagner saem de dentro do piano, todo o maquinário da comédia teatral funciona como um relógio. Qualquer pessoa que já viu o Haus Wahnfried com sua biblioteca, piano de cauda e pesadas cortinas de veludo vermelho pode imaginar como poderia ter sido a casa dos Wagner. Enquanto o próprio dono vai passear com os cachorros Molly e Brand, Cosima, ansiosa e com enxaqueca, acompanha os preparativos para o chá da tarde. Um ensaio do primeiro ato da nova ópera do mestre ao piano; Wagner então transforma Levi em Beckmesser, Liszt em Pogner e Cosima em Eva. Então não há mais diversão. Começa o primeiro ato. O canto paroquial soa abafado desde o início e os “atores” se ajoelham com as mãos postas, surge o primeiro comportamento anti-semita. Wagner expõe Levi na frente dos outros, força-o a se ajoelhar e se conformar. E como que do nada, aos poucos, muitos pequenos wagnerianos povoam o palco, sentam-se no colo dos convidados sem serem solicitados. Liszt está prestes a se levantar e sair. O genial diretor Barrie Kosky liga história, biografia e obra de arte nesta encenação, colocando o próprio compositor e outras personalidades históricas em seu ambiente privado ao lado do enredo.
A ideia cenográfica de Rebecca Ringst: retroceder o cenário da peça de Wahnfried, no final do primeiro ato, para um palco retangular e trocá-lo com um grande salto histórico para a sala do tribunal do júri do Palácio da Justiça de Nuremberg… uma idéia brilhante. As bandeiras das potências vitoriosas, papéis rasgados, um banco de testemunhas e um guarda americano simbolizam o julgamento criminal internacional do Holocausto que foi aberto em novembro de 1945. Os dois atos a seguir acontecem diante desse cenário historicamente fiel. O banco das testemunhas é usado repetidamente. No segundo ato, Eva / Cosima confessa sua admiração e amor por Stolzing. Ele mesmo reclama do peso das regras da competição e quer fugir com seus entes queridos. Beckmesser reclama das marteladas de Sachs. Sua serenata parece ridícula e, apesar de suas realizações e diligência submissa, ele Levi / Beckmesser, tem seu reconhecimento público negado. O ótimo Johannes Martin Kränzle cantando e como ator – com grotescos interlúdios de dança e gestos que lembram caricaturas judaicas – é capaz de demonstrar essa contradição e vários tons de forma clara e diferenciada é simplesmente magnífico. Günther Groissböck também se destaca como o Pogner é um baixo-barítono sonoro e digno. Klaus Florian Vogt sabe como encantar o público com a música premiada do terceiro ato. A estrela destea produção foi Michael Volle como Sachs / Wagner. Presunçoso, sábio, astuto e misteriosamente sensual, ele também encontra muitas nuances vocais para tornar a figura evidente.
O final da ópera é extremamente surpreendente: Walter von Stolzing, também vestido de Wagner, rejeita o título de Mestre Singer e foge com Eva, para nunca mais ser visto, seguido pelos outros mestres. As pessoas também vão sumindo sob as paredes elevadas do corredor, de modo que Wagner / Sachs fica sozinho no palco, no banco das testemunhas, para seu discurso final. “Não desprezes os mestres por mim”, então o esplendor do século 19 volta à vida, para a repetição de suas últimas palavras, entra uma arquibancada com uma orquestra fictícia, cujos instrumentos o coro do festival toca para repetir as palavras de Sachs, “Honre seus mestres alemães”. Cosima se senta triunfantemente nos degraus dessa arquibancada. Wagner conduz o final do banco das testemunhas e remete à época que ele veio para Bayreuth, inicialmente apareceu artisticamente como um maestro (da Nona Sinfonia de Beethoven na Margravial Opera House, por ocasião do lançamento da pedra fundamental do Festspielhaus). O encerramento é uma sala do tribunal do júri vazia no Palácio da Justiça de Nuremberg apenas com Wagner no tribunal.
Philippe Jordan, diretor musical em Paris e futuro chefe da música na Vienna State Opera, consegue combinar a natureza fragmentada dos personagens musicais em uma viagem emocionante através do tempo através dos estilos de fuga e cânone, da fanfarra representativa à música mecânica. Essa é uma conduta elegante, inteligente e sensual. O diretor Barrie Kosky mostra como funciona a utopia. Os grandes compositores e músico alemães estão representados no palco: a orquestra e toda a tradição do festival, o Titã Beethoven e Wagner, formam cores que soam extremamente equilibradas nas mãos de Philippe Jordan. Há muita leveza dançante que ressoa em movimentos ondulatórios dinâmicos e uma transparência precisamente coordenada em termos de velocidade, timbre e dinâmica e quase orientada para a música de câmara. De todas as postagens a mais IM-PER-DÍ-VEL !!!
Livre tradução baseado nas críticas de Monika Willer, Ursula Decker-Bönniger e Peter P. Pachl sobre a representação da montagem de julho de 2017 do Bayreuther Festspiele.
Eva, filha de Veit Pogner soprano – Camilla Nylund
Walther von Stolzing, jovem cavalheiro da Francônia tenor – Klaus Florian Vogt
Madalena, ama de Eva mezzo-soprano – Wiebke Lehmkuhl
David, aprendiz de Hans Sachs tenor – Daniel Behle
Hans Sachs, sapateiro, mestre cantor baixo – Michael Volle
Veit Pogner, ferreiro, mestre cantor baixo – Günther Groissböck
Sisxtus Beckmesser, oficial de registro, mestre cantor baixo – Johannes Martin Kränzle
Kunz Vogelgesang, peleteiro, mestre cantor tenor – Tansel Akzeybek
Fritz Kothner, padeiro, mestre cantor baixo – Daniel Schmutzhard
Hermann Ortel, saboeiro, mestre cantor baixo – Raimund Nolte
Balthazar Zorn, fundidor, mestre cantor tenor – Paul Kaufmann
Conrad Nachtigall, fabricante de cintos, mestre cantor baixo – Armin Kolarczyk
Augustin Moser, alfaiate, mestre cantor tenor – Stefan Heibach
Ulrich Eisslinger, açougueiro, mestre cantor tenor – Christopher Kaplan
Hans Foltz, artesão de cobre, mestre cantor baixo – Timo Riihonen
Hans Schwarz, tecelão de meias, mestre cantor baixo – Andreas Horl
Vigia noturno, baixo – Wilhelm Schwinghammer
Inszenierung: Barrie Kosky
Chor und Orchester der Bayreuther Festspiele, Premiere: 25 de Julho 2017
Musikalische Leitung: Philippe Jordan
Ufa, conseguimos !!!!! Após meses trazendo uma a uma as óperas de Richard Wagner conseguimos fechar, e acreditamos que com chave de ouro, o projeto do FDPBach e do Ammiratore – Integral das óperas de Wagner. Podemos dizer que aprendemos muitas facetas deste controvertido homem. Se Verdi concebeu a ópera como um drama humano focado na voz, Richard Wagner fez uma cruzada por um tipo de teatro musical reformado e focado na orquestra, que ele tratou como a força motriz dos dramas, não como simples acompanhamento dos cantores. Uma figura com um intelecto poderoso, um ego enorme e um desejo de controlar todos os aspectos de suas obras teatrais, Wagner escreveu a música e os libretos de suas óperas, dando instruções para design, encenação e ação cênica, conduziu a maioria de suas estreias. Seu ideal era o que ele chamava de Gesamtkunstwerk (Obra de Arte Total).
Se Beethoven já tinha escutado as gaitas de foles de um regimento escocês, e já lera algo sobre a Irlanda através de seus poetas, ele nada sabia sobre Gales. Por isso, talvez, ele tenha se sentido livre para arranjar (ainda que as letras lhe fossem não só desconhecidas, mas deliberamente sonegadas pelo editor) as melodias galesas que Thomson lhe mandou. Há um senso de concisão que não costuma haver nos outros grupos de canções britânicas e, embora ainda sentimental, a música não é açucarada como a de boa parte das canções irlandesas. E, acima de tudo, entre as canções de Gales está talvez a mais bonita das mais de cento e sessenta, de várias nações, que Beethoven arranjou: a no. 4, “Love without Hope” (“Amor sem Esperança”), dum certo John Richardson sobre quem nada encontrei, e cujo texto – duma simplicidade que orna memoravelmente com a música – eu traduzi:
Suas feições falam do coração mais caloroso,
Mas, não para mim, seu ardor brilha;
Nesse rubor suave não tenho parte,
Que mistura com as neves de seu peito.
Naquela querida gota não tenho parte,
Que treme em seu olho derretido;
Nem é meu amor o terno cuidado,
Que pássaros a ela soltam aquele suspiro ansioso.
As horas mais felizes da fantasia criam
Visões de êxtase, como divinas,
Como a felicidade pura que deve aguardar
O homem cuja alma está unida à tua.
Mas ah! Adeus a este tema traiçoeiro,
Que, embora seja uma miséria a ser abandonada,
Rende ainda alegria ao sonho reconfortante,
Aquela dor como a minha tu nunca conhecerás.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Vinte e seis canções galesas, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 155 Arranjadas em 1809 Publicadas em 1817
1 – No. 1: Duet – Sion, the Son of Evan. Maestoso e con molto spirito
2 – No. 4: Love without hope. Andante espressivo, assai amoroso
3 – No. 17: The Dairy‑House. Allegretto più tosto vivace
4 – No. 15: When Mortals all to rest retire. Andante affettuoso con molta espressione
5 – No. 3: The cottage maid. Andantino quasi allegretto
6 – No. 14: Duet – The dream. Andantino
7 – No. 7: O Let the Night my blushes hide. Andante quasi allegretto
8 – No. 19: The Vale of Clwyd. Andante lamentabile
9 – No. 11: Merch Megan, or Peggy’s Daughter. Allegretto
10 – No. 2: The Monks of Bangor’s March. Maestoso ma con espressione
11 – No. 10: Ned Pugh’s Farewell. Andantino con moto
12 – No. 13: Helpless woman. Andantino con moto
13 – No. 20: To the blackbird. Andantino più tosto allegretto
14 – No. 16: The damsels of Cardigan. Allegretto
15 – No. 9: To the Aeolian Harp. Andante espressivo
16 – No. 12: Waken, lords and ladies gay. Allegretto spiritoso
17 – No. 22: Duet – Constancy. Andante espressivo
18 – No. 5: The golden robe. Allegretto
19 – No. 6: The fair maid of Mona. Andante espressivo
20 – No. 8: Farewell, farewell, thou noisy town. Allegretto con anima
21 – No. 18: Sweet Richard. Andante affettuoso
22 – No. 21: Cupid’s kindness. Vivace e scherzoso
23 – No. 23: The old strain. Andante espressivo, amoroso
24 – No. 24: Three hundred pounds. Allegretto piu tosto vivace
25 – No. 25: The parting kiss. Andante espressivo
26 – No. 26: Good night. Vivace scherzando
Catrin Wyn Davies, soprano Ruby Philogene, mezzo-soprano John Mark Ainsley, tenor Christopher Maltman, barítono Marieke Blankestijn, violino
Ursula Smith, violoncelo Malcolm Martineau, piano