Relembrando o legado de Bernard Haitink, esse maestro que esteve no auge da carreira por pelo menos uns 50 anos, é interessante ver algumas mudanças em suas interpretações.
Comparando o Beethoven que ele gravou com a Sinfônica de Londres (LSO), por exemplo, vemos que os andamentos costumam ser um pouco mais apressados e menos solenes do que na integral anterior com a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam. Já comentei isso quando trouxe a integral Haitink/LSO no ano passado.
Com as sinfonias de Mahler, Haitink parece ter mudado suas concepções no sentido oposto. Sua gravação da 6ª Sinfonia (“Trágica”) com a Orquestra de Chicago em 2009 traz um Mahler mais majestoso, com respirações mais longas. Vejamos por exemplo o movimento “Scherzo: Wuchtig”, cujos nomes são contraditórios (toda grande arte é contraditória, disse o contraditório Bernstein em um de seus programas de TV). Scherzo, em italiano, significa “piada. A palavra alemã Wuchtig, me diz o google, significa “massivo” ou “pesado”. Portanto, a orquestra deve se equilibrar entre essas duas indicações enigmáticas. Vejamos a minutagem desse Scherzo em três gravações de Haitink:
Amsterdam – 13’19” (1969)
Berlin – 12’55” (1990)
Chicago – 14’20” (2008)
Conferi o primeiro movimento da 6ª de Mahler, assim como o último da 1ª, e a tendência do Haitink idoso regendo Mahler é sempre botar o pé no freio. É como se o maestro, após muitos anos de experiência, dissesse para seus músicos: “O profundo Beethoven? Pode ser um pouco mais dançante esse ritmo. O ansioso Mahler? Mais solene, por favor.”
Sempre vale a pena conhecer o ponto de vista de uma figura com o currículo e a idade de Haitink (78 anos quando fez essa gravação ao vivo). O testemunho pessoal que posso dar: acho a Sexta de Mahler uma sinfonia difícil, ao contrário da 1ª, da 4ª da 5ª que são mais simpáticas para os iniciantes. Costumo ter dificuldade para manter minha atenção focada nessa sexta sinfonia, mas a versão de Haitink/CSO me manteve sempre atento, também graças à excelente qualidade da gravação. Ouvimos com espantosa clareza os potentes e famosos metais de Chicago mas também as suaves percussões, que incluem celesta, glockenspiel, sinos de vaca e martelo.
Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia No. 6 em Lá menor
1 Allegro Energico, Ma Non Troppo: Heftig, Aber Markig 25:56
2. Scherzo: Wuchtig 14:23
3. Andante Moderato 16:12
4. Finale: Allegro Moderato — Allegro Energico 34:10
Chicago Symphony Orchestra – Bernard Haitink
David Munrow (1942-1976) foi imenso. Foi um verdadeiro pioneiro da música antiga e, por conseguinte, da música historicamente informada. Ele foi musicólogo, professor, compositor, maestro, editor de música antiga e multi-instrumentista. Seu The Early Music Consort, fundado em 1967, foi muito influente. O time tinha Munrow nos instrumentos de sopro antigos, Christopher Hogwood ao cravo e percussão, James Bowman como contratenor, Oliver Brookes na viola da gamba, Robert Spencer ao alaúde e canto e ainda Mary Remnant na rabeca, um precursor do violino. Munrow também era professor e o foi mais importante musicólogo de sua época. Trabalhava febrilmente, sua produção é inacreditável. Porém, apesar do grande êxito profissional — Munrow era respeitadísssimo, uma unanimidade –, sua vida privada nunca foi bem. Munrow sofria de depressão e provavelmente a perda de seu pai e seu padrinho, aos quais era muito ligado, mais o excesso de trabalho, tenham acentuado as pressões, levando-o ao suicídio por enforcamento em 1976, aos 34 anos. Foi homenageado numa infinidade de obituários, todos reconhecendo seu talento, seu virtuosismo, sua versatilidade, seu entusiasmo, seus vastos conhecimentos, seu papel de primeiro plano da divulgação da música antiga, a profunda influência que exerceu sobre toda uma geração de músicos, e seu protagonismo no movimento de recuperação das práticas autênticas de interpretação da música antiga.
Music of the Crusades
1 La Quinte Estampie Real 2:12
2 Pax In Nomine Domini! 3:11
3 Parti De Mal 1:49
4 Chevalier, Mult Estes Guariz 2:20
5 Chanterai Por Mon Corage 4:12
6 Danse Real 1:02
7 Sede Syon, In Pulvere 3:00
8 Palästinalied 3:16
9 Condicio – O Nacio – Mane Prima 2:12
10 O Tocius Asie 2:07
11 La Uitime Estampie Real 2:45
12 Cum Sint Difficilia 3:25
13 Li Noviaus Tens 3:07
14Fortz Chausa Es 4:26
15 Je Ne Puis – Amors Me Tienent – Veritatem 2:30
16 Ahi! Amours 2:54
17 La Tierche Estampie Real 2:02
18 Ja Nus Hons Pris 2:24
19 Au Tens Plain De Felonnie 2:21
Leipzig tinha uma tradição em música secular provida por diversas organizações – Collegia Musica – cujos membros eram estudantes da Universidade de Leipzig que desde os dias de Bach já era bem famosa.
Os diretores musicais da Igreja de St. Thomas também participavam dessas organizações. Duas se destacavam entre as demais: Collegium musicum fundado em 1702 por Georg Philipp Telemann e outra, fundada uns seis anos depois, por Johann Friedrich Fasch. Não é preciso dizer que esses grupos musicais guardavam rivalidades.
Com o passar do tempo e devido à dança das cadeiras dos empregos, o grupo criado por Fasch passou a ser dirigido por Johann Gottlieb Görner, diretor musical da Universidade, e o grupo criado por Telemann ficou aos cuidados de Balthasar Schott, organista da Neukirche. Schott havia se proposto ao cargo de Kantor de St. Thomas, mas esta posição ficou com Bach e Schott teve que se arrumar em outros empregos, ganhando bem menos. Ele também substituía Bach em muitas de suas ausências. É notório que o Conselho, que pagava o salário de Bach, viva às turras com ele.
Dorothea chegando para o concerto no Café PQP Bach de Erechim
Eventualmente Schott assumiu uma nova posição em Gotha e na primavera de 1729 Bach assumiu a direção do Collegium musicum, que se apresentava no Café Zimmermann. Os alunos que se apresentavam, durante o inverno, às sextas-feiras, das 6 às 8 da noite, não ganhavam muito, mas certamente ganhavam reconhecimento e perspectiva de emprego futuro. Nos meses mais quentes a música ganhava as ruas, era levada para fora, para os jardins do Café, para ‘frente do Portão Grimma, na estrada de pedra Grimma’, às quartas-feiras, de 4 às 6 da tarde. O dono do Café, Herr Gottfried Ziemmermann certamente ganhava com os lucros do Café, cuidava dos instrumentos e mantinha o Sr. João Sebastião feliz. E este mostrava todo o seu contentamento jorrando música excelente, como a que podemos ouvir neste disco.
Digamos que estava de passagem na cidade um (ou uma) flautista ilustre que foi convidada a se juntar ao Collegium, apresentando um programa que foi rapidamente montado pelo Sr. Ribeiro, com obras suas incluído flauta ou eventualmente oboé…
Leipziger Lerche
O Ensemble Barocksolisten München foi fundado em 2010 por Dorothea Seel e se apresentam como conjunto de câmera ou apresentam peças do tipo das que ouvimos aqui.
Se puder, imagine, ao ouvir este disco, que está no Café Zimmermann ouvindo este recital. Apesar de que durante a música o serviço era mantido com estrita discrição, você poderia querer aproveitar para conhecer algum dos famosos pratos do lugar, como o Leipziger Lerche.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto para oboé e violino em dó menor, BWV1060
Allegro
Adagio
Allegro
Concerto para flauta, violino e cravo em lá menor, BWV1044
Allegro
Adagio ma non tanto e dolce
Tempo di alla breve
Suíte Orquestral (Abertura) No. 2 em si menor, BWV1067
Calma, não são mais usadas cotovias para produzir a iguaria. E certamente não poderia faltar uma boa xícara de café… Mas, sobre isto, talvez em alguma outra postagem.
The catalog of Johann Sebastian Bach is characterized in part by arrangements of his own works, reusing motifs and themes, and general “material recycling.” + In addition to composing, Bach was also an avid teacher. In 1729 he took charge of the students’ Collegium Musicum. + The compositions featured on this album were written for the students of the collegium musicum. They are performed here by Barocksolisten Munchen.
Aproveite!
René Denon
Se você se interessou pela história do Café Zimmermann, não deixe de visitar estas postagens aqui:
Em memória de todos os que morreram pela negligência deliberada de um governo genocida no Brasil (2020-2021)
I. INTRODUÇÃO
A décima primeira sinfonia de Shostakovich é daquelas obras que quanto mais penetramos em seu íntimo e descobrirmos todos os seus meandros e detalhes, mais prazerosa ela se torna à nossa fruição. E os sentimentos que ela provoca são mais agudos principalmente nos espíritos revolucionários.
Escrita logo após o levante da Hungria de 1956, ela evoca e descreve alguns dos acontecimentos de 1905, o ano da primeira Revolução Russa, que fracassou, homenageando o espírito da revolução passada, e talvez sutilmente honrando os trabalhadores que se insurgiram contra a burocracia stalinista naquele momento na Hungria, que embora já não contasse com Stálin, perpetuava as mesmas práticas sob o véu de uma “abertura” e das “denúncias” de Khruschev. No fim o que mostrou a continuidade entre ambos foi justamente a repressão contra os intelectuais e trabalhadores húngaros no levante. Mas é incerto se Shostakovich quis realmente também se referir ao levante húngaro.
De toda forma, o mais importante da obra é sua capacidade de “narrar” os fatos do ano de 1905, utilizando-se de canções populares tradicionalmente ligadas ao movimento político que lutou contra a autocracia no final do século XIX e início do XX, até a Revolução de Outubro de 1917.
O conhecimento dos fatos ocorridos no anos de 1905 ajudarão a entender a obra. Desde a manifestação pacífica de trabalhadores sob a liderança de um padre, que é massacrada pelas tropas em frente ao Palácio de Inverno em janeiro, conhecida como Domingo Sangrento, passando pela revolta dos trabalhadores de toda a Rússia com o massacre, até a insurreição nas ruas com barricadas e fuzis, que também será derrotada pelas tropas do Czar no final do ano.
II. ANÁLISE
Vou utilizar como referência para a análise uma interpretação no Youtube, porque assim é possível ver os instrumentos que estão sendo utilizados para executar motivos e melodias que têm importante significado ao longo da obra. Essa gravação é boa pois utiliza de jogos de imagem articulados com a música. Recomendo ver o vídeo com o texto ao lado, o que pode ser feito dividindo a tela entre o vídeo e o texto.
1. A praça do Palácio de Inverno (Adagio)
Não se enganem pela incomum nomenclatura de “adagio” em um primeiro movimento (se comparada à tradição da forma sonata, onde geralmente o primeiro movimento é um Allegro). Tenho certeza que muitos que já escutaram várias vezes essa sinfonia se deixaram levar e descreveram esse movimento inicial como leve, distraído, calmo. Mas, na verdade, ele é cheio de tensões e conflitos latentes e sutis. A luta de classes muitas vezes é silenciosa e aparece sob outras formas não imediatamente reconhecíveis. Fica implícita em certos acontecimentos e movimentos. Raramente ela é explícita e aberta.
A sinfonia começa com uma melodia calma e lenta nas cordas, com leves toques de harpa. É importante fixar bem essa melodia pois ela retornará várias vezes e reaparecerá com uma outra forma num dos momentos mais dramáticos da obra: o silêncio após o massacre na praça em frente ao Palácio de Inverno.
Logo neste começo aos 1:04~1:21 minutos (na interpretação do vídeo acima) surge um incomum motivo nos tímpanos. Este motivo retornará muitas vezes e em variados formatos. Esse motivo pode ser visto como o conflito (de classes) silencioso sempre latente mesmo em meio à suposta calmaria. Aos 1:24~1:53 temos o primeiro motivo de um dos personagens desse conflito: as tropas czaristas, ou, o poder militar czarista, cujo caráter fica evidente pela melodia do trompete e a percussão das caixas.
Esses dois motivos retornarão a todo o momento, como se dissessem: a calmaria e a paz permanente de uma praça e um palácio ostensivamente ricos só se mantêm pela permanente presença da ostensividade militar, e pelo conflito permanente entre exploradores e explorados.
Os temas e motivos se repetem. Mas, dessa vez, o sinal militar que antes fora executado no trompete é executado em uma trompa (3:23~3:47). Os tímpanos continuam presentes a todo o momento, até que aos 5:13 ~ 6:00 surge nas flautas a pequena canção dos trabalhadores. O motivo dos tímpanos, tenso, continua a tocar, ameaçador.
Conhecida como “Слушай!” (“Escute!“), essa canção singela descreve a esperança por liberdade, apesar das barras de ferro, das baionetas, dos tiranos e de todo o silêncio. Algo pode ser escutado em meio a toda essa situação… Provavelmente foi uma canção inspirada ou mesmo criada nas prisões e nos campos de trabalho forçado dos exílios na Sibéria. Shostakovich quer, aqui, descrever a situação de opressão dos trabalhadores russos.
O tema da praça retorna, com a tensão dos tímpanos e harpas mais forte, ao que é sucedido por algo novo: nos 7:05, as caixas militares entram com o seu ritmo diferente, e a canção dos trabalhadores também muda: fica mais tensa e se espalha por naipes inteiros da orquestra, sugerindo a tensão crescente das contradições sociais causadas pelo sofrimento e miséria dos trabalhadores. Cresce a insatisfação com o regime econômico, social e político do Império Russo. Depois de passar pelos metais, violinos, violoncelos e contrabaixos, nos 7:57 a canção dos trabalhadores muda sua melodia, tornando-se mais dramática e quase épica. Ao que é precedida por um toque no fagote (8:10) e, em seguida, novamente nas cordas, mudando seu tom e melodia. Os metais dão sinais e os tímpanos continuam ativos.
Aos 8:41~9:11 acontece uma coisa muito sutil, mas que essa gravação aqui disponibilizada ajuda a perceber: os contrabaixos começam a tocar uma nova melodia. É um novo lamento de angústia e de insatisfação, apesar da presença intimidadora constante do trompete militar e dos tímpanos tensos, que tentam calar o clamor popular, tal como a polícia política czarista naquela época, a temível Okhrana.
É a melancólica canção “Ночь темна лови минуты”, mais popularmente conhecida como “Арестант” (“O prisioneiro“). Ela narra a dureza da vida nas prisões políticas do Czar.
(Uma versão para coro muito bonita, mostrando imagens de época e dos locais dos prisioneiros)
A canção “Escute!” soma-se à sua nova companheira e retorna nos violinos e violas. Aos 9:25 “O prisioneiro” é tocada numa flauta solo que vai ganhando volume. A melodia de “o prisioneiro” então se desenvolve e toma outros instrumentos, a melodia de “Escute!” passa para os contrabaixos, e os tímpanos agora soam ameaçadoramente volumosos (10:08). O resto do movimento continua com esses conflitos e tensões entre os diversos motivos e melodias, até que o tema da praça retorna (11:38) e conclui com as esporádicas aparições das caixas, tímpanos e trompetes.
Nos 14:06 um motivo curto e inédito aparece, e encerra o movimento.
2. O 9 de janeiro (Allegro)
O Segundo movimento começa com os contrabaixos quase que “correndo”, o que mostra que alguma mobilização está sendo realizada. Nas ruas? Nas fábricas? Nos quartéis? Seriam os trabalhadores ou os soldados?
Logo no início desse movimento, aos 14:46, uma melodia é tocada nas madeiras, depois passa para as cordas, violinos e violas, enquanto se mantém a correria nos violoncelos e contrabaixos. É a canção “Девятое Января” (“Nono de janeiro”). Essa, ao contrário das anteriores, e da maioria das canções subsequentes, não é uma tradicional canção folclórica de luta. Mas o sexto poema que Shostakovich musicou em seus Dez Poemas Corais Sobre Textos Revolucionários, sobre texto de Evgeny Mikhailovich Tarasov (1882-1943).
(coloquei a partir do momento em que o tema em questão aparece)
Para ilustrar o significado dessa melodia, vamos ao que diz o texto de Tarasov, sobre o qual Shostakovich fez o poema musical:
[…] Com oração nos lábios e com fé no peito, Com os retratos reais, guiados pelos ícones, Não para lutar contra o inimigo, sem pensar em mal – o povo caminhou, exausto, para derrotar o Czar com suas testas. Oh tu, nosso Czar, nosso pai! Olhe ao nosso redor: […] Morremos acorrentados e com fome… sem lugar para ir… Você é um dos nossos protetores! Você nos protege! […] Sim, a mão imperial é generosa de misericórdia: O Czar escutou seu povo com tanta importância, Que nada disse – e acenou com a mão… Sob os rebanhos de servos reais liberados das correntes, Toda a terra tremeu com um rugido, E a praça em frente ao palácio ficou coberta de corpos: o povo caiu, alimentados com bala e chumbo. […] Um milagre foi criado desse feito: Onde, guiada, choveu uma tempestade Onde o sangue do povo foi derramado numa torrente, – Ali, de cada gota de sangue e chumbo O cuidado da mãe terra deu nascimento a um lutador!
(tradução livre e amadora; trechos)
Como diz a letra, essa canção, cuja melodia está inserida na sinfonia, descreve os trabalhadores e camponeses pobres, assolados pela pobreza, pela fome, pela miséria e pela servidão, que vão pedir humildemente ao “paizinho Czar” a resolução para seus sofrimentos. Mas, diante do massacre czarista, renascem como lutadores. Mas essa melodia aparece, simplesmente, representando a “ingenuidade” dos trabalhadores. Outras canções mais à frente descreverão sua revolta.
A melodia se desenvolve espalhando-se para toda orquestra, tornando-se o tema inicial deste movimento, até que aos 16:11, o trompete toca, é um sinal militar para que as tropas fiquem em guarda. Aos 17:31 um novo motivo surge nos trombones, derivado da mesma canção acima, mas de sua parte inicial, que em sua letra diz:
Descubram suas cabeças! Neste dia triste A sombra de uma longa noite tremulou sobre o solo. A fé do escravo em seu senhor caiu, E uma nova alvorada acendeu sobre a terra-mãe… […]
A melodia, que reaparece aos 18:08, quer transmitir o sentimento de despertar dos trabalhadores. Os trombones e tubas emitem esse motivo, e em seguida o tema da marcha sofre uma leve modulação, tornando-se mais dramático e mais apelativo.
Aos 20:03 os oboés e flautas tornam tudo inesperadamente mais tenso. E os temas vão se desenvolvendo em sucessão e interseção. Um grande clímax vai sendo construído, como se a mobilização de trabalhadores que se dirigem à Praça do Palácio de Inverno fosse crescendo e tornando-se mais volumosa. Os temas desenvolvidos aqui são os mesmos de sempre, ganhando toda a orquestra e atingindo o clímax.
Tudo vai tornando-se mais silencioso e delicado, até que aos 24:04 o tema da praça retorna. Os trabalhadores chegaram à Praça, e caminham lentamente na neve espessa, entoando seus hinos de apelo e misericórdia ao Czar… Ouvimos o motivo ameaçador dos tímpanos e o sinal dos trompetes… ataques rápidos nas caixas… São tiros! Aos 25:30. Mais tiros… começa uma correria de cavalos nos contrabaixos, seguido pelas violas… O massacre começou… os pobres manifestantes tentam correr, se abrigar, mas estão sendo cercados pelos cavalos, pelos chicotes e sabres dos cossacos fortemente armados e brutais. Aos 27:59 o fuzilamento e extermínio geral começa… estampidos, marchas, tiros e mais tiros… em meio à morte generalizada, a melodia de “descubram suas cabeças” ainda soa aos 28:46, dizendo que os trabalhadores despertam, e a luta apenas começou… Por enquanto, quem vence é a força das armas repressoras representada pelas caixas e tímpanos tocando em marcha. Silêncio…
O tema da praça retorna, mas agora, com as cordas fazendo leves trinados (oscilações), como se representassem os sons de agonia da imensidão de corpos caídos sobre a vasta neve fria da praça…
O movimento se encerra com “Escute!” tocando timidamente aos 31:36.
3. Memória eterna. (Adagio)
O terceiro movimento, novamente um adagio, começa com o dedilhado nos contrabaixos, que é quase uma reflexão em um minuto de luto para aqueles que se foram. Sucede nos 34:11 a famosa canção “Вы жертвою пали в борьбе роково” (Tu caíste morto na luta!)
Esta canção é mais que uma marcha fúnebre de luto qualquer, é uma marcha fúnebre revolucionária que homenageia os lutadores caídos, prometendo mais luta. Faz homenagem a todos os lutadores que caíram buscando transformar a sociedade e ao mesmo tempo promete vingança contra os tiranos que foram responsáveis por suas mortes.
Seus versos merecem ser reproduzidos aqui na íntegra:
Tu caíste morto na luta! Com um amor desinteressado pelo seu povo Entregou sua vida e tudo que tinha por ele, como um herói! Pela vida, honra e liberdade dos operários! Tu penaste em cárceres frios e úmidos! Julgado e condenado por policiais e déspotas mercenários! Eles o arrastaram violentamente por uma estrada deserta Enquanto tu ouvias, exausto, o som de suas correntes a balançar Mas, enquanto os malditos tiranos festejam em seus luxuosos palácios Deleitando com vinho e afogando-se no rum Poderosos, corajosos e mortais, corações mentes e mãos Prenunciam sua fúria nas paredes de fábricas e quartéis: O povo se rebelará e a tirania cairá Seremos grandes, poderosos e livres Então, como irmãos, nos despedimos de ti Pois você se foi honrando o nobre caminho que seguiu!
Aos 38:24 um novo tema surge, criando uma atmosfera sombria, mas que cada vez mais vai se iluminando, como se do luto nascesse uma disposição para lutar. Quase como a cena de Encouraçado Potemkin (um filme que retrata um evento também ocorrido no ano de 1905) de Eisenstein, onde após o luto pelo marinheiro morto, os trabalhadores que visitam seu túmulo cerram os punhos e entoam hinos de luta em sua memória.
Surge então, levemente, aos 38:50 uma nova melodia nas trompas. Aos 41:14, a melodia envolve a orquestra cita um motivo da canção “Славное море, священный Байкал…” (“Grande mar, o sagrado Baikal…”) que entoa o sentimento de um ex-prisioneiro que, encontrando o mar Baikal, descobre a liberdade…
O motivo principal dessa canção é acentuado aos 41:33 pelos metais, num clímax de esperança… e logo em seguida, aos 41:55, o tema de “descubram suas cabeças” é tocado, dizendo: despertamos!
Depois de um crescendo de tensão e fúria nos contrabaixos, novamente o tema principal deste movimento retorna aos 43:08 com alusões a partes da canção, depois reinicia-se brevemente, terminando o movimento com os mesmos dedilhados com que iniciou o movimento.
4. Tormenta. (Allegro non troppo)
Беснуйтесь, тираны! (“Ódio aos tiranos!“)
É com essa canção que começa o quarto movimento, anunciado e repetido nos trombones. Seus versos descrevem a ira do povo contra os tiranos, que tratam os trabalhadores de forma selvagem e cruel. Apesar das correntes, prisões, e das feridas das botas sobre seus corpos, os espíritos destes homens são indomáveis. E que caiam aqueles que tremem diante dos tiranos! Pois os corajosos não trocam seus direitos por nada, e não temem feridas no corpo. É melhor temer a escravidão do que a morte! A terra está vermelha de sangue expelido, em todos os lugares batalham irrompem. Com fogo o levante dos trabalhadores abraçam todos os países! Vergonha e morte aos tiranos!
Esse movimento vai descrever a revolução de 1905 no Império Russo, e outros acontecimentos ligados a ela, como a revolta dos marinheiros do Encouraçado Potemkin em Odessa.
Esse movimento, tal como o primeiro, será cheio de conflitos entre os naipes de instrumentos. Mas, agora, estão explícitos. É o advento de uma revolução. Os metais, embora inicialmente entoaram “Ódio aos tiranos!”, serão os repressores na maior parte do tempo, em vários momentos, aliados às caixas e tímpanos, tentarão calar e reprimir a movimentação das cordas e madeiras. (vários momentos entre 45:47~46:05) Excetuando quando vez ou outra tocarem alguns temas ou melodias de canções, como quando aos 46:14~46:18 novamente um trompete toca o motivo de “Ódio aos tiranos!”. E aos 47:45 o tema de “Descubram suas cabeças” retorna nos trombones. É uma verdadeira luta de classes e de naipes!
Aos 48:25 os contrabaixos entram no embalo da famosa Varshavianka (canção que ganhou versões em vários países e revoluções diferentes, como a famosa A las barricadas da Revolução Espanhola), e temos uma espécie de marcha e mobilização geral. Podemos interpretar como o povo indo às ruas, tomando prédios, formando os sovietes em São Petersburgo, conselhos deliberativos de operários, que surgem pela primeira vez na história durante esta revolução. É uma canção de força surpreendente, composta justamente na conjuntura do ano de 1905, exprimindo toda a força e sentimento daquele momento histórico. Vale a pena aqui reproduzir seus versos:
Balas do inimigo voam sobre nossas cabeças Forças das trevas nos oprimem sem pudor Nessa batalha, à qual estávamos predestinados Estamos à espera de destinos desconhecidos Ainda assim erguemos, orgulhosa e corajosamente A sagrada bandeira da luta dos trabalhadores Bandeira que luta por todos os povos Por liberdade e por um mundo melhor Para essa sangrenta, sagrada e justa guerra Marchemos adiante, povo trabalhador! Os trabalhadores devem continuar passando fome? Irmãos, até quando permaneceremos em silêncio? Por acaso a terrível visão da forca pode assustar-nos, jovens camaradas? Nessa justa guerra não serão esquecidos Aqueles que honrosamente morrerem pelo nosso ideal! Seus nomes serão entoados em nossos cânticos E serão sagrados para milhões de pessoas! Para essa sagrada, sangrenta e justa guerra Marchemos adiante povo trabalhador! Nós odiamos as coroas dos tiranos E as malditas correntes que martirizam o povo! Os tronos reais estão cobertos de sangue do povo Então banharemos os reis em seu próprio sangue! Morte a todos os nossos malditos inimigos E a todos os malditos parasitas da classe trabalhadora! Vingança sim! Contra os czares e plutocratas! A hora da vitória está cada vez mais próxima! Para essa sagrada, sangrenta e justa guerra Marchemos adiante povo trabalhador!
Seguem-se novas citações de várias canções e motivos que já apareceram antes. São os trabalhadores parando fábricas, navios, trens, indo às ruas, fazendo barricadas, lutando com armas nas mãos pela sua liberdade e emancipação. Pela derrubada do Czar. Por vingança sim, como diz a Varshavianka, pelos seus companheiros brutalmente massacrados. Num clímax dos 51:19 várias canções estão sendo tocadas ao mesmo tempo, quase que polifonicamente, até que aos 51:49 toda a orquestra é embalada por uma mesma melodia triunfante.
A luta de naipes irrompe novamente. São as classes dominantes e o Império Czarista reagindo à mobilização com brutal repressão. O motivo da canção “9 de janeiro” irrompe novamente aos 52:39~53:27, tomando toda a orquestra, num misto de luto e revolta. Trompetes e caixas e tímpanos atacam, seguidas pelas trompas que tentam interromper a melodia das cordas… É a reação das tropas czaristas, lutas nas ruas, barricadas por toda São Petersburgo, milhares de trabalhadores armados, contra cossacos e exércitos imensos… Os trabalhadores revolucionários lutam bravamente, mas muitos caem… Aos 53:28 as caixas, tambores e trompas apertam, são os tiros, violência e repressão infindáveis… É a derrota dos revolucionários… A repressão das caixas e metais silencia toda a orquestra, e em seguida temos novamente o tema da praça. Melodias de luto se seguem…
Um poderoso grave irrompe nas madeiras e percussão aos 56:41. A luta dos oprimidos não acabou. A revolta contra a fome, a miséria, a tirania e a exploração continuam. Outros sopros vão se juntando, a melodia revolucionária ressurge nas trompas, primeiro, timidamente, depois ela vai se espalhando por toda a orquestra, é uma nova revolução irrompendo em toda a sociedade! Senão hoje, em 1905, amanhã, em 1917, mas sua revolta é inevitável e infindável enquanto houver opressão! São os condenados da terra se levantando mais uma vez para lutar por sua emancipação! Vão expropriar os expropriadores! Sinos soam anunciando a irrefreável ira dos trabalhadores e a justiça revolucionária! É a revolução que se aproxima! É a construção de um novo mundo! Viva a revolução mundial dos trabalhadores…
Em memória de todos os que morreram pela negligência deliberada de um governo genocida no Brasil (2020-2021). Faremos os responsáveis pagarem por seus crimes. E a justiça revolucionária prevalecerá.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Symphony Nº 11 in G minor, Op. 103 “The Year of 1905”
Symphony No.11, Op.103 (‘The Year 1905’) in G minor
1. I: The Palace Square (Adagio) –
2. II: The 9th of January (Allegro) –
3. III: In Memoriam (Adagio) –
4. IV: The Tocsin (Allegro non troppo)
Anne-Sophie Mutter e John Williams, com “Vienna Philharmonic”
Ao comemorarmos estes 15 anos de P.Q.P. Bach, ressaltamos nossa paixão pela música. E assim, como todos os entusiastas, nestes momentos, somos invadidos por certa nostalgia… Pelos caminhos que percorremos, movidos pela curiosidade e imaginação, e que levaram a tantas descobertas…
Segue “Hedwig’s Theme”, do filme “Harry Potter”, com a grande Anne-Sophie Mutter, John Williams e “Vienna Philharmonic”…
Shirley Verret, mezzo soprano norte-americano
Certamente, guardamos incríveis experiências… De como fomos surpreendidos com seus truques e como esta arte nos capturou, tornando-se indispensável à existência e cotidiano… Reservei nesta publicação, algumas lembranças que representam tais descobertas, moldando o aprendizado e gosto pessoal… E procuramos mesclar o repertório, entre o leve e o denso, visto que música pode nos emocionar de diversas formas e cores interiores…
Segue “Mon cœur s’ouvre à ta voix”, da ópera “Samson et Dalila” de Saint-Saëns, na belíssima voz de Shirley Verrett…
Em geral, as primeiras experiências vem da infância e do ambiente familiar. Afinal, somos embalados com música desde que nascemos… E meu pai se esforçava na velha “canção da cavalaria”, um canto sóbrio e dolente… E nosso universo familiar incluía também tangos argentinos – “Silencio” e “Cuesta Abajo”, de Gardel; ou canções como “Maria Bethânia” de Capiba, na bela voz de Nelson Gonçalves…
Também intenso foi o contato com o folclore pernambucano. Sobretudo no carnaval de Recife, onde o frevo revelava a energia e rica polifonia das bandas de sopros. Gostava tanto de música, que ficava à frente da eletrola trocando os discos e selecionando o que mais me agradava… Nesta época, também fomos impactados pelos “Beatles” e pela “Jovem Guarda”… E lembro de cantar em quarteto vocal, na escola, “Quero que vá tudo pro Inferno”, de Roberto e Erasmo Carlos…
“Centro histórico” de Recife, PE, Brasil
A seguir, “Moraes é Frevo” (Spok), com “SpokFrevo Orquestra”…
Capa da coleção “Festival de Música Leggera”, da “Reader’s Digest” – 12 LPs, 1961
Em casa apreciava-se música, popular e erudita. E aquela eletrola, meu pai carregava desde os primeiros anos de casamento… Um belo dia, quando morávamos em Porto Alegre, final dos anos 60, apareceu com a coleção da “Reader’s Digest”… E passou a ouvir Franz Suppé, “Cavalaria Ligeira” e “O Poeta e o Camponês”, ou Johann Strauss, “Marcha Radetsky” e as famosas valsas… Enfim, eram horas de gravações com variado e acessível repertório, que ouvíamos juntos…
Segue “Festival de Música Leggera”, da “Reader’s Digest”, com 12 LPs, 1961, que permitiu a tantos iniciarem-se no repertório clássico…
Nesta época, ocorriam os “Festivais da Record” e empolgava-nos aquela nova geração de músicos, com Chico Buarque e Nara Leão, Geraldo Vandré, Vinícius, Edu Lobo e Elis Regina; até Milton Nascimento, Caetano, Gil e os Mutantes, e por aí vai… Além disto, caminhando pela av. Osvaldo Aranha, ouvíamos, das lojas de discos e dos bares, a voz de Mick Jagger em “Satisfaction”, “California Dreamin” dos “The Mamas and the Papas”, ou “América” do musical de Bernstein. A indústria fonográfica proporcionava aquela explosão cultural, conectando e mudando o mundo…
Av. Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, com o Parque Farroupilha à esquerda e, à direita, tradicional comércio de Porto Alegre, RS. Datada do sec. XIX, a avenida foi embelezada com canteiros e palmeiras imperiais…
Época das primeiras “reuniões dançantes”, quando arriscávamos os primeiros passos, tocados por canções como “Sentado à beira do Caminho” e outras. Pouco depois, iniciaria os estudos de música, aos 14 anos…
Capa LP da gravação da “Orquestra Estatal da Ópera de Viena”, dirigida por Maurice Abravanel
Finalmente, perdi a inibição e tomei a iniciativa de ouvir LPs eruditos. À época, talvez algo incomum entre adolescentes… Assim, me encantei com o colorido sonoro da “Abertura 1812”, o toque de trompete que abre o “Capricho Italiano”, de Tchaikovsky, ou o vibrante fandango asturiano do “Capricho Espanhol” de Rimsky-Korsakov… E passei a ir na “Casa Beethoven” procurar partituras e, na “King’s Discos”, adquirir LPs, então, apresentando, a meu pai, obras que ele desconhecia…
“Belcea Quartet”
Assim, conheci as célebres sonatas “patética” e “ao luar”, com Walter Gieseking. Ou as sonatas para violino – “Primavera” e “Kreutzer” – com Yehudi e Hephzibah Menuhin. Claudio Arrau, no LP duplo de Liszt, com “Anos de Peregrinação”, “Ballades”, “Sonata em si menor” e outras… E tantas obras sinfônicas e corais, como o “Réquiem” de Mozart e cantatas de Bach… Até os quartetos de cordas de Beethoven, através da magnífica programação da “Rádio da Universidade”, divulgada diariamente pelo jornal “Correio do Povo”…
Radio da Universidade da UFRGS, inaugurada em 1950, operando na faixa de 1080 kHz AM. Localizada no “Campus Central da UFRGS”, centro histórico de Porto Alegre, RS
Segue “Adagio molto e mesto” do “Quarteto Razumovsky op. 59 n°1” de Beethoven, com “Belcea Quartet” …
Tivemos vida itinerante, dado a atividade de meu pai, militar formado em letras, que lecionou francês e português nos colégios militares de Curitiba, Recife e Porto Alegre. O que nos levou interagir com algumas diversidades regionais… E lembro, vagamente, de atravessarmos o pantanal mato-grossense, final dos anos 50, num trem em direção à Corumbá, onde moramos por um ou dois anos… E podem crer, à época, aquilo parecia bem distante e isolado. Lá, conhecemos o histórico “forte de Coimbra” e ouvimos relatos, tais como de sucuris que “visitavam” a pequena vila e, por vezes, adentravam as casas… O que nos levou refletir sobre o pioneirismo e contribuição de Villa-Lobos na projeção desta imensa diversidade, através de linguagem originalíssima, unificando e conectando o país…
Seguem as “Bachianas Brasileiras n° 5” de Villa-Lobos, com o soprano Ana Maria Martínez, direção de Gustavo Dudamel e a “Berliner Philharmoninker”…
Praia de “Boa Viagem”, Recife, PE, Brasil
E mais tarde, em férias, pudemos retornar à Recife e visitar o bairro Parnamirim, após 20 anos, onde passei a infância. Quando vivíamos na rua, subíamos em árvores para colher mangas e jambos, ou compartilhávamos as “festas juninas”, com suas quadrilhas, fogueiras e balões, hoje proibidos… Além do convívio amiúde com lagartixas e formigas saúva, abundantes na época, usando simples sandálias havaianas e, nos fins de semana, indo à belíssima “Boa Viagem”…
Integrantes do “Conjunto Farroupilha” (Tasso Bangel, Alfeu, Danilo, Estrela D’Alva e Inah) na BBC de Londres, onde teriam conhecido os “Beatles”.
Época em que emocionava-nos o alegre “Gaúcho de Passo Fundo” e a aterrorizante “Coração de Luto”, do compacto de Teixeirinha; os belos vocais do “Conjunto Farroupilha”; ou “Samba em Prelúdio” de Baden e Vinícius, e “Desafinado” de Tom Jobim… Imensa gama de descobertas e estilos…
Primeira experiência erudita, ao vivo, foi com o “2º concerto para piano” de Brahms, com solo de Jacques Klein. Obra desafiante, à época, que mais tarde descobri e me encantei… Ou o belo recital de Alicia de Larrocha, na reitoria da UFRGS, com peças de Manuel de Falla…
Também marcantes foram “Prelúdio e morte de Amor”, da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner, e o “1º concerto” de Brahms, com Jean Louis Steuerman, ao piano. Obras fabulosas que conheci ao vivo e que muito me impressionaram, nas belas programações da OSPA… Nesta época, também a “Discoteca pública Natho Henn” disponibilizava amplo acervo aos aficionados e iniciantes de música. Daí a importância de políticas de estado no fomento e preservação da cultura…
Capa LP do “Concerto n° 1 para piano” de Brahms, com o argentino Bruno-Leonardo Gelber e “Munich Philarmonich Orchestra”, direção de Franz-Paul Decker.
Segue link do “Concerto n° 1 para piano” de Brahms, com Bruno-Leonardo Gelber, direção de Franz-Paul Decker e “Munich Philarmonich Orchestra” – “Grand prix du disque”, 1966…
Segue “Mild und Leise” (cena final, “morte de Isolda”), da ópera “Tristão e Isolda” de Richard Wagner, com o soprano Nina Stemme…
Emil Gilels, grande pianista russo
Outra escuta surpreendente foi a primeira audição da “Sagração da Primavera” de Stravinsky, inicialmente desconcertante, mas, nas audições seguintes, ganhando forma e sentido, na gravação de Pierre Boulez… Além da intensa emoção dos quartetos com piano de Schumann e Brahms, da sinfonia de Cesar Franck e a descoberta de “Reflets dans l’eau” e do “Quarteto op. 10”, de Debussy e todo aquele universo sonoro… Ravel veio mais tarde, com as obras para piano e o fabuloso trio, dos concertos e “Daphnis e Chloé”…
Segue “Reflets dans l’eau”, Images vol.1, de Claude Debussy, com Emil Gilels…
À época, havia certo distanciamento – espécie de “apartheid” – entre os ambientes de música erudita e as demais atividades, fossem na escola, no dia a dia, nas amizades em geral e mesmo na televisão e no rádio… De outro, aproximei vários amigos adolescentes do repertório erudito. Alguns, inclusive, passaram a me acompanhar nos concertos da OSPA, onde faziam divertidas observações, fosse pelo repertório, fosse pelo ambiente e personagens, por vezes, um tanto excêntricos e frequentadores de tais espaços… Ou mesmo, quando me acompanharam no teste do Instituto de Artes, onde segui os estudos de piano – sem contar outras estripulias, de que vou me abster…
E novas emoções viriam com os recitais da associação “Pró Arte”, no antigo “Theatro São Pedro” e no “Teatro da Assembleia”, onde assistimos grandes nomes do piano brasileiro, como Antônio Guedes Barbosa, Arthur Moreira Lima e Nelson Freire, todos oferecendo variado repertório, de Bach, Mozart e Beethoven; passando por Chopin, Schumann, Brahms e Liszt; até Debussy, Ravel, Scriabin e Prokofiev. Sem esquecer Villa-Lobos e Ernesto Nazareth…
Nelson Freire e Martha Argerich, grandes pianistas e amigos fraternos. Nossa homenagem ao grande músico, referência internacional da cultura e do Brasil, que nos deixou recentemente…
Segue link de Nelson Freire, na “Melodia de Orfeu e Euridice”, de Gluck-Sgambati…
Com o tempo, o cinema aproximou a música erudita do grande público. Tivemos “2001, uma Odisséia no Espaço”, “Laranja Mecânica” e outros, de Stanley Kubrick; “Apocalipse now”, com música de Wagner; ou “Excalibur”, popularizando “Carmina Burana” de Carl Orff… Além de diretores como Bergman, Tarkovsky e Eisenstein. E descobrimos filmes da década de 50 e 60, como o lindo “Rapsódia”, com Elizabeth Taylor e Vittorio Gassman; ou “Sonho de Amor” e “À noite Sonhamos”, seguido do LP de Jose Iturbi, com música de Chopin… Além dos musicais e o mundo de Disney, com “Fantasia” e tantos desenhos cativantes…
Alfred Hitchcock e Bernard Herrmann
Especialmente empolgantes eram as trilhas sonoras originais, de filmes épicos e românticos, “western” e suspense, espionagem e outros, que nos fascinavam e aguçavam a imaginação… E a lista de compositores é imensa, desde Chaplin, Bernard Hermann, Richard Rogers, Morricone, Mancini, Miklós Rózsa, até John Williams, Maurrice Jarre, John Barry, Lalo Schifrin, Gabriel Yared e muitos outros…
Segue “Scene d’amour”, composta por Bernard Herrmann para o filme de Hitchcock, “Vertigo”, com a “Philarmonic de Los Angeles”, dirigida por Esa-Pekka Salonen…
Finalmente, a ópera e a descoberta do canto. De início, o canto coral é atividade muito gratificante, onde experimentamos os efeitos da harmonia, da polifonia e das cores vocais… E, depois, adentramos o repertório lírico e as grandes vozes… Assim, tivemos “Tannhauser” e “Lohengrin”, de Wagner, “Carmem” de Bizet, e “La Traviata” de Verdi, encenadas pela OSPA, nos anos 70… Além do “Centro Musical da PUC”, que manteve, ao longo dos anos, uma variada programação com coro e orquestra…
Segue “Ah, dite alla giovine”, da ópera “La travita” de Verdi, com Ermonela Jaho (soprano) e Dmitri Hvorostovsky (barítono)…
Capa do “Réquiem” de Verdi, com Violeta Urmana (soprano) e direção de Semyon Bychkov
Numa época em que o acesso à literatura, às partituras e gravações era bem limitado e dispendioso, apenas com o tempo, à exemplo da antiga “Reader’s Digest”, surgiram novas coleções, mais acessíveis e disponibilizadas por editoras brasileiras, além de programas de televisão com excelente programação… Hoje, a internet mudou tudo e incrível acervo está disponibilizado em tempo real, levando à novas formas de fazer e ouvir música…
Por fim, compartilhamos trecho final da “Grande Missa de Réquiem”, de Verdi, cujo texto diz: “Libera me, Domine, de morte æterna, in die illa tremenda” (Livra-me, senhor, de morte eterna, naquele dia terrível), um dos monumentos da arte musical…
Seguem os dois links de “Libera me”, do “Réquiem” de Verdi, com Violeta Urmana (soprano) e direção de Semyon Bychkov. A gravação contou também com Olga Borodina (mezzo-soprano), Ramón Vargas (tenor) e Ferruccio Furlanetto (baixo), além da “WDR Sinfonieorchester Köln”, “WDR Runfunkchor Köln”, “NDR Chor” e “Chor des Teatro Regio Turin”…
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Parabenizamos o P.Q.P. Bach pelos 15 anos de atividade!
“Música é vida interior. E quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão.” (Artur da Távola)
Cresci num mundo analógico, do Super-8, VHS, Fita K7, computadores TK-90 e programação em BASIC, longe da ilusória onipresença da internet e dos dispositivos móveis. E, na busca pelo conhecimento e cultura, só restavam os livros e os discos. Nesse mundo, os LPs de música clássica eram objetos de desejos quase intangíveis, os melhores eram importados e economizava-se meses para poder dispor de algumas pérolas do repertório. Para nós, jovens ávidos pela descoberta de novas sonoridades em cada obra, a rádio era uma realidade cotidiana, mas servia apenas ao espírito aventureiro de desbravar horizontes longínquos, já que a contemplação de uma determinada obra, uma vez apreciada, estava condicionada à sua repetição eventual numa grade de programação bastante eclética.
(A Rádio Cultura FM de S. Paulo teve papel importante nessa formação, e deixo aqui meus sinceros agradecimentos a seus colaboradores – especialmente Alfredo Alves – que me ensinaram até a pronúncia dos compositores tchecos)
Mas quando ouvia uma obra interessante na rádio, e queria saber mais sobre a obra, o compositor, sua história, suas outras obras, conhecer mais, o que fazer? Como achar? Bibliografias distantes em alemão, discos a peso de ouro, caríssimas revistas importadas? Não! Haviam as coleções de bancas de jornal!
A mais antiga que conheço foi iniciativa da então Abril Cultural, um braço da Editora Abril: “Grandes Compositores da Música Universal”, lançado em 1968. Uma capa branca, com o nome do compositor em letras garrafais, foi a primeira e única coleção que tenho notícia cujo primeiro fascículo, o de lançamento, foi dedicado a Tchaikovsky. O Concerto no.1 devia ser realmente muito popular a esta época. Em seguida veio Beethoven, Chopin, e daí em diante uma ordem mais característica. As gravações disponibilizadas eram genéricas, oriundas de catálogos obscuros, com intérpretes antigos e registros monaurais, de sonoridade sofrível. Mas o que chamava muito a atenção era o encarte. Sim, o encarte era uma maravilha! Consultores como Souza Lima, Camargo Guarnieri, Edino Krieger, Isaac Karabtchevsky e Diogo Pacheco fizeram desta uma coleção inesquecível. Para leitura.
Faltava, claro, gravações de maior qualidade. Mas o público tinha sido fisgado, era questão de tempo.
Em seguida, já na década de 80, a mesma Abril Cultural, solitária pioneira no gênero, lançou a mais famosa das coleções: “Mestres da Música”. Com cada fascículo lançado quinzenalmente, ela teve 2 edições seguidas – áureos tempos -, uma primeira em 1979 com uma barra colorida emoldurando a parte superior da capa, e outra em 1983 sem as cores e o nome do compositor em maior destaque, apesar das obras e do restante da diagramação se manter. As capas tinham várias cores e atraíam muito mais atenção. Os textos, mesmo não contando com tantas colaborações ilustres como a coleção anterior, eram feitos segundo consultoria do eminente crítico J.Jota de Moraes, o que trazia uma leitura confortável e esclarecedora. As gravações eram de melhor qualidade, pelo menos já em estéreo, mas também de catálogos esquecidos nos fundos das gravadoras, mais baratos e bem genéricos. Alguns intérpretes acabaram se tornando maestros e solistas festejados, outros nunca mais se ouviu falar.
Foi a primeira vez que ouvi Claudio Abbado e Alfred Brendel, por exemplo, mas também nunca mais soube de Hanspeter Gmur, Stanislaw Skrowaczewski ou de Rolf Reinhardt – nomes obscuros até hoje. Entretanto, a coleção deve ter sido um estrondoso sucesso, pois a encontrava em casas as mais diversas em termos de gostos musicais, e mesmo pessoas que não tinham nenhum contato com música clássica possuíam pelo menos um ou dois fascículos.
Mas ainda eram gravações, de forma geral, antigas e de catálogo duvidoso. Na verdade isso não importava muito, pois para esse tipo de coleção, o público era leigo e sua principal tarefa seria a de introduzir ao interessado o mundo da música clássica. E isso ela fez muito bem.
Mas conforme eu ia adentrando esse universo, essas gravações pareciam realmente insuficientes, a rádio já mostrava as primeiras gravações em CD (“gravação digital, com leitura por raio laser”, anunciava o locutor com pleno orgulho da novidade), e esse universo passou a ser mais relevante, deixando as coleções apenas com o mérito do texto, novamente.
Nesse ínterim, no intervalo das duas edições do “Mestres da Música”, chegou ao Brasil em 1983 a representação da editora espanhola Salvat, quebrando o monopólio da Abril de coleções de música clássica em bancas de jornal. A “Enciclopédia Salvat dos Grandes Compositores” foi um marco indelével na história das coleções, trazendo um texto denso, profundo – por vezes ininteligível e prolixo – mas também gravações de altíssimo nível. A editora espanhola tinha acordos com a PolyGram, e disponibilizou registros do catálogo da DG, DECCA e PHILIPS, coisa impensável neste lado do atlântico. Herbert von Karajan, Kurt Masur, Claudio Arrau, Wolfgang Sawallisch, Eugen Jochum e Bernard Haitink eram figuras comuns nos volumes, e, finalmente, comprávamos esses fascículos mais pela gravação que pelo próprio texto. Aliás, o texto também era problemático porque era contínuo, ou seja, você precisava fazer TODA a coleção – que não era pequena – para ter o texto completo. Ele começava num fascículo e terminava em outro. Mas finalmente tínhamos uma coleção de banca de jornal – isto é, acessível economicamente – com grandes registros da era de ouro da indústria fonográfica. Algumas dessas gravações são referência para mim até hoje. A cereja do bolo era o fato da coleção ser disponível em LP e K7.
Não sei exatamente se por alguma questão de concorrência invejosa ou simples lógica de mercado, logo depois, quando ainda “Mestres da Música” mal tinha acabado seus últimos fascículos, a Abril contra-atacou a Salvat com seu último trunfo de coleções de bancas: “Mestres pelos Mestres”, de 1984. Era uma coleção que mantinha um texto discreto, confortável e funcional, editado dos originais da coleção anterior, mas investia na qualidade das gravações, trazendo, pela primeira vez, o intérprete em letras garrafais, acima do próprio compositor. E agora, sim, havia um acordo da Abril com a Polygram, EMI e a CBS (para invejar a Salvat mesmo), lançando pérolas de catálogo a preços totalmente acessíveis.
Por motivos que não saberia descrever com propriedade (talvez o próprio excesso de coleções quase simultâneas, saturando o mercado), a coleção mais promissora da Abril naufragou no meio de sua empreitada, e ela nunca foi lançada na sua totalidade em bancas de jornal, tendo sido anunciado o fim da coleção no vigésimo fascículo. Tenho notícias de fontes remotas (e duvidosas) que a coleção completa foi depois disponibilizada por assinatura – apenas para interessados que já eram assinantes de outros veículos – mas não tenho certeza dessa informação.
O fato é que “Mestres pelos Mestres” foi a última das grandes coleções de bancas que consumimos com grande entusiasmo, não só para conhecer os compositores e as obras, mas também para ouvi-las com grandes intérpretes. Depois, a então renovada Nova Cultural lançou uma bem menos convidativa coleção italiana apenas em fita K-7 (“Clássica – a história dos gênios da Música”, de 1988, que eu saiba teve alcance bem mais modesto), e depois foi a vez da era do CD com o catálogo encalhado da DG no DG Collection, da também espanhola editora Altaya (mas que tinha textos incongruentes, para dizer o mínimo). O canto do cisne, me parece, foi quando a Abril ainda cavalgou nos descampados do CD nos idos de 1998-9 com uma pequena coleção chamada “Grandes Compositores”, em parceria com o grupo TIME-LIFE, acompanhando tendências internacionais. Mas aí já não havia nada além do próprio encarte do CD, sem textos mais densos e biografias mais profundas. Essa, com uma capa de design pífio, uma arte medonha e diagramação nula – apesar das excelentes gravações – , foi o desfecho de uma era de ouro das coleções de bancas.
A próxima geração que de certa forma promoveu o revival desta era de ouro no formato CD – de maneira modesta em termos comparativos gerais – foi da parceria com o jornal Folha de S.Paulo, que lançou três importantes coleções: “Coleção Folha de Música Clássica”, que retomava o formato de biografias suscintas com gravações de baixa circulação – na verdade uma reedição da coleção inglesa Royal Philharmonic Collection, mas com capas neutras bem pouco inspiradoras – e depois “Coleção Folha Mestres da Música Clássica”, essa sim que procurava unir bons textos com bons intérpretes novamente. Usando o mesmo catálogo disponível pela TIME-LIFE anteriormente, foi o mais próximo da experiência proporcionada no “Mestres pelos Mestres”, mas numa era em que a música distribuída pela internet começava a despontar, minguando a experiência da novidade. Uma terceira versava especificamente sobre Ópera (“Coleção Folha das Grandes Óperas”, também uma reciclagem em CD de uma tentativa anterior da Abril no LP) e também trazia gravações antigas de catálogo, encalhes das grandes gravadoras, algumas em registro mono – apesar de boas interpretações.
A Abril, através da equipe da Revista BRAVO!, já no fim do campeonato (e da vida) deu seu último suspiro do gênero lançando, em parceria com uma gravadora alemã chamada NAXOS, um revival da sua primeira experiência: “Grandes Compositores da Música Clássica” (a anterior de 1968 era da “música universal”). O problema era a gravação: a NAXOS se notabilizou como fenômeno de vendas num cenário francamente decadente por disponibilizar gravações baratas com intérpretes desconhecidos, alguns surpreendentemente bons, mas outros de gosto notoriamente duvidoso, em suma: uma loteria. Essa coleção tem exatamente essa característica.
Todas essas empreitadas de uma provável “nova era” das coleções foram definitivamente ofuscadas pelo avanço da tecnologia da distribuição de música pela internet, notadamente por streaming, cuja tendência foi largamente confirmada pelas imensas plataformas do Spotify, iTunes music e demais soluções no gênero. A era do CD já nasceu com seus dias contados. (para melhor explicar esse fenômeno, sugiro o ótimo livro de Norman Lebrecht, “Maestros, Obras-primas e Loucura: a vida secreta e morte vergonhosa da indústria da música clássica”)
Nesse cenário, essas coleções foram cultivadas com bem menos entusiasmos pelas novas gerações de ouvintes – a quem elas se destinavam prioritariamente. Apesar disso, sobrevive o texto de todas elas, já que introduz o leigo neste universo. Mas devo confessar: os textos da Abril da era dourada são ainda os que eu mais gosto.
Para os entusiastas e/ou saudosistas que têm a lembrança do impacto do “Mestres pelos Mestres”, compartilho aqui seus fascículos de minha época de descoberta desses clássicos, que tanto me marcaram. Gostaria de postar todos, mas infelizmente, nem todas as gravações foram lançadas em CD, algumas foram apenas em coletâneas comemorativas gigantes de alguns dos intérpretes, outras nunca foram. A Sonata de Liszt por Lazar Berman, por exemplo, nunca foi lançado em CD nem mesmo na caixa das gravações de Berman pela DG. Mas as que eu consegui reunir, aqui deixo disponibilizado para download, os fascículos escaneados e as gravações, em MP3.
Bach: Cantatas nos.11 (Oratório da Ascensão) & 44
Solistas: Edith Mathis, Anna Reynolds, Peter Schreier, Dietrich Fischer-Dieskau
Regente: Karl Richter
Coro e Orquestra Bach de Munique
Selo: DG (Gravação de 1975) Download Textos do Fascículo Download Disco MP3 320Kbps 122,1Mb
Estava absorto em meio aos afazeres do meu trabalho, mas o telefone insistia em tocar. Não quis atender nas primeiras vezes, pois vinha com DDI de outro país.
“Deve ser trote, golpe”, pensei.
De tanto que o aparelho insistia em vibrar, parecendo uma tupia em cima da minha mesa, resolvi aquiescer aos caprichos do telemóvel. Atendi.
– Monsieur Pequepê? – uma voz estranha perguntou.
– Pois não? É ele – respondi, sem muita empolgação.
– Je soube que o senhorr está completando quinze anôs de seu maraveilleuse blog! Prrecisamos fazer uma comemorraciôn desse début!
“O que é isso? O Jacquin me ligando?”, imaginei franzindo o cenho e tapando o fone do aparelho…
– Sim… Mas… Quem é que está falando?!
– André Rieu, monsieur Pequepê! Non está me reconociendo?
– Baaaah… (entre perplexo e incrédulo, só me sobrou a exclamação).
– Non se prreocupe, monsieur Pequepê! Je já preparrê uma prrogramaciôn muito especial parra essa data ton festiva! Te enviê algo mui adequado parra este début! Una fête com um reperrtórrio todo especial parra sus quinze anôs de blog! Monsieur merece um début em gran estilô!
Tu tu tu tu tu…
Rieu desligou todo empolgado.
Fiquei de boca aberta olhando para as prateleiras por um tempo. Situação estranha! Bah!
Depois, conferindo meus e-mails, eis que a “programaciôn especial” de Rieu estava na minha caixa de entrada. Como, embora temperamental, eu não gosto de fazer desfeitas, está aí o presente que Monsieur Rieu preparou para o PQPBach na nossa festa de debutante!
PQP, 15 anos! Quem diria…
André Rieu (1949)
Valses (1997)
Dmitri Shostakovich (1906-1975)
1. Valsa nº 2 John Strauss II – Franz Léhar – Emmerich Kálmán
2. Como um espírito alegre – Danúbio Azul – Rosas do Sul – Sangue Vienense – Lábios em silêncio – Quero dançar – Rosas do sul Johann Strauss II (1825-1899)
3. Sob Trovões y relâmpagos Anton Karas (1906-1985)
4. O terceiro homem Emmerich Kálmán (1882-1953)
5. Ven Zigány Josef Strauss (1827-1870)
6. Andorinhas da Áustria Franz Léhar (1870-1948)
7. Canção de Vilja Johann Strauss II (1825-1899)
8. Vida de artista
9. Marcha persa Ralph Benatzky (1884-1957)
10. Em um Cavalo branco Rudolf Sieczynski (1879-1952)
11. Viena, Viena, somente tu Ferry Wunsch (1901-1963)
12. Heut’ kommen d’Engelrn auf urlaub nach Wien Ludwig Gruber (1874-1964)
13. Minha mãe era vienense Johann Strauss II (1825-1899)
14. Rosas do Sul
Gravado na Espanha
Johann Strauss Orchestra
André Rieu, regente
1997 (CD)
Aproveito a efeméride para repensar minhas motivações para participar do blog. Com minhas postagens pretendo apresentar o tipo de música que me dá prazer, que aprecio e me move. A postagem precisa trazer alguma centelha, precisa de um motivo, que pode até transformar-se em um leitmotiv.
No caso desta postagem, como estamos comemorando os 15 anos do PQP Bach, vamos de valsa – afinal, até as filhas do velho Bach debutam!
Além do tema, é preciso de um disco (ou mais do que um) para fazer a postagem. Como eu adoro música com piano, ele quase sempre está presente… Assim, chegamos aos intérpretes, estes mediadores imprescindíveis para quem, como eu, não pode fazer a própria música. Eu sou avesso às unanimidades, basta que alguém seja por demais venerado para que eu o coloque na geladeira, por uns tempos. Mas, vamos aos discos!
Chopin & Ravel:
Valsas & Valses nobles et sentimentales
Stephen Kovacevich
Valsas de Chopin e Ravel interpretadas por (pasmem!) Kovacevich! Pois é, o cara é uma destas unanimidades, mas costuma ser ouvido por aqui em outro repertório, Beethoven, Schubert, Brahms…
Stephen contando para o pessoal do PQP Bach como gostou de participar da efeméride…
Este disco comprei com relutância (se fossem as Baladas, eu teria saltado sobre ele). O disco foi comprado no tempo em que a expansão da CDteca se dava a altas expensas e os investimentos eram cuidadosamente medidos e estudados. As Valses nobles et sentimentales do Maurice deram o empurrãozinho que faltava e o investimento rendeu muitas horas de prazer, e ainda rende! Nas primeiras semanas lá em casa, o disco não saia da vitrola…
Ouça de olhos fechados. A sequência das Valsas de Chopin que ele adota não é a convencional e a chegada do Ravel é uma transição deliciosa.
Para a próxima entrada, escolhi um disco com música de vários compositores, foco no intérprete!
Yuja Wang: Transformation
Stravinsky, Scarlatti, Brahms e Ravel
Acho fundamental ouvir novos artistas, sem expô-los à malvada comparação com antigos e bem estabelecidos. Manter ouvidos abertos e ter uma perspectiva atual pode render muitas horas agradáveis. É claro que entre os muitíssimos novos intérpretes, multiplicados tanto pelo número de pessoas talentosas que podem se dedicar à música, quanto pelos avanços das tecnologias, que permite que seus trabalhos sejam gravados e mais facilmente divulgados, há vários que fenecem por razões diversas, assim como aqueles que são afetados pela superexposição midiática. Quando as coisas passam do ponto, à lá Lang Lang, eu fico reticente. Mas adoro a Yuja Wang desde criancinha e este disco, um pouco pioneiro nessa onda de marketing de oferecer mais o artista do que o compositor, é ótimo!
Yuja foi experimentar o piano do PQP Bach Great Hall e deu trabalho para a brigada anti-fogo
As obras de Stravinsky e Brahms são belíssimas e demandam dedos a um tempo tecnicamente virtuosos e sensíveis. Nomes como Alexander Toradze, Maurizio Pollini, Julius Katchen ou Evgeny Kissin vêm à mente. Mas a Yuja Wang é pianista capaz de satisfazer os ouvintes deste time…
As lindas Sonatas de Scarlatti estão aí para revelar todo o talento da moça que também dá um show nos 11 e tantos minutos finais, tocando La Valse de Maurice!
Igor Stravinsky (1882 – 1971)
Petrushka
Danse russe
Chez Pétrouchkha
La Semaine grasse
Domenico Scarlatti (1685 – 1757)
Sonata em mi maior K. 380
Sonata: Andante comodo
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Variações sobre um tema de Paganini em lá menor, Op. 35
Ao som da Chicago Symphony Orchestra todos valsam lindamente
Eu também gosto de músicos que vivem um pouco à margem dos holofotes, menos expostos aos clangores das mídias. O próximo disco traz o excelente pianista sueco, Olof Höjer interpretando música de Satie.
Satie (1866 – 1925):
Peças para Piano
Olof Höjer
Temos aqui as peças mais divulgadas de Erik, as Gymnopédies e as Gnossiennes, que não poderiam estar fora de uma antologia. Isto porque Olof Höjer é estudioso dedicado da obra de Satie e gravou todas as suas peças.
Mas eu fico com este resumo e indico a peça que eu mais gosto e que faz a conexão com a postagem de hoje, a valsa Je te veux. Esta é a motivação para que juntar mais este disco ao ramalhete que hoje ofereço à nossa debutante de 15 anos. Ah, eu não consigo ouvi-la uma só vez e insisto para a Alexa, como diria Humphrey, play it again, Sam (Alexa)!
Erik Satie (1866 – 1925)
3 Gymnopédies: I. Lent et douloureux
3 Gymnopédies: II. Lent et triste
3 Gymnopédies: III. Lent et grave
Gnossiennes: I. Lent
Gnossiennes: II. Avec étonnement
Gnossiennes: III. Lent
Gnossiennes: IV. Lent
Gnossiennes: V. Modéré
Gnossiennes: VI. Avec conviction et avec une tristesse rigoureuse
Pièces Froides, No. 1. Airs à faire fuir: I. D’une manière très particulière
Pièces Froides, No. 1. Airs à faire fuir: II. Modestemente
Pièces Froides, No. 1. Airs à faire fuir: III. S’inviter
Pièces Froides, No. 2. Danses de travers: I. En y regardant à deux fois
Pièces Froides, No. 2. Danses de travers: II. Passer
Pièces Froides, No. 2. Danses de travers: III. Encore
Para fechar o cortejo, não poderia faltar um jurássico, pois que sempre que vamos ao museu, visitar os ídolos do passado, encontramos muitos bem caídos e até amarelados, alguns mesmo que ficaram horrendos.
Strauss:
Valsas
Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
Mas há alguns que, como naquele juvenil filme de seção da tarde, retornam a vida sempre que o momento oportuno lhes é concedido. Fritz Reiner é um destes. Figura realmente presa ao passado, do ponto de vista da maneira como lidava com os músicos que trabalhavam com ele, com práticas que hoje seriam consideradas no mínimo inapropriadas e ficaram sepultadas no tempo. E o que retorna à vida são alguns de seus discos. Entre eles essa singularidade com Valsas de Joseph e Johann (II) Strauss.
Fritz esbanjando seu conhecido bom humor
Não subestime estas peças – há mais nelas do que você pode crer. Olhe-as com os olhos do Fritz. Veja o que disse deste disco o arguto Olivier Le Borgne: “Fritz Reiner leva a sério essa assim chamada música leve; como Brahms ou Schoenberg, que admirava o Strauss de Viena, ele sabe que por trás do sincopado três vezes estão sentimentos nobres, até mesmo profundas ansiedades existenciais.”
Lembre-se que Stanley Kubrick, que sabia tudo de cinema e muito de música, usou uma das peças deste disco em um momento especial de seu grande filme, 2001. Veja, já se passaram vinte anos, quinze dos quais com o PQP Bach encantando nossos seguidores…
Johann Strauss II (1825 – 1899)
Rosen aus dem Süden, Op. 388 (Roses from the South)
Kaiser-Walzer, Op. 437 (Emperor Waltz)
Morgenblätter Walzer, Op. 279 (Morning Papers)
Künstlerleben, Op. 316 (Artists’ Life)
Josef Strauss (1827 – 1870)
Dorfschwalben aus Österreich – waltz, Op. 164 (Village Swallows from Austria)
Johann Strauss II (1825 – 1899)
An der schönen, blauen Donau, Op. 314 (On the Beautiful Blue Danube)
Wiener Blut Waltz, Op. 354 (Vienna Blood)
Schatz-Walzer, Op. 418 (Treasure Waltz)
Josef Strauss (1827 – 1870)
Mein Lebenslauf ist Lieb’ und Lust (My Life is Love and Laughter)
Johann Strauss II (1825 – 1899)
Unter Donner und Blitz, Op. 324 (Thunder and Lightning – Polka)
Sobre o disco do Kovacevich: Only topped by Lipatti & Rubinstein
This is a truly brilliant and splendidly played set of Chopin’s Waltzes, bettered only by those of Lipatti and Rubinstein. However, the sound on this set is much better if that’s your thing. I must admit that until recently the only Kovacevich material I owned was his Beethoven concertos. I have since discovered that he has a wealth of very fine recordings, from Grieg and Schumann’s concertos to the Diabelli Variations (1968) and Beethoven’s sonatas. So, thanks to this disc and the above mentioned, I’ll be checking more into his recordings from the 60’s and 70’s especially. (J. Grant)
Des valses de Chopin ou Ravel qui prennent une dimension grandiose entre les mains de ce pianiste d’exception. A consommer sans modération ! (Megetoile)
Há críticos que discordam… Jed Distler, por exemplo, reclama de certas excentricidades. Bom, é com vocês a decisão. Eu fico com a opinião anterior, pode ser consumido sem qualquer moderação!
O PQP Bach (o blogue, claro, não o chefinho) chega hoje a seu baile de debutantes (por cuja trilha sonora, garanto, não perderão por esperar!), enquanto dou-me conta de que minha relação com ele (o blogue, não o chefinho, que eu só conheceria depois) já dura quase tanto quanto seus frescos quinze aninhos.
O blogue, afinal, tinha só algumas semanas de vida quando eu dele baixei a “Música para o Funeral da Rainha Mary”, de Purcell, na bela leitura de Gardiner (vão lá, que eu renovei o link). Estava à sua caça havia muitos anos e estava tão contente por consegui-la (pois os jovens entre vós nunca saberão o que era aguardar semanas para seu disco baixar no eMule, só para então descobrir que o arquivo era, na verdade, um filme mucosamente explícito) quanto surpreso com que alguém, sem nada ganhar com isso, resolvesse compartilhá-la com uma turba anônima.
Em breve, além das músicas, também textos passariam a brotar da cornucópia pequepiana. Eu, outrora jovem e com muito tempo livre, mudei-me então para perto dela, a fim de que meus sentidos recebessem, sem anteparos, seus bem-humorados jorros. Por muitos anos, admito, eu fui um mero comensal, talvez um parasita, um sanguessuga, um chupim que tudo baixava, quase tudo ouvia, e nada comentava. Até me passou pela cabeça pedir para colaborar, mas ficava um pouco intimidado com aquela exibição impressionante de acervos fonográficos e textos afiados – mais ou menos como um menino a ver Messi e Cris Ro baterem uma bolinha sem nem sonhar como ter a cara de pedir para jogar com eles.
Não me furtava, no entanto, a acompanhar os longos fios de comentários. Desprezando o eventual pedante, que sempre dá as sebosas caras a desalmoçar regra para os outros, eu dava gargalhadas com as colaborações dos leitores-ouvintes (porque assim o blogue decidira chamá-los), que variavam do escracho arreganhado ao surto colérico. Nesse sentido, nada – nada MESMO – foi capaz de superar o ranger dos dentes que se seguiu à postagem do Malmsteen, nem mesmo as bissextas profecias, como a daquele vate após a inesquecível postagem de Saint-Preux:
– Sério, é o PQP chegando ao fundo do poço. O próximo é Richard Clayderman? TEREMOS RIEU?
[pano rápido]
ooOoo
Anos se passariam até que o fã obsessivo e fingidamente letárgico tivesse sua deixa: ganhei a oportunidade de conhecer o PQP Bach (agora sim o chefinho). Ganhei, não, orquestrei-a, após um ardiloso esquema que envolveu descobrir quem era sua esposa, transformar-me em contato dela numa rede social e – atenção para o calculismo quase psicopático – tornar-me amigo de ambos, entre imensas pilhas de conchas de moluscos bivalves, dir-se-iam sambaquis contemporâneos. O bote final não tardaria: eu arranjei uma caixa cheinha de gravações de Chopin, compositor que sei que o patrão odeia, e lhe mandei. Expliquei que era uma edição relevante, Instituto Chopin de Varsóvia, e bibibi, e porque tu não postas isso, e bobobó, até que ele, enfim, sucumbiu:
– Por que tu não entras no blogue e postas isso tu mesmo?
– Já é.
😎
ooOoo
Entrei, enfim, para o blogue – produto mais notável do portfólio da já poderosa PQP Corp. Como bom novato, cometi meus sem-fins de babadas e gafes até ganhar algum prumo. Sonhava com um lugar de destaque, quiçá do lado direito do capo dei capi no mesão de reuniões lá da cobertura da PQP Tower. No entanto, apesar de prolífico e com fama de gozadinho, entrei para o folclore como um sujeito que até comete postagens bacanas, mas é preguiçoso e pouco confiável, porque produz em surtos. MEA MAXIMA CVLPA: de fato, pouco publiquei entre 2015 – quando meu afã de estagiário me fez postar diariamente por um semestre – e 2020 – ano do jubileu daquele renano cujo nome não pronunciarei, posto que lhe ofereci toda minha linfa em sacrifício.
Assim, assisti resignadamente a ascensão, apogeu e glória de meus colegas de blogue. Vejo sentado à mesa, à direita do patrão, o outro decano do blogue: FDP Bach, irmão do chefe, sobre o qual jamais pairou qualquer acusação de nepotismo, dada a magnitude de seu legado de postagens, proporcional a seu pantagruélico acervo de gravações (“olhem só, preparei uma postagem de Fulaninho regendo a sinfonia de Beltraninho com a Filarmônica Jovem de Cacimbinhas”, “ixe, acho que FDP Bach já postou isso em 2007”, só para só constatarmos que, sim, FDP Bach postara aquilo em 2007). Vi meu sonhado lugar ao lado de Herr Peter Qualvoll Publizieren ser ocupado pelo formidável René Denon, um gentil cavalheiro que, além de preparar belíssimas publicações com uma frequência e regularidade que me dão certeza de que ele teria muito futuro no ramo das Exatas, ainda elogia a camisa do chefinho e lhe deseja saúde antes mesmo de espirrar. Sem dúvidas, um homem de aguçada visão corporativa.
Também vejo em seus lugares cativos o elegante Pleyel, que começou como leitor-ouvinte e, ao contrário de mim, soube entender as responsabilidades inerentes à colaboração com a PQP Corp; o boa praça Chucruten, virtuose das postagens comparativas, e o jovem Luke D. Chevalier, que, como as águas de março, é promessa de vida no coração. Pranteio, e seguirei pranteando, o passamento de nosso querido Ammiratore, desgraça terrível para a qual o único unguento tem sido o trabalho monumental e reverente que o Alex DeLarge tem feito, ao prosseguir aquele xodó de nosso falecido amigo, a integral da obra de Verdi. E, enquanto passo rodo no chão e preparo os cafezinhos, vejo passarem lendas vivas como o sábio monge Ranulfus, o fleumático Carlinus, o valente Bisnaga (valente?, perguntam vocês: SIM, ele é o homem que POSTOU SAINT-PREUX!), o não menos bravo Strava (que postou ZAMFIR!), e colaboradores menos assíduos, mas de participações sempre memoráveis, como Itadakimasu, nosso especialista na moderna música brasileira de concerto, e o infalível Wellbach, que nunca comparece sem legar-nos algo de antológico.
Ao ver tantas sumidades reunidas, enxugo o rodo e saboreio a resignação: afinal, sou feliz entre eles, e só tenho que ser grato à PQP Corp. por me ter proporcionado trampo e uniforme, alimento e água potável, uma jaulinha limpa no 3º subsolo da PQP Tower – e aquele broche de chapeiro-sênior de que tanto me orgulho.
ooOoo
Para que não me acusem de não falar de música (que preconceito contra chapeiros-sêniores, hein?), resolvi aqui revisitar minha primeira postagem no blogue.
Admito que me vem um sorriso nostálgico cada vez que a releio, e uma nesguinha de luz positiva rasga minha habitual autocrítica, que reconhece que fui razoavelmente feliz em minha crônica sobre a vida dos melômanos no começo dos anos 90. Escutei tantas vezes gravação em questão – as suítes para violoncelo solo de J. S. Bach por Julius Berger, num instrumento de cinco cordas – que por anos ela me serviu como “gabarito” para todas as outras que viria a ouvir. Com a chegada de meus grisalhos, e principalmente com a expansão de meus horizontes musicais (que, por óbvio, muito deve a este blog), percebi que ela talvez não fosse tão boa assim, e permiti que muitas outras (a maioria das quais, claro, encontrei aqui) lhe tomassem o quinhão de minha preferência.
Felizmente, imagino que Berger chegou à mesma conclusão, e que ela o levou a revisitar essas maravilhosas suítes em duas outras ocasiões.
Na primeira revisita, ele toca um precioso violoncelo Guadagnini de 1780 nas cinco primeiras suítes, e retoma o violoncelo de cinco cordas para tocar a sexta, escrita especificamente para um instrumento desses. O resultado é um som mais pleno e caloroso, com o microfone próximo captando atraentes ruídos de “marcenaria”, muito melhor que aquele um tanto seco da gravação anterior, e com a vocação coreográfica dos movimentos de dança muito mais evidente.
Na segunda, que intitulou “Choräle”, Berger toma a arrojada decisão de dividir as suítes em três séries e abrir cada uma delas com excertos de “One8”, de John Cage (composta para violoncelo solo com arco curvo), aos quais sobrepõe melodias de corais que encontrou insinuadas nos prelúdios das suítes, entoadas por seu filho, Immanuel Jun. Esses “prelúdios aos prelúdios”, que variam do etéreo ao fantasmagórico, preparam maravilhosamente a afirmação tonal das insuperáveis obras de Bach e me fazem pensar que o intérprete, talvez, tenha se embriagado na mesma fonte que, há quinze anos, nutre este blogue: aquela que o leva, entre colapsos de servidores e eventuais chuvas de tomates, e sem uma lhufa sequer de consideração por ouvidos embolorados, a polinizar beleza pela cyberesfera.
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Seis suítes para violoncelo solo, BWV 1007-1012
Julius Berger, violoncelo
PRIMEIRA VERSÃO
Gravação realizada na igreja de Steingaden, Alemanha, em 1984 – Selo Orfeo
Gravada na Christkönigskirche des Regens-Wagner-Stifts, em Dillingen, Alemanha (2016).
Selo Solo Musica.
Com excertos da composição “One8”, para violoncelo solo com arco curvo, de John Cage (1912-1992)
Soprano infantil: Immanuel Jun Berger
CD1: trecho de “One8” (John Cage) + Coral “Von Himmel hoch da komm ich her” (Martin Luther) + Suítes nos. 1 & 2 BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD2: trecho de “One8” (John Cage) + Coral “Gelobt sei Gott im höchsten Thron” (Melchior Vulpius/Michael Weisse) + Suítes nos. 3 & 4 BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD2: trecho de “One8” (John Cage) + Coral “O Haupt Voll Blut Und Wunden” (Johann Crüger/Paul Gerhardt) + Suítes nos. 5 & 6 BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Leitores-ouvintes de espírito aventureiro e ouvidos abertos à descoberta estão convidados a clicarem a imagem para baixar a integral de “One8” de John Cage, interpretada pelo dedicatário, Michael Bach, inventor de um arco curvo chamado BACH.Bogen, cujos recursos expressivos e harmônicos são amplamente explorados na peça de pouco mais de 40 minutos
Essa postagem foi minha estréia no PQPBach. Incrível que já tenha se passado tanto tempo, como diz a famosa expressão, “o tempo passa, o tempo voa”. Podemos nos orgulhar de sermos um dos primeiros blogs de música clássica no Brasil, anteriormente conversávamos em grupos especializados no saudoso Orkut, e foi ali que conheci o próprio PQPBach. Trocamos alguns Cds, discordamos sobre algumas gravações e imediatamente nos tornamos amigos. Eu recém tinha me formado, e também me mudara de cidade, e batia perna distribuindo currículos. No estresse do dia a dia, postar no PQPBach foi uma forma de relaxar, ouvir novamente meus discos favoritos, e conversar com pessoas que tinham o mesmo gosto que o meu. Até então, eu era apenas um melômano, colecionava discos, gastando praticamente boa parte de meu salário na sua aquisição.
Muitos blogs vieram e se foram, outros ficaram. As próprias gravadoras acabaram se adaptando a realidade, então surgiram alguns sites maiores, como o Avaxhome, ou o Israbox, se tornaram grandes fornecedores de conteúdo multimídia, fossem CDs, fossem livros digitais, ou até mesmo filmes. Os até então odiados MP3 se tornaram ainda mais frequentes, e as gravadoras tiveram de se adaptar. Era como se essas gravadoras e os próprios estúdios holywoodianos entendessem que seria bobagem lutar contra a maré da ‘revolução’ que se instalava por meio da Internet. E os engenheiros de som criaram novos formatos, para compensar a tal da perda de qualidade que o processo de conversão do áudio original para MP3 causava, surgindo assim os arquivos .FLAC, com melhor qualidade (mais perceptível para quem possui equipamentos de som de Alta Fidelidade). O aumento da velocidade de transmissão de dados também contribuiu para essa evolução. De ridículos 1 mb/s proporcionados pelos antigos modem adsl de quando comecei a postar, tivemos um aumento exponencial, e graças a instalação de cabeamento de fibra ótica, hoje as operadoras nos oferecem planos com velocidade de até 1, 5 TB / s, impensável até há alguns anos.
Mas o que importa é que o PQPBach conseguiu completar quinze anos. Alguns novos colegas chegaram, outros vieram e nos deixaram, um querido membro do grupo veio a falecer, o nosso saudoso Ammiratore, enfim, entre idas e vindas, continuamos firmes em nossa proposta original, proporcionar música de qualidade para nossos leitores – ouvintes. Como o Vassily faz questão de realçar, não nos preocupamos com quantidade, e sim com a qualidade. Alguns amigos me perguntam até hoje o que eu ganho com tanto empenho e trabalho. Respondo sempre que minha recompensa é a satisfação dos nossos leitores / ouvintes.
E é aos senhores que agradeço nestas comemorações.
E esse CD com o qual iniciei minha contribuição é muito especial.
No mar de gravações disponíveis das sinfonias de Beethoven, quase todo mundo tem suas preferências. Por isto, é surpreendente que as gravações do berlinense Carlos Kleiber (1930-2004) tenham se tornado um consenso nos últimos anos. Excêntrico e considerado um gênio por outros regentes, Kleiber tinha um repertório menor do que o comum dos maestros, os quais costumam aceitar qualquer empreitada. Gravou poucas óperas e poucos autores sinfônicos, mas suas intervenções, principalmente em Beethoven e Brahms, mereceram sempre os elogios mais rasgados. A gravação da 5ª Sinfonia de Beethoven, vinda diretamente do acervo de F.D.P. Bach, recebeu considerações nestes termos: “É como se Homero tivesse retornado para nos recitar a Ilíada”.
E, bem, trata-se de um Homero de extraordinária energia e entusiasmo. Não poderíamos iniciar melhor a participação de Beethoven no P.Q.P. Bach.
1. Symphony No. 5 In C Minor, Op. 67: 1 – Allegro con brio
2. Symphony No. 5 In C Minor, Op. 67: 2 – Andante con moto
3. Symphony No. 5 In C Minor, Op. 67: 3 – Allegro
4. Symphony No. 5 In C Minor, Op. 67: 4 – Allegro
5. Symphony No. 7 In A Major, Op. 92: 1 – Poco sostenuto – vivace
6. Symphony No. 7 In A Major, Op. 92: 2 – Allegretto
7. Symphony No. 7 In A Major, Op. 92: 3 – Presto
8. Symphony No. 7 In A Major, Op. 92: 4 – Allegro con brio
Vienna Philharmonic Orchestra
Reg.: Carlos Kleiber
Ainnn, o PQP Bach começou com Arensky e Rimsky-Korsakov? Quá, quá, quá.
Já li/ouvi várias pessoas nos ridicularizando por este fato. E que depois ficam caladas pela qualidade da música deste primeiro, basilar e primordial CD. Então, já sabem que nesta data — que secundariamente também é a da Proclamação da República — comemoramos os 15 anos da criação desta semente de beleza e acesso à música. E iniciamos a festa reeditando o primeiro CD.
O Quinteto de Rimsky-Korsakov é uma esplêndida peça de câmara e o digno romantismo de Arensky não lhe fica nada a dever. Depois de ter completado o Sexteto de Cordas, R-K escreveu um Quinteto para Piano e Sopros para a mesma competição — um concurso organizado pela Sociedade Musical Russa em 1876. O Quinteto tem três movimentos. O primeiro movimento, Allegro con brio, no estilo clássico de Beethoven. O segundo, um Andante, contém uma boa fuga para os instrumentos de sopro com um acompanhamento muito livre do piano. O finale, Allegretto vivace, é um rondó. No concurso, o Quinteto foi descartado sem comentários…
Arensky compôs seu Trio para Piano Nº 1, Op. 32, como um memorial para seu amigo (e de Tchaikovsky), o violoncelista Karl Davidoff, que havia sido diretor do Conservatório de São Petersburgo quando Arensky era estudante. Davidoff é considerado o fundador da escola russa de tocar violoncelo, o que explica o fato de o violoncelo desempenhar um papel proeminente no Trio. O Trio não tem momentos fracos, é uma obra-prima de cabo a rabo.
Em suas Memórias, Rimsky-Korsakov foi particularmente cruel com seu aluno Anton Arensky. Ele o acusou de ter sido alcoólatra e jogador, e que sua morte por tuberculose foi o resultado final e justo. “Ele logo será esquecido”, escreveu. Como professor, Rimsky-Korsakov não tinha nada além de elogios a Arensky, e ele até o contratou para trabalhar em vários projetos de orquestração de suas próprias obras. Então, o que realmente aconteceu para justificar essa reviravolta completa? Arensky foi jogado no caldeirão em razão do impasse entre expressão artística cosmopolita e nacionalista. Arensky se recusou a aderir explicitamente ao caminho fortemente nacionalista defendido por Rimsky-Korsakov…
Igor Stravinsky, que também foi aluno de Rimsky-Korsakov, considerou a crítica a Arensky “injustificadamente dura e cruel”. Ele escreve: “Rimsky-Korsakov criticou a música de Arensky de maneira totalmente violenta e desnecessária. O comentário de que ele seria logo seria esquecido foi muito grave e cruel… Eu acho que ele queria não apenas atingir Arensky como também Tchaikovsky”. Sem dúvida, o estreito vínculo entre Arensky e Tchaikovsky não agradava à turma de Rimsky-Korsakov — Mily Balakirev, Aleksandr Borodin, César Cui e Modest Mussorgsky. Tchaikovsky foi, sem dúvida, a maior influência nas composições musicais de Arensky.
Anton Arensky (1861-1906): Trio Op. 32 / Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): Quinteto para Piano, Flauta, Clarinete, Trompa e Fagote (Nash)
Trio In D Minor, Op 32
Composed By – Anton Stepanovich Arensky
1 1st Movement – Allegro Moderato 12:16
2 2nd Movement – Scherzo – Allegro Molto – Meno Mosso 6:01
3 3rd Movement – Adagio 7:17
4 4th Movement – Allegro Non Troppo 5:57
Quintet For Flute, Clarinet, Horn, Bassoon & Pianoforte
Composed By – Nikolai Rimsky-Korsakov
5 1st Movement – Allegro Con Brio 10:40
6 2nd Movement – Andante – Fughetta 10:17
7 3rd Movement – Rondo – Allegretto 8:54
O Tonight at Noon é um sensacional grupo de jazz finlandês. O nome do grupo leva o título de um dos principais discos e temas de Charlie Mingus. Então, não é surpresa este disco dedicado ao gênio de Nogales. O grupo, formado por jovens estrelas da cena do jazz finlandês, é conhecido por suas performances ao vivo explosivamente enérgicas e suingantes. Este álbum tributo, To Mingus, with Love, nasceu do óbvio amor compartilhado — inclusive por mim — por Charles Mingus (1922-1979). Quando se formou, o objetivo do Tonight at Noon era apresentar composições de hard bop influenciadas pelo gospel. Em To Mingus, With Love estes cinco jovens talentos pegam juntos oito composições de Mingus, dando profunda ênfase à melodia, mas mantendo uma boa parte da marca registrada especialmente “ruidosa” de Mingus. Se a recriação é uma forma sincera de lisonja, então Charles Mingus, nossa senhora… Tonight at Noon é uma peça tipicamente enigmática de free jazz escrita pelo lendário baixista e também tornou-se o título de um livro de memórias amoroso e extremamente bem elaborado de sua esposa, Sue. Agora, para confusão, é também o nome de duas bandas separadas de tributo a Mingus. (Há também a Mingus Dynasty, nome de um disco de Mingus e de uma banda que se formou após sua morte). Para terminar. vou lhes dizer uma coisa: este Tonight At Noon finlandês deve ser a melhor coisa que saiu da Finlândia desde o telefone celular Nokia.
Sumelius, Innanen, Kannaste and Various: Tonight at Noon: To Mingus, With Love
01 Jump Monk
02 Pithecantihropus Erectus
03 Ecclusiastics
04 Fables Of Faubus
05 Duke Ellington’s Sound Of Love
06 East Coasting
07 What Love
08 Jelly Roll
Tonight at Noon:
André Sumelius
Jukka Eskola
Jussi Kannaste
Mikko Helevä
Mikko Innanen
Um lindo CD. Tudo começa pelo final… Tudo começa pelo final de Mikrokosmos, que está no início do CD. Aquilo ali pode ser, sim, tocado em recitais de pianistas, pois são peças ao mesmo tempo difíceis, estimulantes e belas. E a Suíte para 2 Pianos, originalmente escrita para orquestra, é uma das obras que inauguraram o estilo mais maduro de Bartók — ela ainda tem raízes no romantismo tardio, mas o uso de elementos da música folclórica já está presente de forma impressionante e funcionante. O desempenho dos pianistas é novamente espetacular, com destaque para a presença de Ditta Pásztory-Bartók — sim, a viúva do compositor — na Suíte. De modo geral, a interpretação é afiada, cortante, fresca e de grande propulsão rítmica. A qualidade do som é boa.
Béla Bartók (1881-1945): Progressive pieces for piano “Mikrokosmos” / Seven pieces from “Mikrokosmos” for 2 pianos / Suite for 2 pianos (Zempléni / Pásztory-Bartók / Tusa / Comensoli) #BRTK140 Vol. 25 de 29
1 Progressive pieces for piano, Sz. 107/6, BB 105/140–153 “Mikrokosmos”: Volume 6: CXL. Szabad változatok / CXLI. Tükrözõdés
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 140: Free Variations (Allegro molto)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI
3:09
2 Progressive pieces for piano, Sz. 107/6, BB 105/140–153 “Mikrokosmos”: Volume 6: CXLII. Mese a kis légyrõl
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 142: From the Diary of a Fly
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI
1:35
3 Progressive pieces for piano, Sz. 107/6, BB 105/140–153 “Mikrokosmos”: Volume 6: CXLIII. Tört hangzatok váltakozva / CXLIV. Kis másod- és nagy hetedhangközök
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 143: Divided Arpeggios
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI
6:32
4 Progressive pieces for piano, Sz. 107/6, BB 105/140–153 “Mikrokosmos”: Volume 6: CXLV. Kromatikus invenció
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 145: Chromatic Invention
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI
2:27
5 Progressive pieces for piano, Sz. 107/6, BB 105/140–153 “Mikrokosmos”: Volume 6: CXLVI. Ostinato / CXLVII. Induló
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 146: Ostinato (Vivacissimo)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI
4:14
6 Progressive pieces for piano, Sz. 107/6, BB 105/140–153 “Mikrokosmos”: Volume 6: CXLVIII. Hat tánc bolgár ritmusban I / XLIX. Hat tánc bolgár ritmusban II / L. Hat tánc bolgár ritmusban III / LI. Hat tánc bolgár ritmusban IV / LII. Hat tánc bolgár ritmusban V / LIII. Hat tánc bolgár ritmusban VI
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 148: Six Dances in Bulgarian Rhythm, No. 1
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI
9:18
7 Seven pieces from Mikrokosmos for 2 pianos, Sz. 108, BB 120: No. 69. Allegro molto. Bolgár ritmus
piano:
Ditta Pásztory-Bartók and Erzsébet Tusa (pianist)
recording of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120: No. 1. Bulgarian Rhythm
composer and arranger:
Béla Bartók (composer)
version of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV, No. 113: Bulgarian Rhythm (Allegro molto)part of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120
1:11
8 Seven pieces from Mikrokosmos for 2 pianos, Sz. 108, BB 120: No. 113. Moderato. Akkordtanulmány
piano:
Ditta Pásztory-Bartók and Erzsébet Tusa (pianist)
recording of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120: No. 2. Chord and Trill Study
composer and arranger:
Béla Bartók (composer)
version of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III, No. 69: Study in Chordspart of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120
1:07
9 Seven pieces from Mikrokosmos for 2 pianos, Sz. 108, BB 120: No. 123. Allegro molto. Perpetuum Mobile
piano:
Ditta Pásztory-Bartók and Erzsébet Tusa (pianist)
recording of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120: No. 3. Perpetuum mobile
composer and arranger:
Béla Bartók (composer)
version of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 135: Perpetuum mobile (Allegro molto)part of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120
0:47
10 Seven pieces from Mikrokosmos for 2 pianos, Sz. 108, BB 120: No. 127. Allegro. Kánon és megfordítása
piano:
Ditta Pásztory-Bartók and Erzsébet Tusa (pianist)
recording of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120: No. 4. Short Canon and Its Inversion
composer and arranger:
Béla Bartók (composer)
version of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 123: Staccato and Legatopart of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120
0:50
11 Seven pieces from Mikrokosmos for 2 pianos, Sz. 108, BB 120: No. 135. Ben ritmato. Új magyar népdal
piano:
Ditta Pásztory-Bartók and Erzsébet Tusa (pianist)
recording of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120: No. 5. New Hungarian Folksong
composer and arranger:
Béla Bartók (composer)
version of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 127: New Hungarian Folk Songpart of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120
1:00
12 Seven pieces from Mikrokosmos for 2 pianos, Sz. 108, BB 120: No. 145. Allegro. Kromatikus invenció
piano:
Ditta Pásztory-Bartók and Erzsébet Tusa (pianist)
recording of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120: No. 6. Chromatic Invention
composer and arranger:
Béla Bartók (composer)
version of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 145: Chromatic Inventionpart of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120
1:14
13 Seven pieces from Mikrokosmos for 2 pianos, Sz. 108, BB 120: No. 146. Vivacissimo. Ostinato
piano:
Ditta Pásztory-Bartók and Erzsébet Tusa (pianist)
recording of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120: No. 7. Ostinato
composer and arranger:
Béla Bartók (composer)
version of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume VI, No. 146: Ostinato (Vivacissimo)part of:
Pieces from Mikrokosmos, Sz. 108, BB. 120
2:41
14 Suite for 2 pianos freely arranged after Suite No. 2 for orchestra, Sz. 115/a, BB 122 (Op. 4/a): I. Comodo. Serenata
piano:
Mária Comensoli and Ditta Pásztory-Bartók
phonographic copyright by:
Hungaroton (in 1988)
recording of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122: I. Serenata
composer:
Béla Bartók (composer) (in 1941)
part of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122
6:31
15 Suite for 2 pianos freely arranged after Suite No. 2 for orchestra, Sz. 115/a, BB 122 (Op. 4/a): II. Allegro diabolico
piano:
Mária Comensoli and Ditta Pásztory-Bartók
phonographic copyright by:
Hungaroton (in 1988)
recording of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122: II. Allegro diabolico
composer:
Béla Bartók (composer) (in 1941)
part of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122
9:02
16 Suite for 2 pianos freely arranged after Suite No. 2 for orchestra, Sz. 115/a, BB 122 (Op. 4/a): III. Andante. Scena della Puszta
piano:
Mária Comensoli and Ditta Pásztory-Bartók
phonographic copyright by:
Hungaroton (in 1988)
recording of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122: III. Scena della Puszta
composer:
Béla Bartók (composer) (in 1941)
part of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122
7:29
17 Suite for 2 pianos freely arranged after Suite No. 2 for orchestra, Sz. 115/a, BB 122 (Op. 4/a): IV. Comodo. Per finire
piano:
Mária Comensoli and Ditta Pásztory-Bartók
phonographic copyright by:
Hungaroton (in 1988)
recording of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122: IV. Per finire
composer:
Béla Bartók (composer) (in 1941)
part of:
Suite for Two Pianos, op. 4b, Sz. 115a, BB 122
6:31
Na minha opinião, Charles Mingus, Thelonious Monk e Duke Ellington são os maiores compositores do jazz. Destes, Mingus talvez seja o que mais tenha pontos de contato com o povo pequepiano, pois é praticamente um compositor erudito que gosta de jazz. Ouçam suas mudanças de ritmo e as dissonâncias matemáticas — nada chocantes, na verdade lindas — aqui presentes. Gravado em novembro de 1959, Mingus Dynasty é um dos principais CDs / LPs do genial Mingus. Foi lançado pela Columbia Records em maio de 1960 e é um álbum com o mesmo estilo de outra obra-prima, o Mingus Ah Um. Ambos foram introduzidos no Grammy Hall of Fame em 1999. O título alude à ancestralidade de Mingus, que era parcialmente chinesa. Se Mingus Ah Um catapultou Charles Mingus de uma figura semi-underground muito discutida para um líder aclamado e quase universalmente aceito no jazz moderno, seu “sucessor”, Mingus Dynasty é uma obra-prima, uma prova de quão alto Mingus estava trabalhando. Dynasty faz jus ao ano de 1959, um ano revolucionário do jazz, e a contribuição de Mingus para aqueles 365 notáveis dias foi enorme. Não há como não conhecer e não decorar disco. Mi-nu-ci-o-sa-men-te.
Charlie Mingus: Mingus Dynasty
01. Slop [04:43]
02. Diane [07:34]
03. Song With Orange [04:18]
04. Gunslinging Bird [04:01]
05. Things Ain’t What They Used To Be [04:28]
06. Far Wells, Mill Valley [06:17]
07. New Now, Know How [03:05]
08. Mood Indigo [08:19]
09. Put Me In That Dungeon [02:53]
John Handy – alto sax
Booker Ervin – tenor sax
Benny Golson – tenor sax (2, 3, 4, 6, 10)
Jerome Richardson – baritone sax (2, 3, 4, 6, 10), flute (2)
Richard Williams – trumpet (2, 3, 4, 6, 10)
Don Ellis – trumpet (1, 5, 8, 9)
Jimmy Knepper – trombone
Roland Hanna – piano (1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9)
Nico Bunink – piano (7, 10)
Charles Mingus – bass
Dannie Richmond – drums
Teddy Charles – vibes (2, 3, 4, 6)
Maurice Brown – cello (2, 9)
Seymour Barab – cello (2, 9)
Honi Gordon – vocals (10)[9]
Se você vivesse no Norte do Paraná, nos fins da década de 70, quero dizer 1970, teria que ser ágil para comprar qualquer LP de música clássica que surgisse, caso este fosse seu interesse. LPs eram escassos e caros. Devo acrescentar que informações culturais não eram abundantes. Assim, o gosto musical do interessado era um pouco moldado pelas oportunidades – mais tentativa e erro, o método de aprendizado. Mas era imensamente divertido.
Eu já aprendera que o selo amarelo trazia conteúdo mais palatável e visitas constantes aos escassos pontos de venda acabavam rendendo novidades. O tempo dos sebos ainda estava por vir.
Em minha coleção havia desde coisas como Gypsy!, do Werner Müller and his Orchestra, com o phase4stereo spectacular, até o outro lado do espectro, com concertos para piano de Mozart interpretados por Pollini e Gilels, acompanhados pela mais mozartiana orquestra que eu conhecia, a Wiener Philharmonic, regida por Herr Böhm.
Nesta época, pouco mais, talvez, este disco (o da postagem, é claro… hahãmm) cruzou meu caminho e desde logo propunha algo novo. O violoncelista eu conhecia de outro disco, com o Concerto de Dvořák, acompanhado pela Berliner Philharmoniker regida pelo Herr Karajan. Mas aqui a luz era outra. O solista ostentando uma camisa de cowboy e o jovem regente com uma espécie de camisa indiana branca, com ares de hippie, demandava mais ousadia do propenso comprador. E o compositor da peça mais longa? Um ilustre, modernoso e desconhecido compositor russo. Sim, os LPs tinham as contracapas que eram lidas e relidas antes de qualquer movimento mais forte em direção da carteira…
A compra foi uma das mais ousadas e rendeu boas semanas de muitas audições, mesmo que carregadas de incertezas e levantamentos de sobrancelhas. É claro que tudo começa em grande estilo, o Canto do Menestrel do Glazunov, muito acessível. E bonito mesmo, para quem aprecia as românticas almas russas…
Mas o concerto de Shostakovich é bem mais inquietante e foi minha primeira experiência com música que precisamos conquistar antes de gostar. Começamos com uma espécie de lamento, e depois todas aquelas sonoridades percussivas rondando o canto do violoncelo. Bem, é preciso ouvir para entender.
Aprendi depois que o concerto havia sido composto pouco mais do que uma década antes daqueles dias e que o solista da gravação era a pessoa a quem o concerto fora dedicado e que também o havia estreado.
Descobri que o Concerto havia sido composto na última fase do compositor, que o havia completado enquanto se encontrava em um hospital, pois que já lhe falhava o coração.
A música é mais reflexiva do que extrovertida, coisa que vai bem com o violoncelo, e a orquestra, apesar de imensa, é usada com maestria e cuidado pelo compositor, evitando que o solista seja tragado por ela e possa se apresentar realmente como o protagonista.
Os dois últimos movimentos são ambos nomeados Allegretto e estão unidos nos arquivos em uma única faixa, pois a passagem de um para o outro se dá continuamente – attacca!
Espero que a audição deste notável disco faça com que você reflita sobre as belezas das músicas que precisamos conquistar e que ao final lhe seja tão compensador como tem sido para mim, todas as vezes que a ele retorno.
Aproveite!
René Denon
A alegria dos dois grandes músicos ao saberem que o disco seria postado aqui no PQP Bach…
Pouco se sabe sobre a vida de Corelli. Recebeu formação em Bolonha e Roma, e nesta cidade desenvolveu a maior parte de sua carreira, sendo patrocinado por grandes mecenas aristocratas e eclesiásticos. Embora sua produção integral resuma-se a somente seis coleções de obras publicadas (6 opus) — cinco delas de sonatas para trio ou solo e uma de concertos grossos, com doze peças em cada —, seu reduzido número e os poucos gêneros a que se dedicou estão em proporção radicalmente inversa à vasta fama que elas lhe trouxeram, cristalizando modelos de larga influência em toda a Europa. Das seis coleções, a sexta e última, a dos concertos grossos, é a que ganhou o mais duradouro favor da crítica, embora a quinta também seja altamente apreciada. Esta gravação é do Op. 3 e é realmente muito boa. Jaap Schroeder, Konrad Junghaenel e Kenneth Slowik são espetaculares. Mas o Op. 3 de Corelli não chega a ser tudo aquilo. Mas vale a audição, certamente.
01. Sonata in F, Op.3, No.1
02. Sonata in D, Op.3, No.2
03. Sonata in B flat, Op.3, No.3
04. Sonata in b, Op.3, No.4
05. Sonata in d, Op.3, No.5
06. Sonata in G, Op.3, No.6
07. Sonata in e, Op.3, No.7
08. Sonata in C, Op.3, No.8
09. Sonata in f, Op.3, No.9
10. Sonata in a, Op.3, No.10
11. Sonata in g, Op.3, No.11
12. Sonata in A, Op.3, No.12
Performers:
The Smithsonian Chamber Players:
Jaap Schröder, Marilzn McDonald, violins
Kenneth Slowik, cello
Konrad Junghänel, theorbo
James Weaver, organ
Iniciamos os Quartetos de Beethoven pelo extraordinário Op. 18. Como de costume, P.Q.P. Bach mostra uma integral a cargo de mais de um conjunto. (Tal coleção já está postada, gente, basta clicar no link acima para vê-la!) Em termos de Op. 18, em mais de cinco décadas nunca ouvimos nada comparável nada comparável à versão do Quarteto Guarneri.
É apenas uma opinião. Nada de nervos, por favor.
Um dos integrantes do Quarteto Guarneri gosta de dar uma cantadinha a la Gould enquanto toca. Até aí, tudo bem, a qualidade do conjunto compensa a cantoria. Só que ouçam a partir dos 5min36 do terceiro movimento do Quarteto Nº 5; o cara parece ter sentido uma indisposição qualquer. Confira. Na minha opinião e na de quase todo mundo, os quartetos 5 e 6 são as grandes estrelas do Op. 18. É necessário grande verve para interpretá-los e o Guarneri sai-se esplendidamente. Um sensacional álbum triplo!
Beethoven — Os Seis Quartetos de Cordas Op. 18
Quartet in F, Op. 18 No. 1
1 Allegro con brio
2 Adagio affettuoso ed appassionato
3 Scherzo: Allegro molto; Trio
4. Allegro
Quartet in G, Op. 18 No. 2
5 Allegro
6 Adagio cantabile; Allegro; Tempo I
7 Scherzo: Allegro; Trio
8 Allegro molto; quasi presto
Quartet in D, Op. 18 No. 3
1 Allegro
2 Andante con moto
3 Allegro
4 Presto
Quartet in C Minor, Op 18 No. 4
5 Allegro ma non tanto
6 Scherzo: Andante scherzoso quasi allegretto
7 Menuetto: Allegretto; Trio
8 Allegro; Prestissimo
Quartet in B-Flat, Op. 18 No. 6
5. Allegro con brio
6. Adagio ma non troppo
7. Scherzo: Allegro; Trio
8. La Malinconia: Adagio; Allegretto quasi allegro; Prestissimo
Bom, mas muito roqueiro pro meu gosto… Action-Refraction é um álbum do baixista, compositor e band leader Ben Allison e a primeira coleção sua que inclui músicas de outros artistas. Desta vez, Ben voltou seus ouvidos para a música de alguns de seus artistas favoritos, com temas de PJ Harvey, Donny Hathaway, Thelonious Monk, Neil Young , Samuel Barber e Roger Nichols. A ideia surgiu quando Ben se perguntou como soaria “refratar algumas das minhas músicas favoritas através do prisma de uma orquestra eletroacústica com duas guitarras elétricas, clarinete baixo, saxofone, sintetizador analógico, piano, baixo acústico e bateria”, diz Ben. “O álbum está cheio de momentos não planejados de acidentes felizes que capturam uma conversa musical em fluxo”. Jackie-ing, de Monk recebe uma introdução orquestrada que lembra a música de suspense de ficção científica dos anos 1960. Fã de PJ Harvey de longa data, Missed é um de seus favoritos. Some Day We All Be Free é melódico, apresentando colagens de ruído feitas por uma fita analógica. Parece os Beatles de I want you. St. Ita s Vision, de Samuel Barber é uma homenagem a Sun Ra. Broken é o único original do disco e faz referências ao minimalismo. É um disco assim assim.
Ben Allison: Action-Refraction
01 Jackie-ing (Thelonious Monk)
02 Missed (PJ Harvey)
03 Some Day We’ll All Be Free (Donny Hathaway)
04 Philadelphia (Neil Young)
05 St Ita’s Vision (Samuel Barber)
06 We’ve Only Just Begun (Paul Williams, Roger Nichols)
07 Broken (Ben Allison)
Ben Allison, bass
Steve Cardenas, guitar
Rudy Royston, drums
Jason Lindner, keyboards
Michael Blake, bass clarinet, tenor sax
Brandon Seabook, guitar
Aqui está uma grande dupla de CDs de Matteis, compositor que lhes apresentei na semana passada. O pessoal do barroco — como eu — vai gostar muito!
Nicola Matteis foi o primeiro violinista barroco italiano notável em Londres, a quem Roger North julgou “ter sido um segundo Corelli” e um compositor de popularidade significativa em seu tempo, embora tenha sido totalmente esquecido até o final do século XX. Matteis teve grande sucesso artístico e comercial com sua música publicada, notavelmente com os quatro livros de Ayres (1676, 1685), mas se casou com uma viúva rica em 1700 e se aposentou da cena musical de Londres, De acordo com North, ele terminou seus dias com problemas de saúde e em total pobreza. Sabendo que muitos de seus clientes eram amadores, Matteis dava instruções precisas nos prefácios da suas Ayres publicados, fornecendo notas detalhadas, explicações de ornamentos, tempos, etc. Essas notas provaram ser recursos valiosos para estudiosos que reconstroem as práticas de desempenho da época.
Nicola Matteis (c.1670-c.1714):
“Ayres for the Violin”, Suites & Sonatas (Vols. 1 e 2)
Vol. 1
Suite in A major (Book IV, Nos. 1-11)
Suite in d minor (Book IV, Nos. 33-36)
Suite in g (Book II, Nos. 10-18)
Suite in e minor (Book IV, from Nos. 21-29)
Sonata in c minor (Book I, 46-49)
Sonata in C (Book IV, from Nos. 12-20)
Vol. 2
Sonata in F major (Book 3, no. 7-9)
Suite in a minor (Book 2, no. 25-29)
Suite in g minor (Book 3, no. 41-44)
Sonata in B-flat major (Book 2, no. 22-24)
Almand’s by Mr. Nicola Matteis
Suite in c minor (Book 3, no. 23-32)
Sonata in E major (Book 2, no. 30-32)
Suite in D major (Book 4; no. 43-46)
Suite in F major (Book 4, no. 30-32)
Talvez por influência do colega René Denon tenho ouvido muita música francesa. Compositores que até então me eram desconhecidos, como Poulenc ou Chausson, me foram apresentados e imediatamente me senti atraído por sua obra. O “Poéme” de Ernst Chausson, é uma das mais belas obras compostas ali naquele conturbado início de século XX, com direito a guerra mundial, revolução e tudo o mais.
Esta série que ora vos trago foi gravada pelo então jovem pianista húngaro Zoltán Kocsis ainda lá nos anos 80. Trata-se de um registro altamente elogiado, que por algum motivo inexplicável, nunca tinha aparecido aqui por aqui. São quatro CDs ao todo, vou trazer dois de cada vez, para melhor ser apreciado.
Zoltán Kocsis morreu em 2016, com meros 64 anos. E não por acaso estou postando essa caixa neste dia, pois foi a exatos cinco anos que este grande músico faleceu, muito jovem. Foi um dos grandes intérpretes da obra de Bártok, de quem gravou praticamente tudo, e tornou-se também um excelente maestro, sendo diretor da Orquestra Filarmônica Nacional da Hungria até o final de sua vida. É presença constante por aqui.
Comecemos pelos ‘Préludes’ e pelas ‘Images’, obras fundamentais do repertório pianístico, e também uma prova de fogo para os pianistas. Os grandes nomes que deixaram suas marcas em registros históricos destas obras, como Michelangeli e Giesseking, devem ter ficado orgulhosos quando ouviram esses CDs.
CD 1
1.01. Préludes – Book 1 I. Danseuses de Delphes
1.02. Préludes – Book 1 II. Voiles
1.03. Préludes – Book 1 III. Le Vent Dans la Plaine
1.04. Préludes – Book 1 IV. Les Sons Et Les Parfums Tournent Dans L’air Du Soir
1.05. Préludes – Book 1 V. Les Collines D’Anacapri
1.06. Préludes – Book 1 VI. Des Pas Sur la Neige
1.07. Préludes – Book 1 VII. Ce Qu’a Vu Le Vent D’ouest
1.08. Préludes – Book 1 VIII. La Fille Aux Cheveux de Lin
1.09. Préludes – Book 1 IX. La Sérénade Interrompue
1.10. Préludes – Book 1 X. La Cathédrale Engloutie
1.11. Préludes – Book 1 XI. La Danse de Puck
1.12. Préludes – Book 1 XII. Minstrels
1.13. Préludes – Book 2 I. Brouillards
1.14. Préludes – Book 2 II. Feuilles Mortes
1.15. Préludes – Book 2 III. La Puerta del Vino
1.16. Préludes – Book 2 IV. Les Fées Sont D’exquises Danseuses
1.17. Préludes – Book 2 V. Bruyères
1.18. Préludes – Book 2 VI. General Lavine – Eccentric
1.19. Préludes – Book 2 VII. La Terrasse Des Audiences Du Clair de Lune
1.20. Préludes – Book 2 VIII. Ondine
1.21. Préludes – Book 2 IX. Hommage À S. Pickwick, Esq., P.P.M.P.C.
1.22. Préludes – Book 2 X. Canope
1.23. Préludes – Book 2 XI. Les Tierces Alternées
1.24. Préludes – Book 2 XII. Feux D’artifice
CD 2
2.01. Images – Book 1 I. Reflets Dans L’eau
2.02. Images – Book 1 II. Hommage À Rameau
2.03. Images – Book 1 III. Mouvement
2.04. Images – Book 2 I. Cloches À Travers Les Feuilles
2.05. Images – Book 2 II. Et la Lune Descend Sur Le Temple Qui Fût
2.06. Images – Book 2 III. Poissons D’or
2.07. Images oubliées Lent (mélancolique Et Doux)
2.08. Images oubliées Souvenir Du Louvre (Sarabande)
2.09. Images oubliées Quelques Aspects de Nous N’irons Plus Au Bois Parce Qu’il Fait un Temps Insupportable
2.10. Images oubliées D’un Cahier D’esquisses
2.11. Images oubliées L’Isle joyeuse
2.12. Deux arabesques No. 1 Andante Con Moto
2.13. Deux arabesques No. 2 Allegretto Scherzande
2.14. Hommage à Haydn
2.15. Rêverie
2.16. Page D’album (Pour L’oeuvre Du Vêtement Du Blessé)
2.17. Berceuse héroïque
Eu tenho uma cordial discordância com meu irmão FDP Bach. Julgo Albinoni um compositor de segunda ou terceira linha e estaria disposto a colocar Geminiani no lugar de destaque ocupado pelo Albinoni que desprezo… Não haverá mortes tampouco agressões em nossa discussão, ela será um dia finalizada numa Oktoberfest em Blumenau com os dois bêbados, rindo muito. Pois tais discussões servem apenas como pretexto para encontros. Detalhe: não conheço FDP Bach pessoalmente. (Post de 2012, hoje isto deixou de ser verdade).
Ah, são dois CDs. Ambos muito bons!
Geminiani: La Folia e Trios
Trio Sonata for violin, violone (or 2 violins) & continuo No. 9 (aka “No. 3”) in F major, Op. 1/9
1 Largo 3:16
2 Andante 2:12
3 Allegro 3:23
4 Concerto Grosso, for 2 violins, strings & continuo No.12 in D minor (“La Follia”; after Corelli Op. 5/12) 10:53
Faça o seguinte, por favor. Ouça as faixas 2 e 3 deste disco. Depois, quero ver você deletar o arquivo. Meu irmão CPE Bach mostra — nova e novamente — porque é considerado o mais talentoso dos manos. A interpretação das obras segue o padrão habitual da Alpha, ou seja, é sublime.
CPE Bach: Solo a Viola di gamba col Basso
1. Sonata for viola da gamba & continuo in D major, H. 559, Wq. 137: Adagio, ma non tanto
2. Sonata for viola da gamba & continuo in D major, H. 559, Wq. 137: Allegro di molto
3. Sonata for viola da gamba & continuo in D major, H. 559, Wq. 137: Arioso
4. Sonata for viola da gamba & continuo in G minor, H. 510, Wq. 88: Allegro moderato
5. Sonata for viola da gamba & continuo in G minor, H. 510, Wq. 88: Larghetto
6. Sonata for viola da gamba & continuo in G minor, H. 510, Wq. 88: Allegro assai
7. Pieces (27) for viola da gamba (MS Drexel 5871), WKO 186-212: Adagio pour viole de gambe seule
8. Sonata for viola da gamba & continuo in C major, H. 558, Wq. 136: Andante
9. Sonata for viola da gamba & continuo in C major, H. 558, Wq. 136: Allegretto
10. Sonata for viola da gamba & continuo in C major, H. 558, Wq. 136: Arioso
11. Pieces (27) for viola da gamba (MS Drexel 5871), WKO 186-212: Postlude pour viole de gambe seule
Mikrokosmos é a obra didática mais importante de compositor Béla Bartók, escrita entre 1926 e 1937 e publicada em 1940. A obra é uma coleção em seis volumes de 153 peças curtas e 33 exercícios para piano, piano e voz e dois pianos. Ao longo da coleção, Bartók introduz ao estudante distintas problemáticas rítmicas, melódicas, harmônicas e pianísticas. Apesar de terem sido criadas inicialmente com propósitos didáticos é comum o uso de peças do Mikrokosmos como peças de concerto, principalmente dos últimos volumes. Péter Bartók, filho de Béla, começou a estudar piano em 1936 com o pai e afirmou ter servido como uma espécie de “cobaia” para as peças, que o compositor escrevia mais rápido do que ele conseguia estudar. Bartók nunca havia ensinado piano a alunos iniciantes, e foi auxiliado pela professora de piano Margit Varró a organizar a obra de uma forma que fosse mais acessível a principiantes. O Mikrokosmos é particularmente notável como método de ensino de piano pelo abrangente uso de material musical não tradicional. Neste sentido contrasta com outros métodos e estudos de uso comum, como os de Czerny e Cramer. Desde as primeiras peças o estudante é introduzido tanto a escalas diatônicas tonais quanto modais, bem como a escalas pentatônicas, exóticas, politonalidade, formas canônicas e outros aspectos musicais típicos da música moderna. Por estas características a obra é especialmente útil como uma introdução à música da primeira metade do século XX.
Béla Bartók (1881-1945): Progressive pieces for piano “Mikrokosmos” (Szücs) #BRTK140 Vol. 24 de 29
1 Progressive pieces for piano, Sz. 107/3, BB 105/67–96 “Mikrokosmos”: Volume 3: LXXXI. Bolyongás / LXXXII. Scherzo / LXXXIII. Dallam meg-megszakítva / LXXXIV. Mulatság / LXXXV. Tört akkordok / LXXXVI. Két dúr pentachord
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III, No. 81: Wandering
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III
6:06
2 Progressive pieces for piano, Sz. 107/3, BB 105/67–96 “Mikrokosmos”: Volume 3: LXXXVII. Változatok / LXXXVIII. Sípszó / LXXXIX. Négyszólamúság / XC. Oroszos
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III, No. 87: Variations (Allegro moderato)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III
4:09
3 Progressive pieces for piano, Sz. 107/3, BB 105/67–96 “Mikrokosmos”: Volume 3: XCI. Kromatikus invenció I / XCII. Kromatikus invenció II
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III, No. 91: Chromatic Invention (1)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III
1:55
4 Progressive pieces for piano, Sz. 107/3, BB 105/67–96 “Mikrokosmos”: Volume 3: XCIII. Négyszólamúság / XCIV. Hol volt, hol nem volt… / XCVa. Rókadal / XCVI. Zökkenõk
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III, No. 93: In Four Parts (2)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume III
3:15
5 Progressive pieces for piano, Sz. 107/4, BB 105/97–121 “Mikrokosmos”: Volume 4: XCVII. Notturno / XCVIII. Alávetés / XCIX. Kézkeresztezés / C. Népdalféle / CI. Szûkített ötödnyi távolság
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV, No. 97: Notturno
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV
5:32
6 Progressive pieces for piano, Sz. 107/4, BB 105/97–121 “Mikrokosmos”: Volume 4: CII. Felhangok / CIII. Moll és dúr / CIVa – CIVb. Vándorlás egyik hangnembõl a másikba / CV. Játék (ötfokú hangsorral) / CVI. Gyermekdal / CVII. Dallam ködgomolyban / CVIII. Birkózás
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV, No. 102: Harmonics
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV
8:24
7 Progressive pieces for piano, Sz. 107/4, BB 105/97–121 “Mikrokosmos”: Volume 4: CIX. Bali szigetén / CX. És összecsendülnek-pendülnek a hangok / CXI. Intermezzo / CXII. Változatok egy népdal fölött
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV, No. 109: From the Island of Bali
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV
6:15
8 Progressive pieces for piano, Sz. 107/4, BB 105/97–121 “Mikrokosmos”: Volume 4: CXIII. Bolgár ritmus I / CXIV. Téma és fordítása / CXV. Bolgár ritmus II / CXVI. Nóta / CXVII. Bourrée
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV, No. 113: Bulgarian Rhythm (Allegro molto)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV
5:33
9 Progressive pieces for piano, Sz. 107/4, BB 105/97–121 “Mikrokosmos”: Volume 4: CXVIII. Triolák 9 / CXIX. 3/4-es tánc / CXX. Kvintakkordok / CXXI. Kétszólamú tanulmány
piano:
Loránt Szücs
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV, No. 118: Triplets in 9/8 Time
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume IV
4:22
10 Progressive pieces for piano, Sz. 107/5, BB 105/122–139 “Mikrokosmos”: Volume 5: CXXII. Akkordok egyszerre és egymás ellen / CXXIIIa – CXXIIIb. Staccato and legato / CXXIV. Staccato
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 122: Chords Together and Opposed (Moltovivace)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V
3:08
11 Progressive pieces for piano, Sz. 107/5, BB 105/122–139 “Mikrokosmos”: Volume 5: CXXV. Csónakázás / CXXVI. Változó ütem / CXXVIII. Dobbantós tánc
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 125: Boating
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V
3:44
12 Progressive pieces for piano, Sz. 107/5, BB 105/122–139 “Mikrokosmos”: Volume 5: CXXIX. Váltakozó tercek / CXXX. Falusi tréfa / CXXXI. Kvartok
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 129: Alternating Thirds (Allegro molto)
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V
6:00
13 Progressive pieces for piano, Sz. 107/5, BB 105/122–139 “Mikrokosmos”: Volume 5: CXXXII. Nagy másodhangközök egyszerre és törve / CXXXIII. Szinkópák / CXXXIV. Gyakorlatok kettõsfogásban / CXXXV. Perpetuum mobile
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 132: Major Seconds Broken and Together
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V
2:12
14 Progressive pieces for piano, Sz. 107/5, BB 105/122–139 “Mikrokosmos”: Volume 5: CXXXVI. Hangsorok egészhangokból / CXXXVII. Unisono / CXXXVIII. Dudamuzsika / CXLIX. Paprikajancsi
piano:
Kornél Zempléni
recording of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V, No. 136: Whole-Tone Scales
composer:
Béla Bartók (composer)
part of:
Mikrokosmos, Sz. 107, BB 105: Volume V
Em outubro de 2019 fiz uma postagem com música de Prokofiev – Sonatas para Violino – e na propaganda da postagem que fiz no fb, eu dizia: Música que demanda um pouco de esforço, no princípio, mas uma vez conquistada, proporciona muito prazer!
Não poderia dizer nada diferente sobre a música desta postagem. Um disco espetacular, mas que demanda ser conquistado.
Steven Osborne
Não é por nada que o pianista é o mesmo da mencionada postagem, o selo do disco, a inglesa Hyperion, assim como o compositor – Prokofiev, o homem que não ganhou flores em seu funeral.
No disco, uma série de três sonatas para piano com uma sequência de numeração, 6, 7 e 8, assim como na publicação, Opp. 82, 83 e 84, evidência de como as três fazem parte de um grupo. Elas foram compostas durante a guerra, entre 1939 e 1944. Prokofiev trabalhou na composição das três simultaneamente, assim como em outras obras, como a ópera Guerra e Paz e o balé Romeu e Julieta. Em alguns momentos, especialmente nos movimentos lentos, nas sonatas, pode-se perceber ecos das danças usadas no balé. Ouça, por exemplo, o segundo movimento da Sexta Sonata.
Nas sonatas ouvimos as diferentes expressões da música para piano de Prokofiev. Dos ritmos percussivos aos momentos mais tranquilos. Um caminho recheado de armadilhas para os pianistas: martelar ou amarelar?
É por isso que a gravação é importante e a Hyperion mantem seus altíssimos padrões: produção primorosa, incluindo os detalhes. A capa do disco é um exemplo disso. A escolha da imagem nos coloca em imediata sintonia com a música – bela, moderna e ligeiramente alarmante. A arte de Marianne von Werefkin pode gerar uma certa inquietação, à la Edvard Munch, mas é também marcante, inesquecível.
Aqui está a proposta: ouça o disco uma duas, três vezes, e depois responda: valeu a pena?
Serge Prokofiev (1891 – 1953)
Sonata para Piano No. 6 em lá maior, Op. 82
Allegro moderato – Poco più mosso – Allegro moderato, come I
Allegretto
Tempo di valzer lentissimo
Vivace – Andante – Vivace
Sonata para Piano No. 7 em si bemol maior, Op. 83
Allegro inquieto – Andantino – Allegro inquieto, come I
Andante caloroso – Poco più animato – Tempo
Precipitato
Sonata para Piano No. 8 em si bemol maior, Op. 84
Andante dolce – Allegro moderato – Andante dolce, come I – Allegro
Andante sognando
Vivace – Allegro ben marcato – Andantino – Vivace, come I
Steven e o piano da biblioteca do PQP Bach Cultural Center de Volta Redonda
Nas notas do disco, Steven agradece a ajuda de sua fisioterapeuta, Bronwen Ackermann, que o ajudou a realizar o disco: From first electrifying note-punch to last, with so much poetry and poignancy in between, this is a tour de force of pianism highlighting what seems more than ever like the great sonata sequence of the 20th century.
Hyperion’s sound never flinches from Osborne’s colossal bass in climaxes. Is it any wonder he dedicates the disc to ‘Bronwen Ackermann, physio extraordinaire’? Whatever the fallout, he must know that it was worth it: this is legendary stuff. BBC Music Magazine
[…] Osborne is at his best in Sonata No 8 … no pianist in my experience has matched Osborne’s finale for acuity of touch, pinpoint transparency and airborne suppleness. The music dances off the page, tickles the ear, engages the mind and, for once, sounds far shorter than its nine-minute duration. […] Gramophone
Não deixe de visitar as postagens a seguir, caso tenha gostado desta…