E eis que este insolente cão irrompe numa madrugada de terça-feira para meter-se numa seara para si desconhecida, onde nada sabe. Ainda mais, fica no quintal de CDF Bach – e mexe com uma paixão de Clara Schumann. Mas, como se sabe, no PQP postamos o que estamos ouvindo, e como eu estava ouvindo, ora, vim postar. Desde já vou deixando o espaço em aberto, para que o próprio CDF, ou Clara, o adicionem com mais pertinência, ou ao efeito de links e novidades vindos dos comentários.
O fato é que não apenas o jazz me interessa; me interessam muitas outras coisas mais, e no terreno da música, uma delas é o ambient. E em pesquisas fui descobrir que bem antes de Brian Eno criar o “Music for Airports” em 1978, quem primeiro concebeu a idéia de uma música feita para lugares, ao invés de pessoas, foi Erik Satie.
Isso em 1920.
Satie, nome nada estranho aos freqüentadores deste blog com certeza, criou a furniture music. A música do local e dos objetos que nos cercam. De curta duração e produção, resumiu-se a cinco peças – que vem a diferenciar-se, conceitualmente, do ambient atual pelo fato de que não apresentam variação. Ou seja, são curtos temas clássicos, repetidos muitas e muitas vezes, destinados primariamente a ser pano de fundo dos intervalos no teatro francês. Apesar da intenção, um entr’act de Satie não foi bem sucedido:
Allegedly, the public did not obey Satie’s intention: they kept silently in their places and listened, trained by a habit of incidental music, much to the frustration of the avant-garde musicians, who tried to save their idea by inciting the public to get up, talk, and walk around. wikipedia
No pacote lincado logo abaixo, estão três gravações das peças da furniture music, encontradas nesta página. Além delas, há também anexada a única – que eu saiba – referência direta a este trabalho: a peça Furniture Music Etcetera, uma variação livre (de quase 21 minutos) composta por John Cage, em 1980, para Curtain of a Voting Booth.
Nestas faixas ouço uma concretude que se descortina genial pela proposta, e pelo efeito que consegue.
Se eu estiver muito maluco, me mandem vacinar.
Furniture Music, Part 1: Curtain of a Voting Booth 5’56
Furniture Music, Part 2: Tapestry of Wrought Iron: for the arrival of the guests – grand reception – to be played in an entrance hall 3’00
Furniture Music, Part 3: Phonic Tiles – may be performed at a luncheon 2’25 Ars Nova Ensemble
Marius Constant: director
Michel Dalberto: piano
Pierre Thibaudm Bernard Jeannoutot: trumpets
Erato Records 4700W
Furniture Music Etcetera 20’43 Steffen Scheleiemacher: piano
John Cage: Complete Piano Music Vol. 10 diz um reviewer da amazon: “This work is barely more than a sketch for realisation by the performer: it consists of instructions on when to play fragments of Satie and when to play fragments of Cage. Schleiermacher’s reconstruction, thus, is necessarily speculative, but it entertains for its 20 minute duration.”
Rampal e Mozart, que dupla…! Já me emocionei muito com estas gravações, que apenas consolidaram minha opinião a respeito de Rampal… gênio, mestre absoluto da flauta. Confesso que minha gravação favorita do concerto para flauta e harpa é com o Aurele Nicolet, acompanhado pelo Karl Richter… mas sejamos fiéis à coleção… tenho certeza de que ninguém vai se arrepender. E estou preparando outra postagem com esta dupla Nicolet / Richter… Para quem não conhece a obra, preste atenção no andantino do Concerto para flauta, harpa e orquestra. É um dos mais belos momentos da história da música. A delicadeza do dedilhar da harpa, acompanhada pelo sopro divino que emana dos pulmões de Rampal é de ressuscitar até defunto, de tão emocionante…
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Flute Concerto No. 1 in G Major, No. 2 in D major, Concerto for flute and Harp
Não sei bem de onde catei essa raridade, que ganhou remasterização em nova edição deste ano. Também não posso parar agora pra procurar, ou falar sobre Milt Jackson. Ainda bem que não precisa. Saibam que o disco é lindo e majestoso. E agradeçam ao internauta misterioso pelo rip em 320kbps.
Milt Jackson at the Museum of Modern Art 1965
Milt Jackson: vibraphone
Cedar Walton: piano
James Moody: reeds
Ron Carter: bass
Otis Finch: drums
Como Marlos Nobre e Edino Krieger são os dois expoentes mais representativos da música clássica brasileira atual e como Krieger teve duas postagens contra uma de Nobre, esta dividida com Villa-Lobos, faço agora o contrabalanço, com a segunda do compositor pernambucano, mais fácil de ser achado em coletâneas do que em CDs inteiramente dedicados a ele.
Por sorte, tenho um – dos bons – que é uma coletânea de coletâneas. Explico.
Marlos Nobre ganhou em 2005 o Prêmio Tomás Luis de Victoria, uma espécie de Prêmio Príncipe de Astúrias da música clássica espanhola concedida a compositores latino-americanos e ibéricos, e teve a edição de um livro sobre sua vida e obra (El sonido del realismo mágico) bancado pela fundação que concede a láurea. O livro acompanha o presente CD, que compila gravações retiradas de outros álbuns.
Destacam-se no disco: o famoso Frevo, para piano, que tem uma transcrição para violão e depois foi transformado no quinto e último movimento do IV Ciclo Nordestino para piano. Yanomami, uma bem sucedida peça para tenor solo e coral acompanhada por somente um único violão. As Três canções negras, com letra dos poetas pernambucanos Ascenso Ferreira e Manuel Bandeira, em particular a primeira delas. E Passacaglia, a melhor obra sinfônica de Nobre depois de Convergências e antes de Kabbalah (esta não me agrada muito).
A remissão das Três canções negras à Bachianas n° 5 é explícita pela igual formação instrumental, para oito celli e soprano, e pela utilização de poemas de Bandeira – tanto que o CD original traz ambas as obras. Porém não há outros traços, fora esses. Já a Passacaglia foi ampliada um pouco e destinada a balé com o nome de Saga Marista, sob encomenda dos Irmãos Maristas pelo centenário da congregação no Brasil, em 1997, e reciclada em uma transcrição para banda sinfônica chamada Chacona amazônica – nada que supere os Desafios, que é quase a mesma coisa tendo cada instrumento da orquestra como solista.
***
Marlos Nobre (1939): Selección sonora (Nobre e outros) (Premio Tomás Luis de Victoria 2005)
Quarteto de cordas, op. 23 n° 1 (1967)
1. Variantes
2. Interlúdio
3. Postlúdio
Música Nova String Quartet
Desafio VII para piano e orquestra de cordas, op. 31, n° 7 (1980)
4. I. Cadenza e II. Desafio
Maria Luíza Corker-Nobre, piano
Música Nova String Orchestra
Marlos Nobre, regência
5. Yanomami, para coro misto, tenor e violão, op. 47 (1980)
Choeur des XVIème de Fribourg
Olivier Rumpf, tenor
Dagoberto Linhares, violão
Jean Jacques Martin, regência
Sonante I, para marimba solo, op. 80 (1994)
6. Intrata
7. Toccata
Miguel Bernat, marimba
Três canções negras, para soprano e octeto de violoncelos, op. 88 (1999)
8. Maracatu
9. Cantilena
10. Candomblé
Cello Octeto Conjunto Ibérico
Pilar Jurado, soprano
Elias Arizcúren, regência
11. Tango, para piano, op. 61 (1984)
12. Frevo, para piano, op. 43 (1977)
Marlos Nobre, piano
13. Passacaglia, para orquestra, op. 84 (1997)
Não constam regente e orquestra
Lembram dos dois sensacionais álbuns de Reinhard Goebel de algumas décadas atrás? Goebel e sua turma ganharam todos os prêmios anuais disponíveis. Querem conhecê-los? O primeiro está aqui, o segundo aqui. Na época Goebel estava colocando na roda alguém que era desconhecido do grande público. Heinichen escreveu algumas obras-primas que soam como os grandes concertos de J.S. Bach. Suas aberturas soam como Telemann. Quando Goebel descobriu este compositor, era tudo muito surpreendente e alegre. Aqui, “Il fondamento” mantém este espírito com muito entusiasmo e beleza trazendo outras obras do grande Heinichen, com uma exceção, o Sieble 214. Este CD é obrigatório. A música é sublime e os músicos são muito talentosos!
Johann David Heinichen (1683-1729): Galant Court Music (Il Fondamento / Paul Dombrecht)
Concerto A 7, G Major, Seibel 214
1 Vivace 2:34
2 Largo 2:02
3 Allegro 3:24
Os melhores livros são os que emprestamos dos amigos. Foi assim, Maurice Ravel emprestou de seu amigo, o pianista Ricardo Viñes, um livro de poemas escrito por Aloysius Bertrand. As poesias são cheias de personagens fantásticos e de histórias de terror. Esse disco reúne peças que foram em parte inspiradas nessas histórias escritas em forma de poemas. O disco tem dois lados, assim como o famoso personagem do conto “O Médico e o Monstro” – Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
A primeira parte é a peça que leva o nome do livro, Gaspard de la nuit, com seus três movimentos: Ondine, Le Gibet e Scarbo. Esta peça é considerada a mais difícil da literatura de piano e superou Islamey, de Balakyrev, a campeã em dificuldade até então. Pois foi o pianista Ricardo Viñes o primeiro a interpretá-la. Para saber mais sobre essa peça, veja aqui.
O outro lado do disco é uma delícia que começa com as Valsas nobres e sentimentais, nas quais Ravel emula o mundo vienense de Schubert, mais do que o de Strauss. A edição da partitura para piano (há uma versão para orquestra) leva uma citação de Henri de Régnier: “… le plaisir délicieux et toujour nouveau d’une occupation inutile” (… o prazer delicioso e sempre novo de uma ocupação inútil) – o que remete à doce inutilidade de escrever postagens, claro, guardadas as devidas proporções.
A última peça volta a ser colorida por seres fantásticos, mas do mundo das histórias para crianças (de todas as idades). A suíte da Mamãe Gansa é uma verdadeira maravilha, nessa versão para piano a quatro mãos. Encante-se com o Pequeno Polegar, A Princesinha Chinesa, A Bela e a Fera, e com o apoteótico Jardim das Fadas.
O pianista aqui é o jovem Emanuel Ax, que em 1978 tinha 29 anos e havia vencido em Tel Aviv o primeiro Concurso Arthur Rubinstein, em 1974. Na suíte da Mamãe Gansa ele tem a companhia da pianista Yoko Nazaki. Eu gostei muito deste disco já vintage, mas ainda em excelente forma.
Maurice Ravel (1875-1937)
Gaspard de la Nuit, M. 55
Ondine
Le Gibet
Scarbo
Valses nobles et sentimentales, M. 61
Modéré, très franc
Assez lent, avec une expression intense
Modéré
Assez animé
Presque lent, dans un semtiment intime
Vif
Moins vif
Épilogue. Lent
Ma mère l’oye, M. 60
Pavane de la Belle au bois dormant. Lent
Petit Poucet. Très modéré
Laideronnette, Impératrice des pagodes. Mouvement de marche
Les Entretiens de la Belle et de la Bête. Mouvement de valse très modéré
Seção “The Book is on the Table”: Emmanuel Ax is of the same generation as Murray Perahia and shares many of his attributes. These recordings date from early in his career and demonstrate all the key elements of his style – subtlety of colouring, wonderful tonal control, long-breathed lines. A must for devotees of Ax and of piano playing!
Sometimes not the playing I would look for in an individual work, but always substantial pianism and mostly much better than that. The Ravel is very, very fine, which is not in the line of most of what he does. I can often hear him solving (successfully) problems that other pianists have with specific barriers.
Mais um disco do “Trio Parada Dura” de Veneza: Merulo, Gabrieli e Gabrieli. Os três trabalharam mutos anos na Basílica de San Marco, a maior igreja de Veneza, financiada pelos ricaços que comandavam boa parte do comércio mediterrâneo. Eles começaram a empobrecer quando Portugal e Espanha, contornando a África, chegaram às Índias e de bônus encontraram a América, mas esse processo de empobrecimento durou séculos, de modo que por volta de 1550 a 1650 o comércio se reduzia mas a música de Veneza chegou ao seu auge: toda a Europa imitou e aprendeu com as inovações de Merulo, dos dois Gabrieli e de Monteverdi. Mas atenção: o Gabrieli que aparece aqui, Giovanni, era sobrinho do outro, Andrea, que apareceu na postagem de anteontem. Boa parte das obras de Andrea foram publicadas postumamente, com edição do sobrinho, que possivelmente fez certas contribuições colocando notas aqui e tirando ali, de modo que é difícil diferenciar os estilos dos dois Gabrieli.
Claudio Merulo era contratado como organista em San Marco, mas também compunha música vocal como o Magnificat aqui gravado. Já Andrea Gabrieli foi responsável pela música vocal da Basílica de San Marco, cargo que herdou de seu professor, o franco-flamenco Adrian Willaert (morto em 1562). Muitos estrangeiros vinham escutar a música de San Marco e, se possível, aprender um pouco com Willaert, Merulo, A. Gabrieli e, depois, com seu sobrinho G. Gabrieli. O sucessor deste último no cargo foi Monteverdi, o último compositor de renome internacional em San Marco. Depois, outros gênios ainda viveriam em Veneza mas sem relações diretas com a Basílica, como Barbara Strozzi (que, por ser mulher, jamais seria cogitada Maestrina di Capella della Serenissima Republica) e Vivaldi.
Como explica Adrien Mabire nas notas, o programa do disco se baseia nas obras de G. Gabrieli publicadas nos “Concerti” de 1587 e nas “Sacrae Symphoniae” de 1597. Ele mostra a gênese das grandes peças para coro simples e duplo, arte tipicamente veneziana, com o objetivo de restituir a essa música sua forma original, na qual vozes e instrumentos se misturam. Para nos ajudar a imaginar as influências sobra Giovanni Gabrieli, além de sua educação com seu tio e com Roland de Lassus, adicionamos três peças de outros compositores. Primeiro o Magnificat de Claudio Merulo. Este último era organista em San Marco quando os dois Gabrieli ali trabalhavam, é evidente o impacto de sua obra sobre Giovanni. Em seguida a canção de Adrian Willaert (1490-1562), mestre de capela em San Marco e professor de Andrea Gabrieli, canção que representa aqui uma pausa nas obras de igreja. Para fechar, uma pequena peça humorística de Roland de Lassus, com quem Giovanni trabalhou em Munique de 1575 a 1579, apenas cinco ou seis anos antes das primeiras composições de G. Gabrieli aqui gravadas. Ao contrário de outras gravações desse repertório, o conjunto aqui presente é mais reduzido, com seis cantores, quatro sopros e órgão. Nos motetos para mais de seis vozes, são os instrumentos que tocam as partes vocais, prática comum na época em que essa música era ouvida em grandes celebrações na Basílica de San Marco.
GLORIA A VENEZIA !
CLAUDIO MERULO (1533-1604)
1. Magnificat 5’38
GIOVANNI GABRIELI (1557-1612)
2. Canzon terza a 4 1’50
3. Ego Dixi a 7 2’42
4. Beati immaculati a 8 2’42
GIOSSEFO GUAMI (1542-1611)
5. Canzon alla francese « La Lucchesina » 2’46
G. GABRIELI
6. Inclina Domine a 6 3’20
7. O magnum mysterium a 10 2’50
8. Canzon quarta a 4 2’26
9. Jubilate deo a 8 3’22
10. Deus, deus meus a 10 3’43
11. Ricercar per organo 1’49
12. Domine exaudi a 10 1’52
ADRIAN WILLAERT (1490-1562)
13. Le dur travail 1’21
G. GABRIELI
14. Surrexit pastor bonus a 10 2’37
15. Canzon seconda 2’36
16. Beata es virgo maria a 6 3’24
17. Canzon « La Spiritata » a 4 3’00
18. Angelus ad pastores a 12 2’42
ROLAND DE LASSUS (1532-1594)
19. Lucescit iam o socii 2’58
La Guilde des Mercenaires
Adrien Mabire, direction et cornet
Chanteurs:
Violaine Le Chenadec, soprano; Anaïs Bertrand, mezzo soprano; Marnix De Cat, contre-ténor; Marc Mauillon, baryton-basse; Renaud Bres, baryton-basse; Marc Busnel, basse
Instrumentistes:
Benoit Tainturier – cornet
Juan Gonzales Martinez, Arnaud Bretecher, Abel Rohrbach – trombones
Jean-Luc Ho – orgue
Enregistré à la Chapelle Royale de Versailles, France, 2019
Há muito tempo, tanto em apresentações públicas como em gravações, Jordi Savall e o seu grupo têm caminhado para um estilo de interpretação cada vez mais meditativo. Com esta gravação, em colaboração com Wieland Kuijken, eles alcançam um estado de abstração raramente experimentado na música. É quase desnecessário dizer que a sua forma de tocar é sempre extremamente bonita: a música assim o exige. Mas qualquer necessidade de ser retórico foi superada e descartada. É tudo muito sutil e convincente — desde a primeira faixa o ouvinte é transportado para uma atmosfera auditiva rarefeita. Embora eu não tenha tido a oportunidade de comparar, a impressão desta versão é que poucos ousariam tocar tão lentamente. A seção lenta da Quarta Fantasia, por exemplo, está quase paralisada. E, ainda assim, a música mais do que sobrevive. São performances que iluminam a partitura de Purcell. Não deixe de ouvir!
Henry Purcell (1659-1695): Fantasias para Violas (Hespèrion XX / Jordi Savall)
Fantasia em uma nota
1 Fantasia em uma nota 3:06
3 fantasias em 3 partes
2 Fantasia eu 3:15
3 Fantasia II 2:40
4 Fantasia III 3:38
3 fantasias em 4 partes
5 Fantasia IV, 10 de junho de 1680 3:49
6 Fantasia V, 11 de junho de 1680 3:32
7 Fantasia VI, 14 de junho de 1680 4:05
In Nomine em 6 partes
8 In Nomine em 6 partes 1:51
3 fantasias em 4 partes
9 Fantasia VII, 19 de junho de 1680 4:24
10 Fantasia VIII, 22 de junho de 1680 16:00
11 Fantasia IX, 23 de junho de 1680 5:08
3 fantasias em 4 partes
12 Fantasia X, 30 de junho de 1680 4:05
13 Fantasia XI, 18 de agosto de 1680 3:08
14 Fantasia XII, 31 de agosto de 1680 3:35
In Nomine em 7 partes
15 In Nomine em 7 partes 3:45
Hespèrion XX:
Viol [Basse De Viole] – Marianne Müller * , Philippe Pierlot (2) , Wieland Kuijken
Viol [Dessus De Viole] – Jordi Savall
Viol [Hautecontre De Viole] – Sophie Watillon
Viol [Ténor De Viole] – Eunice Brandão , Sergi Casademunt
Direção: Jordi Savall
Dois CDs dedicados à música para teclado do norte da Itália por volta de 1590-1600. Veneza: “tão única no mundo e tão estranha que parece saída de um sonho”, nas palavras de Juan del Encina por volta de 1500. Naquela época, ao mesmo tempo que começava lentamente a perder protagonismo comercial para as caravelas do comércio atlântico, Veneza mantinha-se como uma cidade notável por sua mistura de influências de todo o Mediterrâneo e especialmente da metade oriental daquele mar. Ao mesmo tempo, uma inovação recente havia se firmado há poucos anos: a impressão em papel. É preciso lembrar que a Bíblia de Gutenberg é de 1455, e que poucas décadas depois tanto Veneza quanto Roma já contavam com dezenas de casas comerciais que imprimiam – sabe-se lá o quê! Livros religiosos, seculares, talvez listas de mercadorias e também música, talvez nem tanta música em 1500, mas sem dúvida muita música mais para o fim daquele século.
Em 1600, Veneza seguia única com seus palácios de estilo meio gótico, meio bizantino, meio árabe – as três metades se equlibravam sobre as águas da laguna meio que por mágica, mas também por técnicas milenares. E seguia sendo uma das cidades com mais casas de impressão na Europa. Este disco traz obras para cravo impressas em Veneza entre 1588 e 1621: a música puramente instrumental apenas começava a ser escrita e publicada, ao contrário da vocal que já tinha tradição de manuscritos por monges e padres da idade média. Não é um acaso que a difusão da imprensa tenha coexistido com essa ideia nova e revolucionária de se registrar no papel música instrumental.
No disco da Harmonia Mundi, temos alguns dos primeiros compositores a publicarem obras impressas (e não só manuscritas) para instrumentos de teclado. Alguns deles – Facoli, Radino, Picchi – escreveram volumes de obras ligeiras, danças e coisas do tipo, que dão um interessante panorama de como devia ser a vida musical em Veneza e região vizinha por volta de 1600.
Andrea Gabrieli e Claudio Merulo já são outra coisa, compará-los com esses outros citados é como comparar duas grandes árvores com pequenas flores. A flor tem beleza, aroma, simpatia, mas uma árvore de dezenas de metros, cheia de galhos mas também cipós e epífitas, insetos e pássaros em sua copa, isso é algo mais próximo da complexidade da escrita de A. Gabrieli, cheia de encontros e desencontros de diferentes vozes em contraponto e outras sutilezas.
Andrea Gabrieli sucedeu ao seu professor, o franco-flamenco Adrian Willaert (morto em 1562) no cargo de responsável pela música da Basílica de San Marco. Muitos estrangeiros vinham escutar a música de San Marco e, se possível, aprender um pouco com Willaert, A. Gabrieli e, depois, com seu sobrinho G. Gabrieli, outro importante compositor de Veneza. Ambos foram organistas na Basílica de São Marcos, isso é bem documentado, mas a atividade deles tocando cravo ou clavicórdio em casas, palácios e jardins já é um assunto sobre o qual podemos apenas sonhar. O volume “Canzoni alla francesa & Ricercari Ariosi libro Quinto”, como o nome indica, reunia obras de A. Gabrieli que se baseavam em melodias de canções, fossem elas de origem popular ou inventadas pelo compositor. O princípio é simples como uma semente, mas dele se originavam exuberantes árvores sonoras.
Sobre Andrea Gabrieli, as notas do CD nos informam: compositor prolífico e respeitado, ele reune em sua música para teclado as heranças dos polifonistas franco-flamencos e a da música espanhola para órgão, a mais evoluída do século XVI com compositores como Antonio de Cabezòn e Juan Bermudo. O seu “Pass’e mezzo Antico” está mais próximo de certas obras espanholas do que do “Pass’e mezzo” de Picchi, de estilo bem mais solto. Gabrieli faz um rico trabalho imitativo, caracterizado, ao mesmo tempo, mais por elegância do que por virtuosismo.
Andrea Gabrieli, além de organista, foi cantor no coro de San Marco quando jovem. De sua ligação com a polifonia vem provavelmente a predominância das formas imitativas. Ricercari e Canzoni são mais frequentes em sua obra do que a forma mais livre da Toccata, a qual tinha como mestre inigualável seu colega em San Marco, Claudio Merulo.
Gabrieli se baseou em uma célebre canção muito famosa naqueles tempos, “Suzanne un jour”, de Lassus, para transformá-la praticamente em uma Pavana – palavra derivada de Padoana, de Pádua, cidade próxima a Veneza – cheia de ornamentos. Para dar uma ideia da distância entre a [i] canzon de Gabrieli e o modelo vocal, o disco apresenta uma versão da canção de Lassus, originalmente para cinco vozes, apenas com a parte de soprano cantada por Kiehr. Era comum naquela época essa prática de improvisos e passagi que traziam apenas uma distância lembrança da canção original.
O disco termina com uma Toccata de Claudio Merulo: embora nascido na Emilia-Romagna (região italiana situada entre Veneza e a Toscana), ele permaneceu em Veneza como organista em San Marco por quase 30 anos, e foi ali que ficou famoso também como compositor, fazendo música para os nobres de Veneza e também comparecendo em Florença no casamento de Franceso de’ Medici como embaixador da Serenissima República de Veneza. Ele foi inovador sobretudo nas suas toccatas, com alternância de momentos polifônicos e passagi brilhantes de virtuosismo. Isso significa que ele alternava, na mesma composição, momentos de contraponto elaborado sob certas regras e momentos bastante livres. Esse estilo influenciou as Toccatas de italianos como Frescobaldi e A. Scarlatti e ainda as de gente de terras distantes como Sweelinck na Holanda, Buxtehude e J.S. Bach na Alemanha.
A toccata de Merulo aqui presente foi publicado no seu segundo livro de “Toccate d’Intavolatura d’organo”. Intavolatura significa introdução. Esse nome, equivalente ao de “Prelúdio” em séculos seguintes, indicava que boa parte da música instrumental publicada era compreendida como introdução a um “Prato Principal” que costumava ser a música vocal, fosse ela sacra ou profana.
Marco Facoli (séc. XVI)
1-10. Peças de “Il secondo Libro d’Intavolatura di Balli d’Arpicordo (Veneza, 1588)
Aria della Comedia nuovo, Aria della Marchetta Schiavonetta,
Aria della Signora Livia, Padoana prima dita Marucina, Aria della Signora Fior d’Amor, Aria della Signora Ortensia,
Aria della Signora Michiela, Padoana quarta dita Marchetta à doi modi, Napolitana “Deh pastorella cara”, Napolitana “S’io m’accorgo ben mio”
Andrea Gabrieli (ca. 1510-1586)
11-12. Peças de “Il Terzo Libro de Ricercari (Veneza, 1596)
Pass’e mezzo antico in cinque modi variati, Ricercar del secondo tono
Giovanni Maria Radino (séc XVI – após 1607)
13-17. Peças de “Il primo Libro d’Intavolatura di Balli d’Arpicordo (Veneza, 1592)
Gagliarda seconda, Gagliarda prima, Padoana prima, Gagliarda terza, Gagliarda quarta,
Orlando di Lasso (1532-1594)
18. Peça de “Mellange d’Orlande de Lassus” (Le Roy & Ballard, 1570)
Susanne ung jour (G. Guerault), chanson
Andrea Gabrieli (ca. 1510-1586)
19-20. Peças de Canzoni alla francese & Ricercari Ariosi, Libro Quinto (Veneza, 1605)
Canzon deta “Suzanne un iour” d’Orlando Lasso, Canzon deta “Frais et Galliard” di Crequillon
Giovanni Picchi (fin do séc. XVI – início séc. XVII)
21-28. Peças de “Intavolatura di Balli d’Arpicordi” (Veneza, 1621)
Ballo ditto il Steffanin, Todescha con il suo Balletto, Ballo ditto il Picchi, Padoana ditta La Ongara, Ballo ongaro con il suo Balletto, Ballo alla Polacha con il suo Saltarello, Pass’e mezzo, Saltarello del Pass’e Mezzo
Claudio Merulo (1533-1604)
29. Peça das “Toccate d’Intavolatura d’organo, Libro Secondo”
Toccata Seconda
Jean-Marc Aymes – cravos fabricados por Philippe Humeau, cópias de Giovanni Antonio (Veneza, 1579) e anônimo italiano
Faixa 29: claviorganum por Philippe Humeau e Etienne Fouss
Faixas 9, 10, 18: Maria-Cristina Kiehr, soprano
O cravo assinado “Baffo – Venetus – 1574”. Abaixo, mais detalhes deleNa tábua, figuras que remetem à antiguidade greco-romana Junto ao teclado, arabescos típicos do mundo islâmico
Os dois livros que nos transmitiram as toccatas de Merulo foram publicados pelo autor, que também era editor de partituras. Sabemos que, de maneira geral, a escrita musical se transformou progressivamente e se enriqueceu de novos sinais gráficos a fim de permitir uma melhor transmissão das intenções do autor para o intérprete. Certos compositores sentiram este exigêncie de precisão com mais acuidade do que outros, e Merulo certamente foi um destes: ao contrário de Frescobaldi, porém, ele não utilizou, para alcançar tal objetivo, indicações dinâmicas ou agógicas, ou prefácios explicando o que a página musical não podia conter. Ele colocou seu pensamento unicamente na notação escrita, que articulou através de uma variedade de ritmos e de agrupamentos de notas absolutamente sem igual.
Merulo obriga assim o intérprete a se equilibrar entre, de um lado, a precisão da escrita musical e, de outro lado, seu renome como improvisador, o que faz pensar em interpretações fundamentalmente livres e inventivas. Sua precisão de escrita, da fato, poderia facilmente afastar o intérprete em nosso século do espírito original das obras, preocupado apenas com a realização meticulosa de cada detalhe. Mas se consideramos as partituras […] como a tradução escrita de alguma coisa que escapa à notação musical tradicional, então o intérprete alcança um leque fascinante de possibilidades, o que lhe permite recriar o clima de improviso que esteve presente no nascimento dessas obras. É, então, a busca por um equilíbrio delcado entre a fidelidade ao texto e a liberdade de interpretação que me conduziu ao longo da execução dessas obras sedutoras.
(Fabio Bonizzoni, 1997)
Fabio Bonizzoni, cravo veneziano (anon.), fim do século XVI & órgão da Madonna di Campagna em Ponte in Valtellina, 1519-1589
(venetian harpsichord, anon., end of 16th c. & organ from Ponte in Valtellina, 1519-1589)
Ambos viveram 24 anos. Schunke foi amigo de Schumann e não teve tempo de amadurecer. Reubke tem uma obra importante para órgão, a Sonata sobre o 94º Salmo. E só. Morreram cedo os dois jovens românticos. Este CD não é nenhuma maravilha, mas também não é o horror descrito pelo único comentarista que escreveu a respeito na Amazon. Pode ser sem brilhantismo, mas é simpático. Julguem aí.
Reubke (1834-1858) e Schunke (1810-1834): Obras para piano
J. Reubke: Sonata in B flat minor (1857)
01. Allegro maestoso – Sostenuto – Quasi recitativo – Dolce e con espressione –
Animato – Allegro appassionato – Sostenuto – Quasi recitativo – Dolcissimo
con espressione – Animato – Allegro con fuoco – Maestoso 12:29
02. Andante sostenuto – Animato – Più lento – Adagio 7:22
03. Allegro assai – Allegro agitato – Meno mosso – Grave – Quasi recitativo –
Tempo primo – Presto – Allegro maestoso – Grave 8:26
04. Mazurka in E Major (1856)* 3:23
05. Scherzo in D minor (1856)* 5:24
C. L. Schunke: Grande sonata in G minor Op.3 (1832)
06. Allegro 7:42
07. Scherzo: Molto allegro 2:35
08. Andante sostenuto 4:48
09. Finale: Allegro 7:33
Este CD consiste de três Ouvertures e três Trio Sonatas que aparecem aqui pela primeira vez em disco. A coleção foi publicada em 1753, quando o Mercure de France registrou que seu conteúdo era “na verdade superior a todas as grandes coisas que o compositor fez até agora”. As aberturas são do tipo francês. A estas Leclair acrescentou em cada caso um movimento intermediário lento e um final animado. As três sonatas estão em quatro movimentos seguindo o padrão lento-rápido-lento-rápido. Dois deles são arranjos do próprio Leclair de sonatas para violino solo de suas duas primeiras coleções impressas, enquanto o terceiro foi originalmente publicado como um trio em uma publicação de 1728. As aberturas, por outro lado, começaram como peças de teatro; na verdade, uma deles, como o próprio Leclair observou, funcionou como abertura para sua única ópera Scylla et Glaucus (1746), enquanto seus dois movimentos restantes e a música das outras duas aberturas talvez tenham servido como música teatral para o duque de Gramont, que contratou Leclair como líder de orquestra no final da década de 1740.
Jean-Marie Leclair (1697-1764): Ouvertures Et Sonates En Trio (Christophe Rousset, Les Talens Lyriques)
Ouvertura I En Sol Majeur
1 Staccato, Allegro
2 Dolce Andante
3 Minuetto, Altro, Dolce
Sonata I En Ré Majeur
4 Adagio
5 Allegro
6 Sarabande
7 Allegro Assai
Ouvertura II En Ré Majeur
8 Grave Allegro
9 Andante Dolce
10 Allegro
Sonata II En Si Mineur
11 Largo
12 Allegro
13 Largo
14 Allegro
Ouvertura III En La Majeur
15 Grave
16 Allegro
17 Largo
18 Allegro Assai
Sonata III En Sol Mineur
19 Adagio
20 Allegro Ma Non Troppo
21 Aria Gratioso
22 Allegro
Un album entièrement français… Claude Debussy e Francis Poulenc contribuíram imensamente para estabelecer a identidade musical francesa, compondo música que é a um só tempo refinada, emotiva, mas também com espaço para gaiatice, ironia. E foram inovadores, verdadeiramente criativos.
A primeira vez que ouvi a sonata para violoncelo e piano de Debussy foi no disco de Rostropovich e Britten. Depois, a ouvi novamente, ao lado das suas outras sonatas, no disco da Philips, com Gendron, Grumiaux e o resto da gang. Eu gosto muito dessas obras, em particular da sonata para flauta, viola e harpa.
Francis indicando com seu chapéu para onde o pessoal do PQP Bach deveria ir para pegar o uber de volta, após a entrevista
A música de Poulenc eu descobri um pouco mais tarde, mas agora está sempre presente em minhas playslists. A sua sonata para violino, assim como a sonata para violoncelo, está entre as minhas preferidas, mas Poulenc também compôs lindas sonatas com instrumentos de sopro que vale a pena explorar.
JG Queyras
Esse disco todo francês, tem por intérpretes dois expoentes de uma nova geração de músicos franceses que assegura uma continuidade de excelência musical. Jean-Guihen Queyras é violoncelista de primeira e Alexandre Tharaud pianista que tem no repertório bem mais do que só música francesa. Os dois músicos já andaram por aqui, visitando a terrinha, e se você tiver a oportunidade, vá vê-los.
A Tharaud
Não deixe de se deliciar com as duas sonatas e também com as outras peças que completam o disco. A valsa ‘La plus que lente’, uma versão para violoncelo e piano da conhecida peça para piano. Do lado mais exótico temos a bagatela de Poulenc, que é seguida pela linda serenata. Um álbum para ser saboreado…
Conheci a sonata de Poulenc graças ao Alexandre, que acredito (embora ainda não tenha conseguido fazê-lo admitir) deve ter aprendido a tocar essa música antes de começar a andar; ela parece fluir de seus dedos como se fosse uma segunda natureza. JG Queyras
É um gosto altamente pessoal, claro, mas esta é a minha preferida dentre as Sinfonias de Mahler. Longuíssima e grandiosa, porém cheia de episódios camarísticos, a terceira é aquela que mais me surpreende e surpreende a cada audição. Em conversa com um amigo, disse que é raro ouvir uma má versão das obras de Mahler. Elas afastam naturalmente os amadores. Quem as aborda sabe o que faz, com raras exceções. Esta abordagem gravada ao vivo de Sado é especialmente feliz. A Orquestra Tonkünstler, também conhecida apenas como Tonkünstler, é excelente. Ela foi fundada em 1907 e é uma orquestra austríaca baseada na capital Viena e em Sankt Pölten. Yutaka Sado é seu regente titular desde 2015. (Isaac Karabtchevsky ocupou o posto entre 1988 e 1994). Já a Sinfonia Nº 3 de Mahler foi esboçada em 1893, composta principalmente em 1895, tomando forma final em 1896. Com seis movimentos, é a composição mais longa de Mahler e é a a sinfonia mais longa do repertório padrão, com execução típica durando em torno de 95 a 110 minutos. Foi eleita uma das dez melhores sinfonias de todos os tempos numa pesquisa com maestros realizada pela BBC Music Magazine. A peça é executada em concerto com menos frequência do que as outras sinfonias de Mahler, devido em parte à sua grande extensão e às enormes forças necessárias — oito trompas, coro infantil, etc. Apesar disso, é uma obra popular. Quando é executada, às vezes é feito um pequeno intervalo entre o primeiro movimento (que sozinho dura mais de meia hora) e o resto da peça. Isto está de acordo com a cópia manuscrita da partitura completa (guardada na Biblioteca Pierpont Morgan, Nova Iorque), onde o final do primeiro movimento traz a inscrição Folgt eine lange Pause! (“segue-se uma longa pausa”). A inscrição não é encontrada na partitura publicada. Uma seção do Quarto Movimento aparece no filme Morte em Veneza, de Luchino Visconti, de 1971, que também apresenta o Adagietto da Quinta Sinfonia, como todo mundo sabe. O trecho da Terceira é apresentado como a música que Gustav von Aschenbach compõe antes de morrer.
Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 3 (Sado)
01. Symphony No. 3 in D Minor I. Kraftig. Entschieden
02. Symphony No. 3 in D Minor II. Tempo di minuetto
03. Symphony No. 3 in D Minor III. Comodo, scherzando. Ohne Hast
04. Symphony No. 3 in D Minor IV. Sehr Langsam, misterioso. Durchaus Leise
05. Symphony No. 3 in D Minor V. Lustig im tempo und keck im ausdruck
06. Symphony No. 3 in D Minor VI. Langsam, ruhevoll. Empfunden
CD que vai tranquilamente para a categoria dos imperdíveis.
No início de 1935, Berg recebeu a encomenda de um concerto do violinista Louis Krasner para estrear no Festival de Música Contemporânea que aconteceria no ano seguinte em Barcelona. Envolvido com a produção de sua ópera “Lulu”, Berg titubeou em aceitar a encomenda. Mas a morte prematura de Manon Gropius, filha de sua dileta amiga Alma Mahler e do arquiteto Walter Gropius, mobilizou o compositor a homenagear a jovem que se despedira da vida aos 18 anos, vítima de paralisia-infantil. A obra, que deveria ser o Réquiem de Manon, acaba ser o Réquiem do próprio Berg, que morreu em 24 de dezembro de 1935 com 50 anos, deixando sua “Lulu” incompleta. De fato, sua obra derradeira acabou por ser este Concerto para violino, que ele não viveu o suficiente para vê-lo apresentado por Krasner (o autor da encomenda) em Barcelona em 1936. O concerto é belíssimo e Hope desnuda-lhe toda a emoção para nós.
Menos conhecido, mas do mesmo nível — na minha opinião, melhor — é o concerto de Britten. Ele foi escrito entre 1938 a 1939 e dedicado a Henry Boys, seu antigo professor no Royal College of Music. Foi estreado em Nova York em 29 de março de 1940. Não há pontos fracos nesta obra. Ela é toda perfeita. Amor e guerra se misturam nela. O terceiro movimento (Passacaglia) é um tributo aos soltados voluntários britânicos, alguns deles amigos de Britten, que lutaram contra o franquismo durante a Guerra Civil Espanhola. Foi também durante a escrita deste concerto que o compositor conheceu Peter Pears, tenor que se tornou seu companheiro para toda a vida. O sul-africado Daniel Hope volta a atuar maravilhosamente aqui. O que ele faz nos dois primeiros movimentos é pura magia.
Alban Berg (1885-1935) & Benjamin Britten (1913-1976): Concertos para Violino (Hope, Watkins, BBC)
BERG – Violin Concerto. Dem Gedenken Eines Engels • To The Memory Of An Angel • À La Mémoire D’Un Ange
1 Part I: Andante — Allegretto 12:03
2 Part II: Allegro — Adagio 17:08
BRITTEN – Violin Concerto, Op.15
3 I Moderato Con Moto — Agitato — Tempo Primo 10:44
4 II Vivace — Animando — Largamente — Cadenza 9:01
5 III Passacaglia: Andante Lento 16:01
Composed By – Alban Berg (faixas: 1, 2), Benjamin Britten (faixas: 3 to 5)
Conductor – Paul Watkins
Orchestra – BBC Symphony Orchestra
Violin – Daniel Hope
A peça de Walton é realmente muito boa, devo admitir. Os compositores ingleses não costumam me entusiasmar, mas o Allegro Molto da obra de Walton é de erguer cadáveres. Tive que ouvi-lo muitas vezes para ter certeza se tinha gostado. E gostei, muito. O Albion captura a turbulência, o lirismo melancólico enredado em tensão que é evocado na escrita de Walton. A abertura é cativante, com o tom de Albion ao mesmo tempo açucarado e iluminado, às vezes elétrico. Já o quarteto de Shostakovich é uma obra-prima conhecida. Me dá a impressão de que o Shosta saiu meio “berrado”, mas as diferenças entre cada versão são tão grandes que a gente fica pensando… A versão do Albion denota uma tremenda coragem. De maneira típica, Shostakovich começa com um humor alegre e ensolarado, que não podemos confiar que seja genuíno, como é seu costume. Logo, ele mostra seu lado cínico. Enquanto ele desce para as sombras, os Albion o seguem obedientemente. Os contrastes aqui são retratados de forma excelente e pintados de forma tão nítida que ficamos na ponta da cadeira a maior parte do tempo. Coragem, sim, coragem.
Quarteto de cordas em lá menor Composto por – Sir William Walton
1 I. Allegro 10:35
2 II. Presto 4:31
3 III. Lento 8:29
4 IV. Allegro Molto 4:32
Quarteto de cordas nº 3 em Fá maior, op. 73 Composto por – Dmitri Shostakovich
5 I. Alegretto 6:46
6 II. Moderado com moto 5:23
7 III. Allegro Non Troppo 4:09
8 IV. Adagio 5:40
9 V. Moderado 10:41
Albion Quartet:
Tamsin Waley-Cohen and Emma Parker, violin
Ann Beilby, viola
Nathaniel Boyd, cello
Aqui está um verdadeiro tesouro do antigo catálogo do selo Archiv da Deutsche Grammophon. Este maravilhoso programa de obras instrumentais de Muffat e Biber foi gravado em 1965, interpretado por um conjunto que esteve entre os verdadeiramente grandes pioneiros da performance historicamente informada: o Concentus Musicus Wien, dirigido por Nikolaus Harnoncourt (1929-2016). O som dá a impressão de que foi gravado ontem e a interpretação idem. Harnoncourt era um gênio e só mesmo um mau caráter como Karajan para fazer de tudo a fim de acabar com sua carreira. (Entre outras agressões, Harnoncourt, que era violoncelista da Orquestra Filarmônica de Viena, foi excluído de lá, de Berlim e de Salzburgo depois que começou a reger grupos que utilizavam instrumentos de época, de uma maneira que contrariava a ortodoxia proposta e imposta por Karajan.)
Este disco tem como subtítulo ‘Música da corte barroca austríaca’, uma vez que ambos os compositores trabalharam na Áustria, embora Biber fosse boêmio de nascimento, enquanto Muffat era de ascendência escocesa, mas nasceu na Saboia. As duas obras de Muffat aqui gravadas, a Suite Indissolubilis Amicitia e o Concerto Bona Nova, são belas peças muito distintas entre si e que exemplificam a maneira de Muffat fundir os costumes franceses e italianos em voga na época num estilo próprio, único e altamente atraente. Ilustram também o hábito envolvente do compositor de nomear as suas obras com títulos filosóficos, emocionais ou programáticos – neste caso “amizade eterna” e “boas notícias”. Nas mãos de CMW e Harnoncourt eles soam maravilhosos, com a textura do concerto em particular colorida de forma distinta pelos oboés e fagotes barrocos do conjunto.
As obras de Biber são três sonatas — incluindo uma peça incomum para dois violinos e trombone solo — e a Battalia a 10, esta última frequentemente gravada em outras coleções desde sua primeira aparição em disco. É interessante notar que, na sua crítica original e favorável, o crítico da revista inglesa Gramophone (nome omitido aqui para proteger o ignóbil) chamou esta peça de “bastante infantil”; mas felizmente a maioria dos revisores desse artigo estão demonstrando atualmente uma atitude melhor. O ponto principal, porém, é que as obras escolhidas para este disco ainda sintetizam a beleza, a expressividade e a humanidade da música instrumental barroca no seu melhor. A banda de Harnoncourt demonstra tudo isso em seus instrumentos históricos com texturas gloriosas e em estilo soberbamente idiomático.
Georg Muffat / Heinrich Ignaz Franz Biber: Suiten & Sonaten (Concentus Musicus Wien / Harnoncourt)
Georg Muffat (1653-1704) Indossolubilis Amicitia (Indissoluble Friendship)
Composed By – Georg Muffat
(16:30)
1 Ouverture 4:29
2 Les Courtisans 1:22
3 Rondeau 2:28
4 Les Gendarmes 0:51
5 Les Bossus 1:03
6 Gavotte 1:05
7 Sarabande Pour Le Génie De L’Amitié 1:57
8 Gigue 1:35
9 Menuet 1:50 Concerto I: Bona Nova (Good News)
Composed By – Georg Muffat
(10:17)
10 Sonata. Grave – Allegro 4:08
11 Ballo. Allegro 1:40
12 Grave 1:02
13 Aria 1:32
14 Giga 1:55
Heinrich Ignaz Franz Biber (1644-1704) Die Pauern Kirchfahrt (Country Churchgoing)
Composed By – Heinrich Ignaz Franz Biber
(6:22)
15 Sonata. Adagio – Presto 1:33
16 Die Pauern Kirchfahrt – Adagio 2:19
17 Aria 2:30 Sonata a 2 Violini, Trombone, Violone In D Minor (6:52)
18 (Allegro Non Troppo) 0:34
19 (Poco Allegro) 0:46
20 (Adagio) 1:04
21 (Allegro) 0:21
22 (Adagio) 1:16
23 (Poco Allegro) 0:17
24 (Adagio) 0:55
25 (Allegro) 0:19
26 (Allegro) 1:21 Sonata VIII In B Flat Major
Composed By – Heinrich Ignaz Franz Biber
(5:18)
27 Allegro 1:33
28 (Presto) 2:39
29 Presto – Adagio 1:06 Battalia (Battle) a 10 (7:44)
30 Sonata. Allegro 0:58
31 Allegro: Die Liederliche Gesellschaft Von Allerley Humor 0:41
32 Presto 0:37
33 Der Mars 1:04
34 Presto 0:34
35 Aria 1:48
36 Die Schlacht 0:44
37 Adagio: Lamento Der Verwundten Musquetierer 1:18
Carla Bley (1936-2023) foi pianista, compositora, arranjadora, além de fases mais ligadas ao fusion, quando tocou órgão hammond, piano elétrico e mais. Uma das poucas instrumentistas mulheres a liderar grupos de jazz – na verdade só consigo lembrar de uma outra, Alice Coltrane, e o fato de ambas terem precisado também do sobrenome dos ex-maridos para se estabelecerem comercialmente diz um pouco sobre a indústria musical… Aliás, um detalhe curioso de sua biografia: tendo estudado piano desde pequena, ela se enturmou junto a outros músicos em Nova York começando em um cargo de pouco prestígio, o de vendedora de cigarros na mítica casa de shows Birdland.
O jornalista alemão Wolfgang Sandner resumiu as qualidades de Carla Bley como: “uma grande estimuladora, musa, criadora de ideias e também alguém que recusava o virtuosismo, o perfeccionismo, convencionalismo e falso pathos”.
Vários dos seus discos já foram postados aqui e comentados por PQPBach (aqui eles todos), então não vou enrolar, apenas observar que também vale a pena conhecer mais sobre o trompetista italiano Paolo Fresu que, felizmente, segue vivo!
Ah sim, já ia esquecendo, neste show de 2010 em Colônia, Alemanha, as composições tocadas são todas de Carla Bley: quatro delas foram lançadas em um disco de 2007 (que pode ser conferido no link acima) e aqui aparecem em versões mais longas, com mais improvisos. O outro tema, Vashkar, é bem mais antigo, tendo sido gravado por Paul Bley na década de 1960 e por Jaco Pastorius na de 70.
Carla Bley – the Lost Chords find Paolo Fresu – Live – MusikTriennale Köln, 2010
1. Vashkar (Carla Bley) – 10:02
2. Radio Announcement – 01:31
3. Two Banana (Carla Bley) – 04:24
4. Three Banana (Carla Bley) – 09:15
5. Four (Carla Bley) – 09:49
6. Five Banana/One Banana more (Carla Bley) – 13:24
Carla Bley – piano, organ, arranger
Paolo Fresu – trumpet
Andy Sheppard – tenor sax
Steve Swallow – bass
Billy Drummond – drums
Stadtgarten, Köln, Germany – 26/4/2010
Um disco absolutamente maravilhoso! O Concerto para Violino de Nielsen é quase um anticoncerto romântico. Dificílimo, ele termina com pleno sarcasmo e bom humor, sem nenhum convite ao aplauso. Acho que isto afasta os solistas. Mas é uma obra-prima que inicia como se fosse um épico de completa bravura e acaba por diminuir a voz pouco a pouco. O Concerto foi estreado em Copenhague em fevereiro de 1912. São 4 movimentos que são como se fossem 2, pois cada dupla abre com uma seção lenta, passando para uma mais rápida. Embora incomum, isso pode ser visto como uma forma rápido – lento – rápido, mas com uma extensa introdução lenta ao movimento rápido. A música passa subitamente de uma ideia para outra e, no geral, dá uma sensação ousada e divertida. Jamais esqueçam que é um Concerto escrito por um violinista. James Ehnes é o maior violinista do planeta e aqui demonstra o fato de maneira estarrecedora.
Em total contraste, embora escrita apenas alguns anos depois, a Quarta Sinfonia é mais coesa e unificada. Escrita tendo como pano de fundo a Primeira Guerra Mundial, a obra é uma celebração da própria vida. Pouco antes da estreia em 1916, Nielsen descreveu-a como: “Música é Vida e, como ela, inextinguível.” Bem se vê que ele desconhecia o aquecimento global. Composta na forma usual de quatro movimentos, cada movimento continua desde o anterior sem interrupção. O movimento final apresenta a curiosidade de dois tímpanos lutando entre si na orquestra.
Carl August Nielsen (1865-1931): Concerto para Violino & Sinfonia Nº 4, “Inextinguível” (Ehnes / Gardner)
Mesmo assoberbado pelo trabalho – expressão muito original, não? – não poderia deixar de vir aqui fazer uma postagem. Afinal, faz uns três dias que não compareço! Só que o mesmo verdugo – o trabalho – me impedirá de alongar-me muito. Gosto muito desta obra em que Penderecki demonstra um recuo em relação ao modernismo mais furioso que apresentava em “A Paixão Segundo São Lucas”, por exemplo. Seu pós-serialismo é uma manifestação evidente de maturidade e nisto não vai nenhuma crítica às duas horas da música de Webern, nem ao resto da turma da Segunda Escola de Viena. Sua “Lacrimosa” chega a ser cantabile! Gosto dessas pessoas que conseguem renovar-se. É ecológico para a alma saber-se capaz de várias linguagens, mas isso já é outra história e estou sem tempo… Se fosse você, baixava agora. Vale a pena ouvir. A celebridade de Penderecki não é injusta.
Krzysztof Penderecki – A Polish Requiem (Wit)
CD1
01 Introitus 04:10
02 Kyrie 04:16
03 Dies Irae 01:34
04 Tuba mirum 01:58
05 Mors stupebit 06:30
06 Quid sum miser 04:46
07 Rex tremendae 02:18
08 Recordare Jesu pie 11:24
09 Ingemisco tanquam reus 12:07
10 Lacrimosa 04:39
CD2
01 Sanctus 13:44
02 Agnus Dei 07:35
03 Lux aeterna 04:43
04 Libera me, Domine 09:44
05 Offertorium – Swiety Boze 06:33
06 Libera animas 03:26
07 The Dream Of Jacob Lento (new Sanctus) 08:40
Conductor: Antoni Wit
Performers:
Jadwiga Rappe (Alto)
Ryszard Minkiewicz (Tenor)
Piotr Nowacki (Bass)
Izabella Klosinska (Soprano)
Contemplativo and very english, este CD me encheu o saco. Há poucas boas músicas eruditas inglesas entre os dois gênios maiores da ilha: Purcell e Britten. O romance imensamente popular e “quintessencialmente inglês” de Vaughan Williams para violino e orquestra, The Lark Ascending, recebeu muitas gravações. Não há nenhuma evidência que sugira que o próprio compositor tenha considerado a peça de alguma forma excepcional, então por que ele se transformou no sucesso clássico que quase todo mundo conhece? Enquanto outrora este romance despretensioso era ouvido como uma evocação direta dos 12 versos de George Meredith que prefaciam a partitura, o público mais amplo de hoje desconhece em grande parte a sua fonte poética. A etiqueta “quintessencialmente inglesa” aplicável aos versos vitorianos parece cada vez mais inadequada para explicar o apelo global da música. Em 2011, quando a rede de rádio pública de Nova York perguntou aos ouvintes o que eles gostariam de ouvir no 10º aniversário do 11 de setembro, The Lark Ascending ficou em segundo lugar, atrás de Adagio de Barber. Eu não entendo. E vocês?
Vaughan Williams / Delius / Walton: Greensleeves · The Lark Ascending · Summer Night on the River · On Hearing the First Cuckoo in Spring (Zukerman / Black / Orquestra de Câmara Inglesa / Barenboim)
1 Fantasia sobre “Greensleeves” para orquestra de cordas, harpa e duas flautas (1934)
Composta por – Ralph Vaughan Williams
4:29
Concerto para oboé e orquestra de cordas em lá menor (1944)
Composta por – Ralph Vaughan Williams
Oboé – Neil Black (3)
2 1. Rondo Pastoral: Allegro Moderato 6:54
3 2. Minueto e Musette: Allegro Moderato 2:48
4 3. Finale (Scherzo): Presto 8:54
Duas peças para pequena orquestra
Composta por – Frederico Delius
5 1. Ao ouvir o primeiro cuco na primavera (1912) 7:12
6 2. Noite de verão no rio (1911) 5:41
Duas Aquarelas (1938)
Organizado por – Eric Fenby
Composta por – Frederick Delius
7 1. Lento, Ma Non Troppo 2:44
8 2. Alegremente, mas não rápido 2:10
9 Intermezzo (da ópera “Fennimore e Gerda”) (1909-10)
Composta por – Frederico Delius
5:50
Duas peças para cordas da música do filme “Henrique V” (1943-44)
Composta por – William Walton *
10 1. Passacaglia: Morte de Falstaff 2:47
11 2. “Toque seus lábios macios e parte” 2:01
12 The Lark Ascendente (Romance para violino e orquestra) (1914, Rev. 1920)
Composta por – Ralph Vaughan Williams
Violino – Pinchas Zukerman
Maestro – Daniel Barenboim
Orquestra – Orquestra de Câmara Inglesa
Na boa, sabem aquelas músicas que são usadas no cinema para a entrada de reis e rainhas? Pois bem, Delalande é o autor da maioria. É um especialista em babar ovos, ao que parece. Bem, é um emprego. Quantos de nós não poderíamos ser considerados perfeitos baba-ovos? Escuta, você é empregado? Admira seu chefe? Faz tudo o que ele quer só para que ele não fique na sua cola? Bem, este é o caminho. As “Sinfonias para os Sopros do Rei” são um blow job de primeira linha. Música boa para colocar quando da primeira visita do sogro em casa ou quando aquele sujeito com um ego imenso entra no recinto. No mais, Paillard e sua turma estão muito bem.
Michel Richard Delalande (1657-1726): Simphonies pour les Soupers du Roy (Paillard)
Concert De Trompettes Pour Les Festes Sur Le Canal De Versailles
1 Premier Air 1:33
2 Deuxième Air 0:56
3 Troisième Air : Chaconne En Écho 2:15
4 Quatrième Air : 1er Menuet, Cinquième Air : 2ème Menuet (Trio De Hautbois) 2:05
5 Sixième Air : Air En Écho, Fanfare 1:24
Premier Caprice Ou Caprice De Villers-Cotterets
6 Fièrement Et Détaché ; Gracieusement. Un Peu Plus Gay ; Viste 4:29
7 Augmentation, 1er Air Neuf : Gracieusement Sans Lenteur – Vif, Suitte De L’Ancien 3:04
8 Trio : Doucement – Augmentation, 2e Air Neuf (Fièrement) 5:31
9 Suitte De L’Ancien : Vivement, Doucement, Vivement 2:05
Deuxième Fantaisie Ou Caprice Que Le Roy Demandoit Souvent
10 Un Peu Lent : Vite : Doucement 6:19
11 Gracieusement : Gayement : Vivement 3:36
Troisième Caprice
12 1er Air : Gracieusement 2:30
13 2e Air : Mineur 2:14
14 3e Air : Presto 1:32
15 4e Air : Gigue (Gracieusement) 1:54
16 5e Air : Quator (Doucement) – Prélude 3:59
17 6e Air : Vif 1:38
Concert de trompettes pour les Festes sur le canal de Versailles
Premier Caprice ou Caprice de Villers-Cotterets
Deuxième Fantaisie ou Caprice que le Roy demandoit souvent
Troisième Caprice
Orchestre de Chambre Jean-Francois Paillard
Jean-Francois Paillard
Na minha opinião, trata-se do melhor Quarteto para Piano já escrito. E Schoenberg arranjou-o para orquestra, assim como fez com prelúdios e fugas para órgão de Bach e muitas outras obras. Afora o luxuoso tratamento que lhe dá Schoenberg, a música de Brahms é de primeiríssima linha, coisa de louco mesmo. Não deixem de ouvir. Só não se apavorem, todos os 4 movimentos do Quarteto estão em uma só faixa. O Quarteto de Brahms foi estreado em Hamburgo no ano de 1861. Schoenberg orquestrou a obra em 1937, e ela foi estreada pela Filarmônica de Los Angeles sob a batuta do então diretor musical Otto Klemperer.
Schoenberg explicou a motivo da orquestração quase um ano após a estreia. Ele escreveu:
1. Eu gosto da peça,
2. Ela raramente é tocada,
3. E é sempre muito mal tocada, porque quanto melhor o pianista, mais alto ele toca e não se ouve nada das cordas. Queria uma vez ouvir tudo e consegui. (*)
(*) Pobrezinho, ele não viveu para conhecer as gravações do Beaux Arts, Amadeus e vários outros de nossa época…
Brahms / Schoenberg: Quarteto para Piano, Op. 25 (Arranjo para Orquestra de Arnold Schoenberg)
1. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Allegro 13:42
2. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Intermezzo (Allegro, ma non troppo) 8:40
3. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Andante con moto 10:18
4. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Rondo alla zingarese 8:53
Imaginem Handel, no anos 1930, escrevendo um concerto para quarteto de cordas e grande orquestra? Schoenberg fez aqui um milagre: vestiu o barroco com uma roupagem moderna numa magnífica transcrição do concerto grosso op.6/n.7 de Handel, onde é possível até perceber traços de Brahms (início do último movimento, por exemplo). Eu acho que até os puristas vão adorar. A gravação é raríssima e excelente.
As outras obras do disco resolvi omitir para uma futura postagem.
Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Concerto for string quartet & orchestra (after Handel’s Concerto Grosso, Op.6/7)
1. 1. Largo
2. 2a. Allegro
3. 2b. Largo
4. 3. Allegretto grazioso
5. 4. Hornpipe – Moderato
Performed by San Francisco Ballet Orchestra
with Lark Quartet
Conducted by Jean-Louis LeRoux
O balé Romeu e Julieta de Prokofiev é uma composição dividida em três atos e treze cenas. Foi estreada no dia 11 de janeiro de 1940 no teatro Kirov, em Leningrado, e é, obviamente, baseado na tragédia homônima de William Shakespeare. Prokofiev extraiu deste balé três suítes orquestrais (Op. 64, 64a e Op. 101), além de uma seleção ainda mais reduzida adaptada para o piano (Op. 75). Bem. quem procura esta Suíte não precisa ir além deste magnífico CD. Este é um disco extraordinário e eu gostaria que a CBS tivesse contratado Esa-Pekka Salonen para fazer a versão completa do balé. Tudo começa por Prokofiev, claro, ao selecionar os itens que constariam da Suíte. Eles são admiravelmente paralelos à narrativa, mas também estão dispostos de forma a tornar a escuta contínua muito prazerosa. A execução orquestral é maravilhosamente feliz em seus detalhes: “Julieta – A Jovem” é cativantemente leve e graciosa, enquanto a mais robusta “Máscaras” tem apontamentos rítmicos soberbamente nítidos. O contorno melódico de Salonen é comovente na “Dança do Amor” com um toque das cordas maravilhosamente livre e expressivo, enquanto que, mais tarde, o “Adeus antes da despedida” é igualmente tocante. As duas danças que seguem a “Dança do Amor” fazem um contraste encantador. A “Dança Folclórica” é de total alegria, com violinos delicados contra sopros jocosos e a “Dança com Bandolins” é picantemente colorida com grande efeito. Depois, a “Serenata da Manhã” oferece outro interlúdio de bandolim antes do poderoso desfecho dramático de encerramento. Uma joia!
Serguei Prokofiev (1891-1953): Suíte Romeu e Julieta, Op. 64 (Salonen)
1 A Ordem do Duque 1:36
2 Interlúdio 2:08
3 Preparativos para o baile 1:41
4 Julieta – A Jovem 3:13
5 Chegada dos convidados 3:32
6 Máscaras 2:36
7 Dança dos Cavaleiros 5:50
8 A cena da varanda 1:18
9 Variação de Romeu 1:07
10 Dança de amor 4:53
11 Dança folclórica 3:23
12 Dançar com bandolins 1:51
13 Tybald luta contra Mercutio 1:19
14 Romeu resolve vingar a morte de Mercúcio 2:10
15 Final: Ato II 2:03
16 Adeus antes da despedida 4:58
17 Serenata da Manhã 2:27
18 Funeral de Julieta 5:37
19 Morte de Julieta 3:34
Minha ídola! Sabine Meyer com absoluta certeza é a maior clarinetista que o mundo já produziu. As notas, as melodias saem tão facilmente, tão livremente que fico emocionado só de ouvir o que essa mulher toca. Cada vez que a ouço tocar me sinto uma formiga perante ao Everest.
Dia desses eu ouvi de um colega meu a seguinte afirmação: A clarineta é o instrumento mais sapeca da orquestra. Fiquei pensado o que realmente ele queria falar com isso. Mas deixaei para lá. Lembrei-me desses concertos, não sei por que.
Johann Wenzel Anton Stamitz compositor e violinista checo. Pai de Carl Stamitz e Anton Stamitz, compositores famosos.
Pertenceu a uma célebre família de músicos checos, que exerceram grande influência na evolução da música sinfónica do século XVIII.
Esses concertos, pouco conhecidos, são com certeza obras primas. Não sei se eu falo isso porque toco clarineta ou por ouvinte. Decidam aí vocês. Esses concertos, em sua maioria, tem uma um grau médio de dificuldade. Mas para compensar exigem do músico ( ou musicista ) extrema capacidade de infusão emocional na música. São difíceis de ser executados porque a infusão não pode ser extremamente floreada a ponto de ficar enjoativa, mas também não podem ser seca a ponto de ficar monótono. Sabine faz isso com perfeição. Ela consegue colocar exatamente a quantidade de emoção necessária em cada melodia. Todos os Concertos obedecem praticamente o mesmo sistema: Allegro, lento, scherzo ou presto.
Comentários são sempre bem vindos.
Boa audição.
Johann Stamitz (1717-1757) & Carl Stamitz (1745-1801): Concertos para Clarinete (Meyer / Brown / St. Martin)
Konzert Für Klarinette Und Orchester Nr. 3 B-dur = Clarinet Concerto No. 3 In B Flat = Concerto Pour Clarinette N° 3 En Si Bémol Majeur)
Composed By – Carl Stamitz
1. I. Allegro Moderato 7:41
2. II. Romance 3:26
3. III. Rondo 3:13
Konzert Für Klarinette Und Orchester Nr. 11 Es-dur = Clarinet Concerto No. 11 In E Flat = Concerto Pour Clarinette N° 11 En Mi Bémol Majeur)
Composed By – Carl Stamitz
4. I. Allegro 8:27
5. II. Aria (Andante Moderato) 4:09
6. III. Rondo Alla Scherzo (Allegro Moderato) 5:10
Konzert Für Klarinette Und Orchester B-dur = Clarinet Concerto In B Flat = Concerto Pour Clarinette En Si Bémol Majeur)
Composed By – Johann Stamitz*
7. I. Allegro Moderato 7:31
8. II. Adagio 4:04
9. III. Poco Presto 4:01
Konzert Für Klarinette Und Orchester Nr. 10 B-dur = Clarinet Concerto No. 10 In B Flat = Concerto Pour Clarinette N° 10 En Si Bémol Majeur)
Composed By – Carl Stamitz
10. I. [Allegro] 8:00
11. II. [Andante Sostenuto] 5:09
12. III. [Rondo (Poco Allegro)] 4:11
Cadenza – Andreas N. Tarkmann
Clarinet – Sabine Meyer
Conductor – Iona Brown
Orchestra – Academy Of St. Martin In The Fields*