Mais um disco do “Trio Parada Dura” de Veneza: Merulo, Gabrieli e Gabrieli. Os três trabalharam mutos anos na Basílica de San Marco, a maior igreja de Veneza, financiada pelos ricaços que comandavam boa parte do comércio mediterrâneo. Eles começaram a empobrecer quando Portugal e Espanha, contornando a África, chegaram às Índias e de bônus encontraram a América, mas esse processo de empobrecimento durou séculos, de modo que por volta de 1550 a 1650 o comércio se reduzia mas a música de Veneza chegou ao seu auge: toda a Europa imitou e aprendeu com as inovações de Merulo, dos dois Gabrieli e de Monteverdi. Mas atenção: o Gabrieli que aparece aqui, Giovanni, era sobrinho do outro, Andrea, que apareceu na postagem de anteontem. Boa parte das obras de Andrea foram publicadas postumamente, com edição do sobrinho, que possivelmente fez certas contribuições colocando notas aqui e tirando ali, de modo que é difícil diferenciar os estilos dos dois Gabrieli.
Claudio Merulo era contratado como organista em San Marco, mas também compunha música vocal como o Magnificat aqui gravado. Já Andrea Gabrieli foi responsável pela música vocal da Basílica de San Marco, cargo que herdou de seu professor, o franco-flamenco Adrian Willaert (morto em 1562). Muitos estrangeiros vinham escutar a música de San Marco e, se possível, aprender um pouco com Willaert, Merulo, A. Gabrieli e, depois, com seu sobrinho G. Gabrieli. O sucessor deste último no cargo foi Monteverdi, o último compositor de renome internacional em San Marco. Depois, outros gênios ainda viveriam em Veneza mas sem relações diretas com a Basílica, como Barbara Strozzi (que, por ser mulher, jamais seria cogitada Maestrina di Capella della Serenissima Republica) e Vivaldi.
Como explica Adrien Mabire nas notas, o programa do disco se baseia nas obras de G. Gabrieli publicadas nos “Concerti” de 1587 e nas “Sacrae Symphoniae” de 1597. Ele mostra a gênese das grandes peças para coro simples e duplo, arte tipicamente veneziana, com o objetivo de restituir a essa música sua forma original, na qual vozes e instrumentos se misturam. Para nos ajudar a imaginar as influências sobra Giovanni Gabrieli, além de sua educação com seu tio e com Roland de Lassus, adicionamos três peças de outros compositores. Primeiro o Magnificat de Claudio Merulo. Este último era organista em San Marco quando os dois Gabrieli ali trabalhavam, é evidente o impacto de sua obra sobre Giovanni. Em seguida a canção de Adrian Willaert (1490-1562), mestre de capela em San Marco e professor de Andrea Gabrieli, canção que representa aqui uma pausa nas obras de igreja. Para fechar, uma pequena peça humorística de Roland de Lassus, com quem Giovanni trabalhou em Munique de 1575 a 1579, apenas cinco ou seis anos antes das primeiras composições de G. Gabrieli aqui gravadas. Ao contrário de outras gravações desse repertório, o conjunto aqui presente é mais reduzido, com seis cantores, quatro sopros e órgão. Nos motetos para mais de seis vozes, são os instrumentos que tocam as partes vocais, prática comum na época em que essa música era ouvida em grandes celebrações na Basílica de San Marco.
GLORIA A VENEZIA !
CLAUDIO MERULO (1533-1604)
1. Magnificat 5’38
GIOVANNI GABRIELI (1557-1612)
2. Canzon terza a 4 1’50
3. Ego Dixi a 7 2’42
4. Beati immaculati a 8 2’42
GIOSSEFO GUAMI (1542-1611)
5. Canzon alla francese « La Lucchesina » 2’46
G. GABRIELI
6. Inclina Domine a 6 3’20
7. O magnum mysterium a 10 2’50
8. Canzon quarta a 4 2’26
9. Jubilate deo a 8 3’22
10. Deus, deus meus a 10 3’43
11. Ricercar per organo 1’49
12. Domine exaudi a 10 1’52
ADRIAN WILLAERT (1490-1562)
13. Le dur travail 1’21
G. GABRIELI
14. Surrexit pastor bonus a 10 2’37
15. Canzon seconda 2’36
16. Beata es virgo maria a 6 3’24
17. Canzon « La Spiritata » a 4 3’00
18. Angelus ad pastores a 12 2’42
ROLAND DE LASSUS (1532-1594)
19. Lucescit iam o socii 2’58
La Guilde des Mercenaires
Adrien Mabire, direction et cornet
Chanteurs:
Violaine Le Chenadec, soprano; Anaïs Bertrand, mezzo soprano; Marnix De Cat, contre-ténor; Marc Mauillon, baryton-basse; Renaud Bres, baryton-basse; Marc Busnel, basse
Instrumentistes:
Benoit Tainturier – cornet
Juan Gonzales Martinez, Arnaud Bretecher, Abel Rohrbach – trombones
Jean-Luc Ho – orgue
Enregistré à la Chapelle Royale de Versailles, France, 2019
Há muito tempo, tanto em apresentações públicas como em gravações, Jordi Savall e o seu grupo têm caminhado para um estilo de interpretação cada vez mais meditativo. Com esta gravação, em colaboração com Wieland Kuijken, eles alcançam um estado de abstração raramente experimentado na música. É quase desnecessário dizer que a sua forma de tocar é sempre extremamente bonita: a música assim o exige. Mas qualquer necessidade de ser retórico foi superada e descartada. É tudo muito sutil e convincente — desde a primeira faixa o ouvinte é transportado para uma atmosfera auditiva rarefeita. Embora eu não tenha tido a oportunidade de comparar, a impressão desta versão é que poucos ousariam tocar tão lentamente. A seção lenta da Quarta Fantasia, por exemplo, está quase paralisada. E, ainda assim, a música mais do que sobrevive. São performances que iluminam a partitura de Purcell. Não deixe de ouvir!
Henry Purcell (1659-1695): Fantasias para Violas (Hespèrion XX / Jordi Savall)
Fantasia em uma nota
1 Fantasia em uma nota 3:06
3 fantasias em 3 partes
2 Fantasia eu 3:15
3 Fantasia II 2:40
4 Fantasia III 3:38
3 fantasias em 4 partes
5 Fantasia IV, 10 de junho de 1680 3:49
6 Fantasia V, 11 de junho de 1680 3:32
7 Fantasia VI, 14 de junho de 1680 4:05
In Nomine em 6 partes
8 In Nomine em 6 partes 1:51
3 fantasias em 4 partes
9 Fantasia VII, 19 de junho de 1680 4:24
10 Fantasia VIII, 22 de junho de 1680 16:00
11 Fantasia IX, 23 de junho de 1680 5:08
3 fantasias em 4 partes
12 Fantasia X, 30 de junho de 1680 4:05
13 Fantasia XI, 18 de agosto de 1680 3:08
14 Fantasia XII, 31 de agosto de 1680 3:35
In Nomine em 7 partes
15 In Nomine em 7 partes 3:45
Hespèrion XX:
Viol [Basse De Viole] – Marianne Müller * , Philippe Pierlot (2) , Wieland Kuijken
Viol [Dessus De Viole] – Jordi Savall
Viol [Hautecontre De Viole] – Sophie Watillon
Viol [Ténor De Viole] – Eunice Brandão , Sergi Casademunt
Direção: Jordi Savall
Dois CDs dedicados à música para teclado do norte da Itália por volta de 1590-1600. Veneza: “tão única no mundo e tão estranha que parece saída de um sonho”, nas palavras de Juan del Encina por volta de 1500. Naquela época, ao mesmo tempo que começava lentamente a perder protagonismo comercial para as caravelas do comércio atlântico, Veneza mantinha-se como uma cidade notável por sua mistura de influências de todo o Mediterrâneo e especialmente da metade oriental daquele mar. Ao mesmo tempo, uma inovação recente havia se firmado há poucos anos: a impressão em papel. É preciso lembrar que a Bíblia de Gutenberg é de 1455, e que poucas décadas depois tanto Veneza quanto Roma já contavam com dezenas de casas comerciais que imprimiam – sabe-se lá o quê! Livros religiosos, seculares, talvez listas de mercadorias e também música, talvez nem tanta música em 1500, mas sem dúvida muita música mais para o fim daquele século.
Em 1600, Veneza seguia única com seus palácios de estilo meio gótico, meio bizantino, meio árabe – as três metades se equlibravam sobre as águas da laguna meio que por mágica, mas também por técnicas milenares. E seguia sendo uma das cidades com mais casas de impressão na Europa. Este disco traz obras para cravo impressas em Veneza entre 1588 e 1621: a música puramente instrumental apenas começava a ser escrita e publicada, ao contrário da vocal que já tinha tradição de manuscritos por monges e padres da idade média. Não é um acaso que a difusão da imprensa tenha coexistido com essa ideia nova e revolucionária de se registrar no papel música instrumental.
No disco da Harmonia Mundi, temos alguns dos primeiros compositores a publicarem obras impressas (e não só manuscritas) para instrumentos de teclado. Alguns deles – Facoli, Radino, Picchi – escreveram volumes de obras ligeiras, danças e coisas do tipo, que dão um interessante panorama de como devia ser a vida musical em Veneza e região vizinha por volta de 1600.
Andrea Gabrieli e Claudio Merulo já são outra coisa, compará-los com esses outros citados é como comparar duas grandes árvores com pequenas flores. A flor tem beleza, aroma, simpatia, mas uma árvore de dezenas de metros, cheia de galhos mas também cipós e epífitas, insetos e pássaros em sua copa, isso é algo mais próximo da complexidade da escrita de A. Gabrieli, cheia de encontros e desencontros de diferentes vozes em contraponto e outras sutilezas.
Andrea Gabrieli sucedeu ao seu professor, o franco-flamenco Adrian Willaert (morto em 1562) no cargo de responsável pela música da Basílica de San Marco. Muitos estrangeiros vinham escutar a música de San Marco e, se possível, aprender um pouco com Willaert, A. Gabrieli e, depois, com seu sobrinho G. Gabrieli, outro importante compositor de Veneza. Ambos foram organistas na Basílica de São Marcos, isso é bem documentado, mas a atividade deles tocando cravo ou clavicórdio em casas, palácios e jardins já é um assunto sobre o qual podemos apenas sonhar. O volume “Canzoni alla francesa & Ricercari Ariosi libro Quinto”, como o nome indica, reunia obras de A. Gabrieli que se baseavam em melodias de canções, fossem elas de origem popular ou inventadas pelo compositor. O princípio é simples como uma semente, mas dele se originavam exuberantes árvores sonoras.
Sobre Andrea Gabrieli, as notas do CD nos informam: compositor prolífico e respeitado, ele reune em sua música para teclado as heranças dos polifonistas franco-flamencos e a da música espanhola para órgão, a mais evoluída do século XVI com compositores como Antonio de Cabezòn e Juan Bermudo. O seu “Pass’e mezzo Antico” está mais próximo de certas obras espanholas do que do “Pass’e mezzo” de Picchi, de estilo bem mais solto. Gabrieli faz um rico trabalho imitativo, caracterizado, ao mesmo tempo, mais por elegância do que por virtuosismo.
Andrea Gabrieli, além de organista, foi cantor no coro de San Marco quando jovem. De sua ligação com a polifonia vem provavelmente a predominância das formas imitativas. Ricercari e Canzoni são mais frequentes em sua obra do que a forma mais livre da Toccata, a qual tinha como mestre inigualável seu colega em San Marco, Claudio Merulo.
Gabrieli se baseou em uma célebre canção muito famosa naqueles tempos, “Suzanne un jour”, de Lassus, para transformá-la praticamente em uma Pavana – palavra derivada de Padoana, de Pádua, cidade próxima a Veneza – cheia de ornamentos. Para dar uma ideia da distância entre a [i] canzon de Gabrieli e o modelo vocal, o disco apresenta uma versão da canção de Lassus, originalmente para cinco vozes, apenas com a parte de soprano cantada por Kiehr. Era comum naquela época essa prática de improvisos e passagi que traziam apenas uma distância lembrança da canção original.
O disco termina com uma Toccata de Claudio Merulo: embora nascido na Emilia-Romagna (região italiana situada entre Veneza e a Toscana), ele permaneceu em Veneza como organista em San Marco por quase 30 anos, e foi ali que ficou famoso também como compositor, fazendo música para os nobres de Veneza e também comparecendo em Florença no casamento de Franceso de’ Medici como embaixador da Serenissima República de Veneza. Ele foi inovador sobretudo nas suas toccatas, com alternância de momentos polifônicos e passagi brilhantes de virtuosismo. Isso significa que ele alternava, na mesma composição, momentos de contraponto elaborado sob certas regras e momentos bastante livres. Esse estilo influenciou as Toccatas de italianos como Frescobaldi e A. Scarlatti e ainda as de gente de terras distantes como Sweelinck na Holanda, Buxtehude e J.S. Bach na Alemanha.
A toccata de Merulo aqui presente foi publicado no seu segundo livro de “Toccate d’Intavolatura d’organo”. Intavolatura significa introdução. Esse nome, equivalente ao de “Prelúdio” em séculos seguintes, indicava que boa parte da música instrumental publicada era compreendida como introdução a um “Prato Principal” que costumava ser a música vocal, fosse ela sacra ou profana.
Marco Facoli (séc. XVI)
1-10. Peças de “Il secondo Libro d’Intavolatura di Balli d’Arpicordo (Veneza, 1588)
Aria della Comedia nuovo, Aria della Marchetta Schiavonetta,
Aria della Signora Livia, Padoana prima dita Marucina, Aria della Signora Fior d’Amor, Aria della Signora Ortensia,
Aria della Signora Michiela, Padoana quarta dita Marchetta à doi modi, Napolitana “Deh pastorella cara”, Napolitana “S’io m’accorgo ben mio”
Andrea Gabrieli (ca. 1510-1586)
11-12. Peças de “Il Terzo Libro de Ricercari (Veneza, 1596)
Pass’e mezzo antico in cinque modi variati, Ricercar del secondo tono
Giovanni Maria Radino (séc XVI – após 1607)
13-17. Peças de “Il primo Libro d’Intavolatura di Balli d’Arpicordo (Veneza, 1592)
Gagliarda seconda, Gagliarda prima, Padoana prima, Gagliarda terza, Gagliarda quarta,
Orlando di Lasso (1532-1594)
18. Peça de “Mellange d’Orlande de Lassus” (Le Roy & Ballard, 1570)
Susanne ung jour (G. Guerault), chanson
Andrea Gabrieli (ca. 1510-1586)
19-20. Peças de Canzoni alla francese & Ricercari Ariosi, Libro Quinto (Veneza, 1605)
Canzon deta “Suzanne un iour” d’Orlando Lasso, Canzon deta “Frais et Galliard” di Crequillon
Giovanni Picchi (fin do séc. XVI – início séc. XVII)
21-28. Peças de “Intavolatura di Balli d’Arpicordi” (Veneza, 1621)
Ballo ditto il Steffanin, Todescha con il suo Balletto, Ballo ditto il Picchi, Padoana ditta La Ongara, Ballo ongaro con il suo Balletto, Ballo alla Polacha con il suo Saltarello, Pass’e mezzo, Saltarello del Pass’e Mezzo
Claudio Merulo (1533-1604)
29. Peça das “Toccate d’Intavolatura d’organo, Libro Secondo”
Toccata Seconda
Jean-Marc Aymes – cravos fabricados por Philippe Humeau, cópias de Giovanni Antonio (Veneza, 1579) e anônimo italiano
Faixa 29: claviorganum por Philippe Humeau e Etienne Fouss
Faixas 9, 10, 18: Maria-Cristina Kiehr, soprano
O cravo assinado “Baffo – Venetus – 1574”. Abaixo, mais detalhes deleNa tábua, figuras que remetem à antiguidade greco-romana Junto ao teclado, arabescos típicos do mundo islâmico
Os dois livros que nos transmitiram as toccatas de Merulo foram publicados pelo autor, que também era editor de partituras. Sabemos que, de maneira geral, a escrita musical se transformou progressivamente e se enriqueceu de novos sinais gráficos a fim de permitir uma melhor transmissão das intenções do autor para o intérprete. Certos compositores sentiram este exigêncie de precisão com mais acuidade do que outros, e Merulo certamente foi um destes: ao contrário de Frescobaldi, porém, ele não utilizou, para alcançar tal objetivo, indicações dinâmicas ou agógicas, ou prefácios explicando o que a página musical não podia conter. Ele colocou seu pensamento unicamente na notação escrita, que articulou através de uma variedade de ritmos e de agrupamentos de notas absolutamente sem igual.
Merulo obriga assim o intérprete a se equilibrar entre, de um lado, a precisão da escrita musical e, de outro lado, seu renome como improvisador, o que faz pensar em interpretações fundamentalmente livres e inventivas. Sua precisão de escrita, da fato, poderia facilmente afastar o intérprete em nosso século do espírito original das obras, preocupado apenas com a realização meticulosa de cada detalhe. Mas se consideramos as partituras […] como a tradução escrita de alguma coisa que escapa à notação musical tradicional, então o intérprete alcança um leque fascinante de possibilidades, o que lhe permite recriar o clima de improviso que esteve presente no nascimento dessas obras. É, então, a busca por um equilíbrio delcado entre a fidelidade ao texto e a liberdade de interpretação que me conduziu ao longo da execução dessas obras sedutoras.
(Fabio Bonizzoni, 1997)
Fabio Bonizzoni, cravo veneziano (anon.), fim do século XVI & órgão da Madonna di Campagna em Ponte in Valtellina, 1519-1589
(venetian harpsichord, anon., end of 16th c. & organ from Ponte in Valtellina, 1519-1589)
Ambos viveram 24 anos. Schunke foi amigo de Schumann e não teve tempo de amadurecer. Reubke tem uma obra importante para órgão, a Sonata sobre o 94º Salmo. E só. Morreram cedo os dois jovens românticos. Este CD não é nenhuma maravilha, mas também não é o horror descrito pelo único comentarista que escreveu a respeito na Amazon. Pode ser sem brilhantismo, mas é simpático. Julguem aí.
Reubke (1834-1858) e Schunke (1810-1834): Obras para piano
J. Reubke: Sonata in B flat minor (1857)
01. Allegro maestoso – Sostenuto – Quasi recitativo – Dolce e con espressione –
Animato – Allegro appassionato – Sostenuto – Quasi recitativo – Dolcissimo
con espressione – Animato – Allegro con fuoco – Maestoso 12:29
02. Andante sostenuto – Animato – Più lento – Adagio 7:22
03. Allegro assai – Allegro agitato – Meno mosso – Grave – Quasi recitativo –
Tempo primo – Presto – Allegro maestoso – Grave 8:26
04. Mazurka in E Major (1856)* 3:23
05. Scherzo in D minor (1856)* 5:24
C. L. Schunke: Grande sonata in G minor Op.3 (1832)
06. Allegro 7:42
07. Scherzo: Molto allegro 2:35
08. Andante sostenuto 4:48
09. Finale: Allegro 7:33
Este CD consiste de três Ouvertures e três Trio Sonatas que aparecem aqui pela primeira vez em disco. A coleção foi publicada em 1753, quando o Mercure de France registrou que seu conteúdo era “na verdade superior a todas as grandes coisas que o compositor fez até agora”. As aberturas são do tipo francês. A estas Leclair acrescentou em cada caso um movimento intermediário lento e um final animado. As três sonatas estão em quatro movimentos seguindo o padrão lento-rápido-lento-rápido. Dois deles são arranjos do próprio Leclair de sonatas para violino solo de suas duas primeiras coleções impressas, enquanto o terceiro foi originalmente publicado como um trio em uma publicação de 1728. As aberturas, por outro lado, começaram como peças de teatro; na verdade, uma deles, como o próprio Leclair observou, funcionou como abertura para sua única ópera Scylla et Glaucus (1746), enquanto seus dois movimentos restantes e a música das outras duas aberturas talvez tenham servido como música teatral para o duque de Gramont, que contratou Leclair como líder de orquestra no final da década de 1740.
Jean-Marie Leclair (1697-1764): Ouvertures Et Sonates En Trio (Christophe Rousset, Les Talens Lyriques)
Ouvertura I En Sol Majeur
1 Staccato, Allegro
2 Dolce Andante
3 Minuetto, Altro, Dolce
Sonata I En Ré Majeur
4 Adagio
5 Allegro
6 Sarabande
7 Allegro Assai
Ouvertura II En Ré Majeur
8 Grave Allegro
9 Andante Dolce
10 Allegro
Sonata II En Si Mineur
11 Largo
12 Allegro
13 Largo
14 Allegro
Ouvertura III En La Majeur
15 Grave
16 Allegro
17 Largo
18 Allegro Assai
Sonata III En Sol Mineur
19 Adagio
20 Allegro Ma Non Troppo
21 Aria Gratioso
22 Allegro
Un album entièrement français… Claude Debussy e Francis Poulenc contribuíram imensamente para estabelecer a identidade musical francesa, compondo música que é a um só tempo refinada, emotiva, mas também com espaço para gaiatice, ironia. E foram inovadores, verdadeiramente criativos.
A primeira vez que ouvi a sonata para violoncelo e piano de Debussy foi no disco de Rostropovich e Britten. Depois, a ouvi novamente, ao lado das suas outras sonatas, no disco da Philips, com Gendron, Grumiaux e o resto da gang. Eu gosto muito dessas obras, em particular da sonata para flauta, viola e harpa.
Francis indicando com seu chapéu para onde o pessoal do PQP Bach deveria ir para pegar o uber de volta, após a entrevista
A música de Poulenc eu descobri um pouco mais tarde, mas agora está sempre presente em minhas playslists. A sua sonata para violino, assim como a sonata para violoncelo, está entre as minhas preferidas, mas Poulenc também compôs lindas sonatas com instrumentos de sopro que vale a pena explorar.
JG Queyras
Esse disco todo francês, tem por intérpretes dois expoentes de uma nova geração de músicos franceses que assegura uma continuidade de excelência musical. Jean-Guihen Queyras é violoncelista de primeira e Alexandre Tharaud pianista que tem no repertório bem mais do que só música francesa. Os dois músicos já andaram por aqui, visitando a terrinha, e se você tiver a oportunidade, vá vê-los.
A Tharaud
Não deixe de se deliciar com as duas sonatas e também com as outras peças que completam o disco. A valsa ‘La plus que lente’, uma versão para violoncelo e piano da conhecida peça para piano. Do lado mais exótico temos a bagatela de Poulenc, que é seguida pela linda serenata. Um álbum para ser saboreado…
Conheci a sonata de Poulenc graças ao Alexandre, que acredito (embora ainda não tenha conseguido fazê-lo admitir) deve ter aprendido a tocar essa música antes de começar a andar; ela parece fluir de seus dedos como se fosse uma segunda natureza. JG Queyras
É um gosto altamente pessoal, claro, mas esta é a minha preferida dentre as Sinfonias de Mahler. Longuíssima e grandiosa, porém cheia de episódios camarísticos, a terceira é aquela que mais me surpreende e surpreende a cada audição. Em conversa com um amigo, disse que é raro ouvir uma má versão das obras de Mahler. Elas afastam naturalmente os amadores. Quem as aborda sabe o que faz, com raras exceções. Esta abordagem gravada ao vivo de Sado é especialmente feliz. A Orquestra Tonkünstler, também conhecida apenas como Tonkünstler, é excelente. Ela foi fundada em 1907 e é uma orquestra austríaca baseada na capital Viena e em Sankt Pölten. Yutaka Sado é seu regente titular desde 2015. (Isaac Karabtchevsky ocupou o posto entre 1988 e 1994). Já a Sinfonia Nº 3 de Mahler foi esboçada em 1893, composta principalmente em 1895, tomando forma final em 1896. Com seis movimentos, é a composição mais longa de Mahler e é a a sinfonia mais longa do repertório padrão, com execução típica durando em torno de 95 a 110 minutos. Foi eleita uma das dez melhores sinfonias de todos os tempos numa pesquisa com maestros realizada pela BBC Music Magazine. A peça é executada em concerto com menos frequência do que as outras sinfonias de Mahler, devido em parte à sua grande extensão e às enormes forças necessárias — oito trompas, coro infantil, etc. Apesar disso, é uma obra popular. Quando é executada, às vezes é feito um pequeno intervalo entre o primeiro movimento (que sozinho dura mais de meia hora) e o resto da peça. Isto está de acordo com a cópia manuscrita da partitura completa (guardada na Biblioteca Pierpont Morgan, Nova Iorque), onde o final do primeiro movimento traz a inscrição Folgt eine lange Pause! (“segue-se uma longa pausa”). A inscrição não é encontrada na partitura publicada. Uma seção do Quarto Movimento aparece no filme Morte em Veneza, de Luchino Visconti, de 1971, que também apresenta o Adagietto da Quinta Sinfonia, como todo mundo sabe. O trecho da Terceira é apresentado como a música que Gustav von Aschenbach compõe antes de morrer.
Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 3 (Sado)
01. Symphony No. 3 in D Minor I. Kraftig. Entschieden
02. Symphony No. 3 in D Minor II. Tempo di minuetto
03. Symphony No. 3 in D Minor III. Comodo, scherzando. Ohne Hast
04. Symphony No. 3 in D Minor IV. Sehr Langsam, misterioso. Durchaus Leise
05. Symphony No. 3 in D Minor V. Lustig im tempo und keck im ausdruck
06. Symphony No. 3 in D Minor VI. Langsam, ruhevoll. Empfunden
CD que vai tranquilamente para a categoria dos imperdíveis.
No início de 1935, Berg recebeu a encomenda de um concerto do violinista Louis Krasner para estrear no Festival de Música Contemporânea que aconteceria no ano seguinte em Barcelona. Envolvido com a produção de sua ópera “Lulu”, Berg titubeou em aceitar a encomenda. Mas a morte prematura de Manon Gropius, filha de sua dileta amiga Alma Mahler e do arquiteto Walter Gropius, mobilizou o compositor a homenagear a jovem que se despedira da vida aos 18 anos, vítima de paralisia-infantil. A obra, que deveria ser o Réquiem de Manon, acaba ser o Réquiem do próprio Berg, que morreu em 24 de dezembro de 1935 com 50 anos, deixando sua “Lulu” incompleta. De fato, sua obra derradeira acabou por ser este Concerto para violino, que ele não viveu o suficiente para vê-lo apresentado por Krasner (o autor da encomenda) em Barcelona em 1936. O concerto é belíssimo e Hope desnuda-lhe toda a emoção para nós.
Menos conhecido, mas do mesmo nível — na minha opinião, melhor — é o concerto de Britten. Ele foi escrito entre 1938 a 1939 e dedicado a Henry Boys, seu antigo professor no Royal College of Music. Foi estreado em Nova York em 29 de março de 1940. Não há pontos fracos nesta obra. Ela é toda perfeita. Amor e guerra se misturam nela. O terceiro movimento (Passacaglia) é um tributo aos soltados voluntários britânicos, alguns deles amigos de Britten, que lutaram contra o franquismo durante a Guerra Civil Espanhola. Foi também durante a escrita deste concerto que o compositor conheceu Peter Pears, tenor que se tornou seu companheiro para toda a vida. O sul-africado Daniel Hope volta a atuar maravilhosamente aqui. O que ele faz nos dois primeiros movimentos é pura magia.
Alban Berg (1885-1935) & Benjamin Britten (1913-1976): Concertos para Violino (Hope, Watkins, BBC)
BERG – Violin Concerto. Dem Gedenken Eines Engels • To The Memory Of An Angel • À La Mémoire D’Un Ange
1 Part I: Andante — Allegretto 12:03
2 Part II: Allegro — Adagio 17:08
BRITTEN – Violin Concerto, Op.15
3 I Moderato Con Moto — Agitato — Tempo Primo 10:44
4 II Vivace — Animando — Largamente — Cadenza 9:01
5 III Passacaglia: Andante Lento 16:01
Composed By – Alban Berg (faixas: 1, 2), Benjamin Britten (faixas: 3 to 5)
Conductor – Paul Watkins
Orchestra – BBC Symphony Orchestra
Violin – Daniel Hope
A peça de Walton é realmente muito boa, devo admitir. Os compositores ingleses não costumam me entusiasmar, mas o Allegro Molto da obra de Walton é de erguer cadáveres. Tive que ouvi-lo muitas vezes para ter certeza se tinha gostado. E gostei, muito. O Albion captura a turbulência, o lirismo melancólico enredado em tensão que é evocado na escrita de Walton. A abertura é cativante, com o tom de Albion ao mesmo tempo açucarado e iluminado, às vezes elétrico. Já o quarteto de Shostakovich é uma obra-prima conhecida. Me dá a impressão de que o Shosta saiu meio “berrado”, mas as diferenças entre cada versão são tão grandes que a gente fica pensando… A versão do Albion denota uma tremenda coragem. De maneira típica, Shostakovich começa com um humor alegre e ensolarado, que não podemos confiar que seja genuíno, como é seu costume. Logo, ele mostra seu lado cínico. Enquanto ele desce para as sombras, os Albion o seguem obedientemente. Os contrastes aqui são retratados de forma excelente e pintados de forma tão nítida que ficamos na ponta da cadeira a maior parte do tempo. Coragem, sim, coragem.
Quarteto de cordas em lá menor Composto por – Sir William Walton
1 I. Allegro 10:35
2 II. Presto 4:31
3 III. Lento 8:29
4 IV. Allegro Molto 4:32
Quarteto de cordas nº 3 em Fá maior, op. 73 Composto por – Dmitri Shostakovich
5 I. Alegretto 6:46
6 II. Moderado com moto 5:23
7 III. Allegro Non Troppo 4:09
8 IV. Adagio 5:40
9 V. Moderado 10:41
Albion Quartet:
Tamsin Waley-Cohen and Emma Parker, violin
Ann Beilby, viola
Nathaniel Boyd, cello
Aqui está um verdadeiro tesouro do antigo catálogo do selo Archiv da Deutsche Grammophon. Este maravilhoso programa de obras instrumentais de Muffat e Biber foi gravado em 1965, interpretado por um conjunto que esteve entre os verdadeiramente grandes pioneiros da performance historicamente informada: o Concentus Musicus Wien, dirigido por Nikolaus Harnoncourt (1929-2016). O som dá a impressão de que foi gravado ontem e a interpretação idem. Harnoncourt era um gênio e só mesmo um mau caráter como Karajan para fazer de tudo a fim de acabar com sua carreira. (Entre outras agressões, Harnoncourt, que era violoncelista da Orquestra Filarmônica de Viena, foi excluído de lá, de Berlim e de Salzburgo depois que começou a reger grupos que utilizavam instrumentos de época, de uma maneira que contrariava a ortodoxia proposta e imposta por Karajan.)
Este disco tem como subtítulo ‘Música da corte barroca austríaca’, uma vez que ambos os compositores trabalharam na Áustria, embora Biber fosse boêmio de nascimento, enquanto Muffat era de ascendência escocesa, mas nasceu na Saboia. As duas obras de Muffat aqui gravadas, a Suite Indissolubilis Amicitia e o Concerto Bona Nova, são belas peças muito distintas entre si e que exemplificam a maneira de Muffat fundir os costumes franceses e italianos em voga na época num estilo próprio, único e altamente atraente. Ilustram também o hábito envolvente do compositor de nomear as suas obras com títulos filosóficos, emocionais ou programáticos – neste caso “amizade eterna” e “boas notícias”. Nas mãos de CMW e Harnoncourt eles soam maravilhosos, com a textura do concerto em particular colorida de forma distinta pelos oboés e fagotes barrocos do conjunto.
As obras de Biber são três sonatas — incluindo uma peça incomum para dois violinos e trombone solo — e a Battalia a 10, esta última frequentemente gravada em outras coleções desde sua primeira aparição em disco. É interessante notar que, na sua crítica original e favorável, o crítico da revista inglesa Gramophone (nome omitido aqui para proteger o ignóbil) chamou esta peça de “bastante infantil”; mas felizmente a maioria dos revisores desse artigo estão demonstrando atualmente uma atitude melhor. O ponto principal, porém, é que as obras escolhidas para este disco ainda sintetizam a beleza, a expressividade e a humanidade da música instrumental barroca no seu melhor. A banda de Harnoncourt demonstra tudo isso em seus instrumentos históricos com texturas gloriosas e em estilo soberbamente idiomático.
Georg Muffat / Heinrich Ignaz Franz Biber: Suiten & Sonaten (Concentus Musicus Wien / Harnoncourt)
Georg Muffat (1653-1704) Indossolubilis Amicitia (Indissoluble Friendship)
Composed By – Georg Muffat
(16:30)
1 Ouverture 4:29
2 Les Courtisans 1:22
3 Rondeau 2:28
4 Les Gendarmes 0:51
5 Les Bossus 1:03
6 Gavotte 1:05
7 Sarabande Pour Le Génie De L’Amitié 1:57
8 Gigue 1:35
9 Menuet 1:50 Concerto I: Bona Nova (Good News)
Composed By – Georg Muffat
(10:17)
10 Sonata. Grave – Allegro 4:08
11 Ballo. Allegro 1:40
12 Grave 1:02
13 Aria 1:32
14 Giga 1:55
Heinrich Ignaz Franz Biber (1644-1704) Die Pauern Kirchfahrt (Country Churchgoing)
Composed By – Heinrich Ignaz Franz Biber
(6:22)
15 Sonata. Adagio – Presto 1:33
16 Die Pauern Kirchfahrt – Adagio 2:19
17 Aria 2:30 Sonata a 2 Violini, Trombone, Violone In D Minor (6:52)
18 (Allegro Non Troppo) 0:34
19 (Poco Allegro) 0:46
20 (Adagio) 1:04
21 (Allegro) 0:21
22 (Adagio) 1:16
23 (Poco Allegro) 0:17
24 (Adagio) 0:55
25 (Allegro) 0:19
26 (Allegro) 1:21 Sonata VIII In B Flat Major
Composed By – Heinrich Ignaz Franz Biber
(5:18)
27 Allegro 1:33
28 (Presto) 2:39
29 Presto – Adagio 1:06 Battalia (Battle) a 10 (7:44)
30 Sonata. Allegro 0:58
31 Allegro: Die Liederliche Gesellschaft Von Allerley Humor 0:41
32 Presto 0:37
33 Der Mars 1:04
34 Presto 0:34
35 Aria 1:48
36 Die Schlacht 0:44
37 Adagio: Lamento Der Verwundten Musquetierer 1:18
Carla Bley (1936-2023) foi pianista, compositora, arranjadora, além de fases mais ligadas ao fusion, quando tocou órgão hammond, piano elétrico e mais. Uma das poucas instrumentistas mulheres a liderar grupos de jazz – na verdade só consigo lembrar de uma outra, Alice Coltrane, e o fato de ambas terem precisado também do sobrenome dos ex-maridos para se estabelecerem comercialmente diz um pouco sobre a indústria musical… Aliás, um detalhe curioso de sua biografia: tendo estudado piano desde pequena, ela se enturmou junto a outros músicos em Nova York começando em um cargo de pouco prestígio, o de vendedora de cigarros na mítica casa de shows Birdland.
O jornalista alemão Wolfgang Sandner resumiu as qualidades de Carla Bley como: “uma grande estimuladora, musa, criadora de ideias e também alguém que recusava o virtuosismo, o perfeccionismo, convencionalismo e falso pathos”.
Vários dos seus discos já foram postados aqui e comentados por PQPBach (aqui eles todos), então não vou enrolar, apenas observar que também vale a pena conhecer mais sobre o trompetista italiano Paolo Fresu que, felizmente, segue vivo!
Ah sim, já ia esquecendo, neste show de 2010 em Colônia, Alemanha, as composições tocadas são todas de Carla Bley: quatro delas foram lançadas em um disco de 2007 (que pode ser conferido no link acima) e aqui aparecem em versões mais longas, com mais improvisos. O outro tema, Vashkar, é bem mais antigo, tendo sido gravado por Paul Bley na década de 1960 e por Jaco Pastorius na de 70.
Carla Bley – the Lost Chords find Paolo Fresu – Live – MusikTriennale Köln, 2010
1. Vashkar (Carla Bley) – 10:02
2. Radio Announcement – 01:31
3. Two Banana (Carla Bley) – 04:24
4. Three Banana (Carla Bley) – 09:15
5. Four (Carla Bley) – 09:49
6. Five Banana/One Banana more (Carla Bley) – 13:24
Carla Bley – piano, organ, arranger
Paolo Fresu – trumpet
Andy Sheppard – tenor sax
Steve Swallow – bass
Billy Drummond – drums
Stadtgarten, Köln, Germany – 26/4/2010
Um disco absolutamente maravilhoso! O Concerto para Violino de Nielsen é quase um anticoncerto romântico. Dificílimo, ele termina com pleno sarcasmo e bom humor, sem nenhum convite ao aplauso. Acho que isto afasta os solistas. Mas é uma obra-prima que inicia como se fosse um épico de completa bravura e acaba por diminuir a voz pouco a pouco. O Concerto foi estreado em Copenhague em fevereiro de 1912. São 4 movimentos que são como se fossem 2, pois cada dupla abre com uma seção lenta, passando para uma mais rápida. Embora incomum, isso pode ser visto como uma forma rápido – lento – rápido, mas com uma extensa introdução lenta ao movimento rápido. A música passa subitamente de uma ideia para outra e, no geral, dá uma sensação ousada e divertida. Jamais esqueçam que é um Concerto escrito por um violinista. James Ehnes é o maior violinista do planeta e aqui demonstra o fato de maneira estarrecedora.
Em total contraste, embora escrita apenas alguns anos depois, a Quarta Sinfonia é mais coesa e unificada. Escrita tendo como pano de fundo a Primeira Guerra Mundial, a obra é uma celebração da própria vida. Pouco antes da estreia em 1916, Nielsen descreveu-a como: “Música é Vida e, como ela, inextinguível.” Bem se vê que ele desconhecia o aquecimento global. Composta na forma usual de quatro movimentos, cada movimento continua desde o anterior sem interrupção. O movimento final apresenta a curiosidade de dois tímpanos lutando entre si na orquestra.
Carl August Nielsen (1865-1931): Concerto para Violino & Sinfonia Nº 4, “Inextinguível” (Ehnes / Gardner)
Mesmo assoberbado pelo trabalho – expressão muito original, não? – não poderia deixar de vir aqui fazer uma postagem. Afinal, faz uns três dias que não compareço! Só que o mesmo verdugo – o trabalho – me impedirá de alongar-me muito. Gosto muito desta obra em que Penderecki demonstra um recuo em relação ao modernismo mais furioso que apresentava em “A Paixão Segundo São Lucas”, por exemplo. Seu pós-serialismo é uma manifestação evidente de maturidade e nisto não vai nenhuma crítica às duas horas da música de Webern, nem ao resto da turma da Segunda Escola de Viena. Sua “Lacrimosa” chega a ser cantabile! Gosto dessas pessoas que conseguem renovar-se. É ecológico para a alma saber-se capaz de várias linguagens, mas isso já é outra história e estou sem tempo… Se fosse você, baixava agora. Vale a pena ouvir. A celebridade de Penderecki não é injusta.
Krzysztof Penderecki – A Polish Requiem (Wit)
CD1
01 Introitus 04:10
02 Kyrie 04:16
03 Dies Irae 01:34
04 Tuba mirum 01:58
05 Mors stupebit 06:30
06 Quid sum miser 04:46
07 Rex tremendae 02:18
08 Recordare Jesu pie 11:24
09 Ingemisco tanquam reus 12:07
10 Lacrimosa 04:39
CD2
01 Sanctus 13:44
02 Agnus Dei 07:35
03 Lux aeterna 04:43
04 Libera me, Domine 09:44
05 Offertorium – Swiety Boze 06:33
06 Libera animas 03:26
07 The Dream Of Jacob Lento (new Sanctus) 08:40
Conductor: Antoni Wit
Performers:
Jadwiga Rappe (Alto)
Ryszard Minkiewicz (Tenor)
Piotr Nowacki (Bass)
Izabella Klosinska (Soprano)
Contemplativo and very english, este CD me encheu o saco. Há poucas boas músicas eruditas inglesas entre os dois gênios maiores da ilha: Purcell e Britten. O romance imensamente popular e “quintessencialmente inglês” de Vaughan Williams para violino e orquestra, The Lark Ascending, recebeu muitas gravações. Não há nenhuma evidência que sugira que o próprio compositor tenha considerado a peça de alguma forma excepcional, então por que ele se transformou no sucesso clássico que quase todo mundo conhece? Enquanto outrora este romance despretensioso era ouvido como uma evocação direta dos 12 versos de George Meredith que prefaciam a partitura, o público mais amplo de hoje desconhece em grande parte a sua fonte poética. A etiqueta “quintessencialmente inglesa” aplicável aos versos vitorianos parece cada vez mais inadequada para explicar o apelo global da música. Em 2011, quando a rede de rádio pública de Nova York perguntou aos ouvintes o que eles gostariam de ouvir no 10º aniversário do 11 de setembro, The Lark Ascending ficou em segundo lugar, atrás de Adagio de Barber. Eu não entendo. E vocês?
Vaughan Williams / Delius / Walton: Greensleeves · The Lark Ascending · Summer Night on the River · On Hearing the First Cuckoo in Spring (Zukerman / Black / Orquestra de Câmara Inglesa / Barenboim)
1 Fantasia sobre “Greensleeves” para orquestra de cordas, harpa e duas flautas (1934)
Composta por – Ralph Vaughan Williams
4:29
Concerto para oboé e orquestra de cordas em lá menor (1944)
Composta por – Ralph Vaughan Williams
Oboé – Neil Black (3)
2 1. Rondo Pastoral: Allegro Moderato 6:54
3 2. Minueto e Musette: Allegro Moderato 2:48
4 3. Finale (Scherzo): Presto 8:54
Duas peças para pequena orquestra
Composta por – Frederico Delius
5 1. Ao ouvir o primeiro cuco na primavera (1912) 7:12
6 2. Noite de verão no rio (1911) 5:41
Duas Aquarelas (1938)
Organizado por – Eric Fenby
Composta por – Frederick Delius
7 1. Lento, Ma Non Troppo 2:44
8 2. Alegremente, mas não rápido 2:10
9 Intermezzo (da ópera “Fennimore e Gerda”) (1909-10)
Composta por – Frederico Delius
5:50
Duas peças para cordas da música do filme “Henrique V” (1943-44)
Composta por – William Walton *
10 1. Passacaglia: Morte de Falstaff 2:47
11 2. “Toque seus lábios macios e parte” 2:01
12 The Lark Ascendente (Romance para violino e orquestra) (1914, Rev. 1920)
Composta por – Ralph Vaughan Williams
Violino – Pinchas Zukerman
Maestro – Daniel Barenboim
Orquestra – Orquestra de Câmara Inglesa
Na boa, sabem aquelas músicas que são usadas no cinema para a entrada de reis e rainhas? Pois bem, Delalande é o autor da maioria. É um especialista em babar ovos, ao que parece. Bem, é um emprego. Quantos de nós não poderíamos ser considerados perfeitos baba-ovos? Escuta, você é empregado? Admira seu chefe? Faz tudo o que ele quer só para que ele não fique na sua cola? Bem, este é o caminho. As “Sinfonias para os Sopros do Rei” são um blow job de primeira linha. Música boa para colocar quando da primeira visita do sogro em casa ou quando aquele sujeito com um ego imenso entra no recinto. No mais, Paillard e sua turma estão muito bem.
Michel Richard Delalande (1657-1726): Simphonies pour les Soupers du Roy (Paillard)
Concert De Trompettes Pour Les Festes Sur Le Canal De Versailles
1 Premier Air 1:33
2 Deuxième Air 0:56
3 Troisième Air : Chaconne En Écho 2:15
4 Quatrième Air : 1er Menuet, Cinquième Air : 2ème Menuet (Trio De Hautbois) 2:05
5 Sixième Air : Air En Écho, Fanfare 1:24
Premier Caprice Ou Caprice De Villers-Cotterets
6 Fièrement Et Détaché ; Gracieusement. Un Peu Plus Gay ; Viste 4:29
7 Augmentation, 1er Air Neuf : Gracieusement Sans Lenteur – Vif, Suitte De L’Ancien 3:04
8 Trio : Doucement – Augmentation, 2e Air Neuf (Fièrement) 5:31
9 Suitte De L’Ancien : Vivement, Doucement, Vivement 2:05
Deuxième Fantaisie Ou Caprice Que Le Roy Demandoit Souvent
10 Un Peu Lent : Vite : Doucement 6:19
11 Gracieusement : Gayement : Vivement 3:36
Troisième Caprice
12 1er Air : Gracieusement 2:30
13 2e Air : Mineur 2:14
14 3e Air : Presto 1:32
15 4e Air : Gigue (Gracieusement) 1:54
16 5e Air : Quator (Doucement) – Prélude 3:59
17 6e Air : Vif 1:38
Concert de trompettes pour les Festes sur le canal de Versailles
Premier Caprice ou Caprice de Villers-Cotterets
Deuxième Fantaisie ou Caprice que le Roy demandoit souvent
Troisième Caprice
Orchestre de Chambre Jean-Francois Paillard
Jean-Francois Paillard
Na minha opinião, trata-se do melhor Quarteto para Piano já escrito. E Schoenberg arranjou-o para orquestra, assim como fez com prelúdios e fugas para órgão de Bach e muitas outras obras. Afora o luxuoso tratamento que lhe dá Schoenberg, a música de Brahms é de primeiríssima linha, coisa de louco mesmo. Não deixem de ouvir. Só não se apavorem, todos os 4 movimentos do Quarteto estão em uma só faixa. O Quarteto de Brahms foi estreado em Hamburgo no ano de 1861. Schoenberg orquestrou a obra em 1937, e ela foi estreada pela Filarmônica de Los Angeles sob a batuta do então diretor musical Otto Klemperer.
Schoenberg explicou a motivo da orquestração quase um ano após a estreia. Ele escreveu:
1. Eu gosto da peça,
2. Ela raramente é tocada,
3. E é sempre muito mal tocada, porque quanto melhor o pianista, mais alto ele toca e não se ouve nada das cordas. Queria uma vez ouvir tudo e consegui. (*)
(*) Pobrezinho, ele não viveu para conhecer as gravações do Beaux Arts, Amadeus e vários outros de nossa época…
Brahms / Schoenberg: Quarteto para Piano, Op. 25 (Arranjo para Orquestra de Arnold Schoenberg)
1. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Allegro 13:42
2. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Intermezzo (Allegro, ma non troppo) 8:40
3. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Andante con moto 10:18
4. Piano Quartet in G Minor, Op. 25 – Rondo alla zingarese 8:53
Imaginem Handel, no anos 1930, escrevendo um concerto para quarteto de cordas e grande orquestra? Schoenberg fez aqui um milagre: vestiu o barroco com uma roupagem moderna numa magnífica transcrição do concerto grosso op.6/n.7 de Handel, onde é possível até perceber traços de Brahms (início do último movimento, por exemplo). Eu acho que até os puristas vão adorar. A gravação é raríssima e excelente.
As outras obras do disco resolvi omitir para uma futura postagem.
Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Concerto for string quartet & orchestra (after Handel’s Concerto Grosso, Op.6/7)
1. 1. Largo
2. 2a. Allegro
3. 2b. Largo
4. 3. Allegretto grazioso
5. 4. Hornpipe – Moderato
Performed by San Francisco Ballet Orchestra
with Lark Quartet
Conducted by Jean-Louis LeRoux
O balé Romeu e Julieta de Prokofiev é uma composição dividida em três atos e treze cenas. Foi estreada no dia 11 de janeiro de 1940 no teatro Kirov, em Leningrado, e é, obviamente, baseado na tragédia homônima de William Shakespeare. Prokofiev extraiu deste balé três suítes orquestrais (Op. 64, 64a e Op. 101), além de uma seleção ainda mais reduzida adaptada para o piano (Op. 75). Bem. quem procura esta Suíte não precisa ir além deste magnífico CD. Este é um disco extraordinário e eu gostaria que a CBS tivesse contratado Esa-Pekka Salonen para fazer a versão completa do balé. Tudo começa por Prokofiev, claro, ao selecionar os itens que constariam da Suíte. Eles são admiravelmente paralelos à narrativa, mas também estão dispostos de forma a tornar a escuta contínua muito prazerosa. A execução orquestral é maravilhosamente feliz em seus detalhes: “Julieta – A Jovem” é cativantemente leve e graciosa, enquanto a mais robusta “Máscaras” tem apontamentos rítmicos soberbamente nítidos. O contorno melódico de Salonen é comovente na “Dança do Amor” com um toque das cordas maravilhosamente livre e expressivo, enquanto que, mais tarde, o “Adeus antes da despedida” é igualmente tocante. As duas danças que seguem a “Dança do Amor” fazem um contraste encantador. A “Dança Folclórica” é de total alegria, com violinos delicados contra sopros jocosos e a “Dança com Bandolins” é picantemente colorida com grande efeito. Depois, a “Serenata da Manhã” oferece outro interlúdio de bandolim antes do poderoso desfecho dramático de encerramento. Uma joia!
Serguei Prokofiev (1891-1953): Suíte Romeu e Julieta, Op. 64 (Salonen)
1 A Ordem do Duque 1:36
2 Interlúdio 2:08
3 Preparativos para o baile 1:41
4 Julieta – A Jovem 3:13
5 Chegada dos convidados 3:32
6 Máscaras 2:36
7 Dança dos Cavaleiros 5:50
8 A cena da varanda 1:18
9 Variação de Romeu 1:07
10 Dança de amor 4:53
11 Dança folclórica 3:23
12 Dançar com bandolins 1:51
13 Tybald luta contra Mercutio 1:19
14 Romeu resolve vingar a morte de Mercúcio 2:10
15 Final: Ato II 2:03
16 Adeus antes da despedida 4:58
17 Serenata da Manhã 2:27
18 Funeral de Julieta 5:37
19 Morte de Julieta 3:34
Minha ídola! Sabine Meyer com absoluta certeza é a maior clarinetista que o mundo já produziu. As notas, as melodias saem tão facilmente, tão livremente que fico emocionado só de ouvir o que essa mulher toca. Cada vez que a ouço tocar me sinto uma formiga perante ao Everest.
Dia desses eu ouvi de um colega meu a seguinte afirmação: A clarineta é o instrumento mais sapeca da orquestra. Fiquei pensado o que realmente ele queria falar com isso. Mas deixaei para lá. Lembrei-me desses concertos, não sei por que.
Johann Wenzel Anton Stamitz compositor e violinista checo. Pai de Carl Stamitz e Anton Stamitz, compositores famosos.
Pertenceu a uma célebre família de músicos checos, que exerceram grande influência na evolução da música sinfónica do século XVIII.
Esses concertos, pouco conhecidos, são com certeza obras primas. Não sei se eu falo isso porque toco clarineta ou por ouvinte. Decidam aí vocês. Esses concertos, em sua maioria, tem uma um grau médio de dificuldade. Mas para compensar exigem do músico ( ou musicista ) extrema capacidade de infusão emocional na música. São difíceis de ser executados porque a infusão não pode ser extremamente floreada a ponto de ficar enjoativa, mas também não podem ser seca a ponto de ficar monótono. Sabine faz isso com perfeição. Ela consegue colocar exatamente a quantidade de emoção necessária em cada melodia. Todos os Concertos obedecem praticamente o mesmo sistema: Allegro, lento, scherzo ou presto.
Comentários são sempre bem vindos.
Boa audição.
Johann Stamitz (1717-1757) & Carl Stamitz (1745-1801): Concertos para Clarinete (Meyer / Brown / St. Martin)
Konzert Für Klarinette Und Orchester Nr. 3 B-dur = Clarinet Concerto No. 3 In B Flat = Concerto Pour Clarinette N° 3 En Si Bémol Majeur)
Composed By – Carl Stamitz
1. I. Allegro Moderato 7:41
2. II. Romance 3:26
3. III. Rondo 3:13
Konzert Für Klarinette Und Orchester Nr. 11 Es-dur = Clarinet Concerto No. 11 In E Flat = Concerto Pour Clarinette N° 11 En Mi Bémol Majeur)
Composed By – Carl Stamitz
4. I. Allegro 8:27
5. II. Aria (Andante Moderato) 4:09
6. III. Rondo Alla Scherzo (Allegro Moderato) 5:10
Konzert Für Klarinette Und Orchester B-dur = Clarinet Concerto In B Flat = Concerto Pour Clarinette En Si Bémol Majeur)
Composed By – Johann Stamitz*
7. I. Allegro Moderato 7:31
8. II. Adagio 4:04
9. III. Poco Presto 4:01
Konzert Für Klarinette Und Orchester Nr. 10 B-dur = Clarinet Concerto No. 10 In B Flat = Concerto Pour Clarinette N° 10 En Si Bémol Majeur)
Composed By – Carl Stamitz
10. I. [Allegro] 8:00
11. II. [Andante Sostenuto] 5:09
12. III. [Rondo (Poco Allegro)] 4:11
Cadenza – Andreas N. Tarkmann
Clarinet – Sabine Meyer
Conductor – Iona Brown
Orchestra – Academy Of St. Martin In The Fields*
Esta gravação certamente não é uma de minhas first choices shostakovichianas. O italiano Gianandrea Noseda torna o trágico ultratrágico, deixa tudo mais lento e quer nos matar do coração. Em sua cruzada pelo trágico, ele pisoteia o que há de sarcástico em Shostakovich, o que é crime inafiançável. A Sinfonia nº 15, Op. 141, foi gravada logo após sua composição em 1971, com a regência do filho do compositor, Maxim. Muitas gravações seguiram essa leitura sombria ao considerar a obra um testemunho diante da morte. No entanto, essa não é a única maneira de ver a questão. Por um lado, a sinfonia contém várias citações, e a da abertura Guilherme Tell, de Rossini , no primeiro movimento, é bastante espirituosa. O final, nem se fala. A Sinfonia nº 6, Op. 54, de 1939, não é de das obras sinfônicas tocadas com maior frequência. Os críticos stalinistas notaram com desaprovação os aspectos mais experimentais da obra, com sua estrutura incomum, com cada movimento mais rápido que o anterior. A leitura de Noseda capta bem isso. Mas, sei lá, faltou Rússia (ou URSS) a Noseda.
Sinfonia nº 15 em lá maior, op. 141
1 I. Alegretto 8:30
2 II. Adagio. Largo. Adagio. Largo 16:03
3 III. Alegreto 4:28
4 4. Adagio. Alegretto. Adagio. Alegretto 15:56
Sinfonia nº 6 em si menor, op. 54
5 I. Largo 17:42
6 II. Alegro 6:37
7 III. Presto 7:29
London Symphony Orchestra
Gianandrea Noseda, regente
Quantas vezes FDP Bach postou estas gravações? Muitas, ele as ama. Porém, como há pouco tempo saiu com nova capa, juntos e tals, vamos repostar. Mas o texto é de FDP! Vai que é tua, meu rapaz.
Aqui, sobre o CD1:
A obra pianística de Brahms apareceu com pouca frequência aqui no PQPBach. Lembro de um cd de Kristian Zimerman, cujo link já desapareceu há muito tempo, e só. Claro que falo das obras para piano solo, não de seus monumentais concertos para piano.
Resolvi então trazer este repertório com meu pianista favorito nele, Stephen Kovacevich, gravações estas realizadas entre o final dos anos 60 e início dos anos 80.
Tenho uma relação muito particular com este pianista, foi ele quem me apresentou o Concerto nº2, e sua leitura me cativou imediatamente, e desde então cultivo um carinho muito especial por esta gravação. Infelizmente Kovacevich meio que sumiu dos palcos durante alguns anos, se não me engano por problemas de saúde, mas pelas últimas notícias que li, ele está novamente ativo, realizando performances pelos palcos do mundo inteiro.
O primeiro cd dessa caixa traz o monumental Concerto nº1, em uma versão mais “light”, eu diria, não tão soturna, mais romântica do que e as que estamos acostumados a ouvir. É deslumbrante acompanhar o embate entre piano e orquestra, em um duelo sem vencedores.
Stephen Kovacevich, Colin Davis e a Sinfônica de Londres estão impecáveis, no apogeu de suas carreiras.
E aqui sobre o CD2:
Se Stephen Kovacevich tivesse realizado apenas essa gravação do Concerto nº 2 para Piano e Orquestra de Brahms, junto com Colin Davis e a Sinfônica de Londres, lá nos idos dos anos 70, já poderia ser colocado no Hall of Fame dos grandes pianistas do século XX. Já comentei anteriormente que tenho uma relação muito pessoal com essa gravação, desde que a comprei, lá em 1987 ou 88. Brahms para mim ainda era um compositor um tanto quanto obscuro. Sua obra ainda era uma incógnita para mim. Ainda era o tempo do LP. Lembro que comprei em uma promoção, dois pelo preço de um, junto dele veio um LP com as Danças Eslavas de Dvorák, na versão de Antal Dorati, outro primor da indústria fonográfica. Bendita a hora em que o gerente daquela loja de discos no centro de Florianópolis resolveu dar uma geral no setor de clássicos, e tirar aqueles álbuns encalhados, que não vendiam.
Já colocamos em discussão por aqui diversas vezes, e não canso de afirmar que considero este Concerto nº 2 para Piano e Orquestra de Brahms o melhor Concerto já escrito pelo ser humano, uma obra que faz parte do cânone cultural ocidental. Um diamante lapidado com cuidado e esmero por este gigante alemão, Johannes Brahms.
E o californiano Stephan Kovacevich, filho de pai croata e mãe norte-americana, junto com Colin Davis e a Sinfônica de Londres, naqueles inspiradores anos 70, conseguiram extrair a essência da obra, aquilo que ela tem de mais profundo. Impossível ouvir essa gravação e ficar imune à sua beleza.
Deliciem-se, então, mortais.
Johannes Brahms (1833-1897): Os 2 Concertos para Piano, Scherzo, 4 Baladas, Klavierstucke (Kovacevich / Davis)
Concerto para piano nº 1 em ré menor, op. 15
1-1 Maestoso – Poco Più Moderato 21:29
1-2 Adágio 15:19
1-3 Rondo Allegro Non Troppo 10:59
1-4 Scherzo em mi bemol menor, op. 4 9:46
4 Baladas, op. 10
1-5 Nº 1 em Ré Menor 3:52
1-6 Nº 2 em D 5:12
1-7 Nº 3 em si menor 3:41
1-8 Nº 4 em B 5:59
Concerto para piano nº 2 em si bemol, op. 83
2-1 Allegro Non Troppo 17:55
2-2 Allegro Appassionato 8h30
2-3 Andante – Più Adagio 14:32
2-4 Allegretto Grazioso – Un Poco Più Presto 9:06
Klavierstucke Op. 76
2-5 Nº 1 Capricho em Fá Sustenido Menor 2:35
2-6 Nº 2 Capricho em Si Menor 2:54
2-7 Nº 3 Intermezzo em apartamento 2:24
2-8 Nº 4 Intermezzo em Si bemol 2:16
2-9 Nº 5 Capricho em dó sustenido menor 2:49
2-10 Nº 6 Intermezzo em A 2:52
2-11 Nº 7 Intermezzo em Lá Menor 2:33
2-12 Nº 8 Capricho em C 2:53
Steven Kovacevich
London Symphony Orchestra
Sir Colin Davis
As 2 obras deste disco são contemporâneas. Hindemith compôs a Sinfonia em 1934 e Bartók compôs a sua obra em 1936.
Hindemith planejava compor uma ópera com enredo baseado na vida de Matthias Grünewald, o pintor do Retábulo de Isenheim, quando William Furtwängler lhe pediu uma peça para apresentar em uma turnê que faria com a Berliner Philharmoniker. Ele resolveu compor estes movimentos sinfônicos, que foram posteriormente usados na ópera.
Paul Sacher
A peça de Bartók foi comissionada por Paul Sacher para a celebração do aniversário de dez anos de sua orquestra, a Basler Kammerorchester. Paul Sacher dedicou-se à música de seu século de muitas maneiras diferentes: como intérprete, como patrono de novas composições e como membro e patrocinador de muitos comitês e instituições. A Música para Cordas, Percussão e Celesta foi composta no mesmo período em que Bartók compôs o Quarto e o Quinto Quartetos de Cordas. A partitura dessa peça é precedida pela cuidadosa disposição dos instrumentos em relação ao regente.
Este disco me deixou intrigado, pois sempre imaginava Herbert von Karajan regendo as peças de maior apelo aos ouvintes. As sinfonias de Tchaikovsky e outros famosos compositores, assim como os concertos, sempre com jovens intérpretes. No entanto, este é apenas um dos muitos aspectos deste regente que desperta tão forte opiniões nas pessoas. Havia também o seu interesse pela música de seu próprio tempo, assim como pelas novas tecnologias. Karajan gravou essa peça de Bartók três vezes. Sua primeira gravação, feita em 1949, foi simplesmente a segunda gravação da peça. A gravação que temos aqui foi feita em novembro de 1960 e já se beneficiou da nova tecnologia de gravações – estéreo. A produção foi feita pelo lendário e controverso Walter Legge. Há ainda outra gravação dessa obra de Bartók por Karajan e a Berliner Philharmoniker, provavelmente mais conhecida, por ser para o selo Deutsche Grammophon, feita em 1973.
Quanto a obra de Hindemith, não sei quantas gravações Karajan fez, mas certamente ela fazia parte de seu repertório de novidades, como as sinfonias de Arthur Honegger e as peças dos seres do outro planeta, Schoenberg, Berg e Webern. Há uma gravação feita ao vivo de um concerto com a Wiener Symphoniker em 18 de fevereiro de 1957, na Grosser Saal des Wiener Musikvereins, cujo programa foi a Sinfonia de Hindemith e a Sétima de Beethoven.
As duas obras do disco, apesar da proximidade temporal, não poderiam ser mais diferentes. Um texto que descreve a obra de Bartók começa assim; ‘Qual é a fonte dessa música diabólica? As divagações cromáticas sugerem Wagner e o seu Tristão, que preludia Schönberg. Mas existem outros antecedentes, e estes incluem Strauss, Stravinsky, Debussy, Ravel e, crucialmente, a música folclórica da Hungria natal de Bartók e dos seus arredores’. Diabólica… bem, trechos da obra foram usados em filmes como Being John Malkovich e Shining. Aqui você encontrará mais informações sobre essa peça.
A obra de Hindemith não é uma sinfonia no sentido estrito, uma vez que sua composição derivou de material que seria usado na ópera, mas é bem próxima do que se esperava de uma sinfonia. Veja como inicia a descrição da peça em uma análise acadêmica: “É irônico que a Sinfonia “Mathis der Maler” tenha sido considerada anti-alemã pelos nazistas. Do ponto de vista estilístico, como uma obra tonal que revive a tradição sinfônica alemã, com um foco nacionalista e uso de melodias folclóricas, deveria ter sido uma obra modelo de um compositor do Terceiro Reich. No entanto, sua paleta sonora melódica e pós-romântica a coloca na categoria de outras obras europeias da década de 1930 por compositores como Stravinsky, Bartók, Schoenberg e Shostakovich que reagiram em sua música contra o totalitarismo.”
O primeiro movimento da sinfonia, por exemplo, foi inspirado no painel “O Concerto Angélico” (Engelkonsert) de Mathis Grünewald, que retrata três anjos tocando e cantando para o recém-nascido Cristo e sua mãe. A pintura serviu de inspiração para o primeiro movimento da Sinfonia, também funcionando como prelúdio para a ópera. Aqui, Hindemith optou por citar uma melodia folclórica de oito compassos, Es sungen drei Engel ein süssen Gesang (Três Anjos Cantaram uma Canção Doce). O Sepultamento, segundo movimento da Sinfonia, foi inspirado na parte de baixo do Tríptico.
A pintura mais impressionante, na minha opinião é a que trata das tentações de Santo Antônio.
Béla Bartók (1881-1945)
Música para Cordas, Percussão e Celesta, Sz. 106
Andante tranquilo
Allegro
Adagio
Allegro molto
Paul Hindemith (1895-1963)
Sinfonia “Mathis der Maler”
Engelskonzert (Concerto Angélico)
Grablegung (Sepultamento)
Versuchung des heiligen Antonius (As Tentações de Santo Antônio)
Numa entrevista de Herbert para Herbert, que você poderá ver na íntegra aqui:
Herbert Pendergast – ‘Você acha que a música de compositores como Boulez e Webern será facilmente compreendida pelo público musical da próxima geração?’
Herbert von Karajan – ‘Tenho certeza de que a próxima geração não terá problemas em compreender a maior parte da música de hoje.Pense no Concerto para Orquestra de Bartók.Há vinte anos era considerado inacessível;hoje é um clássico.Pense na Música para Cordas, Percussão e Celesta.Quando o tocamos hoje, soa como um concerto grosso de Handel.Com o declínio da inspiração melódica na música, as técnicas seriais de hoje são uma disciplina auto-imposta necessária para o compositor…’
Paul resolveu pousar para fotos com os instrumentos do acervo do PQP Bach, durante a preparação da postagem… Béla caiu na gargalhada…
Um belo CD. Ries é excelente. Filho de um músico da corte de Bonn, Franz Ries, Ferdinand aprendeu piano quando criança com Beethoven. Em outubro de 1801, foi enviado por seu pai para Viena, onde Beethoven o colocou sob sua proteção. Em troca, Ries tornou-se indispensável para Ludwig, ajudando-o com os aspectos práticos da composição, lidando com editores, encontrando alojamentos para o mestre e, em geral, cuidando dele enquanto sua audição diminuía. Foi Ries quem encontrou alojamento para Beethoven na Pasqualati Haus, onde Beethoven permaneceu por mais tempo do que em qualquer outro lugar e que hoje é um Museu. Beethoven geralmente considerava a bondade de Ries como obrigação, muitas vezes tratando-o mal e culpando-o por problemas pelos quais não era responsável. Ries nunca permitiu que isso prejudicasse o amor e o respeito que tinha por Beethoven. Em 1813, deixou Viena para sempre. Estabeleceu-se em Londres em 1813, casando com uma inglesa. Em 3 de abril de 1816, Beethoven escreveu a Ries: “… Todos os meus bons votos, meu caro R, e os meus melhores cumprimentos à sua querida esposa e também a todas aquelas lindas inglesas a quem as minhas saudações podem dar prazer…”. Um mês depois, ele escreveu: “… Minhas melhores saudações à sua esposa. Infelizmente não tenho esposa. Encontrei apenas uma que, sem dúvida, nunca possuirei. No entanto, não odeio as mulheres… “. Como membro da Sociedade Filarmônica de Londres, Ries foi incansável na promoção da música de Beethoven e fundamental para garantir-lhe a encomenda da nova sinfonia que se tornaria a Nona. Ele deixou Londres em abril de 1824, após dar um concerto de despedida, e mudou-se a esposa para Godesberg. Ele acumulou uma riqueza considerável com o ensino e a redação, mas perdeu grande parte dela quando o banco londrino, em que investia, faliu. Por volta de 1830, mudou-se para Frankfurt e em 1834 para Aachen, onde foi nomeado chefe da orquestra da cidade e da Singakademie. Mas as funções do cargo não lhe deixaram satisfeito e ele regressou a Frankfurt dois anos depois. Ele morreu com apenas cinquenta e três anos. Ferdinand Ries foi excelente pianista e compositor prolífico, deixando cerca de 180 obras, incluindo sinfonias, óperas, oratórios, música de câmara e peças para piano solo. Como um dos colaboradores mais próximos de Beethoven, as suas opiniões a respeito do compositor – reunidas num livro que publicou com Franz Wegeler em 1838 – são inestimáveis.
Ferdinand Ries (1784-1838): Os Quartetos para Flauta Completos (Oxalys)
Quartet WoO 35 Nr. 1 In D Minor
1-1 Allegro
1-2 Adagio Con Moto
1-3 Scherzo. Vivace
1-4 Finale. Allegro Molto
Quartet WoO 35 Nr. 2 In G. Minor
1-5 Andante. Allegretto
1-6 Adagio Con Moto, Cantabile
1-7 Allegro Vivace
Quartet WoO 35 Nr. 3, In A Minor
1-8 Allegro Non Troppo
1-9 Largo
1-10 Menuetto. Moderato
1-11 Rondo Grazioso. Allegretto
Quartet Op.145, In C Minor
2-1 Allegro Con Brio
2-2 Larghetto Cantabile
2-3 Scherzo. Allegro Vivace
2-4 Allegro All’Espagnola
Quartet Op.145, Nr 2, In E Minor
2-5 Allegro Moderato
2-6 Andante
2-7 Menuetto Molto Moderato
2-8 Rondo. Allegro Moderato
Quartet Op.145, Nr. 3, In A Major
2-9 Allegro
2-10 Scherzo. Vivace
2-11 Adagio
2-12 Allegro
Nelson Freire, vocês sabem, foi muito aplaudido e respeitado em vários lugares do mundo. Curiosamente, ao contrário dos últimos anos de sua carreira, quando lotava a maior sala de concertos de Paris (Philharmonie) e tocava com grandes orquestras e maestros em Londres, Leipzig (aqui) e São Petersburgo, o início de sua carreira teve um acolhimento maior na América do Norte. Foi nos EUA e no Canadá que ele gravou alguns recitais que seriam depois lançados comercialmente ou que circulariam entre fãs (como este aqui de 1975 com Scherzo de Chopin e Sonata de Scriabin de altíssimo nível).
Suas primeiras gravações em estúdio lançadas comercialmente, portanto, foram pela CBS (Columbia), selo americano que depois seria incorporado à japonesa Sony. Curiosidade inútil: no mesmo estúdio da Columbia (30th st., New York) onde Nelson gravou os 24 Prelúdios de Chopin, no ano anterior Miles Davis havia gravado o álbum Jack Johnson e, antes, Filles de Kilimanjaro, Kind of Blue e outros álbuns. Vladimir Horowitz também gravou muita coisa lá.
O disco com os Prelúdios recebeu o prestigioso Prêmio Edison em Amsterdam. Mas, apesar desses sucessos de crítica antes dos 30 anos, ele só teria um grande público europeu a ponto de lotar salas como o Concertgebouw de Amsterdam em recitais solo lá por volta do ano 2000.
O disco de hoje é uma compilação da revista francesa Diapason lançada em 2015, testemunhando o prestígio que ele tinha em Paris, onde viveu suas últimas décadas, passando alguns meses em sua outra casa no Rio de Janeiro próxima à pacata praia da Joatinga. Chopin e Schumann são compositores que sempre estiveram muito próximos do coração de Nelson, assim como de seus grandes ídolos que ele chegou a conhecer e, em certos aspectos, imitar: A. Rubinstein (1887-1982), G. Novaes (1896-1979), V. Horowitz (1903-1989)…
Em dezembro de 2021, ao dar “adeus a um poeta do piano”, a revista Diapason recordou o disco Brasileiro (2012), com obras que evocam os anos de estudo de Freire no Rio de Janeiro. Ali, “o grande saudadista” (no original em francês: le grand saudadiste) retornava para as atmosferas, paisagens e cheiros do Brasil. Essa exótica definição de Freire com o neologismo saudadista ajuda a explicar a maneira como ele se entrega de corpo e alma para a linguagem romântica de Chopin e Schumann. A homenagem da Folha de São Paulo foi na mesma linha da Diapason: “Nelson Freire foi o elo entre a era de ouro do piano e o terceiro milênio”.
Capa da reedição da Diapason (2015) pegou uma outra foto da mesma seção que rendeu a capa do LP dos Prelúdios. Nesta aqui ele está menos sério e o pescoço aparece mais
Frédéric Chopin:
24 Préludes, op. 28
Impromptu No. 2, op. 36
Mazurka em si menor, op. 33 nº 4
Mazurka em ré maior, op. 33 nº 2 Robert Schumann:
Carnaval – Scènes mignonnes sur quatre notes (Pequenas cenas sobre quatro notas)
Nelson Freire, piano
Original Releases:
Préludes: 1971 (recorded: Columbia 30th Street Studio, New York City, USA)
Impromptu, Mazurkas: 1983 (recorded: Herrenhaus Gut Hasselburg, Neustadt, Germany)
Carnaval: 1969 (recorded: Kirchgemeindehaus, Winterthur, Switzerland)
Nelson Freire com retratos de L. Branco, G. Novaes e F. Liszt (Crédito: Inst. Piano Brasileiro)
Este disco duplo foi postado aqui poucos dias após seu lançamento mundial. Talvez pela pressa, nosso colega CVL escreveu apenas duas linhas que vocês verão mais abaixo. Na repostagem em 2023, subi para cá o comentário muito engraçado mas muito sério do colega Ranulfus (in memoriam).
Ranulfus sobre os Noturnos por Nelson Freire:
BEM no início do primeiro tive certa sensação “ih, ele também está escorregando mais do que é preciso nos rubatos”, mas foi um quase-nada. E embora a interpretação de Freire seja própria, com força pessoal, não há dúvida de que ele recebeu lições de Madame Novaes: sabe conter-se quando poderia, pelo seu jeito pessoal, se derramar e esparramar feito um pudim!
Já disse, na brincadeira mas é verdade, que sou pluralista: todas as visões têm que ter lugar neste mundo, todas as leituras; não quero eliminar nenhuma delas ao dizer o seguinte, mas…
… quando é que nós brasileiros vamos parar de ser bobos e complexados? São pouquíssimos os pianistas do mundo cujo Chopin chega a merecer ser comparado com os destes dois brasileiros…
… e nós ficamos tantas vezes babando ovo pra estrangeiros muito, mas MUITO menores, que a indústria nos quer vender como referência ou como revelação!
CVL:
“Se joga, pintosa. Põe rosa” – Leo Áquilla
(As pintosas são vocês aí, fãs de Chopin*)
Frédéric Chopin (1810-1849): Noturnos
CD 1
1. Nocturne No.1 In B Flat Minor, Op.9 No.1
2. Nocturne No.2 In E Flat, Op.9 No.2
3. Nocturne No.3 In B, Op.9 No.3
4. Nocturne No.4 In F, Op.15 No.1
5. Nocturne No.5 In F Sharp, Op.15 No.2
6. Nocturne No.6 In G Minor, Op.15 No.3
7. Nocturne No.7 In C Sharp Minor, Op.27 No.1
8. Nocturne No.8 In G Flat, Op.27 No.2
9. Nocturne No.9 In B, Op.32 No.1
10. Nocturne No.10 In A Flat, Op.32 No.2
CD 2
1. Nocturne No.11 In G Minor, Op.37 No.1
2. Nocturne No.12 In G, Op.37 No.2
3. Nocturne No.13 In C Minor, Op.48 No.1
4. Nocturne No.14 In F Sharp Minor, Op.48 No.2
5. Nocturne No.15 In F Minor, Op.55 No.1
6. Nocturne No.16 In E Flat, Op.55 No.2
7. Nocturne No.17 In B, Op.62 No.1
8. Nocturne No.18 In E, Op.62 No.2
9. Nocturne No.19 In E Minor, Op.72 No.1
10. Nocturne No.20 In C Sharp Minor, Op.Posth.