Se houve alguém “inventou” Bach, este foi Buxtehude. Leiam a seguir o texto que a Sociedade Bach do Brasil publicou nesta página. As intervenções entre parênteses são minhas.
Prolongando sua licença.
No outono de 1705 (papai tinha apenas 20 anos) Bach pediu uma licença para ausentar-se até Lübeck, lar do brilhante organista Dietrich Buxtehude. Tendo sido concedida uma licença de quatro semanas, Bach foi para Lübeck, percorrendo mais de 400 km em 10 dias. Quando chegou a hora de retornar a Arnstadt, Bach prolongou por mais três meses inteiros sua licença sem comunicar seus empregadores (ele era um grande criador de casos, mas deixem-no porque sabemos como valeu a pena). É possível que Bach haja partido de Arnstadt pensando em prolongar sua licença para que então pudesse assistir a apresentação de Buxtehude na Abendmusiken, um evento renomado no nordeste da Alemanha em comemoração ao Advento.
Uma oferta que ele poderia recusar.
O cargo do velho Buxtehude chamava a atenção de jovens músicos como Bach. Mas a prática era, que se após a morte de um Diretor Musical, este deixasse alguma filha não casada, o novo Diretor deveria tomá-la como esposa. Uma tradição que foi responsável pelo casamento de Buxtehude. Em 1703 Handel e Mattheson foram a Lübeck, oficialmente para assistir a Abendmusiken, e não oficialmente para verificar a filha solteira de 30 anos de Buxtehude (30 anos?, uma velha para a época! O fato é que ambos recusaram a moça). Aparentemente Bach também não gostou do que viu, pois retornou a Arnstadt e logo depois se casou com a sua prima Maria Bárbara (sempre as primas…). Mesmo depois de dois anos passados da morte de Buxtehude sua infeliz filha permanecia solteira (coitada).
Ouçam como a música para órgão de Bach deve a tio Bux. Ouçam como a estética de papai é semelhante à do pai do canhão. Obviamente que Bach subiu a alturas que nenhum Bux sequer sonhou, mas foi nos ombros dele que papai ergueu-se para o primeiro salto.
Um grande CD!
Dietrich Buxtehude (1637-1707): Obras para Órgão (Koopman)
1 Präludium Und Ciacona C-dur Bux WV 137 / Prelude And Ciacona In C Major / Prélude Et Chaconne En Ut Majeur 4:47
2 Eine Feste Burg Ist Unser Gott. Bux WV 184 4:13
3 Passacaglia D-moll Bux WV 161 6:28
4 Nun Komm, Der Heiden Heiland. Bux WV 211 2:30
5 In Dulci Jubilo Bux WV 197 2:15
6 Fugue C-dur / Fuga In C Major / Fugue En Ut Majeur Bux WV 174 3:39
7 Puer Natus In Bethlehem. Bux WV 217 1:05
8 Präludium D-dur / Prelude In D Major / Prélude En Ré Majeur Bux WV 139 5:38
9 Nun Lob, Mein Seel, Den Herren. Bux WV 212 4:15
10 Präludium G-moll / Prelude G Minor / Prélude En Sol Mineur Bux WV 163 7:41
11 Wie Schön Leuchtet Der Morgenstern. Bux WV 223 7:19
12 Präludium G-moll / Prelude In G Minor / Prélude En Ré Mineur Bux WV 149 7:22
Ton Koopman, órgão

PQP

Seu nome era Anton mas podia ser Vassili por seu caráter dubitativo (sim, Les Luthiers!). Tinha 39 anos e não sabia ainda se era um sinfonista de verdade ou um estudante. Então, escreveu esta sinfonia que posto hoje e que nunca foi executada durante sua vida. Ele tinha quase certeza que escrevera uma porcaria e, como o neurótico que era, manteve tal quase certeza na quarta, quinta, sétima, oitava e nona, verdadeiras obras-primas do ocaso do século XIX.







Este é aquele cantinho de Sonatas de Bach com alguns patinhos feios. Mas mesmo sendo patinhos feios, é Bach e Bach sempre vale a pena. Tanto que damos de cara com alguns movimentos de fazer cair os butiá do bolso de tão belos e bem escritos. As sonatas para violino e cravo de Johann Sebastian Bach são obras em forma de trio sonata, com as duas partes superiores no cravo e violino sobre uma linha de baixo fornecida pelo cravo e uma viola da gamba opcional. Ao contrário das sonatas barrocas para instrumento solo e contínuo, em que a realização do baixo figurado foi deixada ao critério do intérprete, a parte do teclado nas sonatas foi quase inteiramente especificada por Bach. Provavelmente, a maioria deles foi composta durante os últimos anos de Bach em Köthen entre 1720 e 1723, antes de ele se mudar para Leipzig.



IM-PER-DÍ-VEL !!!
O belo Concerto para Violino de Alban Berg foi escrito em 1935, ano de sua morte. (Em 24 de dezembro daquele ano, ele foi provavelmente picado por um inseto peçonhento e morreu). Seu Concerto é a peça mais conhecida e executada de Berg. A obra foi encomendada por Louis Krasner e dedicada por Berg “à memória de um anjo”. Foi o último trabalho que ele concluiu. Krasner executou a parte solo na estreia no Palau de la Música Catalana, Barcelona, em abril de 1936, quatro meses após a morte do compositor, tornando-se um réquiem não apenas para Manon Gropius, mas também para Berg. Por que o anjo? Ora, o acontecimento que o estimulou a escrever o concerto foi a morte por poliomielite de Manon Gropius, de 18 anos, filha de Walter Gropius e de sua amiga e patrocinadora Alma Mahler (viúva de Gustav Mahler). Alma sentiu-se abandonada pelos Berg em seu período de luto, e Berg estava ansioso para reparar o erro. Berg enviou a Alma parte da partitura em 1935. Era o aniversário de 56 anos da Alma. No Concerto temos uma demonstração de como Berg lidou com o atonalismo — com tanta habilidade que a herança clássica de suas composições não foi apagada, justificando assim o termo frequentemente aplicado a ele: o “classicista da música moderna”.

IM-PER-DÍ-VEL !!!
O incrível talento melódico de George Gershwin fica escarrado nestas duas coletâneas gravadas por Oscar Peterson. O notável pianista toca o songbook com extremo respeito e apenas trata de tocar os temas da forma mais bela e simples possível, sem grandes voos de improvisação. Basta ver os tempos de cada canção para se dar conta de que são canções tocadas em trio. Na verdade são dois LPs contidoa em um CD. Iniciamos por um de 1959 e outro de 1952. Ouvi tudo continuamente, mas creio ter gostado mais da versão de 1952 com o guitarrista Barney Kessel no lugar do baterista Ed Thigpen. Vale a pena ouvir este CD, nem que seja para poder dizer com ainda maior certeza que Gershwin foi sensacional.
IM-PER-DÍ-VEL !!!

IM-PER-DÍ-VEL !!!
IM-PER-DÍ-VEL !!!
















Por algum motivo até agora inexplicável, os Motetos de papai ainda não foram postados. Não sei o porque, talvez mano PQP esteja guardando algum trunfo na manga, mas resolvi atender a alguns pedidos insistentes, feitos no correr dos últimos meses, aproveitando uma pequena folga que terei nesta semana. Obras corais extremamente complexas, inexplicavelmente pouco gravadas (talvez mesmo pela sua dificuldade de interpretação), estes motetos são verdadeiras obras primas de papai. Introspectivas, meditativas, elas exigem do ouvinte concentração absoluta, de preferência sem barulhos externos que atrapalhem suas peculiaridades. Herreweghe, bem, Herreweghe é um dos maiores regentes da obra de papai. Até agora não li nenhum comentário negativo de suas gravações. A Chapelle Royale e o Collegium Vocale Gent são seus eternos companheiros, e graças a eles e seus solistas, temos tido acesso a interpretações magníficas, não apenas das obras de papai, mas também de diversos outros compositores barrocos.



IM-PER-DÍ-VEL !!!
Um disco bem antigo, com interpretações atualmente apenas aceitáveis, mas que vale pela Trio Sonata que abre o CD. Se você quiser ouvir uma grande versão das outras obras que figuram no CD, a provável campeã é 
Hoje estava ouvindo a Rádio da Ufrgs e, de repente, entrou a Sinfonia N° 99 de Haydn, regida por Alfred Scholz. Esse Scholz foi um sujeito… Bem, ele foi um maestro e produtor musical que comprava a preço de banana gravações feitas atrás da chamada Cortina de Ferro e as vendia no Ocidente com nomes de orquestras, maestros e solistas que simplesmente não existiam. Às vezes, punha seu próprio nome, quando eram muito boas. Aqui no Brasil esses CDs chegavam pela MoviePlay. Alberto Lizzio era o pseudônimo mais usado. A orquestra Musici di San Marco e Philharmonia Slavonica, colaboradoras habituais de Lizzio, também jamais existiram… É claro que a Rádio da Universidade não vai examinar a biografia de cada músico, só que, como disse, Scholz atribuiu a si algumas boas gravações, além de ter escrito a biografia do grande Alberto Lizzio.


Três grandes sinfonias de Haydn, interpretadas por um de seus grandes intérpretes, Antal Dorati. Para que pedir mais nesse princípio de Primavera?





IM-PER-DÍ-VEL !!!
Algumas semanas antes de sua morte, em 1949, Richard Strauss escreveu uma opereta para a escola de seu neto. É baseado na famosa história de Christoph Martin Wieland, Des Esels Schatte. A maior parte da obra é ocupada pela narração falada. Embora a narração seja proferida com grande desenvoltura pelo fantástico Peter Ustinov (ele faz todas as vozes, incluindo as femininas em falsete), o disco esgotará a paciência da maioria dos ouvintes e dificilmente provocará novas audições. A música é esquecível – é a de um compositor que nunca foi grande em sua velhice. Pobre neto, podia ter ficado sem essa. Porém, para nossa felicidade, a partitura ficou incompleta.