Umas das características da música russa é um certo elemento fantástico, de mitos e seres lendários, folclóricos. Isso está presente na primeira peça do disco, também pioneira nesse gênero por lá – Uma Noite no Monte Calvo – que saiu da mente imaginosa de Mussorgsky. Mas, teve que esperar a intervenção (e orquestração) de Rimsky-Korsakov para se firmar no repertório. Tornou-se tão popular que fez parte, em 1940, do filme Fantasia, de Walt Disney.
Outra característica da música russa é a orquestração requintada, um pouco exótica, arte que certamente deve bastante ao já mencionado Rimsky-Korsakov, compositor de duas outras peças do disco, justamente famosas – favoritas do público. A Abertura da Páscoa Russa e o Capricho Espanhol são figurinhas carimbadas em concertos de viés mais popular e justamente, pois encantam pela riqueza das melodias e dos timbres orquestrais.
A quarta faixa do disco, assim como a faixa bônus, as Danças Polovitsianas e Nas Estepes da Ásia Central, são composições de Borodin, outra figura importante da música russa. Eu incluí essa última composição por ser uma das minhas preferidas, desde sempre.
É interessante como esses dois compositores que tanto contribuíram para a música russa tiveram vida profissional dupla. Rimsky-Korsakov foi membro da Marinha Imperial Russa, seguindo a tradição familiar, e Borodin, além de músico, foi médico e químico atuante.
Quanto aos intérpretes, o dito nas entrelinhas dos memorandos aqui na repartição é que, para música russa, o melhor é intérprete russo! Assim, para a postagem escolhi um disco que cumprisse, pelo menos em parte, o adágio local. Gennady Rozhdestvensky rege uma orquestra que não é russa, mas é espetacular e conhece o repertório como poucas, dada sua relação com músicos e compositores russos. O disco foi gravado no início da década de 1970, mas tem um produção excelente e é espetacular, a começar pela capa…
Veja a descrição do estilo do maestro: Rozhdestvensky foi considerado um maestro versátil e um músico altamente culto com uma técnica flexível. Ao moldar as suas interpretações, dava uma ideia clara dos contornos estruturais e do conteúdo emocional da peça, combinados com um estilo performático que fundiu lógica, intuição e espontaneidade.
A faixa extra é uma gravação de outra estirpe, Leonard Slatkin regendo a Orquestra de Saint Louis, conjunto e maestro que se conhecem como ninguém.
Eu adoro essa peça, a caravana surgindo no horizonte e passando até se perder de vista novamente. Veja a descrição deixada pelo próprio compositor: No silêncio das monótonas estepes da Ásia Central ouve-se o som desconhecido de uma pacífica canção russa. Ao longe ouvimos a aproximação de cavalos e camelos e as notas bizarras e melancólicas de uma melodia oriental. Uma caravana se aproxima, escoltada por soldados russos, e segue em segurança seu caminho pelo imenso deserto. Ele desaparece lentamente. As notas das melodias russas e asiáticas unem-se numa harmonia comum, que se extingue à medida que a caravana desaparece ao longe.
Modest Mussorgsky (1839 – 1881)
A Night On Bare Mountain (orquestração de Rimsky-Korsakov)
Alexander Borordin (1833 – 1887)
Polovtsian Dances From “Prince Igor”, Act 2 (Orquestração de Rimsky-Korsakov & Glazunov)
Seção ‘The Book is on the Table’: Gennadi Rozhdestvensky is the son of two famous musicians. He received his musical education at the Moscow Conservatoire, studying conducting with his father and piano with Lev Oborin. While still a student there, he made his debut at the age of twenty in Tchaikovsky’s Sleeping Beauty at the Bolshoi Theatre. By the time he graduated he was already well known as a conductor both in the USSR and abroad.
Inspirado pela postagem do mano PQPBach, resolvi trazer estas obras pouco conhecidas e executadas de Rimsky-Korsakov. Gosto muito desse compositor, desde a primeira vez em que ouvi seu Capricho Espanhol, e lá se vão mais de três décadas. Na verdade, sou fá da música russa, então Tchaikovsky, Korsakov, entre outros são compositores russos que sempre estiveram entre meus favoritos.
Não tenho lembranças de quando nem como consegui este belo CD duplo da DG que traz as sinfonias (para mim até então desconhecidas) do russo. Já devo tê-lo há pelo menos uns dois ou três anos. E ainda mais com um de meus regentes favoritos da atualidade, Neeme Järvi. O bom e prolífico velhinho gravou excelentes CDs com esta orquestra sueca, a Gothenburg Symphony Orchestra.
Tudo bem, suas sinfonias não têm o mesmo impacto das sinfonias de Tchaikovsky, seu contemporâneo e amigo, mas são bem escritas e a orquestração é bem trabalhada. Järvi, na verdade, em alguns momentos consegue tirar leite de pedra, e o que poderia soar tedioso, graças à sua regência segura, consegue me satisfazer. Enfim, não sejamos tão críticos. Respeitemos o compositor da genial “Sherazade” e do fantástico “Vôo do Besouro”.
O CD se completa com a conhecidíssima Abertura do Festival da Páscoa, e talvez sua obra mais conhecida, o Capricho Espanhol.
Um belo CD, sem dúvida, e raro. Desconheço outras gravações destas sinfonias, devem até existir, mas fica o mérito do grande Järvi trazer a tona obras tão pouco interpretadas.
Pitaco de PQP: adorei este CD duplo. As sinfonias são surpreendentes, estranhas e muito bonitas, com destaque para as orquestrações sempre lindas de RK. Sobre os extras, nem preciso falar — são espetaculares. Neeme Järvi é um mestre. Faz jus às citadas e notáveis orquestrações do compositor. Não erra nunca, com sua sensibilidade e compreensão fazendo a GSO render o máximo. Aliás, ele é Maestro Emérito vitalício da orquestra que hoje tem Dudamel como titular.
Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): As Sinfonias / A Grande Páscoa Russa? / Capricho Espanhol (Jarvi)
CD 1
01. Symphony no.1 in E minor op.1 I. Largo assai – Allegro
02. Symphony no.1 in E minor op.1 II. Andante tranquillo
03. Symphony no.1 in E minor op.1 III. Scherzo. Vivace – Trio
04. Symphony no.1 in E minor op.1 IV. Allegro assai
05. Symphony no.2 op.9 (Antar) I. Largo – Allegro – Largo – Allegretto – Adagio
06. Symphony no.2 op.9 (Antar) II. Allegro
07. Symphony no.2 op.9 (Antar) III. Allegro risoluto
08. Symphony no.2 op.9 (Antar) IV. Adagio
CD 2
01. Symphony no.3 in C major, op.32 I. Moderato assai – Allegro
02. Symphony no.3 in C major, op.32 II. Scherzo. Vivo – Moderato – Tempo I
03. Symphony no.3 in C major, op.32 III. Andante – Animato assai – Tempo I – att
04. Symphony no.3 in C major, op.32 IV. Allegro con spirito – Animato
05. Russian Easter Festival Overture (A Grande Páscoa Russa), op.36
06. Capriccio Espagnol, op.34 Alborada. Vivo e strepitoso – attacca
07. Capriccio Espagnol, op.34 Variazioni. Andante con moto – attacca
08. Capriccio Espagnol, op.34 Alborada. Vivo e strepitoso – attacca
09. Capriccio Espagnol, op.34 Scena e canto gitano. Allegretto – attacca
10. Capriccio Espagnol, op.34 Fandango asturiano
Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi – Conductor
Um belo e tranquilo disco voltado ao romantismo sinfônico russo, tudo conduzido com notável competência e musicalidade por Mikhail Pletnev. Encontrar um programa com Liadov e Tcherepnin não é fácil, e os poucos concertos que os incluem são menos do que satisfatórios. Liadov é uma curiosidade e o mesmo pode ser dito de Tcherepnin, que provavelmente é o mais conhecido aluno de composição de Rimsky-Korsakov. Ainda assim, essas obras se qualificam como uma espécie de “Rimsky-lite”. Orquestradas de forma colorida e com detalhes vívidos, elas pretendem contar histórisa usando a orquestra. Enquanto a Baba Yaga de Liadov é menos interessante que a de Mussorgsky, The Enchanted Lake é uma peça adorável. Kikimora é nova para mim e trata-se de um poema atraente e leve. Tcherepnin roubou de seu professor a exploração das várias nuances durante a execução orquestral, e os solos de cada instrumento são bem trabalhados. La Princesse Lointaine é melancólica e delicada. Já Royaume Enchante parece demorar um pouco demais. Mas os fãs da música romântica russa tardia ficarão emocionados do mesmo jeito. O último trabalho é um pouco mais bem-sucedido, usando percussão e cores tonais variadas para criar uma sensação real de fantasia caprichosa. O Rimsky-Korsakov é obviamente mais conhecido, Sua Le Coq D’or é extraordinária. Bem, como forma de unir três compositores que realmente se influenciaram, este torna-se um delicioso disco.
Anatoly Liadov, Nikolai Tcherepnin, Nikolai Rimsky-Korsakov: The Enchanted Kingdom (Russian National Orchestra, Mikhail Pletnev)
Anatoly Liadov (1855-1914)
1 Baba-Yaga, Op. 56 3:35
2 The Enchanted Lake, Op. 62 7:04
3 Kikimora, Op. 63 7:11
Nikolai Tcherepnin (1873-1945)
4 La Princesse Lointaine, Op. 4 9:17
5 La Royaume Enchante, Op. 39 13:34
Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908)
Le Coq D’or – Suite
6 Introduction And Dodon’s Sleep 8:48
7 King Dodon On The Battlefield 4:33
8 Queen Of Shemakha’s Dance – King Dodon’s Dance 6:46
9 Wedding Procession – Death Of King Dodon – Finale 6:37
Tenho muitas lembranças pessoais ligadas a esta Sheherazade de R-K. Meu pai ouvia demais esta obra e ela sempre me traz de volta a infância. Aqui, Gerard Schwarz e sua orquestra de Seattle fazem uma boa versão de Sheherazade: voluptuosa, exótica, pulsante e também muito emocionante. Você pode dizer que será uma bela performance desde o primeiro compasso: firme e forte, com os metais dando ao tema um rosnado ameaçador, seguido pelo lindo solo de violino de Maria Larionoff representando a própria protagonista. Apenas o final, embora rápido e preciso, carece daquele toque de cinematográfico, mas este é um ponto menor. Os dois movimentos internos, em particular, têm uma nitidez e um fluxo muito legais e um tanto incomuns. A suíte Tsar Saltan busca o espetacular – para o bem e para o mal. Seu movimento central, “The Tsarina in a Barrel at Sea”, é o melhor.
Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sheherazade / The Tale of Tsar Saltan (Suite) (Seattle Symph / Schwarz)
Scheherazade, Op. 35
1 I. The Sea And Sinbad’s Ship 10:46
2 II. The Kalender Prince 11:34
3 III. The Young Prince And The Young Princess 10:43
4 IV. Festival At Baghdad – The Sea 12:48
Tale Of Tsar Saltan Suite, Op. 57
5 I. The Tsar’s Farewell And Departure 4:41
6 II. The Tsarina In A Barrel At Sea 7:20
7 III. The Three Wonders 7:14
8 Flight Of The Bumblebee 1:31
Soloist: Maria Larionoff (violin)
Conductor: Gerard Schwarz
Orchestra: Seattle Symphony
O inesquecível Jascha Heifetz, que completaria hoje 121 anos, adorava jazz. Sua mansão em Beverly Hills recebia músicos de várias vertentes, que frequentemente mergulhavam em jam sessions, e os estudantes para os quais organizava animadas festas em Malibu testemunhavam o mestre improvisar, tanto ao violino quanto ao piano, sobre as canções populares que amava.
Descobrir que o jazz era o xodó de Heifetz me surpreendeu. Afinal, tiete incondicional do gigante desde que o conheci, acostumara-me com seu semblante estoico nas capas de discos, que nada mudava nos tantos filmes em que, para meu assombro, eu o via enfrentar e vencer, impávido, os trechos mais medonhos da literatura violinística. Foi só ao ler suas biografias e, principalmente, assistir aos documentários e aos preciosos registros de suas masterclasses que conheci seu senso de humor, seu rigor cordial para com os alunos e, não menos importante, constatei que ele era um músico extraordinário o bastante para convencer como mau músico, imitando à perfeição um jovem estudante em pânico durante uma prova:
Jascha também foi um contumaz viajante, legando-nos inúmeros mementos que são verdadeiras pérolas do humor involuntário, como essa sua foto duma visita ao México, em que seu tradicional olhar blasé parece nada impressionado com a indumentária local…
… e também um homem corajoso e cidadão muito grato ao país que o acolheu, percorrendo o front europeu a tocar voluntariamente para as tropas aliadas, além de arrecadar, com concertos beneficentes, vultosos valores para os esforços de guerra.
Perenemente acusado por um ou outro crítico de ser um tecnicista frio, indiferente às intenções do compositor, Heifetz é uma deidade de devoção unânime entre seus colegas: dir-se-ia um “violinista dos violinistas”. Ainda assim, mesmo que todos sonhem em tocar como ele, nem tantos acham que devam. Jascha cresceu imbuído das tradições da Velha Escola russa no Conservatório de São Petersburgo, onde foi discípulo de Leopold Auer – aquele mesmo com quem Tchaikovsky se estranhou por conta de seu concerto para violino. Seria inevitável, pois, que seu estilo, moldado por gente do século XIX, pareça-nos um tanto antiquado, a despeito da tanta beleza que tange. Além disso, suas gravações das peças fundamentais do repertório concertístico, normalmente despachadas em velocidade lúbrica, são referências incontestes que poucos violinistas de hoje tentariam imitar: mesmo o próprio ídolo de Heifetz, Fritz Kreisler, após escutar o prodígio de onze anos de idade, afirmou que todos os violinistas presentes no recinto poderiam quebrar seus instrumentos nos joelhos.
Em minha desimportante opinião, será através das pequenas peças que a grandeza de Heifetz rebrilhará aos ouvidos dos séculos vindouros. Esta compilação que ora lhes apresento, com algumas dúzias delas, inclui vários de seus números de bis mais famosos, algumas canções folclóricas e várias composições de George Gershwin, que Jascha muito admirava. Os arranjos, como verão, são quase todos de sua própria lavra e, se privilegiam o timbre inconfundível do mestre e a elegância de seu fraseado, também lhe dão amplas oportunidades para demonstrar seu deleite em tocar, como mais célebre rebento da Velha Escola russa, a música do Novo Mundo em que escolheu viver.
Uma atração em especial para nós, brasileiros, é escutar “Ao Pé da Fogueira”, um dos prelúdios do genial Flausino Valle, aqui abordado por Heifetz numa masterclass.
A grande surpresa, talvez, esteja na última faixa do álbum. Depois de alguns açucarados bombons em que acompanha o cantor Bing Crosby, Heifetz dá-nos a rara oportunidade de escutá-lo ao piano (!), instrumento em que era, por todos os relatos, muito proficiente. Ele toca “When You Make Love to Me (Don’t Make Believe)”, uma canção que fez sucesso na voz do próprio Crosby, frequentemente pareada com outra, “So Much in Love“. Ainda mais surpreendente é que o autor de ambas, um certo Jim Hoyl, só existia na capa das partituras, pois era tão só o pseudônimo que o próprio Jascha Heifetz (“J.H.”, captaram?) usava para publicar canções populares.
Que a imagem sisuda que dele tiverem liquide-se para sempre, e que a inigualável musicalidade do aniversariante consiga entretê-los tanto quanto espero.
Grato por tanto, Mestre!
In memoriam Iosif Ruvimovich Kheyfets, dito Jascha Heifetz (Vilnius, 2.2.1901 – Los Angeles, 10.12.1987)
Jascha Heifetz – It Ain’t Necessarily So: Legendary Classic & Jazz Studio Takes
DISCO 1
Samuel GARDNER (1891-1984)
1 – From The Canebrake, Op. 5 no. 1
Arthur Leslie BENJAMIN (1893-1960)
2 – Jamaican Rumba (arranjo de William Primrose)
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
4 – Pièce en Forme de Habanera (arranjo de Georges Catherine)
Clarence CAMERON White (1880-1960)
5 – Levee Dance, Op. 27 No. 2 (baseada em “Go Down, Moses”)
Mario CASTELNUOVO-TEDESCO (1895-1968)
6 – Figaro, Rapsódia de Concerto sobre “Il Barbiere di Siviglia”, de Rossini
Stephen Collins FOSTER (1826-1864)
7 – Jeanie With The Light Brown Hair (arranjo de Heifetz)
Victor August HERBERT (1859-1924)
8 – À la Valse
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
9 – Humoresques, Op. 101 – No. 1 em Sol bemol maior (arranjo de Heifetz)
Folclore irlandês
10 – Gweedore Brae (arranjo de John Crowther)
Stephen FOSTER 11 – Old Folks at Home (arranjo de Heifetz)
Anônimo
12 – Deep River (arranjo de Heifetz)
Leopold GODOWSKY (1870-1938)
13 – Doze Impressões para violino e piano: no. 12, Wienerissh (arranjo de Heifetz)
Jascha Heifetz, violino Milton Kaye, piano
Irving BERLIN (1888-1989)
14 – White Christmas
Jascha Heifetz, violino Salvator Camarata and his Orchestra
George GERSHWIN (1898-1937)
Da ópera “Porgy and Bess” (arranjos de Heifetz)
15 – Summertime
16 – A Woman is a Sometime Thing
17 – My Man’s Gone Now
18 – It Ain’t Necessarily So
19 – Tempo Di Blues (There’s a Boat That’s Leaving Soon for New York)
20 – Bess, You is my Woman Now
Três prelúdios para piano solo (arranjos de Heifetz)
21 – I. Allegro ben ritmato e deciso
22 – II. Andante con moto e poco rubato
23 – III. Allegro ben ritmato e deciso
Jascha Heifetz, violino Emanuel Bay, piano
DISCO 2
Susan Hart DYER (1880-1922)
1 – An Outlandish Suite, para violino e piano: Florida Night Song
Claude DEBUSSY
2 – Children’s Corner L. 115 – 6. Golliwogg’s Cakewalk (arranjo de Heifetz)
3 – Suite Bergamasque L. 75 – 3. Clair de Lune (arranjo de Alexandre Roelens)
Flausino Rodrigues do VALLE (1894-1954)
4 – Vinte e seis prelúdios característicos e concertantes para violino só – no. 15, “Ao Pé da Fogueira” (arranjo de Heifetz)
Julián Antonio Tomás AGUIRRE (1868-1924)
5 – Huella, Op. 49 (arranjo de Heifetz)
Dmitri Dmitrievich SHOSTAKOVICH (1906-1975)
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 34 (arranjo de Dmitri Tziganov e Quinto Maganini)
6 – No. 10 em Dó sustenido menor
7 – No. 15 em Ré bemol maior
Edwin GRASSE (1884-1954)
8 – Waves At Play (Wellenspiel) (arranjo de Heifetz)
Sergei Sergeieivich PROFOKIEV (1891-1953)
9 – O Amor das Três Laranjas, Op. 33 – Marcha (arranjo de Heifetz)
10 – Suíte do balé “Romeu e Julieta”, para piano, Op. 75 – Máscaras (arranjo de Heifetz)
Robert Russell BENNETT (1894-1981)
Hexapoda (five studies in Jitteroptera), para violino e piano
11 – Gut-Bucket Gus
12 – Jane Shakes Her Hair
13 – Betty and Harold Close Their Eyes
14 – Jim Jives
15 – …Till Dawn Sunday
Kurt Julian WEILL (1900-1950)
16 – Die Dreigroschenoper – Mack The Knife (Moderato assai) (arranjo de Stefan Frenkel)
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
17 – Souvenir d’un Lieu Cher, para violino e piano, Op. 42 – no. 3: Mélodie em Mi bemol maior
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
18 – Noturnos para piano, Op. 55 – no. 2 em Mi bemol maior (arranjo de Heifetz)
Christoph Willibald von GLUCK (1717-1784)
19 – Orfeo ed Euridice – Dança dos Espíritos Abençoados (arranjo de Fritz Kreisler)
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
20 – Waldszenen, Op. 82 – no. 7: Vogel als Prophet (arranjo de Heifetz)
Nikolai Andreievich RIMSKY KORSAKOV (1844-1908)
21 – O Galo de Ouro – Hino ao Sol (arranjo de Kreisler)
Alexander Abramovich KREIN (1883-1951)
22 – Dança no. 4 (arranjo de Heifetz)
Johannes BRAHMS (1833-1897)
23 – Danças Húngaras – no. 7 em Lá maior (arranjo de Joseph Joachim)
Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
24 – Le Carnaval Des Animaux – Le Cygne (arranjo de Heifetz)
Querem mais Heifetz? Confiram-no em ação, então, na sua imbatível gravação do concerto de Sibelius (juntamente com o de Glazunov e o segundo de Prokofiev)…
Ainnn, o PQP Bach começou com Arensky e Rimsky-Korsakov? Quá, quá, quá.
Já li/ouvi várias pessoas nos ridicularizando por este fato. E que depois ficam caladas pela qualidade da música deste primeiro, basilar e primordial CD. Então, já sabem que nesta data — que secundariamente também é a da Proclamação da República — comemoramos os 15 anos da criação desta semente de beleza e acesso à música. E iniciamos a festa reeditando o primeiro CD.
O Quinteto de Rimsky-Korsakov é uma esplêndida peça de câmara e o digno romantismo de Arensky não lhe fica nada a dever. Depois de ter completado o Sexteto de Cordas, R-K escreveu um Quinteto para Piano e Sopros para a mesma competição — um concurso organizado pela Sociedade Musical Russa em 1876. O Quinteto tem três movimentos. O primeiro movimento, Allegro con brio, no estilo clássico de Beethoven. O segundo, um Andante, contém uma boa fuga para os instrumentos de sopro com um acompanhamento muito livre do piano. O finale, Allegretto vivace, é um rondó. No concurso, o Quinteto foi descartado sem comentários…
Arensky compôs seu Trio para Piano Nº 1, Op. 32, como um memorial para seu amigo (e de Tchaikovsky), o violoncelista Karl Davidoff, que havia sido diretor do Conservatório de São Petersburgo quando Arensky era estudante. Davidoff é considerado o fundador da escola russa de tocar violoncelo, o que explica o fato de o violoncelo desempenhar um papel proeminente no Trio. O Trio não tem momentos fracos, é uma obra-prima de cabo a rabo.
Em suas Memórias, Rimsky-Korsakov foi particularmente cruel com seu aluno Anton Arensky. Ele o acusou de ter sido alcoólatra e jogador, e que sua morte por tuberculose foi o resultado final e justo. “Ele logo será esquecido”, escreveu. Como professor, Rimsky-Korsakov não tinha nada além de elogios a Arensky, e ele até o contratou para trabalhar em vários projetos de orquestração de suas próprias obras. Então, o que realmente aconteceu para justificar essa reviravolta completa? Arensky foi jogado no caldeirão em razão do impasse entre expressão artística cosmopolita e nacionalista. Arensky se recusou a aderir explicitamente ao caminho fortemente nacionalista defendido por Rimsky-Korsakov…
Igor Stravinsky, que também foi aluno de Rimsky-Korsakov, considerou a crítica a Arensky “injustificadamente dura e cruel”. Ele escreve: “Rimsky-Korsakov criticou a música de Arensky de maneira totalmente violenta e desnecessária. O comentário de que ele seria logo seria esquecido foi muito grave e cruel… Eu acho que ele queria não apenas atingir Arensky como também Tchaikovsky”. Sem dúvida, o estreito vínculo entre Arensky e Tchaikovsky não agradava à turma de Rimsky-Korsakov — Mily Balakirev, Aleksandr Borodin, César Cui e Modest Mussorgsky. Tchaikovsky foi, sem dúvida, a maior influência nas composições musicais de Arensky.
Anton Arensky (1861-1906): Trio Op. 32 / Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): Quinteto para Piano, Flauta, Clarinete, Trompa e Fagote (Nash)
Trio In D Minor, Op 32
Composed By – Anton Stepanovich Arensky
1 1st Movement – Allegro Moderato 12:16
2 2nd Movement – Scherzo – Allegro Molto – Meno Mosso 6:01
3 3rd Movement – Adagio 7:17
4 4th Movement – Allegro Non Troppo 5:57
Quintet For Flute, Clarinet, Horn, Bassoon & Pianoforte
Composed By – Nikolai Rimsky-Korsakov
5 1st Movement – Allegro Con Brio 10:40
6 2nd Movement – Andante – Fughetta 10:17
7 3rd Movement – Rondo – Allegretto 8:54
Um disco quase todo russo! Rimsky-Korsakov faz as honras da composição contribuindo com três obras largamente conhecidas: o Capricho Espanhol, a Abertura ‘A Grande Páscoa Russa’ e a suíte orquestral ‘Scheherazade’. O regente também é russo – Vasily Petrenko. Bom, pelo menos nascido, que agora o cara anda lá pela Inglaterra e outras paragens também. Tem sido diretor da orquestra da gravação, a Oslo Philharmonic Orchestra, até este difícil ano de 2020. A orquestra não é russa, é norueguesa, mas tornou-se uma das melhores do mundo pelas mãos do grande Mariss Jansons. Assim, é norueguesa, mas sabe falar russo também.
Prepare-se para um disco com sonoridades exóticas e maravilhosas, que Rimsky-Korsakov era o cara da orquestração. Fez escola e entre seus alunos mais ilustres ninguém menos do que Igor Stravinsky. Rimsky-Korsakov dedicou seis anos de sua vida à Marinha Russa, como cadete naval. Três destes anos passou viajando e visitando os portos do mundo afora. Mas já sabia que dedicar-se-ia à música. Assim, depois disto, retornou à Mãe-Rússia para não sair mais.
Eu adoro estas peças, especialmente o Capricho e a Abertura. Esta última está entre uma das primeiras peças musicais que ouvi. Vejam o disco aí, numa foto gentilmente cedida pelo nosso colaborador Ammiratore. Grazie mille, commendatore!!
Portanto, aproveitem para mergulhar neste mundo de contos de fadas, de encantamentos sonoros, com lindos solos de violino, belíssimas melodias. Este disco é para quem gosta de música e não tem vergonha de ser feliz!!
Nikolay Rimsky-Korsakov (1844 – 1908)
Capricho Espanhol
Alborada
Variazioni
Alborada
Scena e canto gitano. Allegretto & Fandango asturiano
Vejam como são lisonjeiras as palavras desta crítica sobre o álbum da postagem: ‘The playing from the Oslo Philharmonic is flawless. All the solos are played with sophisticated levels of expression; phrasing throughout is architectural, but not predictable. String tones are varied and percussion timbres are nicely chosen, adding something distinctive to Petrenko’s vision‘.
Desde a primeira vez em que escutei os Concertos de Brandenburg de Bach, chamou-me a atenção aquele violininho serelepe e pungente a buscar espaço com valentia em meio aos tantos sopros do Concerto no. 1:
Nunca mais ouvi falar do tal violino piccolo, de tamanho a um violino 3/4 para jovens, com algumas diferenças de construção e que soa uma terça acima dos violinos convencionais, até encontrar alguns vídeos do ucraniano Grigoriy Sedukh tocando o que chamava de piccolo em peças convencionais do repertório violinístico.
Sem ler muito as letras miúdas, comprei seu CD (lançado pelo pitorescamente batizado selo “The Catgut Acoustic Society Co.”) para só depois descobrir – mais surpreso, talvez, que decepcionado – aquela história do gato comprado por lebre.
Pois aqui Sedukh não toca exatamente o instrumento de que Bach lançara mão, mas sim num chamado “violino sopranino”, que soa uma oitava acima do violino convencional e que tem, guardadas as proporções, as mesmas proporções deste. A gravação inclui somente uma faixa com um instrumento semelhante ao piccolo barroco, o “Adagio” de Grazioli, executado num violino dito “soprano” (uma quarta acima do convencional, mais ou menos como o piccolo), além de uma peça num “mezzo” (afinado exatamente como o convencional).
O repertório é um balaio de gatos que, obviamente, não tem razão outra de ser que não a de exibir as qualidades dos instrumentos e do intérprete. Eu acho estranho abrir uma gravação com a Polonaise de Bach, que é uma obra que parece já começar no meio, mas depois as coisas melhoram bastante. Sedukh é bom violinista e, neste pequeníssimo nicho musical, mostra-nos um bom cartão de visitas.
GRIGORYI SEDUKH – VIOLIN SOLOIST
Johann Sebastian BACH (1685-1750) Suíte Orquestral no. 2 em Si menor, BWV 1067
01 – Polonaise
02 – Badinerie
Giovanni Battista GRAZIOLI (1756-1820) 03 – Adagio*
Niccoló PAGANINI(1782-1840) 04 – Sonatina no. 1 para violino e violão
05 – Sonatina no. 3 para violino e violão
Joseph Joachim RAFF (1822-1882)
06 – Cavatina, Op. 85 no. 3
Piotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893) 07 – O Lago dos Cisnes, Op. 20 – Entrée et Adagio
08 – Álbum para a Infância, Op. 39 – no. 22: Canção da Cotovia
09 – O Lago dos Cisnes, Op. 20 – Adagio †
10 – O Lago dos Cisnes, Op. 20 – Dança Russa
Há histórias tão improváveis que são indeglutíveis.
E há a história de Muçaperê e Erundi, ou de Natalício e Antenor Lima, ou – como o mundo todo viria a conhecê-los – dos Índios Tabajaras.
ooOoo
Eles eram, de fato, indígenas, nascidos da nação Tabajara, na serra de Ibiapaba, perto da divisa entre o Ceará e o Piauí. Receberam seus nomes nativos porque eram o terceiro (“muçaperê”) e quarto (“erundi”) filhos de seu pai. Sua trajetória do sertão até o sucesso mundial é tão inacreditável que minha prosa não tem asas para contá-la: deixo o próprio Natalício fazê-lo, neste longo, fascinante depoimento.
Resumo da epopeia: um primeiro contato com militares (e com o violão) no sertão; um tenente os apadrinha, e adotam “nomes de branco”; a fome move a família para o Rio de Janeiro, a pé e em pau-de-arara, ao longo de três anos, durante os quais se familiarizam com a viola brasileira e o violão; primeiras aparições no rádio e em teatros da Capital Federal e em São Paulo, anunciados como “bugres que sabem tocar”; sem serem levados muito a sério, fazem suas primeiras gravações; saem em turnê pela América Latina; chegam ao México, onde são apresentados por Ricardo Montalbán como “analfabetos musicais”; o constrangimento leva-os a terem aulas de música em Caracas e Buenos Aires; excursão pelos Estados Unidos, onde gravam várias músicas do repertório easy listening, incluindo o fox “Maria Elena”; retorno desiludido ao Brasil e busca de uma nova carreira; no meio-tempo, o compacto de “Maria Elena” transforma-se num imenso sucesso retardado, com mais de um milhão de vendas; os irmãos são catapultados de volta aos Estados Unidos, onde, entre idas e vindas, se radicam e vivem até suas mortes.
A acreditar em tudo o que se conta deles, temos a mais fantástica trajetória artística que ainda não virou livro ou filme. Mas não é ela, claro, que nos interessa, pois isso aqui, afinal de contas, é o PQP Bach e quem me lê não quer saber de histórias fabulosas: quer música, e muita, e da muito boa.
Surge, pois, a minha deixa para apresentar-lhes esta gravação.
Se a maior parte do repertório da dupla consistiu em músicas melosas, feitas para pagar as contas e destinadas invariavelmente aos almoços de família e às salas de espera de consultórios de dentista, os largamente autodidatas Muçaperê e Erundi eram entusiastas da música clássica europeia e, sempre que podiam, incluíam suas peças em seus recitais. Em muitos deles, tocavam música de elevador vestidos em trajes, ahn, “indígenas” (daqueles para inglês ver) para, depois do intervalo e de smoking, tocarem as transcrições de obras de concerto habilmente feitas por Muçaperê.
Este álbum, Casually Classic, inclui algumas delas, com solos de Muçaperê, e acompanhamentos de Erundi.
Talvez alguns torçam o nariz para a transcrição de Recuerdos de la Alhambra para dois violões, em vez da difícil superposição entre melodia em tremolo e acompanhamento em arpejos com o polegar da versão solo. Eu a acho esplêndida e muito mais evocativa que o original. Os excertos orquestrais são cheios de verve, e a fuga de Bach – uma estranha no ninho entre as seleções – é deliciosamente trigueira. O ponto alto, para mim, é a Fantasia-Improviso de Chopin, transcrita e interpretada de uma maneira tão linda que me é até mais convincente que o original pianístico.
Se a muitos será uma surpresa a revelação de que houve um grande duo de violonistas brasileiros antes dos irmãos Assad conquistarem o planeta, espero que ela, ao escutarem esta gravação, seja muito grata.
OS ÍNDIOS TABAJARAS – CASUALLY CLASSIC (1966)
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
01 – Valsa em Dó sustenido menor, Op. 64 no. 2
Pyotr IlyichTCHAIKOVSKY (1840-1893)
02 – O Quebra-Nozes, Op. 71: Valsa das Flores
Francisco de Asis TÁRREGA y Eixea (1852-1909)
03 – Recuerdos de la Alhambra
Nikolay AndreyevichRIMSKY-KORSAKOV (1844-1908)
04 – A Lenda do Czar Saltan – Ato III, Interlúdio: O Voo do Zangão
Fryderyk FranciszekCHOPIN
05 – Valsa em Ré bemol maior, Op. 64 no. 1
Johann SebastianBACH (1685-1750)
06 – O Cravo bem Temperado, livro I – Prelúdio e Fuga em Dó sustenido maior, BWV 848: Fuga
Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
07 – El Amor Brujo: Dança Ritual do Fogo
Fryderyk FranciszekCHOPIN
08 – Fantasia-Improviso em Dó sustenido menor, Op. 66
Muçaperê (Natalício Moreira Lima) e Erundi (Antenor Moreira Lima), violões Transcrições de Muçaperê
Um arrasa-quarteirão essa gravação da magnífica obra de Rimski-Korsákov, ‘Sheherazade’. Contando com o talento do então líder dos violinos da própria Filarmônica de Berlim, Michel Schwalbé, Karajan nos traz uma leitura altamente expressiva, explorando com maestria as nuances exóticas da obra. Tem uma orquestra quase perfeita em suas mãos, que não teme se expor. Foi este disco que me apresentou esta obra tão ímpar, tão impactante e tão emotiva. ainda lá pela década de 1970, quando tocava nas principais rádios especializadas em música clássica no Brasil. o locutor da rádio fazia questão de ressaltar os nome de Karajan, e Schwalbé, que eu considerava único. O violino de Schwalbé nos traz uma brilhante coleção de cores, tons e ritmos, muitas vezes temos vontade de sair dançando, graças à riqueza e beleza de suas melodias e harmonias.
Um grande registro, sem dúvida alguma. Espero que apreciem. Trata-se de um CD de curta duração, meros 35 minutos, mas vale cada minuto de sua audição.
01 Shéhérazade, op. 35- 1. Largo e maestoso – Allegro non troppo
02 Shéhérazade, op. 35- 2. Lento – Andantino – Allegro molto – Vivace scherzando
03 Shéhérazade, op. 35- 3. Andantino quasi allegretto. The Young Prince and the Young Princess
04 Shéhérazade, op. 35- 4. Allegro molto e frenetico – Vivo – Allegro non troppo e maestoso
Michel Schwalbé – Solo Violin
Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor
Este disco é um ultraje! TRANSCRIÇÕES – TRAIÇÕES? – TRADIÇÕES!!
É um disco para quem ama o som do piano, do grande, enorme instrumento que se tornou o piano.
Os principais personagens deste disco são Arcadi Volodos e Thomas Frost. O nome do primeiro está na capa e o do segundo, na contracapa.
Arcadi Volodos gravou este disco em 1996, o primeiro resultado de seu (exclusivo) contrato com a Sony Classical. Thomas Frost é um veterano produtor de discos que trabalhou com artistas como Horowitz, Eugene Ormandy, George Szell e Rudolf Serkin e produziu este disco.
Por que o disco é um ultraje? Ora, um disco que tem faixas como O Voo do Besouro e A Marcha Turca (de Mozart) tem uma grande chance de fazer torcer os narizes e de fazer franzir os cenhos de ouvintes mais puristas (digamos). Mas acreditem, esse disco vai além disso.
Transcrições soam como violações das sacrossantas vontades dos compositores e expressões hifenadas como Bach-Busoni, Bach-Siloti, Schubert-Liszt geram em certos setores grandes desconfianças. Mas as transcrições estão há muito enraizadas na cultura musical. Basta lembrar que Bach transcreveu música de Vivaldi, de Alessandro Marcelo, de Albinoni e até dele mesmo. Mozart arranjou umas fugas de Bach para trio de cordas, transcreveu sonatas de Johann Christian Bach para piano e orquestra. Mozart até reorquestrou o Messias de Handel.
Mas o que está mais próximo do que temos neste disco são as transcrições e arranjos feitos pelos virtuoses de piano e de violino para suas próprias apresentações. Liszt foi um precursor. Peças de Bach originalmente para órgão, Lieder de Schubert, óperas da época – tudo para piano. Inclusive as Sinfonias de Beethoven! Fritz Kreisler, compositor e violinista chegou a escrever música original, peças de encore, que atribuiu a outros compositores como se fossem transcrições, verdadeiros pastiches.
Assim, prepare-se para um programa repleto de excelente música, bastante diversificado, maravilhosamente executado e gravado! IM-PRE-NA-BLE! Um MUST!
A primeira peça, Carmen Variations, é um arranjo de Horowitz sobre o tema da ópera de Bizet. Conta o livreto que Volodos teve que tirar de ouvido a peça gravado em 1968 por Volodya.
Rachmaninov escreveu algumas canções e ele mesmo transcreveu duas delas para piano solo: Lilacs e Daisies. As faixas 2 e 3 são transcrições feitas para piano solo de outras duas canções de Rachmaninov – Utro (Manhã) e Melodiya (Melodia) – pelo próprio Volodos, tomando as transcrições já existentes como modelos. Rachmaninov, que além de compositor ganhava a vida como pianista, fez várias transcrições. Dia destes postaremos um lindo disco com algumas delas.
Nas faixas de 5 a 7 temos três transcrições feitas por Liszt de canções de Schubert: Litanei, Aufenthalt e Liebesbotschaft. O desafio é tocar não só o acompanhamento da canção original para piano, mas também a parte do cantor.
Chegamos na faixa 8, talvez a peça mais transcrita de todas: The Flight of the Bumblebee – O Vôo do Besouro. A peça original escrita por Rimsky-Korsakoff para orquestra (o cara era um bamba em orquestração, foi professor de Stravinsky…) teve versões para piano e violino, guitarra, flauta e acho que até para ukulele. A transcrição deste disco foi feita por um pianista húngaro, aluno de aluno de Liszt, que demanda maior investigação, George Cziffra.
As faixas 9, 10 e 11 são transcrições autênticas. Prokofiev arranjou para piano música de seus balés e de peças orquestrais. Fez muito sucesso dez dos números de Romeu e Julieta transcritas para piano e ele repetiu a dose com música do balé Cinderela. Aqui temos uma Gavota, uma Dança Oriental e uma Valsa. Qualquer dia destes, postaremos um lindo disco com essas peças do balé Romeu e Julieta.
Samuel Feinberg foi um grande virtuose de piano que viveu atrás da chamada Cortina de Ferro e temos poucas gravações suas. Mas podemos avaliar seu calibre pelas transcrições que deixou, por exemplo, das Sinfonias Nos. 4, 5 e 6 de Tchaikovsky. A faixa 12 deste disco traz o Scherzo, o terceiro movimento da Sinfonia No. 6, a Patética. A interpretação do Volodos faz justiça tanto a Tchaikovsky quanto a Feinberg. Esta faixa é a minha escolha de cereja do bolo!
A última faixa é mais uma transcrição de Volodos, agora da Marcha Turca, o último movimento da Sonata para piano No. 11, em lá maior, K. 331. A sonata é uma das mais bonitas de Mozart. O primeiro movimento é um lindíssimo tema com variações, o segundo movimento é um Menuetto. O terceiro movimento, no entanto, é irresistível, uma marcha turca. Viena tinha uma queda pela chamada música turca e O Rapto do Serralho vai nessa onda. Até Beethoven tem uma Marcha Turca. Bom, aqui temos para fechar o disco uma Marcha Turca de Mozart-Volodos. Faz sucesso. Já ouvi essa peça interpretada por outra virtuose do piano.
Piano Transcriptions
Georges Bizet (1838 – 1875) – Vladimir Horowitz (1903 – 1989)
Assim é o universo deste ótimo disco: exibição de virtuosismo que torna o piano em um emulador de outras combinações de instrumentos e vozes, até mesmo da orquestra. Aproveite!!
Sharon Bezaly é um dos grandes nomes da flauta na atualidade. É jovem (ou ao menos aparenta, já que nasceu em 1972), ou seja, tem muito a contribuir ainda, muito versátil, e encara com tranquilidade petardos como este Concerto de Nielsen que temos neste CD, e o de Kachaturian, que pretendo trazer amanhã, ou depois de amanhã. Destaque especial para o arranjo que Kalevi Aho fez em 2008 do “Vôo do Besouro” de Korsákov e lhe dedicou e que fecha este CD.
Aqui nesta gravação ela é acompanhada pelo experiente maestro Neeme Järvi, que conduz a Residentie Orkest den Haag.
P.S. O booklet com maiores informações está anexo ao arquivo compactado.
NIELSEN, Carl (1865–1931) Concerto for Flute and Orchestra, FS119 (1926)
I. Allegro moderato
II. Allegretto, un poco – Adagio ma non troppo – Allegretto – Poco Adagio – Tempo di Marcia
GRIFFES, Charles Tomlinson (1884–1920) Poem for Flute and Orchestra(1918)
Andantino
REINECKE, Carl (1824–1910) Concerto for Flute and Orchestra in D major Op.283 (1908)
I. Allegro molto moderato 7’02
II. Lento e mesto 4’44
III. Finale. Moderato 6’08
CHAMINADE, Cécile (1857–1944) Concertino for Flute and Orchestra (Enoch & Cie) Op.107 (1902)
Moderato
TCHAIKOVSKY, Pyotr Ilyich (1840–93) adapted by Ernest Sauter
Largo and Allegro for two flutes and strings (1863–64) Version for solo flute and strings (Verlag Walter Wollenweber)
POULENC, Francis (1899–1963) orch. Lennox Berkeley Flute Sonata (1956–57) (Chester Music) 11’27
I. Allegro malinconico 4’22
II. Cantilena. Assez lent 3’32
III. Presto giocoso 3’21
RIMSKY-KORSAKOV, Nikolai (1844–1908) arr. Kalevi Aho 2008 –dedicated to Sharon Bezaly The Flight of the Bumblebee (1899–1900) (Fennica Gehrman)
Presto
Sharon Bezaly flute
Residentie Orkest Den Haag
Neeme Järvi conductor
Aqui é outra história. Um excelente disco. Um supremo esforço de Glinka produziu um Sexteto bem aceitável e Rimsky-Korsakov — bem, o Quinteto tem luz própria — retorna gloriosamente a nosso blog. Este Quinteto para Piano e Sopros foi a música inaugural, a obra-prima que abriu este blog. Disco para baixar já! Então a gente usa de indulgência esperando o longo e até bom Glinka acabar e depois degusta o Korsakov, combinado?
Glinka: Grande Sexteto / Rimsky-Korsakov: Quinteto para Piano e Sopros
Glinka:
1. Gran sestetto originale, for piano & string quintet in E flat major, G. iv81: Allegro – Maestoso
2. Gran sestetto originale, for piano & string quintet in E flat major, G. iv81: Andante
3. Gran sestetto originale, for piano & string quintet in E flat major, G. iv81: Allegro con spirito
Rimsky-Korsakov:
4. Quintet, for flute, clarinet, horn, basson & piano in B flat major: Allegro con brio
5. Quintet, for flute, clarinet, horn, basson & piano in B flat major: Andante
6. Quintet, for flute, clarinet, horn, basson & piano in B flat major: Rondo (Allegretto)
Ainda dia destes pensava em postar alguma coisa de Rimsky-Korsákov que não fosse ‘Sherazade’ ou o ‘Capricho Espanhol’. Eis que fuçando meus HDs externos encontro esta bela caixa de três CDs, onde o incansável maestro Neeme Järvi nos traz diversas aberturas e suítes de óperas do russo, gravadas com a excelente Scottish National Orchestra. Opa, é isso aí, pensei. Vamos apresentar algo diferente, que seja inédito por aqui. Falar em inédito talvez seja exagero, mas creio que algumas destas peças sejam realmente inéditas por aqui.
Então vamos ao que viemos.
CD 1
01. May Night – Overture. Rimsky-Korsakov
02. The Snow Maiden- I – Beautiful Spring. Rimsky-Korsakov
03. The Snow Maiden- II – Dance of the Birds. Rimsky-Korsakov
04. The Snow Maiden- III – The Procession of Tsar Berendey. Rimsky-Korsakov
05. The Snow Maiden- IV – Dance of the Tumblers. Rimsky-Korsakov
06. Christmas Eve. Rimsky-Korsakov
CD 2
01. Mlada- I – Introduction. Rimsky-Korsakov
02. Mlada- II – Redowa- A Bohemian Dance. Rimsky-Korsakov
03. Mlada- III – Lithuanian Dance. Rimsky-Korsakov
04. Mlada- IV – Indian Dance. Rimsky-Korsakov
05. Mlada- V – Procession of the Nobles. Rimsky-Korsakov
06. The Invisible City of Kitezh- I – Prelude- A Hymn to Nature. Rimsky-Korsakov
07. The Invisible City of Kitezh- II – Wedding Procession. Rimsky-Korsakov
08. The Invisible City of Kitezh- III – Tartar invasion and Battle of Kerzhenets. Rimsky-Korsakov
09. The Invisible City of Kitezh- IV – Death of Fevroniya and apotheosis of the Invisible City. Rimsky-Korsakov
CD 3
01. The Golden Cockerel (Le Coq d’Or)- I – Introduction and Dodon’s sleep. Rimsky-Korsakov
02. The Golden Cockerel- II – King Dodon on the battlefield. Rimsky-Korsakov
03. The Golden Cockerel- III – Queen of Shemakha’s Dance; King Dodon’s Dance. Rimsky-Korsakov
04. The Golden Cockerel- IV – Wedding Feast; Death of King Dodon; Finale. Rimsky-Korsakov
05. The Tale of Tsar Saltan- I – Tsar’s departure and farewell. Rimsky-Korsakov
06. The Tale of Tsar Saltan- II – Tsarina adrift at sea in a barrel. Rimsky-Korsakov
07. The Tale of Tsar Saltan- III – The three wonders. Rimsky-Korsakov
08. The Flight of the Bumble Bee (from The Tale of Tsar Saltan). Rimsky-Korsakov
National Scottisch Orchestra
Neeme Järvi – Conductor
Obras sacras de Rachmaninoff, Rimsky-Korsakov, Soghomonyan, Gunnar Eriksson, Taneyev e Ketchakhmadze.
A delicadeza e as filigranas dos corais da Igreja Ortodoxa Russa, sustentadas por um baixo profundo, conforme acentuado pelo nosso ouvinte Vanderson, são de arrepiar a alma de qualquer um!!
не пропустите !!! …….
Palhinha 1: ouça 01. Allelulia, Behold the Bridegroom – from the Russian Easter Liturgy
Palhinha 2: ouça 06. Serenade
Sacred Treasures III – Choral Masterworks from Russia and Beyond
Anonymous (c. XVIII cent.) 01. Allelulia, Behold the Bridegroom – from the Russian Easter Liturgy
Soghomon Gevorgi Soghomonyan, commonly known as Komitas Vardapet, also Gomidas Vartabed or simply Komitas (Gomidas) (Kütahya, Ottoman Empire, 1869 – Paris, France, 1935) 02. Sourp Sourp (Holy Holy) – Divine Liturgy
Rachmaninoff, Sergei Vasilievich (Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943) 03. Liturgy of St John Chrysostom, for chorus, Op. 31 – Lord Have Mercy 04. Liturgy of St John Chrysostom, for chorus, Op. 31 – The Mercy of Peace (excerpts)
Gunnar Eriksson (after J.S. Bach) 05. Komm Susser Tod
Taneyev, Sergei Ivanovich (Rússia, 1856-1915) 06. Serenade
Rachmaninoff, Sergei Vasilievich (Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943) 07. Liturgy of St John Chrysostom, for chorus, Op. 31 – Grant Us This O Lord
Rimsky-Korsakov, Nikolai Andreyevich (Rússia, 1844-1908) 08. Our Father
Rachmaninoff, Sergei Vasilievich (Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943) 09. Gloria (excerpt) – All-Night Virgil (Vespers) 10. Peaceful Light (Kiev Chant) – All-Night Virgil (Vespers) 11. Praise the Lord O My Soul (Greek Chant) – All-Night Virgil (Vespers)
Anonymous 12. Blessed Art Thou O Lord (Kiev Chant) – Ancient tune from the Requiem Liturgy
Josef Ketchakhmadze (Georgia, 1939) 13. Chorale
Rachmaninoff, Sergei Vasilievich (Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943) 14. Liturgy of St John Chrysostom, for chorus, Op. 31 – Amen, Allelulia
Sacred Treasures III – Choral Masterworks from Russia and Beyond – 2000
The Erik Westberg Vocal Ensemble. Maestro Erik Westberg – faixa 5
Irina Arkhipova & USSR Ministry of Culture Chamber Choir. Maestro Valery Polyansky – faixa 11
Lege Artis Chamber Choir. Maestro Boris Abalian – faixa 6
The Russian State Symphony Cappella. Maestro Valery Polyansky – faixas 3, 4 e 7
St Petersburg Chamber Choir. Maestro Nikolai Korniev – faixas 1, 2, 8 e 13
State Symphony Cappella. Maestro Valery Polyansky – faixa 14
Trinity-Saint Sergius Lavra Choir. Maestro Archimandrite Matfei Mormyl – faixa 12
USSR Ministry of Culture Chamber Choir. Maestro Valery Polyansky – faixas 9 e 10
Geralmente posto aquilo que ouço. E desde que este CD me chegou às mãos eu não cesso de ouvi-lo. São obras bastantes conhecidas. Mas identifiquei nele três questões: (1) ele é “todo russo” – orquestra e regente; obras e compositores, (2) ele possui peças que ao meu modo de ver são sublimes como, por exemplo, Nas Estepes da Ásia Central de Borodin, O Capricho Espanhol de Korsakov e a Abertura da ópera Kovantchina de Mussorgsky e (3) todos são compositores russos a que muito admiro. Em suma: o conjunto é maravilhoso e deve ser essa unidade que me cativou. Não deixe de ouvir. Boa apreciação!
Mikhail Ivanovich Glinka (1804-1857) – Overture Ruslan and Ludmilla
01. Overture Ruslan and Ludmilla
Aleksandr Porfirevich Borodin (1833-1887) – Danças Polovtsianas da ópera Príncipe Igor – Ato 2
02. Danças Polovtsianas da ópera Príncipe Igor – Ato 2
Nas Estepes da Ásia Central
03. Nas Estepes da Ásia Central
A pianista inglesa Margaret Fingerhut apresenta um interessante repertório do Grupo dos Cinco nacionalistas russos. São eles Mily Balakirev, Cesar Cui, Alexander Borodin, Modest Mussorgsky e Nikolai Rimsky-Korsakov. Sua música, tão russa, aqui nos chega com um sotaque perfeitamente britânico. É um bom disco para se conhecer história da música, pois o nacionalismo musical fez muita coisa boa antes e depois da virada do século XIX para o XX. Mas Fingerhut tenta transformar esses russos crassos em algo próximo de Beethoven e aí não funciona tão bem quanto deveria. Mas vale muito a audição. Eu curti.
Balakarev / Borodin / Cui / Mussorgsky / Rimsky-Korsakov: Música Russa para Piano
Balakirev
01 Toccata in C sharp minor
02 In the Garden
03 Polka in F sharp minor Mussorgsky
04 A Teardrop
05 A Children’s Prank
06 In the Village
07 Nanny and I
08 First Punishment Cui
09 No 9 in E major
10 No 10 in G sharp minor
11 No 2 in E minor
12 No 8 in C sharp minor Rimsky-Korsakov
13 Sherzino Op 11 No 3
14 A Little Song
15 Novellette Op 11 No 2 Borodin
16 In the Monastery
17 Scherzo in A flat major
18 Nocturne
Em meados do século XX, este tipo de música era considerada “ligeira”, algo para concertos ao ar livre, para o grande público tomar seu primeiro contato com os clássicos. Hoje parece apenas música erudita em disco de gatinhos. O que houve conosco?
Em 1881, Henry Lee Higginson, o fundador da Orquestra Sinfônica de Boston, escreveu sobre seu desejo de apresentar em Boston “concertos de um tipo leve de música”. Então a Boston Pops foi fundada para apresentar este tipo de música ao público, com o primeiro concerto realizado em 1885. Chamado de “Concerto de Passeio” eles duraram até 1900, eram performances de música clássica “leve”.
A Orquestra não tinha um maestro próprio até o ano de 1930, quando Arthur Fiedler começou seu mandato. Fiedler trouxe aclamação mundial à orquestra. Ele sempre foi infeliz com a reputação de que a música erudita era para a elite aristocrática, e sempre fez esforços para levar os eruditos a um público vasto. Sempre promoveu concertos gratuitos em Boston, assim aos poucos foi popularizando a música clássica na região.
Sob sua direção a orquestra fez inúmeras gravações campeãs de vendas, arrecadando um total superior a US$ 50 milhões. As primeiras gravações da orquestra foram feitas em julho de 1935 para a RCA Victor, incluindo a primeira gravação completa da Rhapsody in Blue de Gershwin.
Fiedler também é lembrado por ter começado a tradição anual da orquestra se apresentar no 4 de julho (Independência dos Estados Unidos) na praça da Esplanada, uma das celebrações mais aclamadas, que contava com um público entre 200 e 500 mil pessoas.
Após a morde de Fiedler, em 1979, John Williams tomou o cargo, em 1980. Williams continuou com a tradição de levar a música clássica ao público mais vasto. Ele ficou no cargo até 1994, quando passou para Keith Lockhart em 1995. Lockhart segua à frente da Pops, acrescentando um toque de extravagância e um dom para o drama. Williams continua sendo maestro laureado e realiza uma semana de concertos por ano.
Rimsky-Korsakov (1844-1908) – Suíte de O Galo de Ouro – Le Coq’or – Suíte, Rossini (1792-1868) – William Tell Overture, Tchaikovsky (1840-1893) – Marcha Eslava, Chabrier (1841-1894) – España e Franz Liszt (1811-1886) – Rapsódia Húngara No. 2 e Rakoczy March
Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908) – Suíte de O Galo de Ouro – Le Coq’or – Suíte
01. King Dodom in his Palace
02. King Dodom on the Battlefield
03. King Dodom with the Queen of Shemakha
04. March
Gioachino Rossini (1792-1868) – William Tell Overture
05. William Tell Overture
Piotr I. Tchaikovsky (1840-1893) – Marcha Eslava
06. Marcha Eslava
Emmanuel Chabrier (1841-1894) – España
07. España
Franz Liszt (1811-1886) – Rapsódia Húngara No. 2 e
08. Rapsódia Húngara No. 2
Em março de 2009, um crítico da grande, excelente e normalmente irônica e contida revista londrina Gramophone parece ter enlouquecido:
… quando ouço Anna Netrebko cantar, viver , eu não quero que ela pare… Lembro-me das ovações arrebatadoras , quando as pessoas estavam realmente enlouquecendo pelo som de uma voz. Esse é o tipo de voz Netrebko tem… Ela também é um animal do palco… Ela é alimentada por puro talento e instinto… Eu prefiro Netrebko acima de qualquer outra pessoa, a qualquer hora.
Bem, OK, não preciso dizer mais nada. Ou talvez deva reforçar que a dupla Netrebko e Barenboim é mesmo espetacular?
Rimsky-Korsakov / Tchaikovsky / Dvorák / Richard Strauss: In the still of night (Canções Russas)
Nicolai Rimsky-Korsakov (1844 – 1908)
Four Songs, Op.40
1) No.3 O chem v tishi nochey [2:28]
Four Songs, Op.27
2) No.4 Prosti! Ne pomni dney naden’ya [1:29]
Vesnoy, Op.43
3) No.2 Ne veter, veya s vïsotï [2:14]
4 No.1 Zvonche zhavoronka pen’ye [1:16]
Four Songs, Op.3
5) No.4 Na kholmakh Gruzii [2:31]
Six Songs, Op.8
6) No.5 V tsarstvo rozï i vina [2:46]
Four Songs, Op.6
7) No.4 Pesnya Zyuleyki [1:56]
Four Songs, Op.2
8) No.2 Plenivshis’ rozoy, solovey [3:09]
Four Songs, Op.42
9) No.3 Redeyet obklakov letuchaya gryada [3:26]
Two Songs, Op.56
10) No.1 Nimfa [3:25]
11) No.2 Son v letnyuyu noch’ [5:25]
Peter Ilyich Tchaikovsky (1840 – 1893)
Shest’ romansov (Six Romances), Op.57
12) No.1 Skazhi, o chom v teni vetvey [3:44]
13) Zabït tak skoro (1870) [2:56]
Dvenadtsat’ romansov (Twelve Romances), Op.60
14) No.6 Nochy bezumnïye [2:52]
Shest’ romansov (Six Romances), Op.6
15) No.5 Otchevo? [3:09]
Shest’ romansov (Six Romances), Op.63
16) No.6 Serenada [3:42]
Shest’ romansov (Six Romances), Op.16
17) No.1 Kolïbel’naya pesnaya [4:26]
Sem’ romansov (Seven Romances), Op.47
18) No.7 Ya li v pole da ne travushka bïla [6:05]
Shest’ romansov (Six Romances), Op. 73
19) No.5 Sred mrachnïkh dnei [1:51]
Sem’ romansov (Seven Romances), Op.47
20) No.6 Den li tsarit? [3:49]
Antonín Dvorák (1841 – 1904)
Ciganské melodie (Gypsy Melodies), Op.55
21) 4. Als die alte Mutter [3:46]
Richard Strauss (1864 – 1949)
Vier Lieder, Op.27
22) 2. Cäcilie [2:31]
A obra prima ‘Sheherazade’ do compositor russo Rimsky-Korsakov nas mãos de Ansermet torna-se algo ainda mais espetacular. Desde os primeiros acordes já entendemos o que virá pela frente. Confesso que minha versão favorita é a que Herr Karajan gravou nos anos 60, ou 70, não tenho certeza, mas esta aqui não fica atrás. Não é tão espetaculosa quanto a do Kaiser, mas Ansermet soube destacar as nuances e detalhes da obra com a maestria de sempre.
O CD se completa com a Sinfônica Nº 2 ‘Antar’. Em poucas palavras, um CD para se ouvir à exaustão, para ser apreciado sem moderação.
Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sheherazade, Antar (Ansermet)
1 Scheherazade, Op.35 – The Sea and Sinbad’s Ship 10:11
2 Scheherazade, Op.35 – The Story of the Calender Prince 11:15
3 Scheherazade, Op.35 – The Young Prince and the Young Princess 9:39
4 Scheherazade, Op.35 – Festival at Bagdad – The Sea – The Shipwreck against a rock surmounted by a bronze warrior (The Shipwreck) 12:27
5 Symphony No.2, Op.9 “Antar” – 1. Largo – Allegro giocoso – Adagio – Largo – (Tempo I) – Allegretto Vivace – Largo (Tempo I) 11:55
6 Symphony No.2, Op.9 “Antar” – 2. Allegro – Molto allegro – Meno mosso, allargando – Allegro (Tempo I) 5:11
7 Symphony No.2, Op.9 “Antar” – 3. Allegro risoluto alla marcia 5:42
8 Symphony No.2, Op.9 “Antar” – 4. Allegretto vivace – Andante amoroso – Animato assai – Tempo I 8:29
L´Orchestre de La Suisse Romande
Ernest Ansermet – Conductor
Mussorgsky foi militar, Korsakov também. Os milicos do PQP Bach são melhores que os milicos dos outros, claro. Eu gosto de Sherazade, gosto mais ainda de A Grande Páscoa Russa e a gravação deste Temirkanov é uma joia indiscutível. Complicado arranjar um registro mais perfeito e compreensivo destas obras que não podem faltar em nenhuma discoteca básica. Excelente performance e alta temperatura emocional. Temo que seja…
IM-PER-DÍ-VEL !!!
Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sherazade e A Grande Páscoa Russa
1. Scheherazade, Op. 35: The Sea and Sinbad’s Ship 11:06
2. Scheherazade, Op. 35: The Story of the Kalender Prince 13:10
3. Scheherazade, Op. 35: The Young Prince and the Young Princess 11:10
4. Scheherazade, Op. 35: Festival in Bagdad 12:26
Glenn Dicterow, violin
Pois é. Gostei mais das interpretações deste Kitajenko, nascido em Leningrado, para obras de Rimsky-Korsakov, do que das de Karajan recém postadas. Bergen, Berlin; Berlim, Bergen. Bergen é humilde perto de Berlim — a qual pulsa cultura por todos os seus poros (pulsa pelos poros, francamente…). Segunda maior cidade da Noruega, Bergen abriga 250 mil almas congeladas. É uma belíssima cidade litorânea e deve ter inspirado a luminosa gravação da Grande Páscoa Russa, obra da absoluta preferência deste que vos escreve. O Concerto para Piano em um movimento também é bastante bom. Um disco bem legal com peças raramente gravadas.
Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sinfonia Nº 3 / Concerto para piano, Op. 30 / Abertura ‘A Grande Páscoa Russa’
1. Russian Easter Overture: Lento Mistico – Andante Lugubre, Sempre Alla Breve
2. Sadko, Op.5: Moderato Assai – Allegro Molto – Allegretto – Poco Piu Vivo – Moderato Assai
3. Piano Concerto in C Sharp Minor, Op.30: Moderato – Allegretto Quasi Polacca – Andante Mosso – Allegro
Sinfonia Nº 3
4. I. Moderato Assai – Allegro
5. II. Scherzo. Vivo – Trio. Moderato
6. III. Andante
7. IV. Allegro Con Spirito
Geoffrey Tozer, piano
Bergen Philharmonic Orchestra
Dmitri Kitajenko
Eu gosto muito de Sherazade, a princesa que precisava divertir para não morrer, mas não apenas pelas 1001 noites, também pela música de Rimsky-Korsakov. O russo era um grande compositor e arranjador. E von Karajan faz-lhe justiça. Talvez alguns achem os andamentos um pouco arrastados — eu mesmo acho — , mas é indiscutível a qualidade e a grandiosidade da regência. E os solos de violino são belíssimos! Ele e sua modesta Filarmônica também vão bem no Capricho Italiano, cujo final parece ter uma mola que nos obriga a aplaudi-lo mesmo sozinho em casa.
Já na Abertura 1812, von Karajan parece ter enlouquecido. Tudo parece cortado a machado. É muito ruim. Gostei de ouvir a introdução coral aqui utilizada, mas o resto está fora do espírito da música. Os sons de canhão fizeram minha família rir no carro. Não sei que merda ele usou no lugar de canhões de verdade. Ouça por Sherazade e pelos italianos. E ria com 1812.
Rimsky-Korsakov (1844-1908): Sherazade /
Tchaikovsky (1840-1893): Capricho Italiano e Abertura 1812
1. Scheherazade, Op.35 – 1. Largo e maestoso 10:02
2. Scheherazade, Op.35 – 2. Lento 12:50
3. Scheherazade, Op.35 – 3. Andantino quasi allegretto 10:40
4. Scheherazade, Op.35 – 4. Allegro molto 12:55
5. Capriccio italien, Op.45 – Andante un poco rubato 16:59
Editor`s Choice da Gramophone, bom regente, excelente orquestra, Taneyev e Rimsky-Korsakov fazem um CD que não poderia ser mais russo. Bom disco, de música séria e consistente. Como Taneyev é o mais desconhecido — ah, mais um compositor inédito no blog! — , copio aqui uma nota biográfica do moço retirada daqui:
Começando a estudar piano aos cinco anos de idade, Sergei Taneyev foi um dos primeiros músicos da sua geração a ingressar no recém criado Conservatório de Moscovo. Nesta instituição, foi aluno de Nikolai Hubert (teoria e contraponto), Eduard Langer e Nikolai Rubinstein (piano) e também daquele que seria seu amigo pessoal e grande mentor no domínio da composição, Piotr Ilitch Tchaikovsky. Em janeiro de 1875, Taneyev estreou-se como pianista, tocando o Concerto em Ré menor de Brahms, em Moscovo. A 3 de Dezembro do mesmo ano, tocou a parte do solista na estreia moscovita do Concerto para Piano Nº 1 de Tchaikovsky, vindo a apresentar subsequentemente todas as obras para piano e orquestra do compositor russo. Em 1878 sucedeu a Tchaikovsky como professor de harmonia e orquestração e em 1881 assumiu a direcção das classes de piano de Rubinstein, após a morte deste. Em 1883 sucedeu a Hubert como professor de composição, vindo igualmente a dirigir a instituição entre 1885 e 1889. Ao longo da sua actividade docente, que se estendeu até 1909, Taneyev foi responsável pela formação de alguns dos mais importantes expoentes da futura escola russa, como Scriabine, Rachmaninov e Liapounov. O interesse de Taneyev pelo contraponto vocal, cujas origens estudou intensivamente, reflectiu–se na publicação de uma obra fundamental da teoria musical russa deste período: o Contraponto invertível de estilo rigoroso(Leipzig e Moscovo, 1909).
Taneyev foi um pianista de primeiro plano, mas a sua situação como compositor é paradoxal; é uma das figuras mais respeitada da história da música russa, mas as suas obras são raramente interpretadas fora do seu país natal. Como compositor, deixou uma obra vasta que engloba a música sinfónica e de câmara, a música para piano, a canção para voz e piano e uma ópera, mas o fulcro da sua actividade criativa foi, sem dúvida, a música coral, domínio em que produziu, para além de uma enorme quantidade de peças para vozes a cappella, diversas cantatas com acompanhamento orquestral, das quais as mais importantes são a Cantata op.1, São João Damasceno, para coro e orquestra, e a monumental Cantata op.36, Após a leitura de um Salmo.
Sergei Taneyev: Suíte de Concerto e Nikolai Rimsky-Korsakov: Fantasia sobre temas russos
Rimsky-Korsakov – Fantasy on Russian Themes, Op. 33
1. Allegro moderato – Tranquillo
2. Lento
3. Allegro animato
Taneyev – Suite de Concert, Op. 28
4. I. Prelude. Grave
5. II. Gavotte. Allegro moderato
6. III. Fairy-tale. Andantino
7. IV. Theme with variations: Theme. Andantino
8. IV. Theme with variations: Variation 1. Allegro moderato
9. IV. Theme with variations: Variation 2. Allegro energico
10. IV. Theme with variations: Variation 3. Tempo di Valse
11. IV. Theme with variations: Variation 4. Fuga doppia
12. IV. Theme with variations: Variation 5. Presto scherzando
13. IV. Theme with variations: Variation 6. Tempo di Mazurka
14. IV. Theme with variations: Variatione finale e coda
15. V. Tarantella. Presto
Lydia Mordkovitch: violin
Royal Scottish National Orchestra
Neeme Järvi (cond.)