A segunda ópera do ciclo do Anel dos Nibelungos é ‘Die Walküre”, uma obra prima de Wagner, uma das mais belas óperas já compostas. É emocionante desde os primeiros acordes, quando a orquestra entra simulando uma tempestade, e Sigmund entra em cena, e conhece Sieglinde.
O mago Karajan reúne aqui novamente um elenco estelar, destacando a dupla Jon Vickers, um dos maiores cantores wagnerianos de todos os tempos, e Gundula Janowitz, uma das cantoras favoritas do Kaiser Karajan, a magnífica Regine Crespin, sem esquecer de Thomas Stewart, um dos grandes baixos do século XX.
Como expliquei anteriormente, na postagem do “Ouro do Reno”, nosso caro Ammiratore se encarregou de preparar a sinopse desta complexa ópera:
“Die Walküre – segunda ópera da tetralogia, e que ópera ! Sua estréia ocorreu no teatro Nacional em Munique a 26 de junho de 1870. Baseada na Saga dos Valsungos que figura entre os grandes clássicos da literatura mundial; trata-se de um dos principais textos da produção popular da Baixa Idade Média europeia, foi redigida na Islândia do século XIII por autor(es) anônimo(s), não apenas por conta de seus méritos literários ou de sua importância para o estudo da antiga religião e das lendas dos povos germânicos, mas também pela inegável influência que exerceu sobre autores ocidentais modernos e contemporâneos. As sagas, e a literatura nórdica antiga em geral, foram lidas e apreciadas por escritores como J.R.R. Tolkien, famoso por seu Senhor dos Anéis, obra cuja fonte de inspiração essencial foi justamente a Saga dos Valsungos. Wagner iniciou a composição da música assim que encerrou o Ouro do Reno, em setembro de 1854, trabalho a que dedica cerca de 2 anos, tem como principal tema a luta do amor que está associada à natureza e liberdade, contra o poder que está associada à civilização e à lei.
A montagem Das Valkirias é mais frequentemente realizada nos teatros separadamente das outras três partes da tetralogia, e sem dúvida pode ser o trabalho mais amado de Wagner do grande público. A fonte dessa afeição é certamente a representação sensível de Wagner do amor de Siegmund e Sieglinde, e a relação pai-filha de Wotan e Brünnhilde. O primeiro ato, em particular, é uma obra-prima da melodia rapsódica unida a um firme plano de tensão cada vez maior, liberada em sucessivos clímaxes, à medida que Siegmund e Sieglinde são atraídos um pelo outro e revelam seus passados. Wotan sacrifica um olho pelo conhecimento, e seu poder se reduz à medida que o ciclo prossegue, seu longo monólogo no Ato II é muito humano em seu arrependimento pelo preço que pagou por conhecimento e poder. Acima de tudo, essa divindade falha e compreende a conexão íntima entre poder e amor e sua incompatibilidade. Wotan lembra que, mesmo com o mundo sujeito à sua autoridade: “Eu não podia deixar o amor. / No meu poder ansiava por amor ”. Brünnhilde, talvez a personagem mais intrigante de todo o ciclo, desafia o comando de seu pai de permitir que Siegmund morra – mas o faz por amor a Wotan e sua percepção de que é isso que ele realmente quer. Sua nobre rebelião é o eixo em torno do qual gira a história.
Wagner compreendeu que o poder e o amor não eram apenas incompatíveis, mas os pólos gêmeos do compromisso humano. Então, um dos desafios do Anel é decidir quem está certo. Vale a pena renunciar ao amor para sempre, como Alberich, para ganhar o controle do poder?
Die Walküre – Resumo:
Sob terrível tempestade, Siegmund foge de inimigos que o perseguem. Aproximando-se de uma casa tosca, construída ao redor de grande árvore, não hesita em entrar e larga o corpo exausto junto à lareira. Ouvindo a porta abrir-se, Sieglinde vem do outro cômodo e depara com o estranho, que ergue a cabeça e pede-lhe água. Ao marido, Hunding, que logo retorna da caça, ela explica as circunstâncias em que encontrou o rapaz.
Siegmund fala então de sua existência, pontilhada de desditas. É filho de Wolfe, a quem não vê há muito tempo, depois de um combate com os Neidingos, os mesmos inimigos que, antes, já haviam assaltado e destruído o palácio onde viviam. A mãe fora assassinada e, da irmã gêmea, que mal conhecera, nenhum vestígio encontrou. Agora, procura abrigo naquela casa, depois de haver lutado em auxílio de uma jovem obrigada a casar sem amor. Mas, ferido e desarmado, vira-se constrangido a evitar novo confronto com os adversários. São seus parentes conclui Hunding. É o que revela a Siegmund advertindo-o de que poderá usufruir as regalias de hóspede apenas por aquela noite. Já na manhã seguinte deverão ir à luta. Enquanto isso que trate de obter uma arma.
Mergulhado em sono profundo – Sieglinde dera-lhe de beber uma mistura preparada com tal finalidade -, Hunding ignora a ajuda que a esposa presta ao hóspede. Conduzido por ela a uma árvore onde está cravada uma espada. Siegmund apossa-se da arma com movimento vigoroso, identificando-a com aquela que o pai prometera enviar em momento de real dificuldade. Entre o herói e a mulher já crescera, e agora aflora em palavras de afeto, um amor incontido, embora percebam, ao confrontar suas histórias, que são irmãos, filhos do mesmo pai: o, velho desconhecido que, na festa de casamento de Sieglinde com Hunding, fincara a espada na árvore. Siegmund abraça-a ardorosamente e assegura ter soado para ambos a hora da vingança, da reconquista da honra. Confiantes em que os espera uma vida feita apenas de felicidade, deixam para trás a casa de Hunding. Na verdade, Wolfe não era outro senão Wotan, cuja união com uma mulher mortal
dera como fruto a estirpe dos Walsungos. Wotan tem interesse especial em Siegmund, pois por meio dele espera um dia recuperar o anel que se encontra nas mãos do gigante Fafner. Ele não pode recuperá-lo por iniciativa direta, pois isto lhe é vedado pela qualidade de deus dos tratados, mas deseja evitar qualquer possibilidade de que o anel volte as mãos do anão Alberich. É muito perigoso para os deuses.
Tudo isso Wotan explica a Brunnhilde, sua filha dileta, nascida, como outras oito irmãs, de encontros ocasionais com Erda, deusa da terra. São as Valquírias, incumbidas de conduzir para o Walhalla, em suas montarias aladas, os guerreiros mortos, que irão integrar o corpo dos sentinelas da morada dos deuses. Constrangido pela vontade férrea de Fricka, a quem Hunding recorreu para obter a condenação da
união entre Siegmund e Sieglinde, Wotan contraria os próprios sentimentos e ordena a Brünnhilde que interfira na luta entre os dois homens e faça a vitória caber a Hunding. No entanto, ao encontrar-se com Siegmund e Sieglinde, que tem Hunding em seu encalço, a
Valquíria deixa-se levar pelo coração e passa a protege-lo com seu escudo durante o combate, para faze-lo vencedor. Wotan, entretanto, intervém exatamente quando Siegmund atinge o outro comum golpe mortal: faz em pedaços a espada do Wälsungo, permitindo que Hundig lhe
trespasse o peito com a lança. Brünnhilde, aterrorizada, toma Sieglinde nos braços, monta seu cavalo e foge para junto das outras Valquírias. Pretende levar a jovem para o Oriente, onde, em sossego, esta poderá dar à luz a criança que é fruto do amor com Siegmund. Daquelas paragens certamente não se aproximará Wotan, pois ali vive Fafner, que, usando o Tarnhelm (elmo mágico), transformou-se em dragão e dorme sobre o tesouro.
Envolto em nuvens tempestuosas, Wotan irrompe Envolto em nuvens tempestuosas, Wotan irrompe á procura de Brünnhilde, que apenas tem tempo de convencer Sieglinde a fugir, levando consigo os pedaços da espada de Siegmund, a qual, um dia, será refundida. Quanto à criança, diz Brünnhilde, receberá o nome de Siegfried. Furioso com a desobediência da filha rebelde, Wotan impõe-lhe a punição mais temida: perderá seus poderes de deusa, transformando-se em uma mulher destinada a ser possuída por qualquer homem. A ira divina assusta as outras
Valquírias, que fogem em cavalgada.
A sós com Brünnhilde, entretanto, Wotan acaba curvando-se a voz mais forte do amor paternal e alivia o castigo. Auxiliado por Loge, a quem chama, levanta um círculo de fogo em torno da jovem. Só conseguirá possui-la alguém suficientemente destemido, capaz de vencer a mágica barreira. Antes, beija-a, faz com que adormeça e cobre-a com o escudo de Valquíria.
Thomas Stewart tem uma voz magnífica de amplo poder e alcance, seu Wotan, sua enunciação e fraseado são excelentes. Sua raiva resplandece ferozmente no Ato 2 quando Fricka parte. No Ato 3, Stewart é capaz de realçar toda a beleza musical das frases de Wotan banindo Brünnhilde da “hoste celestial”. Crespin é uma artista talentosa demais, ela nos da, no curso dos atos, muitos momentos preciosos, e há uma frase no Ato 3 que eu nunca ouvi cantar tão bela e afetivamente, é onde Brünnhilde fala, simplesmente e de coração, de compreender pelo menos um dos comandos de Wotan, “amar tudo o que amava”, ela invoca poder dramático e tonal considerável em seu apelo para ser cercada pelo fogo. Gundula Janowitz muito bem como Sieglinde, realmente parecendo surpresa ao encontrar um homem estranho em sua casa e mais tarde no ato suas lindas notas altas dão muito prazer. O desempenho de Jon Vickers como Siegmund é soberbo nesta fase da carreira ele está com a voz esplêndida, os momentos heróicos são muito excitantes. Como sempre, sua enunciação é admirável, no Ato 2, onde sua ternura por Sieglinde, e suas respostas dignas a Brünnhilde, tocam a grandeza. Fricka de Josephine Veasey verdadeira mezzo-soprano adequada para os enraivecidos pronunciamentos da deusa. Este é um desempenho finamente cantado e distinto. Martti Talvela é um magnífico Hunding, tão ameaçador quanto Fricka e com uma voz tão negra e com o poder tonal. Não há muito o que escolher entre as maravilhosas Valquírias, tudo é adorável como por exemplo na silenciosa passagem em que as três vozes superiores entram uma depois da outra é inquestionavelmente um belo registro de entrosamento, gravação muito boa. Karajan têm a mitica Filarmônica de Berlim sob o comando. No Ato 1, quando a orquestra pinta tão lindamente o amor desperto de Sieglinde e Siegmund, para tornar-se emocionalmente indulgente, Karajan constrói seu clímax com sutileza empolgante. O magnífico registro orquestral de Karajan, o Siegmund de Jon Vickers, o Wotan de Thomas Stewart e Crespin tentando atingir as alturas tornam esta gravação belíssima. Ela pode nos surpreender e muito.
Jon Vickers tenor – Siegmund
Martti Talvela baixo – Hunding
Thomas Stewart barítono – Wotan
Gundula Janowitz soprano – Sieglinde
Josephine Veasey mezzo – Fricka
Régine Crespin contralto – Brünnhilde
Liselotte Rebmann soprano – Gerhilde
Ingrind Steger mezzo – Waltraute
Daniza Mastlovic soprano – Helmwige
Cvetka Ahlin mezzo – Grimgerde
Carlotta Ordassy soprano – Ortlinde
Lilo Brockhaus mezzo – Schwertleite
Barbro Ericson mezzo – Sigrune
Helga Jenckel soprano – Rossweisse
Orquestra Filarmônica de Berlim / Herbert von Karajan
Richard Wagner (1813 – 1883)
Die Walküre, WWV 86B
Act 1
1.
Orchestervorspiel
2. Szene 1: “Wes Herd dies auch sei, hier muß ich rasten”
3. Einen Unseligen labtest du (Siegmund, Sieglinde)
4. Szene 2: “Müd am Herd fand ich den Mann”
5. “Friedmund darf ich nicht heißen”
6. Die so leidig Los dir beschied (Hunding, Sieglinde, Siegmund)
7. “Ich weiß ein wildes Geschlecht”
8. Szene 3: “Ein Schwert verhieß mir der Vater”
9. “Schläfst du, Gast?”
10. “Winterstürme wichen dem Wonnemond”
11. Du bist der Lenz
12. O süßeste Wonne! Seligstes Weib! (Siegmund, Sieglinde)
13. War Wälse dein Vater
14. Siegmund, den Wälsung, siehst du, Weib! (Siegmund, Sieglinde)
Act 2
15. Vorspiel – Szene 1: “Nun zäume dein Roß”
16. Hojotoho! Hojotoho! (Brünnhilde)
17. “Der alte Sturm, die alte Müh'”
18. So ist es denn aus mit den ewigen Göttern
19. “Was verlangst du?”
20. Deiner ew’gen Gattin heilige Ehre (Fricka, Wotan)
21. Szene 2: “Schlimm, fürcht ich, schloß der Streit”
22. “Ein andres ist ‘s: achte es wohl”
23. So nimmst du von Siegmund den Sieg? (Brünnhilde, Wotan)
24. So nimm meinen Segen, Niblungen-Sohn (Wotan, Brünnhilde)
25. “So sah ich Siegvater nie”
26. Szene 3: “Raste nun hier; gönne dir Ruh!”
27. Szene 4: “Siegmund! Sieh auf mich!”
28. “Du sahest der Walküre sehrenden Blick”
29. So jung und schön erschimmerst du mir (Siegmund, Brünnhilde)
30. Szene 5: “Zauberfest bezähmt ein Schlaf”
31. Der dort mich ruft, rüste sich nun (Siegmund, Sieglinde, Hunding, Brünnhilde)
32. Zu Ross, daß ich dich rette! (Brünnhilde, Wotan)
Act 3
33.Szene 1: “Hojotoho! Heiaha!”
34. “Schützt mich und helft in höchster Not”
35. “Nicht sehre dich Sorge um mich”
36. Szene 2: “Wo ist Brünnhild’, wo die Verbrecherin?”
37. “Hier bin ich, Vater”
38. Einleitung 3.Aufzug (Finale)
39. Szene 3: “War es so schmählich?”
40. So tatest du, was so gern zu tun ich begehrt
41. Nicht streb, o Maid, den Mut mir zu stören (Wotan, Brünnhilde)
42. “Leb wohl, du kühnes, herrliches Kind”
43. Der Augen leuchtendes Paar
44. “Loge, hör! Lausche hieher!”
45. – Magic Fire Music –