O disco consiste em dois concertos para piano de Mozart, do período de plena maturidade do compositor, mas com características próprias, muito distintas.
O Concerto No. 20 em ré menor (1785) é austero, começa com ares ameaçadores e sombrios, cheio de afinidades com a ópera ‘Don Giovanni’. É um de dois concertos em tonalidade menor e tem um dos movimentos lentos mais sublimes em toda a literatura musical. Já o Concerto No. 27 em si bemol maior (1791) é o último da série de concertos, cheio de leveza, claridade e de uma certa alegria que só Mozart é capaz de produzir em seus momentos de grande tristeza.
O intérprete, solista e regente nesta gravação, parece mais adequado aos grandes concertos românticos, é verdade, mas talvez por ter sido criança prodígio, assim como Wolfie, mostra grande afinidade com a música e o disco é tão bom que dá vontade de ouvir de novo…
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para Piano No. 20 em ré menor, K. 466
Allegro
Romanze
Allegro assai
Concerto para Piano No. 27 em si bemol maior, K. 595
Seção ‘The-book-is-on-the-table’: EMI recorded the two concertos in Munich in 2008, capturing a pleasantly ambient acoustic that perfectly suits the music; it’s slightly resonant without in any way hampering midrange transparency. There is ample stage depth for the relatively small ensemble accompanying Kissin, with a realistic piano sound, reasonably wide dynamics, a modest impact, and good, clean definition and air. It’s probably easier to describe the sound by what it’s not: It’s not bright, hard, or edgy nor is it unnecessarily warm, soft, clouded, or fuzzy. For this music, it is just right. Para ler toda a crítica, clique aqui.
Música leve e agradável, os quatro Concertos para Trompa de Wolfgang Amadeus Mozart foram escritos para seu amigo Joseph Leutgeb, um conhecido de infância. Leutgeb era um trompista habilidoso, pois as obras são difíceis de executar na trompa natural da época, exigindo a língua mais rápida do velho oeste. Os quatro concertos são curtos e cabem até em um LP. Abbado gravou um CD com estes Concertos e não penso que haja versão melhor (Allegrini + Abbado), mas a doçura deles espraiou-se por Karajan de tal forma que mesmo sua mão pesada conseguiu acariciar nesta gravação aceitável. Karajan parece ter tido relações sexuais satisfatórias antes de ir ao estúdio, pois chegou tomado de tranquilidade primaveril, desejando servir mais à música do que a seu ego. O Concerto N° 4 é especialmente bonito.
W. A Mozart (1756-1791): Os 4 Concertos para Trompa (Berlin Philharmonic, Seifert, Karajan)
Concerto For Horn And Orchestra No. 1 In D Major, K. 412
A1 Allegro
A2 Rondo: Allegro
Concerto For Horn And Orchestra No. 4 In E Flat Major, K. 495
A3 Allegro Moderato
A4 Romanza: Andante
A5 Rondo: Allegro Vivace
Concerto For Horn And Orchestra No. 2 In E Flat Major, K. 417
B1 Allegro Maestoso
B2 Andante
B3 Rondo
Concerto For Horn And Orchestra No. 3 In E Flat Major, K. 447
B4 Allegro
B5 Romance: Larghetto
B6 Allegro
Composed By – Wolfgang Amadeus Mozart
Composed By [Cadenzas] – Manfred Klier (tracks: A3, B4)
Conductor – Herbert Von Karajan
Horns – Gerd Seifert
Orchestra – Berliner Philharmoniker
Eis mais um delicioso CD do incansável clarinetista Dieter Klöcker, que gravou dezenas de CDs com obras para o seu instrumento. Aqui ele junta-se a um Quarteto de Cordas para tocarem o Quinteto para Clarinete K. 516c. Já trouxemos gravações dessa obra em outras ocasiões, com outros solistas. Mas já me declarei fã deste músico, que tem uma discografia considerável, tendo sido um musicólogo especializado na redescoberta de obras esquecidas para o seu instrumento, principalmente de compositores contemporâneos de Mozart e de Beethoven. Já trouxe outros CDs dele, quem não conhece, recomendo fortemente.
“O Quinteto para Clarinete em lá maior de Mozart, K. 581, foi escrito em 1789 para o clarinetista Anton Stadler. É o único quinteto de clarinete de Mozart e é uma das primeiras e mais importantes obras escritas para o instrumento. O quinteto é considerado uma conquista suprema da era clássica e é uma das obras mais populares de Mozart.”
É sempre bom ouvirmos este Quinteto. É uma obra deliciosa, que apenas confirma a genialidade de Mozart.
01. Movement for Clarinet and String Quartet in B-Flat Major, KV 516c Allegro
02. Movement for Clarinet and String Quartet in A Major, KV 581a Allegro non troppo
03. Movement for Clarinet, Bassetthorn and String Trio in F Major, KV 580b Allegro
04. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 I. Allegro
05. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 II. Larghetto
06. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 III. Menuetto
07. Clarinet Quintet in A Major, KV 581 IV. Allegro con Variazioni
Estou bem longe de ser um nostálgico, mas esta gravação de 1968, feita em Amsterdam, ainda mora em meu coração. Toda vez que a ouço, me encanto, e olha que há outras, mais recentes deste repertório, que são igualmente espetaculares. Eu sempre sonho com o contrabaixista que toca aqui… E dos sopros nem vou falar.
Ademais lembram disso?
Na página não parecia nada! O princípio simples, quase cômico. Só uma pulsação. Trompas, fagotes… Como uma sanfona enferrujada. E depois, subitamente… Lá bem no alto… Um oboé. Uma única nota, ali pendurada, decidida. Até que um clarinete a substitui, adoçando-a numa frase de tal voluptuosidade… Isto não era uma composição de um macaco amestrado. Era música como eu nunca tinha ouvido. Cheia de uma saudade, de uma saudade não realizada. Parecia-me que estava a ouvir a voz de Deus.
Pois é, Ouçam o Adágio da Gran Partita, K. 361. E mais não digo.
W. A. Mozart (1756-1791): Serenatas K. 361 e 375 (de Waart)
Serenade In B Flat, KV 361 “Gran Partita” B-dur En Si Bémol
1 Largo-Allegro Molto 9:45
2 Menuetto – Trio I-II 9:17
3 Adágio 5:41
4 Menuetto (Allegretto) – Trio I-II 5:23
5 Romanze (Adagio – Allegretto – Adagio) 5:49
6 Thema Mit 6 Variationen (Andante) 9:46
7 Finale (Molto Allegro) 3:20
Serenata Em Mi Bemol, KV 375 Es-dur. En Mi Bemol
8 Allegro Maestoso 7:53
9 Menuetto 4:10
10 adágio 5:48
11 Menuetto 3:19
12 Alegro 3:35
Claro que é uma boa gravação, mas já ouvi melhores. As duas Chicas fazem tudo certinho, mas me pareceram um tanto inexpressivas. Essas são leituras realizadas em instrumentos modernos em um estilo historicamente informado. O CD não me fez prender a respiração da mesma forma que ocorreu com Isabelle Faust e Alexander Melnikov em suas leituras em instrumentos de época. Se você está procurando uma versão discreta e de bom gosto, Dego e Leonardi é uma boa pedida. Se você está procurando um som de época com um pouco mais de calor e urgência expressiva, eu o levaria a Faust e Melnikov. Foi a impressão que tive ao ouvir este CD uma única vez.
W. A. Mozart (1756-1791): Violin Sonatas KV. 301, KV. 303, KV. 305, KV. 454 (Dego, Leonardi)
1. Violin Sonata in B-Flat Major, Op. 7 No. 3, KV. 454: I. Largo (10:13)
2. Violin Sonata in B-Flat Major, Op. 7 No. 3, KV. 454: II. Andante (7:15)
3. Violin Sonata in B-Flat Major, Op. 7 No. 3, KV. 454: III. Allegretto (7:33)
4. Violin Sonata in G Major, Op. 1 No. 1, KV. 301: I. Allegro con spirito (11:15)
5. Violin Sonata in G Major, Op. 1 No. 1, KV. 301: II. Allegro (5:09)
6. Violin Sonata in C Major, Op. 1 No. 3, KV. 303: I. Adagio (5:10)
7. Violin Sonata in C Major, Op. 1 No. 3, KV. 303: II. Tempo di Menuetto (6:47)
8. Violin Sonata in A Major, Op. 1 No. 5, KV. 305: I. Allegro di molto (6:34)
9. Violin Sonata in A Major, Op. 1 No. 5, KV. 305: II. Tema con variazioni (10:18)
Lembram aquelas seleções de clássicos dos anos 70 e 80 que tinham gatinhos na capa? Ali, o Aleluia de Handel podia vir antes de Rhapsody in Blue, a qual era seguida da Abertura 1812, por exemplo. Aqui também há uma salada, mas uma salada só de Mozart, tudo transcrito para os espetaculares 5 metaleiros do Canadá. Na verdade, Mozart não gostava muito de usar uma tonelada de metais porque seus ouvidos eram muito sensíveis e os registros mais altos podiam ser incômodos para ele. (Quando criança, ele vomitou na primeira vez que ouviu um trompete em ação). No entanto, acho que ele ficaria impressionado e honrado com este álbum fantástico que presta uma verdadeira e respeitosa homenagem a um mestre. Eu recomendo fortemente este álbum para os amantes de Mozart e para os amantes de todas as belas músicas, apesar de ser um gatinho. Se ele tivesse esses sujeitos à disposição, escreveria-lhes peças sob medida.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): The Mozart Album (Canadian Brass)
1 Overture To “The Magic Flute (Die Zauberflöte), K. 620
Arranged By – Fen Watkin
Percussion – Russ Hartenberger
7:01
2 Sarastro’s Aria: “O Isis Und Osiris” From Act II Of “The Magic Flute”
Arranged By – Arthur Frackenpohl
2:48
3 The Queen Of The Night’s Aria: “Der Hölle Rache” From Act II Of “The Magic Flute”
Arranged By – Howard Cable
Percussion – Russ Hartenberger
2:56
4 “Tuba Mirum” From Requiem, K. 626
Arranged By – Frederic Mills
3:13
5 “Alleluia” From Exultate Jubilate, K. 165
Arranged By – Arthur Frackenpohl
2:26
6 Ave Verum Corpus, K. 618
Arranged By – Fen Watkin
2:58
7 Figaro’s Aria: “Non Più Andrai” From “The Marriage Of Figaro,” K. 492
Arranged By – Frederic Mills
Percussion – Russ Hartenberger
2:38
8 Rondo Alla Turca From Piano Sonata In A Major, K. 331
Arranged By – Arthur Frackenpohl
Percussion – Russ Hartenberger
2:22
9 Adagio & Fugue In C Minor, K. 546
Arranged By – Dale Fawcett
7:58
10 Theme & 5 Variations In G Major, K. 501
Arranged By – Arthur Frackenpohl
9:11
11 Adagio & Allegro In F Minor, K. 594
Arranged By – Arthur Frackenpohl
8:39
French Horn – David Ohanian
Trombone, Euphonium – Eugene Watts
Trumpet – Frederic Mills, Ronald Romm
Tuba – Charles Daellenbach
Diretamente do acervo de nosso amigo Helio Tavares, eis que finalmente consigo os Trios de Mozart, na interpretação sempre correta e sensível do Beaux Arts Trio. Era um sonho de consumo antigo, que se realizou, com a gentileza de Hélio em disponibilizar de seu acervo. E que acervo… neste mesmo lote, eis que também consigo os trios de Beethoven… é emoção demais para o coração do pobre FDP. Mas esses Beethoven vão esperar um pouco… E para aqueles que diziam que havia pouco Mozart no blog, eis que senti-me sensibilizado com as solicitações, e resolvi abrir meu acervo particular do mestre de Salzburg. Minhas próximas postagens serão mozartianas.
A interpretação está a cargo do Beaux Arts Trio (alguém já deve estar se perguntando por que diabos que os irmãos PQP e FDP têm tanta predileção por este trio? Ouçam e procurem as respostas na qualidade destas interpretações). Quem tocou junto por tantas décadas deve ter algo a acrescentar, não acham?
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): The Piano Trios (Beaux Arts Trio)
Trio In B Flat, K. 254 – B-dur – En Si Bémol (Divertimento)
1-1 1. Allegro Assai 6:23
1-2 2. Adagio 7:22
1-3 3. Rondeau (Tempo Di Minuetto) 6:47
Trio In G, K. 496 – G-dur – En Sol
1-4 1. Allegro 8:29
1-5 2. Andante 7:54
1-6 3. Allegretto (Thema Mit Variationen) 10:39
Trio In B Flat, K. 502 – B-dur – En Si Bémol
2-1 1. Allegro 8:08
2-2 2. Larghetto 9:11
2-3 3. Allegretto 6:00
Trio In E, K. 542 – E-dur – En Mi
2-4 1. Allegro 7:24
2-5 2. Andante Grazioso 4:55
2-6 3. Allegro 6:47
Trio In C, K. 548 – C-dur – En Ut
3-1 1. Allegro 7:27
3-2 2. Andante Cantabile 9:38
3-3 3. Allegro 4:14
Trio In G, K. 564 – G-dur – En Sol
3-4 1. Allegro 5:14
3-5 2. Andante (Thema Mit Variationen) 7:10
3-6 3. Allegretto 4:47
Trio In D Minor, K. 442 – D-moll – En Ré
Arranged By [Completed By] – Karl Marguerre, Abbé Stadler*
3-7 1. Allegro in D Minor – D-moll – En Ré 5:19
3-8 2. Tempo Di Minuetto In G- G-dur – En Sol 6:01
3-9 3. Allegro In D – D-dur – En Ré 5:07
Piano: Menahem Pressler
Violin: Isidore Cohen
Cello: Bernard Greenhouse
Para desespero de nossa querida Clara Schumann, que por algum motivo próprio não suporta a soprano neo-zelandesa Kiri Te Kanawa, trago uma deliciosa versão desta que é considerada por muitos a melhor ópera de Mozart, “La Nozze di Figaro” , ou “As Bodas de Fígaro”. O cast é estelar, comandados pelo grande Samuel Ramey e tendo estrelas do porte de Kiri Te Kanawa, Kurt Moll, Lucia Popp, Frederica Von Stade entre outros.
Sou fâ do maestro húngaro-britânico George Solti, que possui um extenso currículo na área, e será com ele que trarei mais a frente o ciclo do Anel dos Nibelungos.
Mas aqui temos um Mozart delicioso e divertido. Espero que gostem.
Wolfgang Amadeus Mozart – Le Nozze di Figaro, K. 492
CD 1
1. Overture
2. Act 1 – “Cinque… deci… venti…” – “Cosa stai misurando”
3. Act 1 – “Se a caso Madama” – “Or bene, ascolta, e taci”
4. Act 1 – Bravo, signor padrone…Se vuol ballare…Ed aspettaste
5. Act 1 – “La vendetta” – “Tutto ancor non ho perso”
6. Act 1 – “Via resti servita” – “Va là, vecchia pedante”
7. Act 1 – Non so più…Ah, son perduto!
8. Act 1 – Cosa sento!…Basilio, in traccia tosto…Giovani
9. Act 1 – “Non più andrai”
10.Act 2 – Porgi amor…Vieni, cara Susanna
11.Act 2 – “Voi che sapete” – “Bravo! che bella voce!”
12.Act 2 – Venite! Inginocchiatevi…Quante buffonerie!
1.Act 2 – “Che novità!”
2.Act 2 – “Susanna, or via, sortite” – “Dunque, voi non aprite”
3.Act 2 – “Aprite, presto” – “O guarda il demonietto!” – “Tutto è come io lasciai”
4.Act 2 – “Esci, ormai, garzon malnato” – “Susanna!… Signore!”
5.Act 2 – “Signore, di fuori” – “Ah! signore… signor!”
6.Act 2 – “Voi signor, che giusto siete” Jane Berbié
7.Act 3 – “Che imbarazzo è mai questo” – “Via, fatti core”
8.Act 3 – “Crudel! perché finora” – “E perché fosti meco”
9.Act 3 – Hai già vinta la causa!…Vedrò mentr’io sospiro…
10.Act 3 – “Riconosci in questo amplesso” – “Eccovi, o caro amico” – “Andiamo, andiam, bel paggio”
1. Act 3 – E Susanna non vien…Dove sono i biei momenti…Io
2. Act 3 – Cosa mi narri!…Che soave zeffiretto…Piegato è
3. Act 3 – Ecco la marcia…Eh, già, solita usanza
4. Act 4 – L’ho perduta…Barbarina, cos’hai?
5. Act 4 – Il capro e la capretta…Nel padiglione a manca
6. Act 4 – “In quegli anni in cui val poco”
7. Act 4 – “Tutto è disposto” – “Aprite un po’ quegli occhi”
8. Act 4 – Giunse alfin il momento…Deh, vieni, non tardar.
9. Act 4 – Pian pianin le andrò più presso…Tutto è tranquillo
10.Act 4 – “Gente, gente, all’armi”
Lucia Popp, Kiri Te Kanawa, Frederica von Stade, Samuel Ramey,Sir Thomas Allen e Kurt Moll – solistas
London Opera Chorus
London Philarmonic Orchestra
Sir George Solti – Director
o Penguin Guide rasga a seda: Solti opta por uma proporção justa de velocidades extremas, tanto lentas quanto rápidas, mas elas raramente, se é que alguma vez, interferem na felicidade essencial do entretenimento. Samuel Ramey, um barítono de voz firme, interpreta um Figaro viril, perfeitamente combinado com a mais encantadora das Susannas gravadas, Lucia Popp, que apresenta uma performance brilhante e radiante. Thomas Allen também está magnífico. Kurt Moll como Don Bartolo canta um La vendetta inesquecível. Frederica von Stade é uma Cherubino muito atraente, mas coroando tudo está a Condessa de Kiri TeKanawa.
Duas notáveis sinfonias de Mozart e outra mais ou menos. A Júpiter é a Júpiter, né? É sua esplêndida última sinfonia e foi composta em circunstâncias incríveis. Geralmente, uma sinfonia leva meses para ser composta. Mozart, entretanto, durante o verão de 1788, compôs três sinfonias em menos de dois meses: a Sinfonia no 39 (K. 543) foi completada no dia 26 de junho; a Sinfonia no 40 (K. 550), em 25 de julho; e a Sinfonia no 41,“Júpiter” (K. 551), em 10 de agosto. Ao que tudo indica, as três não foram encomendadas por ninguém, mas Mozart raramente compunha sem um propósito. Em vista das dificuldades financeiras que passava na época, talvez ele estivesse planejando vendê-las a um editor ou executá-las em algum concerto em Viena.
Composta em apenas dois dias no final de 1773, quando Mozart tinha 17 anos, a espetacular Sinfonia nº 25 em Sol Menor, K.183 representa uma ruptura em relação às obras precedentes do compositor. Em sua perfeição, ela prenuncia suas últimas sinfonias. Seu estilo, cheio de fogo e paixão, é novo em Mozart. Lembra, porém, obras de Johann Christian Bach e Haydn deste mesmo período, conhecidas como Sinfonias Sturm und Drang (Tempestade e Tensão), por analogia ao movimento da literatura alemã.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Sinfonias Nº 41, 25 e 32 (Wordsworth)
Sinfonia nº 41 em dó maior, K. 551, “Júpiter”
1 Allegro vivace 11:22
2 Andante Cantabile 11:24
3 Menuetto: Allegretto 4:45
4 Molto Allegro 9:34
Sinfonia nº 25 em sol menor, K. 183
5 Allegro Con Brio 7:41
6 Andante 3:49
7 Menuetto 3:26
8 Alegro 5:15
9 Sinfonia nº 32 em sol maior, K. 318 7:50
Maestro – Barry Wordsworth
Orquestra – Capela Istropolitana
Não se deixe enganar pela capa, este é um ótimo disco. Reuniu um time de músicos e técnicos excelentes para ser gravado e está recheado de lindas obras de Mozart.
O repertório consiste dos dois quartetos com piano e o trio ‘Kegelstatt’, combinações incomuns de instrumentos e mesmo inéditas (no caso do trio) nos dias em que foram compostas.
O quarteto Domus era então formado por Krysia Osostowicz (violino), Timothy Boulton (viola), Rchard Lester (violoncelo) e eram todos bem jovens em 1991. O selo Virgin colocou a produção nas mãos de Andrew Keener e as gravações foram feitas na St. George’s Church, em Bristoll. O produtor deixou uma pequena nota no livreto contando da enorme alegria do grupo ao tocar para uma audiência e, por isso, boa parte do resultado final do disco foi gravada ao vivo.
Os quartetos para piano de Mozart chegaram à sua existência graças a um ótimo personagem que vivia em Viena, era músico, compositor e, como Mozart, fora atraído para essa cidade mais ou menos na mesma época que ele. Franz Anton Hoffmeister publicava música e encomendou três quartetos com piano de Mozart, esperando grandes vendas para os músicos amadores vienenses, sempre ávidos por boas melodias. Mas, quando o primeiro dos quartetos ficou pronto, Hoffmeister cancelou o acordo com o amigo Wolfie, deixando que este ficasse com o dinheiro já pago e liberando-o da obrigação de compor os outros. O fato é que no dia da inspiração para o primeiro quarteto, a musa que atendeu aos chamados do compositor era a da tonalidade sol menor… e ela estava inspirada. A parte para piano é bem mais difícil do que se esperava e, apesar da belíssima música, toda a obra soava estranhíssima para aqueles dias. Veja por você como essa tonalidade afetava Mozart, que a usou também em outras obras impressionantes, como as Sinfonias Nos. 25 e 40, assim como no Quinteto de Cordas K. 516. Aqui está uma postagem recente, feita pelo nosso editor chefe, com uma gravação também recente e excelente do quinteto…
Hoffmeister explicou tudo para o amigo Mozart, sobre a parte para piano, a tonalidade… deve ser isso, pois apesar de estar livre do compromisso, Mozart compôs ainda mais um Quarteto, aquele bem mais próximo da receita de Franz Anton. O Quarteto em mi bemol maior, K. 493, foi completado nos mesmos dias que Mozart finalizou a ópera As Bodas de Fígaro e, assim como o Concerto No. 22, também em mi bemol, é uma obra elegante e graciosa.
O Trio com Clarinete tem sua história ligada a outro amigo de Mozart, o clarinetista Anton Stadler, que tocou essa parte pela primeira vez em companhia do próprio Mozart, que por sua vez tocou a parte da viola, na estreia da peça. Ao piano a jovem Franziska, filha do dono da casa onde o evento se deu, o Barão Gottfried van Jacquin. A jovem e seu irmão eram alunos de Mozart e, pelo que podemos ouvir no trio, era talentosa.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Quarteto com Piano No. 1 em sol menor, K 478
Alegro
Andante
Rondo: Allegro
Trio para Piano, Clarinete e Viola em mi bemol maior, K 498 ‘Kegelstatt’
Na seção ‘The book is on the table’ de hoje, temos um resumo de uma crítica de Mr. Stanley Crowe:
Domus is long gone, and its members have morphed into the Florestan Trio, but it was a great group, and by the time they recorded these Mozart pieces, they had been together for a dozen years. The music […] is superbly played and recorded here. Just as sound, I was taken with the recording of the “Kegelstat” Trio (for piano, viola, and clarinet), where the instruments seem in perfect balance and the charm of the piece […] comes through well. As always, the pianist Susan Tomes excels […] and it’s good to hear the viola to somewhat more advantage than one usually does in quartets. Timothy Boulton plays beautifully, as does Richard Hosford, an excellent clarinetist. There are other fine recordings of these pieces out there, but this is as good as any.
Os dois concertos deste disco foram compostos apenas alguns meses um do outro, em 1786, ano que assistiu a estreia de As Bodas de Fígaro. Mozart estava em plena forma. Num período de dois anos compôs nada menos do que 11 concertos para piano (!) e todos de altíssimo nível.
O Concerto No. 21 em dó maior (K. 467) tem um movimento lento especialmente lírico que o torna um dos preferidos do público. Esse movimento ficou famoso por ser usado em um clássico do cinema chamado ‘Elvira Madigan’.
O Concerto No. 22 em mi bemol maior (K. 482) tem a mesma orquestração que o concerto anterior, mas no lugar de oboés, Mozart usa dois clarinetes, que torna a audição bastante interessante. O movimento lento deste concerto é também muito bonito e a interpretação que você ouvirá aqui pode ajudar a entender a razão de ter sido exigido a sua repetição na estreia do concerto. Esse fato ficou registrado em uma carta que Leopold – pai de Mozart, que o visitava em Viena, – escreveu para Nannerl, sua irmã, surpreso por esse fato tão pouco usual.
O pianista Jonathan Biss nasceu em uma família de músicos e cresceu em Bloomington, estado de Indiana, no meio oeste americano. Bloomington é uma cidade universitária e tem uma vida musical muito rica, assim como a escola de música da Universidade de Indiana, que é muito forte.
Em uma entrevista, Jonathan Biss contou como foi importante o encontro com o pianista Leon Fleisher. Seus pais o levaram para Baltimore quando ele tinha 14 anos. Nesse dia Leon Fleisher tocou todas as Sonatas de Beethoven junto com seus alunos. Essa experiência certamente marcou muito o jovem pianista. Jonathan Biss gravou a integral das Sonatas de Beethoven. Espero que não seja preciso esperar mais alguma data festiva para ver essas gravações alcançando as nossas publicações aqui no PQP Bach.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para Piano No. 21 em dó maior, K. 467
Allegro maestoso (Cadência: J. Biss)
Andante
Allegro vivace assai (Cadência: Dinu Lipatti)
Concerto para Piano No. 22 em mi bemol maior, K. 482 (Cadências: J. Biss)
Biss (on modern concert grand rather than any period instrument) has completely and satisfyingly surrendered to the music’s moods and emotions, whilst maintaining Mozartian clarity and poise. […] His emotive reading of the mournful, unsettled Andante (K. 482) leaves one in no doubt as to why the first audience demanded an encore. Fantastic stuff. [BBC Music Magazine, 2008]
Celebramos mais um aniversário da Rainha, e ela não dá sinais de arrefecer o radiador. Vá lá, volta e meia a assombrosa octogenária nos dá um susto, só para daí voltar com tudo – cancelando um concerto ou outro, naturalmente, como sói acontecer desde que Martha é Martha – e nos fazer sonhar com mais uma década todinha (a nona de sua vida, e a oitava como pianista) com ela a forrar nossos tímpanos de deleite.
Já é meu bem surrado costume cantar-lhe parabéns pelo cumple e celebrar a data gaiatamente, compartilhando presentes gravados pela própria aniversariante. Marthinha segue tão ativa fazendo música quanto afastada dos estúdios, de modo que todos os novos registros de sua arte, como há já algumas décadas, provêm somente de apresentações ao vivo. Entre as adições à discografia marthinhiana lançadas desde o 5 de junho passado – as quais passo a lhes oferecer a seguir -, apenas uma foi gravada, conforme a promessa do título desta postagem, na nona década de vida da Rainha. Trata-se de um recital em duo com o violinista Renaud Capuçon, gravado no ano passado, em que ela nos serve algumas de suas especialidades: além de uma das sonatas de Schumann, que a mantém entre os poucos grandes intérpretes a prestigiá-las em
seu repertório, ela demonstra seguir afiada como sempre na realização das eletrizantes partes pianísticas da “Kreutzer” e da sonata de Franck.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856) Sonata para violino e piano no. 1 em Lá menor, Op. 105
1 – Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 – Allegretto
3 – Lebhaft
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Sonata para violino e piano no. 9 em Lá maior, Op. 47, “Kreutzer”
4 – Adagio sostenuto – Presto
5 – Andante con variazioni
6 – Finale. Presto
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano
7 – Allegretto ben moderato
8 – Allegro
9 – Recitativo – Fantasia. Ben moderato
10 – Allegretto poco mosso
Renaud Capuçon, violino
Gravado ao vivo no Grand Théâtre de Provence em Aix-en Provence (França) em 22 de abril de 2022.
Os trios com piano de Mozart são música em que o piano brilha mais, como personagem protagonista, com o violino tendo seus momentos de destaque e o violoncelo quase sempre lá no fundo, em um papel que remonta ao baixo continuo da música de seus antecessores.
Brendel, Pollini, assim como os mais jovens Lubimov, Uchida e Brautigam… são muitos os grandes pianistas mozartianos que não se aventuraram em gravar esses trios. Entre as exceções, Maria João Pires fez um belo disco já postado aqui.
E entre os trios de Mozart este de K. 442 é ainda menos lembrado: os três movimentos foram compostos em Viena em meados da década de 1780, mas não se tem certeza se o compositor queria juntá-los ou se seriam partes de obras diferentes. Em todo caso, foram publicados juntos pouco após a morte do compositor. No século XIX, o musicólogo von Köchel deu a esse trio o nº K. 442, indicando que é mais ou menos da mesma época dos quartetos “A Caça” (K. 458) e “As Dissonâncias” (K. 465), do quinteto para piano e sopros (K. 452) e da fase de espantosa abundância de concertos para piano, do No. 14 (K. 449) até o nº 24 (K. 491). Ou seja, o período de Mozart já estabelecido em Viena
Os jovens alemães do Trio Adorno fazem um belo trabalho, em excelente qualidade de som, ao chamar atenção para este trio de Mozart e ainda para um trio de Mendelssohn que costuma ficar à sombra de outro mais famoso e para um trio de Martinů bem pouco tocado, aliás como toda a música de câmara do compositor tcheco. Ao contrário do Mozart, nesses outros dois o violoncelista também tem momentos de destaque, com as exigências técnicas mais ou menos igualmente distribuídas entre os três músicos. E nessa gravação os três alemães mostram versatilidade: fazem um Mozart leve e alegre, um Mendelssohn bem romântico e sublinham as esquisitices de Martinů.
Wolfgang Amadeus Mozart:
1-3. Piano Trio in D Minor, K.442 (Trio em ré menor, 1785-1888)
I. Allegro, II. Tempo di Minuetto, III. Allegro Bohuslav Martinů:
4-6. Piano Trio n. 3 in C Major (Trio em dó maior, 1951)
I. Allegro moderato, II. Andante, III. Allegro Felix Mendelssohn:
7-10. Piano Trio n. 2 in C Minor Op.66 (Trio em dó menor, 1845)
I. Allegro energico con fuoco, II. Andante espressivo, III. Scherzo molto allegro quasi presto, IV. Finale Allegro appassionato
Trio Adorno: Christoph Callies – violin; Samuel Selle – cello; Lion Hinnrichs – piano
Recorded: Laeiszhalle Hamburg, March 2021
Hoje acordei com um instinto blockbuster: só querendo os famosos!
Saquei de minhas posses esta primorosa versão do Requiem de Wolfgang Amadeus Mozart, sob a condução de Peter Schreier. Não que eu conheça “trocentas” execuções diferentes dessa peça, mas ela em agrada imensamente aos ouvidos: os solistas são de primeira linha, com destaque para a doçura encarnada na voz de Margaret Price e as notas decididas do baixo Theo Adam, aqui desenvolvendo bem até as notas mais agudas de seus solos, quase um barítono. A condução de Schreier, ainda que não o faça ante uma orquestra com instrumentos de época, é muito sensível ao que as músicas devem exprimir: o Kyrie é pesado, o Dies Irae é (meu Deus!) decididamente irado, a Lacrimosa é de partir o coração e o Santus é portentoso, glorioso! Nem preciso falar muito… É muito bom!
Há mais duas versões do Requiem, ambas de cair o queixo, aqui e aqui no P.Q.P.Bach. Ouça todas. Compare. Deleite-se.
Obra para ter na prateleira ou, pelo menos, no seu HD. Ouça e torne sua semana mais completa!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) Réquiem – completado por Franz Xaver Süssmayr (1766-1803)
01. Introitus: Requiem
02. Kyrie
03. Sequentia: I. Dies irae
04. Sequentia: II. Tuba mirum
05. Sequentia: III. Rex tremendae
06. Sequentia: IV. Recordare
07. Sequentia: V. Confutatis
08. Sequentia: VI. Lacrimosa
09. Offertorium: Domine Jesu
10. Offertorium: Hostias
11. Sanctus
12. Benedictus
13. Agnus Dei
14. Lux aeterna
Margaret Price, Soprano
Theo Adam, Bass
Trudeliese Schmidt, Alto
Francisco Araiza, Tenor
Leipzig Radio Chorus
Dresden Staatskapelle
Peter Schreier, regente
Eu, PQP Bach, amo estes dois Quintetos escritos por Mozart em sua fase final. O K. 515 e 516 são dois “quintetos de violas” na medida em que foram escritos para quarteto de cordas e uma viola extra (dois violinos , duas violas e violoncelo), contrariamente ao comum, que é dobrar o violoncelo. O K. 515, em dó maior, foi finalizado em 19 de abril de 1787, menos de um mês antes da conclusão do tempestuoso Quinteto em sol menor, K. 516. Esta não seria a última vez que um grande par de obras em dó maior / sol menor seriam publicadas em estreita proximidade e receberiam números Köchel consecutivos. No ano seguinte, as sinfonias 40 (sol menor) e 41 (dó maior) seriam concluídas com algumas semanas de diferença. Dizem que Mozart compôs estes dois quintetos de cordas só para mostrar ao recém-empossado rei Frederico Guilherme II da Prússia que era tão bom ou melhor do que Luigi Boccherini no formato que celebrizou o italiano… Frederico Guilherme, que sucedeu a Frederico o Grande, era ótimo violoncelista. Fez isso porque teria chegado a seus ouvidos que Boccherini era candidato ao posto de diretor da música na corte da Prússia. Nesta gravação, o Ébène convida o amigo e violista Antoine Tamestit para tocar estas duas obras lindas e contrastantes. Os movimentos lentos estão de cortar os pulsos, mas com alegria…
W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos de Cordas K. 515 & 516 (Ébène + Tamestit)
Por algum motivo o Concerto para Clarinete de Mozart é uma de minhas obras favoritas do compositor, ao lado dos Concertos para Piano de nº 21 e da Sinfonia nº40, para citar apenas algumas. A expressividade deste instrumento tão único é aqui neste CD muito bem explorada pela excepcional Sabine Meyer, musicista de incrível talento, que por algum tempo tocou na Filarmônica de Berlim, de onde saiu por divergências com outros colegas da orquestra, mesmo tendo o apoio de Kaiser Karajan. A talentosa instrumentista não se abalou e seguiu em frente com uma carreira exitosa enquanto solista.
Neste belo CD, gravado lá em 1990, temos o citado Concerto para Clarinete e belíssima Sinfonia Concertante, K. 257b, que reúne quatro (???) instrumentos solistas, o clarinete, o oboe, o fagote e a trompa, obra única, com certeza, mas de uma beleza e originalidade tipicamente mozartianas. Os acompanhando, temos a Staatskapelle Dresden, que é a mais antiga orquestra da atualidade, tendo sido fundada em 1548.
Um belo CD, com certeza, sensível, delicado e muito agradável de se ouvir.
Peço desculpas por minhas postagens estarem sendo tão espaçadas, problemas alheios a minha vontade tem impedido de me dedicar com mais atenção ao blog. E também tenho de reconhecer que a perda de três membros do grupo me abalaram bastante (os saudosos Ammiratore, Avicenna e o queridíssimo Monge Ranulfus).
Faço desta postagem a minha homenagem a estes três amigos (mesmo nunca os tendo encontrado pessoalmente, assim os considerava), com certeza iriam gostar muito deste CD, amantes que eram da bela arte.
Este é um CD matador de Jos van Immerseel e turma. Traz 3 Concertos extraordinários de Mozart: o lindo Concerto para 2 Pianos Nº 10, o belíssimo para Flauta e Harpa K. 299 e o não menos para Trompa K. 447, tudo com instrumentos de época. Talvez isto aqui não seja o ‘The best of the best’ dentro dos Concertos do compositor, mas está bem próximo. O que interessa é que são grandes concertos interpretados com muito tesão, para usar o termo técnico. O tempo das gravações historicamente informadas serem sem sal passou definitivamente. Cada vez mais, acho interessante ouvir uma representação mais próxima do que o compositor pretendia. Não estou dizendo que as apresentações de época sejam o único caminho a seguir, claro, mas são, atualmente, a via mais importante para a música pré-Beethoven. Recomendo fortemente este CD para qualquer amante de Mozart. Tem um som incrível e há muita, muita vida nas interpretações.
W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para 2 Pianos Nº 10, K. 365, para Flauta e Harpa K. 299 e para Trompa, K. 447 (Jos van Immerseel, Anima Eterna)
Concerto No. 10 for 2 Pianos in E flat major, K365
01. Allegro
02. Andante
03. Rondeau
Concerto for Flute and Harp in C major, K299
04. Allegro
05. Andantino
06. Rondeau
Horn Concerto No. 3 in E flat major, K447
07. Allegro
08. Romance – Larghetto
09. Allegro
Jos van Immerseel, piano
Yoko Kaneko, piano
Frank Theuns, flute
Marjan de Haer, harp
Ulrich Hübner, horn
Anima Eterna
Eu ouço Concertos para Piano de Mozart desde sempre, desde o século passado. Comecei com o disco de Maurizio Pollini e depois o de Emil Gilels, ambos acompanhados pela imensa Wiener Plhilharmoniker, regida por Böhm. Depois desses vieram os discos da série do Murray Perahia, especialmente o disco com os Concertos Nos. 19 e 23, que repete o repertório do disco de Maurizio Pollini. Há uma notável gravação dos Concertos Nos. 21 e 25, com o espetacular pianista Stephen (Bishop) Kovacevich, acompanhado pela London Symphony Orchestra regida por Colin Davis. E tantos outros que é impossível mencionar nem a terça parte: Uchida/Tate, Brendel/Marriner, Brendel/Mackerras…
Nestas páginas tenho postado várias gravações, incluindo a integral gravada pela Naxos com o incansável Jenö Jandó, cuja coleção mantenho sempre bem à mão.
Confesso ter tido algumas dificuldades com as gravações HIP desses maravilhosos concertos. A gravação pioneira feita por Malcolm Bilson, The English Baroque Soists e John Eliot Gardiner tem capas encantadoras e o início dos concertos revela todos os aspectos que eu considero positivos do movimento dos instrumentos de época, transparência na textura orquestral, maior presença e clareza do som dos instrumentos de sopros, andamentos a tempo justo. Mas, quando aparece o piano, meu coração fica frio. Algo parecido ocorre com as gravações de Melvyn Tan, acompanhado pelo London Classical Players regido por Roger Norrington. A série feita por Jos van Immerseel com a orquestra Anima Eterna renovou minhas esperanças, mas eu continuava relutante, inclusive com as gravações feitas pelo pianista e eminente musicólogo Robert Levin, acompanhados pela Academy of Ancient Music regida então pelo seu titular Christopher Hogwood.
Assim, quando me deparei com esse disco, gravado pelo (quase) mesmo time, perto de vinte anos após a última seção, senti um misto de esperança e resignação. O regente agora é Richard Egarr, no lugar do (late) Hogwood.
Mudaram os músicos no seu literal ímpeto devotado aos costumes de época? Mudaram os engenheiros de som, recolocando o piano na paisagem sonora gravada? Mudei eu mesmo? Provavelmente sim em todas as instâncias!
Eu achei o disco espetacular! Há muito não ouvia um disco com tanto prazer, que não parei mais. Na ida ao tênis, ao acordar, antes de dormir. Tudo isso ocorrendo segundo o relatado, não hesito em tascá-lo aqui. Vejam vocês, as suas impressões, e depois me digam…
Ah, tão enlevado fiquei que me esqueci de mencionar. Dois concertos de peso – aquele que chamávamos ‘Elvira Madigan’ e aquele outro, que o Ludovico amava. Dois adágios que qualquer compositor daria um braço e uma perna para tê-los composto…
Richard Egarr permite uma flexibilidade aos músicos da AAM, dando tempo para que respirem. Robert Levin usa sua autoridade de musicólogo com leveza para ornamentar o solo, dando um que de inovação aos tão famosos concertos e reforçando o tuti, quando não está solando. Maravilha!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para Piano No. 21 em dó maior, K467 ‘Elvira Madigan’
“Academy of Ancient Music (AAM) resumes a celebrated project to record Mozart’s complete Piano Concertos, with this ninth volume released after an extraordinary 20-year wait. Together with renowned scholar-pianist Robert Levin, AAM presents Mozart’s Piano Concertos No. 21 in C Major K467, perhaps one of Mozart’s most well-known Piano Concertos and featured in films The Spy Who Loved Me and Elvira Madigan, and No. 24 in C Minor K491, described by Mozart scholar Alexander Hyatt King as ‘not only the most sublime of the whole series but also one of the greatest pianoforte concertos ever composed’.
This release marks the renewal of a landmark project begun in 1993 on the Decca label to record Mozart’s entire works for keyboard. It will be followed by the four final albums of the series later in 2023 and 2024.”
Não deixe de visitar essa postagem, se tiver tempo…
Nesta postagem especial preparada para homenagear as mulheres nesta semana do Dia Universal da Mulher, escolhi algumas excelentes intérpretes que representam a enorme e inestimável contribuição delas para a música.
Começamos nosso programa com o Concerto para Marimba, escrito pelo jovem compositor norte-americano Kevin Puts. A solista chama-se Ji Su Jung, que foi a primeira percussionista a ganhar a prestigiosa bolsa Avery Fisher Career Grant. Formada pelo Peabody Institute, da Johns Hopkins University, e pela Yale School of Music, Ji Su Jung é agora uma solista requisitada universalmente e professora do Curtis Institute of Music e do Peabody Institute.
Sobre o Concerto, o compositor explicou como surgiu a inspiração: A melodia da abertura do Concerto foi provavelmente inspirada quando ouvi o aquecimento de um pianista no placo do Teatro Eastman enquanto por lá passava a caminho da aula. A tonalidade de mi bemol maior sempre me foi muito próxima devido à sua riqueza e também por aparecer com frequência nas obras de Mozart, em particular em dois de seus concertos para piano, que de certa forma serviram como modelo para a minha peça.
Ji Su Jung é acompanhada pela Baltimore Symphony Orchestra, regida pela maestrina Marin Alsop, que foi uma das primeiras a interpretar as obras de Kevin Puts.
Como eu gosto muito de ouvir o piano, na sequência teremos uma linda Sonata de Schubert interpretada pela maravilhosa pianista Maria João Pires.
Com uma carreira longa e de excelente qualidade, passou pelas gravadoras Denon e Erato e tem sido uma das estrelas do selo amarelo, Deutsche Grammophon. Esta sonata de Schubert é uma das mais belas e faz parte de um lançamento que reúne algumas obras de Schubert gravadas por Maria João Pires.
Para a última etapa da nossa compilação escolhi uma artista que chamou a atenção exatamente por desempenhar um papel que estava quase exclusivamente dominado por homens, interpretando grandes concertos para piano, como o Concerto em si bemol maior, de Brahms, o Concerto de Grieg, Concerto em mi bemol maior de Liszt e o Concerto em si bemol maior, de Tchaikovsky. Gina Bachauer nasceu em Atenas, de pais estrangeiros, e iniciou sua carreira na Grécia. Estudou em Paris com Alfred Cortot e nos anos 1930 trabalhou na França e na Suíça com Rachmaninov em seus Concertos para Piano. Ela tornou-se uma expoente nestes concertos, especialmente no de No. 3. Suas gravações para o selo Mercury são bastante conhecidas. Aqui podemos ouvir suas interpretações de algumas peças solo de Debussy e atuando como solista de um concerto de Mozart. A orquestra da gravação foi fundada pelo seu regente, Alec Sherman que foi o segundo marido de Gina Bachauer.
Eu sempre imagino Papa Haydn já idoso, compositor renomado, mais velho do que Mozart e Beethoven. Mas é fato que houve um jovem Joseph Haydn – cantor de coro que declinou da castrazione para manter a bela voz e que estudou música com outros mestres até tornar-se um mestre ele mesmo. Um destes músicos de uma geração anterior que a dele foi Nicola Porpora, que além de compositor de óperas foi professor de canto. Teve entre seus alunos famosos castrati, como Farinelli e Caffarelli. Haydn trabalhou como factótum (assessor para assuntos gerais) para Porpora enquanto este viveu em Viena e lembrava-se do mestre com um sorriso nos lábios. Aprendeu muito palavras italianas com ele, tais como asino, coglione e birbante. Havia também boas lembranças de cutucões nas costelas…
Foi também coisa da juventude de Haydn a composição de concertos diversos, nos primeiros anos que passou na Petit Versailles, a Corte de Estérhazy, para brindar os bons músicos que serviam a orquestra que estava a sua disposição.
Foi assim que surgiu, nos primeiros anos da década de 1760 o seu primeiro concerto para violoncelo, composto provavelmente para o violoncelista Joseph Weigl, que trabalhava ali. Aliás, o concerto ficou perdido por muito tempo, até ser redescoberto nos arquivos de um museu em Praga, em 1961. O manuscrito estava ao lado de um outro concerto de Joseph Weigl. De qualquer forma, a primeira frase do concerto havia sido registrada por Haydn em um catálogo de obras que ele começara a fazer em Estérhazy.
O segundo concerto é tecnicamente mais difícil e foi escrito em 1783. Este foi atribuído a Anton Kraft, outro violoncelista que atuou em Estérhazy. Anton foi excelente violoncelista e deve ter dado seus pitacos na parte técnica do concerto, coisa que pode ter ajudado a causar a confusão. Kraft foi o violoncelista para quem Beethoven escreveu a parte de violoncelo de seu Concerto Triplo.
Neste ótimo disco os dois concertos são apresentados pelo violoncelista Christian-Pierre La Marca, acompanhado pela orquestra com prática de instrumentos de época, Le Concert de la Loge, regida por Julien Chauvin. O disco traz ainda obras de outros compositores da época, perfazendo um agradável programa musical. Temos uma ária do Nicola Porpora, cantada aqui pelo ótimo contratenor Philippe Jaroussky, um movimento (largo) de um concerto para violoncelo, também de Porpora, uma Sinfonia Concertante, que fora deixada inacabada por Mozart, numa reconstrução feita por Robert Levin. E também uma transcrição para violoncelo da música de balé de Gluck, danse des ombres heureuses, escrita para a ópera Orphée et Eurydice, feita por Christian-Pierre La Marca.
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 1 em dó maior, Hob. VIIb:1
Cadenza: Christian-Pierre La Marca
Moderato
Andante
Allegro molto
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Concerto para violoncelo em sol maior
Largo
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Reconstrução: Robert Levin
Sinfonia Concertante em lá maior (KV Anhang 104 / 320E)
Fragmento
Christoph Willibald Gluck (1714 – 1787)
Orphée et Euridice
Dança dos Espíritos Abençoados (Transcrição de Christian-Pierre La Marca)
Nicola Porpora (1686 – 1768)
Gli orti esperidi
Ária: Giusto amor tu che m’accendi
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para violoncelo No. 2 em ré maior, Hob. VIIb:2 (Op. 101)
Cadenza: Maurice Gendron
Allegro moderato
Andante
Allegro
Christian-Pierre La Marca, violoncelo
Philippe Jaroussky, contatenor (Gluck)
Julien Chauvin (violino) e Adrien La Marca (viola) (Mozart)
Partes da entrevista dada por Christian-Pierre e Julien:
LM: I wanted this program to introduce new ways of listening to Haydn’s concertos. The title of the album Legacy emphasizes more of the aspect of transmition than that of inheritance – the goodwill one generation passes on to the next, the encounters between musicians who hand down a tradition, the development of styles of writing for the instrument.
JC: Haydns’s concertos are often recorded on their own, the fact that they are ‘enveloped’ in other pieces gives them an additional dimension.
Álbum de 2011 do Quarteto Ébène, ainda com Mathieu Herzog na viola. Ele foi trocado depois pela igualmente ótima Marie Chilemme. Aqui temos dois dos mais belos quartetos de Mozart e ainda o Divertimento K. 138 em versão para Quarteto de Cordas.
O Divertimento também é conhecido — em sua versão para cordas — como Sinfonia de Salzburgo Nº 3. Alguns estudiosos acreditam que os 3 Divertimentos K. 136, 137 e 138, compostos quando Mozart tinha 16 anos, são, na verdade, quartetos de cordas. Outros acham que são sinfonias às quais faltaria acrescentar as partes dos instrumentos de sopro. Entretanto, não parece haver nada de inacabado nessas obras.
O Quarteto de Cordas nº 19 em dó maior , K. 465, “Dissonâncias”, tem este nome devido a sua introdução lenta incomum. É talvez o mais famoso de seus quartetos. É o último do conjunto de seis compostos entre 1782 e 1785 e dedicados a Haydn.
O Quarteto de Cordas nº 15 em ré menor , K. 421, é o segundo dos Quartetos dedicados a Haydn e o único do conjunto em tom menor. Embora não datado no autógrafo, acredita-se que tenha sido concluído em 1783, enquanto sua esposa Constanze Mozart estava em trabalho de parto de seu primeiro filho, Raimund. Constanze afirmou que as figuras de cordas crescentes no segundo movimento correspondiam aos seus gritos da outra sala…
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Quartetos K. 421 e 465 (Dissonances) e Divertimento K. 138 (Ébène)
String Quartet Nº 15 K 421 In D Minor
1 I Allegro Moderato 8:05
2 II Andante 6:09
3 III Menuetto And Trio. Allegretto 4:05
4 IV Allegretto Ma Non Troppo 8:35
Divertimento K 138 In F Major
5 I Allegro 3:53
6 II Andante 5:00
7 III Presto 2:24
String Quartet Nº 19 K 465 ‘Dissonance’ In C Major
8 I Adagio – Allegro 11:33
9 II Andante Cantabile 8:14
10 III Menuetto And Trio. Allegro 5:08
11 IV Allegro Molto 7:55
Quarteto Ébène
Cello – Raphaël Merlin
Viola – Mathieu Herzog
Violin – Gabriel Le Magadure, Pierre Colombet
Fãs confessos que somos de Angela Hewitt, cada lançamento seu é muito comemorado por nós. E ganhamos de presente neste Natal de 2022 sua incursão nas sonatas para piano de Mozart. Não sei qual a reação dos senhores, mas cada vez que ouço qualquer uma destas sonatas sinto-me de bem com a vida. Essas obras animam e alegram meu coração, e como não se render a elas, mesmo às primeiras, obras juvenis, que já mostram o imenso talento do compositor?
Não sei se já comentei anteriormente com os senhores, mas estas sonatas me foram apresentadas pela primeira vez por Glenn Gould, e confesso que não entendi nada, ainda era jovem, e na verdade não entendi até hoje o que o grande pianista canadense pretendia. Algum tempo depois conheci Ingrid Haebler, pianista austríaca e uma das maiores intérpretes de Mozart, e foi só então que tive a oportunidade de apreciar melhor essas obras e poder imergir neste universo tão amplo, apesar de certos críticos considerarem as sonatas para piano obras menores dentre outras obras de Mozart.
Curiosamente, temos aqui outra canadense explorando este repertório, mas com maestria e respeito, com todo o respeito aos fãs de Gould, aos quais me incluo, mas mais especificamente às suas intervenções bachianas, estas sim geniais. As excentricidades cometidas por ele nestas obras me assustam até hoje. Para quem não sabe do que estou falando, sugiro uma das melhores postagens já feitas no PQPBach, com autoria do nosso querido Vassily Genrikhovich, que traduziu para nossa lingua uma ‘entrevista’ de Gould, onde ele explica as excentricidades citadas. E obviamente, nos traz as nefastas gravações.
Segundo Hewitt, que por sua vez cita Köchel, o responsável pela catalogação das obras de Mozart, estas sete primeiras sonatas foram datadas em 1778, então temos aqui um jovem de 22 anos de idade explorando todas as possibilidades do pianoforte, instrumento novo que ainda tentava se impor nas salas de concerto.
Neste CD duplo, Angela nos traz estas sete primeiras sonatas, e nos promete mais dois volumes, ambos cds duplos, onde pretende nos trazer a integral dessas obras. Esperamos ansiosamente. Enquanto isso, vamos degustando estas delícias aos poucos, como se estivessemos degustando um bom vinho.
Então vamos ao que viemos.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Sonatas para Piano de 1 a 7 (Angela Hewitt)
01. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K279 – 1: Allegro
02. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K279 – 2: Andante
03. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K279 – 3: Allegro
04. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in F major, K280 – 1: Allegro assai
05. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in F major, K280 – 2: Adagio
06. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in F major, K280 – 3: Presto
07. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in B flat major, K281 – 1: Allegro
08. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in B flat major, K281 – 2: Andante amoroso
09. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in B flat major, K281 – 3: Rondeau: Allegro
10. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in E flat major, K282 – 1: Adagio
11. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in E flat major, K282 – 2: Menuetto I & II
12. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in E flat major, K282 – 3: Allegro
13. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in G major, K283 – 1: Allegro
14. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in G major, K283 – 2: Andante
15. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in G major, K283 – 3: Presto
16. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 1: Allegro
17. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 2: Rondeau en polonaise: Andante
18. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 3: Tema: Andante –
19. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 4: Variation 1 –
20. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 5: Variation 2 –
21. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 6: Variation 3 –
22. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 7: Variation 4
23. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 8: Variation 5 –
24. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 9: Variation 6
25. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 10: Variation 7: Minore
26. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 11: Variation 8: Maggiore –
27. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 12: Variation 9 –
28. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 13: Variation 10
29. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 14: Variation 11: Adagio cantabile
30. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in D major, K284 – 15: Variation 12: Allegro
31. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K309 – 1: Allegro con spirito
32. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K309 – 2: Andante un poco adagio
33. Angela Hewitt – Mozart: Piano Sonata in C major, K309 – 3: Rondo: Allegretto grazioso
Mais uma vez a Terra está a completar uma volta em sua órbita celeste e nos aproximamos do fim deste peculiar ano de 2022. Alguns ciclos se completam, outros estão a vir, já anunciados. É um bom momento para, como Janus, olharmos para trás, considerando o que foi feito e desejarmos o que está chegando. Eu estou tentando criar espaço no presente para receber o que o futuro trará.
Passei em revista minha atividade no blog, entre 1 de dezembro de 2021 e 30 de novembro de 2022. Este ano não tive energia para verificar todas as publicações e limitei às que resultaram de meus próprios esforços. Estas postagens refletem meu envolvimento com música, que posso observar, é grande. Algumas delas foram fáceis de preparar, vindas de alguma boa inspiração, outras demandaram mais estudo e dedicação, mas todas me deram bastante prazer, ao longo do caminho. Prazer em ouvir a música, de eventualmente comparar com outras interpretações ou de seguir as direções que ela me apontava. Prazer também em burilar o texto, em catar as ilustrações e depois esperar que elas surgissem, no blog. Esperar os aguardados comentários, estes mais parcos do que eu gostaria. De qualquer forma, os que recebi ao longo deste período me pareceram sinceros e foi gratificante lê-los.
Olhar estas postagens mais uma vez me fez pensar o quanto é importante valorizar o tempo, que ouvir música demanda tempo. Talvez seja por isso que alguns de nós se agarre a um repertório mais restrito, voltando sempre aos mesmos intérpretes. Eu sou por demais curioso para isso, o que me força a constantemente abrir mão desse tipo de segurança, abrindo espaço para as novidades.
Neste período fiz 64 postagens e acabei selecionando uma playlist entre as peças que considerei representativas do total. Caso você tenha o tempo de ouvir, poderá se interessar em visitar a correspondente postagem e descobrir algumas outras novidades.
Três dessas postagens selecionadas são de nosso padroeiro, São Sebastião Ribeiro. Uma gravação estalando de nova das seis sonatas para cravo e violino, com o violinista Andoni Mercero e o cravista Alfonso Sebastián; um disco com cantatas para baixo interpretadas pelo (jovem) David Greco, acompanhado pelo Luthers Bach Ensemble, sob a direção de Tymen Jan Bronda; uma outra gravação (plena de reflexões feitas durante o afastamento social resultado da pandemia) das seis (maravilhosas) suítes para violoncelo pelo jovem e talentoso Bruno Philippe.
Duas postagens refletem essa minha busca por novidades. Assim, na minha playlist de Retrospectiva 2022 há duas peças que conheci este ano e que me impressionaram: num deles, o Concerto para Piano de Sir Michael Tippett, interpretado pelo veterano pianista Howard Shelley, com a Bournemouth Symphony Orchestra, regida pelo (late) Richard Hickox, num disco do selo Chandos, inglês em todas as instâncias; no outro, o Cantus Articus do compositor finlandês Einojuhani Rautavaara. A peça Cantus Articus foi a que me motivou investigar a música de Rautavaara e o disco também traz a sua Sinfonia No. 7 e o Concerto para flautas.
O repertório de música francesa dos séculos 19 e 20 aparece sempre nas minhas postagens e um exemplo é este disco de músicos poloneses (ótimos) tocando lindas peças de câmara com instrumentos de sopros, o Gruppo di Tempera. Veja o discreto charme deste La chaminée du roi René, de Darius Milhaud.
Outro exemplo é o disco Exotisme, sonorités pittoresques, com peças para piano solo ou a quatro mãos, interpretadas pelos ótimos Ludmilla Guilmaut e Jean-Noël Dubois. Uma mescla de música de compositores mais conhecidos com música de compositores que recebem menos exposição e que merecem maior divulgação. Muita alegria, charme e beleza, como num lindo buque de flores.
Cantores também me interessam muito e adorei ter conhecido o trabalho da mezzo-soprano Elisabeth Kulman cantando algumas canções de Mahler, acompanhada por um pequeno conjunto de músicos com o sugestivo nome Amarcord Wien.
Muito trabalho me deu a postagem das 40 árias, que passou incólume pelos nossos leitores. Muito trabalho, uma vez que ópera é um gênero musical que eu conheço pouco, mas muito prazer também em descobrir um pouco o sentido de tão belos momentos musicais. Para esta Retrospectiva 2022 escolhi algumas das árias que considerei mais emblemáticas. Entre elas Casta Diva, da ópera Norma, composta por Bellini, e Vissi d’arte, de Tosca, composta por Puccini.
Uma grata surpresa neste ano foi a descoberta da música para piano de Radamés Gnattali, num disco primoroso. O intérprete Luís Rabello é sobrinho do violonista Raphael Rabello e ótimo pianista.
Para completar essa retrospectiva, não poderia deixar de mencionar mais música barroca. Escolhi algumas sonatas de Scarlatti, parte da postagem de um disco da espetacular pianista Zhu Xiao-Mei e uma postagem dedicada ao Opus 3 de Vivaldi, pelo Concerto Italiano, sob a direção de Rinaldo Alessandrini. Esta coleção tem de especial o fato de que os concertos de Vivaldi estarem entremeados com algumas das suas transcrições feitas por Bach.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Sonata No. 6 em sol maior, BWV1019
Allegro
Largo
Allegro
Adagio
Allegro
Andoni Mercero, violino
Alfonso Sebastián, cravo
Cantata BWV 82 ‘Ich habe genug’
Ich habe genug
Ich habe genug! Mein Trost ist nur allein
Schlummert ein, ihr matten Augen
Mein Gott! Wann kömmt das schöne
Ich freue mich auf meinen Tod
David Greco, baixo
Joanna Huszcza, violino
Amy Power, oboé
Luthers Bach Ensemble
Tymem Jan Bronda
Suíte para Violoncelo No. 6 in D major, BWV1012
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Gavottes I & II
Gigue
Bruno Philippe, violoncelo
Michael Tippett (1905 – 1998)
Concerto para Piano e Orchestra
I Allegro non troppo
II Molto lento e tranquilo
III Vivace
Howard Shelley, piano
Bournemouth Symphony Orchestra
Richard Hickox
Darius Milhaud (1892 – 1962)
Le cheminée du Roi René, Op. 205
Cortege
Aubade
Jongleurs
La Maousinglade
Joutes sur l’arc
Chasse a Valabre
Madrigal – Nocturne
Gruppo di Tempera
Agnieszka Kopacka, piano
Agata Igras-Sawicka, flauta
Sebastian Aleksandrowicz, oboé
Adrian Janda, clarinete
Artur Kasperek, fagote
Tomasz Bińkowski, trompa
Gustav Mahler (1860 – 1911)
Ging heut morger übers Feld – Mahler (Lieder eines fahrenden Gesellen)
Ich atmet’ einen linden Duft – Rückert-Lieder
Blicke mir nicht in die Lieder – Rückert-Lieder
Liebst du um Schönheit – Rückert-Lieder
Adagietto – 4 movimento da Quinta Sinfonia
Elisabeth Kulman, mezzo-soprano
Amarcord Wien:
Tommaso Huber, acordeão
Sebastian Gürtler, violino
Michael Williams, violoncelo
Gerhard Muthspiel, contrabaixo
Einojuhani Rautavaara (1928 – 2016)
Cantus Arcticus, Op. 61 (Concerto para Pássaros e Orquestra)
Suo (Pântano)
Melankolia
Joutsenet muuttavat (Cisnes migrando)
Sinfonia Lahti
Osmo Vänskä
Claude Debussy (1862 – 1918)
Préludes, Livre 1, L. 117
Voiles
Ludmilla Guilmault, piano
Déodat de Séverac (1872 – 1921)
En Vacances, Vol. 1
Où l’on entend une vieille boîte à musique
Valse romantique
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
Gabriel Fauré (1845 – 1924)
Dolly, Op. 56
Le pas espagnol
Ludmilla Guilmault; Jean-Noël Dubois, piano
40 Best Arias
Bellini- Norma – Casta Diva – Maria Callas
Verdi- Rigoletto – La Donna E Mobile – Richard Leech
Bizet- Carmen – Habanera – ‘L’amour Est Un Oiseau Rebelle – Julia Migenes
Bizet- Carmen – Flower Song – Placido Domingo
Offenbach- Les Contes d’Hoffmann – Barcarolle – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
Mozart- Don Giovanni – Dalla Sua Pace – [Don Ottavio] – Hans-Peter Blochwitz
Delibes- Lakme – Flower Duet – [Lakme, Mallika]) – Jennifer Larmore & Hei-Kyung Hong
Verdi- La Traviata – Brindisi- Libiamo Ne’Lieti Calici – Neil Schicoff & Edita Gruberova
Puccini- La Boheme – Che Gelida Manina [Rodolfo]) – Jose Carreras
Puccini- La Boheme – Si. Mi Chiamano Mimi – Barbara Hendricks
Puccini- Tosca – Vissi D’arte’ [Tosca] – Kiri Te Kanawa
Puccini- Tosca – E Lucevan Le Stelle [Cavaradossi] – Placido Domingo
Gluck- Orphee Et Eurydice – J’ai Perdu Mon Eurydice – Susan Graham
Rossini- La Cenerentola – Non Piu Mesta [Angiolina] – Jennifer Larmore
Radamés Gnattali (1906 – 1988)
Rapsódia Brasileira
Poema de Fim de Tarde
Manhosamente
Uma rosa para o Pixinguinha
Luís Rabello, piano
Domenico Scarlatti (1685 – 1757)
Sonata em mi maior, K. 531 (L. 430)
Sonata em si menor, K. 87 (L. 33)
Sonata lá maior, K. 533 (L. 395)
Sonata em ré menor, K. 32 (L. 423)
Sonata em lá maior, K. 39 (L. 391)
Zhu Xiao-Mei, piano
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto No. 8 for 2 Violins in A Minor, Op. 3, RV 522
Allegro
Larghetto
Allegro
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto for organ after RV 522 in A Minor, BWV 593
[Allegro]
Adagio
Allegro
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto No. 10 for 4 Violins in B Minor, Op. 3, RV 580
Allegro
Largo
Allegro
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto for 4 Harpsichords after RV 580 in A Minor, BWV 1065
Estes dois discos têm me acompanhado no caótico trânsito de minha cidade nas últimas semanas e me dado tanto prazer que decidi fazer a postagem. Se o carro para no sinal, na geleia geral do trânsito ou no posto de gasolina, abro os vidros e deixo que essa exuberante arte do excesso se espalhe e impressione as pessoas, que me olham com alguma curiosidade.
As óperas têm estado presentes no blog, especialmente nas edições completas (e vastamente comentadas), mas aqui temos uma proposta diferente – coleção de árias – o crème de la crème. Veja o título: 40 Most Beautiful Arias – 40 Mais Belas Árias !
Há uma certa simplificação, pois que nem todas as faixas são árias, há alguns duetos também.
Eu confesso que costumava olhar com um certo desdém para este tipo de edição, por parecer um pouco populista, mas rendi-me à efetividade do produto, adorei ouvir essas belezuras, uma depois da outra… Realmente, é fácil criticar este tipo de lançamento, inclusive por deixar esta ou aquela outra ária de fora, pois que há muitas tantas tão bonitas, mas no fim dos discos chegamos ao entendimento de porque tantas pessoas se apaixonam por ópera. Além disso, a alternância tanto dos tipos de vozes quanto de estilos funcionou bem para mim.
No pacote há 18 compositores representados e o campeão é Puccini, com 11 árias, seguido de Mozart e Verdi, cada um com 5 números. Bizet tem 4 faixas, Handel 2 e o resto, uma cada.
Na escolha dos intérpretes os produtores devem ter tido um olho nos contratos, de forma que se poderia dizer que este ou aquele intérprete teria sido uma melhor opção. Mas não nos prendamos a essas coisas e se deixe levar pela onda da ópera, no que ela tem de melhor.
Há uma certa aura em torno de música clássica, ópera em especial, deixando uma impressão de inacessibilidade, que é necessário ter um gosto adquirido para de fato apreciar, mas isso é falso. As pessoas gostam (sempre gostaram) de ópera. Eu gosto do filme ‘O Feitiço da Lua’ (Moonstruck) pela história, mas também pela cena da ópera. O mocinho do filme (Nicholas Cage, quando jovem) é um padeiro que ama ópera e consegue levar a mocinha (Cher, a noiva de seu irmão mais velho) para uma noite na ópera. Mas não é um teatro qualquer, é o Metropolitan! A cena transmite toda a excitação e expectativa que antecede o espetáculo e mostra como as pessoas se envolvem com a apresentação. Pois bem, nem precisa vestir sua roupa de domingo, apenas ouça e deixe-se encantar pela magia dessas peças.
Moonstruck – Loretta e Ronny vão à Opera
As estrelas do disco:
Disco 1
Nessun dorma (Ninguém durma) – ária do Ato III de Turandot (1926), de Giacomo Puccini. A princesa Turandot decretara que ninguém poderia dormir na cidade de Pequim até o nome do príncipe (Calaf) lhe ser revelado. Calaf havia concordado que morreria caso seu nome fosse descoberto antes do amanhecer. Ele canta certo de que o esforço será em vão e que ao amanhecer ele mesmo dirá seu nome à princesa ganhando assim a sua mão em casamento. O papel é de um tenor. Neste disco, a ária é cantada por Placido Domingo que teve uma voz maravilhosa…
L’amour est un oiseau rebelle (O amor é um pássaro rebelde) – Habanera – Ária do Ato I de Carmen (1875), de Georges Bizet. A ária é cantada pela própria protagonista, ao sair do trabalho, na fábrica de charutos. Carmen é a própria sedução, falando sobre o amor e as loucuras de amar. O papel é escrito para um mezzo-soprano, e a intérprete é Julia Migenes. Carmen é uma ópera especial entre todas, não só pela música maravilhosa, mas pela audácia dos temas e, é claro, termina em tragédia.
Una furtiva lacrima – ária de L’elisir d’amore (1832), ópera de Gaetano Donizetti, cantada por Nemorino, um jovem camponês. Ele está cheio de confiança por ter tomado a segunda dose da Poção do Amor (na verdade, apenas vinho) e esnoba todas as belas da vila, reunidas e interessadas nele devido à fortuna que acabara de herdar. Entre elas está Adina, que fica magoada com sua indiferença e sai. Nemorino assim descobre que ela está interessada nele e canta sua alegria por descobrir que ela o ama. Aqui o tenor é Roberto Alagna.
Je dis que rien ne m’épouvante (Posso dizer que nada me assusta…) – ària de Carmen, cantada por Micaëla, uma jovem da vila de Don José e que está apaixonada por ele. Carmen mete Don José em tantas confusões que a ele só resta unir-se aos contrabandistas (Dancaïre e Remendado, ótimos nomes…) que vivem escondidos nas montanhas. A pobrezinha Micaëla vai a sua procura e para afugentar seu próprio medo, canta essa canção.
Au fond du temple saint também é de Bizet, mas da ópera Les pêcheurs de perles (1863) e não é uma ária, é um dueto. Os personagens são Nadir e Zurga, dois vértices de um (surpresa) triângulo amoroso. Os cantores aqui são Jerry Hadley e Thomas Hampson.
Ombra mai fu (também conhecida como Largo de Handel) – é uma ária da ópera Xérxes (1739), de Georg Frideric Handel. Muito conhecida, a ária é cantada por Xérxes para uma árvore, um plátano, louvando suas maravilhas… Aqui Xérxes é a cantora Jennifer Larmore.
When I am laid in earth – é um lamento cantado por Dido, na ópera Dido and Aeneas (década de 1680) de Henry Purcell. O sem-coração do Aeneas se apaixona por Dido, uma rainha, mas deve retornar à sua pátria e a abandona. É claro que ela vai se matar por isso, mas não sem antes nos cantar este maravilhoso lamento… Remember me, remember me, but ah! forget my fate! Aqui o lamento é da maravilhosa Véronique Gens.
Voi che sapete che cosa è amor – ária da ópera Le Nozze di Figaro (1786) do cara que sabia de tudo sobre ópera, Wolfgang Amadeus Mozart. A ária é cantada por Cherubino, um jovem pajem que vive apaixonado por todas as mulheres da ópera e canta para elas essa linda canção sobre o amor de dentro de seu uniforme militar… É claro que o papel é sempre de uma cantora (contralto) e aqui é a spettacolare Cecilia Bartoli.
Soave sia il vento – duetto de Così fan tutte (1790), outra do grande Mozart. Esta ópera é sobre (in)fidelidade no amor – rola uma aposta e dois casais serão submetidos a uma série de provas. Os mocinhos partem em um barco (de mentirinha, é claro) e as mocinhas, Dorabella e Fiordiligi, junto ao cético Don Alfonso, dão adeusinhos a eles, desejando que bons ventos os levem… As cantoras aqui são as famosas Kiri Te Kanawa e Frederica von Stade, que leva nobreza até no nome.
Mon coeur s’ouvre à ta voix – ária da ópera Samson and Delilah (1877) de Camille Saint-Saëns. Não consigo pensar nessa ópera sem lembrar dos filmes de Cecil B. DeMille, com Victor Mature e a deslumbrante Hedy Lamarr (deve ser um lance de numerologia, esse nome). Mas, voltando ao assunto, temas bíblicos como esse eram usados para um bom libreto, e essa ária é o momento no qual Dalila encanta e seduz o povero Sansão. A cantora aqui é o mezzo-soprano Olga Borodina e no finalzinho da ária o tenor José Cura da a voz a um balbuciante Sansão.
Pourquoi me réveiller, ária da ópera Werther (1887), de Jules Massenet. Você provavelmente sabe, Os Sofrimentos do Jovem Werther é um livrinho escrito por Goethe contando a história do mísero Werther, que está apaixonado pela Charlotte, que o ama de volta, mas está casada com outro homem. Sofrência no úrtimo com o terrível desfecho, suicídio do pobrezinho. O livro é um clássico, dizem autobiográfico (menos a parte do suicídio…) e gerou uma onda de suicídios nos dias de seu lançamento. Nesta ária, Werther lembra-se, ao lado de Charlotte, das suas leituras de poesias… O cantor é o tenor Jerry Hadley.
La donna è mobile, canzone do ato III, de Rigoletto (1851) ópera de Giuseppe Verdi. Essa é uma dessas óperas que você precisa ouvir pelo menos uma vez. Aqui o Duque de Mantua, um grande mulherengo, a là Don Giovanni, canta disfarçado de soldado está linda ária com palavras nada altaneiras sobre o caráter mundano das mulheres… O tenor aqui é Richard Leech.
Canção da Lua é uma ária da ópera Rusalka (1901), de Antonín Dvořák, mais conhecido pelo seu belíssimo Concerto para Violoncelo e pela Sinfonia ‘do Novo Mundo’. Rusalka conta a história de uma ninfa aquática que se apaixona por um humano. Aqui ela implora à Lua que revele ao príncipe (claro que o humano seria um príncipe…) o seu amor. A popularidade da ária sobrepujou a ópera e faz parte do repertório de grandes sopranos. Aqui está a cargo de Eva Urbanová.
Un bel di é uma ária de nosso campeão Puccini, da ópera Madama Butterfly (1904). Cio-Cio-San, a Madame Butterfly, espera já há três anos a volta de seu marido americano. Sua empregada Suzuki tenta convence-la que ele não retornará, mas ela crê na volta dele – Un bel di, vedreno o barco chegando e tal… Aqui a cantora é Cristina Gallardo-Domâs.
Donna non vidi mai é uma ária da ópera Monon Lescaut (1893), de (ta dã…) Puccini. O jovem cavaleiro Renato des Grieux acaba de conhecer e se apaixonar por Manon Lescaut. Desafortunadamente ela deve atender ao chamado de seu irmão, mas promete retornar. Ficando sozinho des Grieux canta nesta ária todo o seu amor por Manon. Quem empresta a voz a des Grieux aqui é José Cura.
Brindisi, de outra maravilhosa ópera de Verdi. Mais uma que precisa ser ouvida – La Traviata (1853). Alfredo, o mocinho da ópera, é convencido por Gastone e Violetta, a mocinha, a exibir sua voz. Ele então canta esta Canção de Brindar. Na gravação Alfredo é Neil Shicoff.
Vissi d’arte é a ária! Como todas as próximas neste disco, é de Puccini, da ópera Tosca (1900), talvez a ópera das óperas. A mocinha é ela mesma uma cantora de ópera (o cara era bom). Amor e música – as razões de viver de Tosca (Vissi d’arte = Eu vivo para a arte). A primeira cantora a cantar no papel de Tosca foi Giuditta Pasta, a mais famosa cantora lírica do século XIX. Foi Desdemona em Otello e teve três grandes óperas escritas para ela – Anna Bolena, La Sonnambula e Norma, na qual está a ária Casta Diva, que faz parte do segundo CD. Foi a partir daí que se passou a chamar essas mega artistas de Diva. Giuditta Pasta foi a primeira Diva! Aqui a Diva é Kiri Te Kanawa.
Che gelida manina (Que mãozinha gelada!) ária cantada por Rodolfo para Mimi, quando eles se encontram pela primeira vez. Eles são os protagonistas de mais uma ópera emblemática, La Bohème (1896), de (adivinhe) Giacomino Puccini. Ele aproveita para dizer que está apaixonado por ela. Aqui, o Rodolfo é o ótimo José Carreras.
Si, mi chiamano Mimi é da mesma ópera, mesmo momento. Rodolfo acabou de se declarar a Mimi e pede que lhe fale algo sobre ela. Bom, ela então lhe diz (cantando lindamente) que a chamam Mimi, apesar de seu nome ser Lucia. Ah, o amor! Mimi aqui é interpretada pela espetacular Barbara Hendricks.
O soave fanciulla– Depois dessas duas árias, os enamorados se reúnem nesse dueto que encerra o Primeiro Ato da ópera La Bohème. De novo, José Carreras e Barbara Hendricks são Rodolfo e Mimi.
Disco 2
O mio babbino caro (cuidado, não é ‘bambino’!) é uma ária famosa de uma (não tão famosa) ópera de um ato de Puccini, chamada Gianni Schicchi (1918). A ária é cantada por Lauretta, que implora a seu pai (babbino) – Ganni Sichicchi – que a ajude casar-se com o amor de sua vida, Rinuccio. Bom, nem os nomes ajudam muito, mas a ária é daquelas que está no repertório de todas as grandes cantoras. Aqui, Lauretta é interpretada por Cristina Gallardo-Domâs.
Ebben? Ne Andrò Lontana é uma ária da ópera La Wally (1892), escrita por Alfredo Catalani. Essa ária é cantada pela heroína, quando ela decide sair de casa para sempre. Bom, ela é uma garota tirolesa que morre jogando-se em uma avalanche de neve… Pois é, vá entender libretos de óperas. A cantora aqui também é Cristina Gallardo-Domâs.
Barcarolle é um dueto para soprano e mezzo-soprano de Les Contes d’Hoffmann (1881), a última ópera de Jacques Offenbach. Offenbach foi ótimo violoncelista e compôs inúmeras operetas de enorme sucesso. Essa Barcarolle tem uma das melodias mais populares do mundo e aposto como você vai se lembrar de já tê-la ouvido antes. Aqui as intérpretes são Jennifer Larmore e Hei-Kyung Hong.
La fleur que tu m’avais jetéeé outra pérola de Carmen, de Bizet. A canção da flor é um dos momentos mais líricos da ópera e traz o motivo do destino. Don José aqui é interpretado por Placido Domingo.
Signore, ascolta! É uma ária de Turandot, que como você já sabe, é de Puccini. A ária é cantada por Liu, uma escrava, para o príncipe Calaf, por quem está secretamente apaixonada! Ela o alerta para não arriscar sua vida pela fria princesa Turandot… Liu aqui é interpretada por Kiri Te Kanawa.
Un di felice é um dueto do primeiro ato da espetacular La Traviata (1853) de Giuseppe Verdi. Alfredo e Violetta cantam o tema mais famoso da ópera, que aqui são interpretados por Neil Shicoff e Edita Gruberova.
Dôme épais le jasmin– dueto da ópera Lakmé (1883), de Léo Delibes, cantado por Lakmé e sua serva Mallika, enquanto vão colher flores às margens de um rio. Um destes temas que são maiores do que a própria ópera, assim como a Barcarolle, de Offenbach. Aliás, cantados aqui pelas mesmas intérpretes, Jennifer Larmore e Hei-Kyung Hong.
Porgi amor– Cavatina do Segundo Ato de Le Nozze di Figaro (1786), de Mozart. A condessa, Rosina, só em seu quarto, lamenta a infidelidade de seu marido, o Conde de Almaviva. Ária curta, sem repetições, na qual a quase impossível simplicidade de Mozart transborda numa pequena joia. Aqui a condessa é Lella Cuberli.
Dalla sua pace – Ária da ópera Don Giovanni (1787), composta pelo divino Mozart, e é cantada por Don Otavio, noivo de Donna Anna. Eu tinha um amigo que o chamava Don Otário, pois o personagem é assim, um dois de paus, nada faz de interessante, mas é o tenor da ópera, onde o Don, Leporello e Masetto são todos baixo-barítonos. Isso sem contar o Comendador, que é um baixo à la Ghiaurov. Dalla sua pace foi composta para a apresentação da ópera em Viena, depois do sucesso em Praga, pois o tenor do dia não conseguia cantar a segunda ária de Don Otavio – Il mio tesoro – cuja parte …cercate…, é de matar de difícil. Aqui a bela Della sua pace está aos encargos de Hans Peter Blochwitz.
Casta Diva, assim como Vissi d’arte, é uma das mais famosas árias do repertório de soprano. A ópera é Norma (1831), de Bellini. Não é o capitão da Seleção Brasileira de Futebol de 1958, cuja estátua se encontra em frente ao Maracanã, mas Vincenzo Bellini, que escreveu o papel para Giuditta Pasta, a primeira das Divas. Aqui, a intérprete é Maria Callas, a Diva do século XX. O que realmente torna uma cantora uma Diva é a paixão que coloca em suas interpretações, assim como seu senso teatral.
Lascia ch’io pianga – Retornando no tempo, essa é uma ária da ópera Rinaldo (1705), de Handel. Como você pode imaginar, este é um lamento, construído sobre uma sarabanda. Logo após se casar com Rinaldo, Almirena é raptada por Armida. Ela está só no jardim de Armida e canta este seu lamento. A cantora na gravação é Marilyn Horne.
J’ai perdu mon Eurydice – essa memorável ária é da versão em francês de Orpheé et Eurydice (adaptada em 1774 da versão em italiano). Em italiano é Che faro senza Euridice (1762). Uma das mais lindas melodias colocadas em uma ária. Inesquecível mesmo após a primeira audição. A cantora aqui é Susan Graham.
Bein Männern, welche Liebe fuhlen – é um dueto da ópera Die Zauberflöte (1791), de Mozart. Pamina e Papageno cantam juntos um dueto sobre o amor em geral, mas não cantam um para outro, pois que não são parte de um par amoroso. Nesta gravação os cantores são Rosa Mannion e Anton Scharinger
Celeste Aidaé a ária na qual Radamés, escolhido para comandar os invasores etíopes, canta sua esperança de ser o grande vencedor para assim ganhar também o amor de Aida. A ópera Aida (1871), de Giuseppe Verdi, é uma daquelas obras que é reconhecida por todos e as suas montagens podem envolver quase um universo. Aqui Radamés está ao encargo de Placido Domingo.
Chi il bel sogno di Doretta, da ópera La Rondine (A Andorinha) (1917) de Puccini. Nesta ária a protagonista Magda conta como Doretta se apaixonou por um estudante. Na ópera, por sua performace, Magda ganha um colar de pérolas, que aqui vai para Kiri Te Kanawa.
Quizz do PQP Bach: Qual é a série de cuja trilha sonora esta ária faz parte?
Amor ti vieta é uma ária da ópera Fedora, de Umberto Giordano. Como parte de seu plano de vingança, Fedora (1898) seduz o Conde Loris Ipanov. Nesta ária eles se encontram em uma festa e ele diz a ela que realmente a ama. O conde aqui é Placido Domingo.
Es lebt eine Vilja (Vilja-Lied) é da ópera Die Lustige Witwe (1905), de Franz Lehár. Em sua festa Hanna conta a história de um espírito da montanha, uma Vilja, que vaga por lá e seduz os caçadores com sua beleza. A cantora aqui é Karita Mattila.
E lucevan le stelle é do Terceiro Ato de Tosca, de Puccini. Mario Cavaradossi é o mocinho (literalmente) da ópera, um jovem e liberal pintor, amante de Tosca. Nesta belíssima ária Cavaradossi troca sua última posse, um anel, para que um guarda leve uma carta para sua amada Tosca. Enquanto ele escreve a carta, canta seu amor por Tosca e pela vida. Mais uma vez, a voz linda de Placido Domingo.
Ave Maria é uma ária da ópera de maturidade de Verdi, Otello (1887). Desdemona reza à Virgem Maria um pouco antes de Otello entrar e cego de ciúmes, matá-la. Pois é, feminicídio é comum nas óperas… A Desdemona da vez é Cristina Gallardo-Domâs.
Non più mesta accanto al fuoco é da ópera La Cenerentola (1817), de Gioacchino Rossini. Ele mão poderia faltar , este genial compositor. Essa ópera é baseada no conto de fadas Cinderela, e foi composta em apenas 24 dias. Este é um dos momentos finais da ópera, onde a Cinderela canta que já não fica mais triste perto do fogo. Muito virtuosismo, mas a melodia aqui é a mesma de uma ária cantada pelo Conde Almaviva no final de O Barbeiro de Sevilha. Não por pouco que Rossini tinha fama de preguiçoso. Compunha deitado em sua cama. Se a folha em que estava escrevendo caísse, em vez de pegá-la do chão, ele começava tudo novamente em uma outra mais à mão. A cantora aqui é Jennifer Larmore.
Com a caneta ainda quente da última postagem, ouvi este disco e (quase) pude afirmar – é ainda melhor! O Concerto para Piano No. 23 de Mozart é um primor de simplicidade! E ainda temos um solista espetacular. Os discos de Andreas Staier podem ser um pouco estranhos, mas são sempre interessantes. Aqui ele é o solista de uma das obras e precisa ser ouvido. O piano participa (discretamente) do tutti inicial, como deve ter sido nos dias de Mozart, aguça a nossa curiosidade, antecipando sua entrada como solista.
O formato do disco segue o do álbum anterior – uma abertura de ópera, um concerto e uma sinfonia. Enquanto no disco anterior, a abertura do Fígaro era pura alegria e júbilo, a do Don Giovanni tem também um clima de mistério, de tons ameaçadores, como era de se esperar para uma ópera que mistura com maestria drama, comédia e uma dose de sobrenatural.
No concerto temos uma aula prática de ornamentação, pois que Andreas Staier é um solista sensacional. E a aula continua numa ótima entrevista dele no livreto. Ele fala de uma partitura com anotações de Barbara Ployel, uma aluna de Mozart. Essas anotações teriam sido feitas logo após uma das aulas com o compositor. Staier, no entanto, diz: Boa ornamentação não é como colocar maionese e ketchup sobre todas as (batatas) fritas, mas é preciso saber quando deixar espaços entre certas passagens, ornamentando outras, de maneira bem elaborada. Staier também tem uma palavra sobre o instrumento usado: magnífico, construído por Christoph Kern, uma cópia de um fortepiano construído por Anton Walter, por volta de 1790. Para a música de Mozart, você precisa de um teclado que possa cantar…
Para concluir, a Sinfonia No. 40, em sol maior, que contrasta com sua irmã – Júpiter – que está no outro disco, por ser um pouco mais tímida, mas quem pode esquecer de seus primeiros acordes – ta-da-dam, ta-da-dam, ta-da-dam-tam… e que aqui termina com uma imensa alegria. Um disco para ouvir várias, várias vezes!
Uma das críticas: But all-in-all these are challenging and rewarding performances of familiar masterpieces that make the listener prick up his ears anew, not always a foregone conclusion. Brian Robins