In memoriam Leon Fleisher (1928-2020): Two Hands

O terceiro ato da incrível trajetória de Leon Fleisher começou na década de 90, quando, após mais de trinta anos sem tocar com as duas mãos, a misteriosa condição que levou seus dedos da direita a desobedecerem-no ganhou um nome.

A distonia focal, de causas ainda não bem compreendidas e sem cura definitiva, leva os músculos a contraírem-se involuntariamente. Fleisher, que nunca desistira de voltar a tocar com as duas mãos, submeteu-se a tratamentos experimentais com toxina botulínica e recuperou o controle sobre os dedos amotinados. Depois de alguns recitais pouco divulgados, anunciou, para assombro do mundo, que voltaria aos palcos com um repertório convencional.

Enquanto deixava claro que não estava curado, pois as injeções de Botox precisavam ser repetidas a cada poucos meses, Fleisher pegou novamente a estrada e voltou a ser aclamado, também, por sua mão direita. Embora sem dúvidas tenha sido cuidadoso com as dificuldades propostas pelo repertório – o que, enfim, qualquer pianista a caminho dos oitenta anos faria de qualquer maneira -, jogou-se com muito apetite à carreira bimanual. Sem abandonar suas atividades pedagógicas, passou a apresentar em concertos e recitais não só o repertório para uma e duas mãos, com também regeu concertos do teclado e peças orquestrais do pódio (o trabalho de regente, brincava ele, dava-lhe a sensação da “bunda crescer dez vezes, depois de tantos anos escondendo-a da plateia”). Tocou muito jazz, também, instigado pelo filho Julian, compositor e cantor do gênero que, por ser o primeiro filho do segundo casamento de Fleisher, era por ele bem-humoradamente chamado de “Op. 2, no. 1”.

Em 2004, depois de quarenta anos sem gravar com as duas mãos, ele lançou um álbum chamado… “Duas Mãos”. O repertório combina um pot pourri de peças curtas, pelas quais Fleisher tinha carinho especial – a peça de Bach/Petri lhe soava como um “antônimo ao 11 de setembro”, e o noturno de Chopin era a peça favorita de sua mãe – com a monumental, derradeira sonata de Schubert, uma das peças favoritas do pianista. e que ele já gravara no vigor de seus trinta e poucos anos. Mesmo que desmerecêssemos a obstinada, belíssima trajetória de superação que tornou possível esta gravação, não precisamos olhá-la com admiração ou piedade para apreciar seus imensos méritos artísticos. Talvez os dedos do jovem virtuoso que conseguiu a proeza de tocar George Szell sem levar um sabão sequer do tirano fossem capazes de mais prestigitação melhor, mas quem compara a gravação da D. 960 com aquela que Fleisher fez da mesma obra aos trinta e poucos anos encontra na versão de 2004 um maravilhoso controle do andamento e uma sabedoria, especialmente no expressivo uso dos silêncios, que escancaram sua superioridade.

A sonata de Schubert é daquelas obras, como a Op. 111 de Beethoven, à qual só se pode seguir silêncio. Com ela, pois, encerramos nossa homenagem ao grande homem que nos deixou há exatos trinta dias, depois de tanto dar ao mundo em oito décadas de carreira.

Descanse em paz, Leon – e grato por tudo.

LEON FLEISHER – TWO HANDS

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Myra Hess (1890-1965)

1 – Jesu, Joy of Man’s Desiring (transcrição para piano do coral “Jesus bleibet meine Freude”, da cantata “Herz und Mund und Tat und Leben”, BWV 147)

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Egon Petri (1881-1962)

2 – Sheep May Safely Graze (transcrição para piano da ária “Schafe können sicher weiden”, da cantata “Was mir behagt, ist nur die muntre Jagd”, BWV 208)

Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)

3 – Sonata em Mi maior, K. 380 (L. 23)

Fryderik Franciszek CHOPIN (1810-1849)

4 – Mazurka em Dó sustenido menor, Op. 50 no. 3
5 – Noturno em Ré bemol maior, Op. 27 no. 2

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)

6 – Suite Bergamasque: Clair de Lune

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

Sonata em Si bemol maior, D. 960, Opus Póstumo

7 – Molto moderato
8 – Andante sostenuto
9 – Allegro vivace con delicatezza
10 – Allegro ma non troppo

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Leon Fleisher – Two Hands from Thomas Duperre on Vimeo.
A incrível trajetória de Leon Fleisher e seu comovente retorno ao repertório para as duas mãos inundam de emoção os vinte minutos de “Two Hands – The Leon Fleisher Story”, documentário realizado por Nathaniel Kahn em 2006.

Vassily

Debussy / Fauré / Poulenc / Ravel: ‘Fantasque’ – Sonatas para Violino – Franziska Pietsch, violino – Josu De Solaun, piano

Debussy / Fauré / Poulenc / Ravel: ‘Fantasque’ – Sonatas para Violino – Franziska Pietsch, violino – Josu De Solaun, piano

Fauré – Debussy

Ravel – Poulenc

Sonatas para Violino

Franziska Pietsch, violino

Josu De Solaun, piano

Um disco FANTASQUE! Com sabor gálico! Eu disse gálico, não gárlico… Brincadeiras à parte, temos aqui um disco maravilhoso reunindo quatro sonatas para violino e piano de quatro mestres franceses, compostas ao longo de um período de perto de 70 anos. Da Sonata No. 1 de Gabriel Fauré, composta em sua juventude, passamos para a Sonata para violino de Debussy, escrita quando ele já estava no fim de sua vida e faz parte de um conjunto planejado para seis sonatas, das quais apenas três chegaram a ser completadas. Depois a segunda sonata de Ravel, pois acabaram descobrindo uma primeira sonata mais de juventude, e a sonata de Poulenc, já mais modernosa, mas ainda com todos as características da tradição de sonatas para violino francesas.

Franziska…

Claro, há outras belíssimas sonatas que poderiam ter chegado ao disco, como a de César Franck, que nasceu em Liège, mas classifica para nossas ‘sonatas francesas’, para citar apenas uma. Para que olhar para a grama verde do vizinho, se já temos aqui um painel esplêndido para um recital e tanto, não acham?

Falando um pouco nos intérpretes, Franziska Pietsch é violinista nascida em Berlim Oriental de uma família de músicos, foi criança prodígio. Mudou-se para Berlim Ocidental em 1986 e estudou com Ulf Hoelscher e depois com Dorothy DeLay, na Julliard School, em Nova Iorque. Foi spalla em várias orquestras e também atou com solista e como musicista de câmera.

 

Josu

O pianista Josu De Solaun é um pianista espanhol que ganhou o primeiro prêmio em uma edição da Competição Internacional de Piano de Bucareste, como antes dele o fizeram Radu Lupu e Elisabeth Leonskaja. Seus principais professores foram Nina Svetlanova e Horacio Gutiérrez.

O libreto que está no pacote tem muito bom texto escrito pelo De Solaun, no qual ele explica a escolha do repertório do disco feita pela dupla de músicos: ‘Debussy e seu mundo de sonhos aforísticos; a mistura de humor sardônico com a sensualidade e gravitas sutilmente disfarçada de Poulenc; a urbanidade eclética, pastoral, melancólica de Ravel; e a nostálgica finesse e a aristocrática verve de Fauré’.

Realmente, um disco muito, muito bom. Dos adjetivos usados pelo De Solaun, sensualidade é o que transparece no som produzido pela dupla. Achei, na primeira audição, que o andamento escolhido era um pouquinho lento, mas depois, me rendi completamente. Gostei demais. Especialmente da sonata do Ravel. O movimento lento, um Blues, moderato, é especial. E a maneira como o piano e o violino provocam um ao outro, logo no início do último movimento, vale o disco. Não se faça de rogado, estes dois músicos não são ícones dos seus respectivos instrumentos, mas são espetaculares!

Gabriel Fauré (1845 – 1924)

Sonata para violino No. 1 em lá maior, Op. 13

  1. Allegro molto
  2. Andante
  3. Allegro vivo
  4. Allegro quasi presto

 

Claude Debussy (1862 – 1918)

Sonata para violino em sol menor

  1. Allegro vivo
  2. Intermède: fantasque et léger
  3. Finale: três animé

Maurice Ravel (1875 – 1937)

Sonata para violino No. 2 em sol maior

  1. Allegretto
  2. Moderato
  3. Perpetuum mobile. Allegro

Francis Poulenc (1899 – 1963)

Sonata para violino

  1. Allegro con fuoco
  2. Très lent et calme
  3. Presto tragico – Strictement la double lent

Franziska Pietsch, violino

Josu De Solaun, piano

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O título do álbum foi encontrado no movimento lento da Sonata de Debussy. Boa inspiração! Aproveite!

René Denon

Classical Music For Dummies – The essentials – vol. 3/50 – Dietrich Fischer-Dieskau (1925-2012)

“Música Clássica para Leigos” (“Classical Music For Dummies”) é uma série de lançamentos projetados pela Deutsche Grammophon para oferecer aos  leigos recém-chegados uma introdução perfeita ao mundo da música clássica.

A série é composta por 50 CDs de música clássica dedicados a diferentes compositores, maestros, pianistas, violinistas e cantores, a maioria contratados ou ex-contratados pela gravadora.

Dietrich Fischer-Dieskau – The Essentials

Dietrich Fischer-Dieskau (28 de maio de 1925 – 18 de maio de 2012) foi um barítono lírico alemão e maestro da música clássica, um dos mais famosos artistas de Lieder do período pós-guerra (Lied é uma palavra da língua alemã, que significa “canção”. É um termo tipicamente usado para classificar arranjos musicais para piano e cantor solo, com letras geralmente em alemão, utilizado para expressar em sons os sentimentos descritos nas letras), mais conhecido como cantor de Lieder, de Franz Schubert, particularmente os 24 poemas de “Winterreise”, cujas gravações com o acompanhante Gerald Moore e Jörg Demus ainda são aclamadas pela crítica meio século após seu lançamento.

Gravando uma série de repertórios (abrangendo séculos), como afirmou o musicólogo Alan Blyth: “Nenhum cantor de nossa época, ou provavelmente qualquer outro, conseguiu o alcance e a versatilidade do repertório alcançado por Dietrich Fischer-Dieskau. Ópera, Lieder e oratório em alemão, italiano ou inglês parecia ter sido feito para ele, e ele trouxe a cada um uma precisão e individualidade que revelavam suas percepções sobre o idioma em questão “. Além disso, ele gravou em francês, russo, hebraico, latim e húngaro. Ele foi descrito como “um dos artistas vocais supremos do século 20” e “o cantor mais influente do século 20”.

Fischer-Dieskau foi classificado como o segundo maior cantor do século (depois de Jussi Björling) pelo Classic CD (Reino Unido), ‘Top Singers of the Century” Critics Poll (junho de 1999). Os franceses o apelidaram de “O milagre Fischer-Dieskau” e Dame Elisabeth Schwarzkopf chamou-o de “um deus nascido que tem tudo”. No seu auge, ele era muito admirado por suas idéias interpretativas e controle excepcional de sua suave e bela voz. Apesar do pequeno tamanho de sua voz lírica / de barítono de câmara, Fischer-Dieskau também apresentou e gravou muitos papéis operísticos. Ele dominou a plataforma de ópera e concerto por mais de trinta anos. 

Fischer-Dieskau: Essentials
Franz Schubert (Austria, 1797-1828)
01. An die Musik, D. 547 (Op. 88/4)
Wolfgang Amadeus Mozart (Austria, 1756-1791)
02. Don Giovanni, K. 527 : “Fin ch’han dal vino”
Christoph Willibald Gluck (Alemanha, 1714 – Áustria, 1787)
03. Orfeo ed Euridice, Wq. 30 : No. 43 Aria: “Ach, ich habe sie verloren” (Arr. Alfred Doerffel)
Robert Schumann (Alemanha, 1810-1856)
04. Dichterliebe, Op. 48 : No. 1 Im wunderschönen Monat Mai
Franz Schubert (Austria, 1797-1828)
05. Der Musensohn, Op. 92, No. 1, D. 764
Wolfgang Amadeus Mozart (Austria, 1756-1791)
06. Die Zauberflöte, K. 620 : “Der Vogelfänger bin ich ja”
Giuseppe Verdi (Itália, 1813 – 1901)
07. La Traviata : “Di Provenza il mar, il suol”
Gustav Mahler (República Tcheca, 1860 – Viena, 1911)
08. Rückert-Lieder, Op. 44 : Ich atmet’ einen linden Duft
Wolfgang Amadeus Mozart (Austria, 1756-1791)
09. Le nozze di Figaro, K. 492 : “Vedro mentr’io sospiro”
Franz Schubert (Austria, 1797-1828)
10. Im Frühling, D. 882
11. Winterreise, D. 911 : No. 5 Der Lindenbaum
Robert Schumann (Alemanha, 1810-1856)
12. Dichterliebe, Op. 48 : No. 3 Die Rose, die Lilie, die Taube, die Sonne
Georges Bizet (França, 1838 – 1875)
13. Carmen, WD 31 : “Votre toast, je peux vous le rendre” – “Toréador, en garde”
Franz Schubert (Austria, 1797-1828)
14. Schwanengesang, D. 957 : Ständchen “Leise flehen meine Lieder”
Richard Strauss (Alemmanha, 1864 – 1949)
15. Ständchen, Op. 17, No. 2
Giuseppe Verdi (Itália, 1813 – 1901)
16. Don Carlo : “Dio, che nell’alma infodere”
Richard Wagner (Alemanha, 1813 – Itália, 1883)
17. Tannhäuser, WWV 70 : Wie Todesahnung… O du mein holder Abendstern (Wolfram)
Franz Schubert (Austria, 1797-1828)
18. Winterreise, D. 911 : No. 4 Erstarrung
Robert Schumann (Alemanha, 1810-1856)
19. Liederkreis, Op. 39 : Mondnacht
Richard Wagner (Alemanha, 1813 – Itália, 1883)
20. Die Meistersinger von Nürnberg, WWV 96 : “Was duftet doch der Flieder”
Ludwig van Beethoven (Alemanha, 1770-Áustria, 1827)
21. Fidelio, Op. 72 : “Ha! Welch ein Augenblick!”
Hugo Wolf (Eslovênia, 1860 – Áustria, 1903)
22. Italienisches Liederbuch : Ein Ständchen euch zu bringen
Claude Debussy (França 1862 – 1918)
23. Mandoline
Gustav Mahler (República Tcheca, 1860 – Viena, 1911)
24. Lieder eines fahrenden Gesellen : No. 3 Ich hab’ ein glühend Messer
Carl Orff (Alemanha, 1895 – 1982)
25. Carmina Burana / No. 2 In Taberna : “Estuans interius”

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Palhinha – 18. Winterreise, D. 911 : No. 4 Erstarrung

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Boa audição!

 

 

 

 

Avicenna

PS. Nosso colega René Denon adicionou um comentário de valor-

Olá, Avicenna!
A coleção vai de vento em popa! DFD é figurinha carimbada! Nesta coleção há muitas beleza que podem levar a futuras explorações ao resto da obra, bastando alguns cliques!
As canções de Schubert fazem uma parte substancial do repertório do Dietrich, como An Die Musik e Der Musenhohn. Para explorar mais esta vertente aqui tem uma coleção de lindas canções de Schubert:
https://pqpbach.ars.blog.br/2019/03/03/schubert-lieder-dietrich-fischer-dieskau-gerald-moore/

Ele também brilhou nos palcos das óperas como o Don Giovanni ou Papageno, com duas canções desta coleção – o tour de force Fin ch’han dal vino e a canção do apanhador de pássaros Der Vogelfänger bin ich ja. Estas duas óperas completas com as demais árias estão postadas aqui:
https://pqpbach.ars.blog.br/2019/05/05/wolfgang-amadeus-mozart-1756-1791-die-zauberflote-bohm-fischer-dieskau-wunderlich-berliner-philharmoniker/
https://pqpbach.ars.blog.br/2019/04/02/mozart-1756-1791-don-giovanni-dg-ferenc-fricsay/
Voltando ao mundo do Lieder, a canção alemã, o belíssimo Im wunderschönen Monat Mai é a canção que inicia o ciclo Dichterliebe e está aqui:
https://pqpbach.ars.blog.br/2020/06/14/schmnn210-robert-schumann-1810-1856-lieder-fischer-dieskau/
Acredito que outras pessoas vão identificar outras postagens com peças…
Grande introdução a arte deste que foi um dos mais importantes cantores de que temos notícia.
Abração do René

Claude Debussy (1862-1918): Melodies (Anne Marie Rodde & Noël Lee)

Renoir- “Lise costurando”, 1866

Nestes tempos do Cólera, no interstício de um dia idêntico ao anterior, fui contemplado com a complexa tarefa de costurar os fundilhos de um calção do meu filho, hoje com onze anos. Quisera ter a prestidigitação das minhas avós nestes casos, de remendar roupas e pregar botões com uma habilidade de Elfos! Posso se muito cerzir suturas dignas dos monstrengos da Hammer Filmes, da caratonha de alguma versão de Frankenstein, ou algo assim. Mas em meio ao esforço por acertar o “camelo pelo fundo da agulha” me veio um súbito e agradável apaziguamento; talvez aquela prática manual estivesse a me fazer bem. Senti-me subitamente antigo, como aquela bíblica vela num poema de Pessoa, no “sossego excessivo de noite de província”. E junto com esta névoa pessoana, uma forte nostalgia da “vie simple” de interior, de avós e amigos já idos; ruido de carroças na rua e cheiro de café; doces de panela das casas vizinhas ao cair do dia por cima dos muros; jasmins noturnos soltos nos breus; papagaio no poleiro do quintal dizendo “lôro!”. Coisa que Vinícius ilustrou bem sobre a tela melódica de Garoto. Proust teve sua madeleine e seu chá. Me sobrou linha e agulha para invocar uma maré de imagens e afetos tardios. Lembrei do velho amigo bibliófilo Antônio Oliveira (popularmente chamado Tonho de Dóssa, pois sua mãe se chamava Eudóxia), cujas paixões eram cinema, futebol e literatura. Era um daqueles doces e ingênuos comunistas, crentes no leite da bondade na essência humana. Contava-me que, da infância, se recordava de que noite a dentro, toda cidade jazente nos travesseiros, se ouviam as marteladas do agente funerário pregando seus modestos ataúdes. Hora a hora, o sino – aquele mesmo de Pessoa, com as badalas em eco. Depois de uns três nós e uma picada no dedo, pois que eu não tinha a utilíssima armadura que é o dedal, dessa bruma de memórias e sensações, me acometeu uma repentina nostalgia balzaquiana.

Balzaquiando

Não, não me refiro a nenhuma moçoila de trinta anos, mas à vontade de revisitar as páginas do labirinto de vidas da Comédia Humana. Um calidoscópio de figuras muitas vezes abjetas, como o esquivoso Vautrin, o rapinante usurário Gobseck, a feroz Prima Bete (com suas razões), o misterioso Ferragus; o ingênuo Primo Pons, o desventurado César Birotteau, o injustiçado Coronel Chabert. Dizia o ensaista Ortega y Gasset que é difícil de se gostar dos heróis de Balzac. De fato. O mundo de Balzac não é um conto de fadas, embora por vezes, em sua urdidura, ele se valha de certa fantasia como ilustração do real. Paris não é uma casa de bonecas, mas uma selva. Seus heróis, crias de rapina, a exemplo de Eugène de Rastignac, cujo sobrenome hoje é sinônimo de uma ambição ferina. O infelicíssimo Lucien de Rubempré, pobre talento provinciano que se envergonha do sobrenome do pai boticário; o pobre Goriot, sacrificado no altar do seu amor pelas filhas, duas greias dos diabos. Raphael de Valentim, ávido pelos prazeres mundanos, por fama e luxo, soçobra nas ilusões de um couro mágico de jumento. O grande sujeito em meio a este festival de horrores é David Séchard. Em Ilusões Perdidas, é o cunhado de Lucien. Este personagem nos lega este tesouro de sabedoria, que dirige ao amigo inutilmente, pois que por causa de suas dívidas, ele próprio iria parar atrás das grades: “Transporta para a região do ideal tudo o que pedes à tua vaidade. Loucura por loucura, põe a virtude em tuas ações e o vício em tuas ideias”. O carrossel de Balzac é povoado por aristocratas falidos, novos ricos que casam suas filhas com os mesmos em troca de títulos de nobreza à custo de dotes polpudos; estes, alegremente dilapidados pelos maridos junto às dançarinas, enquanto suas ‘condessas’ se inebriam com os jovens poetas. A sordidez impera. A usura, a ganância e o crime; a exploração dos papa-defuntos, a dureza do chão de Paris, as refeições caras e ruins – ao que parece, uma tradição parisiense até hoje: quando andei por lá nos trouxeram uma sopa que, se guarnecida com eletrodos, alimentaria toda a iluminação da Torre Eiffel numa noite de aniversário da Queda da Bastilha. A carne era de algum cavalo morto nas trincheiras da Comuna. Entretanto, através das brumas sobre a Pont Neuf, num coche fugaz, se entrevê a faísca fulva de ‘olhos dourados’ emoldurados por ‘cheveux de lin’. E com este lampejo solar, adentro em nosso elemento musical, saltando algumas décadas para a Belle Époque, no rastro de Msieur. Croche – Claude Debussy.

Deby, para os íntimos

A profusão de fontes sobre o Cláudio Aquiles dispensam desaguar-se em informações bibliográficas. Entretanto, através das suas cartas, ficamos surpresos como demonstrava ser um homem muito mais ligado à natureza do que um silvícola urbano. Deplorava, na verdade, a vida na muvuca parisiense, e também a hipocrisia das etiquetas e rituais sociais. A vida citadina, diz ele em certa missiva, deforma corpo e espírito. Ter vivido seus últimos anos nos arredores arborizados do Bois de Boulogne talvez tenha sido gratificante neste sentido, e alentador para com a sua condição de enfermo. Também não é preciso ressaltar a grandeza de seu gênio, de sua obra, de sua originalidade – se bem lembro o meu Tio Wilde escreveu em algum lugar que Debussy descobrira um novo continente na música; e o nosso maravilhoso Manuel Bandeira lhe dedicou linhas memoráveis de poesia. Uma divertida história envolvendo o autor de “O Tempo e o Vento”, melômano juramentado: Conta-se que na juventude o escritor encontrara nalgum sótão um disco sem rótulo, com uma peça divina que o perseguiu durante anos sem saber quem seria o autor. Décadas depois, num concerto e em companhia de sua esposa, um quarteto de cordas atacou a tal peça. Veríssimo saltou da cadeira e exclamou: “Mafalda! É Debussy, Mafalda!” Era o “Adantino, doucement expressif”do seu único, porém soberano Quarteto de Cordas. Talvez a história tenha sido um pouco diferente, mas não perde o sabor.

Deby e Satie

Deby, para os íntimos, foi gênio em todas as frentes de sua manifestação musical, uma vez que foi originalíssimo. Dizem, e em questão de arte as anedotas valem ouro, que o seu compadre, o também genialíssimo Erik Satie, o teria aconselhado a abandonar o ranço wagneriano – que naquele momento era algo ‘pandêmico’, e fazer com a sua música o que os pintores de então vinham fazendo em seus quadros – a saber, os impressionistas. Pouco mais jovem que Deby, Satie era como um irmão com quem Deby tomava um trago, discutia, elucubrava. Outra ótima anedota nos conta como Satie lhe remeteu peças para a sua apreciação e ele (logo ele) as criticou como peças ausentes de forma. Ao que Satie respondeu as intitulando de “Peças em Forma de Pera”. Mas Satie é outro ser especialíssimo, que merece um espaço só para ele. Prosseguindo com Deby, é difícil aquilatar em que gênero foi mais brilhante. Se nas peças para piano, se nas peças orquestrais ou de câmara. Podemos, se muito, ‘preferir’. E assim digo o que para alguns pode ser uma heresia: O seu conjunto de obras que mais amo são as canções, estas “Melodies”, tesouros do típico ‘miniaturismo’ francês (característica distinta da germânica, que de tanta ‘forma’ acaba por vezes caindo na ‘proforma’). A maioria dessas peças foi composta na juventude. Naqueles tempos em que Deby, jovem sátiro, namorava a genialíssima Camille, antes dela cair nas garras do espertíssimo Rodin, e muito antes de ser atirada no hospício pelo seu irmão, um poetinha mixuruca chamado Paul. Naqueles tempos Deby desfrutava da admiração de madames, em seus salões e possivelmente em suas alcovas. Muitas dessas canções foram dedicadas e dirigidas à performance dessas musas e mecenas. O material literário abraça inspiradíssimos poetas, a exemplo de Baudelaire com as suas atmosferas opiáticas e esfinges de pétrea beleza; Verlaine e seus “violinos de outono” (tão úteis na codificação dos Aliados em finais da II Grande Guerra); as névoas leitosas de verde absinto do brilhante Théophile Gautier; o estelar Théodore de Banville: “Noite de estrelas, sob os teus véus, sob tuas brisas e teus perfumes. Triste lira, que suspira, eu recordo os amores defuntos.” Também o menos conhecido, porém sublime Paul Bourget: “Alma vaporosa e fragrante, alma doce, alma odorante dos lírios divinos que eu colhi nos jardins do teu pensamento”.

Moi et Lui. En pèlerinage

Como se não bastasse preferir esse conjunto de obras de Debussy, padeço de outro problema: não consigo ouvir essas canções em voz masculina. Não tem acordo, para mim não funciona (o mesmo ocorre com as canções do namorado venezuelano de Proust, o maravilhoso Reynaldo Hahn) Acho grosseiro, herético, ‘déclassé’. Lembro de um disco maravilhoso do celebérrimo Fischer-Dieskau cantando esse repertório. Soberbo, porém, para mim, soa falso. Loucura, neurose, seja o que for, ninguém é obrigado a seguir ou concordar. Não se deve pontificar sobre arte. Quem vive de dogma é religião. Pois bem, hoje em dia temos intérpretes supremas dessas Melodies, as aprecio enormemente. Todavia, sempre irei preferir a senhorita Anne Marie Rodde aqui presente, acompanhada por um pianista fabuloso, o Sr. Noël Lee – que charme este trema sobre o ‘ë’. Deploro a proscrição do trema. Imagino uma corja de azedos acadêmicos com perucas imundas e fatos mofados, tramando maldades contra a gramática.  Sempre usei o trema e usarei, para mim a figura ortográfica mais singela e alegre – Ü – Não concordam?

Se em ermo crepúsculo um gentil fauno nos oferecesse um calidoscópio sonoro, por ele ouviríamos decerto as atmosferas destas canções: de véus e sedas esvoaçantes, perfumes fugidios, sombras lilases, rosas mortas, lettres oubliées, arlequins, sinos distantes, aquarelas, noturnos e névoas, manchas de vinho e absinto, vapores de lírios, de ópio e canabis… Nuit d’Étoile, Coquetterie Posthume, a surpreendente Chanson Espagnole a duas vozes, Le Romance d’Ariel… que joias!

Agradeço ao amigo que me apresentou estas Melodies, o velho Newman Sucupira (em memória), já homenageado em outra postagem. Nesta, deixo a dedicatória ao amigo Antônio Grampão, que apesar de alcunhado Brahmsiano, é um consumado amante da música de Debussy.

Debussy – Melodies – Disco 1

1 Nuit d’Étoile
2 Zéphir
3 Paisage Sentimental
4 Romance
5 Musique
6 Coquetterie Posthume
7 Regret
8 Romance
9 La Romance d’Ariel
10 Chanson Espagnole
11 Apparition
12 Pantomime
13 Clair de Lune
14 Pierrot
15 Romance
16 Les Cloches Trois
17 La Mer est Plus Belle
18 Le son du coeur s’afflige
19 L’echellonement des haies
20 En Sourdine
21 Fantoches
22 Clair de Lune

Claude Debussy – Melodies – Disco 2

1 Jane
2 Capriche
3 Rondeau
4 Aimons-nous et dourmons
5 La Fille aux Cheveaux de Lin
6 Calmes dans le Demi-jour
7 Reverie
8 Souhait
9 Le Lilas
10 Serenade
11 Il dort encore
12 Les Roses
13 Fête Galante
14 De Rêve
15 De Gréve
16 De Fleurs
17 De Soir
18 Soupir
19 Placet futile
20 Eventail

Anne Marie Rodde – Voix
Noël Lee – Piano

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“Jovem Decadente”, de Ramon Casas – 1899

Wellbach

Debussy (1862-1918): Préludes – Paul Jacobs, piano

Debussy (1862-1918): Préludes – Paul Jacobs, piano

Claude Debussy

Prelúdios

Paul Jacobs, piano

 

Com esta postagem completamos a apresentação das gravações de peças de Debussy feitas por Paul Jacobs para o selo Nonesuch. Aqui os Prelúdios, que como no caso de Chopin, somam 24, pelo menos se considerarmos aqueles reunidos por Chopin no Opus 28. No entanto, no caso de Debussy, não há um plano de contemplar as tonalidades, como no caso de Bach e Chopin. As suas motivações são outras. Uma análise disto está fora do escopo de uma simples postagem como esta, mas garanto que neste conjunto de peças há muito para se conhecer e admirar. Deixo aqui o link para um trabalho que, mesmo com muita informação técnica, poderá ser de boa leitura, se você tiver interesse e paciência de buscar as informações.

Fadas são encantadoras dançarinas…

Gostaria muito de imaginar que alguns de vocês vão ouvir várias vezes estas peças, pois que sucessivas audições permitem que nos aproximemos mais das intenções do compositor, tais como são reveladas pelo intérprete. No caso de Paul Jacobs, temos uma interpretação que busca não se interpor entre o compositor e o ouvinte e além de ser musicalmente muito refinada, é bastante afirmativa.

Em uma de minhas vidas passadas, durante um bastante rigoroso inverno, com muita neve e céus cinzentos, passei muitas tardes na companhia de uma outra gravação destas peças, mas as sucessivas audições me tornaram um absoluto admirador da obra. Não que tenha esgotado meu interesse por elas, muito pelo contrário, passei a buscar outras e outras gravações. Como não se render a tão pessoal e bela música?

Paul Jacobs

Pode haver título mais poético e evocativo do que ‘Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir’?   Este prelúdio foi inspirado pelo poema “Harmonie du soir”, de Baudelaire. No entanto, Debussy queria que os títulos viessem depois da música, sugerindo que a alusão do nome não deveria ser tomada ao pé da letra, como nos explica Jacobs no libreto da gravação.

Mas como não ser tocado por um título magistral como ‘La terrasse des audiences du clair de lune’? Aqui o título evoca uma noite em um templo na Índia. Faz me pensar no grande filme de David Lean, ‘A Passage to India’. Enfim, não demore e mergulhe logo neste maravilhoso conjunto de obras e o explore por bastante tempo.

Claude Debussy (1862 – 1918)

Préludes

Livre I
  1. Danseuses de Delphes
  2. Voiles
  3. Le Vent dans la plaine
  4. ‘Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir’
  5. Les Collines d’Anacapri
  6. Des pas sur la neige
  7. Ce qu’a vu le vent d’ouest
  8. La Fille aux cheveux de lin
  9. La Sérénade interroumpue
  10. La Cathédrale engloutie
  11. La Danse de Pluck
  12. Minstrels
Livre II
  1. Brouillards
  2. Feuilles mortes
  3. La Puerta del Vino
  4. ‘Les fées sont d’exquises danseuses’
  5. Bruyères
  6. ‘General Lavine’ – eccentric
  7. La Terrasse des audiences du clair de lune
  8. Ondine
  9. Hommage à S. Pickwick Esq. P.P.MP.C.
  10. Canope
  11. Les Tierces alternées
  12. Feux d’artifice

Paul Jacobs, piano

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FLAC | 229 MB

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MP3 | 320 KBPS | 192 MB

Espero que com esta e mais as outras duas postagens, possam ter revelado um pouco mais da arte tanto de Debussy quanto de Paul Jacobs.

Aproveite!

René Denon

Martha Argerich & Friends – Live in Lugano 2006

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A Saga Argerichiana continua, com seu Festival de Lugano. Espero que estejam gostando.

Estive pensando com meus botões e tentando lembrar o que estava fazendo em 2006, um ano após uma mudança de cidade que fiz, o que ocasionou um desvio de rota em minha vida. Lembrei então que foram dois anos bem difíceis e complicados, desempregado, e os empregos que conseguia eram apenas bicos que ajudavam a quebrar um galho. A situação começou a melhorar em 2008, mas isso já é outra história.
O maravilhoso Quarteto com Piano op. 47 de Schumann abre esta caixa. O terceiro CD entra um pouco mais no século XX com uma sonata de Schnittke e um Concerto para Violoncelo até então totalmente desconhecido para mim, de Friedrich Gulda.
Divirtam-se.

Cd 1

01. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 1. Sostenuto assai
02. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 2. Scherzo
03. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 3. Andante cantabile
04. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 4. Finale. Vivace

Martha Argerich, Renaud Capuçon, Lida Chen, Gautier Capuçon

05. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 1. Allegro assai vivace
06. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 2. Allegretto scherzando
07. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 3. Adagio
08. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 4. Molto allegro e vivace

Gabriela Montero, Gautier Capuçon

09. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 1. Zart und mit A
10. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 2. Lebhaft, leicht
11. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 3. Rasch und mit

Martha Argerich, Sergei Nakariov

CD 2

01. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 1. Mit Energie und Leidenschaft
02. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 2. Lebhaft, doch nicht zu rasch
03. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 3. Langsam, mit inniger Empfindung
04. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 4. Mit Feuer

Nicolas Angelich, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon

05. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 1. Introduzione. Adagio mesto – Al
06. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 2. Scherzo
07. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 3. Largo
08. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 4. Finale. Allegro vivace

Lilya Zilberstein, Dora Schwarzberg, Lucy Hall, Nora Romanoff-Schwasberg, Jorge Bosso

CD 3

01. Debussy Nocturnes, for 2 pianos (trans.Ravel) – 1. Nuages
02. Debussy Nocturnes, for 2 pianos (trans.Ravel) – 2. Fetes

Sergio Tiempo, Karin Lechner

03. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 1. Andante
04. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 2. Allegretto
05. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 3. Largo
06. Schnittke Violin Sonata No.1 (1963) – 4. Allegretto scherzando

Alissa Margulis, Polina Leschenko

07. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 1. Overture
08. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 2. Idylle
09. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 3. Cadenza
10. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 4. Menuet
11. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 5. Finale alla marcia

Gautier Capuçon – Cello
Members of The Orchestra della Svizzera Italiana
Alexander Rabinovich-Barakovsky

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FDP

Debussy (1862-1918): Images e Estampes – Paul Jacobs

Debussy (1862-1918): Images e Estampes – Paul Jacobs

Images (1894)

Estampes

Images, Series I & II

PAUL JACOBS, piano

 

Um dos muitos talentos deste músico e pianista extraordinário que foi Paul Jacobs era a sua facilidade de escrever sobre a música que interpretava. Os textos dos livretos dos seus discos são escritos por ele. São textos claros e profundos e refletem seu amor pela música que interpretava. É um privilégio ter acesso a mais este legado.

No libreto do disco que já postamos, com os Études, ele explica a importância da música de Debussy e Schoenberg no cenário musical do início do Século XX. Esta importância reside na maneira inovadora como eles passaram a compor. Ouso traduzir um de seus parágrafos:

‘A complexidade estrutural da música de Debussy provem em grande parte do fato que, diferentemente da música germânica em particular, ela inerentemente não se baseia em desenvolvimentos, e não depende de transformações e expansões melódicas. Em vez disto, o papel da melodia é reduzido a uma função identificadora localizada, enquanto outros parâmetros de identificação – timbre, cor harmônica ou algum ‘objeto sonoro’, como uma nota ou um acorde – assumem maior importância. Ao ampliar sua paleta de cores musicais, Debussy esboçou livremente com ritmos de danças, estilo de cabaré e vários modos e escalas derivados da música oriental ou arcaica’.

Segundo Manuel Bandeira, Debussy é

Para cá, para lá . . .
Para cá, para lá . . .
Um novelozinho de linha . . .
Para cá, para lá . . .
Para cá, para lá . . .
Oscila no ar pela mão de uma criança
(Vem e vai . . .)
Que delicadamente e quase a adormecer o balança
— Psiu . . . —
Para cá, para lá . . .
Para cá e . . .
— O novelozinho caiu.

Paul Jacobs diz que as obras deste disco são as quatro mais importantes composições para piano da primeira metade da carreira de Debussy: Images [1894], Estampes [1903] e Images Series I e II [1905 e 1907]. Sendo que os Études, que você poderá ouvir se clicar aqui, e os Préludes, que em breve estarão disponíveis no seu fornecedor PQP Bach mais próximo, constituem os enormes monumentos produzidos na parte final de sua vida.

As Images [1894] não foram publicadas durante a vida do compositor e mostram um estágio inicial da maneira que Debussy passaria a compor. Mas são muito significativas. Nelas ele usa pela primeira vez a palavra Images, que lhe seria muito cara, além de apresentar o formato tripartido, onde as duas primeiras peças têm caráter mais introspectivo e a última é uma brilhante tocata.

Se você se dá ao trabalho de seguir minhas postagens, sabe o quanto este tipo de música é importante para mim. Postei há algum tempo um disco com um repertório bem próximo deste, o qual acho espetacular. O pianista lá é Ivan Moravec e o som, talvez, um pouco melhor. Mas com uma interpretação como esta, em segundos o ouvido se ajusta e o prazer não diminui.

Compare os discos, ambos são excelentes. Veja como crítico Terry Barfoot inicia sua resenha sobre o álbum desta postagem: ‘Algumas das melhores e mais sutis músicas para piano de Debussy estão reunidas aqui, numa performance que capta exatamente o tom correto. Paul Jacobs observa escrupulosamente as indicações da partitura de Debussy, e o resultado é particularmente agradável’

Já disse antes, mas não canso de repetir: prazer a mais encontrarás na poesia dos nomes das peças. Vale a pena conferir.

Claude Debussy (1862 – 1918)

Images [1894]

  1. Lent (mélancolique et doux)
  2. Dans le mouvement d’une ‘Sarabande’…
  3. Quelques aspects de ‘Nous n’irons plus au bois’…

Estampes [1903]

  1. Pagodes
  2. La Soirée dans Grenade
  3. Jardins sous la pluie

Images, Serie I [1905]

  1. Reflets dans l’eau
  2. Hommage à Rameau
  3. Mouvement

Images, Serie II [1907]

  1. Cloches à travers les feuilles
  2. Et la lune descend sur le temple qui fût
  3. Poissons d’or

Paul Jacobs, piano

Gravação feita em Nova Iorque, 1978

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FLAC | 155 MB

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MP3 | 320 KBPS | 131 MB

Paul Jacobs

Na minha opinião, MB compôs o poema ao ouvir ‘Et la lune descend sur le temple qui fût’. Por favor, leia o poema e ouça a peça. Depois, acione o link ‘LEAVE A COMMENT’, que se encontra escondido bem abaixo do cabeçalho da postagem e mande o seu pitaco.

René Denon

Debussy (1862-1918): La Mer – Prélude à l’aprés-midi d’un faune – Images – Orchestre National de France & Daniele Gatti

Debussy (1862-1918): La Mer – Prélude à l’aprés-midi d’un faune – Images – Orchestre National de France & Daniele Gatti

Debussy

La Mer

Orchestre National de France

Gatti

 

Claude Debussy foi um inovador. Um compositor que deixou sua marca especialmente por sua criatividade. Sua obra para piano é magnífica, mas nesta postagem teremos a oportunidade de ouvir algumas de suas contribuições sinfônicas. Temos aqui três obras seminais, que mostram grande originalidade na linguagem musical, na orquestração e também nas suas concepções. Sobretudo no caso da sua obra orquestral mais conhecida – La Mer.

A primeira destas três obras a ser composta foi o Prélude à l’aprés-midi d’un faune, cuja estreia ocorreu em 22 de dezembro de 1894. A peça foi inspirada por um poema de Stéphane Mallarmé e tem as características do estilo inovador que Debussy traria a suas obras. A inspiração grega aparece no uso sensual da flauta, assim como de ousadas harmonias.

A composição de La Mer foi iniciada na Borgonha, longe do mar. O próprio Debussy escreveu para um amigo: Você dirá que o mar não chega perto das colinas da Borgonha, mas eu tenho inúmeras recordações…

A peça é formada por três movimentos (Debussy era chegado em trípticos) e foi o mais perto que ele chegou de escrever uma sinfonia. Mas o mar de Debussy não é de almirante. Ele também não tinha intenção de escrever uma obra programática e chamou a cada movimento de esboço. Esta é uma das peças que maior impacto me causou nas minhas expansões do classicismo para o modernismo, a música do século XX, ao lado da Sagração da Primavera, de Stravinsky e do Concerto para Orquestra, de Bartók.

A última peça do programa, Images pour orchestre é também uma peça belíssima. Tem um tríptico dentro de um tríptico. Ibéria, a parte central, é composta de três movimentos, foi composta primeiro e é às vezes apresentada sozinha, como na linda gravação de Fritz Reiner. Depois Debussy compôs Rondes de printemps. Estas duas peças foram apresentadas juntas pela primeira vez em 1910 e só em 1913 Images completa, com a primeira parte, Gigues, foi apresentada ao público.

Images está impregnada de Espanha e de poesia. Os nomes dos movimentos são um deleite à parte: Par les rues et par les chemins, Le Matin d’un jour de fête…

Este magnífico repertório é apresentado aqui por uma tradicional orquestra francesa, a Orchestre National de France, regida pelo competentíssimo maestro italiano Daniele Gatti. O disco não é uma unanimidade de crítica, mas eu gostei demais. Achei especialmente elegante, com tempos muito bem escolhidos, como esta música sofisticadíssima precisa ser apresentada. A peça que ouvi mais vezes foi o Prélude, talvez por ser mais curta e por que eu gosto muito desta versão. Mas as outras peças estão também muito boas. É claro, vocês sabem, se eu só posto o que eu gosto muito. Não faz muito tempo, FDP Bach postou um disco com este exato repertório, mas as peças não são apresentadas na mesma sequência. O outro disco é também muito bom. Se você quiser ouvi-lo também, acesse aqui.

Claude pegando um bronze aqui em Camboinhas…

Claude Debussy (1862 – 1918)

La Mer

  1. De l’aube à midi sur la mer
  2. Jeux de vagues
  3. Dialogue du vent et de la mer

Prélude à l’aprés-midi d’un faune

  1. Très modéré

Images pour orchestre

  1. Gigues
  2. Iberia – Par les rues et par les chemins
  3. Iberia – Les Parfums de la nuit
  4. Iberia – Le Matin d’un jour de fête
  5. Rondes de printemps

Orchestre National de France

Daniele Gatti

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FLAC | 294 MB

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MP3 | 320 KBPS | 160 MB

A música de Debussy é geralmente descrita como ‘impressionista’, mas ele não gostava deste rótulo. Ele disse: ‘Eu tento fazer alguma coisa diferente… o que os imbecis chamam ‘impressionismo’, um termo que é tão pobremente usado quanto possível, particularmente pelos críticos’. Então, nada de chamar a música do cara de impressionista, OK?

Aproveite!

René Denon

Debussy (1862-1918): Études – Paul Jacobs

Debussy (1862-1918): Études – Paul Jacobs

Debussy

Douze Études pour le piano

En blanc et noir

Paul Jacobs

 

Eu busquei muito este CD, pela música e principalmente pelo intérprete. Paul Jacobs nasceu em 22 de junho de 1930 em Nova Iorque e foi um prodígio. Antes de dez anos já dava concertos. Estudou na Juilliard School. Ao se formar em 1951, foi para a Europa, permanecendo a maior parte do tempo em Paris. Tornou-se figura proeminente no cenário da música contemporânea, atuando em diversos grupos, como o Domaine Musical de Pierre Boulez.

Paul Jacobs

Em 1960 retornou para Nova Iorque e continuou muito ativo, participando de seminários e apresentando-se como solista. Estreou música de compositores como Stockhausen, Berio, Henze, Messiaen e Carter. Em 1961 foi nomeado pianista da Filarmônica de Nova Iorque, indicado por Leonard Bernstein, e ocupou esta posição até o fim de sua vida. Paul tinha interesse por música antiga e era também cravista. Foi dono de uma boa coleção com diversos instrumentos, tais como cravos e espinetas, inclusive um Érard, piano da época de Chopin.

Sua relação com o selo Nonesuch começou quando foi convidado a gravar a obra para piano de Schoenberg, em 1974, devido ao centenário de nascimento deste compositor. Em um intervalo das gravações, Paul tocou um dificílimo estudo de Debussy com tamanha facilidade que todos no estúdio ficaram maravilhados. Assim, estes estudos foram gravados em 1975 e posteriormente outros álbuns com música de Debussy, que muito breve poderão ser encontrados no seu distribuidor PQP Bach mais próximo.

Lamentavelmente, Paul Jacobs foi uma das primeiras vítimas da terrível síndrome que no início dos anos oitenta do século passado acometeu o mundo. Paul Jacobs morreu em 25 de setembro de 1983.

A gravação de ‘En blanc et noir’ que completa este álbum foi feita em 5 de junho de 1982, em um festival de música em Ojai, na Califórnia. Gilbert Kalish descreveu como, apesar do desgaste físico que a doença causava, como a música inspirava Paul e o animava. O som desta gravação não tem a mesma qualidade da gravação em estúdio dos ‘Études’, mas o calor e a empolgação do momento equilibram a balança.

Os ‘Études’ e ‘Em blanc et noir’ encontram-se entre as últimas obras compostas por Debussy, por volta de 1915, quando já se encontrava doente e tinha consciência de seu próximo fim. Mesmo assim produziu estas peças maravilhosas e seu grande envolvimento com a música também se dava na preparação da edição das obras de Chopin. A grande admiração pela obra deste compositor certamente o animou na produção dos seus ‘Études’, que em número de doze se dividem em dois livros. Esta divisão se deve a duas abordagens um pouco diferentes. O primeiro livro leva em conta problemas técnicos tradicionais e o segundo aborda problemas associados a figurações musicais. Os próprios títulos revelam essas diferenças. Por exemplo, o primeiro estudo do livro I chama-se ‘Pour les “cinc doigts” – d’après Monsieur Czerny’, enquanto que o primeiro estudo do livro II é intitulado ‘Pour les degrés chromatiques’. ‘En blanc et noir’ faz clara referência às teclas do piano, mas também tem reflexos dos sentimentos despertados devido à guerra que assolava a Europa.

Eu não consigo ler o título da segunda obra do disco sem me lembrar de ‘Ebony and Ivory’, de Paul MacCartney e Stevie Wonder.

Claude Debussy (1862 – 1918)

Douze Études pour le piano

  1. Étude 1 pour les cinq doigts d’après Monsieur Czerny
  2. Étude 2 pour les tierces
  3. Étude 3 pour les quartes
  4. Étude 4 pour les sixtes
  5. Étude 5 pour les
  6. Étude 6 pour les huit doigts
  7. Étude 7 pour les degrés chromatiques
  8. Étude 8 pour les agréments
  9. Étude 9 pour les notes répétées
  10. Étude 10 pour les sonorités opposées
  11. Étude 11 pour les arpèges composés
  12. Étude 12 pour les accords

En blanc et noir

  1. Avec emportement
  2. Lent, sombre
  3. Scherzando

Paul Jacobs, piano

(Gilbert Kalish, piano II em ‘En blanc et noir)

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FLAC | 199 MB

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MP3 | 320 KBPS | 152 MB

 

Espero que você goste deste disco tanto quanto eu e que esta postagem possa contribuir para reafirmar memória deste extraordinário músico que foi Paul Jacobs.

René Denon

François Couperin (1668-1733) e Claude Debussy (1862-1918): Les ondes – Amandine Habib, piano

François Couperin (1668-1733) e Claude Debussy (1862-1918): Les ondes – Amandine Habib, piano

Couperin  ֎  Debussy

Músicos Franceses

 

Um álbum reunindo obras de Couperin e Debussy não é algo com o que nos deparamos a todo o instante. Assim, este aqui chamou-me a atenção no momento que o notei em meio a vários outros. A capa de fundo escuro com uma flor dente-de-leão estilizada, letras dispostas na vertical e estilo minimalista, como o belíssimo nome – Les ondes – deram o empurrão final.

Você deve estar se perguntando: o que há em comum entre estes dois compositores que viveram duzentos anos um do outro, além de serem franceses?

Pois há várias coisas, como nos adianta e explica no interessante texto do livreto, incluído nos arquivos, a ótima pianista Amandine Habib. Para começar, ambos foram inovadores e dedicaram-se à música para o teclado. Couperin foi deixando o formalismo das danças que predominava nos seus dias – minuetos, gavotas e outras  – mantendo seus ritmos em suas músicas, mas cobrindo-as com mais poesia. Os nomes de suas peças dão-nos um prazer e um estímulo a mais. Poesia e imaginação também estão presentes nas peças de Debussy, assim como a arte de escolher os nomes – que não se impõem, mais se insinuam.

No disco, Amandine intercala Couperin e Debussy e disto eu muito gostei. Percebemos nas obras de Couperin uma faixa tonal mais estreita, afinal suas peças não foram compostas para grande piano. Mas não lhes faltam vivacidade e cores. Podemos perceber certos ecos destes ritmos nas peças de Debussy, que teve o privilégio de conhecer bem as peças do mestre mais antigo.

A escolha das peças também é enorme mérito da pianista e dos produtores, e eleva este disco bem acima da média dos que tenho ouvido.

Amandine nasceu em Marseille em uma família que ama a música, de maneira eclética, e estudou em Marseille e Lyons. Tem já uma carreira de concertista e de atuação em música de câmera bem estabelecida, além de fazer duo com Raphaël Imbert, um saxofonista de jazz.

Gostei muitíssimo de suas interpretações neste disco, que já ouvi muitas vezes. Espero que isso aconteça também com você.

François Couperin (1668-1733)

Claude Debussy (1862-1918)

  1. L’Étincelante ou la Bontemps (Couperin)
  2. Doctor Gradus ad Parnassum (Debussy)
  3. La Flore (Couperin)
  4. Bruyères (Debussy)
  5. Les lis naissans (Couperin)
  6. Les colliens d’Anacapri (Debussy)
  7. Le dodo ou L’amour au berceau (Couperin)
  8. Toccata (Debussy)
  9. Le tic-toc-choc ou Les maillontins (Couperin)
  10. Les Jumèles (Couperin)
  11. La Cathédrale engloutie (Debussy)
  12. Les ondes (Couperin)
  13. Poissons d’or (Debussy)
  14. Les Ombres errantes (Couperin)
  15. Les tierces alternées (Debussy)
  16. Les Tricoteuses (Couperin)
  17. Les rozeaux (Couperin)
  18. L’Isle joyeuse (Debussy)

Amandine Habib, piano

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FLAC | 207 MB

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MP3 | 320 KBPS | 150 MB

Para explorar mais o tema da influência sobre Debussy e sua relação com a música de Couperin e Rameau, sugiro a leitura deste texto, que é proveniente da página de Jeffrey La Deur.

Aproveite!

René Denon

A Quatro Mãos: Claude Debussy (1862-1918) – En Blanc et Noir – Katia e Marielle Labèque

MI0000987092Se falávamos ontem que nem sempre ser uma das maiores virtuoses vivas transforma alguém numa boa duetista, hoje constataremos que o bom duo multiplica seus fatores. As irmãs Labèque são excelentes pianistas, seu duo é dos melhores que existem, e elas acumulam álbuns impecáveis. Sinceramente, tenho ao ouvi-las a impressão de que uma só pianista está a tocar com vinte dedos. E, se tocar Debussy com dez dedos já é complicado, que se dirá então de fazê-lo vinte conjuntos de falanges? Este álbum, que inclui obras da juventude e do final de sua vida do pai de Chouchou, mostra a capacidade das Labèque de transpor os desafios timbrísticos e de articulação propostos por este compositor tão peculiar para o teclado. Uma de minhas peças favoritas em todo repertório para duo pianístico é justamente aquela que dá nome ao álbum, e os velhinhos saudosistas como eu reconhecerão o primeiro movimento de “En Blanc et Noir” como a vinheta de abertura do programa “Teclado”, que o pianista Gilberto Tinetti apresentava semanalmente na FM Cultura de São Paulo nos anos 90.

EN BLANC ET NOIR – THE DEBUSSY ALBUM
KATIA AND MARIELLE LABEQUE

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)

En Blanc et Noir, para dois pianos
01 – Avec emportement
02 – Lent. Sombre
03 – Scherzando

Petite Suite, para piano a quatro mãos
04 – En bateau
05 – Cortège
06 – Menuet
07 – Ballet

Nocturnes para orquestra (versão para piano a quatro mãos)
08 – Nuages
09 – Fêtes

Épigraphes antiques, para piano a quatro mãos
10 – Pour invoquer Pan, dieu du vent d’été
11 – Pour un tombeau sans nome
12 – Pour que la nuit soit propice
13 – Pour la danseuse aux crotales
14 – Pour l’Égyptienne
15 – Pour rémercier la pluie au matin

16 – Lindaraja, para dois pianos

Katia e Marielle Labèque, pianos

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As irmãs Labèque: difícil saber onde termina uma e começa a outra
As irmãs Labèque: difícil saber onde termina uma e começa a outra

Vassily Genrikhovich

 

Claude Debussy – Images L. 122, Printemps, L.61, Prélude à l’après-midi d’un faune

2018 foi o ano Debussy, quando comemoramos o centenário de sua morte. Fizemos algumas postagens em homenagem no começo daquele ano.  Mas não devemos nos esquecer deste genial compositor, que nos proporcionou, ou proporciona momentos inesquecíveis com suas obras. Por isso, sempre que possível, trago alguma coisa dele.
É o que faço hoje, trazendo algumas obras que já passaram por aqui, com outros maestros. Porém estamos quase entrando em uma nova década, 2020 está batendo à nossa porta. Por isso também acho importante mostrar a nova geração que chega, e o que ela tem feito. Esse jovem maestro finlandês, Mikko Franck, nasceu em 1979, e já vem colecionando elogios há algum tempo, seguindo os passos de outro maestro finlandês que se tornou referência em se tratando de Debussy, Esa-Pekka Salonen.
Vamos ao que viemos? Debussy está em ótimas mãos aqui, lhes garanto.

1 – Images, L. 122, No. 1 « Gigues »
2 – Images, L. 122, No. 2 « Iberia »_ I. Par les rues et les chemins
3 – Images, L. 122, No. 2 « Iberia »_ II. Les parfums de la nuit
4 – Images, L. 122, No. 2 « Iberia__ III. Le matin d’un jour de fête
5 – Images, L. 122, No. 3 « Rondes de printemps »
6 – Printemps, L.61 No. 1
7 – Printemps, L.61 No. 2
8 – Prélude à l’après-midi d’un faune

Orchestre Philharmonique de Radio France
Mikko Franck – Conductor

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Debussy / Ravel / Prokofiev: Peças para Flauta e Piano – Emmanuel Pahud & Stephen Kovacevich

Debussy / Ravel / Prokofiev: Peças para Flauta e Piano – Emmanuel Pahud & Stephen Kovacevich

Debussy: Syrinx – Bilitis – La plus que lente

 

Ravel: Chanssons madécasses

 

Prokofiev: Sonata para Flauta e Piano

Os discos e a música sempre me levam a lugares inusitados, diferentes e especiais. Esta postagem levou-me à Ilha da Reunião, antiga Ilha de Bourbon, no Oceano Índico, a leste de Madagascar.

O disco reúne três compositores e basicamente música para flauta e piano. E que intérpretes temos aqui. Emmanuel Pahud é o principal flautista da Filarmônica de Berlim e Stephen Kovacevich é um dos melhores pianistas de sua geração. Eles tocam peças de Debussy e a lindíssima sonata para flauta e piano de Prokofiev, postada aqui um dia destes. O programa começa com Debussy, abrindo com uma peça para flauta solo, Syrinx, de pouco mais de três minutos. Em seguida uma transcrição para flauta e piano da música das Chansons de Bilitis, feita por Karl Lenski. Para fechar a parte dedicada a Debussy, uma peça para piano solo, La plus que lente, interpretada magistralmente por Kovacevich, balanceando assim a distribuição dos trabalhos.

A Sonata de Prokofiev fecha o disco e estas duas partes do programa ladeiam um ciclo de canções composto por Maurice Ravel. Pois é neste núcleo do disco que temos a nossa viagem. Para esta parte do programa, juntam-se aos dois solistas a mezzo-soprano Katarina Kernéus e o violoncelista Truls Mørk. O ciclo é intitulado Chanssons madécasses (Canções de Madagascar) e é formado por três canções. E aí o programa fica bem interessante.

Liz Coolidge

O ciclo foi encomendado a Ravel por uma patrocinadora das artes, a americana Elizabeth Sprague Coolidge (Liz Coolidge), a quem é dedicado. Promotora especialmente de música de câmera, ela comissionou obras de vários compositores contemporâneos, e deixou a escolha do texto com Ravel.  Ela pediu que, se possível, flauta e violoncelo fossem acrescentados ao acompanhamento de piano. Ravel estava lendo um livro de Evariste-Désiré de Parny e escolheu três de seus poemas para o ciclo. Esses poemas de Parny são os primeiros poemas franceses escritos em prosa. (Para a integral desses poemas, clique aqui). O autor, que nasceu na tal Ilha de Bourbon, afirma que os poemas são traduções para o francês de canções líricas que coletou em suas viagens por Madagascar. Mas tudo é muito poético. De fato as viagens assim como as canções são fruto da imaginação e da inventividade do Parny. Figura fascinante, Evariste-Désiré de Parny merece maior investigação. Ravel produziu um ciclo de canções que se diferencia de qualquer uma de suas obras de câmera ou vocal, tanto pelo conteúdo provocante do texto quanto pela natureza emocional e dramática da música. Uma análise detalhada do ciclo pode ser encontrada aqui. Os poemas em prosa de Parny têm um apelo exótico e erótico, além de trazerem um interessante sentimento anti-colonialista. Tudo arranjado pelo compositor francês a pedido da mecenas americana. Ah, a cultura…

As peças resultantes das Chanssons de Bilitis, adaptadas para flauta e piano por Karl Lenski, também tem um que de sensualidade que torna o disco muito, muito bonito. E ainda mais, para fechar o pacote, a interpretação de um dos maiores flautistas da atualidade da belíssima sonata de Prokofiev. Portanto, não demore, baixe logo o disco….

Claude Debussy (1862-1918)

1. Syrinx (La flûte de Pan)

Billitis (Ed. Karl Lenski)
2. Pour invoquer Pan, dieu du vent d’été
3. Pour un tombeau sans nom
4. Pour que la nuit soit propice
5. Pour la danseuse aux crotales
6. Pur l’égyptienne
7. Pour remercier la pluie au matin
8. La plus que lente

Maurice Ravel (1875-1937)

Chansons madécasses
9. Nahandove
10. Aoua!
11. Is est doux de se coucher

Sergei Prokofiev (1891-1953)

Sonata para flauta e piano em ré maior, Op. 94
12. Moderato
13. Scherzo (allegretto scherzando)
14. Andante
15. Allegro con brio

Emmanuel Pahud, flauta (1-7, 9-15)
Stephen Kovacevich, piano (2-15)

Katarina Karnéus, mezzo-soprano (9-11)
Truls Mørk, violoncelo (9-11)
Gravado em 1999, Lyndhurst Hall, Air Studios, Londres
Produção: Stephen Hohns

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MP3 | 320 KBPS | 146 MB

Evariste de Parny

 

Aproveite!

René Denon

Bach, Brahms, Chopin, Debussy, Dvořák, Grieg, Kancheli, Kempff, Ligeti, Liszt, Mendelssohn, Pärt, Ravel, Scarlatti, Scriabin, Tchaikovsky: Motherland (com Khatia Buniatishvili)

Bach, Brahms, Chopin, Debussy, Dvořák, Grieg, Kancheli, Kempff, Ligeti, Liszt, Mendelssohn, Pärt, Ravel, Scarlatti, Scriabin, Tchaikovsky: Motherland (com Khatia Buniatishvili)

Lembram daquela série interminável de discos da Philips — lançados nos anos 70 e 80 — que eram seleções malucas de clássicos e que tinham gatinhos na capa? Ali, o Aleluia de Händel podia vir antes de um trecho de Rhapsody in Blue, o qual era seguido pela Abertura 1812 e pela chamada Ária na Corda Sol (mentira, corda sol coisa nenhuma) de Bach, por exemplo. Salada semelhante é servida por Khatia Buniatishvili neste CD. Mas o importante é faturar enquanto a beleza não abandona a pianista. Ela tem alguns anos de sucesso ainda. Como habitualmente, neste disco ela é muita emoção e languidez — principalmente a última –, acompanhada de um talento que não precisaria ter registros gravados. Temos tanta gente melhor! Depois deste disco altamente suspeito, ela sucumbe aqui. Só a aparência não basta. Afinal, ouvimos o CD. Vocês sabem que eu amo as belas musicistas, mas tudo tem limite.

O volume 1 da numerosa série

Bach, Brahms, Chopin, Debussy, Dvořák, Grieg, Kancheli, Kempff, Ligeti, Liszt, Mendelssohn, Pärt, Ravel, Scarlatti, Scriabin, Tchaikovsky: Motherland (com Khatia Buniatishvili)

1 Johann Sebastian Bach: Was mir behagt, ist nur die muntre Jagd, BWV 208: IX. Schafe können sicher weiden (Arr. for Piano)
2 Pyotr Ilyich Tchaikovsky: The Seasons, Op. 37b: X. October (Autumn Song)
3 Felix Mendelssohn-Bartholdy: Lied ohne Worte in F-Sharp Minor, Op. 67/2
4 Claude Debussy: Suite Bergamasque, L. 75: III. Clair de lune
5 Giya Kancheli: Tune from the Film by Lana Gogoberidze: When Almonds Blossomed
6 György Ligeti: Musica ricercata No. 7 in B-Flat Major
7 Johannes Brahms: Intermezzo in B-Flat Minor, Op. 117/2
8 Franz Liszt: Wiegenlied, S. 198
9 Antonín Dvorák: Slavonic Dance for Four Hands in E Minor, Op. 72/2: Dumka (Allegretto grazioso)
10 Maurice Ravel: Pavane pour une infante défunte in G Major, M. 19
11 Frédéric Chopin: Etude in C-Sharp Minor, Op. 25/7
12 Alexander Scriabin: Etude in C-Sharp Minor, Op. 2/1
13 Domenico Scarlatti: Sonata in E Major, K. 380
14 Edvard Grieg: Lyric Piece in E Minor, Op. 57/6: Homesickness
15 Traditional: Vagiorko mai / Don’t You Love Me?
16 Wilhelm Kempff: Suite in B-Flat Major, HWV 434: IV. Menuet
17 Arvo Pärt: Für Alina in B Minor

Khatia Buniatishvili, piano

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Desculpe, Khatia, não rolou.

PQP

Debussy (1862-1918): Sonatas & Trio – Capuçon • Chamayou • Caussé • Pahud • Langlamet • Moreau

Debussy (1862-1918): Sonatas & Trio – Capuçon • Chamayou • Caussé • Pahud • Langlamet • Moreau

 

Claude Debussy,

músico francês!

 

 

Chamem intuição, experiência ou até adivinhação. O fato é que dá para sentir, dá para saber se um álbum é bom mesmo antes de ouvi-lo.  A combinação repertório – compositor – intérprete, coroada pelo selo da gravadora, permite uma antecipação que quase sempre se confirma. Quase sempre, pois há exceções e a bola de cristal pode estar embaçada.

Este disco da postagem foi uma dessas situações nas quais as melhores expectativas foram largamente satisfeitas na audição. Não tenham dúvidas – baita disco!

Em 1915, Debussy estava doente e deprimido devido a guerra. Mas acabou cedendo aos apelos de Jacques Durand, seu editor, e recomeçou a compor principalmente para não se esquecer como se faz isto, e não para própria satisfação pessoal. Foi isto que ele confidenciou a seu editor. Disse também que o plano geral era de compor seis sonatas para vários instrumentos, compostas por Claude Debussy, músico francês.

Apesar do projeto ter sido interrompido pela morte do compositor, três sonatas foram terminadas e estão interpretadas neste álbum.

A sonata para violoncelo e piano foi composta em 1915 e começa apenas com o piano abrindo o prólogo. Mas o que realmente distingue a sonata é o violoncelo. O próprio compositor anotou: o pianista não deve se esquecer que não deve se opor ao violoncelo, mas acompanha-lo.

No original a sonata recebera o subtítulo “Pierrot  fâchet avec la lune”. Pois o segundo movimento é intitulado “Sérénade” e é repleto de pizzicati. Este movimento segue direto para o movimento final, repleto de efeitos instrumentais, dando oportunidade aos instrumentista brilharem.

Na sequência temos “Syrinx”, ou “La flûte de Pan”, na primeira escolha de nome. Syrinx é uma curta mas intensa e melancólica peça para flauta solo. Ela foi escrita como música instrumental para uma peça de Gabriel Mourey, chamada Psyché. A obra também tem um caráter de improvisação e aqui é interpretada por Emmanuel Pahud, o principal flautista da Filarmônica de Berlim.

A sonata para violino e piano, terminada em 1917, teve sua estreia em maio de 1917, na Salle Gaveau, interpretada por Gaston Poulet ao violino e o próprio Debussy ao piano. A ocasião era um concerto em benefício de soldados que ficaram cegos durante a guerra. Poulet era amigo de Debussy e acompanhou a composição da sonata, que é ‘cheia de um alegre tumulto’. Disse dela o Claude: Esta sonata será interessante do ponto de vista que documentará o que pode um homem doente escrever durante a guerra.

A sonata para flauta, viola e harpa tem inspiração nas trio-sonatas do século XVIII, mas é profundamente inovadora. Debussy disse: A sonata é terrivelmente melancólica e não sei se é para rir ou para chorar. De longe, mas nem tanto, esta é a peça do disco que eu gosto mais.

Para completar temos uma obra de juventude. O Trio foi composto em 1880 enquanto Debussy trabalhava como pianista para Nadezhda von Meck, que também foi protetora de Tchaikovsky. Acompanhando esta rica família, Debussy viajou por várias partes da Europa. Quando estavam em Florença, a família recebeu a visita de dois músicos russos e o trio foi composto nesta ocasião. Foi enviado ao editor Durand com as palavras: muitas notas, acompanhadas de muitas amizades. No entanto a peça só foi publicado muito posteriormente, em 1986.

Os intérpretes são todos excelentes. Além do flautista Emmanuel Pahud, temos a viola de Gerard Caussé, a harpista Marie-Pierre Langlamet e o violoncelo de Edgar Moreau. Quem participa do maior número de peças é o pianista Bertrand Chamayou, de quem a International Record Review disse: Suas interpretações são musicalmente penetrantes, tecnicamente sem falhas e não podem ser confundidas com as de qualquer outro pianista.

Claude Debussy (1862-1918)

Sonata para violoncelo e piano em ré menor

  1. Lent
  2. Sérénade. Modérément animé
  3. Animé

Syrinx

  1. Solo de flauta

Sonata para violino e piano em sol menor

  1. Allegro vivo
  2. Intermède. Fantasque et léger
  3. Très animé

Sonata para flauta, viola e harpa

  1. Lento, dolce rubato
  2. Tempo di minueto
  3. Allegro moderato ma risoluto

Trio para piano, violino e violoncelo em sol maior

  1. Andantino com moto alegro
  2. Moderato con alegro
  3. Andante expressivo
  4. Appassionato
Emmanuel Pahud, flauta
Renaud Capuçon, violino
Gerard Caussé, viola
Edgar Moreau, violoncelo
Marie-Pierre Langlamet, harpa
Bertrand Chamayou, piano

Gravação de 2016-17

Produção de Michael Fine

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MP3 | 320 KBPS | 153 MB

Veja o que Claude disse de si mesmo: Eu tenho sido descrito como um revolucionário, mas não inventei qualquer coisa. Tudo o que fiz foi apresentar coisas velhas de maneira nova.

Ah, então tá!

Vamos, ouça o disco, escolha qual das sonatas é a sua preferida e depois me conte.

René Denon

Ainda mais Cordas: o Banjo (Perpetual Motion – Béla Fleck)

51ZgNDY+BULPassada em revista a parte da família das cordas que é tocada com arcos, enveredamos por um outro ramo da família com quem os arcos não falam muito, pois as salas de concerto costumam torcer-lhes os narizes: aquele das cordas dedilhadas.

Antes que me joguem os tomates, ou me perguntem por que exus eu não apus a palavrinha .:interlúdio:. ao título de uma gravação, vejam só, de banjo, de BANJO, de B A N J O! incongruentemente atirada no meio das sacrossantas interpretações dos Pollinis e Bernsteins que os blogueiros não-vassílycos publicam por aqui, bem, antes que venham os apupos, os “foras!” e que me defenestrem, eu antecipadamente me defendo: Béla Fleck é um TREMENDO músico e merece ser ouvido.

Ok, o repertório do CD é um balaio de gatos cheio de figurinhas fáceis do repertório das coleções “The Best of”, só que ele é feito sob medida para Fleck exibir com sobras seu talento. Asseguro-lhes que dificilmente ouvirão um banjo ser tocado com tanta maestria, ainda mais acompanhado por músicos do naipe de, entre outros, Joshua Bell, John Williams e Edgar Meyer. No final, para relaxar, Fleck colocou uma ótima versão bluegrass do “Moto Perpétuo” de Paganini, mas ela está claramente identificada como tal e os puristas entre vós outros poderão deletá-la antes que ela fira algum ouvido.

E, se vocês acharam interessante o Fleck ter o nome de Béla, saibam que o nome completo do cavalheiro é Béla Anton Leoš Fleck. Sim: uma homenagem ao grande Béla, àquele Anton e a este Leoš.

PERPETUAL MOTION – BÉLA FLECK

Domenico SCARLATTI (1685-1757)
01 – Sonata em Dó maior, K. 159

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
02 – Invenção a duas vozes no. 13 em Lá menor, BWV 784

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)
03 – Children’s Corner, L. 113 – “Doctor Gradus ad Parnassum”

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
04 – Mazurkas, Op. 59 – no. 3 em Fá sustenido menor

Johann Sebastian BACH
05 – Partita no. 3 em Mi maior, BWV 1006 – Prélude

Fryderyk Franciszek CHOPIN
06 – Études, Op. 10 – no. 4 em Dó sustenido menor
07 – Mazurkas, Op. 6 – no. 1 em Fá sustenido menor

Johann Sebastian BACH
08 – Invenção a três vozes (Sinfonia) em Sol maior, BWV 796

Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
09 – Souvenir d’un lieu cher, Op. 42 – no. 3: Mélodie

Johannes BRAHMS (1833-1897)
10 – Cinco estudos para piano, Anh. 1a/1 – no. 3 em Sol menor, após Johann Sebastian Bach

Johann Sebastian BACH
11 – Suíte no. 1 em Sol maior, BWV 1007 – Prelude
12 – Invenção a três vozes (Sinfonia) em Si menor, BWV 801

Niccolò PAGANINI (1782-1840)
13 – Moto Perpetuo, Op. 11

Domenico SCARLATTI
14 – Sonata em Ré menor, K. 213

Johann Sebastian BACH
15 – Invenção a duas vozes no. 6 em Mi maior, BWV 777

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
16 – Sonata no. 14 em Dó sustenido menor, Op. 27 no. 2, “Luar” – Adagio sostenuto

Johann Sebastian BACH
17 – Invenção a duas vozes no. 11 em Sol menor, BWV 782

Ludwig van BEETHOVEN
18 – Sete Variações sobre “God Save the King”, WoO 78

Johann Sebastian BACH
19 – Invenção a três vozes (Sinfonia) em Mi menor, BWV 793

Niccolò PAGANINI
arranjo de James Bryan Sutton
12 – Moto Perpetuo, Op. 11 (versão bluegrass)

Béla Fleck, banjo
Joshua Bell, violino
Gary Hoffmann, violoncelo
Evelyn Glennie, marimba
Edgar Meyer, contrabaixo
Chris Thile, bandolim
James Bryan Sutton, violão folk
John Williams, violão

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Vassily Genrikhovich

 

O Mestre Esquecido, Capítulo III (Debussy: Prelúdios, livro II – Milhaud: Saudades do Brasil – Antonio Guedes Barbosa)

BarbosaPUBLICADA ORIGINALMENTE EM 17/8/2015

Os capítulos dessa curta novela sobre o MESTRE Antonio Guedes Barbosa começam a minguar.

O CD da Connoisseur Society está esgotadíssimo, e o link ao lado leva a um exemplar usado pela bagatela de cento e quatro doletas. Mais ainda: ele jamais teria sido lançado no Brasil, não fosse uma ação entre clientes da Ticket Restaurante.

Sim, foi a TICKET RESTAURANTE – fiel depositária de estipêndios pagadores de coxinhas, tubaínas e churrascos gregos Brasil afora – e não a vontade das gravadoras, nem o clamor do público, a responsável pela iniciativa de distribuir esta gravação do genial pianista pessoense em seu país natal.

Se acham isso lamentável, saibam que o maravilhoso álbum triplo de Barbosa tocando as mazurcas de Chopin só chegou às praias de Pindorama graças à BOLSA DE VALORES DO RIO DE JANEIRO, que o distribuiu entre sua rapaziada como presente de final de ano.

Mas, claro, nada é tão ruim que não possa ser pior: quando encontrei este CD perdido numa loja de usados do Rio no ano passado, ele estava entre CDs do NETINHO e da BANDA BEIJO.

PQP, vida.

PQP, mundo.

PQP, vocês.

ooOoo

Claude-Achille DEBUSSY (1862-1918)

Prelúdios para piano, Livro II

01 – No. 1, “Brouillards”
02 – No. 2, “Feuilles mortes”
03 – No. 3, “La Puerta del Vino”
04 – No. 4, “Les fées sont d’exquises danseuses”
05 – No. 5, “Bruyères”
06 – No. 6, “Général Lavine – eccentric”
07 – No. 7, “La terrasse des audiences du clair de lune”
08 – No. 8, “Ondine”
09 – No. 9, “Hommage à S. Pickwick Esq. P.P.M.P.C”
10 – No. 10, “Canope”
11 – No. 11, “Les tierces alternées”
12 – No. 12, “Feux d’artifice”

Darius MILHAUD (1892-1974)

Saudades do Brasil, Suíte para piano, Op. 67

13 – Parte 1, no. 1: “Sorocaba”
14 – Parte 1, no. 2: “Botafogo”
15 – Parte 1, no. 3: “Leme”
16 – Parte 1, no. 4: “Copacabana”
17 – Parte 1, no. 5: “Ipanema”
18 – Parte 1, no. 6: “Gávea”
19 – Parte 2, no. 7: “Corcovado”
20 – Parte 2, no. 8: “Tijuca”
21 – Parte 2, no. 9: “Paineras” (sic)
22 – Parte 2, no. 10: “Sumaré”
23 – Parte 2, no. 11, “Laranjeiras”
24 – Parte 2, no. 12, “Paysandu”

Antonio Guedes Barbosa, piano

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A julgar pelo gosto prevalente, Banda Beijo > Antônio Guedes Barbosa. Parabéns aos envolvidos.
A julgar pelo gosto prevalente, Banda Beijo > Antonio Guedes Barbosa.
Parabéns aos envolvidos.

Vassily Genrikhovich [revalidado em 15/1/2021]

 

Música Francesa para Piano a Quatro Mãos – Marylène Dosse e Annie Petit

Música Francesa para Piano a Quatro Mãos – Marylène Dosse e Annie Petit

 

 

Era uma vez…

 

 

 

Três palavras mágicas que aquietam qualquer plateia quando entoadas. A elas segue um cortejo de seres mágicos, extraordinários – a Gata Borralheira, a Fada Madrinha, o Pequeno Polegar…
Os ávidos ouvintes até sabem os enredos, os desfechos dos casos, mas ainda assim esperam por eles. Neste ambiente nasce e fortalece o amor pela literatura e pelas outras artes.
Este petit álbum reúne música com alguns temas e inspirações comuns e o universo das histórias infantis é um deles. Temos aqui obras de seis compositores franceses que as compuseram entre 1890 e 1918. São peças para piano a quatro mãos ou duetos para piano. Na virada do século XIX para o século XX esta forma musical era muito popular, pois permitia que as pessoas ouvissem boa música, mas que elas mesmas precisavam tocar. Este álbum dá uma perspectiva da música francesa para piano desta época.

Ravel
A família de Cipa Godebski, por Pierre Bonnard

Começamos com a suíte Ma mere l’Oye, que Maurice Ravel compôs para Mimi e Jean Godebski, filhos de Ida e Cipa Godebski, grandes amigos de Ravel. Para saber quanto eles eram amigos, leia aqui.

O próprio Ravel escreveu: Era minha intenção despertar a poesia da infância nestas peças e isto naturalmente levou-me a simplificar meu estilo e diluir minha maneira de escrever.

A suíte começa com uma bela e simplíssima pavane, para uma princesa adormecida. Segue uma peça que ilustra a história do Pequeno Polegar, vagando pela floresta.

Na próxima peça, Laideronnette – Impératrice des Pagodes, encontramos um aspecto que foi caro aos compositores franceses deste período: o interesse pela música e temas orientais. Esta é uma brilhante e bem humorada elegia à Feiosanete, a Imperatiz do Pagode! Um doce para quem descobrir a história que está aqui representada…

Nesta suíte de Ravel, a peça que eu mais gosto é a de A Bela e a Fera! A Fera entra em cena grunhindo (seu tema) no registro baixo e depois do beijo, um fulgurante glissando, reaparece em um registro mais alto, como o da Bela. Lindo!

Para arrematar a obra, um sensacional passeio pelo Jardim Encantado!

Debussy e seu vaso chines…

A obra de Debussy apresentada aqui chama-se Six épigraphes antiques e foi uma de suas últimas, datando de 1914. As épigraphes antiques são adaptadas da música incidental que ele escreveu para uma apresentação das Chansons de Bilitis, encenada como um recitativo em 7 de fevereiro de 1901. Apenas a metade do material foi aproveitado e o resultado é uma peça altamente atmosférica, lembrando sua origem. Os títulos, que você poderá ler por completo logo a seguir, por si são poesia pura. Pour que la nuit soit propice, pour remercier la pluie au matin.

Satie

Debussy, foi amigo de Satie, mas não deixou de criticá-lo, dizendo que este deveria dar mais atenção à forma em suas composições. Pois não é que o amigo entendeu o recado e imediatamente compôs está maravilha aqui: Trois morceaux em forme de poire. Três peças em forma de pera! Erik Satie foi um músico e compositor rebelde e iconoclasta, assim como o foi em sua vida pessoal. Mesmo assim, exerceu grande influência nos outros compositores de sua geração. Seu estilo tão pessoal é baseado na simplicidade, favorecendo a sutis nuances e absoluta modéstia. No extravagante título desta peça – Trois morceaux em forme de poire, tanto responde ao comentário do amigo, quanto leva em conta o fato de poire ter duplo sentido no francês coloquial, de pera mesmo, mas também de simplório, tolo. Bem Satie!

Ele trabalhava como pianista de café em Montmartre, um caldeirão cultural na época, e a peça é baseada em música de cabaré composta entre 1890 e 1903. O famoso café Le Chat Noir, de Rudolf Salis, certamente estava entre eles. Não deixe de ouvir aqui a simples e maravilhosa valsa, Je te veux.

Séverac

A próxima peça, Le soldat de plomb, O soldadinho de chumbo, nos traz de volta ao mundo das historinhas infantis. Déodat de Séverac passou  a maior parte de sua vida na província francesa de Languedoc. Sua música tem um forte traço de regionalismo. Esta peça conta bem a história e é leve e bem humorada. Ganha um Kit-Kat quem descobrir a citação da música francesa mais famosa. Composta em 1904-1905, teve sua estreia por Ricardo Viñes e Blanche Selva, em um concerto só com música de Séverac, em 25 de março de 1905, na Scola Cantorum.

A obra Le parapluie chinois, de Florent Schmitt, é a última peça de um conjunto de sete, intitulado Une semaine du petit elfe Ferme-l’Oeil. Nesta peça charmosa e brilhante temos história infantil e o apelo da música do oriente. A peça é deliciosa e uma das que mais me fez lembrar do disco. Para saber mais sobre esse ótimo compositor, veja aqui.

Florent Schmitt
Viñes ao piano

Para fechar o disco temos uma sonata em três (breves) movimentos de Poulenc, que estudou com Viñes (amigo, associado, colega e intérprete de todos os compositores deste álbum).  A sonata é uma composição bem do início da carreira e foi escrita antes que Poulenc recebesse maior treinamento. Mesmo assim, a peça tem os traços que marcariam a sua obra.

Poulenc, jovem
Notre-Dame du Liban, Paris

As intérpretes deste especialmente despretensioso disco, editado pelo selo americano Price-Less, Marylène Dosse e Annie Petit, estudaram no Conservatório de Paris, ganharam prêmios, mas se conheceram em Viena, em Master-Classes de Paul Badura-Skoda, Alfred Brendel e Jörg Demus. Passaram a tocar em duo quando mudaram-se para os Estados Unidos da América, onde tornaram-se professoras. As peças de Ravel, Debussy e Satie foram gravadas em 1985, na Igreja Libanesa, em Paris, onde por muitos anos foram gravados muitos e muitos discos, de artistas tais como Jean-Pierre Rampal e Maurice André. As outras peças foram gravadas em Nova Iorque, em 1988.

 

Maurice Ravel (1875-1937)

Ma mère l’Oye

  1. Pavane de la Belle au bois dormant
  2. Petit Poucet
  3. Laideronnette – Impératrice des Pagodes
  4. Les entretiens de la Belle et de la Bête
  5. Le jardin féerique

Claude Debussy (1862-1918)

Six épigraphes antiques

  1. Pour invoquer Pan
  2. Pour um tombeau sans nom
  3. Pour que la nuit soit propice
  4. Pour la danseuse aux crotales
  5. Pour l’egyptienne
  6. Pour remercier la pluie au matin

Erik Satie (1866-1925)

Trois morceaux em forme de poire

  1. Avec une manière de commencement, une prolongation du même, un En Plus suivi d’une Redite

Déodat Séverac (1872-1921)

Le soldat de plomb

  1. Sérénade interrompue
  2. Quat’jours de boite
  3. Défilé nuptial

Florent Schmitt (1870-1958)

Une semaine du petit elfe Ferme-l’Oeil

  1. Le parapluie chinois

Francis Poulenc (1899-1963)

Sonate

  1. Prélude
  2. Rustique
  3. Finale

Marylène Dosse e Annie Petit, piano a quatro mãos

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Erik

Se você não se deliciar com esse maravilhoso disquinho, tens um coração de pedra!

René Denon

Debussy / Ravel / Fauré: Quartetos de Cordas // Quartetos Ébène & Budapest

Debussy / Ravel / Fauré: Quartetos de Cordas // Quartetos Ébène & Budapest

Quartetos de Cordas

Debussy – Fauré – Ravel

Quarteto Ébene

&

Quarteto Budapest

Antes de conhecer a música, conheci a história. Era uma vez um tempo em que os livros eram mais acessíveis do que as gravações. Foi então que eu li a história de uma pessoa que achou um disco, sem capa, com o selo ilegível. Após um mínimo de limpeza, coloca o disco na vitrola e ouve uma frase tocada por um instrumento de cordas, num registro bem baixo. A frase é prolongada e pontuada pelo pizzicato de quatro notas ascendentes. A frase é então repetida por um terceiro instrumento de cordas e aí tudo mergulha numa sequência maravilhosa, um andantino, doucement expressif. Um quarteto de cordas, música como ele nunca houvera experimentado. Como eu desejei essa música.

O contador dessa história é Érico Veríssimo, um dos nomes mais importantes da (nossa e dos outros também) literatura. Aqui está o trecho das memórias de Erico, na íntegra: “Por aquele tempo eu havia descoberto – não me recordo em que velha gaveta, baú ou porão – um disco fonográfico quebrado, do qual restava apenas uma pequena superfície intacta, perto do rótulo azul, cujos dizeres estavam completamente ilegíveis, como se alguém os tivesse obliterado com a ponta dum prego. Por curiosidade coloquei o disco mutilado na minha vitrola, e pouco depois o que saiu de seu alto-falante, em meio de estalidos e crepitações, foi uma frase musical duma esquisita e inesperada beleza, que me enfeitiçou: a viola desenhava a linha melódica dum andante, cuja melodia me ficou gravada na memória. Que era tocada por um quarteto de cordas, não havia a menor dúvida. Também eu estava certo de que não ouvia a voz de Mozart nem a de Beethoven. Brahms, quem sabe? Não. A música me falava francês e não alemão, italiano ou qualquer outra língua. A frase do quarteto me perseguiu obsessivamente durante todo aquele fim de 1930. Parecia descrever musicalmente o meu estado de espírito naquela época de minha vida: doce e preguiçosa melancolia e ao mesmo tempo um hesitante desejo de fuga ou, melhor, de ascensão…

Só quatorze anos mais tarde, quando já liberto da ópera — para ser preciso em 1944, em San Francisco da Califórnia — é que vim a saber que a frase mágica era o andantino doucement expressif do Quarteto de cordas em sol menor, de Claude Debussy”.

O cara é um bamba, não é mesmo? Dá vontade de ler mais. Então vá, aproveite o embalo, leia o livro todo ao som desta postagem.

A busca pelo Quarteto de Debussy me levou à música de câmera francesa, que é fonte de muito prazer. É música de muita sofisticação e charme e vale profunda investigação. Lembro a postagem que fiz das Sonatas para Violino de Fauré, cujo Quarteto de Cordas, com o Quarteto de Ravel, completa um dos discos desta postagem. Este disco é interpretado pelo Quarteto Ébène e ganhou muitos prêmios na ocasião de seu lançamento. O disco merece todos os prêmios e certamente é uma referência atualíssima para esse rico repertório.

O local de gravação do disco do Quarteto Ébène é estonteante. La Ferme de Villefavard fica na região de Limousin (no Brasil, seria Limãozinho). É uma antiga granja originalmente construída no início do século passado e cuja renovação ficou ao cargo de Albert Yaying Xu, especialista em acústica de renome internacional.

Claude Debussy (1862-1918)

Quarteto de Cordas em sol menor, Op. 10

  1. Animé et très décidé
  2. Assesz vif et bien rythmé
  3. Anadantino, doucement expressif
  4. Très modéré – Très mouvementé

Gabriel Fauré (1845-1924)

Quarteto de Cordas em mi menor, Op. 121

  1. Allegro moderato
  2. Andante
  3. Allegro

Maurice Ravel (1875-1937)

Quarteto de Cordas em fá maior

  1. Allegro moderato – Très doux
  2. Assez vif – Très rythmé
  3. Très lent
  4. Vif et agite

Quatuor Ebène

Pierre Colombet, violino

Gabriel Le Magadure, violino

Mathieu Herzog, viola

Raphaël Merlin, violoncelo

Gravação: Ferme de Villefavard, Limousin, França, 2008
Produção: Etienne Collard

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FLAC | 368 MB

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MP3 | 320 KBPS | 184 MB

Este não é o Q Ébène, mas mostra o local da gravação com um quarteto de cordas.

No entanto, decidi também fazer uma homenagem aos antigos LPs e escolher um deles para ser postado ao lado da gravação mais recente. Após muitas horas de (prazerosa) procura, ouvindo várias gravações, este, aquele e aquele outro, fiquei entre duas opções: Quarteto Italiano e Quarteto Budapest. Vejam, nos dias dos LPs, os quartetos de Ravel e Debussy eram assim, irmãos gêmeos, assim como os concertos para piano de Schumann e de Grieg.

Veja como é linda a capa do LP

A interpretação do Quarteto Italiano é justamente famosa e o disco impressiona pela espetacular beleza sonora. No entanto, a capa do LP original, mais o grão de rusticidade que percebo na versão do Budapest Quartet, me fizeram pender para ele. Creio que o contraste com a gravação do QE será mais impactante. Ganha um doce quem descobrir na foto da capa do CD quais são os irmãos Schneider.

Claude Debussy (1862-1918)

Quarteto de Cordas em sol menor, Op. 10

  1. Animé et très décidé
  2. Assesz vif et bien rythmé
  3. Anadantino, doucement expressif
  4. Très modéré – Très mouvementé

Maurice Ravel (1875-1937)

Quarteto de Cordas em fá maior

  1. Allegro moderato – Très doux
  2. Assez vif – Très rythmé
  3. Très lent
  4. Vif et agite

The Budapest String Quartet

Joseph Roisman, violino

Alexander Schneider, violino

Boris Kroyt, viola

Misha Schneider, violoncelo

Gravação: 1958

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FLAC | 315 MB

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MP3 | 320 KBPS | 131 MB

La Ferme de Villefavard antes de encontrar a fada madrinha…

Vá, baixe os discos, ouça música e mergulhe nessa transversal de cultura. Leia os livros do Veríssimo, pai. Tudo bem, leia o filho que também é muito bom.

Os rapazes de Budapest!

René Denon

 

 

Claude Debussy (1862-1918): Images I e II – Estampes – Ivan Moravec, piano

Claude Debussy (1862-1918): Images I e II – Estampes – Ivan Moravec, piano

Ivan Moravec plays Debussy

O concerto foi na Sala Cecília Meireles e a primeira parte do programa foi o Concerto para Piano de Schumann. Lindo. O último movimento, arrebatador, como se espera de um autêntico concerto romântico. A pianista Sylvia Thereza, que eu não conhecia, tem excelentes credenciais e fez mais do que jus à obra.

Palmas, muitas palmas, ela voltou umas três vezes ao palco para agradecer nosso entusiasmo e então ficamos quietinhos quando ela anunciou que tocaria Reflexos na Água, de Debussy. Como foi bonito. Ficamos lá, nós e os jovens músicos da orquestra, todo o mundo na pontinha da cadeira, por cinco minutos, ouvindo uma beleza de música, um refrescante contraste com o romantismo da peça que ouvíramos antes.

Lembrei-me então do disco que estou postando hoje: Ivan Moravec plays Debussy. Bons discos de Debussy não são muitos e excelentes então, nem se diga. É bem fácil errar a mão com este compositor. Além disso, o som também é muito importante, para podermos apreciar os mil efeitos que ele produz e que compõem as suas ideias musicais.

Neste disco temos uma feliz combinação de compositor – repertório – intérprete, completado por um excelente trabalho técnico, apesar do selo relativamente pouco conhecido, MMG – Vox Cum Laude.

O pianista Ivan Moravec nasceu em Praga, teve grande renome e atinha-se a um repertório centrado principalmente na obra de Chopin e compositores tchecos.

Claude tomando um solzinho de outono em Camboinhas…

Quando gravava alguma obra, era como resultado de muita dedicação e experiência. Aqui nas páginas deste blog você encontrará alguns concertos para piano de Mozart interpretados por ele, que foram postados pelo FDP Bach (aqui e aqui). Encontrará também os Noturnos de Chopin, postados pelo Vassily Genrikhovich (aqui). A postagem do Vassily foi feita na ocasião da morte de Moravec, em 2015 aos 84 anos.

O disco desta postagem começa exatamente pela Reflets dans l’eau (Reflexos na água), a primeira da série Images, livre 1. O disco é composto pelas duas séries de três peças chamadas Images, além de Estampes, outra série de três peças. Moravec devia saber que dez é o número da totalidade, pois acrescentou uma intrigante peça do primeiro livro dos Préludes, chamada Des pas sur la neige, entre as duas Images e Estampes. Os títulos das peças de Debussy são muito bonitos e mesmo poéticos. Mas eles apenas reforçam a impressão causada pela peça. No caso dos Préludes, Debussy insistia que o nome viesse apenas no final da peça.

Você poderá ler cada um dos nomes das peças e descobrir um pouco sobre cada um deles. Os que eu mais gosto são Et la lune descend sur le temple qui fut, Soirée dans Grenade e Jardins sous la pluie. Debussy esnobava dizendo que escolhera o nome Et la lune descend sur le temple qui fut para formar um perfeito verso Alexandrino.

Max também produziu a integral das sonatas para piano de Beethoven com Richard Goode!

Falta mencionar um importante nome que aparece sempre em letras pequeninas no livreto, quando aparece. A produção deste fenomenal disco é de Max Wilcox, uma lenda para as pessoas que sabem da importância dos produtores na história das gravações. Max produziu praticamente todos os LPs de Arthur Rubinstein. Produziu também muitos discos do Emerson Quartet. Você poderá assistir aos depoimentos de Max Wilcox e Da-Hong Seetoo sobre suas experiências como produtores aqui. A discografia de Max é imensa e ele foi uma das pessoas que elevou o papel de produtor de discos a um nível artístico. Meu lema é: “Se é Max, é bom!” Com sorte, pode ser excepcional, como é o caso desta preciosidade aqui.

Claude Debussy (1682 – 1918)

Images I

  1. Reflets dans l’eau
  2. Hommage à Rameau
  3. Mouvement

Images II

  1. Cloches à travers les feuilles
  2. Et la lune descend sur le temple qui fut
  3. Poissons d’or

Preludes, Livre I, No. 6

  1. Des pas sur la neige

Estampes

  1. Pagodes
  2. Soirée dans Grenade
  3. Jardins sous la pluie

Ivan Moravec, piano

Produção: Max Wilcox

Ivan Moravec

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FLAC | 113 MB

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MP3 | 320 KBPS | 115 MB

Este disco merece o selo de ótima qualidade!

René Denon

Stephen Hough’s Spanish Album – Peças de A. Soler, E. Granados, I. Albeniz, F. Mompou, F. Longas, C. Debussy, M. Ravel, F. X. Scharwenka, W. Niemann e S. Hough

Stephen Hough’s Spanish Album – Peças de A. Soler, E. Granados, I. Albeniz, F. Mompou, F. Longas, C. Debussy, M. Ravel, F. X. Scharwenka, W. Niemann e S. Hough

Peças para Piano 

Vários Compositores

 

Uma alusão à música espanhola nos traz à memória uma variedade de ritmos e estilos que vão do violão clássico, passando pelo flamenco, zarzuela e outros. Esses ritmos e estilos inspiraram compositores de Espanha e de outros países também.

Como não pensar no Capricho Espanhol, de Rimsky-Korsakov, na ópera Carmen, de Bizet ou no balé El amor brujo, de Manuel de Falla?

A música tem esse poder de evocar lembranças em todos os nossos sentidos: sons, cores, temperatura e sabores – tudo junto e misturado.

O disco desta postagem nos transporta para um mundo de paixões e misticismo. Você identificará em cada faixa algum aspecto da cultura espanhola e ficará surpreso ao perceber que nem todas as peças foram compostas por espanhóis.

O disco merece ser ouvido muitas vezes. Primeiro por sua simples beleza e sensualidade. Depois você perceberá a altíssima qualidade técnica do pianista Stephen Hough, um dos melhores em atividade.

A maneira como o disco foi concebido, desfilando compositores espanhóis, fraceses e de outras nacionalidades, mas também guardando alguma ordem cronológica mostra o cuidado da produção.

Real Alcazar, Sevilha

A sonata do padre Antonio Soler nos lança imediatamente no clima de ritmos empolgantes, de clara evocação espanhola. Soler aprendeu muita coisa com o Domenico Scarlatti!

A sequência também apresenta peças mais poéticas, onde ritmos mais dolentes revelam o caráter apaixonado da cultura espanhola.

Os compositores franceses agregam muita sofisticação e refinamento ao disco.

Stephen Hough

As últimas faixas exibem o aspecto virtuosístico do pianista que compôs a última delas. É a técnica colocada ao serviço da música (e do nosso prazer), não o contrário.

O selo Hyperion é mais uma garantia de qualidade na produção sonora, nas notas do livreto e na escolha da (magnífica) capa. Veja o que disse a Classic CD sobre o álbum: “This is a terrific disc. A master pianist reminds us that the piano can delight, surprise and enchant!”

Stephen Hough’s Spanish Album

  1. Antonio Soler (1729-1783) – Sonata em fá sustenido maior
  2. Enrique Granados (1867-1916) – Valses poéticos
  3. Isaac Albéniz (1860-1909) – Evocación, do livro I, de Iberia
  4. Isaac Albéniz – Triana, do livro II, de Iberia
  5. Frederico Mompou (1893-1987) – Pájaro triste, de Impressiones íntimas
  6. Frederico Mompou – La barca, de Impressiones íntimas
  7. Frederico Mompou – Secreto, de Impressiones íntimas
  8. Frederico Mompou – Gitano, de Impressiones íntimas
  9. Federico Longas (1893-1968) – Aragón
  10. Claude Debussy (1862-1918) – La soirée dans Grenade, de Estampes
  11. Claude Debussy – La sérenade interrompue, dos Préludes, livro I
  12. Claude Debussy – La Puerta del Vino, dos Préludes, livro II
  13. Maurice Ravel (1875-1937) – Pièce em forme de Habanera, arranjo de Maurice Dumesnil (1886-1974)
  14. Isaac Albéniz – Tango, arranjo de Leopold Godowsky (1870-1938)
  15. Franz Xaver Scharwenka (1850-1924) – Spanisches Ständchen, Op. 63, 1
  16. Walter Niemann (1876-1953) – Evening in Seville, Op. 55, 2
  17. Stephen Hough (b 1961) – On Falla (2005)

Stephen Hough, piano

Produção: Andrew Keener

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FLAC | 181 MB

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MP3 | 320 KBPS | 164 MB

Stephen Hough esperando a van do PQP para levá-lo ao Castelo do PQP para um fim de semana com a turma…

Se você não ficar fascinado, adicto e dependente deste disco, então eu não sei de mais nada. Este merece nosso Selo RD de (Ótima) Qualidade!

Anda, vai, baixa logo, mas cuidado, material altamente contagiante!

René Denon

Claude Debussy – Images pour orchestre, L. 122, Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86, La mer, L. 109 – Salonen, Los Angeles Philharmonic Orchestra

Em sua nova incursão na música de Debussy, o maestro finlandês Esa-Pekka Salonen esbanja talento e criatividade em um repertório muito bem conhecido por ele. Em minha opinião, temos aqui uma das grandes gravações da obra do francês já gravadas, no mesmo nível de Martinon, Monteux, ou Munch.
A competência deste excelente maestro já nos é conhecida, ele é figurinha carimbada aqui no PQPBach. Além de ser um dos principais regentes da atualidade, com sua agenda sempre cheia, também é um compositor de mão cheia.

 

01. Images pour orchestre, L. 122 I. Gigues
02. Images pour orchestre, L. 122 IIa. Ibéria. Par les rues et par les chemins
03. Images pour orchestre, L. 122 IIb. Ibéria. Les parfums de la nuit
04. Images pour orchestre, L. 122 IIc. Ibéria. Le matin d’un jour de fête
05. Images pour orchestre, L. 122 III. Rondes de printemps
06. Prélude à l’après-midi d’un faune, L. 86
07. La mer, L. 109 I. De l’aube à midi sur la mer
08. La mer, L. 109 II. Jeux de vagues
09. La mer, L. 109 III. Dialogue du vent et de la mer

Los Angeles Philharmonic Orchestra
Esa-Pekka Salonen – Conductor

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Christoph Schneider – Spectrum – Werke von Beethoven, Weber, Debussy, Berg & Schneider

“Spectrum – uma grande variedade. Este é o termo que melhor descreve a intenção do meu CD de estréia. Assim como minha vida musical com músico de orquestra e músico de câmara, solista e professor inclui uma variedade de diferentes facetas, a música para essa gravação foi deliberadamente escolhida para refletir a vasta gama de literatura de clarinete e riqueza de expressão que é possível neste maravilhoso instrumento. Em latim, no entanto, “espectro” também significa algo como “concepção” ou “imagem na alma” – também se pode falar de inspiração. Um espírito imanente que guia tanto compositores como intérpretes e que, à sua maneira, dá vida a todas as obras deste CD, conectando-as como um fio comum.”

Assim o jovem clarinetista Christoph Schneider apresenta seu CD de estréia. O jovem virtuose escolheu um belo e variado repertório para mostrar seus talentos, incluindo ai uma obra de sua própria autoria. Vale a audição exatamente pelo excepcional músico que Schneider é, o que pode ser observado já na primeira obra, uma peça de Carl Maria von Weber, compositor que escreveu diversas peças para o instrumento, inclusive dois concertos.

Carl Maria von Weber (1786–1826)
Grand Duo concertant op. 48 Es-Dur für Klarinette und Klavier (1815/16)
01 Allegro con fuoco
02 Andante con moto
03 Rondo. Allegro

Alban Berg (1885–1935) Vier Stücke op. 5 für Klarinette und Klavier (1913)

04 Mäßig
05 Sehr langsam
06 Sehr rasch
07 Langsam

Ludwig van Beethoven (1770–1827) Sonate F-Dur op. 24 für Violine und Klavier (1800/01)
Fassung für Klarinette und Klavier von Christoph Schneider

08 Allegro
09 Adagio molto espressivo
10 Scherzo. Allegro molto
11 Rondo. Allegro ma non troppo

Christoph Schneider (*1989)
12 Konstrukt I – Thema und Variationen für Klarinette solo (2015)

Claude Debussy (1862–1918)
13 Première Rhapsodie für Klarinette und Klavier (1909/10)

Christoph Schneider, Klarinette
Yuliya Balabicheva, Klavier

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Claude Debussy (1862-1918): Poèmes

Claude Debussy (1862-1918): Poèmes

Este é mais um arquivo que nos foi repassado pelo querido amigo pequepiano WMR.

Um surpreendente e bonito disco de obras pouco visitadas de Debussy. São canções muito bonitas, a quintessência da melodia francesa e também da arte do compositor. A cantora greco-alemã Stella Doufexis é sensível à música da língua francesa e tem pronúncia melhor que a maioria dos cantores franceses. Falo sério. Muitas vezes o disco torna-se mágico, recriando a atmosfera simbolista da virada do XIX para o XX. Estão aqui reunidos ciclos de poemas de autores esquecidos ou famosos (Mallarmé e Verlaine) onde a escrita refinada e tipicamente francesa de Debussy se expressa em total liberdade. Com seu tom caloroso, Stella Doufexies é a intérprete ideal destes poemas com humores às vezes escuros, às vezes felizes ou nostálgicos. Sua capacidade de trazer os textos para a vida é simplesmente fascinante. O acompanhamento preciso e em perfeita harmonia do especialista no gênero Daniel Heide, também é digno de nota.

Claude Debussy (1862-1918): Poèmes

1 Nuit D’étoiles 3:17
2 Fleur Des Blés 2:02
Deux Romances (04:18)
3 1. Romance 2:06
4 2. Les Cloches 2:12
Fêtes Galantes (07:30)
5 1. En Sourdine 3:05
6 2. Fantoches 1:14
7 3. Clair De Lune 3:11
Le Promenoir Des Deux Amants (06:22)
8 1. La Grotte 2:16
9 2. Crois Mon Conseil, Chère Climène 1:46
10 3. Je Tremble En Voyant Ton Visage 2:20
Trois Poèmes De Stéphane Mallarmé (08:33)
11 1. Soupir 3:14
12 2. Placet Futile 2:30
13 3. Éventail 2:49
Cinq Poèmes De Charles Baudelaire (28:00)
14 1. Le Balcon 8:22
15 2. Harmonie Du Soir 4:33
16 3. Le Jet D’eau 5:50
17 4. Recueillement 5:50
18 5. La Mort Des Amants 3:25

Mezzo-soprano Vocals – Stella Doufexis
Piano – Daniel Heide

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Imaginem o fiasco se Debby conhecesse o calor de Porto Alegre…

PQP

Sabine Devieilhe – Mirages – Alexandre Tharaud, François-Xavier Roth, Les Siècles

A voz da soprano Sabine Devieilhe é o grande destaque deste belíssimo CD. E é ela quem o apresenta:

“Este álbum veio através do meu desejo de gravar Lakmé, um papel que tem sido muito querido para o meu coração desde que eu o fiz pela primeira vez no palco em 2012.
Para este personagem de Lakmé, Leo Delibés compôs algumas das mais belas músicas já compostas para soprano coloratura. Sua abordagem artística era essencialmente francesa, pois sempre fazia da voz o centro das atenções, com uma orquestração que às vezes é diáfana (quando uma heroína recita uma oração) e às vezes deslumbrante (nos grandes duetos amorosos).
Foi esse trabalho que despertou meu amor pela ópera francesa do século XIX. Mas Lakmé também surgiu no contexto de artistas europeus, tornando-se mais abertos a influências de terras distantes. Os ouvidos ocidentais estavam ansiosos por fazer viagens musicais e poéticas, e as pessoas eram cada vez mais receptivas a perfumes de longe.” Esta sua apresentação em sua íntegra se encontra no booklet que está anexado ao arquivo.

Dois momentos memoráveis deste CD é a magnífica ”Viens, Mallika’, com a ‘Duo das Flores’, uma das mais belas árias já compostas, e ‘La Romance d’Ariel” de Debussy. A voz de Sabine Devieilhe é alguma coisa de outro mundo. Tenho certeza que os senhores irão amar este CD.

1 Messager Madame Chrysanthème, Act 3 ‘Le jour sous le soleil béni’ (Madame Chrysanthème)
2 Debussy Pelléas et Mélisande, Act 3 ‘Mes longs cheveux descendent’ (Mélisande)
3 Delibes Lakmé, Act 2 ‘Où va la jeune Hindoue’ (Lakmé)
4 Delage 4 poèmes hindous – I. Madras
5 Delage 4 poèmes hindous – II. Lahore
6 Delage 4 poèmes hindous – III. Bénarès
7 Delage 4 poèmes hindous – IV. Jeypur
8 Debussy La Romance d’Ariel
9 Delibes Lakmé, Act 1 ‘Viens, Mallika’ (Lakmé, Mallika)
10 Stravinsky Le Rossignol, Act 2 ‘Ah, joie, emplis mon coeur’ (Le Rossignol)
11 Thomas Hamlet, Act 4 ‘À vos jeux, mes amis’ (Ophélie)
12 Berlioz La mort d’Ophélie
13 Massenet Thaïs, Act 2 ‘Celle qui vient est plus belle’ (La Charmeuse, Crobyle, Myrtale)
14 Koechlin Le voyage
15 Delibes Lakmé, Act 3 ‘Tu m’as donné le plus doux rêve’ (Lakmé)

Sabine Devieilhe – Soprano
Alexandre Tharaud – Piano
Jodie Devos – Soprano
Marianne Crebassa – Mezzo-Soprano
Les Siècles
François-Xavier Roth – Conductor

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