Étienne Henri (ou Nicholas) Méhul (1763 – 1817) – Aberturas

Parece que hoje é o dia das raridades… Vamos lá. Este Méhul é muito bom compositor. Ouçam! É autor do romantismo inicial e é tão interessante que nem francês parece ser. O cara compôs de tudo: sinfonias, óperas, aberturas, balés, sonatas para piano e obras para teatro. É claro que a Orquestra de Bretanha deve ter promovido um The Best of, porém este é muito satisfatório. Mais um para a galeria de raridades absolutas dos ouvintes-leitores do PQP. Agora, vocês podem dizer aos amigos que a música, na opinião de vocês, divide-se em A.M. e D.M. (antes e depois de Méhul…). Ninguém vai entender nada, mas talvez alguém lhes tome por supremamente eruditos, sei lá. Tentem.

Faixas:

1. Le trésor supposé: Overture
2. Le jeune Henri: Overture
3. Joseph: Overture
4. Ariodant: Overture
5. Mélidore et Phrosine: Overture
6. Horatius Coclès: Overture
7. Bion: Overture
8. Le jeune sage et le vieu fou: Overture
9. Les deux aveugles de Tolède: Overture

Orchestre de Bretagne
dir. Stefan Sanderling

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Giovanni Stefano Carbonelli (1690? – 1772) – Sonates pour violin et basse continue

(Ouvi este CD apenas uma vez.) Os discos da Alpha, vocês sabem, são quase sempre espetaculares. E eles matam a pau novamente com este desconhecido Carbonelli, do qual pouco se sabe mas que pode nos dar uma hora de esplêndida música. São várias peças escritas para instrumentos variados, havendo até coisas para um tipo qualquer de “guitar” e órgão. A última obra do disco é a melhor. Enjoy!

Algumas poucas coisinhas sobre o compositor: In 1719, young Giovanni Stefano Carbonelli arrived in London from Rome, where he was active, invited by the Duke of Rutland to enter his service. So little is known about Carbonelli’s life that we just have to make do with what we can imagine from his music and from the musical context in England at that time. He was probably born during the last decade of the seventeenth century. We know that he studied with Corelli and that like his most famous fellow students, Pietro Castrucci and Francesco Geminiani, he felt deawn to London and settled there. London at that time was astir with the resounding successes of Handel’s operas and boasted the very best of European misicians. So it is easy to imagine the pull of such a city for a young and adventurous musician(…)

A lista de faixas foi retirada de um site russo e, bem, é aquilo…

1 I. 0:02:26 Sonate X, Sol Mineur
2 II. 0:03:25 -“-
3 III. 0:02:12 -“-
4 IV. 0:02:35 -“-
5 I. 0:02:51 Sonate I, Re Majeur
6 II. 0:02:33 -“-
7 III. 0:01:56 -“-
8 IV. 0:01:56 -“-
9 I. 0:02:41 Sonate XII, Si Mineur
10 II. 0:03:35 -“-
11 III. 0:07:48 -“-
12 Prelude, Ayres Pour Guitare, (Nicola Matteis ? – Ap. 1685) 0:05:43
13 I. 0:02:12 Sonate VII, La Mineur
14 II. 0:02:44 -“-
15 III. 0:02:04 -“-
16 IV. 0:03:08 -“-
17 I. 0:04:24 Sonate VI, La Majeur
18 II. 0:02:31 -“-
19 III. 0:10:11 -“-

Hélène Schmitt, violon
Gaetano Nasillo, cello
Andrea Marchiol, harpsichord & organ
Karl-Ernst Schröder, guitar

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Mais um mano

Após exaustivas pesquisas históricas, descobrimos mais um caso de papai e, como sempre acontecia com ele, mais um filho. Não tinha jeito de ele aprender o coitus interruptus, bastante popular na época. Carl Dietrich Fritz Bach, também conhecido por C.D.F. Bach, resultou da ligação de nosso pai com a Condessa de Shortshot, amásia de Frederico II e personagem do Les Luthiers. O nome Dietrich foi uma homenagem ao tio Bux, claro.

Seu foco no P.Q.P. Bach será a música moderna, que sempre considerei injustamente desprezada por aqui, mas ele terá toda a liberdade dada aos outros, ainda mais sendo filho de uma Condessa e falso bastardo de um soberano iluminista.

Éramos quatro, agora somos outro Grupo dos Cinco.

J. S. Bach (1685-1750) – Outra Oferenda Musical, BWV 1079

Uns sustos aqui e ali, mas é muito boa a versão da Ensemble Sonnerie. Não lembro das outras versões que postei, porém posso dizer que esta é muito superior à de Karl Münchinger – a qual lembro ter postado recentemente -, por exemplo. Excelente escolha de instrumentos.

Johann Sebastian Bach – A Oferenda Musical

1. Ricercar A 3
2. Canon Perpetuus Super Thema Regium
3. Canones Diversi Super Thema Regium: Canon 1. a 2 (Cancrizans)
4. Canones Diversi Super Thema Regium: Canon 2. a 2 Violini In Unisono
5. Canones Diversi Super Thema Regium: Canon 3. a 2 Per Motum Contrarium
6. Canones Diversi Super Thema Regium: Canon 4. a 2 Per Augmentationem, Contrario Motu…
7. Canones Diversi Super Thema Regium: Canon 5. a 2 (Canon Circularis Per Tonos) ‘Ascendente…
8. Fuga Canonica In Epidiapente
9. III Ricercar a 6
10. Canon a 2. Quaerando Invenietis
11. Canon a 4
12. Son Sopr’il Soggetto Reale: Largo
13. Son Sopr’il Soggetto Reale: Allegro
14. Son Sopr’il Soggetto Reale: Andante
15. Son Sopr’il Soggetto Reale: Allegro
16. Canon Perpetuus
17. Ricercar a 6

Frances Eustace
Wilbert Hazelzet
Gary Cooper
Paul Goodwin
Pavlo Beznosiuk
Monica Huggett

Ensemble Sonnerie

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Alberto Ginastera (1916-1983) e Reinhold Glière (1875-1956) – Concertos para Harpa e Orq.

Forte candidato a pior compositor de todos os tempos, Glière talvez não satisfizesse nem aquela sua tia romântica que ouve música só para revirar os olhos. É tudo excessivo, anacrônico, mais parecendo uma antologia de lugares-comuns. A harpa se presta. Já o concerto de Ginastera é aceitável, porém, depois de todo o caminhão de ciclamato soviético despejado por Glière tudo virou uma m..da e não conseguia ver graça em nada. Ô, cedezinho ruim! A tal Coloratura acabou comigo!

Reinhold Glière (1875-1956)
1. Harp Concerto in E flat major, Op. 74: I. Moderato Rachel Masters 10:40
2. Harp Concerto in E flat major, Op. 74: II. Tema con variazioni Rachel Masters 11:06
3. Harp Concerto in E flat major, Op. 74: III. Allegro giocoso Rachel Masters 5:19

4. Coloratura Soprano Concerto, Op. 82: I. Andante Eileen Hulse 8:58
5. Coloratura Soprano Concerto, Op. 82: II. Allegro Eileen Hulse 5:06

Alberto Ginastera (1916-1983)
6. Harp Concerto, Op. 25: I. Allegro giusto Rachel Masters 8:56
7. Harp Concerto, Op. 25: II. Molto moderato Rachel Masters 6:52
8. Harp Concerto, Op. 25: III. Liberamente capriccioso – Vivace Rachel Masters 7:50

Rachel Masters (Harpa)
Eileen Hulse (Soprano-sereia)
London Sinfonia (Orchestra)
The City of London Sinfonia (Orchestra)
Richard Hickox (Conductor)


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Henry Purcell (1659-1695) – Songs and Dialogues

Maravilhoso CD da Hyperion com Emma Kirkby, David Thomas e Anthony Rooley. É um CD para interromper os estudos de FDP Bach para o concurso que ocorrerá daqui um mês. Não sei vocês sabem que FDP ama Kirkby e sua voz de anjo. Anjo? Anjo coisa nenhuma! Aqui ela canta amorosamente com Thomas e faz perguntas como “What can poor females do?”. Ora, Emma.

Como diz o comentarista da Grammophone, é um disco inocentemente sexy na sua forma mais charmosa (e completa, FDP: Kirkby can never sounded more celestial…). Acho lindas essas canções do grande Purcell, mas elas ficam só fazem sentido com as letras. Aí é que fica clara a genialidade do compositor inglês. Então, ou procurem-nas na rede ou adquiram o CD. Vale a pena.

A gravação é de 1982. Ela cantava ainda melhor do que em 2007, quando a vi em Buenos Aires? Acho que sim.

Henry Purcell (1659-1695) – Songs and Dialogues

1 In all our Cynthia’s shining sphere, song, Z. 496
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

2 Tell me why my charming fair (from “Prophetess”), duet for soprano & bass, Z. 627/35
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

3 As Amoret and Thirsis lay, song (from “The Old Bachelor”), Z. 607/11
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

4 For Iris and her swain (from “Amphitryon”), song, Z. 572/11
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

5 Go tell Amynta, song, Z. 489
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

6 Why, my Daphne, why complaining? (A Dialogue between Thirsis and Daphne), song for soprano, bass & continuo, Z. 525
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

7 What can we poor females do? song for soprano, bass & continuo, Z. 518
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

8 Hence, fond deceiver, song for soprano, bass & continuo, Z. 492
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

9 In some kind dream, song, Z. 497
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

10 What a sad fate is mine, song, Z. 428 (2 versions)
with David [bass] Thomas, Anthony Rooley

11 Lost is my quiet forever, song, Z. 502
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

12 Stript of their green our groves appear, song, Z. 444
with Emma Kirkby, Anthony Rooley

13 You say ‘tis love (from “King Arthur”), soprano aria, Z. 628/35a
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

14 King Arthur, or, The British Worthy, semi-opera, Z. 628 For love ev’ry creature is formed by his nature
with Emma Kirkby, David [bass] Thomas, Anthony Rooley

Emma Kirkby (soprano)
David Thomas (bass)
Anthony Rooley (alaúde)

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Handel (1685-1759) em arranjo de Mozart (1756-1791): Acis e Galatea

Esta é a versão reorquestrada e cantada em alemão de ”Acis e Galatea”, de Handel, realizada em 1788 para o Barão von Swieten, alguém rico que apaixonou-se para música barroca pero no mucho. Em sua forma original, em inglês com instrumentação simplificada, este trabalho de Handel foi muitas vezes apresentado na forma de concerto. Contudo o Barão queria um pouco mais de massa sonora e pediu uma versão mais parruda a Mozart. Nosso amigo agregou duas flautas, clarinetes e trompas, o que dá a orquestra uma sonoridade meio esquisita, mas que sublinha muito bem a partitura de Handel. Afinal, estamos falando de Mozart, não de um amador qualquer.

G.F. Handel (arr. Mozart) – Acis und Galatea

1. Acis Und Galatea: Act I – Overtura
2. Acis Und Galatea: Act I – 1. O begluckter Schaferstand! (Galatea)
3. Acis Und Galatea: Act I – Du grunes Feld, bebuschter Hugel – Still, du kleiner Wipfelchor (Galatea)
4. Acis Und Galatea: Act I – 3. Wo such ich sie, die holde Nymph? (Acis)
5. Acis Und Galatea: Act I – 4. Blieb, Schafer, bleib! – Schafer, was suchst du so angstlich (Damon)
6. Acis Und Galatea: Act I – 5. Ach, Schaferin, wend, Galatea – Lieb in ihr Aug verkrochen (Acis)
7. Acis Und Galatea: Act I – 6. O fuhltest du die Qualen der Entfernung – Wie’s Taubchen klagt (Galatea)
8. Acis Und Galatea: Act I – 7. Wohl uns! (Galatea) (Acis)
9. Acis Und Galatea: Act I – 8. Wohl uns!

1. Acis Und Galatea: Introduction To Act II – Larghetto (Handel: Concerto grosso Op. 6 No. 6, Musette)
2. Acis Und Galatea: Introduction To Act II – Largo (Handel: Concerto grosso Op. 6 No. 7, Einleitung)
3. Acis Und Galatea: Act II – 9. Arme Hirten!
4. Acis Und Galatea: Act II – 10. Ich ras, ich schmelz, ich brenne! – Du roter als die Kirsche (Polyphem)
5. Acis Und Galatea: Act II – 11.Schonste, was eilst du von hinnin – Fleh nicht mehr zur stolzen Schonheit (Polyphem) (Galatea)
6. Acis Und Galatea: Act II – 12. Strebst du nach der zarten Schonen (Damon)
7. Acis Und Galatea: Act II – 13. Das Ungeheu’r weckt meine Wut – Die Liebe ruft (Acis)
8. Acis Und Galatea: Act II – 14. Bedenk doch, o Schafer (Damon)
9. Acis Und Galatea: Act II – 15. Lass, lass ab, Geliebtester – Eh’ lasst den Berg die Herde (Galatea) (Acis) (Polyphem)
10. Acis Und Galatea: Act II – 16. Hilf, Galatea! – Trau’rt, all ihr Musen! – So ist mein Acis denn dahin, Lass, Galatea, lass den Schmerz! (Acis) (Galatea)
11. Acis Und Galatea: Act II – 17. Wohlan! So nutz ich meine Gottermacht – Herz, du Sitz verliebten Grams (Galatea)
12. Acis Und Galatea: Act II – 18. Galatea, klag nicht mehr

Barbara Bonney – Galatea
Acis – Jamie MacDougall
Damon – Markus Schäfer
Polyphen – John Tomlinson

Choir of The English Concert
The English Concert
Trevor Pinnock

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A crítica musical

Enviado gentilmente a nós pelo amigo Raul Boeira. Publicado no Digestivo Cultural em 10/04/2008.

É preciso entender de música para resenhar um disco? É anti-ético para um jornalista musical ser amigo de artistas? Criticar é sempre “falar mal”? Essas e outras muitas dúvidas foram esclarecidas no curso de Crítica Musical promovido pelo Espaço da Revista Cult, voltado para jornalistas e estudantes de comunicação. Foram recrutados profissionais do mais alto escalão para discutir, avaliar e (por quê não?) criticar essa área do jornalismo cultural.

Uma das melhores (e mais subjetivas) definições sobre a atividade de um crítico musical foi dada pelo jornalista Pedro Alexandre Sanches, crítico da Folha de S. Paulo por 10 anos e hoje sub-editor de cultura da revista Carta Capital. “Um dia você se vê à frente de um rio com uma tina de roupa suja, um punhado de sabão e aí você vai descobrir que misturando esses ingredientes talvez a roupa fique limpa, talvez não. Pode até descobrir que se você cantar enquanto lava o tempo passe mais rápido”. A metáfora, apesar de ter sido definida por ele como “viagens na maionese”, representa muito bem o exercício de analisar uma obra musical. Não tem manual nem cartilha para esse profissional: é ao longo do tempo, pesquisando e conhecendo este universo que o jornalista encontra seu estilo e o caminho que vai percorrer.

Os jornalistas que deram início a esta atividade na imprensa brasileira foram Nelson Motta e Ezequiel Neves, nos anos 70. Segundo o crítico musical do jornal O Estado de S. Paulo, Jotabê Medeiros, a marca dessa geração era o grande envolvimento com os artistas e com o meio musical, que ia muito além da relação jornalista-artista. “Houve uma confusão de papéis nessa época. O crítico de música também produzia festivais, produzia artistas, às vezes tinha uma banda e não raro escrevia sobre o que fazia”, explica Jotabê. Nelson Motta compôs com Dori Caymmi, Lulu Santos, produziu vários artistas e eventos, como o Saquarema 76 e Hollywood Rock, enquanto também escrevia sobre música no jornal O Globo. Ezequiel Neves, por sua vez, foi produtor do Barão Vermelho e escrevia em revistas de música, como as extintas POP, Música e Som Três. “[Ezequiel] foi também um dos primeiros paradigmas de uma crítica de rock e pop essencialmente brasileira”, avalia.

Nos anos 80, os críticos mais influentes foram Pepe Escobar, Fernando Naporano e Alex Antunes que, ao contrário dos jornalistas da década passada, foram mais influenciados pelo que se fazia nas revistas americanas e inglesas. “A abordagem era agressiva, mas era necessária, pois foi uma época em que a indústria musical se formatava, com novas gravadoras se instalando no país. Então os jornais precisavam de profissionais para suprir essa demanda”, conta Jotabê.

Ao expor um pouco da biografia de cada crítico que teve uma atuação importante na história da música brasileira, Jotabê pôde também traçar o perfil da crítica musical atual. “Hoje você tem pouco tempo para decidir se gosta ou não de alguma coisa. Tem tido muito gossip, apesar das abordagens em bons blogs como o do Lúcio Ribeiro e do Alexandre Matias. Não sei se é a morte da crítica, mas hoje a existência dela está em xeque”, observa.

O pouco tempo que um crítico musical tem para ouvir novos álbuns e artistas, analisar e ainda escrever sobre o assunto é, de fato, um dos grandes problemas que o profissional encontra atualmente. Principalmente porque para escrever sobre música, é preciso se aprofundar, até para mostrar que tem um certo conhecimento sobre o assunto. “Para escrever sobre música, é preciso ter referências, saber que tipo de música o compositor ouve, o que ele quer dizer com a obra”, opina Sérgio Martins, crítico da revista Veja.

A aula com o jornalista foi baseada em uma seleção musical de dez álbuns de estilos bem variados, como Back to Black (Amy Winehouse), River: The Joni Letters (Herbie Hancock), Nashville Skyline (Bob Dylan) e outros artistas que não estavam na lista inicial, como Siba e a Fuloresta, Nelson Cavaquinho e Cat Power. A partir deste material, Sérgio promoveu com os alunos um debate sobre os diversos aspectos de cada estilo, gênero e artista. O exercício praticado na aula foi bem similar à atividade diária de um crítico musical: tentar encontrar referências, influências, originalidade, avaliar a interpretação, a dinâmica da canção e, por fim, dar o toque opinativo, contanto, é claro, que este seja fundamentado em todos os outros itens.

Outra questão importante, que muitas vezes passa despercebida por muitos leitores, é a associação entre o “criticar” e o “falar mal”. O assunto foi abordado por Pedro Alexandre, que assumiu ter sido “cruel” na época em que trabalhou na Folha de S. Paulo. “Lá eu falava mal mesmo. Aí cansei, entrei em crise. Quem sou eu para falar mal, julgar, condenar alguém assim?”, revela. Para ele, a crítica de jornal hoje é “fast-food”, pois informa pouco e acabam informando mais sobre “as coisas feias” de uma obra do que os aspectos “bonitos”. “O que me influencia a escrever atualmente é a emoção que determinada música causa em mim”, respondeu inspirado a um dos alunos do curso.

Fora do campo (minado) dos jornais diários e revistas semanais, há também a crítica feita por veículos voltados à música e cultura em geral, tais como a revista Bravo!, a própria Cult, a extinta Bizz e a Rolling Stone Brasil, lançada há pouco mais de um ano no mercado, entre outras que já vieram e não sobreviveram. Os editores da RS Brasil Pablo Miyazawa e Ademir Correa contribuíram também com o curso expondo aos participantes como foi a adaptação da revista para o Brasil e as diferenças editoriais entre as publicações internacionais e a publicação brasileira.

Ao contrário do que parece, a Rolling Stone não é uma revista de música ― ou só de música. Os editores a definem como uma revista de mercado, sobre cultura pop. De fato, a publicação tem textos sobre política, cinema, games e televisão. E apesar da extrema preocupação com a imagem, principalmente com a capa, é uma revista que aposta nos textos longos. “É um rompimento com a atitude derrotista das revistas que parecem um blog impresso. A gente faz texto longo e vê que as pessoas lêem sim!”, explica Ademar.

O curso trouxe também profissionais que têm uma relação direta com a crítica, mas não atuam como críticos, como o maestro Abel Rocha e a assessora de imprensa Mariana “Piky” Levy Candeias. Rocha, diretor artístico e regente titular da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo há 4 anos, deu aos alunos noções básicas sobre música erudita e mostrou alguns dos trabalhos da orquestra e suas experiências em misturar música clássica com popular. Piky expôs aos participantes algumas histórias inusitadas que viveu ao longo de sua carreira (já trabalhou na MTV e nas gravadoras Warner, Abril Music e Trama), tomando-as como exemplo de que o jogo de cintura é fundamental para ser um bom assessor de imprensa. Outro fator importante é a sinceridade do assessor, mesmo em situações que podem comprometer a publicação de uma matéria sobre o artista para quem trabalha. “Tem que criar uma relação de confiança com o repórter, senão você vira um mala, fica taxado e perde a credibilidade”, alerta.

Complementando as experiências e informações fornecidas pelos palestrantes, o músico, produtor musical e presidente da gravadora Trama, João Marcelo Bôscoli, fez um retrospecto sobre a evolução tecnológica das mídias (disco, CD, MP3), a mudança de interesses das gravadoras e, finalmente, sobre o declínio do império das majors com a internet e a possibilidade de se consumir música de graça. “O problema da indústria com o MP3 é que as gravadoras pensam que vendem o CD, o físico, o material. Mas se faz música em MP3, disco, pen drive…Não importa! Música é ar vibrando, não é tangível. Tudo isso é mídia, é apenas um suporte para a obra”, explica Bôscoli.

Entre brincadeiras e histórias pitorescas sobre grandes nomes da MPB, como a própria Elis Regina, sua mãe, Bôscoli também conversou com os alunos sobre produção musical, cuja atividade, para ele, não tem regra. “A produção se baseia na atmosfera do estúdio, é um mergulho dentro do sentimento das pessoas. No mais, qualquer metodologia é inútil”, opina. Por fim, falou um pouco sobre as atividades e novidades da Trama, que hoje conta mais cerca de 56 mil bandas cadastradas em seu portal.

Entrevistas
O momento mais esperado do curso pela maioria dos alunos, creio eu, foi a chegada de Sérgio Dias e Zeca Baleiro para uma entrevista coletiva na Cult. Ministrados pelo jornalista Filipe Luna, editor da revista Cult, os músicos contaram histórias, falaram sobre trabalhos antigos, futuros projetos e, claro, comentaram a relação deles com a crítica musical. Ambos os músicos já viveram maus momentos por conta do julgamento de suas músicas. Na opinião de Zeca, falta boa vontade e preparo dos jornalistas. “Rola um deslumbramento com as bandas gringas, parece que não se interessam pela música brasileira”, critica. Sérgio concorda e é ainda mais radical: acredita que para ser um bom crítico musical, tem que ser um bom músico também.

O mutante comentou ainda sobre o processo de criação do grupo e afirmou que não havia nada pré-determinado ou alguma intenção de passar mensagens, nada disso. “Não existiu nada pré-pensado na banda. Se a gente fosse pensar tudo aquilo, em fazer algo revolucionário, nada do que foi feito teria acontecido”, conta. Algo que deixa os alunos inquietos é o fato de não haver mais movimentos musicais ou algo “revolucionário” na atual geração, o que para Sérgio só se explica de um jeito: “AI-6”. “Vivemos o AI-6, é a maneira mais eficiente de calar a boca dos outros: o medo. Na minha época, tínhamos medo da polícia, do governo e hoje temos medo de tudo! Vocês são produto de uma devastação cultural”, protesta.

Na coletiva de Zeca Baleiro, o assunto que mais gerou discussões foi a internet. Ele acredita que disponibilizar suas músicas em um site é uma forma de demonstrar respeito com o público. “A internet não pode ser vista como uma inimiga. A vida do CD está realmente comprometida, mas ainda temos que contemplar as duas rotas: quem gosta da estética do álbum e quem prefere baixar uma música de graça. Mas todas as saídas que vejo para este momento do mercado estão na internet”, conclui. O assunto, aliás, foi o que dominou boa parte do curso, seja por conta das facilidades de acesso à música quanto à informação ― e tudo o que a revolução digital tem promovido, alterado e transformado na crítica musical.

Débora Costa e Silva
São Paulo, 10/4/2008

Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nro. 4 (CD 4 de 11)

Shostakovich estrearia esta obra em 1936, mas, após 10 ensaios e de ouvir muitos conselhos, cancelou a apresentação para não dar oportunidade à crítica oficial de qualificá-la como “formalista”. Eram os tempos difíceis do stalinismo. Ademais, Shosta sempre esteve descontente com o terceiro e último movimento… Engavetada, a partitura perdeu-se durante a guerra. Em 1946, Mítia reescreveu-a a partir de uma redução para dois pianos. Mas, mesmo assimm ela só foi estreada quando o clima melhorou, em 1961, sob a regência de seu amigo Kiríll Kondrashin.

Escrita para um orquestra monstruosa – seis flautas, quatro oboés, oito clarinetes, sete percussionistas e QUATORZE CONTRABAIXOS – é uma talvez a sinfonia mais complexa de Shosta. Tem somente 3 movimentos, tendo no centro um scherzo mahleriano com dois imensos movimentos externos.

É uma sinfonia inteiramente mahleriana: o uso camarístico de uma orquestra enorme, o grotesco, o encadeamento de temas, tudo lembra Mahler. O tema do scherzo remete-nos direto à Sinfonia Ressurreição.

Ela possui tem a tragédia que vivia a União Soviética em seu cerne: parece um retrato da mais completa e infernal desesperança ou da morte. Nesta perspectiva, não é nada estranho que John Neschling a tenha utilizado no programa de 20 de outubro de 2005, data dos 30 anos da morte de Vladimir Herzog.

Alguns a consideram música hesitante e de má qualidade. Olha, o último movimento realmente é desinteressante – exceção feita a seu final deslumbrante -, porém o restante está muito, mas muito longe disso. Diria que os dois extraordinários primeiros movimentos não merecem o terceiro. Apenas isso. Por que Shosta não escreveu outro ou o suprimiu?

CD 4

DMITRI SHOSTAKOVICH – SYMPHONY No.4

1. Allegro poco moderato
2. Moderato con moto
3. Largo. Allegro

Recorded in 1962
Moscow Philharmonic Orchestra
Kirill Kondrashin, Conductor
Total time 60:02

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Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Variações sobre uma Valsa de Diabelli

Postamos aqui, em versão CD, a respeitabilíssima gravação que o Príncipe Salinas possui em DVD. É um espanto e só perde mesmo para a versão de Pollini… Brincadeira, claro! Mas é verdade! É minha opinião! Vou lutar por ela! HAHAHAHA! Tenho mais de 50 anos e sei quão produtivas são essas briguinhas. Mas discutir e provocar é bom, né Príncipe? Concordo. As Diabelli são do período final e mais perfeito e maravilhoso de nosso Ludwig van: o dos indispensáveis quartetos, das primordiais últimas sonatas e da capital Nona Sinfonia. Se amanhã, lá pelas 10 da noite, não tivermos 100 downloads, desisto do blog. Um dia, posto o Pollini endiabrado das Diabelli. Por ora, fiquem com o pianista mais futuroso em atividade.

Note bem, Príncipe, Anderszewski nasceu em 4 de abril de 1969. 4 de abril é o dia de aniversário do Sport Club Internacional e 1969, o ano da inauguração do Beira-rio, onde o São Paulo morreu em 2006. Note bem, Príncipe, é um sinal…

Ludwig van Beethoven – Diabelli Variations

1. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Tema: Vivace 0:54
2. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation I: Alla marcia maestoso 1:53
3. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation II: Poco allegro 0:54
4. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation III: L’istesso tempo 1:33
5. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation IV: Un poco più vivace 1:02
6. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation V: Allegro vivace 0:59
7. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation VI: Allegro, ma non troppo 1:56
8. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation VII: Un poco più allegro 1:14
9. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation VIII: Poco Vivace 1:30
10. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation IX: Allegro pesante e risoluto 1:48
11. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation X: Presto 0:40
12. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XI: Allegretto 1:28
13. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XII: Un poco più mosso 0:59
14. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation XIII: Vivace 1:05
15. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XIV: Grave e maestoso 6:20
16. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XV: Presto scherzando 0:38
17. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XVI: Allegro 0:59
18. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation XVII: Allegro 1:03
19. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation XVIII: Moderato 2:18
20. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XIX: Presto 1:02
21. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XX: Andante 2:56
22. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XXI: Allegro con brio 1:35
23. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxii: Molto Allegro (Alla ‘Notte E Giorno Faticar’ Di Mozart) 0:52
24. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxiii: Assai Allegro 0:52
25. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxiv: Fughetta. Andante 3:45
26. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XXV: Allegro 0:48
27. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxvi: Allegro 1:06
28. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxvii: Vivace 1:03
29. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxviii: Allegro 1:02
30. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxix: Adagio, Ma Non Troppo 1:18
31. 33 Variations on a Waltz in C major by Diabelli Op.120: Variation XXX: Andante, sempre cantabile 3:13
32. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxxi: Largo, Molto Espressivo 6:33
33. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxxii: Fuga. Allegro 3:43
34. 33 Variations On A Waltz In C Major By Diabelli Op.120: Variation Xxxiii: Tempo Di Menuetto, Moderato (Ma Non Tirarsi Dietro) 3:52

Piotr Anderszewski, piano


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O Fim da Alta Fidelidade

Para o pessoal do P.Q.P. Bach se divertir, pensar e discutir (ou não), este artigo de Robert Levine.

No auge da era do MP3, a qualidade do som fica cada vez pior.

David Bendeth, produtor que trabalha com bandas como Hawthorne Heights e Paramore, sabe que os discos que faz acabam sendo ouvidos através de pequenas caixas de computador enquanto os fãs navegam na internet. Assim, ele não se surpreende quando as gravadoras pedem para que os engenheiros de masterização aumentem bastante o nível do som, de forma que até as partes mais suaves das músicas fiquem altas.

Na última década e meia, uma revolução na tecnologia de gravação mudou a forma como álbuns são produzidos, mixados e masterizados – quase sempre para pior. “Eles querem que os álbuns fiquem mais altos para conquistar a atenção [dos ouvintes]”, diz Bendeth. Os engenheiros fazem isso através da aplicação da compressão dinâmica, que reduz a diferença entre os sons mais altos e os mais suaves em uma música. Como muitos de seus colegas de profissão, Bendeth acredita que utilizar esse efeito pode obscurecer detalhes sonoros, roubar a força emocional da música e deixar os ouvintes com o que os engenheiros chamam de “fadiga auditiva”. “Acho que quase tudo hoje em dia é masterizado um pouco alto demais”, diz Bendeth. “A indústria decidiu que vivemos uma competição por volume.”

Produtores e engenheiros chamam isso de “a guerra do volume”, e ela tem mudado o som de quase todos os álbuns de rock e pop. Mas o volume não é a única questão. Programas de computador como o Pro Tools (que servem para que os engenheiros de som manipulem o som do mesmo jeito que um Word edita texto) fazem com que os músicos pareçam perfeitos, de uma forma não natural. E os ouvintes de hoje consomem uma quantidade cada vez maior de música em MP3, formato que elimina muitos dos dados existentes no arquivo original do CD e pode deixar o som metálico ou oco. “Com todas as inovações técnicas, a música ficou pior”, diz Donald Fagen, do Steely Dan, banda que produziu discos notórios pela alta qualidade sonora. “Deus está nos detalhes. Mas eles foram apagados.”

A idéia de que os engenheiros fazem álbuns com o volume mais alto parece estranha: o volume não é controlado por um botão em seu aparelho de som? Sim, mas cada movimento naquele botão comanda uma escala de volume, do vocal abafado à caixa da bateria – e arrastar o som para o alto da escala faz com que a música fique mais alta. É a mesma técnica usada para que os comerciais de TV fiquem mais alto do que os programas. E isso captura a atenção do ouvinte – mas tem um custo. No ano passado, Bob Dylan declarou à Rolling Stone que os álbuns atuais “estão cheios de sons. Não há definição de nada, nem de vocal, nada, parece tudo… estática”.

Em 2004, Mary Guibert, a mãe do músico norte-americano Jeff Buckley (falecido em 1997), escutou a fita original das gravações de Grace, o principal disco lançado por seu filho. “Estávamos ouvindo instrumentos que nunca dava para ouvir no disco lançado, como os pratos de mão ou o som das cordas da viola”, ela se lembra. “Fiquei espantada porque era exatamente aquilo o que ele tinha ouvido no estúdio.”

Para desapontamento de Guibert, a versão remasterizada de Grace, lançada em 2004, não conseguiu captar a maioria desses detalhes. Assim, no ano passado, quando organizou a coletânea So Real: Songs from Jeff Buckley, ela insistiu em ter um consultor independente para supervisionar o processo, além de um engenheiro de masterização, que iria reproduzir o som que Buckley fez no estúdio. “Agora, dá para ouvir os instrumentos distintos e o som da sala”, ela diz, sobre o novo lançamento. “A compressão borra tudo.”

Johannes Brahms (1833-1897) – Quarteto para Piano, 2 Violinos, Viola e Violoncelo, Op.34

Talvez hoje, o blog P.Q.P. Bach acabe. Talvez F.D.P. me chame para um duelo a fim de limpar sua honra. É que ele fez upload deste arquivo e ele o deixou ali. Deixou, deixou, deixou e deixou. Deixou até que eu não agüentar mais e postar! Pura sacanagem, entendem? É que a Lais Vogel disse que era maravilhoso ouvir Pollini tocando Brahms e eu simplesmente resolvi atropelar meu companheiro de blog, oferecendo a vocês uma postagem, bem, de outrem. Não me queira mal, FDP, e se quiseres escolher as armas, proponho bexiguinhas d`água ou arremesso de CDs. Desculpe, mas não sou sempre confiável.

O Op.34 de Brahms é daquelas obras-primas pela quais este blog deveria ter começado. A versão de Pollini com o Quartetto Italiano é de ajoelhar e pedir para que não acabe nunca mais.

Ah, e essa coisa que tal e qual pianista é melhor para tal e qual autor… Acho melhor reduzir isso a obras… Eu reduziria a movimentos. Acho empobrecedor que alguém diga que Schubert TENHA de ser com Brendel, por exemplo (e, veja bem, eu amo Alfred Brendel) ou que Bruckner escreveu sua obra exclusivamente para Jochum. Na minha opinião, a melhor Wanderer que possuo é com Vladimir Feltsman. Deveria me suicidar?

Quarteto para Piano, 2 Violinos, Viola e Violoncelo, Op.34

1. Allegro Non Troppo–Poco Sostenuto–Tempo I
2. Andante, Un Poco Adagio
3. Scherzo. Allegro–Trio
4. Finale. Poco Sostenuto–Allegro Non Troppo–

Maurizio Pollini
Quartetto Italiano

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nros. 3 e 5 (CD 3 de 11)

Mais um petardo vindo de Kirill Kondrashin e do segundo melhor Exército Vermelho já formado.

Sinfonia Nº 3, Op. 20, “O Primeiro de Maio” (1929)

Não gosto. É música heróica para o Partido, entremeada de algumas modernagens para irritar os burocratas. Shosta resolveria melhor este dilema logo mais adiante, mas Kondrashin é tão bom que deixa a obra quase boa…

Sinfonia Nº 5, Op. 47 (1937)

Esta é a obra mais popular de Dmitri Shostakovich. Recebeu incontáveis gravações e não é para menos. O público costuma torcer o nariz para obras mais modernas e aqui o compositor retorna no tempo para compor uma grande sinfonia ao estilo do século XIX. Sim, é em ré menor e possui quatro movimentos, tendo bem no meio, um scherzo composto por um Haydn mais parrudo. Mesmo para os menos aficcionados, é uma obra apetitosa, por transformar a dura linguagem do compositor em algo mais sonhador do que o habitual. Foi a primeira sinfonia de Shostakovich que ouvi. Meu pai a trouxe dizendo que era uma sinfonia muito melhor que as de Prokofiev, exceção feita à Nº 1, Clássica, que ele amava. Alguns consideram esta obra uma grande paródia; eu a vejo como uma homenagem ao glorioso passado sinfônico do século anterior. A abertura e a coda do último movimento (Allegro non troppo) costuma aparecer, com boa freqüência, em programas de rádio que se querem sérios e influentes…

A propósito, do último movimento, ele serviu para uma cena “estranha” do cineasta Alexander Sokurov que, ao desejar mostrar, no seu documentário sobre Shostakovich “Sonata para Viola”, a sempre questionável superioridade e a liberdade do Ocidente, comparou longamente a coda da quinta na versão de Lenny Bernstein (maravilhosa) e de Mravinsky (horrorosa). Sokurov é um brilhante diretor, mas entende patavinas de música… Não apenas a versão de Mravinsky é mil vezes superior, como ele obedecia ao desejo de Shostakovich quanto ao andamento. Quem entende alguma coisa de música fica boiando ou manda o diretor às favas. Sokurov, já que tem ouvidos varicosos, deveria consultar qualquer ouvinte – mesmo médio – para não cometer tais escandalosos equívocos…

CD 3

SYMPHONY No.3

1. in E Flat Major, Op.20, “The First of May”

SYMPHONY No.5 in D Minor, Op.47

2. Moderato. Allegro non troppo. Moderato
3. Allegretto
4. Largo
5. Allegro non troppo. Allegro

Recorded: March 27, 1968
Choirs of the Russian Republic, Alexander Yourlov, Conductor (1)
Moscow Philharmonic Orchestra (1 & 2)
Kirill Kondrashin, Conductor
Total time 68:16


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P.Q.P. viajou durante o fim-de-semana, …

Portinari… foi a um casamento de um querido amigo. Mas deixa seus asseclas atentos e – como não pode deixar de encher o saco de seus (nossos) 1300 visitantes diários – programou duas postagens para entrarem de forma automática (salve o WordPress!): a primeira às 12h34 de sábado, a segunda às 12h34 de domingo. Por isso, estará ausente dos comentários. Aproveitem para falar mal dele! (Deleto tudo na volta, claro!)

Felix Mendelssohn (1809-1847) – Sonho de um Noite de Verão

Com lugar garantido em qualquer boa cedeteca, é uma obra que pega a gente por todos os lados: é bonita, é leve, é bem escrita e é baseada em William Shakespeare. Querem mais? Tem! Este registro é mais um milagre operado pelo grande Philippe Herreweghe, um esplêndido regente que aqui acentua tudo certinho, jogando no chão aquelas gravações de enormes orquestras que nossos pais ouviam. Aqui manda a delicadeza, a leve ironia e a ousadia. Esqueçam aquela hipertrofiada versão de HvK. Dê para algum inimigo seu. Ah, não basta? Então vou partir para a inguinorância! Mendelssohn era um cara que além de talentoso, voltou a reger Bach quando o mundo esquecera de papai. Ele regeu uma São Mateus, imaginem. Ganhei, viu?

Mendelssohn: A Midsummer Night’s Dream

1. Ouverture. Allegro Di Molto
2. Scherzo. Allegro Vivace
3. Effenmarsch/Marche De Elfes. Allegro Vivace
4. Lied Mit Chor ‘Bunte Schlangen, Zweigezungt! Allegro Ma Non Troppo
5. Intermezzo. Allegro Appasionato
6. Notturno. Con Moto Tranquillo
7. Hochzeitsmarsch/Marche Nuptiale. Allegro
8. Fanfare. Allegro Comodo
9. Marcia Funebre. Andante Comodo
10. Ein Tanz Von Ruppeln/Danse Bergamasque. Allegro Di Molto
11. Finale ‘Bei Des Feuers Mattem Flimmern’ Allegro Di Molto
12. Allegro Moderato – Animato

Delphine Collot
Sandrine Piau
Orchestre des Champs-Élysées
Philippe Herreweghe

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nros. 2 e 14 (CD 2 de 11)

Dando continuidade à nossa integral das Sinfonias de Dmitri Shostakovich sob a regência de Kirill Kondrashin, iniciada aqui, publicamos mais duas sinfonias: a comum segunda e a notável décima-quarta.

CD 2

Sinfonia Nº 2, “A Outubro”, Op. 14 (1927)

Escrita sobre versos de Aleksander Bezimensky’s, é uma homenagem ao décimo ano da Revolução. Tem 16 minutos e é tem um movimento, dividido nas seções Largo – Allegro molto – Meno mosso – Choral Finale. Sua estréia ocorreu em 05/11/1927 com a Filarmônica de Leningrado e Coro. A sinfonia é da fase de experimentação de Shostakovich, só que quem experimentou e não gostou dela foi a burocracia comunista. Creio que o regime soviético tenha sucumbido por sua violência e mau gosto: chamaram a sinfonia de “formalista”, “antiproletária”, “burguesa”, etc. e até o jovem Shostakovich, na época um sincero comunista, ficou irritado com a repercussão incompreensiva. É que ele ainda não conhecera a ira de Stálin logo após Lady Macbeth… Não vira nada ainda…

Sinfonia Nº 14, Op. 135 (1969)

A Sinfonia Nº 14 – espécie de ciclo de canções – foi dedicada a Britten, que estreou-a em 1970 na Inglaterra. É a menos casual das dedicatórias. Seu formato e sonoridade é semelhante à Serenata para Tenor, Trompa e Cordas, Op. 31, e à Les Illuminations para tenor e orquestra de cordas, Op. 18, ambas do compositor inglês. Os dois eram amigos pessoais; conheceram-se em Londres em 1960, e Britten, depois disto, fez várias visitas à URSS. Se o formato musical vem de Britten, o espírito da música é inteiramente de Shostakovich, que se utiliza de poemas de Lorca, Brentano, Apollinaire, Küchelbecker e Rilke, sempre sobre o mesmo assunto: a morte.

O ciclo, escrito para soprano, baixo, percussão e cordas, não deixa a margem à consolação, é música de tristeza sem esperança. Cada canção tem personalidade própria, indo do sombrio e elegíaco em A la Santé, An Delvig e A Morte do Poeta, ao macabro na sensacional Malagueña, ao amargo em Les Attentives, ao grotesco em Réponse des Cosaques Zaporogues e à evocação dramática de Loreley. Não há música mais direta e que trabalhe tanto para a poesia, chegando, por vezes, a casar-se com ela sílaba por sílaba para tornar-se mais expressiva. Há uma versão da sinfonia no idioma original de cada poema, mas sempre a ouvi em russo. Então, já que não entendo esta língua, tenho que ouvi-la ao mesmo tempo em que leio uma tradução dos poemas. Posso dizer que a sinfonia torna-se apenas triste se estiver desacompanhada da compreensão dos poemas – pecado que cometi por anos! Ela perde sentido se não temos consciência de seu conteúdo autenticamente fúnebre. Além do mais, os poemas são notáveis.

Possui indiscutíveis seus méritos musicais mas o que importa é sua extrema sinceridade. Me entusiasmam especialmente a Malagueña, feita sobre poema de Lorca e a estranha Conclusão (Schluss-Stück) de Rilke, que é brevíssima, sardônica e – puxa vida – muito, mas muito final.

SYMPHONY No.2
1. in B Major, Op.14, “To October”

Recorded: November 29, 1972

SYMPHONY No.14
For Soprano, Bass, String Orchestra and Percussion, Op.135

2. De Profundis (Garcia Lorca)
3. Malaguena (Garcia Lorca)
4. Loreley (Apollinaire)
5. The Suicide (Apollinaire)
6. On Watch (Appollinaire)
7. Madam! Look (Apollinaire)
8. In the Sante (Apollinaire)
9. The Zaporogian Cossacks’ Reply to the Sultan of Constantinople (Appolinaire)
10. O Delvig, Delvig! (Kuchelbecker)
11. Death of the Poet (Rilke)
12. Conclusion (Rilke)

Recorded: November 24, 1974

Evgenya Tselovalnik, Soprano / Evgeny Nesterenko, Bass / Ensemble of soloists from the Moscow Philharmonic Orchestra / Choirs of the Russian Republic / Alexander Yourlov, Conductor (2)
Moscow Philharmonic Orchestra / Kirill Kondrashin, Conductor

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F.J. Haydn (1732- 1809) – deLirium – Concerto e Noturnos para Lira Organizzata, Divertimentos para Baryton

Grande performance do Ensemble Baroque de Limoges e do Quatuor Mosaiques sob a direção de Christophe Coin, deLirium é um trabalho esplêndido sobre a célebre Lira Organizzata. Espécie de “órgão de costura” só um pouco maior do que os utilizados pelos Beatles e Renato e seus Blue Caps no início dos anos 60, recebeu atenção de Franz Josef Haydn, que produziu meia dúzia de obrinhas para o instrumento. Hoje, é um instrumento de museu e não existem mais de 20 em todo o mundo. Esses trabalhos são normalmente executados ao órgão, porém, neste CD, as obrinhas são ouvidas pela primeira vez em 200 anos em um par de Lire Organizzate. Te mete! Matthias Loibner e Thierry Nouat tocam instrumentos reconstruídos pelo luthier Wolfgang Weichselbaumer e nos mostram a suavidade do pequeno organeto de som delicado e etéreo como o do dactilófono do Les Luthiers.

Lira OrgClaro que a Lira é a estrela do espetáculo, mas o CD vem com mais esquisitices ao incluir duas peças para Baryton, outro instrumento pra lá de estranho que o patrão Nikolaus Esterházy achava legal. Tão legal que Haydn foi obrigado a escrever mais de 100 peças para aquela geringonça de oitocentas cordas e de afinação impossível. (Talvez para Esterházy, a afinação fosse um desses detalhes periféricos.) Porém, como um de nossos comentaristas salientou de forma mui douta, Haydn é foda e não consegue fazer péssima música nem de má vontade – ou seria má música de péssima vontade?

O Noturno H. 2/32 lá do final do disco é das coisas mais engraçadas, felizes e haydnianas que conheço. É um crime lesa-humor desconhecê-lo, pois é a coisa mais fofinha, como diria minha filha…

P.S. – Música e fotos roubados do amigo Bibixy.

Franz Joseph Haydn – deLirium

Concerto No. 1 for 2 lire organizzate in C major, H. 7h/1
1. Allegro
2. Andante
3. Finale

BarytonDivertimento a 8, for baryton, 2 violins, viola, cello, bass & 2 horns in A minor/A major, H. 10/3
4. Adagio
5. Allegro
6. Finale

Notturno for 2 lire organizzate, 2 clarinets, 2 horns, 2 violas & bass in G major, H. 2/27
7. Largo
8. Adagio
9. Finale

Divertimento a 8, for baryton, 2 violins, viola, cello, bass & 2 horns in G major, H. 10/12
10. Moderato
11. Adagio
12. Presto

Notturno for 2 lire organizzate, 2 clarinets, 2 horns, 2 violas & bass in C major, H. 2/32
13. Allegro moderato
14. Andante
15. Finale

Ensemble Baroque de Limoges
Quatuour Mosaiques
Christophe Coin

BAIXE AQUI (Parte 1) – DOWNLOAD HERE (Part 1)

BAIXE AQUI (Parte 2) – DOWNLOAD HERE (Part 2)

Eleni Karaindrou (1939- ) – A Eternidade e um Dia

As definições e fronteiras estão cada vez mais bobas, não? Acho que esta trilha sonora não é música erudita, apesar de a grega Eleni Karaindrou ser considerada uma compositora deste gênero. É que hoje revi o belo filme de Theo Angelopoulos e me deu vontade de postar a trilha sonora aqui. Talvez devesse ser um “.:interlúdio:.”, sei lá. Trata-se quase só de variações sobre um certo tema chamado por Karaindrou -Angelopoulos de Eternidade. Talvez a postagem não faça sentido sem o filme, muito alegórico e no qual presente e passado misturam-se todo o tempo.

Tinha uma anotação sobre Eleni em meu micro, certamente copiada de algum brumoso site português: Eleni Karaindrou, compositora grega, com formação em etnomusicologia, para além de história e arqueologia, compõe principalmente para cinema e teatro. A sua música é simples, harmoniosa, romântica, serena, mas ao mesmo tempo trágica, nostálgica… Lembra-nos paisagens ensombradas de neblina, com uma réstia de sol ao fundo. Lembra cores sombrias que se transformam em arco-íris brilhantes. Todos os adjectivos que possa encontrar para descrever a sua música parecerão pobres depois de se ouvir. Gravações da excelente etiqueta ECM, os seus discos são imperdíveis.

Imperdíveis? Tenho lá minhas dúvidas…

Netci691

Eleni Karaindrou – Trilha Sonora de “A Eternidade e um Dia”

1. Hearing The Time
2. By The Sea
3. Eternity Theme
4. Parting
5. Depart And Eternity Theme
6. Borders
7. Wedding Dance
8. Parting B
9. To A Dead Friend
10. Eternity Theme
11. Depart And Eternity Theme
12. Bus
13. Depart And Eternity Theme
14. Bus
15. Trio And Eternity Theme
16. Poet
17. Depart And Eternity Theme
18. Depart

Músicos: Eleni Karaindrou, Isabelle Renauld, Fabrizio Bentivoglio, Achileas Skevis, Alexandra Ladikou, Despina Bebedelli, Helene Gerasimidou, Iris Chatziantoniou, Nikos Kouros, Alekos Oudinotis, Nikos Kolovos, Efthimis Pappas, Vassilis Seimenis, Pemi Zouni, Michael Yannatos, Leonidas Vardaros, Petros Fyssoun, Yannis Mohlas, Andreas Chekouras, Petros Markaris.

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O maestro está nu

O centenário de Herbert von Karajan chega junto com uma nova avaliação do seu passado e da ligação com o regime nazista.

Se acontece um tsunami na Indonésia, Herbert von Karajan é o culpado. Se há um ataque terrorista na África do Sul, Herbert von Karajan é o culpado. Um terremoto no Japão? Karajan é o culpado. Caem os índices das bolsas? Karajan. Uma estrela explode numa galáxia distante? Karajan! Interessante percurso, o da biografia de Herbert von Karajan, nome incontornável da música de concerto do século passado. Morto em 1989, desde então a sua fama só fez decrescer e suas culpas só souberam aumentar. Num artigo publicado em janeiro deste ano a respeito do centenário do nascimento de Karajan, que acontece hoje, o crítico inglês Norman Lebrecht fez um apelo melodramático:

– Não transformem um monstro num mito.

Mas Lebrecht, o Diogo Mainardi da música, se enganou: o mito é que tem sido transformado em monstro.

A metamorfose de Karajan nesses últimos 20 anos tem muito a ver com a sua morte no momento em que ele havia se transformado numa caricatura bizarra de líder de orquestra. Nos seus inúmeros vídeos, produzidos por ele mesmo, os ângulos da orquestra são irreais e existem somente para a glorificação da imagem, para a criação de um halo santificador que envolve o perfil de Karajan, sempre de olhos fechados como se internalizasse a música por sopro divino – ou como se ele mesmo fosse a própria divindade. A par disso, há a coleção de automóveis velozes e os aviões pilotados pelo maestro para levá-lo de um lado para outro da fama internacional.

Tudo isso se colocou em contradição à figura austera de Ludwig van Beethoven, o compositor por cujas interpretações Karajan se tornou célebre. O maestro desapareceu no auge dessas idiossincrasias.

Enquanto viveu e mesmo nessa fase da caricatura, Karajan pôde torcer a seu gosto uma pedra de sua biografia – a sua associação com o regime nazista dos anos 1930. Foi com a evidência de seu casamento em outubro de 1942 com Anita Gütermann, neta de judeus, que Karajan atestava o seu descompromisso com aquele regime e protestava perseguições daqueles a quem serviu sem titubear. Os comitês de desnazificação compraram a história e ela serviu para deter as investigações que surgiam de tempos em tempos para tentar desmentir o maestro. A partir da morte de Karajan a encenação foi caindo por terra e sua biografia começou a ser reescrita e o mito se reconstruiu em monstro.

Muitos historiadores têm se debruçado sobre a música do período nazista. O canadense Michael H. Kater, um desses mergulhadores, reconstituiu todo o percurso que levou Herbert von Karajan de obscuro maestro do interior da Alemanha, em 1929, ao posto de mais jovem diretor de teatro de ópera alemão em Aachen em 1935 e à caracterização como “o fabuloso Karajan” num artigo do crítico Edwin von der Nüll (e não de Joseph Goebbels, como se diz às vezes) numa edição do Berliner Zeitung em 1938.

O arrivismo e o oportunismo estavam na ordem do dia naqueles anos de expurgo de músicos judeus. Karajan filiou-se ao partido nazista na primeira hora, já em 1933. Não bastassem os fatos biográficos, há também música para atestar a natureza desse comprometimento político: existem os registros sonoros dos anos do nazismo, inclusive uma gravação do prelúdio de Os Mestres Cantores de Nürnberg, de Wagner, feito em fevereiro de 1939 na presença de Adolf Hitler.

As credenciais nazistas de Herbert von Karajan são impecáveis, inclusive na associação com a música de Carl Orff como prova de seu comprometimento com a música “moderna”. É surpreendente que Karajan tenha conseguido ocultá-las imediatamente, assumindo a regência da Filarmônica de Londres já em 1948, coordenando músicos que haviam lutado na guerra, mas evidentemente do lado oposto ao do maestro. Feito após feito, sucesso após sucesso, extravagância após extravagância, a carreira pós-guerra de Karajan se solidificou quase sem fissuras: maestro vitalício da Filarmônica de Berlim em 1955, regente da Filarmônica de Viena em turnês mundiais, fundador do Festival de Páscoa de Salzburg em 1967, doutor honoris causa da Universidade de Oxford em 1978, regente da Missa da Coroação de Mozart no Vaticano diante do Papa João Paulo II em 1985. Àquela altura, a canonização parecia iminente.

Logo após a morte de Karajan, o seu legado caiu num esquecimento veloz e profundo. A música tinha tomado outros rumos, distanciando-se dos maestros personalistas. Também as grandes orquestras se viram prisioneiras da arapuca das interpretações com instrumentos originais e pouco a pouco muito do seu repertório lhes foi retirado: Beethoven, Berlioz, os barrocos sem nenhuma exceção e Bach acima de todos, Mozart, Haydn. De uma hora para outra, Karajan transformou-se de divindade em mito fora de moda.

Foi assim que o centenário de nascimento veio encontrá-lo e mais uma vez vem o muxoxo azedo de Norman Lebrecht:

– Levantar um maestro dos mortos não tem nenhum valor criativo, pois desperta nada mais valioso do que a adoração a heróis.

Os desvãos da biografia de Karajan atraem como um pólo magnético e invadem aquela área na qual, afinal, se encontra a razão de toda a sua celebridade – a música. O oportunismo político de Karajan não impede que Michael H. Kater avalie ter sido ele “de 1939 a 1945, o mais interessante e atrativo de toda uma geração de jovens maestros do Reich”. Então: é possível descontaminar a música de Karajan das suas posições políticas e do seu carreirismo, para avaliá-la como objeto real, como música-em-si? Não, isso não é possível. Se assim fizéssemos, estaríamos incorrendo naquilo sobre o que o musicólogo americano Richard Taruszkin discorreu quando nos visitou anos atrás: a cegueira diante da presença de elementos desconfortáveis na música.

Na sua conferência Stravinsky e Nós, Taruszkin discutiu a cegueira diante do anti-semitismo de Stravinsky expresso num dos textos da sua Cantata de 1952. Disse Taruszkin: “todos nós operamos sob a pressão de colocarmos o que chamamos de considerações artísticas na frente e no centro de qualquer discussão sobre arte e de resistirmos – na realidade, a desdenharmos – considerações de qualquer outro tipo.” No caso da obra de Stravinsky, o foco da consciência musical havia se deslocado do “objeto em si parta o objeto como ele é feito. Isto se fez às custas da exclusão de idéias extra-musicais na consideração da música ela própria. E este tabu nos tem custado caro.”

O caso da música de Karajan, levando em conta a necessária diferença entre compositores de música e intérpretes de música, é semelhante ao de Stravinsky. Também aqui não há como ouvir Karajan pela música em si mesma. Se num momento ela aparece invadida pelo colaboracionismo político, em outro momento ela se deixa ocultar pelos gestos mais trovejantes do colecionador de carros, o piloto de aviões. Mesmo assim, não há de sobrar pouco de toda a música feita por Karajan. Afinal de contas, um terço de todos os lucros da gravadora Deutsche Grammophon veio durante décadas dos registros do maestro, em áudio e em vídeo.

Há dois extremos na avaliação crítica do legado de Karajan. Numa ponta, existem aqueles que o consideram a melhor personificação de maestro do século 20, sem comparação a nenhum outro, seja ele Arturo Toscanini, Wilhelm Furtwängler ou Leonard Bernstein. Para eles, os registros de Karajan são definitivos no repertório em que os outros também foram mestres, na música de Beethoven, Wagner e Brahms. Na outra ponta, há Lebrecht – sempre ele – a maldizer a tendência de Karajan de homogeneizar a música, fazendo com que “ouvir Karajan em excesso seja como como passar um mês em um McDonalds, uma experiência engordante e insensibilizadora.” Provavelmente, para além desses extremos, exista algum meio-de-campo razoável, no qual colocar a música de Karajan e apreciá-la sob anestesia, já que não será possível apreciá-la sem estar anestesiado às considerações que a cercam e perpassam.

O centenário de Herbert von Karajan é muito mais do que uma efeméride a ser assinalada com um par de livros e um saco de confetes. Todos os elementos que construíram o mito Karajan convergem para construir uma visão muito específica da arte do século passado e de suas turbulências ideológicas, suas adesões e recusas, as cores fortes de suas contradições chocantes. Por isso, talvez o que melhor represente todos os registros sonoros de Karajan seja mesmo o grito lancinante que encerra a sua gravação expressionista da Cavalleria Rusticana de Mascagni. No seu desespero, ele vale mais do que a beleza calculada de qualquer uma de suas múltiplas gravações da Marcha Fúnebre da Eroica de Beethoven.

CELSO LOUREIRO CHAVES | Músico | Publicado hoje no Caderno de Cultura de Zero Hora

J. S. Bach (1685-1750) – As Seis Partitas para Cravo (The Sóstenes Files II)

Mas agora com piano! Andras Schiff ex-tra-or-di-nário!!! Os arquivos – partes 1 e 2 – são bem grandinhos, viram? Mais um presente do Sóstenes.

Partita I, B flat major BWV 825
1. 1. Praeludium
2. 2. Allemande
3. 3. Courante
4. 4. Sarabande
5. 5. Menuets 1 & 2
6. 6. Gigue

Partita II, C minor BWV 826
7. 1. Sinfonia (Grave/Adagio/Andante)
8. 2. Allemande
9. 3. Courante
10. 4. Sarabande
11. 5. Rondeau
12. 6. Capriccio

Partita III, A minor BWV 827
13. 1. Ouverture
14. 2. Allemande
15. 3. Courante
16. 4. Sarabande
17. 5. Aria
18. 6. Menuet
19. 7. Gigue

Partita IV, D major BWV 828
20. 1. Fantasia
21. 2. Allemande
22. 3. Courante
23. 4. Sarabande
24. 5. Burlesca
25. 6. Scherzo
26. 7. Gigue

Partita V, G major BWV 829
27. 1. Praeambulum
28. 2. Allemande
29. 3. Courante
30. 4. Sarabande
31. 5. Tempo Di Menuetto
32. 6. Passepied
33. 7. Gigue

Partita VI, E minor BWV 830
34. 1. Toccata
35. 2. Allemande
36. 3. Courante
37. 4. Sarabande
38. 5. Tempo Di Gavotta
39. 6. Gigue

Andras Schiff, piano

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[Restaurado] Schubert – Sonata para Arpeggione e Piano / Schumann – Fantasiestücke, 5 Stücke im Volkston

A gravação mais bela que ouvi da Sonata para Arpeggione foi a realizada em 1968 (?) por Rostropovich e Benjamim Britten. Era uma época estranha e o fato de que estes dois grandes músicos tenham gravado alguns discos juntos era motivo de pasmo. Houve gente “importante” que perguntava-se o que um homossexual estava fazendo com um comunista… Tenho em vinis muito bem guardados. São estupendos! Porém, em 1985, estávamos nos primeiros anos da colaboração entre o violoncelista Mischa Maisky e a pianista Martha Argerich. Como sabemos, Martita era um pouco maluquinha quando jovem e alternava concertos espetaculares e desinteressados. Para nossa sorte – e dela também -, gravava apenas a parte espetacular.

Aqui, não há nada dos dedos em fogo apontados por FDP e isto é um elogio à argentina: ela se adapta à música, não realiza o inverso, o que é às vezes inadequado, meu caro (e amado) Glenn Go… Deixa assim! A música da Arpeggione é linda, melodiosa e anunciadora do melhor romantismo. A sonata é acompanhada de algumas peças de Schumann que não prejudicam nem um pouco o CD, ao contrário.

Penso sinceramente que Clara Schumann não postou este disco por motivos de pudor. Afinal, trata-se de um disco em que estão juntos seu marido e seu maior amor musical!!! Só faltava uma obra de Brahms…

P.S.- Por que todos amam nossa Clara Schumann? (Me incluam nessa lista.)

Arpeggione 021siteP.P.S.- Arpeggione? Pois é. O “Arpeggione” é primo-irmão do violoncelo, porém com seis cordas como o violão. Foi inventado pelo luthier vienense Johann Georg Staufer em 1823. O instrumento caiu em desuso, ficando apenas seu nome. A “Sonata para Arpeggione” ou “Sonata Arpeggione” é habitualmente interpretada ao violoncelo e considerada uma das obras mais tecnicamente difíceis do repertório: fazer nas quatro cordas do violoncelo o que está escrito na partitura para as seis cordas do arpeggione implica verdadeiros malabarismo técnicos. Justificadamente, assim, ela é temida pelos violoncelistas. A primeira edição desta belíssima sonata foi publicada somente em 1871.

Franz Peter Schubert
1. Sonata for Arpeggione and Piano in A minor, D.821 – 1. Allegro moderato 11:57
2. Sonata for Arpeggione and Piano in A minor, D.821 – 2. Adagio 4:35
3. Sonata for Arpeggione and Piano in A minor, D.821 – 3. Allegretto 9:24

Arpeggione Smca Kat Nr B 12 27

Robert Schumann
4. Fantasiestücke, Op.73 – 1. Zart und mit Ausdruck 3:13
5. Fantasiestücke, Op.73 – 2. Lebhaft, leicht 3:15
6. Fantasiestücke, Op.73 – 3. Rasch und mit Feuer 3:44

7. 5 Stücke im Volkston, Op.102 – 1. Vanitas vanitatum (Mit Humor) 3:17
8. 5 Stücke im Volkston, Op.102 – 2. Langsam 3:51
9. 5 Stücke im Volkston, Op.102 – 3. Nicht schnell, mit viel Ton zu spielen 4:54
10. 5 Stücke im Volkston, Op.102 – 4. Nicht zu rasch 2:10
11. 5 Stücke im Volkston, Op.102 – 5. Stark und markiert

Mischa Maisky, cello
Martha Argerich, piano

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[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]

Da Autobiografia de Charles Darwin

Em um aspecto minha mente mudou nos últimos vinte ou trinta anos. Antigamente, a pintura dava-me considerável prazer e a música, um prazer intenso. Mas agora perdi quase todo o gosto por música ou pintura. Minha mente parece ter se tornado uma espécie de máquina para extrair leis gerais de grandes coleções de fatos. A perda desses gostos, essa curiosa e lamentável perda pelos gostos estéticos superiores, é uma perda de felicidade, e pode talvez ser danosa ao intelecto, e mais provavelmente ao caráter moral, por enfraquecer a parte emocional de nossa natureza.

Grifos de PQP Bach.

Evaristo Felice Dall’Abaco (1675 – 1742) – Concerti

É um sujeito bem famoso em Verona, a cidade na qual sonho morar um dia. Dall`Abaco é veronês e dá nome ao conservatório musical da cidade. Está escrito lá: ISTITUZIONE DI ALTA CULTURA, Alta Formazione Artistica e Musicale. E é. Trata-se de uma região muito musical, a gente anda na rua e os cartazes colados nas paredes e bancas, em vez de anunciar a Ivete Sangalo ou o grupo de rock da cidade, anunciam trios de Shostakovich ou a próxima atração da Arena. É outro mundo. Quando conheci a Piazza Bra em 2006, pensei que ali poderia ser o meu lugar se fosse rico; até hoje dou freqüentemente uma olhada em como está a minha Piazza com uma webcam que transmite 24 horas sua situação. Estou de olho!

Mas Evaristo foi um grande compositor. Aluno de Torelli, recebeu enorme influência de Corelli e Vivaldi, porém tem voz própria e original. Este CD do Concerto Köln demonstra sua boa qualidade como compositor. Köln? Pois é, Dall`Abaco acabou como Kammermusicker de Maximiliano Emanuel I. Ficou pouco tempo na Bavária, teve que fugir junto com Mad Max para a Bélgica após uma derrota militar. Viveu anos em Bruxelas e compôs também para cortes francesas e holandesas. Eu querendo ir morar em Verona e o compositor de cidade só fugiu por toda sua vida…

Sobre o Concerto Köln: já conhecia estes concertos de Dall`Abaco e fiquei surpreso com a gana utilizada pelo conjunto de Colônia. São latinos? Ouçam o Presto assai – Adagio – Prestissimo – Adagio do Op. 5 Nro. 3. Perto da gravação que possuía e apesar do efetivo reduzido, o pessoal de Colônia arrasa a igreja de San Fermo. Será que Dall`Abaco gostaria ou preferiria a romantizante gravação que eu ouvia antes?

Concerti

1. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 1 In D Minor: Largo
2. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 1 In D Minor: Allegro
3. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 1 In D Minor: Andante
4. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 1 In D Minor: Allegro assai

5. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 4 In A Minor: Aria: Allegro
6. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 4 In A Minor: Largo
7. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 4 In A Minor: Presto

8. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 5 In G Minor: Largo
9. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 5 In G Minor: Allegro e spiritoso
10. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 5 In G Minor: Grave
11. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 5 In G Minor: Allegro

12. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 7 In C Major: Largo andante
13. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 7 In C Major: Allegro – Adagio
14. Concerti a quattro da chiesa Op. 2, No. 7 In C Major: Presto

15. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 3 In E Minor: Allegro
16. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 3 In E Minor: Adagio cantabile
17. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 3 In E Minor: Presto assai – Adagio – Prestissimo – Adagio
18. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 3 In E Minor: Largo
19. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 3 In E Minor: Primo Passepied – Secondo Passepied

20. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 5 In C Major: Allegro
21. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 5 In C Major: Grave
22. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 5 In C Major: Allegro assai
23. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 5 In C Major: Rondeau: Allegro

24. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 6 In D Major: Allegro
25. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 6 In D Major: Aria: Cantabile
26. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 6 In D Major: Ciaconna: Allegro e spiccato
27. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 6 In D Major: Rondeau: Allegro
28. Concerti a piu Istrumenti Op. 5, No. 6 In D Major: Allegro

29. Concerti a piu Istrumenti Op. 6, No. 5 In G Major: Allegro e vivace assai
30. Concerti a piu Istrumenti Op. 6, No. 5 In G Major: Aria: Adagio cantabile
31. Concerti a piu Istrumenti Op. 6, No. 5 In G Major: Allegro

32. Concerti a piu Istrumenti Op. 6, No. 11 In E Major: Allegro
33. Concerti a piu Istrumenti Op. 6, No. 11 In E Major: Aria: Cantabile
34. Concerti a piu Istrumenti Op. 6, No. 11 In E Major: Allegro e spiritoso

Concerto Köln

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BAIXE AQUI (Parte 2) – DOWNLOAD HERE (Part 2)

J. S. Bach (1685-1750) – As Seis Partitas para Cravo (The Sóstenes Files I)

Nosso leitor-ouvinte Sóstenes está nos encharcando de boas gravações. Muito obrigado, meu amigo. Aos poucos, à medida que as ouço vou publicando cada uma delas aqui. Esta é uma maravilhosa gravação das Partitas para Cravo. Particularmente, vejo-as como muito melhores que as Suítes Inglesas, às quais são normal e incompreensivelmente comparadas. As Partitas são muito superiores e Gustav Leonhardt fez um registro clássico delas.

Disc 1:

Partita I, B flat major BWV 825
1. 1. Praeludium
2. 2. Allemande
3. 3. Courante
4. 4. Sarabande
5. 5. Menuets 1 & 2
6. 6. Gigue

Partita II, C minor BWV 826
7. 1. Sinfonia (Grave/Adagio/Andante)
8. 2. Allemande
9. 3. Courante
10. 4. Sarabande
11. 5. Rondeau
12. 6. Capriccio

Partita IV, D major BWV 828
13. 1. Fantasia
14. 2. Allemande
15. 3. Courante
16. 4. Sarabande
17. 5. Burlesca
18. 6. Scherzo
19. 7. Gigue

BAIXE AQUI O CD 1 – DOWNLOAD HERE CD 1

Disc 2:

Partita III, A minor BWV 827
1. 1. Ouverture
2. 2. Allemande
3. 3. Courante
4. 4. Sarabande
5. 5. Aria
6. 6. Menuet
7. 7. Gigue

Partita V, G major BWV 829
8. 1. Praeambulum
9. 2. Allemande
10. 3. Courante
11. 4. Sarabande
12. 5. Tempo Di Menuetto
13. 6. Passepied
14. 7. Gigue

Partita VI, E minor BWV 830
15. 1. Toccata
16. 2. Allemande
17. 3. Courante
18. 4. Sarabande
19. 5. Air
20. 6. Tempo Di Gavotta
21. 7. Gigue

BAIXE AQUI O CD 2 – DOWNLOAD HERE CD 2

Gustav Leonhardt, cravo.

Machado de Assis, a Polca, o Jazz, Shostakovitch e o Pestana (e o Wisnik e o Idelber)

A partir do título, este é um post copiado do blog de Milton Ribeiro.

Pequena ilustração ao post de hoje do Idelber.

Em um famoso conto de Machado de Assis, Um Homem Célebre, havia um grande compositor de polcas, o Pestana, que queria fazer algo maior, grandioso, mas – que diabo! – só lhe saíam mais polcas. O que fazer? O personagem fazia o maior esforço, passava meses trancado em casa a fim de parir a grande obra, porém não produzia nada além de belas polcas, que logo se tornavam popularíssimas e eram assobiadas pelo povo nas ruas, para desespero do Pestana. Estas eram compostas copiosa e rapidamente. Acabou rico, infeliz e doente. Coitado.

Com Shostakovitch o caso é diferente. Compôs copiosamente obras-primas, tem obra profunda e numerosa, mas, um belo dia, resolveu escrever suítes para grupos de jazz. Vocês podem adivinhar o que aconteceu? Saíram apenas… polcas. Polcas e valsas. O timbre é o do jazz – não poderia ser diferente com aquela formação orquestral -, já a música são as polcas do personagem machadiano. Ah, vocês não acreditam? Então ouçam o CD (*) com estas obras. É um bom disco, há a espetacular Valsa 2 da Suíte Nro. 2, que foi utilizada por Stanley Kubrick na abertura de De Olhos bem Fechados, com um ritmo e um solo de sax que nos obriga a levantar e ensaiar uns passinhos pela sala, há várias polquinhas bem legais e há uma imitação marcial de Duke Ellington que dá para rolar de rir. É o “Grande Projeto Falhado” do imortal Shosta e, mesmo assim, é muito bom e divertido.

(*) Gentilmente, P.Q.P. Bach nos disponibliliza uma gravação das Jazz Suites de Shostakovich.

——————————————————

P.Q.P. Bach retorna com a relação das faixas de:
Shostakovich Jazz Suites 1 & 2 / The Bolt / Tahiti Trot

1. The Bolt (Ballet Suite): Overture (Introduction) 5:05
2. The Bolt (Ballet Suite): The Bureaucrat (Polka) 2:42
3. The Bolt (Ballet Suite): The Drayman’s Dance (Variations) 1:54
4. The Bolt (Ballet Suite): Koelkov’s Dance with Friends (Tango) 5:21
5. The Bolt (Ballet Suite): Intermezzo 3:41
6. The Bolt (Ballet Suite): The Dance of the Colonial Slave-Girl 3:41
7. The Bolt (Ballet Suite): The Conciliator 3:10
8. The Bolt (Ballet Suite): General Dance of Enthusiasm and Apotheosis (Finale) 3:28
9. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): March 3:07
10. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Lyric Waltz 2:08
11. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Dance 1 3:03
12. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Waltz 1 2:47
13. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Little Polka 1:51
14. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Waltz 2 3:13
15. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Dance 2 2:15
16. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Finale 1:58
17. Jazz Suite No. 1: Waltz 2:28
18. Jazz Suite No. 1: Polka 1:35
19. Jazz Suite No. 1: Foxtrot (Blues) 4:16
20. Tahiti Trot, Op. 16: Tahiti Trot (Tea for Two), Op. 16 4:09

Composed by Dmitry Shostakovich
Performed by Russian State Symphony Orchestra
Conducted by Dmitry Yablonsky