Chove já há alguns dias aqui em minha cidade. É uma chuva intermitente, teimosa. Dizem que tem um sistema de alta pressão agindo sobre o estado, aliado a um ciclone extra tropical que está sobre o oceano, por isso o tempo está nublado e chuvoso em todo o sul do país.
O teclado de meu notebook está com problemas, na verdade é um problema de fábrica. O saudoso Ammiratore, um mestre na administração de dezenas de computadores em seu serviço, comentou que o problema não estaria no teclado, que por sinal já foi trocado, e sim na placa mãe. Ou seja, a solução seria comprar um novo. E isso, meus caros, está totalmente fora de cogitação.
Quem também é um mestre em seu instrumento é o violoncelista Valentin Radutiu, que nos traz uma das mais belas versões que já ouvi da maravilhosa Sonata de Cesar Franck, em sua versão para o irmão maior do violino. O rapaz é um grande expoente do seu instrumento neste começo de século XXI, e este belíssimo Cd é uma prova disso, levando em conta que é sua estréia no mercado fonográfico, o rapaz tinha 25 anos na época em que o gravou. Mas ele não se deixa intimidar, e encara com muita energia e coragem a Sonata de Franck e outras duas outras obras igualmente técnicas e muito difíceis, o “Recitativo para Violoncelo e Piano” de Peter Ruzicka e ‘Introduction and Rondo capriccioso in A Minor, op. 28” de Saint-Säens.
Estes dias chuvosos são um tanto quanto melancólicos, talvez por este motivo escolhi Franck e Schumann para iniciar os trabalhos do dia. E foi uma escolha apropriada. Espero que apreciem.
01. 5 Stucke im Volkston (5 Pieces in Folk Style), Op. 102 No. 1. Mit Humor
02. 5 Stucke im Volkston (5 Pieces in Folk Style), Op. 102 No. 2. Langsam
03. 5 Stucke im Volkston (5 Pieces in Folk Style), Op. 102 No. 3. Nicht schnell, mit viel Ton zu spielen
04. 5 Stucke im Volkston (5 Pieces in Folk Style), Op. 102 No. 4. Nicht zu rasch
05. 5 Stucke im Volkston (5 Pieces in Folk Style), Op. 102 No. 5. Stark und markiert
06. Violin Sonata in A major, M. 8 (arr. J. Delsart) I. Allegro ben moderato
07. Violin Sonata in A major, M. 8 (arr. J. Delsart) II. Allegro
08. Violin Sonata in A major, M. 8 (arr. J. Delsart) III. Recitativo – Fantasia Ben moderato – Largamento con fantasia
09. Violin Sonata in A major, M. 8 (arr. J. Delsart) IV. Allegro Moderato
11. Introduction et rondo capriccioso in A minor, Op. 28 (arr. V. Radutiu for cello and piano)
Havia um tempo, não muito tempo atrás, em que a Terra era dominada por excepcionais violinistas, mestres supremos e soberanos de seus instrumentos: David Oistrakh, Jascha Heifetz, Henryk Szering, Nathan Milstein, Isaac Stern, entre outros. E todos eles eram contemporâneos, habitavam o planeta ao mesmo tempo, e dominavam os palcos do mundo todo.
Dentre estes acima citados, Isaac Stern era o mais novo. Morreu em 2001, aos 81 anos. Apesar de ter nascido na Ucrânia, ainda bebê seus pais imigraram para os Estados Unidos, se estabelecendo em San Francisco.
Estas gravações dos concertos de Mozart valem cada minuto de sua audição. Nomes como George Szell, Pinchas Zukerman, Jean Pierre Rampal e Daniel Barenboim estão entre os maestros que o acompanham, então a qualidade está garantida.
Espero que apreciem.
CD 1
01-Concerto No 1 in B-flat Major for Violin – I. Allegro moderato
02-Concerto No 1 in B-flat_Major_for_Violin – II. Adagio
03-Concerto No 1 in B-flat Major_for_Violin – III. Presto
Columbia Symphony Orchestra
George Szell – Conductor
Isaac Stern – Violin
04-Concerto No 2 in D Major for Violin – I. Allegro moderato
05-Concerto No 2 in D Major for Violin – II. Andante
06-Concerto No 2 in D Major for Violin – III. Rondo. Allegro
English Chamber Orchestra]
Alexander Schneider – Conductor
07-Concerto No 3 in G Major for Violin – I. Allegro
08-Concerto No 3 in G Major for Violin – II. Adagio
09-Concerto No 3 in G Major for Violin – III. Rondo. Allegro
Members of Cleveland Orchestra
CD 2
1. Concerto Nº 4 in D Major for Violin I. Allegro
2. II. Andante cantabile
3. III. Rondeau. Andante grazioso
English Chamber Orchestra
Alexander Schneider – Conductor
4. Concerto No 5 in A Major for Violin I. Allegro aperto
5. II. Adagio
6. III. Rondeau – Tempo di Menuetto
Columbia Symphony Orchestra
George Szell – Conductor
7. Adagio for Violin and Orchestra in E Major, K. 261
8. Rondo for Violin and Orchestra in C Major, K. 373
English Chamber Orchestra
Alexander Schneider – Conductor
Disc: 3
1. Concertone in C Major for Two Violins I. Allegro spiritoso
2. II. Andantino grazioso
3. III. Tempo di Menuetto – Vivace
4. Sinfonia Concertante for_Violin Viola I. Allegro maestoso
5. II. Andante
6. III. Presto
Pinchas Zukerman – Violin, Viola
English Chamber Orchestra
Daniel Baremboim – Conductor
7. Serenade No6 in D Major K239 I. Marcia. Maestoso
8. II. Menuetto
9. III. Rondeau. Allegretto
Franz Liszt Chamber Orchestra
CD 4
01-March in D Major K.249
02. Serenade in D Major K.250 248b Haffner I. Allegro maestoso – Allegro molto – Jean-Pierre Rampal
03. II. Andante
04. III. Menuetto
05. IV. Rondeau. Allegro
06. V. Menuetto galante – Trio
07. VI. Andante
08. VII. Menuetto
09. VIII. Adagio – Allegro assai
Franz Liszt Chamber Orchestra
Jean Pierre Rampal – Conductor
10. Adagio for Violin and Orchestra in E Major, K. 261
11. Rondo for Violin and Orchestra, K. 373
A história da composição destas ‘Danças Húngaras’ é meio nebulosa, desde acusações de plágio até desconfianças sobre como Brahms as compôs se nunca foi até aquele país, nem teve contato direto com sua cultura. Isso remete ao excepcional trabalho de resgate que o colega Vassily Genrikhovich vem fazendo da obra de Bártok, quando trouxe alguns cds da obra etnográfica do genial compositor húngaro, coletada após anos de pesquisa, material que poderíamos chamar de ‘raiz’, afinal, o compositor gravou diretamente dos camponeses húngaros. Mas afinal, como Brahms se inspirou para compor estas danças? Malcolm McDonald assim nos explica:
“(…) essas datam de muito tempo, desde seu encantamento inicial com as melodias ciganas que ficou conhecendo por meio de Reményi. A atração exercida por estas melodias exóticas, com a sua conexão supostamente direta com uma tradição folclórica viva, foi aumentada pela amizade com Joachim – que era húngaro e compositor de pelo menos uma obra extremamente ambiciosa “à maneira húngara”.
(…) Brahms considerava as ‘Danças’ arranjos e, embora algumas das melodias possam de fato ser originais, a maior parte se origina de músicas ciganas populares do tipo czarda, muitas das quais podem ser encontradas em edições húngaras. (…) Brahms, na realidade, foi acusado de certo plágio dessas fontes, embora seja provável que ele tenha anotado a maioria das melodias de ouvido a partir do repertório de Reményi (…).
Ainda baseado em McDonald:
“Tudo isso de lado, as formas e intensificações que Brahms impôs ao seu material preferido são indiscutivelmente suas. As Danças são composições legítimas, mesmo que ele não tenha composto o material básico. (…). Brahms tira o máximo partido da liberdade rítmica, das oportunidades para ritmo cruzado e rubato, do estilo melódico popular e das cadências exoticamente moduladas que o meio de expressão oferecia”.
Ao contrário de outras ocasiões em que trouxe essas obras, hoje às ofereço em três versões : para dois pianos, com as divinas irmãs Labèque, a versão orquestral imortalizada por Claudio Abbado em sua passagem pela Filarmônica de Viena, e uma versão muito especial, nas mãos do excepcional violinista Oscar Shumsky acompanhado por piano. Estas transcrições foram realizadas pelo próprio Joseph Joachim, violinista húngaro muito amigo de Brahms. Até ter acesso a este CD, só conhecia algumas destas danças tocadas neste formato em discos solos de violinistas, nunca em sua íntegra.
A pergunta é: qual a minha versão favorita? Poderia citar a versão para dois pianos imediatamente, pois foi meu primeiro contato com estas obras, e foi o CD que me apresentou as Irmãs Labèque, mas o colorido orquestral da Filarmônica de Viena e a riqueza melódica e rítmica extraída do violino de Shumsky tornam minha decisão mais difícil, por isso prefiro dizer que são as três, cada uma delas traz sua magia. Por isso recomendo as três.
P.S. Citações extraídas de McDonald, Malcolm. Brahms. Tradução Mario e Claudia Martinelli Gama. Jorge Zahar Editor, 1993.
01. Hungarian Dances: No.1 in G minor (Allegro molto)
02. Hungarian Dances: No.2 in D minor (Allegro non assai – Vivace)
03. Hungarian Dances: No.3 in F major (Allegetto)
04. Hungarian Dances: No.4 in F sharp minor (Poco sostenuto – Vivace)
05. Hungarian Dances: No.5 in G minor (Allegro – Vivace)
06. Hungarian Dances: No.6 in D major (Vivace)
07. Hungarian Dances: No.7 in F major (Allegretto – Vivo)
08. Hungarian Dances: No.8 in A minor (Presto)
09. Hungarian Dances: No.9 in E minor (Allegro ma non troppo)
10. Hungarian Dances: No.10 in F major (Presto)
11. Hungarian Dances: No.11 in D minor (Poco Andante)
12. Hungarian Dances: No.12 in D minor (Presto)
13. Hungarian Dances: No.13 in D major (Andantino grazioso – Vivace)
14. Hungarian Dances: No.14 in D minor (Un poco Andante)
15. Hungarian Dances: No.15 in B flat major (Allegretto grazioso)
16. Hungarian Dances: No.16 in F major (Con moto)
17. Hungarian Dances: No.17 in F sharp minor (Andantino – Vivace)
18. Hungarian Dances: No.18 in D major (Molto vivace)
19. Hungarian Dances: No.19 in B minor (Allegretto)
20. Hungarian Dances: No.20 in E minor (Poco Allegretto – Vivace)
21. Hungarian Dances: No.21 in E minor (Vivace)
Katia & Marielle Labèque – Pianos
Orquestra Filarmônica de Viena
Claudio Abbado – Condutor
Oscar Shumsky – Violino
Frank Maus – Piano
“L’arte del violino é uma composição musical notável e influente do violinista e compositor barroco italiano Pietro Locatelli. Os doze concertos foram escritos para violino solo, cordas e baixo contínuo e foram publicados em 1733 como a terceira obra do compositor. O estilo virtuoso e a arte presentes no trabalho influenciaram fortemente o violino no século XVIII e cimentaram a reputação de Locatelli como pioneira na técnica moderna de violino.”
Assim esta obra nos é apresentada na Wikipedia: Uma coleção de concertos para violino onde se exploram todos os recursos do instrumento. Pouco conhecidas, se comparadas com seu contemporâneo Antonio Vivaldi, estas obras não são muito interpretadas quanto as do veneziano ilustre, mas nos mostram o que acontecia na Europa naquelas primeiras décadas do século XVIII. Locatelli foi um cidadão do mundo, morou em diversas cidades na Europa, até se estabalecer em Amsterdam, onde veio a falecer, e foi ali que lançou esta coleção. Não as colocaria no mesmo nível das obras de Vivaldi, mas há de se destacar o virtuosismo e a evolução da técnica violinística que eles nos apresentam.
“Cada um dos doze concertos em L’arte del violino contém os três movimentos tradicionais, com a progressão típica de dois movimentos mais rápidos em torno de um movimento médio mais lento e mais contemplativo. Em cada concerto, os dois movimentos externos contêm o que é conhecido como capriccio. Esses capricci, geralmente com duração de vários minutos, podem ser descritos como uma espécie de cadência de violino tocada extemporaneamente, durante a qual o solista tem ampla oportunidade de mostrar sua habilidade com o instrumento. Os intervalos capricci contradizem o formato esperado do concerto solo, ocorrendo antes do ritornello final dos tutti. São esses 24 extraordinários intervalos capricci pelos quais L’arte del violino alcançou sua fama, pois são descritos como “as passagens de violino mais difíceis de toda a literatura barroca”.(Wikipedia)”
Para nos apresentar alguns destes concertos, temos aqui um dos maiores especialistas em violino barroco da atualidade, Giuliano Carmignola, que creio dispensar apresentações. O trio Carmignola / Venice Baroque Orchestra / Andrea Marcon já nos proporcionou ótimos momentos com seus já históricos registros das obras de Vivaldi.
Espero que apreciem, e aguardem, pois vem mais Locatelli por aí.
Pietro Locatelli (1695-1764): L´Art del Violin, op. 3 – Carmignola, Venice Baroque Orchestra, Andrea Marcon
01. Concerto in F Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.10 – I. Allegro
02. Concerto in F Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.10 – Capriccio
03. Concerto in F Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.10 – II. Largo Andante
04. Concerto in F Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.10 – III. Andante
05. Concerto in F Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.10 – Capriccio
06. Concerto in A Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.11 – I. Allegro
07. Concerto in A Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.11 – Capriccio
08. Concerto in A Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.11 – II. Largo
09. Concerto in A Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.11 – III. Andante
10. Concerto in A Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.11 – Capriccio
11. Concerto in C Minor for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.2 – I. Andante
12. Concerto in C Minor for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.2 – Capriccio
13. Concerto in C Minor for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.2 – II. Largo
14. Concerto in C Minor for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.2 – III. Andante
15. Concerto in C Minor for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.2 – Capriccio
16. Concerto in D Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.1 – I. Allegro
17. Concerto in D Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.1 – II. Largo
18. Concerto in D Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.1 – Capriccio
19. Concerto in D Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.1 – III. Allegro
20. Concerto in D Major for Violin, Strings and Continuo, Op.3, No.1 – Capriccio
Concluo essa série com uma dor no coração mas feliz, era um projeto antigo, que finalmente vingou, nestas idas e vindas que a vida dá.
O responsável aqui é o ótimo violoncelista Jean-Guillén Queyras, um dos nossos favoritos. É a juventude trazendo novos ares a estas obras tão batidas e gravadas, um sopro de novidade e vitalidade. Amo esse Concerto, já o conheço a incontáveis eras, já o trouxe com medalhões como Pierre Fournier, János Stárker, Rostropovich, e sei lá quantos mais. Mas volto a lembrar-lhes que muito tempo se passou desde que aqueles velhos mestres nos deixaram e ao mesmo tempo deixaram a responsabilidade sobre os ombros dessa nova geração (bem, nem tão nova assim, Queyras nasceu em 1967). Mas sua versatilidade, talento e virtuosismo se destacam e nos trazem um Schumann revitalizado. Vale a pena conferir.
A Freiburger Barockorchester traz uma nova dinâmica aos concertos que eu trouxe nessa série, nos fazendo mudar de perspectiva, acostumados que estamos aos grandes conjuntos orquestrais. Meu comentário na postagem anterior do Concerto para Piano, sobre a falta de sangue, suor e lágrimas mais do que nunca também se aplica aqui, afinal trata-se de uma obra que é do ápice do Romantismo. Mas ao mesmo tempo, tento esquecer os grandes conjuntos orquestrais por um momento, e me concentro mais na narrativa linear, segura e correta que o espanhol Heras – Casado (nome cuja sonoridade pode remeter a algumas interpretações irônicas em nosso idioma) imprime à orquestra. Não por acaso é um dos grande nomes da regência na atualidade.
Minha opinião sobre o conjunto da obra? Podem baixar, mas se preparem para alguns sustos, principalmente os de minha geração, já que, exatamente por sermos de outra geração, nossos ouvidos se acostumaram a outras sonoridade e técnicas de interpretação. Mas a essência continua ali.
01. Cello Concerto in A minor, Op. 129- I. Nicht zu schnell
02. Cello Concerto in A minor, Op. 129- II. Langsam
03. Cello Concerto in A minor, Op. 129- III. Sehr lebhaft
Jean-Guilhen Queyras – Cello
Freiburger Baroqueorchester
Pablo Héras-Casado – Condutor
04. Piano Trio No. 1 in D Minor, Op. 63- I. Mit Energie und Leidenschaft
05. Piano Trio No. 1 in D Minor, Op. 63- II. Lebhaft, Doch nicht zu rasch
06. Piano Trio No. 1 in D Minor, Op. 63- III. Langsam, mit inniger Empfindung
07. Piano Trio No. 1 in D Minor, Op. 63- IV. Mit Feuer
Isabelle Faust – Violin
Alexander Melnikov – Piano
Jean-Guilhen Queyras – Cello
Dando prosseguimento a esta bela e interessante série do selo Harmonia Mundi, hoje trago o maravilhoso Concerto para Piano em Lá Menor, op. 54, uma das obras mais gravadas e executadas na história da indústria fonográfica. E também um dos Concertos para Piano mais conhecidos. Adoro seu movimento final, sua força, seu brilho, um legítimo Allegro vivace. Já ouvi este Concerto dezenas, quiçá centenas de vezes, e meus intérpretes favoritos são Rubinstein dentre os Jurássicos, como René Denon classifica as gravações com mais de cinquenta anos, a divina Martha Argerich, que nosso incansável mestre Vassily postou dia destes, e o introspectivo Radu Lupu. Estes músicos tem como característica principal uma total e completa entrega, se jogando de corpo e alma, extraindo da obra toda a sua intensidade.
Em minha modesta opinião, Alexander Melnikov peca neste quesito, talvez por entender que em uma interpretação historicamente informada não caberia se expor tanto. Ouçam o que qualquer um dos pianistas citados acima fazem no Allegro vivace citado. E a orquestra idem. É uma explosão de energia, de vitalidade. Aqui, o resultado me soou um tanto quanto mecânico, sem a vitalidade necessária. Mas se trata de uma opinião pessoal. Há quem prefira este tipo de interpretação.
Schumann compôs seu concerto meio que aos trancos e barrancos, e sua estreia ocorreu em 4 de dezembro de 1845, sendo sua esposa Clara a solista e Ferdinand Hiller, a quem o Concerto seria dedicado, o condutor. Imediatamente a obra foi saudada como a principal já composta por Schumann, e já considerada uma obra prima.
Em se tratando de gravação do selo Harmonia Mundi, a qualidade da gravação sempre é excepcional, e o booklet altamente informativo. Recomendo fortemente sua leitura.
Robert Schumann (1810-1853) – Concerto para Piano in A Minor, Op. 54, Piano Trio No. 2 in F Major, Op. 80 – Melnikov, Faust, Queyras, Heras-Casado, Freiburger Barockorchester
01 – Piano Concerto in A Minor, Op. 54- I. Allegro affetuoso
02 – Piano Concerto in A Minor, Op. 54- II. Intermezzo. Andantino grazioso
03 – Piano Concerto in A Minor, Op. 54- III. Allegro vivace
Alexander Melnikov – Piano
Freiburger Barockorchester
Pablo Heras-Casado – Condutor
04 – Piano Trio No. 2 in F Major, Op. 80- I. Sehr lebhaft
05 – Piano Trio No. 2 in F Major, Op. 80- II. Mit innigem Ausdruck
06 – Piano Trio No. 2 in F Major, Op. 80- III. In mäßiger Bewegung
07 – Piano Trio No. 2 in F Major, Op. 80- IV. Nicht zu rasch
Alexander Melnikov – Piano
Isabelle Faust – Violino
Jean-Guihen Queyras – Violoncelo
Era desejo deste que vos escreve postar esta série já há muito anos, porém, pelos mais diversos motivos, acabei esquecendo, e os CDs se perderam na bagunça de meu acervo. Lembro como fiquei entusiasmado com este projeto, afinal, três jovens instrumentistas se reuniam para apresentar uma nova leitura principalmente dos Concertos para Piano e para Violoncelo, interpretados sob a ótica das interpretações historicamente informadas. Não que fosse uma novidade para mim, lembrando da gravação que Phillippe Herreweghe fez destes dois concertos com dois outros experientes nomes desta escola, Christopher Coin e Andreas Staier, CD que também postei já há mais de uma década.
Começo trazendo o primeiro CD da série, com uma de minhas violinistas favoritas, Isabelle Faust, interpretando o Concerto para Violino, que tem uma história incrível, que contarei mais abaixo. Faust se estabeleceu nos últimos anos como uma das principais violinistas da atualidade, realizando gravações altamente elogiosas, que sempre que posso, trago para os senhores. Lembro aqui dos Concertos para Violino de Mozart que já na primeira audição identifiquei como uma das melhores gravações que já escutara daquelas obras, e tanto acertei que ela ganhou diversos prêmios, entre eles, o da prestigiosa revista Gramophone. Recentemente lançou mais um volume da série de Sonatas para Violino do mesmo Mozart, ao lado de seu parceiro Alexander Melnikov, CD que pretendo trazer assim que possível. E sempre pelo selo ‘Harmonia Mundi’, o que por si só já é garantia de qualidade.
Mas vamos contar a história do Concerto, muito curiosa, por sinal. Sabe-se que Robert Schumann era muito amigo de Joseph Joachim, o maior violinista de seu tempo, e também amigo de Brahms, mas isso é outra história. Conhecedor do talento de Robert, Joachim encomendou-lhe um Concerto para Violino, que gostaria de estrear. Eis um trecho da carta que o violinista mandou:
“Que o exemplo de Beethoven o inspire a produzir de sua ampla loja uma obra para os pobres violinistas, que, além da música de câmara, tão cruelmente carecem de composições edificantes para seu instrumento, ó maravilhoso guardião dos tesouros mais ricos!’
Schumann à época estava envolvido na composição de uma Fantasia também para Violino e Orquestra, porém aceitou a encomenda. Concluiu a respectiva Fantasia, e sua estreia foi um sucesso. E logo se envolveu na composição do Concerto, que concluiu e entregou a Joaquin, que já não demonstrava o mesmo interesse e entusiasmo anteriores. O texto abaixo foi livremente traduzido do booklet que acompanha o CD:
“Mas desta vez Joachim mostrou menos entusiasmo: embora ele tenha empreendido alguns ensaios com sua orquestra da corte de Hanover na presença do compositor, ele finalmente abandonou o projeto quando Schumann renunciou ao cargo de regente em Düsseldorf no final de outubro de 1853 em resposta à pressão da orquestra. A longa história de estigmatização fatal começou. Após a morte de Schumann, e em acordo com os desejos de sua viúva Clara, que se opôs firmemente à publicação do concerto como parte da edição completa de suas obras, o manuscrito foi transferido para a posse de Joachim. Mas ele também continuou a retê-lo, supostamente por acreditar que poderia detectar nele sinais de fraqueza composicional, que indicavam a incipiente doença psicológica de Schumann, um “certo cansaço” onde ele identificou um “contraste perturbador” com o resto da produção de seu amigo. Com a intenção, sem dúvida, bem intencionada de proteger a reputação artística de Schumann, Joachim deu um passo além e deixou instruções em seu testamento de que a peça não deveria ser executada nem publicada nos próximos cem anos. (…)”
Enfim, a obra ficou guardada com um editor, porém em 1937 foi publicada sob os auspícios de Joseph Goebbels, o temido chefe da GESTAPO, lembrando que os nazistas haviam banido o conhecidíssimo Concerto de Mendelssohn, pois esse tinha sangue judeu. A idéia era usar esse Concerto de Schumann como um elo de ligação entre o Concerto de Beethoven e o de Brahms, ignorando desta forma o de Mendelssohn. A obra foi estreada em novembro de 1937 pelo violinista Georg Kulenkampff, acompanhado pela Filarmônica de Berlim dirigida por Karl Böhm. Yehudi Menuhin a estreou em 1938, junto à Filarmônica de Nova Iorque, dirigida pelo maestro inglês John Barbirolli.
Não sou muito fã deste Concerto, o considero inconcluso, com muitas ideias esparsas, e nenhum norte, mas enfim, para quem não o conhece, ei-lo aí, nas mãos muito bem treinadas de Isabelle Faust, acompanhada pela Freiburger Barockorchester. A atitude de Joachin foi correta ao esconder a partitura? Não sei se após quase 170 anos possamos julgá-lo, nem a própria Clara, que melhor que ninguém conhecia as composições do marido. Com certeza, ao lado dos Concertos para Violoncelo e para Piano podemos considerar obra de menor qualidade.
PAra compensar, temos o Trio para Piano nº3, este sim, uma obra prima. Isabelle Faust tem como parceiros nesta obra o pianista Alexander Melnikov e o violoncelista Jean-Guilhen Queyras. Um trio de respeito, diga-se de passagem.
1. Violin Concerto in D Minor – I. In kräftigem, nicht zu schnellem Tempo
2. Violin Concerto in D Minor – II. Langsam
3. Violin Concerto in D Minor – III. Lebhaft, doch nicht schnell
4. Piano Trio No. 3 in G Minor, Op. 110 – I. Bewegt, doch nicht zu rasch
5. Piano Trio No. 3 in G Minor, Op. 110 – II. Ziemlich langsam
6. Piano Trio No. 3 in G Minor, Op. 110 – III. Rasch
7. Piano Trio No. 3 in G Minor, Op. 110 – IV. Kräftig, mit Humor
Isabele Faust – Violino
Alexander Melnikov – Piano
Jean-Guilhen Queyras – Violoncelo
Freiburger Barockorchester
Pablo Heras-Casado – Condutor
Vamos concluir mais uma integral dos Concertos para Piano de Mozart, com a dupla Mitsuko Uchida, sempre acompanhada por Jeffrey Tate, que dirige a English Chamber Orchestra,.
Aqui temos a fina flor dos Concertos, como os de nº 21, 25, 26 e 27. Obras fundamentais no repertório pianístico, nem precisam de apresentação. E sempre é um imenso prazer ouvir estas obras tocadas por Uchida. Creio que o prazer será compartilhado pelos senhores.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos – CDs 7 a 9 de 9 – Mitsuko Uchida, Jeffrey Tate, English Chamber Orchestra
CD 7
01. Concerto in E Flat, K. 482, nº 22 – Allegro
02. Concerto in E Flat, K. 482, nº 22 – Andante
03. Concerto in E Flat, K. 482, nº 22 – Allegro – Andante cantabile – Tempo I
04. Concerto in A, K. 488, nº 23 – Allegro
05. Concerto in A, K. 488, nº 23 – Adagio
06. Concerto in A, K. 488, nº 23 – Allegro assai
CD 8
01. Concerto in C Minor, KV. 491, nº 24 – Allegro
02. Concerto in C Minor, KV. 491, nº 24 – Larghetto
03. Concerto in C Minor, KV. 491, nº 24 – Allegretto
04. Concerto in C, K. 503, nº 25 – Allegro maestoso
05. Concerto in C, K. 503, nº 25 – Andante
06. Concerto in C, K. 503, nº 25 – Allegretto
CD 9
01. Concerto in D, K. 537, nº 26 – Allegro
02. Concerto in D, K. 537, nº 26 – Larghetto
03. Concerto in D, K. 537, nº 26 – Allegro
04. Concerto in B Flat, K. 595, nº 27 – Allegro
05. Concerto in B Flat, K. 595, nº 27 – Larghetto
06. Concerto in B Flat, K. 595, nº 27 – Allegro
Vamos dar continuidade a esta integral dos Concertos para Piano de Mozart, sempre nas competetentes mãos de Mitsuko Uchida e de seu fiel parceiro, Jeffrey Tate, que dirige a sempre ótima English Chamber Orchestra. Uma curiosidade sobre este maestro: também se formou médico, e especializou-se em cirurgia ocular. Infelizmente veio a falecer em 2017.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos – CDs 4 – 6 de 9 – Mitsuko Uchida, Jeffrey Tate, Englisch Chamber Orchestra
CD 4
Concerto in D, K. 451, nº 16 – Allegro Assai
Concerto in D, K. 451, nº 16 – Andante
Concerto in D, K. 451, nº 16 – Rondeau (Allegro di molto)
Concerto in G, K. 453, nº 17 – Allegro
Concerto in F, K. 423, nº 17 – Andante
Concerto in F, K. 423, nº 17 – Allegretto
Rondo in D, KV. 382 – Allegretto grazioso
Rondo in D, KV. 382 – Adagio
Rondo in D, KV. 382 – Allegro
CD 5
01. Concerto in B Flat, KV. 456, nº 18 – Allegro Vivace
02. Concerto in B Flat, KV. 456, nº 18 – Andante un poco sotenuto
03. Concerto in B Flat, KV. 456, nº 18 – Allegro Vivace
04. Concerto in F, K. 459, nº 19 – Allegro Vivace
05. Concerto in F, K. 459, nº 19 – Allegretto
06. Concerto in F, K. 459, nº 19 – Allegro Assai\
01. Concerto in D Minor, K. 466, nº 20 – Allegro
02. Concerto in D Minor, K. 466, nº 20 – Romance
03. Concerto in D Minor, K. 466, nº 20 – Allegro Assai
04. Concerto in C, K. 467, nº 21 – Allegro
05. Concerto in C, K. 467, nº 21 – Andante
06. Concerto in C, K. 467, nº 21 – Allegro vivace assai
Assim como eu, muitos foram apresentados aos Concertos de Mozart pelas hábeis e talentosas mãos da pianista Mitsuko Uchida, ali por meados da década de 80. Os bolachões, ou LPs, como quiserem, estavam sempre a venda nas lojas de discos, mas os preços não eram muito acessíveis, podíamos comprar um ou dois por mês, e olha lá. Não cheguei a concluir a coleção, nem lembro quantos discos comprei. Mas era Mozart, e tremendamente bem tocado. Emocionante lembrar daqueles períodos de vacas magras (não que elas tenham conseguido engordar muito), quando fazíamos muitos sacrifícios para termos acesso a música de qualidade. O velho 3×1 da Philips tocava sem parar.
Mitsuko Uchida é uma reconhecida pianista japonesa, porém cidadã britânica, e que gravou muito entre os anos 80 e 90, sempre pelo selo Philips. Hoje, já adentrada nos setenta e poucos anos, ainda grava e se apresenta em recitais. Recentemente postei uma integral dos concertos para piano de Beethoven com ela e com Sir Simon Rattle ainda nos tempos de Filarmônica de Berlim, creio que foi uma das últimas gravações do maestro frente à sua ex-orquestra.
Em pleno ano dedicado às comemorações dos 250 anos de nascimento de Beethoven, impossível deixarmos Mozart de lado. Esse compositor é fundamental, talvez tão necessário quanto o ar que respiramos. Mesmo em obras da mais terna juventude, ou até mesmo infância, a genialidade do gênio de Salzburg é algo que se manifesta a todo momento, impossível negar tal fato. Por isso achei interessante, e oportuno, esta série de postagens.
Uchida se uniu ao maestro Jeffrey Tate para realizar a empreitada. Mozartiano de mão cheia, muito experiente nesse repertório, ele nos entrega um Mozart robusto, coerente, e sua cumplicidade com a solista se sobressai ao não permitir que a orquestra se sobreponha ao piano. Com certeza esta série é uma referência nesse repertório.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Piano Concertos – CDs 1 a 3 de 9 – Mitsuko Uchida =, Jeffrey Tate, English Chamber Orchestra
CD 1
01. KV 175 in D, (1) Allegro
02. KV 175 in D, (2) Andante ma poco adagio
03. KV 175 in D, (3) Allegro
04. KV 238 in B flat, (1) Allegro aperto
05. KV 238 in B flat, (2) Andante un poco adagio
06. KV 238 in B flat, (3) Rondeau (Allegro)
07. KV 271 in E flat, Jeunehomme (1) Allegro
08. KV 271 in E flat, Jeunehomme (2) Andantino
09. KV 271 in E flat, Jeunehomme (3) Rondo (Presto)
CD 2
01. Concerto in C, KV 246 Lutzow (1) Allegro aperto
02. Concerto in C, KV 246 Lutzow (2) Andante
03. Concerto in C, KV 246 Lutzow (3) Rondeau (Tempo di menuetto)
04. Concerto in F, KV 413 (1) Allegro
05. Concerto in F, KV 413 (2) Larghetto
06. Concerto in F, KV 413 (3) Tempo di menuetto
07. Concerto in A, KV 414 (1) Allegro
08. Concerto in A, KV 414 (2) Andante
09. Concerto in A, KV 414 (3) Rondeau (Allgretto)
CD 3
01. Concerto in C, KV 415 1. Allegro
02. Concerto in C, KV 415 2. Andante
03. Concerto in C, KV 415 3. Rondeau (Allegretto )
04. Concerto in E flat, KV 449 1. Allegro vivace
05. Concerto in E flat, KV 449 2. Andantino
06. Concerto in E flat, KV 449 3. Allegro ma non troppo
07. Concerto in B flat, KV 450 1. Allegro
08. Concerto in B flat, KV 450 2. Andante
09. Concerto in B flat, KV 450 3. Allegro
Hoje trago uma postagem um pouco diferente para os senhores. O mesmo compositor, a mesma obra, mas interpretadas por músicos e em épocas diferentes.
Tenho um grande apreço muito grande por dois destes concertos que trago hoje, o de nº 20 e o de nº 21. Os considero os melhores, dentre todos o que Mozart compôs.
Importante salientar que são três CDs que foram gravados em períodos bem distintos, quarenta anos se passaram entre um e outro. Mas ambos conseguem extrair aquela magia da música de Mozart que apenas os grandes músicos conseguem extrair. O da dupla Previn / Lupu foi gravado lá no início da década de 80, enquanto que o do pianista norueguês Leif Ove Andsnes foi recém lançado agora mesmo neste mês de maio de 2021. Muita água passou sob a ponte, o Planeta Terra é muito diferente daquele dos anos 80. Não posso dizer que aqueles eram tempos mais liberais (Tatcher / Reagan, Afeganistão), talvez mais intensos, e a interpretação precisa de Lupu demonstra isso, se comparados com este sombrio período que vivemos, em plena Pandemia. Mas a música de Mozart continua fresca, única e muito atual. Existe algo mais delicado e belo que o tema do Andante do Concerto de nº 21? Alguns podem considerar a interpretação de Andsnes um tanto quanto fria, calculista, metódica, mas creio que ele apenas reflete os tempos em que vivemos. A essência continua ali, presente, nas notas extraidas do piano. Cabe a nós localizá-la …
Como diria Mestre Carlinus, uma boa apreciação e que melhores tempos venham pela frente … a trilha sonora o PQPBach vem fornecendo para os senhores.
01. Concerto for 2 Pianos No. 10 in E-Flat Major, K. 365-316a- I. Allegro
02. Concerto for 2 Pianos No. 10 in E-Flat Major, K. 365-316a- II. Andante
03. Concerto for 2 Pianos No. 10 in E-Flat Major, K. 365-316a- III. Rondo. Allegro
04. Piano Concerto No. 20 in D Minor, K. 466- I. Allegro (Cadenza by Beethoven)
05. Piano Concerto No. 20 in D Minor, K. 466- II. Romance
06. Piano Concerto No. 20 in D Minor, K. 466- III. Rondo. Allegro assai (Cadenza by Previn)
Radu Lupu – Piano (Concerto nº20)
André Previn Piano (Concerto nº 10) e Condutor
London Symphony Orchestra
CD 1 01 Piano Concerto No. 20 in D minor K. 466 I. Allegro
02 Piano Concerto No. 20 in D minor K. 466 II. Romanze
03 Piano Concerto No. 20 in D minor K. 466 III. Rondo Allegro assai
04 Piano Concerto No. 21 in C Major K. 467 I. Allegro maestoso
05 Piano Concerto No. 21 in C Major K. 467 II. Andante
06 Piano Concerto No. 21 in C Major K. 467 III. Allegro vivace assai
CD 2
01 Fantasia in C Minor K. 475
02 Piano Quartet in G Minor K.478 I. Allegro
03 Piano Quartet in G Minor K.478 II. Andante
04 Piano Quartet in G Minor K.478 III. Rondo
05 Maurerische Trauermusik (Masonic Funeral Music) in C Minor K. 477 (K. 479a)
06 Piano Concerto No. 22 in Es-Dur Major K. 482 I. Allegro
07 Piano Concerto No. 22 in Es-Dur Major K. 482 II. Andante
08 Piano Concerto No. 22 in Es-Dur Major K. 482 III. Allegro
Leif Ove Landsnes – Piano e Condutor
Mahler Chamber Orchestra
Este foi um dos mais belos Cds que ouvi neste ano, com certeza. Não apenas pelo timaço de músicos envolvidos mas principalmente pelas belíssimas obras nele gravadas. E olha que esse registro já foi feito há mais de trinta anos, quando este que vos escreve era apenas um garoto do interior morando na cidade grande.
Max Bruch foi um grande melodista e, além do magnífico Concerto para Violino, deixou também outras obras igualmente belas, porém desconhecidas e pouco gravadas. Eu particularmente não conhecia este Concerto para Viola e para Clarinete até há alguns meses, quando escolhi por acaso algo para ouvir em uma destas plataformas de streaming, e fiquei encantado. Repassei para o grupo e um dos colegas, que comentou: mas este Concerto Duplo é lindo demais… concordo. Talvez o único ‘pecado’ dele seja sua curta duração, uma pena, realmente. Nesta obra também podemos idenficar a forte influência que Bruch teve de Brahms, é inegável em alguns trechos das obras.
Além do Concerto Duplo, podemos também ouvir as 8 peças para Clarinete, Piano e Viola, peças igualmente belas e sensíveis.
Os músicos envolvidos são o clarinetista Paul Meyer, o violista Gérard Caussé, o pianista François-René Duchâble e o maestro Kent Nagano dirige a Orquestra da Ópera de Lyon. Não por acaso, os clientes da amazon foram unânimes em dar cinco estrelas para este CD.
Konzert Für Klarinette Viola Und Orchester Opus 88
1. Andante Con Moto
2. Allegro Moderato
3. Allegro Molto
Acht Stücke Für Klarinette, Viola Und Klavier Opus 83
4. № 1 Andante
5. № 2 Allegro Con Moto
6. № 3 Andante Con Moto
7. № 4 Allegro Agitato
8. № 5 Andante
9. № 6 Andante Con Moto
10. № 7 Allegro Vivace Ma Non Troppo
11. № 8 Moderato
Paul Meyer – Clarinete
Gerard Caussé – Viola
François-René Duchâble – Piano
Orchestre de L´Opéra de Lyon
Kent Nagano – Condutor
Já ouvi tantas vezes estes Concertos para Violino de Mozart que praticamente os sei de cor. Cada detalhe, cada nuance, enfim, são mais de trinta anos que os ouço, com os mais variados solistas e orquestras. Mesmo depois de tanto tempo, nunca cheguei a uma conclusão ou definição de quais seriam as minhas gravações favoritas. Talvez o bom e velho Henryk Szeryng figure no topo da lista das 10 melhores, dentre as mais antigas, e recentemente, a ótima violinista alemã Isabelle Faust também realizou um notável trabalho em sua incursão nestas obras.
Mas estou sempre a procura de novas gravações, de novas possibilidades, de novas e inovadoras soluções (fui redundante?), afinal trata-se de Mozart, e quando se trata de Mozart, sabemos que nada nunca será definitivo. Esta gravação que ora vos trago me chamou a atenção por ter o maestro Reinhold Goebel, nosso velho conhecido, à frente de uma orquestra até então para mim desconhecida, e acompanhando uma solista que também confesso que não conhecia, Mirijan Contzen. Goebel tem um currículo respeitável em se tratando de gravações historicamente informadas, e não me surpreendeu ouvi-lo trazer aquilo que sempre procuro em minha incansável caça por Cds: novas soluções para velhos problemas.
Estes registros já tem dez anos mas não sofreram a ação do tempo, como tantas gravações que conhecemos tão bem. Talvez a novidade seja exatamente a solista que corajosamente escreveu as cadenzas dos concertos. Ato de coragem, repito, pois em se tratando de obras tão conhecidas, apresentar algo novo e diferente pode não agradar a todos. Sabemos que nós melômanos temos nossas manias e alguns são (somos) extremamente conservadores. Fui procurar maiores informações e principalmente, as críticas referentes a estas gravações, mas só as encontrei na amazon alemã (tradução nas coxas, com a ajuda do tradutor do Google):
“Uma gravação de alto nível, historicamente informada, dos concertos para violino de Mozart, que também é sonoramente convincente. Elogios aos intérpretes e ao engenheiro de som!” (5 estrelas)
Outro foi mais incisivo em declarar que não gostou:
“Esta gravação não pode ser levada a sério, mas como uma piada de festa ou susto, é muito cara, mesmo pelo preço comparativamente baixo. Interpretações absurdas e toque de violino sem gosto. Felizmente, ninguém precisa decidir quem está jogando pior aqui. Maestro, solista e orquestra estão igualmente além do bem e do mal.” (Apenas 1 estrela)
Bem, confesso que realmente levei alguns sustos na audição, mas nada que pudesse mudar minhas convicções: os músicos envolvidos foram corajosos e ousados. Vale a pena conhecer.
Segue booklet em anexo. Sugiro muito sua leitura, altamente informativa.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Concertos para Violino – Contzen, Goebel, Bayerische Kammerphilarmonie
CD 1
Konzert in B-Dur für Violine und Orchester KV 207
[01] I. Allegro moderato
[02] II. Adagio
[03] III. Presto
Konzert in D-Dur für Violine und Orchester KV 211
[04] I. Allegro moderato
[05] II. Andante
[06] III. Rondeau. Allegro
Konzert in G-Dur für Violine und Orchester KV 216
[07] I. Allegro
[08] II. Adagio
[09] III. Rondeau. Allegro
CD 2
Konzert in D-Dur für Violine und Orchester KV 218
[01] I. Allegro 08:13
[02] II. Andante cantabile
[03] III. Rondeau. Andante grazioso 06:11
Konzert in A-Dur für Violine und Orchester KV 219
[04] I. Allegro aperto – Adagio –
Allegro aperto
[05] II. Adagio
[06] III. Rondeau. Tempo di Menuetto
Konzert in D-Dur für Violine und Orchester KV 271a
[07] I. Allegro maestoso
[08] II. Andante
[09] III. Rondo. Allegro
As cadenzas são da própria solista, Mirijam Contzen
Sempre em sintonia com nosso querido mentor PQPBach, eis mais um jovem talento interpretando nosso querido Prokofiev.
Os lindos olhos verdes de Janine Jansen com certeza seduzem desde o primeiro momento em que cruzamos com eles. E quando começamos a ouvir essa moça tocar seu violino entendemos que não são apenas os lindos olhos verdes que seduzem, mas também seu talento. Esse seu incrível CD intitulado apenas “Prokofiev” é uma amostra disso. Prestem atenção no belíssimo Andante do segundo movimento do concerto para violino e os senhores entenderão do que estou falando.
01 Violin Concerto No. 2 in G Minor, Op. 63_ I. Allegro moderato
02 Violin Concerto No. 2 in G Minor, Op. 63_ II. Andante assai
03 Violin Concerto No. 2 in G Minor, Op. 63_ III. Allegro, ben marcato
Janine Jansen – Violin
London Philharmonic Orchestra
Vladimir Jurowski – Conductor
04 Sonata in C Major for 2 Violins, Op. 56_ I. Andante cantabile
05 Sonata in C Major for 2 Violins, Op. 56_ II. Allegro
06 Sonata in C Major for 2 Violins, Op. 56_ III. Commodo (Quasi allegretto)
07 Sonata in C Major for 2 Violins, Op. 56_ IV. Allegro con brio
Janine Jansen & Boris Brovtsyn – Violins
08 Sonata for Violin and Piano No. 1 in F Minor, Op. 80_ I. Andante assai
09 Sonata for Violin and Piano No. 1 in F Minor, Op. 80_ II. Allegro brusco
10 Sonata for Violin and Piano No. 1 in F Minor, Op. 80_ III. Andante
11 Sonata for Violin and Piano No. 1 in F Minor, Op. 80_ IV. Allegrissimo
Minha “modesta” contribuição para esta mega homenagem que o PQPBACH está fazendo a Béla Bartók é na verdade uma repostagem, meio que adaptada. Adaptada para trazer para os senhores esta espetacular gravação, com um de meus pianistas favoritos, Stephen Kovachevich Bishop, tocando os Concertos para Piano de Bartók, lá no final dos anos 60. Sei lá, uma conjunção dos astros favoreceu este encontro entre estes dois excepcionais músicos, e estas obras únicas ali encontraram dois jovens músicos, iniciando carreiras de sucesso e que juntos realizaram outras gravações memoráveis, como a dos Concertos de Beethoven e de Brahms. Stephen Kovacevich aliás veio a se tornar um dos grandes intérpretes de Beethoven e Colin Davis tornou-se no correr dos anos Sir Colin Davis, um Cavaleiro da Rainha da Inglaterra, e até a sua morte foi louvado como um grande maestro, fato incontestável.
A impetuosidade dos jovem solista não é um problema aqui. Sabemos que estes concertos bartokianos exigem muito sangue, suor e lágrimas, e por isso, neste caso, considero a impetuosidade e juventude não um problema e sim uma vantagem. Nosso colega Vassily a considera emblemática, e de forma alguma deve ficar fora desta homenagem ao genial compositor húngaro. E, vamos combinar, Kovacevich é um baita dum pianista e não se assusta com as armadilhas que a obra traz. Ao contrário, as encara como gente grande. Pena que abandonou os palcos e as gravações por tanto tempo…
Piano Concerto No.1 – 1.Allegro moderato
Piano Concerto No.1 – 2.Andante-
Piano Concerto No.1 – 3.Allegro molto
Piano concerto No.2 – 1.Allegro
Piano concerto No.2 – 2.Adagio – Più adagio – Presto
Piano Concerto No.2 – 3.Allegro molto
Piano Concerto No.3 – 1.Allegretto
Piano Concerto No.3 – 2.Adagio religioso
Piano Concerto No.3 – 3.Allegro vivace
Stephen Bishop Kovacevich – Piano
BBC Symphony Orchestra
London Symphony Orchestra
Colin Davis – Conductor
Provavelmente meu primeiro contato com a música de Igor Stravinsky foi com o clássico desenho da Disney, ‘Fantasia’, e provavelmente também foi o de muita gente. Não sei dizer qual foi a minha reação inicial, mas com certeza gostei. Posteriormente, comprei um LP com o ‘Pássaro de Fogo’ em uma interpretação do grande Claudio Abbado, em seus áureos tempos frente a Sinfônica de Londres. A partir deste momento comecei a prestar mais atenção ao compositor e à sua obra. Consequentemente, virei um admirador confesso do russo.
Igor Fyodorovich Stravinsky nasceu em 1882, nos arredores de São Petersburgo e morreu em 1971, em Nova York. Viveu 89 anos, enfrentou os principais conflitos do século XX, entre guerras e revoluções. E revolucionou a música, principalmente a partir de seus três balés principais, o já citado ‘Pássaro de Fogo’, ‘Petrouschka’, e a sua principal obra prima, ‘A Sagração da Primavera’. Esta será uma postagem coletiva, neste mês de abril completam-se os 50 anos de sua morte, portanto dedicaremos o mês a ele.
Escolhi trazer esta série mais por curiosidade, afinal, não são muitas as gravações em que os próprios compositores interpretam suas obras. Curiosamente, Igor não é considerado um bom maestro de suas próprias composições (???!). Isso pode soar estranho, afinal, quem melhor que o próprio autor para saber como sua obra deve ser tocada?
O que pretendo trazendo essa coleção com um compositor regendo sua própria obra é mostrar qual o entendimento que ele tem da forma de tocar sua própria obra. Em contrapartida, o colega Pleyel trouxe para os senhores o grande maestro suiço Ernest Ansermet, um dos principais maestros do século XX, em uma brilhante série de gravações que realizou destas mesmas obras ainda lá nos anos 50 e 60. Vale a pena a comparação. No correr deste mês trarei outras opções para os senhores poderem apreciar.
Hoje trago para os senhores as obras orquestrais e concertos. Os balés virão em outro momento. Temos grandes solistas, como o violinista Isaac Stern, o lendário clarinetista Benny Goodman, e nosso querido Igor estará a frente da Columbia Symphony Orchestra e da CBC Symphony Orchestra.
Enjoy it.
CD 1
01. Symphony in 3 Movements I. Overture – Allegro
02. Symphony in 3 Movements II. Andante – Interlude. L’istesso tempo
03. Symphony in 3 Movements III. Con moto
Columbia Symphony Orchestra
Igor Stravinsky – Conductor
04. Symphony in C Major I. Moderato alla breve
05. Symphony in C Major II. Larghetto concertante
06. Symphony in C Major III. Allegretto
07. Symphony in C Major IV. Largo – Tempo giusto, alla breve
08. Symphony of Psalms (1948 Version) I. Exaudi orationem meam, Domine (Revised 1948 version)
09. Symphony of Psalms (1948 Version) II. Exspectans exspectavi Dominum (Revised 1948 version)
10. Symphony of Psalms (1948 Version) III. Alleluia. Laudate Dominum (Revised 1948 version)
CBC Symphony Orchestra
Festival Singers of Toronto
Igor Stravinsky – Conductor
11. Symphony in E-Flat Major, Op.1 I. Allegro moderato
12. Symphony in E-Flat Major, Op.1 II. Scherzo. Allegretto
13. Symphony in E-Flat Major, Op.1 III. Largo
14. Symphony in E-Flat Major, Op.1 IV. Finale. Allegro molto
15. Concerto in E-Flat Major for Chamber Orchestra Dumbarton Oaks I. Tempo giusto
16. Concerto in E-Flat Major for Chamber Orchestra Dumbarton Oaks II. Allegretto
17. Concerto in E-Flat Major for Chamber Orchestra Dumbarton Oaks III. Con moto
18. Concerto in D for String Orchestra Basle Concerto I. Vivace
19. Concerto in D for String Orchestra Basle Concerto II. Arioso. Andantino
20. Concerto in D for String Orchestra Basle Concerto III. Rondo. Allegro
Columbia Symphony Orchestra
Igor Stravinsky – Conductor
21. Ebony Concerto I. Allegro moderato
22. Ebony Concerto II. Andante
23. Ebony Concerto III. Moderato – Con moto
Benny Goodman – Clarinet
Columbia Jazz Combo
24. Concerto for Piano and Wind Instruments I. Largo – Allegro (Revised 1950 version)
25. Concerto for Piano and Wind Instruments II. Largo (Revised 1950 version)
26. Concerto for Piano and Wind Instruments III. Allegro (Revised 1950 version)
Philipe Entremont – Piano
Columbia Symphony Orchestra
Igor Stravinsky – Conductor
27. Movements for Piano and Orchestra I. Eighth Note = 110
28. Movements for Piano and Orchestra II. Quarter Note = 52
29. Movements for Piano and Orchestra III. Eighth Note = 72
30. Movements for Piano and Orchestra IV. Eighth Note = 80
31. Movements for Piano and Orchestra V. Eighth Note = 104
Charles Rosen – Piano
Columbia Symphony Orchestra
Igor Stravinsky
32. Capriccio for Piano and Orchestra I. Presto (Revised 1949 Version)
33. Capriccio for Piano and Orchestra II. Andante rapsodico (Revised 1949 Version)
34. Capriccio for Piano and Orchestra III. Allegro capriccioso ma tempo guisto (Revised 1949 Version)
Phillipe Entremont – Piano
Columbia Symphony Orchestra
Robert Craft – Conductor
35. Concerto in D Major for Violin and Orchestra I. Toccata
36. Concerto in D Major for Violin and Orchestra II. Aria I
37. Concerto in D Major for Violin and Orchestra III. Aria II
38. Concerto in D Major for Violin and Orchestra IV. Cappricio
Isaac Stern Violin
Columbia Symphony Orchestra
Igor Stravinsky – Conductor
Pensei muito antes de fazer esta postagem em homenagem ao nosso querido colega Ammiratore, que nos deixou órfãos nesta semana, órfãos de sua inteligência, sabedoria e sensibilidade. É fácil identificar quando uma pessoa que recém conhecemos irá se tornar sua amiga, mesmo que este contato seja apenas virtual. Se não, de que outra forma iria conhecer este rapaz, que morava lá no interior do estado do Rio de Janeiro, a quase mil quilômetros de distância? Que evento físico poderia ocorrer que permitisse esse encontro?
A primeira troca de mensagens após seu ingresso no PQPBach ocorreu de forma tão tranquila que parecia que nos conhecíamos há décadas: perguntou se eu não queria compartilhar com ele sua conta no OneDrive. 1 TB é coisa pra burro, comentou, levaria décadas para encher este espaço. Mandou então a senha, e esse singelo ato, a partir de então, aumentou nossa cumplicidade. Trocávamos idéias sobre música e carros, sua paixão, era engenheiro mecânico, trabalhando em conhecida multinacional da área. Se propôs inclusive a comprar um carro zero KM para mim, se utilizando de seu desconto enquanto funcionário. Infelizmente a negociação nunca chegou a se concretizar, e continuo com meu velhinho de guerra.
Nesta singela e modesta homenagem ao querido colega, resolvi trazer Debussy, creio que poucos compositores poderiam expressar a dor de uma perda com tanta sensibilidade, ainda mais nestes sombrios tempos que vivemos. Nestes últimos cinco anos, tive a infelicidade de perder um irmão natural, vítima de complicações de um transplante, e de três grandes amigos: com dois deles tive o prazer de compartilhar nossas adolescências e início de vida adulta, e que resolveram deixar este vale de lágrimas mais cedo, e neste negro período pelo qual passa a espécie humana, eis que Ammiratore nos deixa.
Ninguém deve estar sentido mais a dor desta perda que sua esposa e seu casal de filhos. Essa dor é incurável. Deixo aqui meus sinceros sentimentos, lamento muito não poder tê-lo conhecido pessoalmente e não poder abraçá-los pessoalmente.
Este belíssimo e sensível CD é interpretado pelos dinamarqueses do “Messiaen Quartet Copenhagen” e nos apresentam um Debussy atualizado e adaptado. Porém nestes arranjos não se perde a essência da música de Debussy: aquela interiorização do sentimento, nada muito explícito, porém devidamente exposto.
Confesso que senti falta da orquestra no “Prélude à l’après-midi d’un faune”, minha obra favorita do compositor, e claro, da flauta que abre a obra, que apresenta um Fauno acordando de um sono na tarde. É assim que gostaria de acordar deste sonho terrível que vivemos nestes tempos sombrios: acordar e descobrir que tudo não passou de um sonho, e que não tivemos mais de trezentas mil mortes, e que tem uma mensagem no Whattsap do Ammiratore dizendo já eu posso agendar sua nova aventura wagneriana ou verdiana, ou haydniana.
Fico por aqui. Não consigo mais pensar em mais nada. Deixo-os com a belíssima música de Debussy, muito bem interpretada pelos dinamarqueses.
01. Suite Bergamasque I. Prélude
02. Suite Bergamasque II. Menuet
03. Suite Bergamasque III. Clair de Lune
04. Suite Bergamasque IV. Passepied
05. Première Rhapsodie
06. Prélude à l’après-midi d’un faune
07. Cello Sonata in D Minor I. Prologue – Lent, sostenuto e molto risoluto
08. Cello Sonata in D Minor II. Sérénade – Modérément animé
09. Cello Sonata in D Minor III. Finale – Animé, léger et nerveux
10. Violin Sonata in G Minor I. Allegro vivo
11. Violin Sonata in G Minor II. Intermède – Fantasque et léger
12. 12. Violin Sonata in G Minor III. Finale – Très animé
Messiaen Quartet Copenhagen :
Malin William-Olsson – Violin
Carl-Oscar Østerlind – Cello
t Kristoffer Hyldig – Piano
Viktor Wennesz – Clarinet
Como comunicar um fato desses? Nosso querido amigo Ammiratore faleceu hoje, em consequência de complicações advindas do Covid-19. Esse foi sempre um espaço bem-humorado, mas hoje estamos absolutamente tristes, chocados e indignados. Era um jovem amigo, um culto e tranquilo amante da ópera que deixa esposa e dois filhos. Estamos sem palavras.
Para os próximos dias, temos ainda três postagens que foram agendadas por ele. Todas de óperas de Verdi. Vai ser difícil.
Neste dia 24 de março os Concertos de Brandenburgo completam 300 anos. A importância destas obras na história da música ocidental é incontestável. Esta espetacular série de Seis Concertos, um totalmente diferente do outro, faz minha alegria há décadas, e com certeza, vai me acompanhar até o final de meus dias.
Estamos fazendo postagens temáticas nos últimos tempos, como foi a bela homenagem a Piazzolla, e agora, temos estes Concertos tão especiais. Novamente, todos os participantes do blog vão contribuir, dentro de suas restrições de tempo e trabalho.
Escolhi esta gravação dos belgas da ‘La Petite Bande’ por vários motivos, e um deles, além da óbvia qualidade dos músicos envolvidos, é a presença do cravista Pierre Hantaï, um dos principais intérpretes de Bach deste século XXI. Tudo o que este rapaz toca vira ouro, e aqui não é diferente.
Então aproveitem este dia do #BRANDENBURGAÇO !!!
Como definir um gênio? Difícil, não acham? Um músico do porte de Astor Piazzolla nasce a cada 100 anos, e olha lá. Nesta data, dia 11 de março, há exatos 100 anos nascia este imenso compositor e bandoneonista, Ástor Piazzolla, que revolucionou o tango, e consequentemente, a música do Século XX.
O PQPBach não podia deixar esta data passar despercebida, então, em um esforço coletivo, e com poucos dias disponíveis, encaramos este desafio em fazer uma homenagem que faça jus à genialidade do aniversariante.
Infelizmente não poderei postar o meu disco favorito dele, que tenho apenas em LP, e no momento não tenho condições de converter para o formato digital. Trata-se do clássico álbum que a grande intérprete de Piazzolla, a cantora Amelita Baltar, gravou com canções do próprio e de seu fiel companheiro, Horacio Ferrer, onde ela faz o melhor registro que já ouvi da ‘Balada de un Loco’. Para quem não conhece, coloquei um link do Youtube aí embaixo parar conhecerem. Coisa de gênio …
Já venho postando cds do mestre argentino desde os primórdios do PQPBach, e nunca deixei de realçar suas qualidades, tanto quanto compositor quanto intérprete. O que estou trazendo para os senhores hoje são três cds que a violinista Isabelle van Keylen gravou em homenagem à ele, tendo para isso montado um conjunto que intitulou ‘Isabelle van Keulen Essemble’, um quarteto com um contrabaixo acústico, piano, o bandoneon e o violino de van Keulen. Alguém pode reclamar, ‘mas o que os holandeses entendem de tango?’, pode até ser que não entendam nada, mas entendem a importância da obra, e por isso fazem uma homenagem à altura. com o perdão da redundância. Aplicaria a mesma questão a três outros excepcionais músicos que também dedicaram álbuns a Piazzolla, gravando com ele, inclusive, com o saxofonista norte americano Gerry Mulligan, o violinista lituano Gidon Kremer ou o acordeonista francês Richard Galliano. O que importa é que entenderam as ideias, os conceitos, e conseguiram nos proporcionar grandes e prazerosos momentos de audição para nós, meros mortais, apreciadores da bela arte.
Não quero me estender muito mais, pois quase todos os atuais membros do PQPBach toparam participar da empreitada. então, vamos ao que viemos.
CD1
1 Escualo
2 Verano Porteño
3 Invierno Porteño
4 Tristezas de un Doble A
5 Michelangelo ’70
6 Contrabajísimo
7 Oblivion
8 Libertango
9 Tangata
10 Tanti anni prima
11 Concierto para Quinteto
CD 2
1 Bando
2 Otoño porteño
3 Le grand tango (arr. Christian Gerber)
4 Soledad
5 Tres minutos con la realidad
6 Kicho
7 Primavera porteña
8 Adiós nonino
9 Tango para una ciudad
CD 3
1 Allegro tangabile
2 La Camorra I
3 Romance del diablo
4 Vayamos al diablo
5 Tango del diablo
6 Poema valseado
7 Fuga y misterio
8 Introducción al ángel
9 Milonga del ángel
10 Muerte del ángel
11 Resurrección del ángel
Isabelle van Keulen Ensemble
Isabelle van Keulen Violin
Christian Gerber bandoneon
Ulrike Payer piano
Rüdiger Ludwig double bass
Sou fascinado por este CD, desde quando o adquiri, ainda lá pelo início dos anos 2000. Os tempos eram outros, era complicado conseguir material em mp3, afinal ainda não tínhamos internet rápida em casa, apenas alguns conhecidos, estagiários na Universidade, ficavam madrugadas adentro fazendo downloads de música e de filmes dentro da própria Universidade, aproveitando a estrutura de rede altamente profissional que tinha sido montada.
Era o tempo do Napster, e-mule, e mais alguns sistemas de troca de arquivos. E um gravador de CD também era algo com preço quase proibitivo, então organizávamos sessões de gravação para a troca de material. E quando comprei este primor de CD que ora posto, devem ter sido feitas umas vinte cópias logo nos primeiros dias.
Este CD traz um quinteto de ouro do jazz, e também coloca lado a lado novamente Chick Corea e Gary Burton, dupla que gravou discos antológicos nos idos dos anos 70. E para completar, ainda tem Pat Metheny, Dave Holland e Roy Haynes… e muito talento reunido em um só CD.
Claro que é IM-PER-DÍ-VEL !!! E deve ser ouvido e admirado de preferência acompanhado por um bom vinho…
Like Minds – Pat Metheny, Gary Burton, Chick Corea, Dave Holland, Roy Haynes
01 – Question And Answer
02 – Elucidation
03 – Windows
04 – Futures
05 – Like Minds
06 – Country Roads
07 – Tears Of Rain
08 – Soon
09 – For A Thousand Years
Gary Burton – Vibraphone
Chick Corea – Piano
Pat Metheny – Guitar
Dave Holland – Bass
Roy Haynes – Drums
Sou fã dos belgas do Anima Eterna Brugge já há bastante tempo, e sempre que possível acompanho seus lançamentos, sempre de excelente qualidade. Joos van Immerseel já esta há bastante tempo na estrada e estes anos de experiência tem tornado suas interpretações mais seguras e maduras.
Adepto das interpretações historicamente informadas, van Immerseel gravou estas sinfonias já lá no início do século, 2001, para ser mais exato, e mais tarde também gravou a integral dos Concertos para Piano, atuando como solista, utilizando um Pianoforte. Trouxe essa integral já há alguns anos e ela teve uma ótima recepção. Espero que os senhores também apreciem estas Sinfonias. Quem não está acostumado a este estilo de interpretação pode estranhar a sonoridade, a escolha dos tempos, enfim, é Mozart sob uma perspectiva diferente da de um maestro como Karl Böhm, por exemplo.
O texto abaixo foi retirado do libreto que segue em anexo, e é uma síntese, definida pelo próprio maestro, destas últimas três sinfonias:
“Mozart the man, with his individual temperament, was above all a musician. In this symphonic ‘trilogy’, he illuminated all aspects of human expression, quite independently of his personal situation. Each work presents a different character. No.39 in E fl at major contains numerous elements reminiscent of chamber music, while no.40 in G minor makes clear references to opera. No.41 in C major includes formal elements from Baroque music (overture, concerto, fugue). Its synthesis of sonata form and fugue was, and still is, a tour de force that could only have been written by Mozart.”
CD 1
SYMPHONY NO.39 IN E FLAT MAJOR, K543
1 ADAGIO – ALLEGRO
2 ANDANTE CON MOTO
3 MENUETTO. ALLEGRETTO
4 FINALE. ALLEGRO
SYMPHONY NO.40 IN G MINOR, K550
5 ALLEGRO MOLTO
6 ANDANTE
7 MENUETTO. ALLEGRETTO
8 ALLEGRO ASSAI
CD 2
SYMPHONY NO.41 IN C MAJOR, K551 ‘JUPITER’
1 ALLEGRO VIVACE
2 ANDANTE CANTABILE
3 MENUETTO. ALLEGRETTO
4 FINALE. MOLTO ALLEGRO
BASSOON CONCERTO IN B FLAT MAJOR, K191
5 ALLEGRO
6 ANDANTE MA ADAGIO
7 RONDO, TEMPO DI MENUETTO
Jane Gower – Basson
Anima Eterna Brugge
Jos van Immerseel – Conductor
Fiquei por dois dias sem acesso à Internet nem a TV, deu algum problema com minha operadora. Neste meio tempo aproveitei para fuçar meu acervo, e reencontrei esta preciosidade no meio da bagunça generalizada que é meu acervo. Foi um disco que me marcou profundamente, pois com ele conheci Mahler. Aliás, esta série ‘Ovation’ da DECCA era presença garantida nas lojas de discos lá em meados da década de 80. Comprei vários, mas eles desapareceram nas areias do passado, só restou este.
Demorei para conhecer Mahler, mas quando conheci, nunca mais o deixei. E foi exatamente com este disco, com esta capa, onde o jovem Zubin Mehta rege a magnífica Quinta Sinfonia, frente à Filarmônica de Los Angeles. Quando os sopros abrem a “Trauermarsch” (Marcha Fúnebre) comecei a entender que o assunto ali era sério. E durante os próximos sessenta e cinco minutos seguintes fiquei em estado de espera, para ver aonde aquilo tudo iria me levar. Trouxe anteriormente outro excelente registro de Mehta regendo Mahler, a Segunda Sinfonia, com a Filarmônica de Viena, também lá no começo de sua carreira. Performance histórica, que a gravadora DECCA lançou em sua coleção DECCA LEGENDARY PERFORMANCES. Mas confesso que essa aqui é a minha favorita.
Esta Sinfonia já apareceu por aqui em outras excelentes gravações, trago Mehta sem nenhum motivo maior que não o de evocar boas lembranças de minha juventude. A melancolia que permeia esta obra me comove até hoje, mesmo depois de trinta e poucos anos que a conheço. Seu ‘Adagietto’ serviu de trilha sonora para um dos mais belos filmes que já vi, ‘Morte em Veneza’, de Luchino Visconti, assunto já abordado aqui mesmo no PQPBach por algumas vezes.
Concluindo esta série, hoje trago a Sinfonia D. 944, intitulada ‘A Grande’. E realmente, é uma das maiores obras primas de Schubert. Se ele não tivesse composto outras obras primas como os 4 Impromptus, o Qarteto A Morte e a Donzela, a Sonata ‘Arpeggione’, entre outras, poderia dizer que é sua maior obra.
Como comentei anteriormente, Harnoncourt ignorou a existência de uma Sétima Sinfonia, e as renumerou, por isso, aqui nesta sua integral, ela é numerada como sendo a Oitava, enquanto que para muitos, a ‘Oitava Sinfonia de Schubert’ seria sua Sinfonia Inacabada, que já trouxe para os senhores. Para encerrar esta discussão, só quero deixar claro que esta é uma discussão que está longe de acabar entre os musicólogos. Assim a Wikipedia coloca a questão:
Continua a haver uma controvérsia de longa data a respeito da numeração desta sinfonia, com alguns estudiosos (geralmente de língua alemã) numerando-a como Sinfonia nº 7. A versão mais recente do catálogo Deutsch (o catálogo padrão das obras de Schubert, compilado por Otto Erich Deutsch) a lista como No. 8, enquanto a maioria dos estudiosos de língua inglesa a lista como No. 9.
Detalhes à parte, a grandiosidade desta sinfonia é explorada nos mínimos detalhes pela poderosa Filarmônica de Berlim com um afiadíssimo Harnoncourt. Nunca canso de repetir que Schubert viveu apenas 31 anos, mas que conhecimento profundo da alma humana que ele tinha!! Que belezas mais teria produzido se tivesse vivido mais? Teria concluído sua ‘Inacabada’ e sua Sétima Sinfonia, da qual existem apenas fragmentos autografados? Não gosto muito de ficar explorando este terreno das suposições, mas creio que este seja um desafio interessante. Segundo conta a história, ele esteve presente no enterro de Beethoven, e não por acaso, quando veio a falecer um ano depois, foi enterrado ao lado de seu ídolo.
1. Symphony No. 8 in C Major, D. 944 Great I. Andante – Allegro ma non troppo
2. Symphony No. 8 in C Major, D. 944 Great II. Andante con moto
3. Symphony No. 8 in C Major, D. 944 Great III. Scherzo. Allegro vivace – Trio
4. Symphony No. 8 in C Major, D. 944 Great IV. Finale. Allegro vivace
Berliner Philharmoniker
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
Ouvir estas três sinfonias em sequência é uma experiência muito interessante. Mostra a evolução de um compositor, que aos poucos vai quebrando as amarras do Classicismo e mostrando que não era apenas mais um compositor jovem e talentoso. Sua capacidade de criar melodias magníficas, seu profundo conhecimento da dinâmica de uma orquestra, seu conhecimento de contraponto, enfim, acompanhamos aqui a consagração de um gênio, sendo o momento culminante sua ‘Sinfonia Inacabada’, para alguns, sua Oitava Sinfonia, para outros, sua Sétima.
Ouvi a Quinta Sinfonia pela primeira vez na Rádio Cultura, andando pelas ruas de São Paulo, voltando para casa em um final de tarde, começo da noite, vendo aquele imenso fluxo de pessoas e de carros circulando, e por incrível que possa parecer, me pareceu a trilha sonora perfeita. Eram tempos duros, estava recém chegando na cidade grande, conhecendo seu ritmo, e tentando me adaptar a ele. Ainda não fizera muitos amigos, e era naquela fase de transição de nossas vidas, quando precisamos tomar as decisões que iriam nortear o futuro. Como trabalhava em um Bairro Central, o famoso Bixiga, e morava ali na região dos Campos Elíseos, a algumas quadras da famosa esquina da Ipiranga com a São João, preferia muitas vezes ir a pé para casa, ao invés de encarar aqueles ônibus e metrôs lotados. Eram tempos loucos, porém não tão violentos. Não tive coragem de fazer este trajeto novamente na última vez em que estive por lá.
Mas chega de conversa e vamos apreciar esta inédita parceria entre Nikolaus Harnoncourt, que por incrível que pareça nasceu ali mesmo em Berlim, e a orquestra mais famosa da cidade.
1. Symphony No. 5 in B-Flat Major, D. 485 I. Allegro
2. Symphony No. 5 in B-Flat Major, D. 485 II. Andante con moto
3. Symphony No. 5 in B-Flat Major, D. 485 III. Menuetto. Allegro molto – Trio
4. Symphony No. 5 in B-Flat Major, D. 485 IV. Allegro vivace
5. Symphony No. 6 in C Major, D. 589 I. Adagio – Allegro
6. Symphony No. 6 in C Major, D. 589 II. Andante
7. Symphony No. 6 in C Major, D. 589 III. Scherzo. Presto – Trio. Più lento
8. Symphony No. 6 in C Major, D. 589 IV. Allegro moderato
9. Symphony No. 7 in B Minor, D. 759 Unfinished I. Allegro moderato
10. Symphony No. 7 in B Minor, D. 759 Unfinished II. Andante con moto
Berliner Philharmoniker
Nikolaus Harnoncourt – Conductor