Estes dias o compadre Vassily deixou todo mundo boquiaberto ao comentar que um dia recebeu um email do pianista Murray Perahia, querendo informações sobre o grande Antônio Guedes Barbosa, que Vassily está concedendo a graça de ressuscitar para nossos ouvidos aqui no blog.
Pois bem: desde aquele dia não parei de pensar que a única postagem que o Monge Ranulfus fez envolvendo Murray Perahia estava fora do ar há muito tempo – e que, uma vez a tenham conhecido, xs senhorxs hão de convir que isso foi um grave pecado de sua parte!
Assim, o monge resolveu aproveitar o domingo para se penitenciar, mesmo se um tanto pela metade, pois no momento pode apenas revalidar o link, e não acrescentar à postagem um texto decente – o mesmo que, coincidentemente, aconteceu há mais de cinco anos, quando da postagem original. Mas pra não dizer que não falei das obras, vamos lá: duas ou três palavras:
Tanto as Variações do 3º quanto a Sonata do 4º Grande B existem também em versões com orquestra (no caso de Bartók, na forma do Concerto para 2 pianos e orquestra, de 1940), mas foram compostas originalmente na forma para dois pianos que se ouve aqui.
As variações de Brahms são tradicionalmente ditas “sobre um tema de Haydn”, mas não é preciso ouvir mais que um compasso para perceber que essa atribuição deve ser questionada, como de fato tem sido. O tema também é referido como “Hino de Santo Antônio”, e com ele as variações – as quais foram estreadas pelo próprio Brahms e por Clara Schumann (quem mais?) numa audição privada em Bonn, em 1873.
E agora, Brahms & Bartók por Solti & Perahia ficam com vocês!
Béla Bartók: Sonata para 2 pianos & percussão (1937)
01 I Assai lento 12:50
02 II Lento ma non troppo 06:27
03 III Allegro non troppo 06:37
Johannes Brahms: Variações sobre um tema de Joseph Haydn
(‘Chorale Sankt Antoni’) para 2 pianos, op.56b (1873)
04 Thema: Chorale St. Antoni: Andante
05 Var.1 Andante con motto
06 Var.2 Vivace
07 Var.3 Con motto
08 Var.4 Andante
09 Var.5 Poco presto
10 Var.6 Vivace
11 Var.7 Grazioso
12 Var.8 Poco presto
13 Finale: Andante
Murray Perahia e Sir Georg Solti, pianos
David Corkhill e Evelyn Glennie, percussão
Gravado na Inglaterra em 1987
. . . . . . BAIXE AQUI – download here
Ranulfus
Ótima postagem. Essa Sonata para 2 Pianos & Percussão de Bartók é fabulosa.
Boa, Ralf. Ótima postagem. Bartok é uma paixão.
O tempo em que eu tinha carro, e rádio no carro, passava numa noite tenebrosa pela Marginal Pinheiros e ouvi uma coisa fantástica na Rádio USP. Não desgrudei até o último minuto para ouvir o que era: essa Sonata de Bartók. Aí não sosseguei até conseguir o CD –
… e agora estou vendo que o fã-clube de Bartók é poderoso neste blog: NENHUMA outra postagem que fiz, por caprichada e suada que tenha sido, recebeu sequer 1 comentário na primeira hora, quanto mais 3 como esta!
Confissão: admiro demais esse Bartók, mas ouço com mais freqüência o Brahms. Por quê? Porque o Brahms eu posso deixar tocando enquanto trabalho. O Bartók, ou eu paro tudo e ouço, ou então nem faz sentido colocar!
Brahms é paixão incondicional. Está naquela galeria de deuses imortais. Há outros amigos com ele lá no Olimpo… Beethoven, Bach, Mozart, Shosta e outros. Esqueci de citá-lo. Fixei os olhos somente no Bartok. Mas Brahms é tão bom, que eu nem preciso fazer referência.
Olá Ranulfus.
Boa postagem! Em se tratando de Brahms e Bartók não há consideração a fazer, é baixar de imediato. O primeiro eu já conhecia dos tempos em que comprava e emprestava CDs de música clássica.
O húngaro conheci e aprendi a gostar da obra dele aqui no PQP.
Até breve!
Esse disco é absurdamente maravilhoso! E mostra um lado pouco lembrado de Solti, o de pianista. Ele foi um pianista muito, muito bom. Começou a carreira assim.
Brahms para dois pianos: conhecem a Sonata em fá menor para dois pianos? É a segunda versão do famoso Quinteto para piano e cordas em fá menor. A formação definitiva é, na verdade, a terceira versão. A obra nasceu como Quinteto de cordas. (Com dois violoncelos! É curioso pois os dois quintetos de cordas oficiais de Brahms são como os de Mozart, com duas violas.) Vale ouvir a versão para dois pianos. Tem uma gravação com a Martha Argerich e o Alexander Rabinovitch que é bem legal.
Só uma coisa sobre as Variações sobre um tema de Haydn, de Brahms: as Variações I e II, especialmente a II, me lembram muito de Chopin. Eu sei que um não tem nada a ver com o outro, Chopin é meio “melado” enquanto Brahms é mais sério, mas essas duas variações me lembram bastante do Chopin “melado”.
Não deixava de ser tempo do romantismo, né, Rodrigo? Nenhuma pessoa consegue ser totalmente independente da sua época…
De resto, não esqueça que Brahms era chegadíssimo de Schumann – e Schumann no meu ver consegue muitas vezes ser mais melado que Chopin (e ainda mais saltitante, mais deslumbrado…)
Mas sugiro que você ouça (se ainda não ouviu) os Noturnos de Chopin na versão de Guiomar Novaes, que postei faz algumas semanas. Eu defini como “Chopin com afeto mas sem afetação”.
ALI eu consigo entender que Brahms respeitasse muito Chopin – como consta que respeitava!
Já baixei 1 CD, mas ainda não ouvi, tá no meu Pen Drive (baixei na escola). Vou ouvi-la já.
Eu não gosto de Schumann, acho que tenho por Schumann o mesmo sentimento que o PQP tem por Rachmaninoff. Ele é demasiado romântico, parece um Chopin³ algumas vezes.
Na versão orquestral não tinha reparado tal afinidade por Chopin nas 2 primeiras variações.
Engraçado que essas variações de Brahms foram postadas duas vezes na semana, a versão para pianos aqui e a para orquestra por FDP.
Sou outro que aprendeu a amar Bartók nest blog… Já conhecia o Concerto para 2 pianos, percussão e orquestra, numa gravação primorosa de Boulez, que surpresa foi ouvir essa outra versão… Adoro o piano em Bartók, percussivo, impactante… é tudo menos easy-listening!
Também fiquei surpreso de ver as variações de Brahms aparecendo aqui na versão orquestral. Vou baixar assim que terminar de baixar o Ravel, e confesso que ainda não conheço. E mais: com os anos, aprendi a gostar TANTO dessa versão em dois pianos, que sinto certo medo de ouvir a outra. Não é só o de não gostar: vem um sentimento meio maluco, de poder estar traindo um grande amor… 😀
Tinha o vinil, mas quebrou. Que tremenda gravação!
Ouvi a Sonata de Bartók pela primeira vez pela Rádio USP, dirigindo em noite escura pela Marginal Pinheiros em São Paulo. Pode imaginar o impacto! Não sosseguei até conseguir o CD…
Para mim, revelador como uma trombeta apocalíptica. Nunca mais escutar música do mesmo jeito, depois de escutar essa Sonata.