É hoje! 80 velinhas no bolo do Chico (nasc. 19/jun/1944)
Com uma carreira tão longa e diversificada – cantor, compositor, escritor – é claro que alguns de nossos leitores-ouvintes vão discordar, mas para mim o ponto mais alto de Chico Buarque foi quando, no fim da década de 1970, ele voltou ao teatro – após Morte e vida severina, Roda Viva, Gota d’água, Os Saltimbancos, Calabar.
Aqui ele reúne seus talentos já à época bem conhecidos de autor de sambas e de canções de amor, e sobretudo o seu grande assunto: olhar para a classe social que ele conhecia bem e de dentro, as elites brasileiras que se dizem muito cristãs mas adoram jogar pedra na Geni e em quem mais aparecer. Esse olhar cuidadoso voltado para aqueles que há tempos querem evitar ver pobre na praia (proposta legislativa dos nossos malandros federais de 2024) é uma das marcas do Chico, aparecendo no seu disco Caravanas (2017) e nos seus recentes romances Leite derramado (2009) e Essa gente (2019).
Estreada em 1978, a Ópera do Malandro supostamente se passa na década de 1940 em um Rio de Janeiro que ainda era capital da República – artifício para escapar da censura do regime dos generais – mas as situações retratadas são até hoje atuais, o que no fundo é uma péssima constatação. A ópera foi lançada em disco em 1979 e depois seria reencenada várias vezes com ligeiras modificações, uma canção a mais, outra a menos, por exemplo no filme de 1985. A montagem de 2003 na Praça Tiradentes (outro reduto imorrível da boemia carioca), lançada em CD pela Biscoito Fino (aqui nas plataformas de streaming), é igualmente excelente.
A “Ópera do Malandro” é baseada na “Ópera dos Mendigos” (1728), de John Gay, e na “Ópera dos Três Vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weil. O espetáculo estreou no Rio de Janeiro, em julho de 1978, e foi recriado em São Paulo, em outubro de 1979, sempre sob a direção de Luiz Antonio Martinez Correa. Este disco contém as canções de ambas as montagens.
Estamos no Rio de janeiro dos anos 1940. O comerciante Fernandes de Duran e sua mulher, Vitória Régia, exploram uma cadeia de bordéis na Lapa, empregando centenas de mulheres. O casal tem uma filha, Teresinha de Jesus, que é criada e envernizada com todos os requisitos para arranjar um casamento vantajoso.
O chefe de polícia controla a moral e os bons costumes da cidade e, por coincidência, aceita presentes e gratificações de Duran. E o contrabandista Max Overseas chefia uma quadrilha que age por aí, sem maiores embaraços, até que essas figuras se cruzam e a historinha dá no que dá.
Antes de abrir o pano, o produtor do espetáculo apresenta ao público o autor desta ópera, um malandro chamado João Alegre.
(Do encarte do álbum)
Chico Buarque: Ópera do Malandro
MPB4: O Malandro (adaptado de Die Moritat von Mackie Messer – B. Brecht, K. Weill)
Chico Buarque e A Cor do Som: Hino De Duran
Marlene: Viver de Amor
Chico Buarque e Marlene: Uma Canção Desnaturada
MPB4: Tango do Covil
Chico Buarque e Moreira Da Silva: Doze Anos
Chico Buarque e Alcione: O Casamento dos Pequenos Burgueses
Zizi Possi: Terezinha
Moreira Da Silva: Homenagem ao Malandro
Nara Leão: Folhetim
Frenéticas: Ai, se eles me pegam agora
Marieta Severo e Elba Ramalho: O Meu Amor
Turma do Funil: Se eu fosse o teu patrão
Chico Buarque: Geni e o Zepelim
Gal Costa e Francis Hime: Pedaço de mim
Cantores Líricos: Ópera
João Nogueira: O Malandro nº 2 (adaptado de Die Moritat von Mackie Messer – B. Brecht, K. Weill)
Produzido e dirigido por Sérgio de Carvalho
Arranjos e regência por Francis Hime
P.S.: Devo admitir, contudo, que a gravação de uma das canções mais famosas desse ciclo, a “Homenagem ao Malandro”, não me parece tão boa nessa gravação aqui. É claro que Moreira da Silva tinha um longo currículo de malandragem, mas simplesmente não combinou tanto com a melodia e letra de Chico quanto a interpretação do autor, no LP de 1978, ou ainda esta aqui de um outro malandro de longa folha-corrida:
Pleyel

Mais duas maravilhosas sinfonias de Haydn, desta vez à cargo do grande George Szell à frente da Orquestra de Cleveland. Mais uma dupla incrível, que realizou gravações maravilhosas ainda nos anos 60.





Se houve alguém “inventou” Bach, este foi Buxtehude. Leiam a seguir o texto que a Sociedade Bach do Brasil publicou nesta página. As intervenções entre parênteses são minhas.
Seu nome era Anton mas podia ser Vassili por seu caráter dubitativo (sim, Les Luthiers!). Tinha 39 anos e não sabia ainda se era um sinfonista de verdade ou um estudante. Então, escreveu esta sinfonia que posto hoje e que nunca foi executada durante sua vida. Ele tinha quase certeza que escrevera uma porcaria e, como o neurótico que era, manteve tal quase certeza na quarta, quinta, sétima, oitava e nona, verdadeiras obras-primas do ocaso do século XIX.







Este é aquele cantinho de Sonatas de Bach com alguns patinhos feios. Mas mesmo sendo patinhos feios, é Bach e Bach sempre vale a pena. Tanto que damos de cara com alguns movimentos de fazer cair os butiá do bolso de tão belos e bem escritos. As sonatas para violino e cravo de Johann Sebastian Bach são obras em forma de trio sonata, com as duas partes superiores no cravo e violino sobre uma linha de baixo fornecida pelo cravo e uma viola da gamba opcional. Ao contrário das sonatas barrocas para instrumento solo e contínuo, em que a realização do baixo figurado foi deixada ao critério do intérprete, a parte do teclado nas sonatas foi quase inteiramente especificada por Bach. Provavelmente, a maioria deles foi composta durante os últimos anos de Bach em Köthen entre 1720 e 1723, antes de ele se mudar para Leipzig.



IM-PER-DÍ-VEL !!!
O belo Concerto para Violino de Alban Berg foi escrito em 1935, ano de sua morte. (Em 24 de dezembro daquele ano, ele foi provavelmente picado por um inseto peçonhento e morreu). Seu Concerto é a peça mais conhecida e executada de Berg. A obra foi encomendada por Louis Krasner e dedicada por Berg “à memória de um anjo”. Foi o último trabalho que ele concluiu. Krasner executou a parte solo na estreia no Palau de la Música Catalana, Barcelona, em abril de 1936, quatro meses após a morte do compositor, tornando-se um réquiem não apenas para Manon Gropius, mas também para Berg. Por que o anjo? Ora, o acontecimento que o estimulou a escrever o concerto foi a morte por poliomielite de Manon Gropius, de 18 anos, filha de Walter Gropius e de sua amiga e patrocinadora Alma Mahler (viúva de Gustav Mahler). Alma sentiu-se abandonada pelos Berg em seu período de luto, e Berg estava ansioso para reparar o erro. Berg enviou a Alma parte da partitura em 1935. Era o aniversário de 56 anos da Alma. No Concerto temos uma demonstração de como Berg lidou com o atonalismo — com tanta habilidade que a herança clássica de suas composições não foi apagada, justificando assim o termo frequentemente aplicado a ele: o “classicista da música moderna”.

IM-PER-DÍ-VEL !!!
O incrível talento melódico de George Gershwin fica escarrado nestas duas coletâneas gravadas por Oscar Peterson. O notável pianista toca o songbook com extremo respeito e apenas trata de tocar os temas da forma mais bela e simples possível, sem grandes voos de improvisação. Basta ver os tempos de cada canção para se dar conta de que são canções tocadas em trio. Na verdade são dois LPs contidoa em um CD. Iniciamos por um de 1959 e outro de 1952. Ouvi tudo continuamente, mas creio ter gostado mais da versão de 1952 com o guitarrista Barney Kessel no lugar do baterista Ed Thigpen. Vale a pena ouvir este CD, nem que seja para poder dizer com ainda maior certeza que Gershwin foi sensacional.
IM-PER-DÍ-VEL !!!

IM-PER-DÍ-VEL !!!
IM-PER-DÍ-VEL !!!
















Por algum motivo até agora inexplicável, os Motetos de papai ainda não foram postados. Não sei o porque, talvez mano PQP esteja guardando algum trunfo na manga, mas resolvi atender a alguns pedidos insistentes, feitos no correr dos últimos meses, aproveitando uma pequena folga que terei nesta semana. Obras corais extremamente complexas, inexplicavelmente pouco gravadas (talvez mesmo pela sua dificuldade de interpretação), estes motetos são verdadeiras obras primas de papai. Introspectivas, meditativas, elas exigem do ouvinte concentração absoluta, de preferência sem barulhos externos que atrapalhem suas peculiaridades. Herreweghe, bem, Herreweghe é um dos maiores regentes da obra de papai. Até agora não li nenhum comentário negativo de suas gravações. A Chapelle Royale e o Collegium Vocale Gent são seus eternos companheiros, e graças a eles e seus solistas, temos tido acesso a interpretações magníficas, não apenas das obras de papai, mas também de diversos outros compositores barrocos.



IM-PER-DÍ-VEL !!!
Um disco bem antigo, com interpretações atualmente apenas aceitáveis, mas que vale pela Trio Sonata que abre o CD. Se você quiser ouvir uma grande versão das outras obras que figuram no CD, a provável campeã é 
Hoje estava ouvindo a Rádio da Ufrgs e, de repente, entrou a Sinfonia N° 99 de Haydn, regida por Alfred Scholz. Esse Scholz foi um sujeito… Bem, ele foi um maestro e produtor musical que comprava a preço de banana gravações feitas atrás da chamada Cortina de Ferro e as vendia no Ocidente com nomes de orquestras, maestros e solistas que simplesmente não existiam. Às vezes, punha seu próprio nome, quando eram muito boas. Aqui no Brasil esses CDs chegavam pela MoviePlay. Alberto Lizzio era o pseudônimo mais usado. A orquestra Musici di San Marco e Philharmonia Slavonica, colaboradoras habituais de Lizzio, também jamais existiram… É claro que a Rádio da Universidade não vai examinar a biografia de cada músico, só que, como disse, Scholz atribuiu a si algumas boas gravações, além de ter escrito a biografia do grande Alberto Lizzio.


Três grandes sinfonias de Haydn, interpretadas por um de seus grandes intérpretes, Antal Dorati. Para que pedir mais nesse princípio de Primavera?