“Se você não gostar disso, vou parar de escrever música”
Antonio Vivaldi
Quando Vivaldi nasceu, Veneza já era uma cidade muito velha. Sua fundação datava de 421 e a construção de um de seus prédios mais famosos, a Basílica de São Marcos, era de 1063. Na verdade, sua construção começou originalmente como uma extensão do palácio do doge, em 830, mais ou menos, para abrigar o corpo (as relíquias) do evangelista e padroeiro da cidade.
Vivaldi não teve vida fácil, mas certamente deve ter tido seus bons momentos. Nascido em família pobre, entre a espada e a batina escolheu a última, mas não exerceu a profissão por muito tempo. Seus talentos como violinista e compositor eram por demais evidentes e ele tornou-se professo de música das órfãs que viviam abrigadas no Ospedale della Pietà.
Seu primeiro grande sucesso e reconhecimento por toda a Europa ocorreu com a publicação em 1711 de seu opus 3, L’estro armonico, uma coleção de 12 magníficos concertos diverso, dois dos quais aparecem no disco desta postagem. Em 1723 foi a vez do opus 8, Il cimento dell’armonia e dell’inventione, coleção que abriga As Quatro Estações, protagonistas do renascimento do barroco, pelas cordas do I Musici, assim como nós conhecemos hoje. No disco você poderá ouvir o Concerto No. 11 desta coleção, que não é o verão que está a nos matar de calor, nem outra das estações, mas é muito do bom…
O padre teve seus oponentes, tanto na nobreza quanto no clero, mas andava às voltas com companhias de óperas e suas lindas cantoras. No entanto, as mudanças dos gostos musicais prejudicaram os negócios do compositor-empresário (como são volúveis as plateias!) o que acabou levando o padre a tentar a sorte em Viena, onde morreu na pobreza, mas na companhia da cantora Anna Girò.
Escolhi este disco por achar que seu repertório ilustra a imensa criatividade e verve de Vivaldi, e pelo grupo musical que o apresenta. A Berlin Barock Soloists foi formada em 1995 por músicos da poderosa Berliner Philharmoniker com o objetivo de interpretar música dos séculos 17 e 18 com instrumentos modernos, mas com práticas historicamente informadas. Rainer Kussmaul foi um dos seus formadores e foi o mestre de concerto do conjunto até 2010, quando se aposentou. Esse disco é de 2007. Desde 2018 o diretor artístico do grupo tem sido o Reinhard Goebel, pioneiro do movimento HIP. O início dessa colaboração foi uma apresentação dos Concertos Brandeburgueses, que resultou em um álbum.
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto No. 11 in D Minor for 2 Violins, Cello and Strings, Op. 3, RV 565
Allegro
Largo e spiccato
Allegro
Concerto in G minor for Two Cellos, RV531
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for 4 Violins and Strings in B-Flat Major, RV 553
Esta coleção de sonatas para violino solo de Ysaÿe, mostra um desempenho impressionante de algumas das músicas mais difíceis do repertório erudito. Os modelos reconhecíveis de Ysaÿe foram Bach e Paganini, mas sua inspiração veio alegadamente de seis amigos e colegas a cujas sonatas são dedicadas e especialmente concebidas para seus dons interpretativos. Ysaÿe era violinista, claro, e derramou sobre estas sonatas seu conhecimento do violino e de seus recursos. Mas é também é música de primeira linha. Thomas Zehetmair recupera a tais músicas num grande CD que existe graças à ECM. Destaque para a Sonata Nº 2, onde o autor ter realiza uma brilhante “desconstrução” de uma Sonata de Bach para o mesmo instrumento solo. Este grande CD foi “Editor’s Choice” da Gramophone. Não deixe de conferir.
Eugène Ysaÿe (1858-1931): Sonatas for Violin Solo, Op. 27 (Zehetmair)
1. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 1. Grave
2. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 2. Fugato
3. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 3. Allegretto poco scherzoso
4. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 4. Finale con brio
5. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 1. Obsession
6. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 2. Malinconia
7. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 3. Danse des ombres
8. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 4. Les furies
9. Sonata No.3 in D minor ‘Ballade’ (for George Enescu)
10. Sonata No 4 in E minor (for Fritz Kreisler) – 1. Allemanda
11. Sonata No 4 in E minor (for Fritz Kreisler) – 2. Sarabande
12. Sonata No 4 in E minor (for Fritz Kreisler) – 3. Finale
13. Sonata No.5 for G major (for Mathieu Crickboom) – 1. L’Aurore
14. Sonata No.5 for G major (for Mathieu Crickboom) – 2. Danse rustique
15. Sonata No.6 in E major (for Manuel Quiroga)
Thomas Zehetmair, violin
Recording: September 2002, Propstei St. Gerold, Austria
Gravação ultra clássica (e boa). Todo mundo da minha geração teve este disco em formato LP. Só que não tinha o Sunrise (Aurora). No LP só vinham o Imperador e a Caça. Os seis Quartetos de Cordas, Op. 76, de Haydn, foram compostos em 1797 ou 1798 e dedicados ao conde húngaro Joseph Georg von Erdődy. Eles formam o último conjunto completo de quartetos de cordas que Haydn compôs. Na época da encomenda, Haydn estava empregado na corte do Príncipe Nicolaus Esterházy II e estava escrevendo o oratório A Criação. Os quartetos Op. 76 estão entre as obras de câmara mais ambiciosas de Haydn. O Quarteto K. 458, A Caça, é o mais leve e o menos “profundo” da série de 4 quartetos que Mozart dedicou a Haydn. É também o mais próximo ao estilo do compositor. Ele dá ao ciclo, tão denso e trabalhado, seu indispensável momento de repouso. Na época, imaginem, o Quarteto de Cordas ainda era uma novidade inventada pelo genial Haydn.
F. J. Haydn (1732-1809): Quartetos Imperador e Aurora / W. A. Mozart (1756-1791): Quarteto da Caça (Amadeus Qtt.)
Gostava muito, mas no ano passado ouvi a Sinfonia Nº 7 de Mahler e tinha achado só mais ou menos. O que houve? Bem, agora botei a versão do Bernard Haitink com o Concertgebouw e, céus, que maravilha. Uma abordagem compreensiva e uma boa concepção são tudo! As duas canções da noite (Nachtmusik) estão muito sedutoras. A primeira das duas foi inspirada pela “Ronda Noturna”, de Rembrandt e a segunda é muito amorosa. O Scherzo é de verdade. O bandolim do Andante amoroso é ouvir ajoelhado. Se não me engano, Haitink gravou três vezes a sétima (1971, 83 e 95, as duas primeiras com o Concertgebouw). Estou ouvindo a versão de 1983.
Finalizando a divulgação da integral das sinfonias de Mahler por Bernard Haitink e o Concertgebouw de Amsterdam, aqui temos as de Nº 7 e 8. Vou contar uma coisa para vocês: mesmo sendo um mahleriano de quatro costados, não gosto muito da oitava. Não faço críticas ao gigantismo, faço à música mesmo. À exceção do coral inicial e de suas múltiplas e belas variações, a sinfonia não me comove. Sempre fico meio frio quando alguém começa a tecer elogios histéricos à Sinfonia dos Mil. Mas tudo bem, vai ver que sou eu o equivocado e trata-se de música de primeira linha dentro do riquíssimo universo de Mahler. Já a sétima é uma obra-prima.
A audição desta integral reforçou uma ideia que já tinha. Haitink é um dos campeões nestas obras. Deixemos o restante do pódio para Bernstein e Kubelik, tá? Ah, discordem à vontade. É apenas minha opinião.
Symphony No. 7 in E minor
1. I. Langsam. Adagio-Allegro 20:46
2. II. Allegro moderato 14:36
3. III. Scherzo 9:45
4. IV. Andante amoroso 12:45
5. V. Rondo-Finale. Allegro ordinario 17:45
1. I. Veni, creator spiritus 1:24
2. II. Imple superna gratia 3:01
3. III. Imple superna gratia 3:37
4. IV. Infirma nostri corporis 2:53
5. V. Accende lumen sensibus 5:41
6. VI. Qui Paraclitus diceris 2:29
7. VII. Gloria sit Patri Domino 3:25
Part 2: Final scene from “Faust”
8. VIII. Poco adagio 5:08
9. IX. Più mosso. Allegro moderato 3:00
10. X. Waldung, sie schwankt heran 3:23
11. XI. Ewiger Wonnebrand 1:24
12. XII. Wie Felsenabgrund mir zu Füßen 4:35
13. XIII. Gerettet ist das edle Glied 1:04
14. XIV. Jene Rosen, aus den Händen 2:14
15. XV. Uns bleibt ein Erdenrest 1:52
16. XVI. Ich spür’ soeben 5:44
17. XVII. Dir, der Unberührbaren 3:34
18. XVIII. Bei der Liebe, die den Füßen 6:00
19. XIX. Er überwachst uns schon 4:25
20. XX. Blicket auf zum Retterblick 5:45
21. XXI. Alles Vergängliche 5:07
Ileana Cotrubas (soprano) – Magna Peccatrix, Heather Harper (soprano) – Una Poenitentium,
Hanneke van Bark (soprano) – Mater Gloriosa;
Birgit Finnila (contralto) – Mulier Samaritana, Marianne Dielman (contralto) – Maria Aegyptiaca
William Cochran (tenor) – Doctor Marianus, Hermann Prey (baritone) – Pater Ecstaticus, Hans Sotin (bass) – Pater Profundus
Toonkunstkoor, Amsterdam; De Stem des Volks, Amsterdam; Collegium Musicum Amsterdam
Children’s Choirs of the Churches of St Wilibrord and St Pius X, Amsterdam; General Chorus master: Frans Moonen
Buenas, Alberto Lizzio novamente. Mais uma boa gravação com o maestro fictício criado por Alfred Scholz. Ou vi o CD com maior má vontade, mas ele me venceu. Não é nada de extraordinário, mas, contrariamente a Bolsonaro, Trump e outros mentirosos, passou pelo PQP Quality Control. Não que este seja muito rigoroso, somos mais fáceis do que muito(a) prostituto(a). Boa orquestra (qual será?), bons solistas dos quais não verifiquei a veracidade, enfim, um CD que dá para ouvir e que posto numa sexta-feira quentíssima — verdadeiramente insuportável — na cidade de Porto Alegre. Por falar nisso, ontem (06/02/2025), Trump cancelou US$ 4 bilhões para fundo climático da ONU. Mas, fiquem tranquilos, está tudo sob controle.
W. A. Mozart (1756-1791): Concerto para Clarinete, K. 622 / Concerto para Fagote, K. 191 / Concerto Nº 2 para Trompa, K. 417 (Lizzio e outros fantasmas)
Clarinet Concerto In A Major KV 622
1 Allegro 11:55
2 Adagio 7:22
3 Rondo: Allegro 8:52
Bassoon Concerto In B Major KV 191
4 Allegro 7:44
5 Andante Ma Adagio 7:20
6 Rondo: Tempo Di Menuetto 4:19
Horn Concerto No. 2 In E Flat Major KV 417
7 Allegro Maestoso 6:43
8 Andante 3:13
9 Rondo: Allegro 4:02
Bassoon – Kamil Sreter
Clarinet – Joze Ostranc
Conductor – Alberto Lizzio
Horn – Josef Ducopil*
Orchestra – Mozart Festival Orchestra
Estas obras, que costumam ser interpretadas ao alaúde ou transcritas para o violão, aqui as ouvimos no curioso e quase esquecido instrumento Lautenclavicymbel, ou Lauteklavier, ou ainda Lute-Harpsichord: o Cravo-Alaúde. Para nós e nossos tempos um exótico instrumento, semelhante a uma grande tartaruga emborcada e dotada de teclado; as cordas de tripa e sonoridade de um alaúde com maior projeção sonora e timbre particular. Embora o mestre Johann Sebastian tivesse em seu círculo de amigos o grande alaudista e compositor Silvius Leopold Weiss e que tenha composto para o seu encantador instrumento, sabe-se também que Bach possuía um Cravo-Alaúde e por ele tinha particular apreço. Embora não tenhamos registros precisos sobre a destinação das suas peças hoje interpretadas ao alaúde, muito possivelmente algumas poderiam ter sido pensadas para aquele originalíssimo cordofone; o que a presente gravação só vem a reforçar, pelo caráter de algumas das obras, a exemplo da Suíte em Dó Menor BWV 997, cujo impetuoso Prelúdio e a extraordinária e rara Fuga Da Capo nos apontariam uma possível concepção para o teclado. Ressaltemos também a impressionante Sarabande desta Suíte, pois sua melodia é similar à do coral que conclui a Paixão Segundo São Mateus, só que uma terça menor abaixo.
Das poucas tentativas de se reconstruir e gravar num Alaúde-Cravo, um dos mais bem sucedidos resultados (para mim o melhor resultado) é o instrumento construído pelo musicista húngaro Gergely Sárközy, baseado em antigas cartas de lutenaria. Seu instrumento produz uma sonoridade bela, rica, encorpada e ao mesmo tempo suave. Quem for purista e tiver conhecido estas obras ao alaúde ou violão em interpretações ‘bem comportadas’, talvez venha a desdenhar, pois Sárközy interpreta com acentuada expressão e improvisa onde encontra espaço. Mas improvisa muito bem e logra convencer (o que nem todo intérprete de música barroca que improvisa consegue, soando às vezes engessado). Sárközy tem bom gosto e sua interpretação emociona. Pelo menos a mim vem emocionando há muito, que conheci a presente gravação do selo Hungaroton nos tempos do vinil (e sob estas pautas muitas garrafas passaram).
Preciso agora dizer que esta é a primeira postagem que faço no PQP Bach, um oasis de cultura e beleza nesses tempos do cólera. Fico enaltecido e grato pelo convite dos amigos integrantes dessa Távola Musical. Espero partilhar muito mais, retribuindo as felicidades que têm nos trazido com tanta generosidade e amor à música. Sendo assim uma primeira postagem, escolhi o nosso bom Pai João Sebastião para começar com sua bêncão.
Bach – Suites for Lute-Harpsichord – Gergely Sarkozy
1 Suite in E minor BWV 996 Praeludio. Passagio – Presto
2 Allemande
3 Courante
4 Sarabande
5 Bourree
6 Gigue
7 Choral Preludes from the Kirnberg Collection BWV 690 (b)
8 BWV 691
9 BWV 690
10 Suite in C minor BWV 997
11 Fuga
12 Sarabande
13 Gigue
14 Double
Eu sou meio viciado na gravação de Lynn Harrell e Vladimir Ashkenazy. Aquilo não desgruda de meus ouvidos e tendo a comparar qualquer outra versão com meu gold standard. Esta gravação de Jacqueline Du Pré e Daniel Barenboim chega a abalar minha convicção, mas não a derruba. Estas sonatas são grandíssima música. A(s) música(s) de câmara é o gênero onde o gênio de Brahms mais impressiona. Quartetos, sextetos, sonatas, tudo beira a perfeição e ele difIcilmente erra. Claro que a interpretação é ultra romântica, o que é perfeito para este belíssimo repertório.
Johannes Brahms (1833-1897) – Sonatas para Violoncelo e Piano (du Pré, Barenboim)
1. Sonata for Cello & Piano in E minor, Op. 38 (1989 Digital Remaster): I – Allegro non troppo 12:24
2. Sonata for Cello & Piano in E minor, Op. 38 (1989 Digital Remaster): II – Allegretto quasi Menuetto 5:50
3. Sonata for Cello & Piano in E minor, Op. 38 (1989 Digital Remaster): III – Allegro 6:58
4. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99 (1989 Digital Remaster): I. Allegro vivace 9:01
5. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99 (1989 Digital Remaster): II. Adagio affettuoso 7:31
6. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99 (1989 Digital Remaster): III. Allegro passionato 7:38
7. Cello Sonata No. 2 in F Op. 99 (1989 Digital Remaster): IV. Allegro molto 4:37
Jacqueline Du Pré, violoncelo
Daniel Barenboim, piano
Um bom disco de algumas das “mais famosas” sinfonias de Haydn. Não digo “das melhores” porque, cada vez que penetro nas entranhas deste populoso mundo, encontro mais e mais joias. A 83 é a segunda sinfonia de Paris. As sinfonias de Paris são um grupo de seis sinfonias de Haydn encomendadas pelo Conde D’Ogny. A partir de 11 de janeiro de 1786, as chamadas Sinfonias de Paris (82-87) foram executadas na Salle des Gardes du Corps das Tulherias, conduzidas pelo regente, violinista e compositor africano Saint-Georges. Já as Sinfonias de Londres são doze (93-104), e às vezes são chamadas de Sinfonias de Salomon em homenagem ao empresário que as contratou, Johann Peter Salomon, que apresentou Londres a Joseph Haydn. Elas foram compostas entre 1791 e 1795 e podem ser categorizadas em dois grupos: o das Sinfonias nº 93–98, que foram compostas durante a primeira visita de Haydn a Londres, e o das Sinfonias nº 99–104, compostas em Viena e Londres para a segunda visita de Haydn. O inglês Barry Wordsworth faz valer suas palavras e nos dá uma execução correta destas obras-primas. Os eslovacos da Capella Istropolitana compreendem muito bem Wordworth e Haydn.
Symphony No. 83 in G Minor, Hob.I:83, “La poule” (“The Hen”)
1 I. Allegro spiritoso 06:50
2 II. Andante 05:46
3 III. Menuet: Allegretto 03:50
4 IV. Finale: Vivace 03:53
Symphony No. 94 in G Major, Hob.I:94, “The Surprise”
5 I. Adagio: Vivace assai 08:44
6 II. Andante 05:33
7 III. Menuet: Allegro molto 05:03
8 IV. Allegro molto 04:18
Symphony No. 101 in D Major, Hob.I:101, “The Clock”
9 I. Adagio – Presto 08:07
10 II. Andante 07:52
11 III. Menuet: Allegretto 07:54
12 IV. Finale: Vivace 04:42
Conductor(s): Wordsworth, Barry
Orchestra(s): Capella Istropolitana
Quando Sofia Gubaidulina era uma jovem estudante no Conservatório Tchaikovsky em Moscou, o compositor Dmitri Kabalevsky fez uma crítica feroz à sua música de tom melancólico que não traduzia a alegria da juventude soviética. Seu xará Dmitri Shostakovich, em 1959, tinha opinião diametralmente contrária e recomendou, na época da formatura, que Gubaidulina continuasse seguindo o seu caminho “errado”.
Após anos em que seu nome era conhecido apenas por um punhado de vanguardistas do lado de lá da cortina de ferro, a música de Gubaidulina começou a viajar por toda a Europa em 1981 com o seu primeiro concerto para violino (“Offertorium”), dedicado ao solista Gidon Kremer. Outra obra importante para Gubaidulina ser um dos nomes mais admirados da música contemporânea foi a que ela escreveu para os 70 anos de Mstislav Rostropovich em 1997: o Cântico do Sol, para violoncelo solo, coro e percussão (aqui), estreado por Rostropovich. E desde 1989, o maestro e pianista Reinbert de Leeuw tornou-se mais um dos defensores da sua música, e é ele quem rege neste disco o segundo concerto para violino de Gubaidulina (“In tempus praesens”), estreado em 2007 por Anne-Sophie Mutter.
O álbum tem também o primeiro concerto para violino de Shostakovich, que ele começou a compor em 1947 mas, após a péssima recepção de sua sarcástica nona sinfonia pelo regime stalinista (mais informações aqui), o concerto só foi estreado em 1955 após a morte do ditador.
SOFIA GUBAIDULINA (nasc. 1931)
[5] “In tempus praesens” 38:33 – Concerto nº 2 for Violin and Orchestra (2007) **
Live Recording
* James Gaffigan, conductor
** Reinbert de Leeuw, conductor
Simone Lamsma – Stradivarius violin
Netherlands Radio Philharmonic Orchestra
Recorded at:
Shostakovich: Studio 5 Broadcasting Music Center, Hilversum (2016)
Gubaidulina: Royal Concertgebouw, Amsterdam, live recording NTR ZaterdagMatinee (2011)
Ah, o Romantismo !!! Nestas Sonatas para Violino e Piano temos talvez o ápice deste movimento musical tão importante. Alina Ibragimova e seu eterno e fiel escudeiro, Cédric Thibergien, em mais um CD lançado pelo selo Hyperion, nos brindam com uma belíssima e cúmplice parceria (mais uma). Aqui ouvimos um Schumann quase visceral, como algo expulso das entranhas e exposto à luz do sol. Talvez Ibragimova se contenha por vezes, mas acho que entendeu perfeitamente o que se exige na interpretação destas obras, infelizmente tão pouco executadas. Talvez a versão que mais me empolgou foi a da dupla Argerich / Kremer, lá anos 80, uma gravação da DG que muito me marcou. Já foi postada por aqui, talvez o link ainda esteja ativo.
Reza a lenda que Schumann não gostou do resultado final desta sua Sonata, por isso mergulhou mais a fundo na Segunda Sonata. Mas para nossa sorte não destruiu a partitura, e a publicou, apesar dos pesares. Assim a Hyperion Records apresenta esse CD, recém saído dos fornos:
The partnership of Alina Ibragimova and Cédric Tiberghien needs no introduction to Hyperion collectors, having been responsible over the last sixteen years for authoritative readings of much of the major repertoire for violin and piano. February’s Record of the Month is their latest collaboration, bringing compelling accounts of the three Schumann Violin Sonatas—passionate, intense works inspired by the calibre of musicians with whom Schumann associated in the early 1850s. But however distinguished those early performances by Joseph Joachim and Clara Schumann may have been, it’s difficult to imagine they could have surpassed these: this is a duo which can always be relied upon to produce rather special results.
Uma análise mais detalhada pode ser encontrada aqui.
Assim começamos o ano de 2025, espero que venham mais preciosidades como essa. Alina Ibragimova sempre foge do convencional, e não teme se arriscar, sua discografia é uma prova disso. E espero que continue assim. Personalidade e cumplicidade, isso é o distingue essa dupla.
Violin Sonata No 1 in A minor Op 105
1 Mit leidenschaftlichem Ausdruck
2 Allegretto
3 Lebhaft
Violin Sonata No 2 in D minor Op 121
4 Ziemlich langsam – Lebhaft
5 Sehr lebhaft
6 Leise, einfach
7 Bewegt
Violin Sonata No 3 in A minor WoO27
8 Ziemlich langsam – [Lebhaft]
9 Intermezzo: Bewegt, doch nicht zu schnell
10 Scherzo: Lebhaft
11 Finale: Markiertes, ziemlich lebhaftes Tempo
Alina Ibragimova – Violino
Cédric Thibergien – Piano
Na semana do dia internacional da mulher, um álbum de free jazz com solos incendiários sobre composições de Carla Bley. Se hoje a funkeira MC Carol canta meu namorado lava minhas calcinhas, se ele ficar cheio de marra eu mando ele pra cozinha… a Carla Bley podia dizer: meu marido toca as minhas melodias. E depois, quando virou ex-marido, Paul Bley (1932-2016) continuou tocando.
Carla Bley, nascida Carla Borg (1936-2023), era pianista assim como o seu ex, mas ela dizia que era 1% pianista e 99% compositora. Em uma entrevista na qual comentou a sua infância em uma casa onde os pais eram músicos, Carla comentou: “comecei a aprender música antes de aprender a andar.” (aqui).
I began learning music before I was able to walk, and I was surrounded by music at home from as early as I can remember. As a very young child I assumed everyone was a musician. I’ve since learned this is not true.
Paul Bley Quintet – Barrage
1. Batterie – 4:19
2. Ictus – 5:24
3. And Now the Queen – 4:21
4. Around Again – 4:15
5. Walking Woman – 4:18
6. Barrage – 5:31
All compositions by Carla Bley
Paul Bley – piano / Marshall Allen – alto saxophone / Dewey Johnson – trumpet / Eddie Gómez – double bass / Milford Graves – percussion
Um excelente CD. Não apenas pela grande música de Schütz, mas pelo trabalho de Jacobs. Como estou absolutamente sem tempo hoje, lá vão duas notícias biográficas de Schütz encontradas na rede:
A música de Schütz é uma síntese bem-sucedida da técnica italiana com a devoção luterana que animou tantos músicos alemães. Essa mesma combinação se repetiria mais tarde, em elevado nível polifônico, na obra de Bach, de quem Schütz é o precursor imediato.
Heinrich Schütz, ou Henricus Sagittarius, nasceu em Köstritz, Saxônia, em 8 de outubro de 1585. Estudou leis em Marburgo e, a partir de 1609, radicou-se em Veneza por três anos para estudar música com Giovanni Gabrieli. Nesse período escreveu suas primeiras obras, um conjunto de madrigais italianos para cinco vozes. Retornou à Saxônia em 1613 e permaneceu como músico da corte do príncipe-eleitor até que a peste e os distúrbios causados pela guerra dos trinta anos convenceram-no a partir. Em 1633 instalou-se na corte dinamarquesa e ali permaneceu por dois anos, depois dos quais retornou ao serviço do príncipe-eleitor em Dresden, onde ficou por toda a vida.
A originalidade da obra de Schütz reside na magistral introdução do novo estilo monódico dos italianos, à moda de Monteverdi, na música alemã. Suas obras conhecidas – Dafne, primeira ópera alemã, encenada em 1627, e as músicas que compôs para o casamento do príncipe da Saxônia em 1638 – se perderam. Depois das primeiras sinfonias sacras, de 1629, passou a usar o alemão vernáculo em suas composições. O primeiro réquiem alemão, o Musikalische Exequien (1636), foi também composto por Schütz. Obras importantes da meia-idade são, entre outras, a segunda a terceira partes das sinfonias sacras (1647-1650).
O Weihnachtsoratorium (1664; Oratório de Natal), para solistas, coro e instrumentos, prenuncia a austeridade das últimas obras do compositor. Na velhice, retornou ao canto a capela e se esforçou para interpretar fielmente o texto da Bíblia luterana nas Paixões segundo são Mateus, são Lucas e são João (1665-1666). Heinrich Schütz morreu em Dresden, em 6 de novembro de 1672.
Heinrich Schütz (1585-1672) nasceu em Köstriz (Alemanha) a 8 de outubro. Entre 1609 e 1613, estudou em Veneza com Giovanni Gabrielli e foi, em 1614, nomeado maestro de música do eleitor da Saxônia em Dresden. Em 1628, visitou em Veneza, Monteverdi.
As devastações da Guerra dos Trinta Anos obrigaram-no, em 1633, a fugir para a Dinamarca, mas voltou em 1635, passando em Dresden o resto de sua longa vida. Schütz morreu em Dresden a 6 de novembro.
A música de Schütz é uma síntese feliz de técnica italiana, veneziana e de devoção luterana. Essa mesma síntese se repetirá, mais tarde, em mais elevado nível polifônico, na arte de J. S. Bach, de quem Schütz é precursor imediato. É mesmo o maior compositor alemão antes de J. S. Bach. Mas foi, como este, esquecido, e só em conseqüência dos estudos bachianos da segunda metade do séc. XIX redescoberto.
Os salmos que Schütz escreveu em 1619 são policorais à maneira dos de Giovanni Gabrielli, assim como a História da Ressurreição (1623). Perdeu-se a partitura da ópera Dafne (1627), primeira tentativa de uma ópera alemã nos moldes de Monteverdi.
A personalidade artística do compositor afirma-se na primeira parte das Sinfonias Sacras (1629), sobre textos latinos, dos quais Fili mi, Absalon já é superior à música sacra dos venezianos. Mas As sete palavras na cruz (1645), embora no mesmo estilo, evidenciam a invariável é luterana do mestre.
Obras-primas são a segunda e a terceira parte das Sinfonias sacras (1647, 1650): o Nunc dimittis, o Magnificat e as cantatas de texto alemão, como Saulo, porque me persegues?, têm alto vôo melódico e o acompanhamento é magistralmente instrumentado.
Na velhice mudou Schütz de estilo: voltou ao canto à capela, não acompanhado, e esforçou-se para interpretar fielmente o texto da Bíblia luterana. Essas obras arcaizantes são as Paixões segundo São Mateus, São Lucas e São João (1665-1666).
Heinrich Schütz (1585-1672): Weihnachts-Historie (The Nativity) (Jacobs)
Weihnachts-Historie, SWV 435
1. Sinfonia
2. Es begab sich aber zu derselbigen Zeit
3. Fürchtet euch nicht
4. Und alsbald war da bei dem Engel
5. Ehre sei Gott in der Höhe
6. Und da die Engel von ihnen gen Himmel fuhren
7. Lasset uns nun gehen gen Bethlehem
8. Und sie kamen eilend
9. Wo ist der neugeborne König der Juden?
10. Da das der König Herodes hörete
11. Zu Bethlehem im jüdischen Lande
12. Da berief Herodes die Weisen
13. Ziehet hin
14. Als sie nun den König gehöret hatten
15. Stehe auf, Joseph
16. Und er stund auf
17. Stehe auf, Joseph
18. Und er stund auf
19. Dank sagen wir
Anderer Theil kleiner geistlicher Concerten Op. 9 (1639)
20. Sei gegrüsset, Maria, SWV 333
21. Rorate caeli desuper, SWV 322
22. Joseph, du Sohn David, SWV 323
23. Hodie Christus natus est, SWV 315
24. Heute ist Christus geboren, SWV 439
Concerto Vocale
Ensemble Instrumental
dir. René Jacobs
Conheço e gosto de jazz. Não tanto quanto em outros tempos. Pois apreciava o gênero nos bares, com amigos e boas mulheres, com muita bebida e fumaça… Depois que esta bendita fase passou, sentar numa poltrona de vovô, com suco de laranja e canudo, está cada vez menos atraente, principalmente para a audição do bebop e suas ramificações. No entanto ainda aprecio muito o Jazz um pouco menos requintado, aquele anterior a formação camerística, das grandes orquestras e de maior alegria.
Dessa fase interessante do Jazz, o compositor francês Milhaud, nos anos de 1920, encontrou nos clubs noturnos do Harlem fonte riquíssima para sua mais importante e celebrada composição, La création de monde. Esta obra vai além do Ebony Concerto de Stravinsky na mistura desses dois mundos. Pois na obra pós-classicista do russo, só em poucos momentos, a música parece tangenciar o Jazz, já na Création do francês há núcleos de puro Jazz e alegria, como se a orquestra clássica fosse invadida por um grupo de arruaceiros que dão sentido a uma das mais tristes e tocantes aberturas da música clássica.
Depois dessa fascinante obra, encontramos Milhaud respirando o Brasil no seu Le bouef sur le toit. Essa música brasileiríssima dos maxixes do começo de século XX é um rondó dividido em 12 seções, cujos temas serão facilmente reconhecidos pelos ouvintes de outras épocas, de João Pernambuco, Catulo da Paixão Cearense… Aliás quanto perdemos com a “sofisticação” da música popular brasileira. Nos 50 anos de Bossa Nova, o melhor resumo que encontrei para definir o que ela significa foi enviado por um primo por e-mail. Vejam se há melhor resumo da MPB do que esse ?
A gravação é excepcional (melhor que Bernstein) e as duas outras obras do disco que não comentei são também dignas de estarem aqui.
Darius Milhaud (1892 -1974): La création du monde / Le boeuf sur le toit / Suite provençale / L’Homme et son desir (Casadesus, Lille National Orchestra)
La Creation du monde, Op. 81
1 La Creation du monde, Op. 81 16:49
Le Boeuf sur le toit, Op. 58
2 Le Boeuf sur le toit, Op. 58 15:14
Suite provençale, Op. 152d
3 I. Anime 01:53
4 II. Tres modéré 01:33
5 III. Modéré 01:51
6 IV. Vif 01:08
7 V. Modéré 01:57
8 VI. Vif 01:00
9 VII. Lent 02:07
10 VIII. Vif 03:46
Claudel, Paul – Lyricist
L’Homme et son desir, Op. 48
11 I. Scene I 01:27
12 II. Apparition de la Lune 01:01
13 III. L’Homme endormi et le fantome de la Femme morte 03:19
14 IV. L’Homme qui dort debout, oscillant comme dans un courant d’eau et comme sans aucun poids 00:44
15 V. Toutes les choses de la foret qui viennent voir l’Homme endormi 05:21
16 VI. Danse de la passion 03:15
17 VII. Reapparition del la Femme qui entraine l’Homme peu a peu en tournant lentement devant lui sur elle-meme 03:51
18 VIII. La lune I a disparu la premiere, la lune II disparait a son tour… 01:10
Bernard Deletre
Tomoko Makuuchi
Mathias Vidal
Jian Zhao
Lille National Orchestra
Jean-Claude Casadesus
Elis Regina não é uma sambista assim “de raiz”, mas o samba estava na carreira da gaúcha desde o começo, quando se apresentava na TV Record com Jair Rodrigues e com ele gravou 3 LPs ao vivo (1965, 66 e 67) com sambas de Zé Keti, Nássara, Jobim, Vinicius, Baden Powell, Cartola, Edu Lobo, Marcos Valle…
Pela percussão, pela colocação das vozes e por outros detalhes, trata-se aqui muito mais de samba do que de bossa: o nome dos álbuns fala em bossa porque parte das gravações (ou todas elas?) foram feitas durante o programa O Fino da Bossa, da TV Record muitas décadas antes da emissora ser comprada por uma igreja que associa as culturas afro-brasileiras ao diabo.
Depois, também na TV mas agora na Band, gravaria com Adoniran Barbosa cantando os seus sambas como Tiro ao Álvaro e Saudosa Maloca. E nos anos 1970 gravou também três sambas de João Bosco e Aldir Blanc: os politicamente engajados Mestre-Sala dos Mares e O Bêbado e a Equilibrista e a alegre Bala com Bala (aqui numa gravação em playback para a TV alemã)
Em conversa com o colega de blog Vassily, soltei as seguintes hipóteses sobre os par Elis/Jair, mais próximas de palpites informados em uma mesa de bar do que de argumentos sustentados por fortes evidências:
Pleyel: Aparentemente esses discos ao vivo venderam bem na época e estou pensando aqui uma hipótese pra, apesar do sucesso na época, depois serem pouco lembrados.
A hipótese: depois de morta, além do intocável Elis & Tom, Elis acabou sendo mais lembrada por canções politicamente engajadas, de compositores jovens dos anos 70: Como nossos pais, O bêbado…, Mestre sala dos mares, Nada será como antes, Para Lennon e McCartney, todas essas apelando a uma esquerda jovem de classe média
Esses 3 discos ao vivo, além de serem pré-AI-5, têm um repertório mais povão (e carnavalesco), exceto algumas canções de Edu Lobo, Tom e Vinicius. Talvez mais próximos do repertório geral do Jair Rodrigues.
O fenômeno “canção de protesto da ditadura” é muito mais um fenômeno pós-68 do que pós-64 (Além de ser fenômeno ligado às esquerdas escolarizadas, com poucos negros, mas isso já exigiria outras análises)
E como explicitam as canções do Milton tão bem cantadas pela Elis, há nessas canções de protesto muito de brasileiro, mas tb muito de Beatles e Bob Dylan, ao contrário do repertório do samba mais de raiz, que faz a crítica social por outros caminhos… Por exemplo O Neguinho e a Senhorita, samba hoje clássico e que ainda era muito recente quando Elis e Jair o gravaram.
Vassily: Elis morreu em plena abertura, três anos antes da Nova República, e suas interpretações mais icônicas na memória recente eram das canções de protesto. E há também o apagamento do Jair Rodrigues: talvez seja um viés de observação de alguém que cresceu num RS racista em que Elis era deusa e cujo maior compositor, Lupicínio, ainda não desce redondo para muita gente. Mas nos anos 80 não se fazia muita ideia lá no RS de quem era Jair Rodrigues. Quando muito, era o “preto aquele que cantou com Elis” e, depois, pai do Jairzinho do Balão Mágico
Pleyel: É até difícil de se mensurar até que ponto ele e o Simonal fizeram sucesso nos anos 60 e início dos 70 (logo antes do auge comercial da canção de protesto, após os sucessos iniciais de Chico Buarque, Vandré etc)
Porque a maior parte da população ouvia música no rádio e TV, né. Tirando uns raros pobres melômanos e colecionadores, em geral LP era da classe média pra cima. Nos sebos e feiras de rua que vendem LPs no Rio, não me lembro de ver os do Jair Rodrigues. Mas enfim, são muito bons esses álbuns de 65, 66 e 67 deles dois. E tudo ao vivo!
Elis Regina e Jair Rodrigues – Dois na Bossa nº 1, 2 e 3
Edu Lobo – ouçam a versão ao vivo de Upa neguinho no 2º disco!Noel Rosa de Oliveira (1920-1988), autor de O Neguinho e a Senhorita, era do morro do Salgueiro. Não confundir com o seu homônimo da Vila Isabel!
Pleyel
PS: Se estiver cansada(o) de tanta tranqueira nas redes sociais ex-twitter e insta, nos siga lá: @pqpbach
É hoje o dia da alegria, e a tristeza nem pode pensar em chegar! (Samba-enredo da União da Ilha, 1982)
A tristeza, apesar de tudo, tem parte inalienável no repertório do samba: muito ao contrário daqueles coachs que sugerem que não se mentalize nada de triste, no samba parece que é preciso falar na tristeza para em seguida despachá-la pra bem longe. Os álbuns de hoje trazem alguns dos mais belos sambas de todos os tempos, justamente no meio dessa encruzilhada:
– “A Felicidade” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) – aqui, a felicidade é breve, fugidia como o Carnaval…
– “Alegria” (de Cartola) – o nome engana: aqui é a alegria que está fazendo falta ao poeta
– “Tristeza” (de Niltinho Tristeza e Haroldo Lobo) – novamente o nome engana: não é um samba triste, muito pelo contrário. Fruto de parceria entre o jovem Niltinho e o experiente Haroldo Lobo, seria a última obra deste último, autor de “Alá lá ô” e “Índio quer apito”. Niltinho fez a 1ª versão com 18 versos poéticos, sublimes, mas pro Carnaval era um exagero. Haroldo sugeriu reduzir pra 8. Dizia ele: os versos de carnaval devem ser simples e, quando possível, repetir palavras chaves e onomatopeias. Tristeza estourou no Carnaval de 1966. Niltinho “Tristeza” viveu até 2018, fez samba-enredos pra Imperatriz Leopoldinense e carregou como apelido sua obra maior. Até hoje a canção é muito ouvida no Carnaval carioca, mas muita gente só canta o começo da letra mais o “laiá laiá”… e o “quero de novo cantar”: a voz do povo comprovando que Haroldo estava certo. Já em 1975 a minimalista versão de Toquinho e Vinicius (aqui) selecionava parte da letra, tornando ainda menos triste um samba que nunca foi triste, ao contrário de A Felicidade.
São muitas outras as pérolas nesses três discos gravados ao vivo, algumas mais carnavalescas e outras nem tanto. Deixo mais abaixo uma série de fotos em homenagem a alguns dos compositores desses sambas.
Cartola – Ao Vivo (1978):
Alvorada
O Mundo é um moinho
Sim
Acontece
Amor proibido
As Rosas não falam
Verde que te quero rosa
Peito vazio
Alegria
Inverno do meu tempo
O Sol nascerá
Cartola – Voz (e violão?)
Regional do Evandro: Evandro – Bandolim / Pinheiro – Violão / Lucio – Cavaquinho / Zequinha, Silvio Modesto – Ritmos
João Gilberto – Ao Vivo em Montreux (1985):
Sem Compromisso (Geraldo Pereira, Nelson Trigueiro)
Menino do Rio (Caetano Veloso)
Retrato em Branco e Preto (Chico Buarque, Antônio Carlos Jobim)
Pra que Discutir com Madame (Haroldo Barbosa, Antonio Almeida)
Garota de Ipanema (Jobim, Vinicius de Moraes)
Adeus América (Barbosa, Geraldo Jacques)
Estate (Bruno Brighetti, Bruno Martino)
Morena Boca de Ouro (Ary Barroso)
A Felicidade (Jobim, de Moraes)
Preconceito (Marino Pinto, Wilson Batista)
Sandália de Prata (Barroso)
Rosa Morena (Dorival Caymmi)
Aquarela do Brasil (Barroso)
Beth Carvalho – Ao Vivo em Montreux (1987)
Da melhor qualidade
Nas rimas do amor
Samba do avião
Pé de vento
Andança
O encanto do Gantois
Alô Montreux / Carro de boi / A vovó Chica
Nas Veias do Brasil
Tristeza / Madureira chorou / Barracão / Firme e forte
Cacique de Ramos
Vou festejar
Geraldo Pereira (1918-1955), autor de Sem Compromisso, além de portar um bigode sempre estilosoCartola (1908-1980) quando jovemHaroldo Lobo (1910-1965) e Niltinho Tristeza (1936-2018), autores de TristezaDorival Caymmi (1914-2008), autor de Rosa Morena e de sucessos carnavalescos como MaracangalhaWilson Batista (1913-1968), autor de PreconceitoTom Jobim (1927-1994), autor de A Felicidade, Samba do avião e Garota de IpanemaJorge Aragão (nasc. 1949), autor de Pé de vento e Vou festejarAry Barroso, autor de Morena boca de ouro, Sandália de Prata, Aquarela do BrasilHomenagem de Carlos Drummond a Cartola, poucos dias antes da morte do sambista
As duas primeiras faixas deste disco pertencem àquele irritante grupo de obras de Mozart que parecem mais adequadas às caixinhas de música. Depois, a coisa ganha profundidade — diria enorme profundidade, até — e o CD de Anne Queffélec fica espetacular. A gente gosta é de drama e sangue, Anne e Wolfgang! A gente somos viscerais, sacou? A elegância e a articulação fluida da pianista nascida em Paris torna-a digna de seus professores Alfred Brendel, Jorg Demus e Paul Badura-Skoda. A interpretação que Queffélec dá às duas Fantasias e à Sonata são algo para ficar morando no coração da gente.
W.A. Mozart (1756-1791): Obras para piano (Queffélec)
1. Rondo en la mineur, K. 511: Andante 10:09
2. Variations sur un menuet de Duport en ré majeur, K. 573 14:56
3. Fantaisie en ut mineur, K. 475 12:51
4. Sonate en ut mineur, K. 457: Allegro molto 8:09
5. Sonate en ut mineur, K. 457: Adagio 8:58
6. Sonate en ut mineur, K. 457: Allegro assai 4:35
A música nos comunica o quê? Como eu sabia que, ao ouvir suas sinfonias na Rádio da UFRGS, Shostakovich estava sendo profundamente confessional? Como é que eu gostava de Henze, sabendo que sua música era sobre revolução, sem ter lido nada a respeito? Que estranhos subtextos nossos ouvidos recebem, que informações processamos? Que referencial? Não sei. Um dia, disse que ia postar minhas dez joias da coroa, aqueles discos que não empresto nem que me torturem. Aí está um deles.
O CD é todo bom. A Sinfonia Nº 7 (1983-84) veio após um longo período sem compor sinfonias – a sexta data de 1969. Ela procura um meio termo entre a tradição clássica e a modernidade. É sua maior obra no gênero. Rattle é um admirador de Henze e aqui consegue dar-lhe grandiosidade e dramatismo adequados. A Barcarola é boa, mas não chega aos pés da Sinfonia. Só o radicalismo pode negar-se a ouvir Henze, rejeitando o importante lugar na música que merece.
Lembrem o que disse Steve Reich:
Todos os músicos do passado, começando na Idade Média, estavam interessados na música popular e na de seus antecessores. A música de Béla Bartók se fez inteiramente com fontes de música tradicional húngara. E Igor Stravinsky, ainda que gostasse de nos enganar, utilizou toda a sorte de fontes russas para seus primeiros balés. A grande obra-prima Ópera dos Três Vinténs, de Kurt Weill, utiliza o estilo de cabaret da República de Weimar. Arnold Schoenberg e seus seguidores criaram um muro artificial, que nunca existiu antes. Minha geração atirou o muro abaixo e agora estamos novamente numa situação normal. Por exemplo, se Brian Eno ou David Bowie recorrem a mim e se músicos populares reutilizam minha música, como The Orb ou DJ Spooky, é uma coisa boa. Este é um procedimento histórico habitual, normal, natural.
Concordo com Reich. A escola de Viena e seus seguidores foram talvez naturais dentro da evolução da música, mas foram excrescências na história da música com seus grupinhos de iniciados e outros tribalismos chiques. Há quase dois anos, ao completar 80 anos, a Deustche Welle publicou o artigo de Augusto Valente que reproduzo a seguir:
Um dos compositores alemães mais bem-sucedidos completa 80 anos. Moderno demais para a burguesia, “liberal de limusine” para a vanguarda, Henze permanece uma figura que desafia definições sumárias.
A menos que se aceite sem questionar a sentença sumária da intelligentsia musical – “epígono”, “reacionário”, “anacrônico” – não é fácil definir em uma palavra a personagem Hans Werner Henze.
Para começar, uma das habilidades mais admiráveis do compositor é a de combinar técnicas e elementos musicais os mais díspares, da melodia lírica ao complexo sonoro eletroacústico, do leitmotiv wagneriano ao serialismo estrito e os dispositivos aleatórios. Uma liberdade que, por outro lado, oferece flanco a críticas ainda mais ferinas: “oportunista”, “inconsequente”, “eclético”.
Henze, portanto, um reacionário oportunista? Então, onde se encaixa o ativismo político, suas idôneas tentativas de usar a música contemporânea como instrumento de resistência, seus anos de “terror da burguesia” e o consequente preço que pagou em sua carreira?
É preciso mais do que uma palavra para definir essa personagem.
Povo de assassinos
Hans Werner Henze nasce em 1º de julho de 1926 em Gütersloh, no Estado alemão de Vestfália. Um entre seis filhos, resolve estudar música contra a vontade dos pais. Ainda adolescente, sente-se atraído pelas composições modernas, então condenadas pelo regime nazista como “degeneradas”.
A identificação do pai com o nazismo faz com que as crianças se afastem deste (“Ele era um estranho para nós, nunca falava conosco”) e se aproximem da figura materna (“Nunca encontrei tanta ética, tanta musicalidade e sentimento de justiça como em minha mãe”).
Outsider precoce, Hans Werner “sabia que havia campos de concentração e conhecia gente que fora internada”, graças aos contatos de sua família tanto com a direita como com a esquerda. “Desde então acho os alemães suspeitos e horríveis. Até hoje”, revelou numa entrevista recente.
É recrutado aos 18 anos para lutar na guerra, como “soldado alemão, pertencente a uma nação cheia de assassinos e racistas”. Após ser transferido para o setor de cinema de propaganda e ficar preso num campo inglês, retoma em 1946 os estudos de música.
Being German
Seu professor, Wolfgang Fortner, o apresenta naquele mesmo ano como aluno-sensação nos Cursos de Férias de Darmstadt. Entretanto, nos anos seguintes, a linha desse foro da música nova se radicaliza. Um furor ideológico se sobrepõe à estética, o serialismo integral é a única linguagem aceitável.
Com suas “concessões” ao passado, à eufonia, à tonalidade, Henze é persona non grata nos meios da vanguarda. Anos mais tarde, acentuará a importância de se opor às “prescrições dos papas e regras dos monges”, que se atiravam “jubilosos nos braços da era da tecnologia”.
Não excetuada a própria aversão à condição de alemão, Henze corporifica de forma exemplar alguns dos principais vícios, virtudes e paradoxos germânicos. E, com frequência, ele os leva até à consequência última.
Isto se aplica à crônica nostalgia dos alemães pela Itália – já celebrada nos diários italianos de Goethe. Esse anseio explica a brisa mediterrânea que permeia toda a música henziana. Mas também é um dos motivos por que, já em 1953, o músico troca definitivamente a Alemanha pela “terra onde florescem os limoeiros”.
Ânsia de palco
A mudança para a Itália coincide com a explosão de Henze no meio mais propício a seu talento: o palco teatral. À ópera Il Re Cervo (1953-62) segue-se o sucesso de Der Prinz von Homburg, Der junge Lord – textos adaptados pela autora austríaca Ingeborg Bachmann–, Elegy for young lovers e The Bassarids (encomendada pelo Festival de Salzburgo de 1964) – ambas com libreto de W.H. Auden, também colaborador de Igor Stravinsky.
Num escrito de 1975, Henze definia assim sua arte: “O teatro foi e é o meu território, tenho sempre que voltar a ele. Minha música anseia pelo gesto, a corporalidade e a plasticidade. Ela se entende como drama, algo que pertence intimamente à vida, e que não poderia existir na abstinência higiênica ou no particular, no doméstico”.
Tamanha paixão permitiu ao compositor se arvorar, não apenas em próprio regente, como em diretor de cena e cenógrafo, “não sem ocasionalmente resultar em duvidosos diletantismos”, comenta o musicólogo Hans Vogt.
Henze permanece dos poucos compositores contemporâneos com presença assídua nos programas das casas de ópera tradicionais. Sua – declaradamente última – obra do gênero foi L’upupa, que estreou com êxito em 2003, em Salzburgo. O compositor também escreveu para o cinema, notadamente O jovem Toerless (1966) e A honra perdida de Katharina Blum (1975), ambos do alemão Volker Schlöndorff.
De herói romântico a comunista irado
A biografia de Hans Werner Henze nos recorda que a era do Romantismo foi também a era das revoluções sociais, e a Alemanha um dos berços de ambos os movimentos. Henze descreveu todo o arco psicológico que vai do herói romântico – introvertido e solipsista – ao ativista irado.
A absoluta incompatibilidade com a vanguarda europeia ficara selada quando, em 1957, Luigi Nono, Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen abandonaram a sala de concertos de Donaueschingen após os primeiros compassos de sua Nachtstücke und Arien.
Deslocado desde sempre, na família, no país, em seu meio profissional, o fato de ser homossexual contribuiu para a sensação de exclusão de Henze. Parte desta, ele projetou tanto nos heróis de suas óperas como em seus numerosos concertos para solista, caracterizados pelo embate do indivíduo contra a massa.
Porém, identificando-se com as minorias deste mundo, o compositor conseguiu transcender a autopiedade egocêntrica, canalizando sua indignação pessoal para a luta política. O autor Paul Griffiths descreve assim sua transformação em terror antiburguês: “O queridinho do Festival de Salzburgo tornou-se um revolucionário; o poeta da alma começou a bradar contra as iniquidades sociais. Era 1968”.
Abismo entre a teoria e a prática
O banimento de sua música da Alemanha, após o escândalo de uma apresentação de Der Floss der Medusa em 1968; o abrigo dado, no mesmo ano, ao líder estudantil Rudi Dutschke, depois que este sofreu um atentado; o engajamento por Cuba: não há como duvidar da sinceridade do ativista Henze. Ele definitivamente não foi um mero “liberal de limusine”, como queriam seus detratores.
Contudo, permanece insatisfatória sua tradução da contundência política para a linguagem da arte inovadora. Um exemplo são suas obras cênicas El Cimarrón e La Cubana: por melhor que compreendesse intelectualmente a situação do Terceiro Mundo e dos oprimidos, a Cuba musical de Henze não é a de Fidel Castro, mas sim a das florestas tropicais, das palmeiras, dos ritmos exóticos e da sensualidade mulata.
Da mesma forma, a indignação e as palavras de ordem no ciclo de canções Voices – Stimmen, de 1973, não soam muito distantes de fórmulas exploradas com mais pertinência por um Kurt Weill ou Hanns Eisler a serviço de Bertolt Brecht.
Posteridade
Hans Werner Henze completa 80 anos. O que a posteridade terá a dizer sobre ele?
Sua vaga na história da música do século 20 está assegurada, não há dúvida. Se não fosse por outros motivos, a lista de suas associações – artísticas, pessoais, políticas – é um verdadeiro who’s who da arte e cultura européia do pós-guerra: Edward Bond, W.H. Auden, Jean Genet, Pier Paolo Pasolini, Hans Magnus Enzensberger, Rudi Dutschke, Ingeborg Bachmann, sem falar em várias gerações de cantores, instrumentistas e regentes.
Virtuose das técnicas de composição, Henze é um desses artistas que pecaram pelo excesso de fertilidade: boa parte de sua obra é francamente dispensável. Mas não há como excluir a possibilidade de que gerações vindouras descubram uma série de obras-primas incontornáveis em meio a esse palheiro. Talvez seu monumental terceiro concerto para piano, Tristan; ou a delicada cantata Being beauteous, sobre poema de Arthur Rimbaud? Quem sabe, uma das óperas? Não seria a primeira vez que a história da música é forçada a se rever.
O octogenário vive agora em sua vila em Marino, nas cercanias de Roma, com seu companheiro Fausto Moroni, “em meio a gente que nunca seria capaz de fazer o que meus compatriotas fizeram naquela época”.
Hans Werner Henze – Barcarola per Grande Orchestra e Sinfonia Nº 7 (Rattle)
1. Barcarola Per Grande Orchestra – In Memoriam Paul Dessau – 1979
Como diversão, aqui vão duas gravações do justamente célebre Réquiem de Mozart. O portento vem em duas versões totalmente diferentes: uma com instrumentos modernos, outra com instrumentos originais. Para meu gosto, apesar de respeitar o grande regente que foi Karl Böhm, a transparência e delicadeza torna a gravação de Koopman muito melhor do que o pesado registro lá dos anos 70. Acho que esta é uma batalha ganha pelos modernos admiradores das coisas antigas. Meus ouvidos afirmam que é mais bonita a versão com instrumentos originais, mais transparente e delicada. Além disso, o estilo de Koopman me parece mais correto ao não ser tão tonitruante e pesado. O molho de Böhm é pesado demais para Mozart, né? E… Se nossas salas de concertos já são museus sonoros, nada mais natural que os timbres originais sejam respeitados, penso. Além disso, os historicamente informados de hoje fazem pilates, são alongados, não têm mais a cintura dura. Discorde aí na sua casa. (Brincadeira).
W. A. Mozart (1756-1791): Réquiens, K. 626, em duas versões inteiramente diferentes (Böhm e Koopman)
01 – Kyrie
02 – Dies Irae
03 – Tuba Mirum
04 – Rex Tremendae
05 – Recordare
06 – Confutatis
07 – Lacrimosa
08 – Domine Jesu
09 – Hostias
10 – Sanctus
11 – Benedictus
12 – Agnus Dei – Lux Aeterna
Wiener Staatsopernchor
Norbert Balatsch, dir.
Edith Mathis, soprano
Julia Hamari, contralto
Wieslaw Ochman, tenor
Hans Haselbock, órgão
Karl Ridderbusch, baixo
Bernd Alois Zimmermann tem sua maior obra em Requiem für einen jungen Dichter (Réquiem para um jovem poeta, 1967-69), uma estupenda realização escrita para três coros, soprano e baixo, que literalmente conversam entre si — sim, membros dos coros agem como atores –, órgão, gravações com sons de rua, um jazz combo e uma enorme orquestra. Trabalhando com uma multiplicidade de textos, Zimmermann tinha inicialmente planejado utilizar apenas textos de poetas suicidas, como, por exemplo, Vladimir Maiakovski. Porém, Zimmermann, vivendo a ebulição revolucionária do maio de 68 e o início do Baader-Meinhof na Alemanha, abriu-se a todos os tipos de fontes orais em múltiplos idiomas. Discursos políticos, passagens da Vulgata Latina, vozes de presidente Mao, Hitler e até mesmo “Hey Jude”, dos Beatles participam da obra. Zimmermann acabou construindo não apenas um poderoso réquiem dirigido aos poetas que de matam, mas para o próprio século XX e sua crise cultural.
A obra dialoga intensamente com a Sinfonia de Berio, mas refere-se ainda mais à sua e nossa época. Acho que é indiscutivelmente superior que a citada Sinfonia, pois tem os dois pés inteiramente encharcados em nossa realidade. Um aspecto surpreendente do Réquiem para os jovens poetas é sua atualidade. Poderia ter sido escrita em 2009 por um inventivo compositor de vanguarda, se este tivesse o talento, a CULTURA e a ambição artística de Zimmermann.
Wikipedia: Zimmermann nasceu em Bliesheim perto de Colónia. Cresceu numa comunidade rural Católica na Alemanha ocidental. Seu pai trabalhou para o ‘Reichsbahn’ (Imperial Ferroviária) e também foi agricultor. Em 1929, Zimmermann começou a frequentar uma escola privada católica, onde ele teve seu primeiro encontro com a música. Após os nacional-socialistas (ou nazis) fecharem todas as escolas privadas, ele mudou para uma escola pública católica em Colônia, onde, em 1937, recebeu o diploma colegial.
Começou a estudar Educação Musical, Musicologia e Composição no inverno de 1938 na Universidade de Música de Colónia. Em 1940, foi integrado na Wehrmacht (o exército alemão), mas foi libertado em 1942 devido a uma grave doença da pele. Retornou aos seus estudos, não recebeu um grau até 1947 devido ao fim da guerra. No entanto, ele já estava ocupado como free-lancer compositor em 1946, principalmente para a rádio. De 1948 a 1950, fêz (Curso de férias para a Nova Música) onde estudou com René Leibowitz e Wolfgang Fortner, entre outros.
Estava morando em Grosskönigsdorf perto de Colónia. No entanto, a sua tendência depressiva aumentou para um nível mais físico, agravados por uma deterioração rápida nos olhos. Em 10 de agosto de 1970, Zimmermann cometeu suicídio, apenas cinco dias depois de completar a Ich wandte mich um und sah alles Unrecht das geschah unter der Sonne. Na época, estava a preparar outra ópera, Medea.
Em contraste com a chamada “Escola Darmstadt” (Stockhausen, Boulez, Nono, etc.), Zimmermann não fez uma ruptura radical com a tradição. No final da década de 50, desenvolveu o seu próprio estilo de composição, o pluralistica “Klangkomposition”. A combinação e sobreposição de camadas de materiais musicais de diversos períodos de tempo (medieval Barroco e Clássico, de Jazz e música pop), utilizando técnicas musicais avançadas, (visto algo no seu trabalho orquestral Photoptosis) (o ballet Musique pour les soupers du Roi Ubu). Nas suas obras vocais, especialmente o seu Requiem, o texto é usado para o progresso da peça pela sobreposição de textos a partir de várias fontes. Ele criou sua própria atitude musical utilizando a metáfora the spherical form of time (“a forma esférica do tempo).
O romance How Is This Going to Continue? (2007) de James Chapman é inspirado no Requiem für einen jungen Dichter e inclui passagens que prestam homenagem ao compositor.
.oOo.
Bernd Alois Zimmermann – Requiem für einen Jungen Dichter (1967/69) (Metzmacher)
Lingual für Sprecher, Sopran- und Bass-Solo, drei Chöre, Orchester, Jazz-Combo, Orgel und elektronische Klänge, nach Texten verschiedener Dichter, Berichten, Reportagen
1. Prolog / Requiem 1 / Requiem 2 (29:02)
2. Ricercar (10:36)
3. Rappresentazione (5:32)
4. Elegia (1:36)
5. Tratto (1:28)
6. Lamento (7:07)
7. Dona Nobis Pacem (8:36)
Matthias Buss and Marcel Welten – Narrators
Penelope Walmsley-Clark – Soprano
David Pittman-Jennings – Baritone
Tschechischer Philharmonischer Chor Brno
Slowakischer Philharmonischer Chor Bratislava
Herren der Europachor-Akademie Mainz
Jazz-Combo: Axel Dörner (trumpet), Gerd Dudek (reeds), Alexander von Schlippenbach (piano), Jochen Schmidt (bass), Paul Lovens (drums)
Este é um disco de obras menores de Mozart. Nada aqui vai provocar sentimentos sublimes, mas algumas risadas vão ocorrer quando você ouvir Ein Musikalischer Spaß (Uma Piada Musical). O restante do CD é agradável. com destaque para os duos para trompas. Uma Piada Musical (em alemão: Ein musikalischer Spaß) K. 522, diversão para duas trompas em Fá e quarteto de cordas, é uma composição de Mozart cujo propósito é satírico. Suas gafes harmônicas e rítmicas servem para parodiar o trabalho de compositores amadores. Spaß não conota necessariamente o jocoso, para o qual a palavra Scherz provavelmente seria usada. Na opinião de Fritz Spiegl , uma tradução mais precisa seria Um Divertimento Musical. Outros apelidos às vezes mencionados são Dorfmusikantesextett (Sexteto dos músicos da aldeia) e Bauernsinfonie (Sinfonia dos fazendeiros) foram adicionados após a morte de Mozart.
W. A. Mozart (1756-1791): Ein Musikalischer Spaß, Hornquintet, Marches, Duos Divertimenti (L’Archibudelli)
1 Marsch Für 2 Violinen, Viola, Violoncello Und 2 Hörner, D-Dur, KV 445
2 Marsch Für 2 Violinen, Viola, Violoncello Und 2 Hörner, F-Dur, KV 248
3 Marsch Für 2 Violinen, Viola, Violoncello Und 2 Hörner, D-Dur, KV 290
4 Duo Für 2 Blasinstrumente, KV 487 – Nr. 5 Larghetto (Es-Dur)
5 Duo Für 2 Blasinstrumente, KV 487 – Nr. 2 Menuetto, Allegretto (Es-Dur)
Quintett Für Horn, Violine, 2 Violen Und Violoncello Es-Dur KV 407
6 1. ()
7 2. Andante
8 3. Allegro
9 Duo Für 2 Blasinstrumente, KV 487 – Nr. 10 Andante (Es-Dur)
10 Duo Für 2 Blasinstrumente, KV 487 – Nr. 8 Allegro (Es-Dur)
Ein Musikalischer Spaß (Dorfmusikanten Sextett) Für 2 Violinen, Viola, Baß Und 2 Hörner F-Dur KV 522
11 1. Allegro
12 2. Menuett: Maestoso
13 3. Adagio Cantabile
14 4. Presto
15 Fragment Aus Divertimento Für Violine, Viola, Violoncello Und 2 Hörner F-Dur KV 288
16 Fragment Aus Divertimento Für 2 Violinen, Viola, Violoncello Und 2 Hörner D-Dur KV 246b
Double Bass – Anthony Woodrow
Horn – Ab Koster, Knut Hasselmann
Viola – Jürgen Kussmaul
Violin – Lucy van Dael, Vera Beths
Violoncello – Anner Bylsma
Pura alegria. Este registro que foi relançado a baixo preço é uma pequena joia mozartiana que fez minha vizinha perguntar: “Qual era a música maravilhosa que tocaste ontem? Adorei!”. Dei uma bela explicação, ofereci uma cópia e ela aceitou. Deixo vocês utilizarem a gravação para o findi de vocês, OK? Fora de brincadeira, bom disco. A música é a do Mozart jovem, ainda sem a profundidade da maturidade. Como você esperaria de Mozart inicial — uma cascata de melodias que fluirá pela sua mente muito depois que os músicos terminarem. Ousadia leve, brilhante e alegre. A orquestra de Koopman está perfeita nesses divertimenti que à primeira vista, parecem simples, mas que mostram apenas como Mozart faz tudo parecer fácil.
W. A. Mozart (1756 – 1791): Divertimentos K. 136, 137, 138 e 251 (Koopman)
Divertimento KV 136 En Ré Majeur / D Major / D-dur (18:30)
1 Allegro 6:04
2 Andante 8:26
3 Presto 4:00
Divertimento KV 137 En Si Bémol Majeur / B Flat Major / B-dur (12:33)
4 Andante 5:42
5 Allegro Di Molto 3:38
6 Allegro Assai 3:13
Divertimento KV 138 En Fa Majeur / F Major / F-dur (13:43)
7 Allegro 5:25
8 Andante 6:13
9 Presto 2:05
Divertimento KV 251 En Ré Majeur / D Major / D-dur (27:20)
10 Allegro Molto 7:04
11 Menuetto – Trio 3:41
12 Andantino 4:19
13 Menuetto (Tema Con Variazioni) 4:20
14 Rondeau (Allegro Assai) 5:21
15 Marcia Alla Francese 2:35
Cello – Ageet Zweistra, Jaap ter Linden
Conductor – Ton Koopman
Double Bass – Nicholas Pap
Horn – François Mérand, Michel Garcin-Marrou
Oboe – Marcel Ponseele
Orchestra – The Amsterdam Baroque Orchestra
Viola – Jan Schlapp, Jane Norman
Violin – Andrew Manze, Caroline Balding, Helen Orsler, Mark Cooper*, Margareth Faultness*, Nicola Cleminson, Nicolette Moonen, Pavlo Beznoziuk
ESTA É A POSTAGEM DE NÚMERO 8000 DO BLOG PQP BACH.
8000 !!!
A cantata Ich habe genug, BWV 82, de J. S. Bach, expressa o anseio íntimo de São Simeão pela salvação. A cantata foi escrita em 1727 para a Festa da Purificação da Virgem Maria, que aconteceu em 2 de fevereiro. É para um(a) cantor(a) solo e prescinde do coro. Seu libreto anônimo concentra-se em Simeão que, depois de ver o menino Jesus no templo, não precisa mais da vida terrena. E diz: “Ich habe genug” (já tive o bastante).
Em seu brilhante estudo sobre Bach, John Eliot Gardiner diz que a teologia da época encarava o mundo como “um hospício povoado por almas doentes cujos pecados apodrecem como furúnculos em supuração e excrementos amarelos”. Mas, no BWV 82, Bach radicalmente nos permite aspirar a sermos anjos. A morte não é transformação ou punição, é missão cumprida, é uma boa noite de sono ou uma alegre viagem para casa. Anjos não somos, mas por 25 minutos somos sim. Os sons das palavras do texto anônimo são transformados em lindas melodias, mas a realização mais significativa é a de que a melodia e a instrumentação transcendem totalmente o texto.
O formato da cantata é simples: um cantor — Bach criou versões para soprano, mezzo-soprano e baixo-barítono — e três árias conectadas por dois recitativos curtos. Um pequeno conjunto de cordas o acompanha. Um oboé solo (ou flauta, na versão soprano) faz girar melodias acrobáticas fazendo um sofisticado contraponto à linha vocal. Sobre as cordas suaves, a ária de abertura começa com o oboé ou flauta, introduzindo a frase melódica de cinco notas que carregará as palavras Ich habe genug.
Bach não está nos dizendo isso por palavras. Ele não está explicitando nada. Nem está, por mais que pareça, revelando as emoções carregadas no texto. Ele está nos levando pela mão a algum lugar. A suposta tarefa da ária de canção de ninar Schlummert ein (adormeça) era representar a morte como sono. Em vez disso, Bach produz um milagre musical. Para que não nos leve a dormir, Bach produz uma espécie de estado de reverência. O sono, então, torna-se não a morte, mas uma visão fugaz da morte. É por isso que a ária final curta e alegre pode ser escandalosamente viva.
Ich habe genug veio logo depois que Bach se cansou de cantatas para funerais. Aliás, a morte foi sua companheira constante. Seus pais morreram quando ele era menino. Sua primeira esposa morreu jovem. Ele sofreu a morte de muitos de seus 20 filhos, incluindo a de um filho de seis meses antes de escrever o BVW 82. A essa altura, Bach havia deixado a tarefa hercúlea de escrever cantatas sem parar, para produzi-las apenas ocasionalmente. Mas o BWV 82 parece ser uma questão pessoal e Bach produziu um total de seis versões, a última em 1748, dois anos antes de sua própria morte.
O título do CD é Ich bin vergnugt (Estou contente). Refere-se à cantata Ich bin vergnugt mit meinem Glucke (Estou contente com minha felicidade), BWV 84, mas também corresponde inteiramente aos sentimentos da cantora, a austríaca Miriam Feuersinger, que está realizando um desejo antigo com este programa. Ela apresenta as três mais belas cantatas escritas por Johann Sebastian Bach para soprano solo. Já a cantata Jauchzet Gott in allen Landen BWV 52 é um hino de louvor operístico e virtuoso que impõe altas exigências técnicas ao intérprete. Miriam Feuersinger é acompanhada com sensibilidade pelo Capricornus Consort Basel, Com sua voz clara, ela nos deixa sentir seu vergnugen em cada nota.
Junto com o trio de cantatas vêm uns extras nada desprezíveis!
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 51, 82 & 84 (Feuersinger, Capricornus Consort Basel)
Ich Habe Genug, BWV 82
1 I. Ich Habe Genug (Aria) 7:00
2 II. Ich Habe Genug (Recitativo) 1:17
3 III. Schlummert Ein, Ihr Matten Augen 8:43
4 IV. Mein Gott! Wenn Kömmt Das Schöne 0:51
5 V. Ich Freue Mich Auf Meinen Tod 4:01
Trio Sonata In G Major, BWV 1038
6 I. Largo 3:14
7 II. Vivace 1:06
8 III. Adagio 2:03
9 IV. Presto 1:31
Ich Bin Vergnügt Mit Meinem Glücke, BWV 84
10 I. Ich Bin Vergnügt Mit Meinem Glücke 6:38
11 II. Gott Ist Mir Ja Nichts Schuldig 1:45
12 III. Ich Esse Mit Freuden Mein Weniges Brot 4:57
13 IV. Im Schweiße Meines Angesichts 0:55
14 V. Ich Leb Indes In Dir Vergnüget (Transcr. For Soprano & Strings) 1:02
15 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend, BWV 709 (Transcr. P. Barczi For Strings) 2:50
16 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend, BWV 655 (Transcr. P. Barczi For Strings) 3:07
Jauchzet Gott In Allen Landen, BWV 51
17 I. Jauchzet Gott In Allen Landen! 4:38
18 II. Wir Beten Zu Dem Tempel An 2:21
19 III. Höchster, Mache Deine Güte 4:40
20 IV. Sei Lob Und Preis Mit Ehren 3:42
21 V. Alleluja! 2:22
“Chopin é o maior de todos, pois apenas com o piano ele descobriu tudo.”
Claude Debussy
Domingo calorento e preguiçoso aqui e continuo adiando a preparação das provas para amanhã. Integração por partes, como diria Jack…
A vitrola acabou de tocar Bruckner#9 e ainda estou sob os efeitos do imenso adágio. Então, para variar, um disco diferente – Estudos de Chopin. Eu gosto de Chopin e se você tem ideias pré-concebidas do romântico compositor – a imagem de um pianista revirando os olhos sobre uma doce melodia, prepare-se para uma ‘revolucionária’ mudança. Nada de bibelôs neste disco, que tem seus momentos mais lânguidos, faz parte.
O pianista Yunchan Lim é espetacular, tem técnica de sobra para mais uns dois ou três virtuosos. Foi o mais jovem músico a ganhar a medalha de ouro no Concurso Van Cliburn e o disco com os endiabrados Estudos Transcendentais, de Liszt, gravado ao vivo durante o concurso, é prova disso. Mas, calma, um disco só de Liszt é demais para mim, tive que esperar esse novo disco para apreciar as habilidades do Yunchan Lim. Se bem que há uma gravação do Concerto Imperador, também ao vivo, que é flamejante.
Em junho de 2022, Yunchan Lim se tornou a pessoa mais jovem a ganhar ouro no Concurso Internacional de Piano Van Cliburn; suas performances ao longo do tempo mostraram uma “habilidade mágica” e uma “qualidade natural e instintiva” (La Scena) que surpreendeu os ouvintes ao redor do mundo. Como o presidente do júri Marin Alsop expressou: “Yunchan é aquele artista raro que reúne musicalidade profunda e técnica prodigiosa organicamente.” A profundidade de sua arte e conexão com os ouvintes também lhe garantiram o Prêmio do Público e Melhor Performance de uma Nova Obra. A performance surpreendente de Lim dos Estudos Transcendentais completos de Liszt da rodada semifinal do Concurso Van Cliburn está disponível em seu álbum de estreia Steinway & Sons.
Hoje já estou na segunda audição deste disco, intercalando-o com outras favoritas gravações – Abbey Simon, Boris Berzovski, por exemplo. Até essa postagem chegar até você, já terei ouvido uma boa meia dúzia de vezes.
Some extremely daring speeds guarantee excitement, pushing the technical limits in what are, of course, despite their generic title (Études , or Studies), so much more than technical exercises, yet he also finds great poetry…some of Yunchan Lim’s interpretations may be too subjective for everyone’s taste, yet this is a remarkable feat that demands to be heard. BBC Music Magazine
His Chopin is as flexible and feather-light as it is fluent and fiery, as compelling in its sense of structure as in its relishing of detail. The whole experience radiates joyful, youthful exuberance. Gramophone
These are thrilling performances of Chopin’s studies, the technique dazzlingly immaculate and the musical impulses propelling it often startlingly original. The Guardian
No Brasil, este disco saiu pela MoviePlay e era uma joia no meio das coisas mais ou menos da gravadora. Ambas as Sinfonias Concertantes de Mozart são extraordinárias, com especial destaque para o K. 364, claro. Mas a outra não lhe fica muito a dever. Com excelente regência de Álvaro Cassuto, com bons solistas da Europa Oriental (acredito eu) e uma orquestra bastante boa, este disco baratinho dá um banho em muita gente metidona. Na capa ao lado não aparece nem a orquestra, nem o nome do maestro. É um foda-se total. Apenas ouça. Reclamações — duvido — nos comentários.
W. A. Mozart (1756-1791): Sinfonia Concertante, K. 297 & Sinfonia Concertante, K. 364 (Nova Filarmonia Portuguesa, Cassuto)
Mozart: Sinfonia Concertante in E-flat Major, K. 297b
I. Adagio 13:33
II. Adagio 8:40
III. Andantino con variazioni 8:54
Lisa Kosenko (Oboé)
Chris Inguanti (Clarinete)
Ellen Tomasiewics (Trompa)
Martin Mangrum (Fagote)
Nova Filarmonia Portuguesa
Álvaro Cassuto
Mozart: Sinfonia Concertante for Violin, Viola & Orchestra in E flat major, K. 364
I. Allegro maestoso 13:48
II. Andante 11:39
III. Presto 6:34
Os Jogadores, Op. 63, é uma ópera inacabada, composta por Dmitri Shostakovich em 1941-42 baseada na comédia de Nikolai Gogol Os Jogadores (1842). O primeiro ato sobrevivente dura cerca de 47 minutos. É o que temos aqui. Shostakovich tentou fazer a peça de Gogol palavra por palavra. Ele percebeu, ao chegar ao final do primeiro ato, que a ópera se tornaria muito longa e difícil de montar, e também que seu texto zombeteiro e a amarga ironia da música não seriam executados sob o regime repressivo da época. Ele abandonou o projeto. Ele reutilizou material da ópera no scherzo de sua composição final, a Sonata para Viola. A estreia mundial foi uma apresentação em forma de concerto no salão do Conservatório de Leningrado em 18 de setembro de 1978, cantada por membros do Teatro de Câmara de Moscou com a Orquestra Filarmônica de Leningrado conduzida por Gennady Rozhdestvensky. Aliás, o mesmo time que gravou este CD em 1978. Que coincidência!
O Nariz, Op. 15, é a primeira ópera de Dmitri Shostakovich, uma obra satírica concluída em 1928 baseada na história de Nikolai Gogol de 1836 com o mesmo nome. A ópera foi escrita entre 1927 e 1928. O libreto é de Shostakovich, Yevgeny Zamyatin, Georgy Ionin e Alexander Preis. Shostakovich afirmou que era uma sátira sobre os tempos de Alexandre I. O enredo diz respeito a um oficial de São Petersburgo cujo nariz deixa seu rosto e desenvolve uma vida própria. A obra original de Gogol foi expandida por meio de empréstimos de algumas de suas outras obras, incluindo O Capote, Diário de um Louco e Almas Mortas, bem como de Os Irmãos Karamazov (1881) de Dostoiévski. Shostakovich usa uma montagem de estilos diferentes, incluindo música folclórica, canção popular e atonalidade . O caos aparente é estruturado por dispositivos musicais formais, como cânones e quartetos, um dispositivo tirado de Wozzeck, de Alban Berg. De acordo com o compositor britânico Gerard McBurney, “O Nariz é uma das maiores obras-primas do jovem Shostakovich, um tour de force eletrizante de acrobacias vocais, cores instrumentais selvagens e absurdo teatral, tudo permeado por uma mistura escaldante de riso e raiva… O resultado, nas mãos implacavelmente irreverentes de Shostakovich, é como uma versão operística de Charlie Chaplin ou Monty Python. Com seu tema magnificamente absurdo e música virtuosa, O Nariz é uma obra extremamente divertida”. Em “O Nariz” os soldados de embebedam, tossem e ao fagote é dada a tarefa de peidar por eles. Ouvi hoje esta ópera e notei que os cantores fazem todo o tipo de sons estranhos, mas não arrotam. É complicado arrotar quando se quer. Se alguém me disser “Arrota aí, meu!” não vai sair nada. Quando criança, eu sempre invejava os amigos que podiam soltar um arroto a qualquer momento. Nunca consegui. Para largar um, eu tinha que beber uma Coca-Cola e esperar que ele, o arroto, se decidisse. Só sim eu largava um bem sonoro.
D. Shostakovich (1906-1975): The Nose (O Nariz) / The Gamblers (Os Jogadores) (Leningrad Philharmonic Orch, Orch Of The Moscow Chamber Opera, Rozhdestvensky)
The Gamblers, Opera, For 6 Male Voices & Orchestra (unfinished)
Edited By – Gennadi Rozhdestvensky
Orchestra – Orchestra Of The Moscow Chamber Opera*
1.1 Instruemtal Introduction
1.2 Do Come In, Do Come In
1.3 I’m Listening Friend, Go On.
1.4 What A Sight
1.5 Have You Come Far?
1.6 Where Is Your Master From?
1.7 Wily Fellows, These.
1.8 Perhaps Kazan Is Better.
1.9 Listen, Did They Give You Much?
1.10 I’m Sorry, The Room’s Not Nice…
1.11 But, Gentlemen, Come Come, Don’t Let’s Argue
1.12 Well Well, This Sturgeon Is Good.
1.13 Jack Of Clubs, Diamonds…
1.14 And So We Shake On The Deal.
1.15 Do Tell Us…
1.16 Do You Remember, Shvokhnev?
1.17 In A Town
1.18 We Have Our Methods.
1.19 There Was Another One Which Went Quite Well.
1.20 Wily Fellows, These.
The Nose, Opera, Op. 15
Orchestra – Leningrad Philharmonic Orchestra
1.21 Act 1. Introduction
1.22 Act 1. Scene 1. Today, Praskovya Osipovna, I Will Not Take Coffee…
1.23 Act 1. Scene 2. Pick That Up. You’ve Lost Something…
1.24 Act 1. Interlude
1.25 Act 1. Scene 3. Brr… Brr… I’ve Had A Spot On My Nose Since Yesterday…
1.26 Act 1. Scene 3. Gallop
1.27 Act 1. Scene 3. Ah… How On Earth Shall I Address Him…
2.1 Act 2. Introduction. Is The Police Inspector At Home?…
2.2 Act 2. Scene 5. You Can Take My Word For It…
2.3 Act 2. Scene 5. Largo. I Have No Idea How This Misfortune Occured…
2.4 Act 2. Scene 5. No, I Can’t Place Such An Ad In The Newspaper…
2.5 Act 2. Interlude
2.6 Act 2. Scene 6. I Am Indissolubly Linked To My Love…
2.7 Act 2. Scene 6. God, Good God! Why This Calamity?…
2.8 Act 3. Scene 7. With The Authority Vested In Me I Order…
2.9 Act 3. Scene 8. Is This Where College Assessor Kovalyov Lives?…
2.10 Act 3. Scene 8. It’s Really My Nose! There’s The Spot…
2.11 Act 3. Scene 8. Hey, Ivan! Ivan!…
2.12 Act 3. Scene 8. Hey, What A Face…
2.13 Act 3. Scene 8. Ah? Write To Her / I’m Writing…
2.14 Act 3. Intermezzo. There Goes Major Kovalyov’s Nose For A Walk…
2.15 Epilogue. Scene 9. That’s It! That’s It!…
2.16 Epilogue. Scene 10. Good Day Platon Kuzmich…
Accompanied By [Accompanists] – Mary Zhislina* (faixas: 1-21 to 2-16), Tamara Vitold* (faixas: 1-21 to 2-16), Tatyana Askochinskaya* (faixas: 1-21 to 2-16)
Balalaika [Balalaika-Bass] – Valery Sudak* (faixas: 1-1 to 1-20)
Baritone Vocals [Platon Kuzmich Kovalyov (College Assessor)] – Eduard Akimov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Baritone Vocals [Stepan Ivanovich Uteshitelny] – Yaroslav Radivonik* (faixas: 1-1 to 1-20)
Bass Vocals [Alexei (Servant At Inn)] – Vladimir Rybasenko* (faixas: 1-1 to 1-20)
Bass Vocals [Clerk In Small Ads Office], Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Someone] – Valery Solovyanov (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [Doctor] – Ashot Sakirsov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [Gavryushka (His Servant)] – Valery Belykh* (faixas: 1-1 to 1-20)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Acquaintances Of Kovalyov] – Ashot Sakirsov* (faixas: 1-21 to 2-16), Vladimir Rybasenko* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Cabman / Father] – Vladimir Rybasenko* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Coachman At The Posting Inn], Speech [Speaking Role – Traveller] – Anatoly Boiko* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Dignified Lady Her Sons] – Anatoly Boiko* (faixas: 1-21 to 2-16), Valery Belykh* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Gentlemen] – Valery Solovyanov (faixas: 1-21 to 2-16), Igor Paramonov* (faixas: 1-21 to 2-16), Yaroslav Radivonik* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Kiosk Salesman] – Ashot Sarkisov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Policemen] – Valery Solovyanov (faixas: 1-21 to 2-16), Ashot Sarkisov* (faixas: 1-21 to 2-16), Valery Belykh* (faixas: 1-21 to 2-16), Vladimir Rybasenko* (faixas: 1-21 to 2-16), Igor Paramonov* (faixas: 1-21 to 2-16), Yaroslav Radivonik* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Servants Giving In Small Ads] – Anatoly Boiko* (faixas: 1-21 to 2-16), Ashot Sarkisov* (faixas: 1-21 to 2-16), Valery Belykh* (faixas: 1-21 to 2-16), Gennady Mamin* (faixas: 1-21 to 2-16), Igor Paramonov* (faixas: 1-21 to 2-16), Yaroslav Radivonik* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Students] – Ashot Sarkisov* (faixas: 1-21 to 2-16), Igor Paramonov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [Ivan Yakovlevich (Barber)] – Valery Belykh* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [Now Bass – In Further Incidental Roles, Servants Giving In Small Ads] – Alexander Braim* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass Vocals [Pyotr Petrovich Shvokhnev] – Ashot Sarkisov* (faixas: 1-1 to 1-20)
Bass-Baritone Vocals [Countess’ Footman], Speech [Speaking Role – Khosriv Mirza], Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Heyduke (Servant) / Newcomers] – Igor Paramonov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass-Baritone Vocals [In Further Incidental Roles, Ivan Ivanovich / Policeman], Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Dandies] – Yaroslav Radivonik* (faixas: 1-21 to 2-16)
Bass-Baritone Vocals [In Further Incidental Roles, Son], Bass Vocals [In Further Incidental Roles, Speculator] – Gennady Mamin* (faixas: 1-21 to 2-16)
Choir [Acquaintances Of The Barber, People At Prayer In The Cathedral, Travellers, Ladies And Gentlemen In Waiting, Policemen, Eunuchs, Passers-By] – Choir* (faixas: 1-21 to 2-16)
Chorus – Chorus Of The Moscow Chamber Theatre* (faixas: 1-21 to 2-16)
Chorus Master – Vladimir Agronsky* (faixas: 1-21 to 2-16)
Composed By – Dmitri Shostakovich
Concept By [Reissue Concept] – Niels Høirup*
Conductor – Gennady Rozhdestvensky*
Contralto Vocals [In Further Incidental Roles, Aristocratic Old Lady] – Liliana Gavrilyuk* (faixas: 1-21 to 2-16)
Design, Layout – BKMS, Hamburg
Engineer [Recording] – Igor Veprintsev (faixas: 1-1 to 1-20), Severin Pazhukhin* (faixas: 1-21 to 2-16)
Libretto By – Dmitri Shostakovich (faixas: 1-21 to 2-16), Alexander Preiss* (faixas: 1-21 to 2-16), Georgy Yonin* (faixas: 1-21 to 2-16), Yevgeny Zamyatin* (faixas: 1-21 to 2-16)
Liner Notes – Sigrid Neef
Liner Notes [Trad.] – Chr. Hinzelin*
Liner Notes [Transl.] – J & M Berridge
Mezzo-soprano Vocals [Alexandra Grigoryevna Podtochina (Staff Officer’s Widow)] – Людмила Сапегина (faixas: 1-21 to 2-16)
Mezzo-soprano Vocals [In Further Incidental Roles, Dignified Lady] – Alla Kiseleva* (faixas: 1-21 to 2-16)
Orchestra – Leningrad Philharmonic Orchestra (faixas: 1-1 to 1-20), Orchestra Of The Moscow Chamber Theatre* (faixas: 1-21 to 2-16)
Photography By [Cover Foto] – H. Matthies*
Remastered By – Michael Glaser
Restoration, Engineer [Sound Engineer] – Eberhard Richter
Solo Vocal – Soloists Of The Moscow Chamber Theatre* (faixas: 1-21 to 2-16)
Solo Vocal, Soprano Vocals – Nina Yakovleva* (faixas: 1-21 to 2-16)
Soprano Vocals [Alexandra Grigoryevna Podtochina Her Daughter], Soprano Vocals [In Further Incidental Roles, Female Voice] – Lyudmila Ukolova* (faixas: 1-21 to 2-16)
Soprano Vocals [Female Bread-Roll-Seller] – Lyudmilla Sokolenko* (faixas: 1-21 to 2-16)
Soprano Vocals [In Further Incidental Roles, Daughter] – Yelena Pekerskaya* (faixas: 1-21 to 2-16)
Soprano Vocals [In Further Incidental Roles, Female Hanger-On] – Nina Anisimova* (faixas: 1-21 to 2-16)
Soprano Vocals [In Further Incidental Roles, Hangers-On] – Maria Bugrova (faixas: 1-21 to 2-16), Alla Kiseleva* (faixas: 1-21 to 2-16), Yelena Druzhenkova* (faixas: 1-21 to 2-16), Elena Pekerskaya* (faixas: 1-21 to 2-16), Irina Barteneva* (faixas: 1-21 to 2-16), Lyudmila Sapegina* (faixas: 1-21 to 2-16), Lyudmila Sokolenko* (faixas: 1-21 to 2-16), Lyudmila Ukolova* (faixas: 1-21 to 2-16), Nina Anisimova* (faixas: 1-21 to 2-16), Nina Sasulova* (faixas: 1-21 to 2-16), Nina Yakovleva* (faixas: 1-21 to 2-16)
Soprano Vocals [In Further Incidental Roles, Mother] – Maria Bugrova (faixas: 1-21 to 2-16)
Soprano Vocals [Praskovya Osipovna (Ivan Yakovlevich His Wife)], Speech [Speaking Role – Lady-in-waiting] – Nina Sasulova* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [Ikharyov (A Gambler)] – Vladimir Tarkhov* (faixas: 1-1 to 1-20)
Tenor Vocals [In Further Incidental Roles, Acquaintances Of Kovalyov] – Alexander Pekelis* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [In Further Incidental Roles, Gentlemen] – Alexander Lomonosov* (faixas: 1-21 to 2-16), Alexander Pekelis* (faixas: 1-21 to 2-16), Boris Druzhinin* (faixas: 1-21 to 2-16), Boris Tarkhov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [In Further Incidental Roles, Policemen] – Alexander Braim* (faixas: 1-21 to 2-16), Alexander Pekelis* (faixas: 1-21 to 2-16), Boris Druzhinin* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [In Further Incidental Roles, Students] – Alexander Lomonosov* (faixas: 1-21 to 2-16), Boris Druzhinin* (faixas: 1-21 to 2-16), Boris Tarkhov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [Krugel (Colonel)] – Nikolai Kurpe* (faixas: 1-1 to 1-20)
Tenor Vocals [The Nose] – Aleksander Lomonosov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [Valet Ivan (Kolyavov’s Waiter)], Tenor Vocals [[In Further Incidental Roles, Eunuch / Newcomers / Dandies] – Boris Druzhinin* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [Very High Tenor – District Constable)] – Boris Tarkhov* (faixas: 1-21 to 2-16)
Tenor Vocals [Yaryzhkin], Tenor Vocals [In Further Incidental Roles, Pyotr Fyodorovich / Old Man / A Colonel / Doorman Of The Police Inspector] – Alexander Braim* (faixas: 1-21 to 2-16)
Written-By [Libretto After The Eponymous Story By] – Nikolai Gogol* (faixas: 1-21 to 2-16)