Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Jobim, Krieger, Levy, Lorenzo Fernandez, Mignone, Nepomuceno, Pereira, Villa-Lobos: Danças Brasileiras (Minczuk)

Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Jobim, Krieger, Levy, Lorenzo Fernandez, Mignone, Nepomuceno, Pereira, Villa-Lobos: Danças Brasileiras (Minczuk)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Disco imperdível não apenas por ser brasileiro, mas pelo excelente repertório, pela qualidade da Osesp e pelo trabalho extraordinário do maestro Roberto Minczuk. Este panorama de Danças Brasileiras encontra seu ponto alto em Batuque, de Nepomuceno, na Congada de Mignone, no Batuque de Lorenzo Fernández, na bartokiana Passacalha de Edino Krieger, n`A Chegada Dos Candangos de Tom Jobim e em Mourão, de Clóvis Pereira e Guerra Peixe. Mas o restante não é esquecível. Gravado em 2003, este álbum é muito divertido, oferecendo músicas que são tocadas ocasionalmente, mas que raramente são reunidas para produzir uma hora de ritmos.  Algumas peças são desconhecidas. Por exemplo, A Chegada dos Candangos é um trecho da Sinfonia da Alvorada, uma das obras orquestrais negligenciadas de Tom Jobim.

Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Jobim, Krieger, Levy, Lorenzo Fernandez, Mignone, Nepomuceno, Pereira, Villa-Lobos: Danças Brasileiras (Minczuk)

1 Garatuja – Prelúdio
Composed By – Alberto Nepomuceno
8:55
2 Batuque
Composed By – Alberto Nepomuceno
3:39
3 Samba
Composed By – Alexandre Levy (2)
7:03
4 Dança Frenética
Composed By – Heitor Villa-Lobos
5:34
5 Congada
Composed By – Francisco Mignone
5:49
6 Batuque
Composed By – Oscar Lorenzo Fernández
3:54
Três Danças Para Orquestra
Composed By – Mozart Camargo Guarnieri
(8:48)
7 Dança Selvagem (Savage Dance) [No. 2] 1:43
8 Dança Negra (Negro Dance) [No. 3] 4:42
9 Dança Brasileira (Brazilian Dance) [No. 1] 2:13
10 Passacalha para o Novo Milênio
Composed By – Edino Krieger
7:07
11 A Chegada Dos Candangos
Composed By – Antonio Carlos Jobim
4:01
12 Mourão
Composed By – Clóvis Pereira, César Guerra Peixe
3:03

Conductor – Roberto Minczuk
Orchestra – Osesp — São Paulo Symphony Orchestra

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

PQP

.: interlúdio :. Nara Leão : “10 anos depois” (o mais clássico do mais clássico da Bossa Nova)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 19/10/2013.

Mesmo que só 9 das 24 faixas tenham letra de Vinicius de Moraes, este álbum me parece perfeitamente adequado numa celebração do seu centenário: afinal, ele foi uma das pessoas de maior participação no universo que gerou este gênero de “poemúsica”, embora mais tarde tenha tenha estado envolvido com outros gêneros que se poderiam dizer “menos clássicos”.

Para registro: os outros letristas são, por ordem de quantidade: o próprio Tom (4); Chico Buarque e Newton Mendonça (3 cada); Aloysio de Oliveira (2); Ray Gilbert, Dolores Duran e Johnny Alf (1 cada). Quanto à música, é maciçamente de Tom Jobim (19), complementada por Carlos Lyra (3), Baden Powell e Johnny Alf (1 cada).

Mas, neste álbum, o que mais me instiga a comentar é a cantora mesmo – e começo por dizer que no geral não sou muito chegado a cantores/as de voz pequena e monotímbrica, que com muita frequência dão a impressão de uma voz “engolida”, além de não facilitarem a compreensão das palavras. E confesso que demorei a perceber, mas esse definitivamente não é o caso de Nara Leão!

Tenho a impressão de que se alguém quisesse mostrar o que uma melodia é e expressa em si, apenas em sendo melodia, sem lhe acrescentar nada com efeitos de dinâmica e timbre, não haveria voz melhor que a de Nara para isso. Também se quisesse apresentar a poesia verbal associada à melodia com absoluta inteligibilidade, e na expressão mais simples possível que ainda seja tocante.

Limpidez. Nitidez. Expressão dosada em miligramas, que – uma vez o ouvido desiste de esperar arroubos e se conforma com o minimalista, o discreto – passa a parecer mais expressiva que aquela dosada em quilos. Uma sofisticação tão elevada que até parece absoluta simplicidade. Assim eu “ouvejo” o canto de Nara Leão desde que, aos 40 anos, um aluno de 17 ficou fascinado com a primeira gravação dela que ouviu, e me fez parar pra ouvir.

Por isso tenho esse canto na conta de clássico, num certo sentido no termo – e por isso também me parece especialmente chocante a pouca atenção que o país vem dando ultimamente a Nara, mais valorizada hoje em gravações e em páginas da net de outros países, de modo que não me parece supérfluo relembrar um pouquinho da sua vida e carreira.

Nara estaria com 71 anos se um câncer não nos a tivesse roubado aos 47 ( e “no-la” é a pqp, senhores puristas!). Nascida precisamente na cidade de onde escrevo (Vitória, ES) mas criada no Rio, aos 14 a garota começou a ter aulas de violão – e os pais tiveram o bom-senso de não recusar acolhimento ao pessoalzinho que começou a visitá-la pra papear e fazer som. Diz a lenda que foi no apartamento da adolescente Nara que a bossa nova nasceu. Na verdade não foi só lá… mas que ele fez sua contribuição significativa, isso fez.

Nara gravou pela primeira vez aos 19, em 1961 – e logo depois abraçou com paixão a política de esquerda, e a arte como instrumento dessa política, tornando-se “a musa da canção de protesto”, sobretudo a partir de 1964. Com tudo o que aconteceu nos anos seguintes, não é de estranhar que em 1971 estivesse em Paris, como “tanta gente que partiu” – isso quando não foi partida. E foi em Paris que gravou esta espécie de tributo aos primeiros anos da bossa nova, comemorativo também dos seus 10 anos de carreira – e em seguida parou de gravar por seis anos, dedicando-se “apenas” a cuidar dos filhos e a um doutorado em psicologia – até ficar sabendo, aos 35, que tinha um tumor cerebral. Reagiu como? Voltando a gravar e a se apresentar com afinco, como se quisesse deixar o mais que pudesse de coisas bonitas no mundo, nos doze anos que ainda viveu. Como se vê, não foram só as melodias que Nara soube percorrer com uma espécie de… grandeza sutil.

As primeiras 12 faixas do álbum são só de voz e violão (a primeira com um efeito um tanto estranho de playback, que parecia estar na moda explorar), enquanto as demais 12 trazem arranjos camerísticos, jamais desrespeitosos do volume da voz de Nara, assinados por Roberto Menescal, Luiz Eça e Rogério Duprat. Com o detalhe: voz e violão foram gravados em Paris, os demais instrumentos (inclusive um cravo!) no Brasil.

Querem saber de uma coisa? Frente a uma artista tão minimalista e sutil, já estou falando demais. Deixo-vos é com a própria.

Nara Leão: Dez Anos Depois (1971)

Disco 1, lado A
01 Insensatez (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
02 Samba de uma nota só (Tom Jobim – Newton Mendonça)
03 Retrato em branco e preto (Tom Jobim – Chico Buarque)
04 Corcovado (Tom Jobim)
05 Garota de Ipanema (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
06 Pois é (Tom Jobim – Chico Buarque)

Disco 1, lado B
07 Chega de saudade (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
08 Bonita (Tom Jobim – Ray Gilbert)
09 Você e eu (Carlos Lyra – Vinícius de Moares)
10 Fotografia (Tom Jobim)
11 O grande amor (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
12 Estrada do sol (Tom Jobim – Dolores Duran)

Disco 2, lado A
13 Por toda minha vida (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
14 Desafinado (Tom Jobim – Newton Mendonça)
15 Minha namorada (Carlos Lyra – Vinícius de Moraes)
16 Rapaz de bem (Johnny Alf)
17 Vou por aí (Baden Powell – Aloysio de Oliveira)
18 O amor em paz (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)

Disco 2, lado B
19 Sabiá (Tom Jobim – Chico Buarque)
20 Meditação (Tom Jobim – Newton Mendonça)
21 Primavera (Carlos Lyra – Vinícius de Moraes)
22 Este seu olhar (Tom Jobim)
23 Outra vez (Tom Jobim)
24 Demais (Tom Jobim – Aloysio de Oliveira)

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Ranulfus

[restaurado por Vassily em 23/3/2023 como saudosa homenagem ao mestre Ranulfus e ao Dia Internacional da Mulher]

.: interlúdio :. O Fino da Bossa : show Teatro Paramount, 1964 : noneto Oscar Castro Neves & outros

o-fino-da-bossa-1964 CAPA-LP-1989Dia desses, garimpeiros que encontraram no blog uma postagem antiga do colega Bluedog reabriram a conversa sobre a extraordinária música instrumental que tomou forma no Brasil na década de 1960 – o que nos motivou a revalidar aqui aquela postagem, do Quarteto Novo.

E a audição do Quarteto Novo me remeteu inevitavelmente a este outro disco, que eu já vinha planejando digitalizar e postar: ele contém um terço do que foi apresentado no histórico show de 25 de maio de 1964 no antigo Teatro Paramount em São Paulo (hoje Teatro Renault), inaugurando o nome “O Fino da Bossa”, que de 1965 a 67 seria aplicado ao programa comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues, transmitido ao vivo desse mesmo teatro pela TV Record.

Como (quase) todo mundo sabe, a bossa nova emergiu entre 1957 e 59 (ao mesmo tempo que o rock’n’roll nos EUA, e este que vos escreve naquele faroeste que era então o Paraná) de todo o caldo de cultura dos anos 50, sobretudo por obra de um bruxo chamado João Gilberto, e foi imediatamente amplificada por uma juventude universitária antenada no que rolava “lá fora” mas suficientemente inteligente pra perceber a imensa riqueza e valor da herança cultural brasileira, e ater-se a ela como fundamento da sua criação, por multi-informada que fosse.

O famoso show no Carnegie Hall (NY, 21.11.1962) ficou como marco da explosão internacional da bossa, que se tornou um dos estilos mais ouvidos no mundo pelo resto da década. Complexados que somos, só depois disso a bossa ganhou um grande teatro no Brasil – ainda por meio de uma juventude universitária suficientemente abastada para abrir suas portas de cristal (Faculdade de Direito do Largo São Francisco – quem sabe um pouco sobre São Paulo entende).

O show aconteceu mês e meio depois do golpe de 64. O sucesso estrondoso fez a bossa ganhar espaço privilegiado na tevê pelos anos seguintes, virando trincheira de resistência nacionalista e de esquerda ao mesmo tempo em que tensionava sua base carioca-boa-vida com o influxo nordestino (vide faixa 8) – com surpreendente penetração e ressonância popular até nos interiores distantes (acreditem: eu vi), mesmo com a promoção paralela da Jovem Guarda como estratégia de despolitização da juventude – até que foi varrida da tevê por obra do golpe-dentro-do-golpe (1969), altura em que já tinha se transformado no campo multiforme e complexo que ganhou o rótulo MPB.

Foi no meio disso tudo que ainda floresceu uma espantosa safra de instrumentistas e arranjadores, como os que ouvimos no Quarteto Novo e ouviremos neste disco aqui, dominado por um sujeito chamado Oscar Castro Neves.

Pra mim essa riqueza é descoberta recente: em 1964 eu tinha só 7 anos; passei a adolescência pensando que bossa era música fútil de sala de espera – o que realmente chegou a ser na sua diluição internacional. Até hoje tendo a ver a bossa pura como uma espécie de piso Haydn-Mozart a partir dos qual se ergueria uma ousadia beethoveniana, no caso a da santíssima trindade Caetano-Chico-Mílton e outros deuses em torno… E talvez tenha sido justamente o encontro com os 10 minutos de timbres e texturas que este Oscar Castro Neves arranca com seu noneto de Berimbau, de Baden e Vinícius (faixa 9), o que me fez finalmente entender a declaração solene do próprio Caetano: “o Brasil ainda precisa merecer a Bossa Nova”.

Só que, estranhamente, pouco depois grande parte desses instrumentistas e arranjadores – como o Airto Moreira do Quarteto Novo, Eumir Deodato, Sérgio Mendes, o próprio Oscar Castro Neves – foram parar na Califórnia, onde vieram a fazer parte do clube dos arranjadores mais bem pagos dos EUA – mas aí sua produção musical logo deixou de ser convincente para ouvidos brasileiros. Suas tentativas de referência ao Brasil foram ficando constrangedoramente inautênticas.

O que no meu ver pode colocar em questão a tese do colega Bluedog naquela outra postagem: a de que o “jazz nordestino” poderia ter ganho o mundo: em certa medida ele até ganhou, mas… de repente pareço ouvir uma ressonância irônica e lúgubre da frase dos evangelhos: de que adianta ao homem ganhar o mundo e perder sua alma?

Enfim: o disco que vocês vão ouvir tem meninas que cantavam com charme mas com vozes pequenas e pouco seguras – como muitas que surgiram na última década, me fazendo pensar se isso pode ser característico de momentos de transição estilística… Tem Paulinho Nogueira mostrando impecavelmente que a geração bossa não necessariamente rejeitava a tradição… Tem Jorge Ben(jor) ainda lutando pra cantar com o R de língua, não carioca, que era exigido pelo rádio (!) até começo dos anos 60 (herança do estado Novo?). E tem Rosinha de Valença extraindo tamanha ginga e intensidade de seu violão, que eu tendo a considerar a faixa 5 o ponto alto do disco – mais ainda que os já mencionados dez minutos do Oscar.

E por falar no Oscar (Castro Neves), por mais que tenha procurado, não consegui encontrar os nomes dos integrantes do seu noneto. Será que algum dos leitores pode ajudar a matar a charada?

O FINO DA BOSSA
LP de 1964, contendo cerca de 1/3 da gravação ao vivo do show
“O Fino da Bossa”, promovido pelo Centro Acadêmico XI de Agosto (da faculdade de direito da USP) no Teatro Paramount de São Paulo, na noite de 25 de maio de 1964.

  • 01 Onde Está Você? (Luvercy Fiorini / Oscar Castro Neves)
    Alaíde Costa, voz; Oscar Castro Neves Noneto – 03’51
  • 02 Garota De Ipanema (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
    Zimbo Trio = Amilton Godoy, piano;
    Luiz Chaves, contrabaixo; Rubens Barsotti, bateria – 04’18
  • 03 Pot-pourri:
    – Gosto Que Me Enrosco (Sinhô = José Barbosa da Silva)
    – Agora É Cinza (Bide = Alcebíades Maia Barcellos /
    Marçal = Armando Vieira Marçal)
    – Duas Contas (Garoto = Aníbal Augusto Sardinha)
    – Bossa Na Praia (Geraldo Cunha / Pery Ribeiro)
    Paulinho Nogueira, violão – 04’07
  • 04 Tem Dó (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
    Ana Lúcia, voz; Oscar Castro Neves Noneto – 02’57
  • 05 Consolação (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
    Rosinha de Valença, violão; Oscar Castro Neves Noneto? – 06’26
  • 06 Chove Chuva (Jorge Ben / Benjor)
    Jorge Ben (Benjor) – 03’39
  • 07 Desafinado (Newton Mendonça / Tom Jobim)
    Wanda Sá, voz; Oscar Castro Neves Noneto – 03’38
  • 08 Maria Moita (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
    Nara Leão – 01’59
  • 09 Berimbau (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
    Oscar Castro Neves Noneto – 10’18

Lançamento original em vinil: 1964.
Digitalizado em 2016 por Ranulfus & Daniel the Prophet
a partir do relançamento de 1989 em vinil,
comemorativo de 30 anos de Bossa Nova

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Ranulfus