Venho acompanhando a carreira do pianista Jean-Efflaim Bavouzet há algum tempo, desde que iniciou o projeto de gravar a obra de Claude Debussy, sempre contratado pelo selo inglês Chandos. Fiel à gravadora, também já gravou Ravel, Schumann, Bártok, Haydn, Charles Ives, Mozart, entre outros, sempre com sucesso de crítica e de público. Com certeza, é um dos principais pianistas da atualidade.
Esse seu projeto beethoveniano iniciou-se em 2012 e foi concluido em 2016. Vou trazê-lo em três etapas, cada uma delas com três cds.
Vamos então ao que viemos. Creio que as obras não precisem ser apresentadas, afinal nosso colega Vassily Genrikovich vem fazendo um trabalho fantástico no Projeto Beethoven 250 anos.
PIANO SONATAS, VOLUME 1
CD ONE
Sonata, Op. 2 No. 1 in F minor
1 Allegro
2 Adagio
3 Menuetto. Allegretto – Trio – Menuetto D.C.
4 Prestissimo
Sonata, Op. 2 No. 2 in A major
5 Allegro vivace
6 Largo appassionato
7 Scherzo. Allegretto – Minore – Scherzo D.C.
8 Rondo. Grazioso
4 Sonata, Op. 2 No. 3 in C major
9 Allegro con brio
10 Adagio
11 Scherzo. Allegro – Trio – Scherzo D.C. e poi la Coda – Coda
12 Allegro assai
CD TWO
Sonata, Op. 7 ‘Grande Sonate’ in E flat major
1 Allegro molto e con brio
2 Largo, con gran espressione
3 Allegro – Minore – Allegro D.C.
4 Rondo. Poco allegretto e grazioso
5 Sonata, Op. 13 ‘Grande Sonate pathétique’ in C minor
5 Grave – Allegro di molto e con brio – Tempo I – Allegro molto e con brio –
Grave – Allegro molto e con brio
6 Adagio cantabile
7 Rondo. Allegro
Sonata, Op. 14 No. 1 in E major
8 Allegro
9 Allegretto – Maggiore – Allegretto D.C. e poi la Coda – Coda
10 Rondo. Allegro comodo
Sonata, Op. 14 No. 2 in G major
11 Allegro
12 Andante (La prima parte senza replica)
13 Scherzo. Allegro assai
CD THREE
Sonata, Op. 10 No. 1 in C minor
1 Allegro molto e con brio
2 Adagio molto
3 Finale. Prestissimo
Sonata, Op. 10 No. 2 in F major
4 Allegro
5 Allegretto
6 Presto
Sonata, Op. 10 No. 3 in D major
7 Presto
8 Largo e mesto
9 Menuetto. Allegro – Trio – Menuetto D.C., ma senza replica
10 Rondo. Allegro
11 Presto, WoO 52 in C minor
Original third movement discarded from Sonata, Op. 10 No. 1
Presto – Trio – Presto D.C.
12 Prestissimo in C minor Original Finale, with longer development, of Sonata, Op. 10 No. 1
Reconstructed by William Drabkin
Amo os Concertos para Piano de Chopin. Tenho por eles muito carinho, e sempre que posso, os ouço. Eles tem uma incrível capacidade de me relaxar, mesmo sabendo de todas as críticas que se fazem deles, principalmente relativo à sua orquestração, calcanhar de Aquiles de Chopin, de acordo com algumas críticas, com as quais não concordo, mas, e daí que não gostem? Eu gosto.
Escolhi esta dupla também por ter um carinho muito grande por eles. Tanto Kristian Zimerman quanto o maestro Carlo Maria Giulini me agradam muito pela sensibilidade de suas interpretações. Sentimos que eles não tem pressa, a música flui facilmente, sem grandes obstáculos, há uma cumplicidade entre os músicos, então isso nos permite uma audição sem maiores sobressaltos, ainda mais em se tratando destes Concertos.
Lembro de ter postado uma outra gravação destes Concertos com o mesmo Kristian Zimerman, porém ali ele atua tanto como regente quanto solista, registro bem mais recente (1999), creio que o link já deva ter expirado. Neste CD que ora vos trago, temos um jovem pianista, cheio de gás e energia, querendo mostrar serviço, gravando ao lado de um dos grandes maestros do século XX.
O que mais admiro nesta gravação é a maturidade com que Zimernan encara o concerto, ele tinha apenas 22 anos na época desta gravação, porém alguns anos antes, vencera o Concurso Internacional Frederic Chopin, em sua Polônia natal. Ou seja, mesmo sendo tão jovem, já era veterano nos palcos.
Então vamos ao que viemos. Vamos voltar quarenta anos no tempo, lá para 1978, e admirar dois grandes músicos, um já veterano, outro ainda em início de carreira.
01. Piano Concerto No. 1 in E minor op. 11 – I Allegro maestoso
02. Piano Concerto No. 1 in E minor op. 11 – II Romanze. Larghetto
03. Piano Concerto No. 1 in E minor op. 11 – III Rondo. Vivace
04. Piano Concerto No. 2 in F minor op. 21 – I Maestoso
05. Piano Concerto No. 2 in F minor op. 21 – II Larghetto
06. Piano Concerto No. 2 in F minor op. 21 – III Allegro vivace
Kristian Zimerman – Piano
Los Angeles Philharmonic Orchestra
Carlo Maria Giulini – Conductor
A estonteante violinista espanhola Leticia Moreno não é apenas mais um rostinho bonito contratada pela poderosa Deutsche Grammophon. Ao contrário, é uma excepcional musicista, com uma técnica muito apurada, e não teme em encarar o genial Piazzolla neste espetacular CD, lançado em 2017. Mostra ao que veio com muita competência, e principalmente, ainda mais em se tratando do argentino, sensibilidade.
Já discutimos em outras ocasiões que Piazzolla exige sangue, suor e lágrimas. E a espanhola nos deixa literalmente arrepiados com sua performance. Ela conta com a cumplicidade do excelente Andrés Orozco-Estrada, jovem maestro colombiano / austríaco, que vem apresentando um trabalho muito consistente, que aqui está a frente da Filarmônica de Londres, orquestra que dispensa maiores apresentações.
Podemos classificar facilmente este CD como IM-PER-DÍ-VEL. Vale cada minuto de sua audição.
01. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Verano Porteño
02. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Otoño Porteño
03. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Invierno Porteño
04. Cuatro Estaciones Porteñas – Arr. Desyatnikov Primavera Porteña
05. Oblivion (Bandoneon Part Transcribed For Violin)
06. Concierto Para Quinteto (Guitar Part Transcribed For Harp)
07. Adios Nonino (Guitar Part Transcribed For Harp)
08. Le Grand Tango (Arranged For Violin And Piano)
09. La Muerte Del Ángel (Guitar Part Transcribed For Harp)
10. Milonga Del Ángel (Guitar Part Transcribed For Harp)
Leticia Moreno – Violin
Remy van Kesteren – Harp
Pablo Manetti – Bandoneon
Jose Gallardo – Piano
Janne Sakssala – Double Bass
Por algum motivo inexplicável resolvi começar o dia ouvindo Pergolesi. Talvez motivado pela rotina que vivemos nos últimos meses, presos por um medo de algo invisível ao olho humano, mas tão letal … a humanidade está vivendo um período difícil, talvez um dos mais difíceis já enfrentados na sua história. Mesmo com todo o desenvolvimento da ciência, da tecnologia, estamos sempre com medo do próximo, não podemos nos aproximar dos nossos seres queridos.
Nunca deixo de me surpreender que, ao ouvir o “Stabat Mater” de Pergolesi, o compositor tenha morrido com apenas 26 anos de idade. Que profundidade de sentimentos para alguém tão jovem. Sim, porque esta sua obra prima provavelmente é o mais belo ‘Stabat Mater’ já composto, me perdoem Vivaldi dentre outros compositores que viveram na mesma época. Nunca deixo de me emocionar quando o ouço.
Esta gravação que ora vos trago não é tão recente, 2010, para ser mais exato, mas não deixa de ser menos bela. A mezzo soprano Bernarda Fink e a soprano Anna Prohaska dão um banho de interpretação, nos deixando ainda mais atônitos com a beleza da obra.
1 I. Duo: Stabat mater dolorosa
2 II. Aria (soprano): Cujus animam gementem
3 III. Duo: O quam tristis et afflicta
4 IV. Aria (alto): Quae moerebat et dolebat
5 V. Duo: Quis est homo, qui non fleret
6 VI. Aria: Vidit suum dulcem natum
7 VII. Aria (alto): Eja, mater, fons amoris
8 VIII. Duo: Fac, ut ardeat cor meum
9 IX. Duo: Sancta mater, istud agas
10 X. Aria (alto): Fac, ut portem Christi mortem
11 XI. Duo: Inflammatus et accensus
12 XII. Duo: Quando corpus morietur – Amen
Anna Prohaska – Soprano
Bernarda Fink – Mezzo Soprano
Akademie für Alte Musik Berlin
Sem querer, descobri uma grande falha em nossa coleção, e se trata exatamente deste disco, gravado lá em 1969 por dois dos maiores músicos do século XX, Herbert von Karajan e Mstislav Rostropovich. Em hipótese alguma esta gravação histórica poderia estar faltando aqui. As Variações Rococo, esta mesma leitura de Rostropovich, até apareceu em outra série, dedicada a Tchaikovsky, mas não o Concerto de Dvorák.
Estamos aqui tratando simplesmente uma das melhores gravações já realizadas tanto do Concerto quanto das Variações. O tempo já se encarregou de consagrá-las, e as sucessivas reimpressões desde então são outra prova de sua importância. Os alemães da DG não podem estar tão errados.
Com certeza, este seria um dos discos que eu levaria para uma ilha deserta. Quem não conhece, por favor, baixe. O que Rostropovich faz aqui é algo de outro mundo, coisa de gênio, poucos músicos atingiram tal nível de excelência.
1 Cello Concerto In B Minor, Op.104, B. 191 – 1. Allegro
2 Cello Concerto In B Minor, Op.104, B. 191 – 2. Adagio ma non troppo
3 Cello Concerto In B Minor, Op.104, B. 191 – 3. Finale (Allegro moderato)58
4 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Moderato assai quasi andante
5 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Tema: Moderato semplice
6 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione I: Tempo del Tema
7 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione II: Tempo del Tema
8 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione III: Andante sostenuto
9 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione IV: Andante grazioso
10 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione V: Allegro moderato
11 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione VI: Andante
12 Variations On A Rococo Theme, Op.33, TH.57 – Variazione VII e Coda: Allegro vivo
Mstislav Rostropovich – Violoncelo
Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan – Conductor
Um disco delicioso, ideal para estes dias frios aqui do sul. Porque ele traz o calor dos cabarés alemães às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Sempre fui fã do Kurt Weill, já há algum tempo pretendia postar alguma coisa dele, mas outros projetos sempre me tomavam o tempo. Ontem de noite, para variar tentando dar uma geral no meu acervo de cds, encontrei este, escondido. Já fazia bastante tempo que eu não o ouvia.
Anne-Sophie von Otter está em seu elemento natural cantando estas canções. E Sir John Elliot Gardiner pode surpreender a alguns menos acostumados ao seu talento e versatilidade, mas para mim ele soa natural. Já ouvi estas canções com diversos acompanhamentos, desde pequenos grupos de jazz, ou pequenos conjuntos orquestrais, ou apenas um piano, mas nunca antes com uma Orquestra completa. Diria que Gardiner realça a musicalidade das obras, deixando um pouco de lado seu aspecto mais teatral. Mas como estamos ouvindo, e não assistindo, creio que sua escolha foi acertada.
Espero que apreciem. Confesso que andei meio depressivo em minhas últimas postagens, principalmente com o Pergolesi, mas este CD ajuda a levantar a auto-estima.
Kurt Weill (1900-1950): Speak Low (von Otter / Gardiner)
1. Introduktion: Andante sostenuto “Meine Schwester . . .
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
2. Faulheit: Allegro vivace “Müssiggang ist aller Laster”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
3. Stolz: Allegretto, quasi andantino “Als wir aber”
4. Zorn: Molto agitato “Das geht nicht vorwärts”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
5. Völlerei: Largo “Das ist ein Brief aus Philadelphia”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
6. No.5 Unzucht “Und wir fanden einen Mann in Boston”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
7. Habsucht: Allegro giusto “Wie hier in der Zeitung”
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
8. Neid: Allegro non troppo “Und die letzte Stadt”
Anne Sofie von Otter, James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
9. Epilogue “Darauf kehrten wir zurück nach Lousiana”
Lady in the Dark
tran. Chris Hazell/Tony Burke
10. 3. My Ship
11. One Life to Live
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
12. Buddy on the Nightshift
13. Nannas Lied
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Happy End (1929)
tran. Chris Hazell/Tony Burke
14. 1. Bilbao Song
15. 2. Surabaya Johnny
16. Das Lied von der harten Nuss (Song of the Big Shot)
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
17. Je ne t’aime pas
18. Schickelgruber
19. Der Abschiedsbrief
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
One Touch of Venus
20. Foolish Heart
21. Speak Low
22. I’m A Stranger Here Myself
Anne Sofie von Otter, NDR-Sinfonieorchester, John Eliot Gardiner
Anne Sofie von Otter
James Sims, Karl-Heinz Lampe, Christfried Biebrach, Frederick Martin
Bengt Forsberg
NDR-Sinfonieorchester
John Eliot Gardiner
Fiz questão de deixar em tamanho grande a imagem da capa deste CD, pois a achei muito bonita,mais um detalhe a a destacar neste belíssimo CD duplo, gravado ao vivo, que traz dois dos maiores pianistas da atualidade tocando juntos.
Chick Corea dispensa apresentações, é uma lenda viva do piano no Jazz. Hiromi Uehara, ou simplesmente Hiromi, representa o frescor da juventude, mas, apesar da cara de moleque, e de se vestir como uma adolescente rebelde, já completou 40 anos, só que a gravação deste show aconteceu lá em 2009, ou seja, a moça ainda estava entrando nos seus trinta anos. Já tive a oportunidade de trazer em outra ocasião trouxe dois outros cds dela tocando com antigos parceiros do próprio Chick Corea: Lenny White e Stanley Clarke, turminha que arrasava lá dos anos 70, em um super grupo que se chamava Return to Forever. Quem não conhece, sugiro procurarem maiores informações.
Neste belíssimo e delicadíssimo CD, a dupla desfila seu talento interpretando canções famosas, que vão da nossa dupla Tom Jobim / Vinícius de Moraes (How Insensitive, ou traduzindo, Insensatez), passando por Beatles (Fool on the Hill) e obras já clássicas do próprio Chick Corea, passando por Bill Evans, Gershwin, Thelonius Monk além de peças da própria Hiromi.
Chick Corea & Hiromi Uehara: Duet
CD 1
1 Very Early
Written-By – Bill Evans
2 How Insensitive
Written-By – Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes
3 Déjà Vu
Written-By – Hiromi Uehara
4 Fool On The Hill
Written-By – John Lennon, Paul McCartney
5 Humpty Dumpty
Written-By – Chick Corea
6 Bolivar Blues
Written-By – Thelonious Monk
CD 2
1 Windows
Written-By – Chick Corea
2 Old Castle, By The River, In The Middle Of A Forest
Written-By – Hiromi Uehara
3 Summertime
Written-By – DuBose Heyward, George Gershwin, Ira Gershwin
4 Place To Be
Written-By – Hiromi Uehara
5 Do Mo [Children’s Song #12]
Written-By – Chick Corea
6 Concierto De Aranjuez/Spain
Written-By – Chick Corea, Joaquín Rodrigo
Anatole Fistoulari foi um maestro ucraniano que viveu 88 anos, entre 1907-1995, e foi, mesmo que por um curto período, genro de Gustav Mahler, apesar deste já ter falecido há bastante tempo quando se casou com Anna Mahler, sim, ele também foi genro de Alma Mahler, figura ímpar na história da cultura vienense. Sugiro aos senhores a leitura de um livro chamado ‘Viena Fin-de-Siecle’, para melhor conhecerem o ambiente em que Alma e Gustav viveram, sempre cercados dos maiores intelectuais do século que acabava e do século que se iniciava. Também existe uma biografia dela, que creio que esteja com edição esgotada.
Foi um maestro que fez considerável sucesso ali na metade do século, e gravou muito. Este disco que ora vos trago, foi recém lançado pela DECCA, gravado há quase sessenta anos, entre 1961 e 1963, devidamente remasterizado, e mostra todo o talento e versatilidade de Fistoulari frente a duas das melhores orquestras do mundo, a do Concertgebow de Amsterdam, fama que ele ajudou a construir e Sinfônica de Londres, que também dispensa apresentações.
Aliás, gosto muito desse repertório (quem não gosta?), temos excelentes gravações destas obras que já foram postadas por aqui, mais uma não vai ter maiores problemas. Afinal, senhores, tratam-se dos balés de Tchaikovsky. Nestes sombrios tempos em que estamos vivendo, serve para alegrar e animar o dia.
São dois CDs, mas por preguiça, o ripador original colocou em apenas um arquivo. Divirtam-se.
Disc: 1
1. 1-13 Swan Lake, Op. 20 (Highlights)
Royal Concertgebow Orchestra
Anatole Fistoulari – Conductor
Já faz algum tempo que não trago as Sinfonias de Brahms, obras pelas quais sou absolutamente apaixonado. E o responsável desta vez é o maestro Rafael Kubelik, um dos grandes nomes da regência do Século XX, frente à fabulosa Orquestra da Rádio Bávara, é coisa finíssima, vale a pena ouvir.
Talvez Kubelik não carregue tanto na dramaticidade de outras interpretações, principalmente de Herbert von Karajan e seus Berliners. Brahms é um compositor que exige muito do maestro, não apenas no fator físico, com certeza deve ser muito cansativo reger a Primeira Sinfonia, por exemplo, mas principalmente na intensidade que algumas de suas obras requerem. Li em algum lugar que o início desta Primeira Sinfonia com aqueles tímpanos marcando fortemente era uma representação do destino batendo à nossa porta. Metáforas à parte, eu jamais iria criticar um maestro do nível do Kubelik.
Já discutimos estas sinfonias em outras ocasiões aqui no PQPBach, sugiro procurarem estas postagens para maiores informações sobre as obras. Não canso e nunca cansarei de repetir que Karajan é o meu regente favorito neste repertório, mas impossível não se render ao talento de outros gigantes, como Furtwangler, Toscanini, Szell, e Rafael Kubelik, nas duas ocasiões em que este gravou a integral, esta do selo Orfeo de 1983, e outra com a Filarmônica de Viena, gravada anteriormente lá em 1965, meu ano de nascimento.
Espero que apreciem. Eu gostei muito, a tenho ouvido com frequência.
CD 1
01. Un poco sostenuto – allegro
02. Andante sostenuto
03. Un poco allegretto e grazioso
04. Adagio – piu andante
CD 2
01. Symphony No. 2 in D major (I) Allegro non troppo
02. Symphony No. 2 in D major (II) Adagio non troppo
03. Symphony No. 2 in D major (III) Allegro grazioso
04. Symphony No. 2 in D major (IV) Allegro con spirito
CD 3
01. Allegro con brio
02. Andante
03. Poco Allegretto
04. Allegro
05. Allegro non Troppo
06. Andante Moderato
07. Allegro Giocoso – Poco Meno Presto
08. Allegro Energico e Passionato – Piu Allegro
Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunk
Rafael Kubelik – Conductor
Comecei ouvindo Keith Jarrett ainda na minha adolescência, com o excepcional ‘Nude Ants’, que comprei despretensiosamente em um sebo de Curitiba. Não sabia o que esperar. Conhecia seu trabalho solo, principalmente o ‘Köln Concert’, hoje já considerado um dos maiores discos de improviso do Jazz de todos os tempos. Fiquei impressionado com a energia que saia de seu piano, e como ele se entregava na hora de tocar. Poucos músicos são tão expressivos quando Keith Jarrett. Seu gestual corporal é único, como se retorce, faz caretas, geme, enfim, uma catarse total a cada interpretação. Em um primeiro momento podemos achar exagerado, mas quando conseguimos captar a essência da música, entendemos que o que ocorre ali é único. Nunca mais ouviremos a mesma música da mesma forma.
Quando se reuniu ao baixista Gary Peacock e ao baterista Jack DeJohnette, a integração foi total. Já perdi a conta de quantos discos eles já lançaram, mas vou fazer esta pesquisa. Esses caras tocam juntos há muito tempo, e são verdadeiros mestres em seus instrumentos. Então, repito o que escrevi acima, nunca mais ouviremos a mesma música da mesma forma, e aí está a genialidade do(s) improvisador (es).
As capas minimalistas da ECM escondem tesouros por trás delas. Este disco que ora vos trago foi gravado em Oslo, Noruega, em 1989, pouco mais de trinta anos se passaram, e muita coisa aconteceu neste vasto mundo desde então. Mas mesmo assim, é incrível como ele é moderno em sua essência. Faixas como ‘Just in Time’ nos mostram um verdadeiro embate entre gigantes, o piano de Keith Jarrett, o contrabaixo de Gary Peacock e a máquina de ritmo chamada Jack DeJohnette.
Sempre recomendo um bom fone de ouvidos para se ouvir estes discos. Assim os senhores podem prestar atenção aos detalhes, fundamentais em um disco em que se improvisa 99% do tempo.
Portanto, podem se deliciar. É papa finíssima.
01 – All Of You
02 – Little Girl Blue
03 – Just In Time
04 – Old Folks
05 – Love Is A Many-Splendored Thing
06 – Dedicated To You
07 – I Hear A Rhapsody
08 – How About You
Keith Jarrett – Piano
Gary Peacock – Bass
Jack DeJohnette – Drums
Amo as Sonatas para Violoncelo de Brahms. Já as ouvi inúmeras vezes, com os mais diversos intérpretes, mas essa aqui era uma novidade para mim até pouco atrás, e olha que este registro foi realizado lá em 1999, o ano em que o mundo iria acabar, de acordo com alguns fatalistas e algumas previsões baseadas em Nostradamus. Bem, o mundo não acabou, mas digamos que não foi por falta de oportunidade.
Mas o que nos interessa aqui é este belo CD da jovem dupla Anne Gastinel & François-Frederic Guy, que nos trazem uma interpretação mais que convincente destas duas obras primas do repertório, dois petardos que exigem muito dos músicos, é música que tem de ser tocada com a alma e com o coração. São lindíssimas, sofridas, amargas em alguns momentos. Se não me engano quem me as apresentou foi Janos Starker / György Sebök, um registro antigo, porém maravilhoso, uma das melhores gravações já realizadas destas obras, realizadas lá no ano de meu nascimento, 1965. Não podemos esquecer Rostropovich / Serkin, que também tem outro registro histórico destas obras.
Anne Gastinel tinha 28 anos na época em que gravou esse CD e Guy, nascido em 1999, tinha apenas 20 anos de idade na época desta gravação. Gastinel já era uma musicista experiente, madura, e é exatamente essa maturidade que me surpreende nestas gravações, em se tratando de músicos tão jovens. Seu parceiro na empreitada, François-Frederic Guy, fornece todo o suporte para ela desfilar todo o seu talento. Claro que o piano não cumpre apenas a função de acompanhante, mas também de solista. Mas não esperem um duelo entre as partes, ao contrário, sente-se que existe uma cumplicidade entre os dois. Posteriormente, os dois se juntaram novamente para gravarem as Sonatas de Beethoven, série que pretendo trazer logo, logo, dentro das comemorações dos 250 anos de nascimento do compositor.
Então vamos ouvir o que a juventude tem a nos dizer a respeito destas obras?
P.S. Uma curiosidade: Anne Gastinel se utiliza aqui nestas gravações de um instrumento que pertenceu ao lendário violoncelista catalão Pau Casals.
01. Brahms – Cello Sonata No.1 in E minor, Op.38 – I. Allegro non troppo
02. Brahms – Cello Sonata No.1 in E minor, Op.38 – II. Allegretto quasi menuetto
03. Brahms – Cello Sonata No.1 in E minor, Op.38 – III. Allegro
04. Brahms – Cello Sonata No.2 in F major, Op.99 – I. Allegro vivace
05. Brahms – Cello Sonata No.2 in F major, Op.99 – II. Adagio affettuoso
06. Brahms – Cello Sonata No.2 in F major, Op.99 – III. Allegro passionato
07. Brahms – Cello Sonata No.2 in F major, Op.99 – IV. Allegro molto
Anne Gastinel – Cello
François-Fréderic Guy – Piano
Espetacular CD dessa exímia e extraordinária violinista, em um repertório montado para ela mostrar a que veio. Não sobra pedra sobre pedra.
Com o perdão do exagero, este talvez seja o melhor disco que ela gravou em toda sua carreira, daqueles que servem para mostrar que ela não era apenas mais um rostinho bonito. Os destaques são, é claro, as obras de Pablo de Sarasate, que ela toca com uma perícia e uma técnica absolutamente estonteante. A “Tzigane” de Ravel, também é imperdível, mostrando como Mutter definitivamente não temia desafios, alíás, até hoje não os teme. Ela passa da loucura de Sarasate para a delicadeza de Wieniawski, para logo em seguida nos levar ao devaneio de Massenet na “Meditation de Thais”, e à descontrução da “Carmen” de Bizet que Sarasate promoveu, enfim, ela transita nesse repertório incrível com a segurança e firmeza tipica dos grandes mestres.
Para ouvir e ouvir e ouvir e ouvir sem cansar.
1. Sarasate: Zigeunerweisen, Op.20
2. Wieniawski: Legende, Op.17
3. Tartini: Sonata For Violin And Continuo In G Minor, B. g5 – “Il trillo del diavolo”
4. Ravel: Tzigane, M.76
5. Massenet: Thaïs / Acte Deux – Meditation
6. Sarasate: Carmen Fantasy, Op.25 – Introduction. Allegro Moderato
7. Sarasate: Carmen Fantasy, Op.25 – 1. Moderato
8. Sarasate: Carmen Fantasy, Op.25 – 2. Lento assai
9. Sarasate: Carmen Fantasy, Op.25 – 3. Allegro moderato
10. Sarasate: Carmen Fantasy, Op.25 – 4. Moderato
11. Fauré: Berceuse, Op.16
Anne-Sophie Mutter – Violin
Wiener Philharmoniker
James Levine – Conductor
Sim, eu sei, estou chegando um pouco atrasado nestas comemorações aos 210 anos de aniversário de Robert Schumann. Estive enrolado em outros projetos, e o dia a dia no serviço também me estressa bastante, por isso me afastei um pouco.
Minha contribuição será bem simples, mas de coração: Claudio Arrau tocando a Fantasia op. 17, dentre outras obras do mesmo compositor, senhores, que coisa mais linda. Não é a toa que é considerado um dos maiores pianistas do século XX. Esse registro é lá dos anos 60, a gravação ainda não é digital, mas mesmo assim, é impecável, um grande trabalho dos engenheiros da PHILIPS. Facilmente classificável com o selo de ‘IM-PER-DÍ-VEL’ do PQPBach.
01. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Thema
02. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Var. I
03. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Var. Il
04. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Var.Ill
05. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Cantabile
06. Variations sur le nom d’Abegg, op. 1 – Finale alla Fantasia
07. Papillons, op. 2
08. Fantaisie en ut majeur, op.17 – Il tutto fantastico ed appasionato
09. Fantaisie en ut majeur, op.17 – Moderato con energia
10. Fantaisie en ut majeur, op.17 – Lento sostenuo
11. Nachstücke, op. 23 – Mehr langsam, oft zur ck haltend
12. Nachstücke, op. 23 – Markiert und lebhaft
13. Nachstücke, op. 23 – Mit grosser Lebhaftigkeit
14. Nachstücke, op. 23 – Einfach
Fiz uma pausa nas postagens dessa série da nossa amada Martha Argerich em seu Festival de Lugano para dar lugar às comemorações dos 210 anos de nascimento de Robert Schumann. Hoje trago mais um volume, mais três CDs que mostram todo talento e versatilidade desta excepcional artista.
Não preciso dizer o quanto Martha ama Schumann, tanto que temos aqui no primeiro CD a belíssima Sonata nº 2 para Violino e Piano, acompanhando o violinista Renaud Capuçon. Outro momento a destacar é sua parceria com o ex marido pianista Stephen Kovacevich, tocando uma peça de Mozart.
Mas o mais belo, lírico e pungente é o terceiro CD, onde abre tocando seu conterrâneo Piazzolla, em versões matadoras para dois pianos, claro que ele não poderia faltar, assim como Ravel. Martha distribui o repertório desta série entre seus convidados, alguns conhecidos, outros desconhecidos, dando chance e permitindo que sejam conhecidos.
A relação dos músicos envolvidos está no booklet em anexo.
Vamos ao que viemos?
CD 1
01. Variations (5) on an original theme for piano, 4 hands in G major, K. 501
02. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 1. Ziemlich langsam – Le
03. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 2. Sehr lebhaft
04. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 3. Leise, einfach
05. Sonata for violin & piano No. 2 in D minor, Op. 121- 4. Bewegt
06. Piano Quintet in D major, Op. 51- 1. Allegro moderato
07. Piano Quintet in D major, Op. 51- 2. Andante con variazioni
08. Piano Quintet in D major, Op. 51- 3. Scherzo- Allegro vivace
09. Piano Quintet in D major, Op. 51- 4. Allegro moderato
10. Scherzo for 2 pianos, Op. 87
CD 2
01. Piano Trio No. 1 in C minor, Op. 8
02. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 1. Barcarolle
03. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 2. La Nuit
04. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 3. Les Larmes
05. Suite No. 1 (-Fantaisie-tableaux-) for 2 pianos in G minor, Op. 5- 4. Pâques
06. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 1
07. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 2
08. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 3
09. Concertino for piano, 2 violins, viola, clarinet, horn & bassoon, JW 7-11- 4
10. Slavonic Dance No. 1 for piano, 4 hands in C major, B. 78-1 (Op. 46-1)
11. Slavonic Dance No. 12 for piano, 4 hands in D flat major, B. 145-4 (Op. 72-4)
12. Slavonic Dance No. 7 for piano, 4 hands in C minor, B. 78-7 (Op. 46-7)
13. Slavonic Dance No. 10 for piano, 4 hands in E minor, B. 145-2 (Op. 72-2)
CD 3
01. Tres minutos con la realidad, tango
02. Oblivion, tango
03. Libertango, tango
04. Introduction & Allegro for harp, flute, clarinet & string quartet
05. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 1. Verano porteño
06. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 2. Otoño porteño
07. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 3. Invierno porteño
08. Cuatro estaciónes porteñas (The Four Seasons), tango cycle- 4. Primavera porteña
09. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 1. Maestoso
10. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 2. Tranquillo
11. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 3. Tempo di marcia – Andante
12. Fantasia elvetica (-Swiss Fantasy-), for 2 pianos & orchestra- 4. Tempo di polka – Piú vivo – Allegro
É desnecessário tecer maiores comentários sobre estes trabalhos de Keith Jarrett. Já me considero suspeito para falar o óbvio ululante, de que é um gênio, que tudo o que toca vira ouro, sei lá que outras redundâncias poderia citar. Prefiro deixar que os senhores, se quiserem, tirem suas conclusões. Ouço essa turma já há quase quarenta anos, e ao contrário de muitas outras coisas que comecei a ouvir na época, e que hoje me parecem datados, sempre que ouço essa turma ouço de outra forma, e faço novas descobertas. Parecem camadas sobrepostas, a cada audição tiramos uma daquelas camadas e descobrimos outras possíbilidades por baixo.
Keith Jarrett, em minha modesta opinião, alcançou um nível de excelência que poucos músicos alcançaram. De sua geração, poderia citar Chick Corea e Herbie Hancock, músicos que começaram praticamente juntos, talvez Hancock um pouco antes, todos excepcionais músicos, virtuoses, e revolucionaram a arte de tocar piano no Jazz, seguindo os passos de outros gênios do passado, como Monk, Bil Evans, Oscar Peterson, dentre outros que já se foram.
Neste CD, Jarrett e seu fiel escudeiro Gary Peacock se juntam a outra lenda, não, aqui não temos Jack de Johnette, e sim Paul Motian. O mesmo Paul Motian que fez parte de outro trio de Jarrett, com Charlie Haden.
Minhas próximas postagens no interlúdio serão dedicadas a esse cara. Não pretendo trazer tudo o que tenho dele, ficaria até o final do ano, apenas alguns discos que considero fundamentais, porém confesso que é muito difícil fazer essa seleção. Começo com essa pintura gravada na mítica casa de Jazz “Deer Head Inn”, na Pensilvânia. Espaço pequeno, porém aconchegante, que permite um grau maior de intimidade entre os músicos e o público.
Recomendo fortemente, acompanhado de uma garrafa de um bom vinho, ainda mais neste período de pandemia e de isolamento social.
01. Solar
02. Basin Street Blues
03. Chandra
04. You Don’t Know What Love Is
05. You And The Night And The Music
06. Bye Bye Blackbird
07. It’s Easy To Remember
Revirando o PQPBach, descobri que nunca postamos nada deste lendário grupo, o ‘The Modern Jazz Quartet’. Isso é absolutamente inadmissível, em se tratando de um blog que se propõe a pollinizar a blogosfera com talento, virtuosismo, com música de alto nível e de alta qualidade, e em se tratando destes quatro camaradas, sofisticação. Vou tentar suprir esta falta trazendo o disco que me apresentou eles, já há algumas décadas, duas ou três, não tenho certeza. Era a banda favorita de um grande amigo, que aliás, me apresentou este disco, e que considerava o que de melhor havia de se produzido em se tratando de jazz. E é difícil não concordar com ele.
Este título, na verdade, é uma pegadinha. Não foi a última apresentação deles. Na verdade a banda realmente se separou por alguns anos, mas voltaram a gravar e se apresentar até 1997. Na verdade, eles encerraram sua longeva carreira lá em 1985, onze anos após este registro que ora vos trago. Não por acaso, este disco duplo está na lista dos 1000 mais importantes álbuns da história do Jazz. Nunca houve um grupo tão coeso e tão unido quanto o Modern Jazz Quartet. O que dizemos do Beaux Arts Trio podemos facilmente atribuir a estes quatro excepcionais músicos: a facilidade com que eles tocam juntos, tudo flui belo, uno, e essa é a melhor definição para eles: a capacidade de tocarem como se fosse apenas um só. Milt Jackson é um monstro no vibrafone, mas não estamos tratando aqui de certos músicos que fazem tudo rodar ao seu redor: não, aqui é diferente, antes de tudo, se pensa no grupo. Ouçam o clássico ‘Roun´ Midnight’, e me digam se não é uma das mais belas versões desta obra imortal.
Este disco também me traz boas lembranças, dos tempos em que o ouvi pela primeira vez, ainda estudando na Universidade. Espero que apreciem.
CD 1
01 – Softly As In A Morning Sunrise
02 – The Cylinder
03 – Summertime
04 – Trav’lin’
05 – Blues In A Minor
06 – One Never Knows
07 – Bags’ Groove
CD 2
01 – Confirmation
02 – ‘Round Midnight
03 – Night In Tunisia
04 – The Golden Striker
05 – Skating In Central Park
06 – Django
07 – What’s New
The Modern Jazz Quartet:
John Lewis – Piano
Milt Jackson – Vibraphone
Perci Heath – Bass
Connie Kay – Drums
De acordo com a Wikipedia, Lugano é uma cidade com 65 mil habitantes, localizada no Sul da Suíça, um local paradisíaco, ao lado de um lago absolutamente magnífico.
Foi ali que Martha Argerich organizou por muitos anos um Festival de Música, revelando muitos músicos talentosos, e outros já famosos aproveitaram para desfilarem ainda mais seu talento.
A série começa com o genial Trio para Piano ‘Ghost’ de Beethoven, belamente interpretado por Martha, o Capuçon violinista, Renaud, e Mischa Maisky, que dispensa apresentações. Músicos deste nível tocando juntos, em um lugar como este, com certeza seria o passeio dos sonhos de muita gente.
CD 1:
Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Trio in D major “Ghost”, Op. 70,1
Ferruccio Busoni (1866-1924) / Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
Fantasie für eine Orgelwalze, arrangement for 2 pianos in F minor (after Mozart, K. 608)
Robert Schumann (1810-1856):
Andante and Variations for 2 pianos in B flat major, Op. 46
Kinderszenen, Op. 15
Martha Argerich – piano
Lilya Zilberstein – piano
Gabriela Montero – piano
Renaud Capuçon – violin
Mischa Maisky – cello
CD 2:
Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Piano Quartet No. 2 in D major, WoO 36,2
Maurice Ravel (1875-1937):
Ma mère l’oye, suite for piano 4 hands
Mikhail Glinka (1804-1857):
Grand Sextet for piano, two violins, viola, cello and double-bass
Olivier Messiaen (1908-1992):
Theme and Variations, for violin & piano
Maurice Ravel (1875-1937):
Daphnis et Chloé, suite No. 2 (transcr. 2 pianos Lucien Garban)
Martha Argerich – piano
Alexander Mogilevsky – piano
Karin Lechner – piano
Francesco Piemontesi – piano
Sergio Tiempo – piano
Lucia Hall – violin
Alissa Margulis – violin
Lida Chen – viola
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Mark Drobinsky – cello
Enrico Fagone – double bass
CD 3:
Béla Bartók (1881-1945):
Violin Sonata No.1 Sz75
Ernő von Dohnányi (1877-1960):
Piano Quintet No.1 in C minor, op.1
Witold Lutosławski (1913-1994):
Variations on a Theme by Paganini for 2 pianos
Martha Argerich – piano
Nicholas Angelich – piano
Mauricio Vallina – piano
Renaud Capuçon – violin
Dora Schwarzerg – violin
Lucia Hall – violin
Nora Romanoff-Schwarzberg – viola
Jorge Bosso – cello
A dupla FDPBach / Ammiratore orgulhosamente apresenta mais uma postagem em parceria, e de uma das mais belas óperas já compostas, “Tristão e Isolda”, de Richard Wagner(1813-1883).
Poucas obras me impressionaram tanto em uma primeira audição quanto a abertura de “Tristão und Isolda”, uma das peças mais dramáticas, doloridas e belas já escritas na História da Música. Tive uma relação bem pessoal com essa ópera, foi a obra que me acompanhou em algumas ressacas por amor não correspondido. Quem nunca sofreu por um amor não correspondido? Ainda mais naquela fase confusa de nossas vidas chamada Adolescência.
Os anos passaram, a idade chegou, junto com os primeiros cabelos brancos, mas o impacto da obra continua o mesmo. Definitivamente, é uma obra atemporal.
Ammiratore, com seu incrível arsenal discográfico (confessou que tem dezessete gravações dessa ópera) escolheu a dedo quais iria postar. Dei minhas sugestões, sempre lembrando dos medalhões wagnerianos, aquelas gravações jurássicas, como René Denon as caracteriza. Dada a complexidade da discussão, na qual se discute qual é a melhor Isolda ou o melhor Tristão, se Furtwangler é superior a Karajan, se a gravação ao vivo em Bayreuth é mais impactante do que em estúdio, enfim, são tantas as variáveis que optamos em trazer várias opções, seguindo estas mesmas possibilidades. Na verdade, este vem sendo o mote destas postagens wagnerianas, oferecer várias possibilidades de interpretação. Deixamos a cargo dos senhores escolher qual a que mais lhes satisfaz.
Esta ópera que é uma das mais belas realizações deste gênero é um marco dentro da história da música ocidental. Wagner criou um drama onde expõe de maneira simbólica os temas da própria criação humana: amor e morte, corpo e alma, determinismo e vontade – todos os contrários estão ai reunidos. A aspiração à morte libertadora, o culto à noite e a dissolução das almas na essência do universo. É uma obra com pouca movimentação cênica. Musicalmente é uma partitura de intenso lirismo e expressividade poética e é a mais ousada harmonicamente. A partir desta ópera o estilo de Wagner torna-se nitidamente contrapontístico, os temas se superpondo e se fundindo. “Tristan und Isolde” foi o divisor de águas entre a antiga e a nova harmonia, ao mesmo tempo, a porta de entrada para a atonalidade do século XX.
O casal Ludwig e Malwine Schnorr von Carolsfel em 1865
Baseando-se em uma antiga lenda medieval celta, escrita por Gottfried de Strasburgo no século XIII, o compositor criou o poema e musicou a ópera em praticamente três anos, a estreia da obra deu-se no Teatro da Corte de Munique, a 10 de junho de 1865 (a exatos 155 anos) com Hans von Bülow à frente da orquestra. Os primeiros Tristan e Isolda foram Ludwig Schnorr von Carolsfeld e sua esposa Malwine. Três semanas após a última apresentação da ópera, Ludwig morreu em Dresden. Muitos sentiram que a tensão do papel matou o cantor.
Depois de Lohengrin, ainda no exílio, entre 1851 e 1853, Wagner redigiu os libretos das quatro óperas que constituiriam a grandiosa tetralogia O Anel dos Nibelungos (Der Ring des Nibelungen), com base na mitologia germano-escandinava: O Ouro do Reno (Das Rheingdd), A Valqulria (Die Walküre), Siegfried e o Crepúsculo dos Deuses (Gotterdümmerung) . Nos anos seguintes, Wagner se ocuparia da elaboração da partitura das primeiras óperas que formam o ciclo do Anel, interrompendo esse trabalho em 1857, pois fervilhava em sua cabeça a música de “Tristan und Isolde”. Aliás, de 1854 até o final dessa década, Wagner viveria um período de grande agitação, tanto no plano intelectual e artístico – a descoberta da filosofia de Schopenhauer e das inovações harmônicas de Liszt – quanto no plano profissional, apresentando-se como regente em muitos concertos. No plano afetivo, por sua vez, Wagner iniciara, em 1853, um relacionamento com Mathilde Wesendonk, esposa de seu amigo e protetor Otto Wesendonk. Ao contrário da lenda, o envolvimento dele com Mathilde – mulher bela, sensível, culta e inteligente – não determinou a criação da partitura de “Tristan und Isolde”. Apenas funcionou como fonte de inspiração para o músico, dando-lhe forças para realizar seu trabalho criador. Wagner iniciou a elaboração de “Tristão und Isolda” em 1857, época em que fixou residência numa pequena casa construída especialmente para ele e Minna por Otto Wesendonk. Situada ao lado da mansão dos Wesendonk, em Zurique, era chamada carinhosamente de “refúgio” por Wagner. Ali compôs o primeiro ato de “Tristan” e musicou cinco poemas de autoria de Mathilde, peças que ficariam conhecidas sob a denominação de “Wesendonk Lieder“ e que, musicalmente pertencem ao universo sonoro da ópera.
Dom Pedro II
Durante estes difíceis tempos de exílio e perseguição política, quando o dinheiro era escasso e o incentivo para continuar apenas como compositor era difícil, muito antes de o rei Ludwig se apressar em seu socorro e, finalmente, assumir a responsabilidade financeira, o compositor também teve o apoio de outros membros da realeza na Europa e no Novo Mundo. Vocês sabiam que o Pedro II, sim o Imperador do Brasil, era um entusiasta ávido por Wagner e um amante da música? Dom Pedro escreveu uma carta a Wagner manifestando seu interesse por ele escrever uma ópera para a Companhia Italiana no Rio de Janeiro. A oferta estipulava que Wagner poderia pedir qualquer quantia que ele desejasse. Dom Pedro ofereceu a ele uma suíte em seu palácio quando foi exilado da Baviera, e em um apelo manuscrito levou o compositor a terminar “Tristan und Isolde”. Dom Pedro o convidou para vir ao Brasil para estrear o novo trabalho. A oferta era tentadora, mas Wagner previa que os cantores de ópera italianos que atuavam por aqui em terras Tupiniquins apresentassem de forma incorreta o tipo de drama musical que ele estava prestes a escrever. Ele recusou a oferta. No entanto, as aberturas amigáveis de Dom Pedro moldaram sua resolução de trabalhar seriamente em “Tristan und Isolde”. O rei Ludwig, é claro, acabou financiando a estreia no Teatro da Corte Real de Munique. A orquestra era tão grande que alguns dos assentos na frente do teatro tiveram que ser removidos para acomodar todos os músicos.
Ludwig II
Na nossa despretenciosa tentativa de meros blogueiros ser metidos a psicólogos, ao tentarmos descrever, dramaticamente, a paixão intensa entre Tristão e Isolda e o modo de como os amantes do drama só conseguiram realizar-se no amor através da morte, percebemos que Wagner mostra sua própria versão para as ideias de Schopenhauer. Não sendo puramente físico, o amor seria uma forma de ir além da existência sensível, além da vontade de viver. Pelo amor e pela morte da existência individual, o claro e o escuro, Tristão e Isolda encontrariam a pacificação da vontade. Eles negam um mundo em que o amor que sentem um pelo outro não pode ser realizado, negam as condições de um mundo que inviabiliza a paixão entre os dois. Emancipando-se desse mundo, eles dão um passo além da vida, superam a própria vida e se unem, com a dispersão de suas identidades, em uma realidade superior. Está claro que existe um amor físico entre Tristão e Isolda, no entanto, não haveria efetivamente uma oposição excludente entre sensualidade e espiritualidade. Tristão e Isolda não se libertam dos sentidos de uma forma castradora, o que acontece é uma transfiguração do amor físico, uma espécie de sublimação da sensualidade.
Alguns Causos
A edição de 5 de julho de 1865 do “Allgemeine musikalische Zeitung” relatou: “ Sem mencionar as palavras, é a glorificação do prazer sensual, é o materialismo incessante, segundo o qual os seres humanos não têm um destino mais elevado do que desaparecer em odores doces, como uma respiração…. (Wagner) faz da própria sensualidade o verdadeiro sujeito de seu drama … Pensamos que a apresentação do poema “Tristan und Isolde” no palco representa um ato de indecência. Wagner não nos mostra a vida de heróis das sagas nórdicas que edificariam e fortaleceriam o espírito de seu público. O que ele apresenta é a ruína da vida dos heróis através da sensualidade. A paixão é profana em si mesma e sua representação é impura, e por essas razões nos alegramos em acreditar que tais obras não se tornarão populares. Se eles o fizeram, estamos certos de que sua tendência seria maliciosa e, portanto, há motivos para felicitar o fato de a música de Wagner, apesar de toda a sua habilidade e poder maravilhosos, repele um número maior de pessoas do que as que ele fascina.”
Conta-se que horrorizados com o erotismo, os homens na estreia da ópera retiraram suas esposas do teatro, e um padre foi visto se benzendo antes de se retirar apressadamente da apresentação, coisa de louco meu, bah.
O maestro Bruno Walter ouviu seu primeiro “Tristan und Isolde” em 1889 quando estudante e relatou: “Então, lá estava eu sentado na galeria mais alta da Ópera de Berlim no auge dos meus 13 anos, e desde o primeiro som dos violoncelos meu coração contraiu-se espasmodicamente … Nunca antes minha alma foi inundada por tanta paixão, nunca meu coração foi consumido por tal desejo e felicidade sublime … Uma nova época havia começado: Wagner era meu deus, e eu queria me tornar seu profeta.” Parece que conseguiu né ?
O Enredo
Lugar: a bordo de um navio, Cornualha e Bretanha
Época: período medieval
Como descrito acima Wagner completou a partitura em 1859, mas seis anos transcorreram antes que essa grande obra-prima tivesse sua estreia. Após repetidos adiamentos, foi levada à cena sob a batuta do brilhante maestro, Hans von Bülow, diante do jovem Rei Ludwig II da Baviera, o protetor de Wagner, e de uma plateia de personalidades notáveis. Embora as avançadas ideias musicais de “Tristão” ficassem fora do alcance do público, que a ouviu pela primeira vez, e dos causos contados, a ópera foi entusiasticamente aplaudida. Representou antes um artístico triunfo do que um sucesso popular.
A belíssima introdução que todos os amantes da música conhecem mostra, de forma eloquente, diversos motivos musicais da ópera. Começa com os temas da confissão do amor e do desejo, depois constrói o motivo da magia do olhar. Aumentando de intensidade, a música apresenta os motivos do filtro do amor, da poção da morte e do cofre mágico até o motivo simbolizando o desejo dos amantes pela libertação através da morte. O primeiro tema é novamente entrelaçado quando a música constrói um tremendo clímax, após o qual desce até um meditativo restabelecimento do motivo do amor-sofrimento-desejo.
O desenvolvimento dos atos foram baseados no livro “As mais belas óperas do Milton Cross” e os trechos da tradução do poema foram retirados do incrível site “agrandeopera”.
Ato 01
O convés do navio, no qual Tristão está trazendo Isolda da Irlanda para ser a noiva de seu tio, o Rei Marke da Cornualha. Vemos um pavilhão real erguido perto da proa do navio. Está decorado com luxuosas tapeçarias e fechado ao fundo. A um lado há um leito, onde Isolda, com 16 ou 17 anos, está reclinada. Seu rosto exprime raiva e desespero. Ela irá casar-se com o rei Marke, numa solução, após guerra, de pacificação entre os dois países. Na verdade, nessa viagem, ela é mais uma prisioneira. Brangäne, de pé perto da abertura da cortina, está olhando para o mar.
Do posto de vigia do mastro vem a voz de um marinheiro entoando uma marcante cantiga acerca de uma jovem irlandesa que ele deixou para atrás. As palavras soam aos ouvidos de Isolda como um escárnio, e ela se ergue do leito com uma exclamação de enfado por causa daquele suposto insulto. Impaciente, ela pergunta a Brangäne quanto falta para chegarem. Quando a dama de companhia responde que o navio atracará na Cornualha à noite, Isolda se entrega a amargas reflexões. Ela, descendente de poderosas feiticeiras que podem comandar os elementos, tem de se contentar em preparar poções mágicas para curar seu mais cruel inimigo. Num assomo de raiva, ela invoca os ventos e as ondas para destruir o navio, e todos que estão nele. Também ela deixou uma paixão, e agora é obrigada a aceitar um casamento imposto. Brangäne, muito abatida, tenta acalmar a fúria de sua senhora. Isolda exclama que está ficando sufocada, e ordena a Brangäne que abra as cortinas.
Isolda – Raça degenerada! Indigna de seus antepassados! Aonde, mamãe, deixaste teu poder de dominar o mar e a tempestade? O’arte doméstica da magia, que somente bebidas balsâmicas ainda fabrica! Desperta de novo em mim o audacioso poder; emerge-o do meu peito, onde ele se esconde!. Ouvi meus desejos, hesitantes ventos! Apareçam para o conflito e bramem a tempestade! Às furiosas tormentas, um raivoso redemoinho! Levantem do sono este mar sonhador. Despertem do abismo sua ânsia trovejante. Mostrem-lhe a presa que eu ofereço. Destruam este arrojado navio, e deixem as ondas devorá-lo em fragmentos despedaçados. E tudo que vive, suspira e respira a bordo, ventos, eu vos dou como recompensa! Brangäne – Oh, desgraça! Ah! Ah! Aí tens o mal que eu pressenti, Isolda! Senhora! Caro coração! Que me tens ocultado por tanto tempo? Por teu pai e tua mãe, tu não derramaste uma lágrima. Quase não deste um adeus àqueles que abandonaste. Tu te separaste da Pátria, fria e muda; tu, sempre pálida e silenciosa, durante a travessia; sem dormir, sem tomar alimento, embirrada e infeliz, rude e inquieta. Como tenho de suportar ver-te assim; não ser mais nada para ti; comportar-me perante ti como uma estranha! Oh, dize-me agora, qual é o teu problema? Dize, abre-te comigo, o que te atormenta? Ama Isolda, graciosa e querida! Se Brangäne pode se considerar digna de ti, abra- te com ela! Isolda– Ar! Ar! O coração me sufoca. Abre! Abre tudo lá!
Uma grande parte do convés principal torna-se visível agora. Marinheiros estão entregues às suas tarefas; homens armados estão sentados por toda parte. Entregue a seus pensamentos, Tristão está afastado, olhando para o mar. Kurvenal está sentado perto dele. A voz invisível é ouvida outra vez, entoando sua cantilena com seu característico motivo marinho. Isolda fixa os olhos em Tristão, desdenhosamente notando que aquele fabuloso herói, que tem apenas a morte no coração, perde a coragem diante dela. O sombrio motivo da morte parece ameaçar suas palavras. Ela pede a Brangäne que informe a Tristão que deseja vê-lo, e que isso é uma ordem, não um pedido.
Com o motivo do mar soando em um ritmo forte e marcante na orquestra, Brangane temerosamente se aproxima de Tristão, que sai de seu devaneio por uma palavra de advertência de Kurvenal. Brangane dá-lhe o recado. Cortesmente, Tristão responde que, quando o navio ancorar, ele terá orgulho de ter cumprido sua tarefa e entregará Isolda ao Rei Marke. Acrescenta que, naquele momento, não pode deixar o leme. Asperamente, Kurvenal interrompe para observar que o cavalheiro Tristão não é um homem que possa receber ordens de uma mulher. Entoa um insolente refrão ( “Herr Morold zogzu Meere her ” ) , no qual, sarcasticamente, relata como Morold, o senhor irlandês que ia desposar Isolda, tentou cobrar tributo na Cornualha. Por causa desses desmandos, o bravo Tristão cortou-lhe a cabeça e mandou-a para a Irlanda, especificamente para Isolda. Os marinheiros repetem alegremente o refrão.
Kurwenal – Que diga isto à senhora Isolda! Aquele que dá a herança da Inglaterra e da Coroa da Cornualha à filha da Irlanda, não pode ser o vassalo da nobre donzela, pois que ele a deu, ele mesmo, ao seu tio. Um Senhor do Mundo, Tristão, o herói! Eu o proclamo: diga isto, mesmo que se ressintam com minhas palavras, até mil senhoras Isoldas! “Senhor Morold atravesse o mar até aqui e venha recolher tributo da Cornualha; uma ilhazinha flutua sobre o mar deserto, é aquela lá que dorme agora em terra, mas vossa cabeça remanesceu enforcada no país da Irlanda, como tributo pago pelo país dos Ingleses. Hei! Nosso herói Tristão, como podes pagar ainda tributo!
Raivosamente, Brangäne sai, enquanto Tristão tenta acalmar seu escudeiro. Fechando as cortinas atrás de si, Brangäne volta a entrar no pavilhão, relatando a Isolda a recusa de Tristão e o insulto de Kurvenal. Em fúria, Isolda lembra os fatídicos acontecimentos na Irlanda. Tristão, gravemente ferido na luta com Morold, foi à Irlanda para ser tratado pelas artes mágicas de Isolda. Ele se intitulou Tantris, mas Isolda logo descobriu sua verdadeira identidade. Ela notou que um pedaço fora perdido no fio da espada de Tristão, e que um fragmento do aço, tirado da cabeça de Morold, se encaixava exatamente na lâmina da espada. Assim, Isolda tirou a espada da mão do ferido Tristão, resolvida a matá-lo como vingança. Mas o cavalheiro olhou-a nos olhos, tirando-lhe a determinação de matar. Mesmo sabendo que estava em suas mãos eliminá-lo, não o fez porque, em verdade, já começara a se apaixonar por ele. Isolda restituiu a saúde do cavalheiro e mandou-o de volta para a Cornualha. Curado, Tristão confessou-se eternamente grato, e, lacônico, procurou não deixar escapar uma só palavra de simpatia, ternura e muito menos amor por Isolda, muito embora a apreciasse. Esse grande herói pagou o carinho dela, prossegue Isolda sardônica, voltando para levá-la como noiva para seu velho tio, o Rei Marke. Furiosa, Isolda reprova a si mesma por ter demonstrado piedade por Tristão.
Isolda – Eu entendi tudo; nenhuma palavra dele me escapou. Tu percebeste a minha vergonha, então ouve, agora, o que tem valor. Como eles riem e cantam suas canções para mim, eu poderei também lhes falar de um pequeno escaler, sem valor e necessitado, que vagueava nas costas da Irlanda. Ele lá tinha dentro, consumido pela enfermidade, um desafortunado em vias de morrer. A arte de Isolda foi dele conhecida; com unguentos e bálsamos, ela tratou com cuidado fielmente a ferida. Por precaução, ele usou de astúcia fazendo-se passar por Tantris, mas Isolda logo reconheceu que ele era Tristão, porque, na espada do enfermo, ela descobriu uma fenda, onde exatamente se ajustava um estilhaço que sua hábil mão havia achado há pouco na cabeça do cavaleiro da Irlanda, que ele lhe tinha enviado por desprezo. Um grito surgiu do mais profundo do meu ser. Empunhando a espada, na claridade, eu me armei diante dele, para nele vingar, nele o insolente, a morte do senhor Morold. De seu leito ele olhava tão-só para mim, não para a espada, não para a mão que a brandia no ar – ele me olhava ternamente nos olhos. Sua aflição me deu piedade e compaixão; a espada eu a deixei cair! A ferida que Morold havia feito, eu a curei, que ele são e saudável pode retomar para casa – e não fui mais atormentada pelo seu olhar! Brangäne – O prodígio! Onde estavam meus olhos? O hóspede, a quem uma vez eu ajudei a tratar?
Isolda – Tu acabas de ouvir sua louvação: “Ei, nosso herói Tristão” – Era esse homem, agora desapiedado. Ele me fez mil juramentos de reconhecimento e fidelidade eterna! Escuta agora como um herói tem palavra! O Tantris que eu deixei partir, sem querer o reconheço sob o nome de Tristão. Revejo-o aqui insolentemente, sobre um arrogante navio de alto bordo, ele demandando em casamento a herdeira da Irlanda para o rei cansado da Cornualha, para Marke, seu tio. Tivesse Morold vivido, teria ele ousado nos infligir tamanha afronta? Maquinar a coroa da Irlanda para um tributário, o príncipe da Cornualha! Oh, miséria para mim! Sou eu mesma que do fundo do coração sou atirada a esse ultraje. A espada vingadora, ao invés de a brandir e estocar, sem força, eu a deixei cair. E agora sirvo ao vassalo!
Brangäne tenta acalmar e consolar Isolda, dizendo que, como noiva do Rei Marke, será depois Rainha de um vasto reino. Isolda trai seus verdadeiros sentimentos quando fala do tormento de viver perto de Tristão um amor sem recompensa. A leal, mas ingénua Brangäne, percebendo que Isolda está preocupada com o sucesso de seu casamento, logo lhe assegura que os filtros mágicos feitos pela mãe de Isolda certamente trarão a felicidade conjugal.
Brangäne – Quando a paz, a reconciliação e a amizade são juradas para todos, cada um se regozija nesse dia; como eu poderia saber que tudo isso te levaria ao pesar? Isolda – Ó olhos cegos! Ó coração fraco! Mansa coragem, silêncio desalentado! Como outra pessoa Tristão se vangloria do que eu tinha ocultado! Aquela que em silêncio lhe havia dado a vida, que por seu silêncio o havia livrado da vingança do inimigo, este mutismo que o havia protegido por sua saúde, ele o sacrificou, e a ela agora paga esse preço. Arrogante de sua vitória, curado, magnífico, com voz clara e alta ele me descreveu: “Ela será um tesouro, meu tio e senhor. Que podeis melhor esperar para vossa esposa? A beleza irlandesa, eu vos trarei; atalhos e caminhos me são bem conhecidos; um sinal e eu corro velozmente à Irlanda. Isolda, ela vos pertencerá. A mim essa aventura sorri!” Maldito sejas tu, infame! Maldita seja tua cabeça! Vingança! Morte! Morte para nós dois!
Isolda, obcecada por pensamentos de vingança e morte, ordena a Brangäne que traga o cofre contendo os preparados de sua mãe. Ela pega o frasco de veneno e diz a Brangäne que é a única poção mágica que deseja. A ama fica apavorada. Enquanto isso, ouve-se um forte barulho no convés quando os marujos preparam o navio para atracar. Kurvenal irrompe no pavilhão, dizendo a Isolda que seu senhor pede-lhe que se apronte para saudar o Rei Marke. Friamente, Isolda retruca que, antes de Tristão levá-la ao Rei, deverá primeiro pedir desculpas pela sua conduta deplorável. Asperamente, Kurvenal promete informar Tristão a respeito.
Em grande desespero, Isolda pensa em suicídio. Fervorosamente, ela abraça Brangäne, para em súbita resolução, e depois ordena a Brangäne que prepare a taça de veneno. Diz que Tristão beberá com ela a bebida da morte. Quando Brangäne tenta dissuadi-la, Isolda responde com um terrível sarcasmo. Na verdade, diz ela, sua mãe lhe deixou úteis beberagens. Uma, mais do que todas, vai livrá-la de seu pior sofrimento: a poção da morte. Com crescente intensidade, Isolda canta o motivo da morte. Quando ela ordena a Brangäne que prepare a bebida, entra Kurvenal a fim de anunciar Tristão.
Isolda – Poupa-me tu mesma, serva infiel! Não conheces a arte de minha mãe? Pensas tu que ela, que so pesa tudo com sabedoria, me enviou contigo à terra estrangeira sem me dar conselho? Para a dor e feridas, ela me deu os bálsamos; para os venenos malignos, os contravenenos; para a mais profunda dor, para o mais profundo sofrimento, ela me deu o filtro da morte. Que com a morte, agora, lhe rendamos graças!
O motivo de Tristão soa na orquestra. Calmamente, o cavalheiro entra no pavilhão, saudando Isolda com as palavras “Nobre dama, o que deseja?” . Em resposta, Isolda observa rudemente que o nobre Tristão evidentemente esqueceu as principais regras da cavalaria: reparar os erros cometidos e perdoar seus inimigos. Lembra-lhe que o sangue derramado entre eles ainda não foi detido. Furiosamente, condena-o por seu leviano assassínio de Morold, e jura que ela ainda se vingará.
Tristão – Em campo aberto, na presença de todo o povo, um juramento de esquecimento e de paz entre nossos países foi celebrado! Isolda – Essa celebração, particularmente, não ocorreu entre nós, quando eu ocultei Tantris, e Tristão rendeu-se a mim. Lá ele se portou como um cavalheiro, sublime e coerente; mas, aquilo que ele jurou a mim, eu não o jurei: eu simplesmente aprendi a guardar silêncio. Quando ele ficou doente naquele tranquilo quarto, muda, com a espada à mão, eu me postei diante dele: eu segurei minha língua, eu retive minha mão… embora um dia com mão e boca eu tenha jurado em silêncio de o ter. E agora eu vejo a hora de por termo ao meu juramento. Tristão – Que juramento, Senhora? Isolda – De vingança por Morold!
Com grande dignidade, Tristão lhe oferece sua espada. Em gélido desdém, Isolda observa que o Rei Marke dificilmente receberia como noiva a assassina de seu mais caro cavalheiro. Então, fingindo esquecer pensamentos de vingança, pede a Tristão para beber a taça da paz com ela. O coro dos marinheiros quebra a atmosfera da cena. Com um gesto de impaciência, Isolda ordena a Brangäne que lhe traga a bebida. Suavemente, Tristão expressa seu pressentimento sobre o destino que espreita ambos naquela taça. Ele logo compreende que, na bebida, há veneno; com firme resolução, a aceita. Brangäne, naturalmente sem que Isolda o soubesse, em vez do filtro da morte pusera no vinho o filtro do amor. Isolda oferece-lhe a taça, dizendo sarcasticamente que Tristão agora poderá dizer a seu senhor que bebeu a taça da amizade com sua bela noiva, que lhe salvou a vida. Confuso e chocado, Tristão nervosamente grita uma ordem para os marinheiros, depois pega a taça. Com uma vibrante frase de desespero e resignação, ele bebe. Isolda espera um momento, depois arrebata-lhe a taça das mãos, bebe, e a atira longe. Ambos ficam parados como em êxtase, enquanto o tema de amor começa sussurrante na orquestra. Com a música crescendo em intensidade, olham um para o outro como enfeitiçados. Com gritos apaixonados, correm um para os braços do outro. De outra parte do navio vem um coro de marinheiros aclamando o Rei Marke. Brangäne, observando os enamorados, lamenta sua terrível astúcia de substituir a poção da morte pelo filtro d o amor. Esquecidos de tudo, Isolda e Tristão confessam seu amor um pelo outro.
Tristão – Isolda! Isolda – Tristão! Tristão – A mais doce das mulheres! Isolda – O mais querido dos homens! Ambos – Como nossos corações se excitam e fervem! Como todos os nossos sentidos estremecem de felicidade! Floração desabrochada do desejo do amor, ardor delicioso da languidez do amor. Desejo ardente jorrante do coração! Isolda! Tristão! Arrebatai o mundo todo aqui para mim! Eu não tenho consciência de mais nada, só de ti, suprema volúpia do amor!
Enquanto todos os homens a bordo aclamam o Rei Marke em um poderoso coro, Tristão continua inexplicavelmente olhando para as margens. Rapidamente, Brangäne coloca o manto real sobre os ombros de Isolda. Em súbito terror, Isolda lhe pergunta: “Ah ! Qual foi a poção?“. Quando Brangäne responde que foi a poção do amor, Tristão e Isolda gritam em uma mistura de êxtase e desespero.
Ato 02
O jardim do palácio do Rei Marke na Cornualha. A breve introdução e dominada pelo agitado tema da preocupação. É noite. Uma tocha brilha na entrada dos aposentos de lsolda, fora de um balcão ao fundo. Vê-se ao lado uma floresta escura, com grandes árvores no parque do castelo do rei. As trompas de caça do Rei Marke soam a distância. Brangane olha apreensiva para a floresta, depois se volta para a porta de entrada. lsolda entra agitada. Perdida de paixão, ela canta sua impaciência por estar nos braços de Tristão. Brangane, cheia de remorso e medo por causa de seu ato, em vão tenta trazer lsolda a razão. Adverte que Melot, cavaleiro do rei, embora passando por amigo, esta planejando alguma traição, e que aquela caçada é parte de seu plano diabólico, pois descobriu que a caçada não passa de um pretexto, arquitetado por Melot, apaixonado por Isolda, para surpreender Tristão em infidelidade ao Rei com a rainha. Mas lsolda ri de seus temores, e ordena-lhe que apague a tocha como um sinal de que Tristão está se aproximando. Quando Brangäne protesta, lamentando amargamente a troca da poção do amor, lsolda canta que foi o destino quem reuniu ela e Tristão. Impetuosamente, ela atira a tocha no chão, enquanto o tema da preocupação percorre a orquestra. Brangäne, perturbada e inquieta, sobe os degraus de uma torre, onde ficará de vigia, e avisara os amantes da volta do Rei Marke e seus caçadores.
Brangäne – Se o filtro pérfido de Mina (Frau Minne, personificação do amor na poesia germânica) extinguiu a luz de tua razão, se não podes compreender minhas advertências, escuta hoje, ao menos, minha súplica. Não apagues nesta noite, tão somente nesta noite, a tocha salvadora, a luz que ilumina o perigo. Isolda – A que inflama o fogo em meu peito, que abrasa meu coração e me sorri como a aurora que espera a alma; Senhora Mina quer que venha a noite para resplandecer ali, onde tu luz a afugentas… e tu a vigias! Vigia-a em alerta! A tocha – assim foi a luz de minha vida – não temeria extingui-la rindo!
lsolda olha arrebatada para as muralhas, e agita esperançosa seu lenço, enquanto o motivo do lenço simbólico acompanha seus movimentos. A música cresce selvagemente quando ela vê Tristão e o aponta em arrebatada excitação. Nesse ponto de clímax, entra Tristão. Eles se abraçam em grande êxtase e cantam, em tons exultantes, o milagre de seu amor. O arrebatamento de suas declarações apaixonadas gradualmente decresce. Lentamente, Tristão leva lsolda para um suave declive de relva. Olhando um nos olhos do outro, cantam o magnifico dueto de amor.
Isolda – Mas o dia, afugentado, se vingou, conjurando-te com tuas próprias culpas: o que te revelara assim a noite crepuscular, tiveste que entregá-lo ao astro do dia, para que sob seu poder real vivesses solitário e reluzente, com ermo esplendor. Ah, como pude suportá-lo! Como pude todavia conformar-me? Tristão – Oh, estávamos, pois, consagrados à noite! O pérfido dia, sempre invejoso, podia separar-nos com seus ardis, porém já não logrará enganar- nos com sua falácia. De seu vão fulgor, de seus altivos resplendores, defrauda- se a olhadela que se consagrou à noite. Seus fugitivos raios de luz tremelicantes já não podem cegar nossos olhos. Para quem ama a noite da morte, e recebe em confidência seu profundo mistério, se esfumam as mentiras do dia, a glória e a honra, a riqueza e o poder, deslumbrantes como o pó fugaz de um raio de sol. Entre M2 0 as vãs quimeras do dia, só prevalece um desejo: a aspiração à sagrada noite, em que sorri a verdade eterna e única, o êxtase do amor. Ó noite de arrebatamento que desce sobre nós, noite de amor. Isolda – O noite de encantamento que desce sobre nós, noite de amor, Tristão –Dá-me o esquecimento para poder viver. Isolda – Dá-me o esquecimento para poder viver. Tristão – Acolhe-me em teu seio. Isolda – Acolhe-me em teu seio. Tristão – Liberta-me do mundo! Isolda – Liberta-me do mundo! Tristão – Já se extinguiram os últimos fulgores; Isolda – Enquanto pensávamos, enquanto sonhávamos, Tristão – Tudo de nossas saudades, Isolda –Tudo de nossas imagens, Ambos – Pressentimento sublime do sagrado crepúsculo, anseio da ilusão, tu apagas o horror da loucura e nos libertas do mundo. Isolda – Se o sol se obscureceu em nossas almas, agora luzem sorridentes as estrelas do deleite. Tristão – Docemente enlaçados pelo seu encanto, transfigurados diante de seus olhos. Isolda– Meu coração no teu coração, minha boca na tua boca…
São interrompidos pela voz de advertência de Brangäne, vem da torre (“Solitária velo na noite! Vós outros, para quem sorri o sonho do amor, prestai ouvido à voz que pressagia a desdita dos adormecidos, e temerosa exorto-vos a despertar. Tende cuidado! Tende cuidado! Atenção! Alerta! Logo, logo, evade-se a noite!“). Outra vez ela avisa, e mais uma vez em vão. Tristão e Isolda prosseguem seu dueto. Na intensidade de sua paixão, gritam pela morte, de modo que possam ficar unidos para sempre, fora do alcance do mundo. A noite é de encantamento, propícia ao par de amantes, que maldizem o dia, quando não podem aparecer juntos.
Isolda – Deixa que a morte vença o dia! Tristão – Arrostaremos as ameaças do dia? Isolda – Evitar para sempre sua mensagem. Tristão – Sem que nunca nos angustie sua aurora? Isolda – Envolva-nos a noite por toda a eternidade! Tristão segura Isolda, abraçando-a com exaltação enquanto cantam em êxtase– Oh, doce noite! Eterna noite! Augusta e sublime noite de amor! Aquele a quem tu amparas e para quem sorris, como poderia despertar sem angústia fora de ti? Morte propícia, dissipa inquietudes e temores! Oh, morte de amor, ardentemente desejada! Recebemos o teu abraço, entregues a ti, ao calor do teu sagrado sono, redimidos das misérias do despertar. Como alcançá-lo? Poderíamos renunciar a tal delícia? Longe do sol, longe do lamento que geme no dia! Suave aspiração sem quimeras vacilantes, doce anseio sem angústia, sublime morrer sem agonia, benignas trevas sem enfraquecimento! Sem separação nem fuga, íntima solidão na morada eterna! Sobre-humanos sonhos através do infinito espaço! Tu, Isolda; eu, Tristão! Já não somos Tristão nem Isolda! Sem nomes que nos separem! Uma nova essência! Uma nova chama ardente!… Sem fim! Um só ser pela eternidade! Uma consciência! Um coração abrasado no supremo deleite do amor!…
A torrente da música de amor para subitamente no seu auge. Um ríspido acorde soa na orquestra. Brangäne grita de terror. Kurvenal corre, lançando um grito de advertência a Tristão. Depois, o Rei Markee seus caçadores, capitaneados por Melot, entram. Brangäne corre para o lado de Isolda. Tristão se levanta e fica de pé diante dela, escondendo-a com sua capa. Por um longo momento, ninguém se move nem fala, enquanto na orquestra se mesclam suavemente os motivos da transfiguração do amor e do amanhecer.
Tristão é o primeiro a quebrar o silencio, murmurando (“Pela última vez o dia esteril“). Melot exulta que sua astucia teve sucesso em surpreender os amantes. O Rei Marke se volta para Tristão com uma torrente de ásperas reprovações por ter traído sua amizade e sua honra. Em grande confusão, ele pergunta por que o destino se abateu tão duro sobre ele. Marke – Isto a mim, Tristão? Onde está a fidelidade, se Tristão me enganou? Que se fizeram da honra e da lealdade, posto que as perdeu Tristão, guardião de toda a honra. A virtude que o elegera por escudo, onde está ela então abalada, posto que ela se foi e com ela meu amigo, por quê Tristão me traiu? Com que finalidade os inumeráveis serviços, honras e glórias, grandeza e poderio por ti conquistados para Marke, se tão altos favores haveriam de ser pagos com tua afronta? Desdenhaste sua gratidão, já que tudo quanto o havias conquistado, fama e reino, te legava em herança e patrimônio!
Para essa pergunta, diz Tristão dolorosamente, não ha resposta. Pergunta a lsolda se ela está pronta a segui-lo a terra negra da Noite, para onde ele irá agora. Quando lsolda responde afirmativamente, Melot grita que ele vingara esse insulto final ao Rei. Sacando sua espada, desafia Tristão, que aceita com gélido desdém.
Melot – Ah, traidor! Vingança, Rei! Deves tu sofrer este ultraje? Tristão – Quem arrisca sua vida contra a minha? Este aqui era meu amigo e dizia que me amava muito e fielmente; com seu afeto por mim logrou conquistar-me como nenhuma fama e honras.. Impulsionava meu coração ao orgulho e guiou muita gente para me induzir a compelir-me a te buscar para desposar-te com o monarca, aumentou, assim, minha soberba gloriosa. Teu olhar, Isolda, também o deslumbrou…Ciumento, o amigo me traiu com o rei a quem eu atraiçoei! Defende-te, Melot!
Ele ataca Melot, mas depois deixa deliberadamente que seu adversário o fira. Kurvenal e lsolda correm para Tristão quando ele cai ao chão, enquanto o Rei Marke detém o feroz Melot. O motivo do Rei Marke é entoado enquanto a cortina se fecha.
Ato 03
O pátio rochoso do castelo de Tristão em Kareol, na Bretanha. Ao fundo há uma torre de vigia dominando a vista de uma vasta porção do oceano. Antes da cortina se abrir há um breve prelúdio, no qual o tema do sofrimento e do desejo se combina com o lamentoso lema da desolação. O prelúdio do terceiro ato nos envolve no ambiente da ação. Sua linha melódica grave, profunda, sombria e de desolação comove intensamente. Desde os primeiros compassos, a música lamenta a dor da solidão, o pranto da ausência, a nostalgia incurável. O primeiro violino, associado ao timbre das trompas canta um tema de índole muito diferente por sua ondulante e doce linha melódica, desenvolvida em progressão. E uma frase altamente expressiva, de agudo, de queixume e de dor. Ao extinguir-se a voz dos violinos, começa a melodia triste do pastor, larga frase de 42 compassos, desenvolvida pelo corne inglês, interno. Este amplo solo, sem harmonização alguma – como tampouco se achava harmonizada a canção do marinheiro, inicial do drama -, confiado ao timbre de queixume e rústico do instrumento que o executa, é todo poesia e desolação. Dor melancólica feito música, a alma da natureza triste, do romântico e abandonado castelo, do mar, da paisagem, da solidão.
Tristão, gravemente ferido, jaz num tufo de relva. Kurvenal está a seu lado, observando-o atentamente. De trás das muralhas vem o som triste e melancólico de uma flauta de um pastor. Logo depois, surge o jovem pastor e pergunta se Tristão ainda está adormecido. Kurvenal responde tristemente que acorda-lo será apenas trazer-lhe a morte. Pede ao pastor que vigie atentamente qualquer sinal de navio no horizonte e o informe mudando sua triste canção para tons alegres quando uma embarcação for avistada.
O Pastor – Kurwenal! Olá, Kurwenal! Diz- me, bom amigo! Se ele despertou? Kurwenal – Se ele despertasse só seria para nos abandonar para sempre…A menos que chegasse antes a única salvadora que pode socorrer-nos. Não tens visto nada ainda? Nenhum navio no mar? O Pastor – Outra melodia terias ouvido, a mais alegre que sei. Dize-me agora com franqueza, velho amigo, o que aconteceu a nosso senhor? Kurwenal – Não me perguntes! Nunca poderás sabê-lo…Vigia atento e se vires um navio toca uma melodia viva e alegre. O Pastor – Vazio, deserto está o mar!
Tristão volta a si, e em resposta as suas perguntas confusas Kurvenal explica como eles vieram até o castelo de Tristão, já que, após o duelo, ele transportou seu senhor para o navio que os trouxe para casa. Ali, na sua terra natal, assegura-lhe Kurvenal, seus ferimentos logo se curarão. Mas Tristão agora está delirando, chamando freneticamente por Isolda, e injuriando contra a luz do dia, a qual associa sua perdição.
Kurwenal – Ah, como vieste? Não foi a cavalo. Conduziu-te um barco e até ele foste em meus ombros. Amplas ainda são as costas que te levaram até à margem. Agora estás em tua propriedade, em tua verdadeira pátria, na terra natal, em teus próprios prados, no ditoso país, ensolarado pelo velho sol. Aqui sararás felizmente de tua ferida e escaparás da morte. Tristão – Assim o crês? Eu sei que será diferente, porém não posso explicar-te. Lá onde acordei eu não me detive, mas, onde me encontrei, não posso te dizer. Eu não vi o sol, nem terra, nem povo. Todavia o que eu vi eu não posso te dizer. Eu estive onde desde sempre eu estive, para onde eu ainda vou: ao vasto império da noite universal. Lá só se possui um conhecimento: o divino, o eterno e primitivo esquecimento. Como se desvaneceu tal presságio? Pressentimento do desejo, de novo me impeles até à luz do sol? Só conservo a ardente chama do amor que me impulsiona desde a sombra deliciosa da morte a contemplar a luz enganosa, clara e dourada, que brilha todavia para ti, Isolda! Isolda permanece, todavia, no reino do sol! Entre o fulgor do dia encontra- se ainda Isolda! Que desejo angustioso e ardente de vê-la! Então poderão fechar-se diante de mim as portas da morte, que agora se me abrem amplamente de novo. Elas surgiram sob os raios do sol! Com clara e desperta revista, surgindo da noite, hei de buscá-la, vê-la, encontrá-la.. Unicamente perecer e consumir-se nela, seja-o concedido a Tristão. Ai, sinto crescer em mim o tormento feroz do pálido, angustioso dia! Seu astro penetrante e falaz desperta meu cérebro ao engano, à ilusão! O’ dia! Malditos sejam teus resplendores! Velarás eternamente sobre minha tortura? Arderá para sempre a tocha que ainda na noite me afastava temerosamente dela? Ah, doce e terna Isolda! Quando, ai, quando extinguirás a tocha, anunciando-me a felicidade? Quando expirará a luz? Quando descerá a noite sobre tua morada?
Kurwenal – Aquela a quem eu ultrajei um dia, em razão da minha fidelidade a ti, anseio agora vê-la aqui, tanto quanto tu mesmo… Crê em minhas palavras. Aqui a verás, certamente ainda hoje. Se ainda vive, poderá oferecer-te esse consolo.
Tristão – Todavia não se extinguiu a luz! Ainda não penetrou a noite em tua morada! Isolda vive e vela! Chama-me desde o sono da noite!
Quando ele se acalma de novo, Kurvenal lhe conta que enviou um servo a Cornualha para trazer Isolda, pois ela já o curou uma vez e poderá fazer o mesmo agora. Em comoventes frases, Tristão expressa sua gratidão pela lealdade de Kurvenal, tendo compartilhado com ele alegria e dor, e até mesmo traição. Apenas uma coisa seu leal amigo não pode dividir com ele: o terrível sofrimento de amor no seu coração. Em fervorosa agitação, Tristão imagina que o navio de lsolda está se aproximando.
Kurwenal – Já que vives, deixa sorrir a esperança! Ainda que eu te pareça torpe, hoje não repreenderás Kurwenal.. Jazias como morto desde o dia em que te feriu o malvado Melot. Como curar a funesta ferida? Ainda ignorante, imaginei que quem soube fechar a chaga causada por Morold, curaria também a ferida aberta pela espada de Melot. Encontrei essa benéfica mão, a melhor médica, e enviei a Cornwall um homem fiel que em seu navio trará ainda hoje Isolda. Tristão – Isolda vem! Isolda chega! Oh, fidelidade nobre e sublime! Oh, Kurwenal, meu amado amigo de lealdade inquebrantável! Como poderá Tristão te agradecer? Eras meu escudo e muralha no combate, compartilhando sempre comigo sofrimentos e alegrias. Odiaste a quem me aborrecia, amavas a quem eu amava. Servi, solícito, ao bom Marke, e para ele foste mais fiel que o ouro. Traí o nobre senhor e tu logo o traístes sem vacilar. Não te pertences, és unicamente meu. Porém ainda que sofras se eu sofro, o que eu padeço agora não podes tu sofrê-lo. Oh, se eu pudesse dizer-te qual é o terrível desejo que me abrasa, a ardorosa languidez que me devora, se pudesses compreender tal martírio, não permanecerias aqui. Correrias, voando até a vigia, e ansioso, aguçando teus sentidos, espiarias o mar para divisar bem longe as velas que se inflamam ao vento, lá onde Isolda navega para chegar a mim, impulsionada pela ânsia abrasadora do amor! Avança até lá! Chega lá com intrépida rapidez! Ondeia o cortinado sobre o mastro! O navio, o navio! Roça os escolhos! Não o vês? Kurwenal, não o vês?
Tenta erguer-se, mas cai para trás exausto. Ouvindo o som sombrio da flauta do pastor, ele murmura que ouviu seu dobre de finados, da mesma maneira que na morte de sua mãe e seu pai, e que aquele refrão está entrelaçado com seu próprio destino. Outra vez, a loucura da dor toma conta dele e, num espasmo de angustia, amaldiçoa o filtro do amor. Gritando desesperado que o navio está se aproximando, implora a Kurvenal para chegar até a muralha. Quando Kurvenal, profundamente triste, tenta acalma-lo, o som da flauta do pastor muda para uma alegre e brilhante melodia. Trisão ordena-lhe que vá buscar Isolda.
Tristão – O navio. Não o vês ainda? Kurwenal – O navio? Certamente, já se aproxima; não tardará.. Tristão – Nele Isolda me saúda! Brinda amavelmente por nossa reconciliação! Não a vês ? Tu ainda não a vês? Como ela, feliz, majestosa e com doçura cruza os campos do mar! Suavemente vem luminosa para a terra, sobre afáveis ondas de deliciosas flores. Seu sorriso procura me dar consolo e doce repouso. Traz para mim o supremo bálsamo. Ah, Isolda! Isolda! Quão formosa és! E tu, Kurwenal, como não a vês? E a vigia acima, pícaro inútil! É possível que não percebas o que eu vejo tão claro e luminoso? Não me ouves? Pronto, sobe até a vigia! Estás já em teu posto? O navio! O navio de Isolda! Deves vê-lo! Não o vês ainda? Kurwenal – O’encanto! O’ alegria! O navio! Do norte eu o vejo aproximando-se! Tristão – Não o sabia? Não o disse? Que ela ainda vive, ainda tece para mim a vida? Como poderia falar-se Isolda fora do mundo, se todo este mundo é ela? Kurwenal – Ah, que valente navega o barco! Enchem-se suas velas com força poderosa! Como avança, veloz! Voa! Tristão – O pavilhão? O pavilhão? Kurwenal – A bandeira está flutuando no mastro, alegre e brilhante! Tristão – Da alegria! No dia luminoso, Isolda vem a mim. Tu próprio a vês?
Salvador Dali, 1944
Em um paroxismo de êxtase e dor, Tristão se ergue, arranca suas bandagens e tenta se firmar de pé. Surge lsolda, chamando por ele, enquanto o motivo do amor ardente soa em um grande crescendo. Tristão cai-lhe nos braços. Depois, ternamente sussurrando seu nome, ele morre. Isolda, atônita, ajoelha-se ao lado de seu cadáver. Amargamente, lamenta que a morte lhe tenha roubado a felicidade dessa união. Cai desmaiada ao lado de Tristão.
Isolda – Ah, Tristão! Tristão– Isolda! Isolda – Ah! Sou eu! Sou eu.. amadíssimo e dulcíssimo amigo! Levanta-te! Escuta mais uma vez minha voz! Isolda te chama! Isolda veio, fiel, para morrer com Tristão! Por que permaneces mudo para mim? Agora, uma hora; somente uma hora fica comigo desperto! Velei tantos dias angustiosos para velar contigo um instante! Enganará Tristão a Isolda, no momento supremo do eterno reencontro? Enganará Isolda, a enganará Tristão, nessa única e eterna brevidade, no último momento da felicidade terreal? A ferida! Onde está? Deixa-me curá-la, para compartir contigo as excelsas delícias da noite! Não! Não sucumbas a tua ferida! Não morras! Unamo-nos e extinga-se em nós juntos a luz da vida! Apagou-se tua vista? Rígido o coração! (Tristão infiel, por que me atormentas) Não é o fugitivo alento de um suspiro! Há de permanecer em tua presença, soluçando, quem cruzou o mar, intrépida, para desposar-se contigo no deleite? Demasiado tarde! Cruel, tão duramente me castigas? Sem piedade para minha dolorosa culpa? Só um instante, .um instante ainda! Tristão.. escuta.. desperta.. amado!
Kurvenal, que viu tudo, aterrado, é chamado à atenção pela advertência do pastor de que outro navio está chegando. Olhando para o mar, Kurvenal reconhece o navio do Rei Marke. Apressadamente, ele e o pastor tentam barricar o portão de entrada do pátio. Um momento depois, há uma confusão de sons, e o barulho de espadas debaixo da muralha. Ouve-se Brangäne chamando por Isolda. Melot se precipita, e Kurvenal o mata com uma estacada. Quando o Rei Marke e seu séquito retiram a barricada, Kurvenal ataca-o furiosamente. Enquanto eles estão lutando, Brangäne se dirige até Isolda. Logo depois, Kurvenal, fatalmente ferido, se arrasta até Tristão, e cai morto. O Rei Marke olha para a cena, murmurando tristemente.
Marke – Todos estão mortos! Meu Tristão! Meu herói! Amadíssimo amigo! Também hoje me atraicionarás quando venho demonstrar-te minha lealdade suprema? Desperta! Desperta aos meus lamentos!
Isolda volta a si. Brangäne explica-lhe que ela confessou ter trocado a poção do amor, e que, quando o Rei Marke ouviu sua história, veio a toda pressa da Bretanha para perdoar Isolda. Em tons patéticos, o Rei acrescenta que absolveu Tristão de qualquer culpa, e estava pronto a lhe dar lsolda como noiva. Mas, apenas a morte triunfou, exclama com tristeza e desespero.
Brangäne – Desperta! Vive! Isolda, escuta-me! Sabe qual é a expiação de minha culpa. Revelei ao Rei o segredo do filtro, e imediatamente, preso de inquietação, embarcou o soberano para alcançar-te, para renunciar a ti e conduzir-te para junto do teu amado.
Marke – Por quê, Isolda, desconfias de mim? Quando me foi revelado claramente o que eu não podia compreender, senti-me ditoso de falar ao meu amigo isento de culpa. Então, para enlaçar-te com o homem adorado, eu te segui a velas desdobradas. Porém quem trazia a paz não logrou deter a impetuosa fatalidade. Tão só pude aumentar a colheita da morte. A ilusão só fez aumentar a desdita!
Com os olhos fixos na face de Tristão, Isolda começa sua magnifica e comovente canção de adeus, o “Liebestod” (“Mild und Ieise wie er lachelt”). Enquanto ela proclama, em exaltação, a aproximação da morte, os temas da felicidade, da separação e da transfiguração surgem através da orquestra, levando a um clímax opressivo. Isolda cai sobre o corpo de Tristão, e os amantes se unem afinal na morte. O Rei Marke ergue as mãos abençoando a morte. A música morre nas cordas.
Isolda – Como é doce e delicado o seu sorriso! Seus olhos se entreabrem com ternura. Estão vendo, amigos? Não estão vendo? Como resplandece com luminosidade sempre mais viva! Como ascende irradiante, cercado de fulgurantes estrelas? Não o estão vendo? Como o seu coração se inflama, orgulhosamente, e pulsa-lhe no peito pleno e sublime? Como escapa delicadamente de seus lábios um doce suspiro de suave encanto? Oh, amigos, vejam-no! Não o sentem? Não estão vendo? Serei a única a escutar esta melodia que, maravilhosa e suave, suspirante de alegria, inteiramente reveladora, doce e conciliadora, dele se desprende e em mim penetra, cheia de ímpeto, ecoando sublime ao meu redor? Ondas vibrantes de brisas em luminosa efervescência, ondas de embriagadoras fragrâncias? Dilatando-se, envolvendo-me em suaves murmúrios para abranger-me toda? Nuvens de encantadoras fragrâncias? Como se enfunam a fremer ao meu redor? Deverei respirar? Deverei escutar? Deverei saborear? Afogar-me, contente? Exalar docemente essa fragrância? Mergulhar, submergir, privada dos sentidos, na vaga ondejante? Na rima sonora? No cosmo inspirante da respiração universal? Deleite supremo!
Para este simples admirador este último ato do drama musical é o mais apaixonante já escrito, que se eleva a um plano de tensão e culmina na beleza transcendental da última canção de Isolda, de imensa poesia, coroa a tragédia com inspiração maravilhosa.
Agora que Tristan estava completo, Wagner se pôs a terminar o monumental Anel dos Nibelungos (que já postamos, links no início do post) , uma obra que nunca foi composta e que precisava de um teatro que não existisse. Os anos anteriores de sua vida foram preenchidos com as inovações revolucionárias que fizeram o mundo falar e, mais do que nunca, discutir sobre ele e sua música. As próximas décadas de sua vida seriam as mais prolíficas e revolucionárias de todas.
Personagens e Intérpretes
Estas são as versões de “Tristan und Isolde” que ora oferecemos aos amigos do blog, regentes, orquestras e cantores – dando a vocês a magia de uma história de amor, um conto antigo, reinterpretado pela mente genial de Wagner. Boa música, canto fantástico e uma experiência inesquecível. Abrem-se as cortinas e se deliciem com a soberba música de “Tristan und Isolde”.
Para muitos, “Tristan und Isolde” significa apenas uma gravação: Furtwängler, com Flagstad e Suthaus. É uma gravação linda e poderosa postada a pouco tempo pelo nosso querido Vassily Genrikhovich (AQUI). Outra versão que já apareceu nestas bandas do blog é a do Leonard Bernstein (AQUI). Porém vamos compartilhar mais quatro magníficas “Ilhas musicais” da mágica ópera que é “Tristan und Isolde”.
Robert Heger (1886 – 1978) A primeira é a versão do maestro Robert Heger. Para quem ainda não o conhece ele atuou como assistente do maestro Bruno Walter na Ópera Estatal de Munique, entre 1920 a 1925. Heger dirigiu a Ópera Estatal de Munique até 1933. No ano da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, Heger mudou-se para a Alemanha para assumir compromissos como maestro na Ópera Estatal de Berlim (Staatsoper), como diretor geral de música em Kassel e no Waldoper em Zoppot, um festival de verão no qual as óperas de Wagner eram realizadas ao ar livre, explicando o apelido de ‘Bayreuth do Norte’. Ele também foi um convidado frequente nas temporadas internacionais de ópera no Covent Garden, em Londres. Heger esteve ativo em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial, fazendo várias gravações de rádio com os músicos remanescentes da Staatskapelle de Berlim. Permaneceu em Berlim após a segunda guerra mundial, conduzindo a Städtische Oper municipal. Heger foi um maestro altamente respeitado durante toda a sua vida e foi um excelente exemplo da tradição Kapellmeister alemã.
Tenho cerca de 17 “Tristans” entre Lp’s, CD’s ou DVD’s e amo todas as gravações por um motivo ou outro. Porém…., contudo…., no entanto…. esta gravação de Berlim realizada no longínquo 1943 eclipsa, em minha modestíssima opinião, todas elas. PQP que interpretação f….. O som é bom para o seu tempo. Max Lorenz é muito musical, destas gravações que estamos compartilhando acho o melhor Tristan o terceiro ato é simplesmente subilme. Buchner tem uma voz exuberante com excelente atuação vocal e dicção. Klose tem um enorme timbre de contalto, além de ótima atuação vocal. A condução do maestro Heger é muito emocionante, é rápido, sim, mas nunca indevidamente, os atos simplesmente se desenvolvem com verdadeira paixão, ardente. Todos os artistas aqui se combinam para fazer a melhor interpretação de “Tristan und Isolde” que eu já ouvi. Esta é uma obrigação para todos os que gostam de Wagner. Eu pensava que já tinha ouvido os melhores cantores e interpretações, então esta seria apenas mais uma “gravação histórica”, mas me enganei. Eu não acreditei que pudesse mudar os conceitos para “Tristan und Isolde”, até ouvir esta incrível interpretação direto da “cápsula do tempo”. Uma curiosidade muito legal nesta gravação é lá no final do prelúdio do primeiro ato, quando a orquestra acalma, podemos nitidamente ouvir a Paula Buchner aquecendo as cordas vocais antes de entrar em cena.
Tristan – Max Lorenz
Isolde – Paula Buchner
Marke – Ludwig Hofmann
Kurwenal – Jaro Prohaska
Brangäne – Margarete Klose
Melot – Uegen Fuchs
Hirt – Erich Zimmermann
Steuermann – Felix Fleischer
Staatskapelle Berlin;
Männerchor der Staatsoper Berlin;
Recorded May 14-19, May 1943 – Berlin;
Conductor: Robert Heger
Karl Böhm (1894-1981) A segunda versão, é mais que obrigatória, do maestro Karl Böhm conduzindo a Orchester der Bayreuther Festspiele. Interpretação linda, ponto de referência para muitos. O som flui redondo nesta gravação. É considerada um marco da ópera em gravações estéreo. Böhm conduz de forma transcendente, o som é impressionante. Claro que a diva Birgit Nilsson brilha como Isolde, sua interpretação do papel é lendária, e esta gravação mostra com razão o “porque”. Agora o delírio do Tristan no Ato III de Wolfgang Windgassen é de emocionar, forte e frágil quando necessário. Ele consegue retratar este complexo personagem com imensa convicção, sempre focado no drama, e sua voz é firme. Eberhard Waechter é um excelente Kurwenal, Christa Ludwig, uma Brangene, em minha opinião, insuperável e Martti Talvela, com seu lindo timbre, um dos melhores King Mark. Esta é uma tremenda gravação nos oferecem muita emoção.
Tristan – Wolfgang Windgassen
Isolde – Birgit Nilsson
Marke – Martti Talvela
Kurwenal – Eberhard Wächter
Brangäne – Christa Ludwig
Melot – Claude Heater
Hirt – Erwin Wohlfahrt
Steuermann – Gerd Nienstedt
Orchestra/Ensemble: Bayreuth Festival Orchestra, Bayreuth Festival Chorus ;
Date of Recording: 1966 ;
Live Festspielhaus, Bayreuth, Germany;
Conductor: Karl Böhm
Carlos Kleiber (1930 – 2004) A terceira gravação que compartilharemos é esta estupenda versão do maestro Carlos Kleiber que nos prova toda a sua qualidade musical como um dos principais expoentes da condução de Wagner nos oferecendo toda a paixão, erotismo, lirismo, tragédia e beleza exigidos nesta partitura juntamente com a contribuição da Dresden Staatskapelle (orquestra favorita de Wagner), o som das cordas durante o último ato de Tristan é quase assustador em sua intensidade Mas a característica mais marcante desta gravação é, sem dúvida, os personagens interpretados pelo Kurt Moll e pela Margaret Price. Nunca tendo cantado Isolde no palco, Margaret Price dá a esse personagem um lirismo, qualidade juvenil e beleza diferente de todas as outras gravações, lembrando que a Isolde do drama tem entre 16 e 17 anos, o timbre e interpretação da Margaret Price é de uma beleza intensa, linda voz. Ela é uma das melhores Isolde que eu já ouvi sua voz é madura, mas nunca tensa, sempre bonita; se você ouviu apenas os sopranos “wagnerianos” nesse papel, Price irá, sem dúvida, surpreender é diferente, certamente irá seduzi-los. Kurt Moll é revelador como o rei Mark. Seu monólogo é soberbamente cantado e encenado, começa em um sussurro e depois aumenta e diminui, envolvendo-nos inteiramente. Rene Kollo, que faz um retrato incrivelmente jovem e sincero do Tristan oferece, combinando com o timbre de Price, um tom jovem, lirismo ardente e impacto dramático diferente das gravações mais aclamadas. Fassbaender é uma excelente Brangaene. O Kurwenal de Fischer-Dieskau, …. rapaiz, bonito demais de ouvir sô – dificilmente uma frase escapa a um colorido deste gigante. Esta foi a primeira versão completa do Tristan que eu ouvi. Conjunto com 5 Lp’s comprado numa famosa galeria no centro de Sampa no final dos anos 80. Na minha humildíssima opinião, o primeiro ato desta gravação tem uma energia e a caracterização dos solistas envolvidos transforma a música numa atmosfera envolvente que é absolutamente impressionante! É uma performance lindamente concebida em meses de gravação e belamente executada.
Tristan – Rene Kollo
Isolde – Margaret Price
Marke – Kurt Moll
Kurwenal – Dietrich Fischer-Dieskau
Brangäne – Brigitte Fassbaender
Melot – Werner Götz
Hirt – Anton Dermota
Steuermann – Eberhard Büchner
Dresden , Lukaskriche
26,27,29,31 August & 18-26 October ,1980;
5-10 February & 10,21 April , 1981;
27 February & 4 April , 1982;
Dresden Staatskapelle , Leipzig Radio Chorus;
Conductor: Carlos Kleiber
Sir Simon Denis Rattle (1955) Esta quarta gravação é a ótima performance gravada ao vivo, em forma de concerto,em 03 de abril de 2016 conduzida pelo magnífico regente Sir Simon Denis Rattle a frente da não menos magnífica Orquestra Filarmônica de Berlim. A Isolda da Eva-Maria Westbroek é rica em som e volume, seu canto em piano é tão sonoro quanto o forte de outros sopranos e com bastante vibrato o que às vezes dificulta a interpretação precisa das palavras, suas explosões vocais são colossais, ela está inteirona aos 45 anos. Sarah Connolly como Brangäne também tem um vibrato distinto, timbre levemente amargo. O Tristão do Stuart Skelton tem um fraseado é excelente. Tem cores. A emoção e o afeto sempre vêm do canto, cada nota é audível nas passagens altamente dramáticas do mitológico Ato III. Ele canta cada nota sem gritar. Nunca. Tecnicamente ótimo, o mais gratificante Tristan desta geração do século XXI. O Kurwenal do Michael Nagy também é magnífico, voz bastante sonora mas as vezes soa um pouco tumultuado. O King Marke interpretado pelo Stephen Milling ficou um pouco apagado nesta gravação. O coro da rádio de Berlim canta apaixonadamente, gostei. Simon Rattle conduz com seu rigor característico. No prelúdio do início da ópera ele está absorto num crescendo resoluto, tão dramático quanto complexos, muito bonito! A Berliner Philharmoniker impecável, como de costume, tensão violenta e relaxamento, cada compasso é vivo, a intensidade de Rattle triunfa no seu ótimo “Tristan”.
Tristan – Stuart Skelton
Isolde – Eva-Maria Westbroek
Marke – Stephen Milling
Kurwenal – Michael Nagy
Brangäne – Sarah Connolly
Melot – Roman Sadnik
Hirt – Thomas Ebenstein
Steuermann – Simon Stricker
Rundfunkchor Berlin (Simon Halsey, Einstudierung) ;
Berliner Philharmoniker ;
Philharmonie Berlin – 3 April 2016;
Conductor: Sir Simon Rattle
“Nunca, em minha vida, experimentei a verdadeira felicidade do amor, erguerei um memorial a esse mais adorável de todos os sonhos, no qual o amor encontrará, pela primeira vez, uma completa satisfação.” Trecho da uma carta enviada a Liszt.
A Saga Argerichiana continua, com seu Festival de Lugano. Espero que estejam gostando.
Estive pensando com meus botões e tentando lembrar o que estava fazendo em 2006, um ano após uma mudança de cidade que fiz, o que ocasionou um desvio de rota em minha vida. Lembrei então que foram dois anos bem difíceis e complicados, desempregado, e os empregos que conseguia eram apenas bicos que ajudavam a quebrar um galho. A situação começou a melhorar em 2008, mas isso já é outra história.
O maravilhoso Quarteto com Piano op. 47 de Schumann abre esta caixa. O terceiro CD entra um pouco mais no século XX com uma sonata de Schnittke e um Concerto para Violoncelo até então totalmente desconhecido para mim, de Friedrich Gulda.
Divirtam-se.
Cd 1
01. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 1. Sostenuto assai
02. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 2. Scherzo
03. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 3. Andante cantabile
04. Schumann Piano Quartet in E-flat, op.47 – 4. Finale. Vivace
05. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 1. Allegro assai vivace
06. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 2. Allegretto scherzando
07. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 3. Adagio
08. Mendelssohn Cello Sonata No.2 in D, op.58 – 4. Molto allegro e vivace
Gabriela Montero, Gautier Capuçon
09. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 1. Zart und mit A
10. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 2. Lebhaft, leicht
11. Schumann Fantasiestucke, for flugelhorn and piano, op.73 – 3. Rasch und mit
Martha Argerich, Sergei Nakariov
CD 2
01. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 1. Mit Energie und Leidenschaft
02. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 2. Lebhaft, doch nicht zu rasch
03. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 3. Langsam, mit inniger Empfindung
04. Schumann Piano Trio No.1 in D minor, op.63 – 4. Mit Feuer
Nicolas Angelich, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon
05. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 1. Introduzione. Adagio mesto – Al
06. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 2. Scherzo
07. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 3. Largo
08. Taneyev Piano Quintet in G minor, op.30 – 4. Finale. Allegro vivace
Lilya Zilberstein, Dora Schwarzberg, Lucy Hall, Nora Romanoff-Schwasberg, Jorge Bosso
CD 3
01. Debussy Nocturnes, for 2 pianos (trans.Ravel) – 1. Nuages
02. Debussy Nocturnes, for 2 pianos (trans.Ravel) – 2. Fetes
07. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 1. Overture
08. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 2. Idylle
09. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 3. Cadenza
10. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 4. Menuet
11. Friedrich Gulda Concerto for cello and wind orchestra – 5. Finale alla marcia
Gautier Capuçon – Cello
Members of The Orchestra della Svizzera Italiana
Alexander Rabinovich-Barakovsky
POSTAGEM ORIGINALMENTE REALIZADA EM 2017, COM NOVOS LINKS, AINDA EM HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DA DIVINA MARTHA, QUE ASSOPROU VELINHAS ONTEM, DIA 5 DE JUNHO.
Pensaram que eu tinha esquecido desta coleção, né? Pois olha, até esqueci. Mas lembrei depois de algum tempo.
Nossa Divina Martha continua muito bem acompanhada, para variar.
CD 1
01. Mendelssohn – Piano Trio No. 2 in D, Op.66 I. Allegro Energico
02. II. Andante Espressivo
03. III. Scherzo. Molto Allegro, Quasi Presto
04. IV. Finale. Allegro Appassionato
Nicolas Angelich, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon
05. Beethoven – 05. Piano Quartet in C, Wo036 No. 3 I. Allegro Vivace
06. II. Adagio Con Espressione
07. III. Finale. Allegro
08. Mozart – Piano Sonata No.16 in C, K545 (Arr. Grieg for 2 Pianos) I. Allegro
09. II. Andante
10. III. Rondo. Allegretto
Martha Argerich, Piotr Anderszewski
CD 2
01. Rachmaninov – Cello Sonata in G, Op.19 I. Lento – Allegro Moderato
02. Cello Sonata in G, Op.19 II. Allegro scherzando
03. Cello Sonata in G, Op.19 III. Andante
04. Cello Sonata in G, Op.19 IV. Allegro mosso
Mischa Maisky, Sergio Tiempo
05. Suite No.2 for two pianos op.17 – I. Introduction
06. Suite No.2 for two pianos op.17 – II. Valse
07. Suite No.2 for two pianos op.17 – III. Romance
08. Suite No.2 for two pianos op.17 – IV. Tarantella
Martha Argerich, Gabriela Montero
09. Danzas andaluzas – I. Ritmo
10. Danzas andaluzas – II. Sentimiento
11. Danzas andaluzas – III. Gracia (El vito)
Karin Lechner, Sergio Tiempo
CD 3
1 – 10 – Brahms – 01. Variations on a Theme of Haydn, for 2 pianos in B flat major
Martha Argerich, Polina Leschenko
11. Brahms – Piano Quintet in F minor, Op. 34a I Allegro non troppo
12. Piano Quintet in F minor, Op. 34a II Andante, un poco adagio
13. Piano Quintet in F minor, Op. 34a III Scherzo Allegro
14. Piano Quintet in F minor, Op. 34a IV Finale Poco sostenuto – Allegro non troppo
Lilya Zilberstein, Dora Schwanberg, Lucy Hall, Nora Romanoff-Schwanberf
15. Carlos Guastavino – Romances Argentinos (3) for 2 pianos I Las niñas de Santa Fe
16. Romances Argentinos (3) for 2 pianos II Muchacho Jujeño
17. Romances Argentinos (3) for 2 pianos III Baile en Cuyo
Repostagem de uma original lá de 2016, para comemorar os 79 anos de Martha Argerich, essa verdadeira lenda do piano. Mesmo com a idade, continua em ação. Parabéns, Martha, é um grande privilégio ter acompanhado sua carreira nestas últimas quatro décadas. Estes três cds tem momentos brilhantes, mas prestem atenção aos Duos, op. 11, de Rachmaninov, em que ela faz parceria com Lilya Zilberstein. é absolutamente estonteante. Coisa de gênio.
Após o choque inicial que a primeira postagem causou, vamos trazer a caixa referente ao ano de 2003. Esqueci de comentar em postagem anterior, mas o titulo deixa claro que o festival é de Música de Câmara. E o repertório explora obras dos séculos XVIII ao século XX. Papa finíssima, eu diria.
Os irmãos Capuçon, Gabriela Montero e Lilya Zilberstein serão presença frequente nestes CDs. A integração entre eles é única, coisa de gente que sabe o que faz.
Então vamos ao que viemos.
CD 1
01. Haydn – Piano Trio in G (Gypsy Rondo) – I. Andante
02. Piano Trio in G (Gypsy Rondo) – II. Poco adagio
03. Piano Trio in G (Gypsy Rondo) – III. Rondo all’ongarese Presto
Martha Argerich, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon
04. Rachmaninov Six Duets op.11 – I. Barcarolle
05. Six Duets op.11 – II. Scherzo
06. Six Duets op.11 – III. Chanson russe
07. Six Duets op.11 – IV. Valse
08. Six Duets op.11 – V. Romance
09. Six Duets op.11 – VI. Slava (Gloria)
Lilya Zilberstein, Martha Argerich
10. Grieg Cello Sonata in A minor – I. Allegro agitato
11. Cello Sonata in A minor – II. Andante molto tranquillo
12. Cello Sonata in A minor – III. Allegro – Allegro molto
Gautier Capuçon, Gabriela Montero
CD 2
01. Arensky Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – I. Allegro Moderato – Adagio
02. Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – II. Scherzo Allegro Molto
03. Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – III. Elegia Adagio
04. Piano Trio No.1 in D Minor Op.32 – IV. Finale Allegro non troppo – Andante –
Polina Leschenko, Renaud Capuçon, Gautier Capuçon
05. Lutoslawsky – Variations on a Theme by Paganini for two pianos
06. Franck Piano Quintet in F minor – I. Molto moderato quasi lento
07. Piano Quintet in F minor – II. Lento con molto sentimento
08. Piano Quintet in F minor – III. Allegro non troppo ma con fuoco
03. Monteiro – Improvisation on a Theme from Beethoven´s First Piano Concerto
Gabriela Montero
04. Piazzolla – Oblivion
Dora Schwarzberg, Jorge Andres Bosso
The Cello Concept
05. Rodrigues 0 La Cumparsita
Dora Schwarzberg, Jorge Andres Bosso
The Cello Concept
06. Music from the Gypsy, Hungarian and Romanian Traditions – I
07. Music from the Gypsy, Hungarian and Romanian Traditions – II
08. Music from the Gypsy, Hungarian and Romanian Traditions – III
Comecei a postar esta coleção lá em 2016, mas acabei parando. Não tenho muita certeza de que tenho todos os cds desta série, mas trarei o que tenho. Começo então renovando os links que trouxe naquela época.
Esta coleção de gravações de Martha Argerich é sensacional, e virou meio que uma tradição. A EMI lançou durante aproximadamente dez anos um conjunto de três Cds de cada vez, que trazia as principais performances dos mais diversos músicos em um festival em uma cidadezinha suiça chamada Lugano.
Nestes três cds temos performances realizadas entre os anos de 2002 e 2004. Em minha modesta opinião, o melhor momento é a transcrição para dois pianos da Sinfonia Clássica de Prokofiev. Martha e Yefim Bronfman dão um show de versatilidade, talento e virtuosismo, mas o que mais poderiamos esperar destes dois?
Temos Maxim Vengerov, os irmãos Capuçon, Lilya Zilberstein, entre outros nomes não tão conhecidos.
Então vamos ao que viemos.
Martha Argerich & Friends – Live from Lugano Festival
CD 1 Prokofiev:
01. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 I. Allegro
02. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 II. Larghetto
03. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 III. Gavotte Non troppo all
04. Symphony No. 1 in D major (‘Classical’), Op. 25 IV. Finale Molto vivace
Martha Argerich & Yefim Bronfman – Pianos
Tchaikovsky:
05. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a I. Ouverture miniature
06. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Marcia viva
07. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse de la fée dragée – Andante non tropo
08. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse russe: trépak
09. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse arabe: Allegretto
10. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Danse chinoise: Allegro Moderato
11. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a II. Danses caractéristiques. Dans de mirlitons: Moderato assai
12. Nutcracker, suite from the ballet, Op. 71a III. Valse des fleurs
Martha Argerich & Mirabela Dina – Pianos
Shostakovich:
13. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 I. Andante – Moderato
14. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 II. Allegro non troppo
15. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 III. Largo
16. Piano Trio No. 2 in E minor, Op. 67 IV. Allegretto
CD 2 Brahms:
01. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- I. Allegro
02. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- II. Adagio
03. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- III. Un poco presto e co
04. Sonata for Violin & Piano No. 3 in D minor, Op. 108- IV. Presto agitato
Lilya Zilberstein – Piano
Maxim Vengerov – Violin
Schubert:
05. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- I. Allegro moderato
06. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- II. Andante un poco mosso
07. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- III. Scherzo- Allegro
08. Piano Trio in B flat major, D. 898 (Op. 99)- IV. Rondo- Allegro vivace
CD 3 Schumann:
01. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 I. Allegro brillante
02. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 II. In modo d’una marcia – Un poco lar
03. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 III. Scherzo Molto vivace
04. Piano Quintet in E flat major, Op. 44 IV. Allegro ma non troppo
Martha Argerich – Piano
Dora Schwarzberg – Violin
Renaud Capuçon – Violin
Nora Romanoff-Schwarzberg – Viola
Mark Dobrinsky – Cello
Schumann:
05. Sonata for violin & piano No. 1 in A minor, Op. 105 I. Mit leidenschaftliche
06. Sonata for violin & piano No. 1 in A minor, Op. 105 II. Allegretto
07. Sonata for violin & piano No. 1 in A minor, Op. 105 III. Lebhaft
Martha Argerich – Piano
Géza Hossu-Legocky – Violin
Dvořák:
08. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) I. Allegro con fuoco
09. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) II. Lento
10. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) III. Allegro moderato
11. Piano Quartet No. 2 in E flat major, B. 162 (Op. 87) IV. Allegro ma non troppo
Walter Delahunt – Piano
Renaud Capuçon – Violin
Lida Chen – Viola
Gautier Capuçon – Cello
Essa postagem vai para o nosso ex – colaborador Marcelo Stravinsky que, apesar de afastado do blog, ainda colabora conosco de uma forma ou outra. Se intitula um flautista amador (parece que tem uma banda de rock no estilo Jethro Tull), algo que eu nunca nem cheguei a ser, apenas soprava algumas melodias na minha velha Flauta Doce Yamaha (que por sinal, ainda tenho, jogada em algum lugar). Mas vamos ao que viemos:
“Nineteenth-century opera arrangements for flute and piano have been extraordinary popular. Unfortunately the have so far received little attention in the annals of music history. Even in concerts you may hardly find them on the programmes. Therefore the present recording provides exciting music to rediscover with works by Briccialdi, Herman, Popp, Galli, Kuhlau, Furstenau, Boehm and Andersen. Dorothea Seel used three different flutes to reproduce the flute sound of the time in alI its diversity. This demands specific playing techniques, which can be determined from the h istor ical source texts. Christoph Hammer played an original pianoforte from the collection of the Tyrolean regional museum in Innsbruck. The woody tone, rich in harmonics, is a perfect foil for the flutes.”
Assim esse CD nos é apresentado no encarte (com o perdão da preguiça de traduzir). São árias de óperas transcritas para Flauta e Pianoforte. Quando eu era guri pequeno lá no interior, botava disco para tocar e ficava tentando tirar estas melodias, claro que dentro de um grau de amadorismo abaixo do crítico. E obviamente não tinha a técnica necessária para tirar estes sons, muito menos um instrumento adequado, ou então sequer a partitura. Era o famoso ‘tirar de ouvido’. Imaginem o resultado.
Dorothea Seel especializou-se em Flautas Tranversais do século XVIII e XIX, e é diretora artística do “Barocksolisten München”, ou seja, tem um currículo respeitável na área, basta ler o booklet em anexo. Christoph Hammer especializou-se em performances historicamente informadas, e se utiliza nestas gravações de um pianoforte fabricado por Conrad Graf, fabricado em Viena em 1835.
Um belo CD, sem dúvida, e curioso. Estamos tão acostumados com estas melodias, de vez em quando as estamos assobiando (quem nunca?) …!! Estou ouvindo este CD em uma manhã de domingo de outono, com direito a céu de brigadeiro, e lhes garanto que está sendo uma bela trilha sonora.
01. Variations on ”The Barber of Seville”, Op. 83
02. ”Don Juan” de Mozart, Op. 24
03. Fantasia on ”La traviata”, Op. 76
04. Tannhäuser Fantasia – Lied vom Abendstern
05. 6 Variations on ”Euryanthe”, Op. 63
06. Opera Transcriptions, Op. 45 – No. 2, Norma
07. Polonaise de Carafa, Op. 8a
08. Fantaisie caprice sur ”Rinaldo”, Op. 203
Dorothea Seel – Flutes
Christoph Hammer – Pianoforte
Finalizo mais uma integral, trazendo as três últimas Sonatas para Piano que Beethoven compôs, três petardos que não deixam pedra sobre pedra.
Alfred Brendel se aposentou há uns dez anos. Até hoje é um músico reverenciado, e curte sua velhice e sua fama ao lado de seus gatos, sim, ele é apaixonado por gatos. Até hoje suas gravações de Beethoven, tanto as de juventude quanto as de meia idade, são consideradas referências. Especializou-se principalmente nos compositores do Classicismo e do Romantismo, destacand0-se Mozart, Beethoven e Schubert.
1. Piano Sonata No.30 In E, Op.109-1. Vivace, Ma Non Troppo-Adagio Espressivo-Tempo I
2. Piano Sonata No.30 In E, Op.109-2. Prestissimo0
3. Piano Sonata No.30 In E, Op.109-3. Gesangvoll, Mit Innigster Empfindung (Andante Molto Cantabile Ed Espressivo)
4. Piano Sonata No.31 In A Flat, Op.110-1. Moderato Cantabile Molto Espressivo
5. Piano Sonata No.31 In A Flat, Op.110-2. Allegro Molto
6. Piano Sonata No.31 In A Flat, Op.110-3. Adagio Ma Non Troppo-Fuga (Allegro Ma Non Troppo)
7. Piano Sonata No.31 In A Flat, Op.110-4. Fuga (Allegro Ma Non Troppo)
8. Piano Sonata No.32 In C Minor, Op.111-1. Maestoso-Allegro Con Brio Ed Appassionato
9. Piano Sonata No.32 In C Minor, Op.111-2. Arietta (Adagio Molto Semplice E Cantabile)
Li em algum lugar, depois alguém comentou aqui no PQPBach, que em determinado momento de sua carreira Alfred Brendel teria dado uma declaração dizendo que não iria executar mais a Sonata “Hammerklavier” ao vivo, frente a uma platéia, pois era uma obra de muito difícil execução, e quando a tocava ficava exausto, a obra exige muito do intérprete. E devido a idade já avançada, não iria mais encarar a empreitada.
Para um músico do nível de Brendel dizer isso é porque o negócio deve ser complicado mesmo. E nesta integral que ora vos trago, o registro é ao vivo. Aliás, diga-se de passagem, daqui até o final desta integral só tem pauleira. Junto com a ‘Hammerklavier’, também temos neste CD ‘Les Adieux”, outra obra prima de Beethoven.
089. Piano Sonata No.29 In B Flat, Op.106 -Hammerklavier-1. Allegro
090. Piano Sonata No.29 In B Flat, Op.106 -Hammerklavier-2. Scherzo (Assai Vivace-Presto-Prestissimo-Tempo I)
091. Piano Sonata No.29 In B Flat, Op.106 -Hammerklavier-3. Adagio Sostenuto
092. Piano Sonata No.29 In B Flat, Op.106 -Hammerklavier-4. Largo-Allegro Risoluto
093. Piano Sonata No.26 In E Flat, Op.81a -Les Adieux-1. Das Lebewohl (Adagio-Allegro)
094. Piano Sonata No.26 In E Flat, Op.81a -Les Adieux-2. Abwesendheit (Andante Espressivo)
095. Piano Sonata No.26 In E Flat, Op.81a -Les Adieux-3. Das Wiedersehn (Vivacissimamente)