.: interlúdio :. John Coltrane Quartet – My Favorite Things (1961)

O pianista McCoy Tyner morreu no dia 6 de março de 2020, aos 81 anos. Dos membros do mais famoso quarteto de Coltrane, era o último entre nós. A causa da morte não foi divulgada.

Tyner era mais conhecido por seus anos como membro do John Coltrane Quartet, um dos grupos mais icônicos e revolucionários do jazz. Foi com Coltrane, de 1960 a 65, que Tyner reescreveu as regras do piano de jazz com seus acordes percussivos e cheios de notas.

O primeiro disco dessa formação do quarteto de Coltrane, My Favorite Things, foi lançado em 1961 e teve grande sucesso, especialmente a faixa-título. O pianista atacou a música de Rodgers & Hammerstein com ondas marteladas de acordes modais e repetitivas, porém atraentes, que eram tão proeminentes quanto o saxofone soprano de Coltrane. A música se tornou o cartão de visitas de Coltrane, tocada todas as noites – mas era igualmente importante, se não mais, para Tyner. (Pleyel, com trechos copiados de JazzTimes)

Queria postar Mingus (e o farei em breve) – mas não tenho ouvidos pra ele ultimamente; tenho passado as horas a reencontrar meu disco preferido de jazz. My Favorite Things, gravado entre 24 e 26 de outubro de 1960 por Coltrane, é uma aula de música envolta em uma aura de simplicidade e candura. Não obstante, a faixa-título é uma valsa – de The Sound of Music, o musical. Coltrane (e McCoy Tyner, ao piano) abraçam o ouvinte pelas orelhas e o fazem girar em notas mais do que perfeitas e jamais excedentes. O quarteto mostra mais do que coesão – também generosidade de Trane, que em seus arranjos favorece a construção sonora mais do que a própria voz (o sax). São as sheets of sound que formaram sua identidade musical. Puro deleite de jazz modal, indicado inclusive para iniciantes que se sentem oprimidos pelo bop mas desejam um pouco mais de complexidade. Aproveitem o rip em alta definição e não tenham medo de usar os fones de ouvido. (Bluedog)

John Coltrane – My Favorite Things
01 My Favorite Things (Rodgers, Hammerstein) – 13’47
02 Everytime We Say Goodbye (Porter) – 5’54
03 Summertime (G. Gershwin, Heyward) – 11’37
04 But Not for Me (G. Gershwin, I. Gershwin) – 9’35

John Coltrane: soprano saxophone (1, 2), tenor saxophone (3, 4)
McCoy Tyner: piano
Steve Davis: bass
Elvin Jones: drums
Produzido por Nesuhi Ertegun para a Atlantic

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HEREou AQUI (or here) (mp3 320kbps)

McCoy Tyner e John Coltrane em 1963

Bluedog (2007) / Pleyel (2020, repostagem e homenagem e McCoy Tyner)

.: interlúdio :. Joni Mitchell: Mingus

.: interlúdio :. Joni Mitchell: Mingus

(PQP garante: este é um dos melhores discos que ele já ouviu).

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Tropeçava em latas de lixo quando encontrei a capa abaixo, e imediatamente me vi cheio de interrogações.

Joni Mitchell? Mingus? Que diabos. Ou, que diabos Mitchell está fazendo com Mingus? Por aí já podem notar minha desconfiança em relação à cantora. Mas eu prefiro ficar surdo a desistir antes de tentar. E lá fui, farejando, descobrir que Joni foi criticadíssima à época do disco, 1979; apontaram-na como decadente, esnobe por tentar dar verve ao pop, tentando pegar uma carona na então recente morte do underdog.

Mas quando se cava mais um pouco, se descobre que Mingus havia chamado Joni para ajudá-lo a musicar o Four Quartets de T. S. Eliot alguns meses antes, o baixista já imobilizado pela doença que o mataria em seguida. E que, fruto disso, cresceu a amizade – e mesmo Joni pôde sair de um bloqueio criativo que a consumia durante longo tempo. Donde o disco-homenagem, que ela não imaginava que seria póstumo. Tanto que Mingus só não chegou a escutar uma das faixas, a primeira, composição totalmente dela – ao invés das outras, versões de Mingus, com letras por Joni escritas, e abençoadas pelo mestre.

Não apenas na aura criada pelo duo; Joni, que não era boba, cercou-se de um pequeno grupo de pilares do jazz para gravar o álbum. Em Mingus, a base é a do Weather Report – confira a nominata logo abaixo. (Ame ou odeie o fusion, todos sabemos dos pedigrees.) Aqui só adianto que é um dos mais brilhantes, e por vezes experimental, trabalhos de Jaco Pastorius. Seu baixo é o condutor dessas faixas de um jazz relaxante, espaçado, cheio de respiros – e sim, sob bela e macia voz, bem colocada, discreta. Os detratores estavam errados. Ou com ciúmes. Ainda: um atrativo a mais são os “raps” que entremeiam as canções – vinhetas com gravações de Mingus em conversas, cenas cotidianas, até um scat em duo com Joni. (O que, inclusive, faz deste um disco curto, de apenas seis músicas.)

Joni Mitchell – Mingus (1979)
Joni Mitchell: guitar, vocals
Jaco Pastorius: bass
Wayne Shorter: soprano saxophone
Herbie Hancock: electric piano
Peter Erskine: drums
Don Alias: congas
Emil Richards: percussion

produzido por Joni Mitchell para a Asylum

01 Happy Birthday 1975 (Rap) 0’57
02 God Must Be A Boogie Man (Mitchell) 4’35
03 Funeral (Rap) 1’07
04 A Chair in the Sky (Mingus) 6’42
05 The Wolf That Lives in Lindsey (Mingus) 6’35
06 I’s a Muggin’ (Rap) 0’07
07 Sweet Sucker Dance (Mingus) 8’04
08 Coin in the Pocket (Rap) 0’11
09 The Dry Cleaner from Des Moines (Mingus) 3’21
10 Lucky (Rap) 0’04
11 Goodbye Pork Pie Hat (Mingus) 5’37

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Joni & Mingus em linda foto
Joni & Mingus em linda foto 2
Vejam só quem está no disco. Erskine, Mitchell, Pastorius e Hancock. Poderia dar errado?

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :. The Necks: Chemist

.: interlúdio :. The Necks: Chemist

“This is apparently the thirteenth release by the Necks, and this reviewer is ashamed to admit that it’s the first one he’s heard, especially when the music is singular enough to satisfy the average iconoclast status to which this reviewer would make no claim, incidentally.”

Faço minha a confissão de Nic Jones, do All About Jazz — até me sinto melhor por ter chegado atrasado. Estou postando este disco de supetão: descobri-o hoje cedo e não pude parar de ouvi-lo desde então, e estou louco pra chegar em casa e escutá-lo com a devida atenção, nas minhas queridas e pesadas caixas de som, ao invés desses fones de ouvido vazando o entrecortado ambiente de trabalho.

O The Necks é um trio australiano cuja exploração se dá num espectro bastante específico, e pouco revisto, do jazz: o minimalismo. “Chemist” evoca os drone blues de La Monte Young, as texturas de Steve Reich e os espaços acústicos dos discos de Miles Davis entre 1969 e 1970; um jazz que evolui muito lentamente, hipnotizando. Não há canções, e os temas desenvolvem-se sem objetivo que não o de observar a própria trajetória — mas, ao contrário do que se poderia esperar, não é enfadonho, nem carece de um melhor arranjo. Inclusive recebe bem ouvintes de jazz de quaisquer vertentes — que não tenham transtorno de déficit de atenção, preferencialmente, para encarar as faixas de mais de 20 minutos — , pois é um disco límpido, suave e bem-articulado.

E já que eu afanei a introdução da resenha do Nic Jones, roubo o fecho também.

“Ultimately, the chasm between being genuinely creative and simply going over the same old ground is arguably as wide as it’s ever been, and this group comes down firmly on the side of the former.

Now, these ears have got some catching up to do.”

The Necks – Chemist /2006 [V0]
Chris Abrahams: piano, keyboards
Lloyd Swanton: bass
Tony Buck: drums, percussion, guitar

download – 98MB

01 Fatal
02 Buoyant
03 Abillera

The Necks
The Necks

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – 3x Coltrane :.

.: interlúdio – 3x Coltrane :.
Coltrane recebendo prêmio de melhor álbum de jazz do ano (Giant Steps) no Concertgebouw de Amsterdam

Podem acusar este cão de pouco original. Mas lá vou eu me debater outra vez com uma sensação frequente ao ouvir Coltrane: a de que não posso ouvir outro disco de jazz até escutar, com toda a atenção do mundo, tudo o que ele gravou. Acontece só com ele. Outros artistas (mesmo Miles ou Mingus) são mais generosos e permitem idas e vindas, misturas entre sessões, são até mesmo respiros em playlists. Coltrane, ao contrário, tem um magnetismo que abraça e encerra o ouvinte. Talvez porque, ao contrário de Miles ou Mingus, Trane pareça limitado. Ainda que tenha andado por muitos caminhos em sua carreira, nele há mais unidade. É um universo que soa menor, e disso alcança vastidão tão grande como aqueles com quem o comparo.

Ou ainda, esse texto mostra bem como me sinto escutando alguns de seus solos: girando fascinado à procura de um sentido que parece superior, e que só pode ser compreendido com mais e mais audições, e atenções, e dedicação. Junto com os saxofonistas tenores Coleman Hawkins, Lester Young e Sonny Rollins, Coltrane mudou as perspectivas de seu instrumento. Coltrane recebeu uma citação especial do Prêmio Pulitzer em 2007, por sua “improvisação, musicalidade suprema e por ser um dos ícones centrais na história do jazz.”

(Além disso, não temos a discografia completa de Coltrane no PQP. Adiciono três capítulos, em 320kbps. Se for pegar um só, escolha Crescent. Claro que Giant Steps é ícone do jazz modal e tudo o mais, porém o encanto de Crescent está exatamente no inverso disso. São quatro baladas e um blues, de encantos simples e arrebatadores.)

John Coltrane – Giant Steps (1960; 1974 edition)
download – 138MB

John Coltrane: tenor saxophone, band leader
Paul Chambers: double bass
Art Taylor: drums
Tommy Flanagan: piano
Jimmy Cobb: drums (track 6)
Wynton Kelly: piano (track 6)
Lex Humphries: drums (tracks 8/9)
Cedar Walton: piano (tracks 8/9)
Produzido por Nesuhi Ertegun para a Atlantic

01 Giant Steps 4’43
02 Cousin Mary 5’45
03 Countdown 2’21
04 Spiral 5’56
05 Syeeda’s Song Flute 7′
06 Naima 4’21
07 Mr. P.C. 6’57
08 Giant Steps [alt take] 3’40
09 Naima [alt take] 4’27
10.Cousin Mary [alt take] 5’54
11.Countdown [alt take] 4’33
12 Syeeda’s Song Flute [alt take] 7’02

John Coltrane – Coltrane’s Sound (gravado em 1960; lançado em 1964)
download – 114MB

John Coltrane: sax soprano, sax tenor
Steve Davis: Bass
Elvin Jones: Drums
McCoy Tyner: Piano
Produzido por Nesuhi Ertegun para a Atlantic

01 The Night Has a Thousand Eyes 6’42
02 Central Park West 4’12
03 Liberia 6’49
04 Body and Soul 5’35
05 Equinox 8’33
06 Satellite 5’49
07 26-2 6’12
08 Body and Soul [alt take] 5’57

John Coltrane – Crescent (1964)
download – 84MB

John Coltrane: tenor saxophone
Jimmy Garrison: double bass
Elvin Jones: drums
McCoy Tyner: piano
Produzido por Bob Thiele para a Impulse!

01 Crescent 8’41
02 Wise One 9’00
03 Bessie’s Blues 3’22
04 Lonnie’s Lament 11’45
05 The Drum Thing 7’22

Boa audição!

1000x Coltrane
1000x Coltrane

Blue Dog

.: interlúdio :. Quarteto Novo

Publicado originalmente em 07.09.2012

De vez em quando acontecem esses momentos musicais que são como eclipses. E este é daqueles raros, seculares; talvez o melhor disco de música instrumental feito no Brasil em todos os tempos.

Viveu pouco, porém forte, o Quarteto Novo. Que nasceu Trio Novo em 1966, meio punhado de músicos para acompanhar Geraldo Vandré num programa de tevê patrocinado pela farmacêutica Rhodia. Que no ano seguinte não renovaria seus contratos publicitários, deixando o grupo à sorte. Sorte mesmo: pois que quando um flautista chamado Hermeto Paschoal juntou-se, em 1967, à Theo de Barros, Heraldo do Monte e Airto Moreira, Vandré resolveu bancar do próprio bolso ensaios e turnês do grupo. Que durou apenas mais dois anos, e deixou apenas um disco, que saiu pela Odeon; e que disco é, caros amigos. Tivesse feito mais um ou dois desses e hoje o mundo seria diferente. O brazilian northeastern jazz seria nosso principal produto de exportação e influência musical. Não que tenha passado despercebido, longe disso. Diga “Quarteto Novo” a qualquer expert internacional do jazz e presencie uma cascata de elogios maior do que sou capaz de reproduzir. (Última reedição é da Blue Note, inclusive.)

Patriotismo (que não me pertence) à parte, puxa vida: se fosse sempre possível elevar dessa forma nossas mais brazucas expressões musicais. Como toda junção de estilos bem feita, não se trata de uma soma simples; é um caldo cozido a fogo lento e onde os sabores se entranham uns nos outros. A linguagem do jazz se adapta tanto à marcação de samba quanto ao 2/4 do baião; as linhas de flauta substituem os trompetes tradicionais (e a voz — lembrem que era 1967 e a bossa nova mandava e desmandava); a guitarra vai dar norte a Pat Metheny e, quando sai de lado para a viola ou violão de 12 cordas, se ouve tudo que Duofel vai fazer nos próximos 40 anos. O álbum flutua no mapa e vai do sertão (Algodão) à Nova York (mas) (Vim de Sant’ana) voando numa nuvem. Às vezes é Lampião de terno, batendo triângulo com Dolphy num bar de Chicago; noutras é Wes Montgomery comendo torresmo e tocando com o dedão engraxado. Imaginário à parte, a sofisticação dos arranjos; coisa fina como pouco se vê fazerem aqui, e já há tanto. Também o fato de uma banda que parece saber telepatia musical; Barros usando com a mesma sabedoria tanto contrabaixo elétrico como double bass, Airto Moreira simplesmente assinando um contrato com o futuro, na primeira linha do jazz internacional pro resto da vida. E a flauta-abraço de Hermeto, com sua performance singular e seu toque de Midas na alma: impossível ouvir Hermeto sem brotar um sorriso na cara.

Quarteto Nôvo – 1967: Quarteto Nôvo (320 kbps)
Theo de Barros: violão, contrabaixo
Heraldo do Monte: guitarra, viola caipira
Airto Moreira: bateria, percussão
Hermeto Pascoal: flauta, piano, arranjos.

01 O Ôvo (Vandré/Pascoal)
02 Fica Mal com Deus (Vandré)
03 Canto Geral (Vandré/Pascoal)
04 Algodão (Gonzaga/Dantas)
05 Canta Maria (Vandré)
06 Síntese (Monte)
07 Misturada (Moreira/Vandré)
08 Vim de Sant’Ana (Barros)
Faixas-bônus da reedição de 1993
09 Ponteio (Lobo)
10 O Cantador (Caymmi/Motta)

.  .  .  .  .  .  .  BAIXE AQUI – download here
link alternativo (com senha) nos comentários

Boa audição, e bom feriado!
Blue Dog
(post renovado por Ranulfus, em consequência
do comentário entusiasmado do leitor Sal)

.: interlúdio: Charlie Parker & Stars of Modern Jazz at Carnegie Hall (Christmas 1949) :.

.: interlúdio: Charlie Parker & Stars of Modern Jazz at Carnegie Hall (Christmas 1949) :.

Link revalidado por PQP

Na Amazon —-> Carnegie Hall: X-Mas ’49 <—-

Este seria um disco obrigatório na coleção de qualquer jazzófilo, não estivesse esgotado há tanto tempo e se perdido no catálogo da Jass Records. Há 60 anos, numa noite de natal, Charlie Parker reuniu os maiores nomes do bebop no Carnegie Hall para um grande concerto. Adequadamente chamado de Charlie Parker & Stars of Modern Jazz, o evento tornou-se uma bela fotografia do estado do jazz no final da década de 40: Parker, Powell e Getz estabelecidos, Davis chegando, Sarah Vaughan com sua classe espontânea, e mais alguns nomes que a história ainda não louvou como deveria — como Lennie Tristano, brilhante pianista de Chicago, cego desde criança e um dos maiores tutores da época, incluindo Mingus; e Kai Winding, trombonista dinamarquês de toque bastante refinado, que fez seu nome na era do swing e, depois de passar pelo antológico Miles Davis Nonet (assim como Lee Konitz), montou um grupo com quatro trombones.

Apesar do clima descontraído, que inclui duas jam sessions, quem inflama a apresentação é mesmo o quinteto de Bird, esbanjando técnica. O trumpetista Red Rodney parece ameaçar Parker constantemente em seus solos; seja em números velozes como “Koko”, ou cadenciados como “Bird of Paradise”, seus improvisos rivalizam com a técnica do band leader e promovem equilíbrio — o que é um feito pra quem toca ao lado de Charlie Parker.

Coberto pela baixa fidelidade e camada de chiados que uma gravação ao vivo de 1949 deve trazer, esse disco é um grande e raro registro histórico. Não deixem passar!

Charlie Parker & Stars of Modern Jazz at Carnegie Hall (Christmas 1949) (256)

01 Bud Powell Trio – All God’s Chillun Got Rhythm (Jurman, Kahn, Kaper)
02 Miles Davis – Move (Best)
03 Jam Session – Hot House (Dameron)
04 Jam Session – Ornithology (Harris, Parker)
05 Stan Getz/Kai Winding – Always (Berlin)
06 Stan Getz/Kai Winding – Sweet Miss (Garren, Winding)
07 Stan Getz Quartet – Long Island Sound (Getz)
08 Sarah Vaughan – Once in a While (Edwards, Green)
09 Sarah Vaughan – Mean to Me (Ahlert, Turk)
10 Lee Konitz Sextet/Lennie Tristano – You Go to My Head (Coots, Gillespie)
11 Lee Konitz Sextet/Lennie Tristano – Sax of a Kind (Tristano)
12 Charlie Parker Quintet – Ornithology (Harris, Parker)
13 Charlie Parker Quintet – Cheryl (Parker)
14 Charlie Parker Quintet – Koko (Parker)
15 Charlie Parker Quintet – Bird of Paradise (Parker)
15 Charlie Parker Quintet – Now’s the Time (Parker)

Charlie Parker Quintet (Charlie Parker, alto sax; Red Rodney, trumpet; Al Haig, piano; Tommy Potter, bass; Roy Haynes, drums). Bud Powell Trio (Bud Powell, piano; Max Roach, drums; Curly Russell, bass). Miles Davis, trumpet; Stan Getz, tenor sax; Kai Winding, trombone; Serge Chaloff, baritone sax; Bennie Green, trombone; Jimmy Jones, piano; Lee Konitz, alto sax; Wayne Marsh, tenor sax; Jeff Morton, drums; Joe Shulman, bass; Sonny Stitt, alto sax; Lennie Tristano, piano; Sarah Vaughan, vocals

download parte1/88MB + parte2/45MB

Boa audição!

Charlie Parker
Charlie Parker

Blue Dog

.: interlúdio :. Gerry Mulligan Quartet with Chet Baker: Portrait

.: interlúdio :. Gerry Mulligan Quartet with Chet Baker: Portrait

Link revalidado por PQP.

Este cão, que já não andava lá muito inspirado nem com muito tempo pra participar, ficou até injuriado depois de ler os comentários sobre o post de Cage, feito por CDF Bach.

Intolerância, inclusive musical, é algo que me deixa espumando. E daí, e eu com isso?, o leitor pode dizer. E daí que nada; na internet, todo mundo fala o que quer, do jeito que quer (embora isso possa mudar, cuidado). Só que a postura, se replicada e exacerbada, coloca em xeque toda tentativa de disseminação da música, cultura, arte. Elimina a possibilidade da arte existir e ser criada entre nós. Evoca Adorno e seu ódio ao jazz; cheira a castração e limpeza étnica. Ou tudo o que não deveria permear a comunidade de um blog dedicado a disseminar uma parcela riquíssima da história mundial da música.

Arre! Aos que separaram 4’33 de sua vida para refletir, e tentaram criar um debate nos comentários daquele post, muito obrigado. E aos radicais, obrigado por continuar tentando fazer do mundo um lugar onde tudo precisa ter sentido lógico, função e rótulo para não ser defenestrado. É mais divertido quando se enxerga o inimigo a ser combatido.

Latidos à parte, trago aqui uma coletânea de gravações do quarteto sem piano de Gerry Mulligan com Chet Baker no trompete. As faixas datam de 1952 e 1953. Leitores obtusos não devem preocupar-se – nenhuma delas tem silêncio, desafia a compreensão ou ofende a – oh! – ARTE. Já os amigos melhor intencionados poderão notar o auge da técnica de Mulligan, como suas composições mais brilhantes tomando forma, e a maneira como seus arranjos dispensam o uso tradicional do piano. Obrigado.

Grunf.

Gerry Mulligan Quartet with Chet Baker: Portrait (WMA 128)

Gerry Mulligan: baritone sax, arranger
Chet Baker: trumpet
Carson Smith: bass (1-15)
Bobby Whitlock: bass (16-24)
Chico Hamilton: drums (1-5; 16-24)
Larry Bunker: drums (6 to 15)

01 My Funny Valentine – 2’55
02 Bark for Barksdale – 3’163
03 Moonlight in Vermont – 4’06
04 The lady is a Tramp – 3’11
05 Turnstile – 2’57
06 Makin’ Whoopee – 3’27
07 Cherry – 2’57
08 Love Me or Leave Me – 2’41
09 Swing House – 2’56
10 Jeru – 2’29
11 The Nearness of You – 2’50
12 I May Be Wrong – 2’57
13 I’m Beginning to See the Light – 3’06
14 Tea for Two – 2’49
15 Five Brothers – 3’01
16 Bernie’s Tune – 2’54
17 Lullaby of the Leaves – 3’12
18 Walking Shoes – 3’12
19 Freeway – 2’45
20 Frenesi – 3’09
21 Nights at the Turntable – 2’53
22 Aren’t You Glad You’re You – 2’52
23 Line for Lyons – 2’31
24 Carioca – 2’23

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Taí uma foto dos caras. Grande encontro, não?
Taí uma foto dos caras. Grande encontro, não?

Blue Dog

.: interlúdio: Joe Zawinul – 75th :.

.: interlúdio: Joe Zawinul – 75th :.


Descobri hoje que este disco de Zawinul, gravado ao vivo em Viena (sua cidade natal) poucos meses antes de sua morte, ganhou o Grammy 2010 na categoria jazz contemporâneo. Eu não dou a mínima para premiações da indústria desse tipo — ao contrário, acho-as predatórias — , mas sou fã de Zawinul e, claro, fui conferir o prêmio póstumo.

Infelizmente fica aquém do que eu esperava, ou quem sabe sou eu quem estou num momento pouco fusion? É verdade que há um trabalho de percussão fantástico, mas não adiciona mais do que um disco recente, Viena Nights (2005), já havia trazido. Só não vou chamar 75th (foi um show comemorativo ao seu aniversário, com parabéns a você e tudo) de caça-níqueis porque, gravadora à parte, são músicos excepcionais tocando com o vigor de sempre. A faixa “Fast City”, em especial, comprova. Além do fusion há um forte acento de world music (músicos brasileiros e africanos, um samba meio João Bosco no repertório) e momentos de puro rock. Vibrante é, sem dúvida. Mas avaliem melhor vocês, que esse cão vai seguir sua fase viciada em Wes Montgomery. (Aliás, porque Denzel Washington não filma uma biografia de Wes? São iguais!)

zawinul75th

Joe Zawinul & The Zawinul Syndicate – 75th [V0]
Joe Zawinul (keyboards, vocoder); Sabine Kabongo (vocals, percussion); Alegre Corrêa (vocals, berimbau, electric guitar, acoustic guitar); Linley Marthe (bass); Paco Sery (drums, kalimba, vocals); Jorge Bezerra (percussion, vocals); Aziz Sahmaoui (percussion, vocals); Wayne Shorter (soprano sax in In a Silent Way).

CD1
01 Introduction to Orient Express
02 Orient Express
03 Madagascar
04 Scarlet Woman
05 Zanza II
06 Cafe Andalusia
CD2
01 Fast City/Two Lines
02 Clario
03 Badia/Boogie Woogie Waltz
04 Happy Birthday
05 In a Silent Way
06 Hymn

baixe aqui — download here

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio — Emil Viklický :.

(Inserir aqui parágrafo introdutório. Dificuldade/prazer das escavações menos prováveis versus simples acaso do levar um download adiante. Não prolongar demais a baboseira e evitar que a introdução emperre o post. (Interlúdio em tcheco é přestávka, e blue dog, modrá pes; ambos inutilizáveis em qualquer contexto, ô língua alienígena))

nullDono de um currículo que contém mais prêmios do que discos, o pequeno Emil aprendeu a tocar piano em casa: diz a lenda (e o site oficial também) que o avô mandou trazer um grand piano Hoffbauer da Áustria como presente de casamento para sua esposa. Se tomou lições da avó, seguimos ignorando, mas é bonitinho de imaginar — e a julgar por suas fotos, sempre sorrindo, não lhe parece ter sido uma infância torturante. Fato que inclusive se confirma na música que desenvolve: nada contém de sombria.

Embora pareça jamais ter sido outra coisa além de músico, Emil Viklicky formou-se em Matemática na então Tchecoslováquia do final dos anos 1960. Em paralelo à faculdade, aprofundou-se no piano para jazz e começou a tocar pela noite, onde chamou atenção até ganhar bolsas para ampliar sua educação musical nos EUA. Inquieto, desde então vem percorrendo o mundo, tocando em formações pouco estáveis, colaborando com uma plétora de outros artistas — principalmente europeus —, arriscando trilhas sonoras e ganhando láureas por suas composições. Ao instrumento, é daqueles players que elevam o estilo, trazendo refinamento e trabalhando com excelência os espaços de seus sons e dos à volta; e é interessante que o faça operando num dos mais enérgicos estilos do jazz, o fusion. No entanto, não se limita; hoje é mais conhecido pelos sofisticados trabalhos em que une jazz e música folk da Morávia.

Tendo sido jovem como (aparentemente) todos nós, Emil começou sua vida musical tocando numa banda de rock de protesto, que foi imediatamente censurada pelo regime comunista. Como não era vocalista nem letrista, mas viu que tinha um bom guitarrista ao lado, propôs que reformassem a banda como um grupo de jazz fusion — onde ele poderia mostrar mais seu trabalho e, de quebra, burlar a censura. Dessa ideia surgiu uma pérola perdida do estilo: o autointitulado, álbum único da banda Energit, primeiro disco deste post. Centrado numa longa composição chamada “Manhã”, cuja parte 1 ocupa todo o lado A da bolacha e é, sem rodeios, uma obra prima, traz o registro de uma longa, embora comedida relação com os pianos elétricos e até alguns sabores mais conservadores de sintetizadores. Como Zawinul (et al.) já havia demonstrado, é fácil perceber a intenção: preencher espaços de maneira sutil, porém eficaz, com as texturas e harmônicas que as variantes eletrificadas do piano oferecem. Essa marca permanece ao seu lado nos seus trabalhos de fusion, como podemos notar no segundo disco do post, The Funky Way of Emil Vicklicky — uma coletânea daquelas bem safadas mas que, pela dificuldade de acesso ao material original, acabam servindo bem ao propósito de dar um panorama artístico. (Mesmo que ele inclua uma versão de Chega de Saudade. Aliás, fato pronto pra mesa de boteco: “sabia que Chega de Saudade foi cantada até em tcheco?”) O terceiro e último álbum trazido aqui cobre o trabalho “high brow” de Emil: o único disco que encontrei do projeto Ad Lib Moravia, que lidera ao lado de outros músicos tchecos e apresenta-se regularmente pela Europa. Bem diferente do seu lado fusion, aqui ele coloca o piano a serviço das melodias folk típicas, agitando levemente seus limites até obter delas uma qualidade moderna e elevada de jazz, às bordas do contemporâneo clássico. Por folk, também vai contar com voz em algumas peças, e até violino; na mesma medida, há raros momentos solo, em que expressa bem as qualidades que o tornam um músico único.


Energit ‎– Energit /1975 link nos comentários
A Ráno (Part I.)
B1 Paprsek Ranního Slunce
B2 Noční Motýl
B3 Apoteóza
B4 Ráno (Part II.)

null
Emil Viklický ‎– The Funky Way Of Emil Viklický /2009 link nos comentários
01 Viklický/Frisell/Driscoll/Johnson – Trochu Funky
02 SHQ – Týden
03 Emil Viklický Big Band – Ještě Jednou Slunce
04 Viklický/Frisell/Driscoll/Johnson – Květen
05 Eva Svobodová – Kam S Tím Blues (Chega de Saudade)
06 Emil Viklický Big Band – 70 Východní
07 Viklický/Frisell/Driscoll/Johnson – Boston
08 Energit – Zelený Satén
09 Emil Viklický Big Band – Hromovka
10 SHQ featuring Eva Svobodová – Země Plná Lásky
11 Viklický/Frisell/Driscoll/Johnson – Zase Zapomněli Zavřít Okno
12 Emil Viklický Big Band – Siesta
13 Viklický/Frisell/Driscoll/Johnson – Jumbo Jet
14 Energit – Ráno (Part 1; edited version)
(01, 04, 07, 11, 13) from album “Okno”, 1980 • (02) from 7″ EP “Mini jazz klub č. 18”, 1977 • (03, 06, 09, 12) Previously unreleased, 1981 (03, 12), 1987 (06), 1979 (09) • (05) from album “Můj ráj”, 1984 • (08) from 7″ EP “Mini jazz klub č. 6”, 1976 • (14) originally from album “Energit”, 1975 • (10) from 7″ single ‘Zrcadlení’/‘Země plná lásky’, 1977

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Emil Viklický, Zuzana Lapčíková, Jiří Pavlica – Prší Déšť /1994 link nos comentários
01 Prolog 02 Prší Déšť 03 Grumla 04 Kvítí Milodějné 05 Šibeničky 06 Bazalička 07 Bylo Lásky 08 Koně Moje Vrané 09 Keď Sa Janko Na Vojnu Bral 10 Mal Som 7 Peňazí 11 Na Horách, Na Dolách 12 Dyby Ně Tak Bylo 13 Mašíruju Na Francúza 14 Touha 15 Epilog

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio — das coisas que gostaria de ter compartilhado em 2012 :.

Em 2012, procurei pouco, e desordenadamente, pelo jazz. É assim, são os ciclos; estive entretido com outros barulhos e foram pra eles os esforços de garimpagem, análise e apreciação. Também apresentei sintomas da temida SCMD (Síndrome de Completude em Miles Davis — enfermidade onde o ouvinte, após tanto colecionar, tem a sensação de que não é preciso escutar qualquer coisa além de Miles Davis). No entanto, aqui e ali, atualizei alguns artistas e até descobri um par de ótimos discos esse ano. A pequena lista abaixo é um feliz natal cheio de votos de que, em 2013, haja mais e mais do prazer inenarrável de absorver a boa, divina, iluminada música, a todos nós.

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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=mQycRAjOACg[/youtube]
Um dos temas preferidos de Blue Dog é essa qualidade efêmera, dicionarizando sutileza, que o piano de Bill Evans tem. Já admiti não entender de onde surge meu fascínio nem porque me comunico tanto ao ouvi-lo. Já Cannonball, outro personagem predileto, entendo bem porque gosto: a bonachice e o espírito leve que o acompanham se traduzem perfeitamente aqui desse lado da caixa de som. Evidente que com muita curiosidade descobri esse disco, onde Cannonball lidera Evans e a cozinha quadradíssima (pero competente) do Modern Jazz Quartet. Em algumas faixas, funciona bastante bem; noutras, Cannonball parece agitado demais para a quietude e clareza do trio que o acompanha. Evidente que é este é apenas um minúsculo comentário acerca de um disco que será sempre 5/5 só pela escalação e pelo encontro.


Cannonball Adderley & Bill Evans – Know What I Mean? /1961 link nos comentários
01 Waltz for Debby (Evans, Lees) 02 Goodbye (Jenkins) 03 Who Cares? [take 5] (Gershwin, Gershwin) 04 Venice (Lewis) 05 Toy (Jordan) 06 Elsa (Zindars) 07 Nancy (with the laughing face) (Silvers, Van Heusen) 08 Know What I Mean? [re-take 7] (Evans) 09 Who Cares? [take 4] 10 Know What I Mean? [take 12]
Cannonball Adderley; alto saxophone; Bill Evans, piano; Percy Heath, bass; Connie Kay, drums. Gravado entre 27/01 e 13/03/1961. Produzido por Orrin Keepnews para a Riverside

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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=be386oMg2Yo[/youtube]
Todo mundo já sabe que do renascimento da cena jazz na Polônia, certo? Que bom. E que banda, esse sexteto de barulho contemporâneo. Tiremos o noise do caminho e é apropriado demais: brilhante forma de ler o jazz nesses anos 2000. Soa exatamente no tempo-espaço que ocupa, traz o frescor da criação, enquanto usa o vocabulário consagrado. E mostra que é muito mais produtivo divertido interessante dançar com o cânone do que brigar com ele.


Contemporary Noise Sextet – Ghostwriter’s Joke /2011 link nos comentários
01 Walk With Marylin 02 Morning Ballet 03 Is That Revolution Sad 04 Old Typewriter 05 Chasing Rita 06 Norman’s Mother 07 Kill The Seagull, Now!

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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fyLhQd8cqpg[/youtube]
Copia/cola parágrafo anterior, troca a Polônia pelo Japão, feito o carreto, segue o baile. (Sempre muito interessante notar as diferenças de estilo entre europeus e japoneses. Acho graça da latinidade que o segundo exibe.) Quase sempre veloz e incansável, o Indigo é um dos preferidos da casa e, tradicional, segue lançando disco bom após disco bom — todo santo dezembro.


Indigo Jam Unit – Rebel /2012 link nos comentários
01 Rebel 02 Belief 03 Rio 04 Graduation Day 05 Danza Eterna 06 Peekaboo 07 4 Caminos 08 Unreachable 09 Reflection

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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ClyWznHWRBk[/youtube]
Encontrei Dave Tarras pela minha irmã. Assistimos juntos (longe, mas comentando) o documentário do Ken Burns sobre jazz, e ela pescou a pérola acima de um curto link entre cenas. Depois de algum estarrecimento e pesquisa, saber que Tarras emigrou da Ucrânia para Nova Iorque em 1921, onde se tornou um dos mais populares clarinetistas de klezmer. O disco abaixo é um daqueles registros históricos, coletânea de gravações de qualidades diversas, que se torna uma incrível caminhada pelo passado. E toda aquela carga emocional tão própria do clarinete, permeando lamentos e exaltações, conta tantas histórias quanto o documentário onde as descobri.


Dave Tarras – Yiddish-American Klezmer Music 1925-1956 link nos comentários
01 Unzer Toirele 02 Yiddisher March 03 Good Luck 04 Polka “Strelotchek” 05 Chasidic in America 06 A Yid Bin Ich Gegboiren 07 Dem Monastrishter Rebin’s Chosid’l 08 Hopkele 09 Bridegroom Special 10 Die Goldene Chasene 11 Pas d’Espan 12 Mazel in Liebe 13 A Vaibele a Tsnien 14 Zum Gali Gali 15 Die Reize Nuch Amerkia 16 Branan Hassene 17 Kinos, Tkios un Ashrei 18 What Can You Mach? S’is America 19 Oriental Hora 20 Second Avenue Square Dance 21 Freilachs 22 Dayeynu 23 Rumanian Fantasy

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http://www.youtube.com/watch?v=5mL17N1ajIU
Julia Hülsmann é uma pianista que, além de germânica, grava para a ECM. Isso diz quase tudo que é preciso saber para conferir do que se trata. Falava antes da sutileza de Bill Evans? Bingo. Julia, com seu trio de baixo e bateria, trabalha de forma absolutamente minimalista e não houve qualquer desperdício na realização desse álbum. A música é suave, geralmente lenta, mas à medida em que as faixas se passam, vai se assimilando o estilo e percebendo a intensidade que traz. É um disco quieto e econômico, mas não é preguiçoso ou esparso — e consegue ter personalidade mesmo nos espaços que deixa desocupados. E também é lindo.


Julia Hülsmann Trio – Imprint /2011 link nos comentários
01 Rond Point 02 After the End of It 03 A Ligth Left On 04 Juni 05 Storm in a Teacup 06 Go and Open the Door 07 Luftballong 08 Ritual 09 Lulu 10 Ulmenwall 11 Zahlen Bitte 12 Whos Next

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – Hauschka :.

“Escutar uma peça de Hauschka pode ser enganoso: o que soa como uma orquestra de músicos e instrumentos é apenas um homem, tocando em um piano. Seu nome verdadeiro é Volkmer Bertelmann, e ele vem de Dusseldorf, Alemanha, onde trabalha em seu “piano preparado”. Ele arranca sons perturbadores do instrumento de 88 teclas equipando as cordas e martelos com objetos como bolas de pingue-pongue, papel alumínio e couro.”

[youtube width=”640″ height=”360″]http://www.youtube.com/watch?v=43Z4yljYY_c[/youtube]

Para além do aspecto lúdico da interferência no instrumento, o que vale é a enorme imaginação de Hauschka como compositor. Nos discos abaixo há momentos com músicos de apoio*, ou seja, não é apenas um homem isolado e seu piano; nota-se a sadia preocupação de adicionar outros sons quando há a necessidade. Hauschka faz uma música que não comporta rótulo, e no entanto estabelece diálogos com diversas outras vertentes que vão com o nariz apontado para o avant-garde. Há referências claras do piano preparado — Cage, Satie — e me agrada especialmente a construção dos temas, evocando (e até usando) muitas vezes o uso de camadas de loops encontrados em artistas de vanguarda da chamber music (Colleen, Marsen Jules) e do freak folk (Lau Nau, Grouper). Também nota-se uma profusão de barulhinhos e detalhes espalhados por todo o lado, expediente corriqueiro na paleta de artistas de new ambient/electronica. São conexões, e no conjunto, as músicas são criativas e estimulantes, e frequentemente delicadas; há mais acontecendo na execução do que nos parece aos ouvidos, e acho que fica bem assim. O que poderia tornar-se atração mais pelo processo do que pelo resultado, acaba engolfado pela sofisticação que parece tão inerente a esses músicos alemães.

*O terceiro disco é um dueto com a violoncelista islandesa de nome impronunciável, e um trabalho bem mais experimental e ‘concreto’ do que os outros. Com um tema aquático e faixas que remetem a códigos de tons azuis de cores, é um disco desafiador, profundo e tarja preta — e muitos dos que ouvirão os três álbuns apontarão esse como o melhor.


Hauschka – 2007 Room to Expand V0
link nos comentários
01 La Dilettante . 02 Paddington . 03 One Wish . 04 Chicago Morning . 05 Kleine Dinge . 06 Belgrade . 07 Sweet Spring Come . 08 Femmeassise . 09 Watercolour Milk . 10 Zahnluecke . 11 Fjorde . 12 Old Man Playing Boules


Hauschka – 2011 Salon Des Amateurs V2
link nos comentários
01 Radar . 02 TwoAM . 03 Girls . 04 Ping . 05 Cube . 06 Subconscious . 07 NoSleep . 08 Tanzbein . 09 TaxiTaxi . 10 Sunrise


Hauschka & Hildur Guðnadóttir – 2011 Pan Tone 320
link nos comentários
01 #283 . 02 #294 . 03 Black 6 . 04 #304 . 05 #320 . 06 Cool Gray 1

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :. SOIL & "PIMP" Sessions: Planet Pimp & 6

Links revalidados por PQP, que acha sensacionais estes CDs

Se você não quiser ler mais nada e seguir direto para os links, tudo bem. Não tem problema. Eu entendo.

SOIL & “PIMP” Sessions is an explosive Japanese jazz band, comprised of six musicians. At its core, the group is about giving pulsating live performances. Their brand of jazz is rough around the edges, unadulterated entertainment and constantly kept at boiling point.

They originally met at a club event in Tokyo in 2001. The Tokyo club scene was dominated by DJs until SOIL & “PIMP” SESSIONS arrived, breaking the mold as live pioneers. Calling their music “DEATH JAZZ”, they gained recognition for performing an original form of aggressive alternative jazz.

“We always felt that in the world of jazz, there was an unwritten rule that the musicians were to concentrate on their techniques and the audience were simply there to admire, like a transmitter/ receiver relationship. We wanted to break away from that and create exciting jazz with far more interaction between the players and the audience”.site oficial

Não sei bem que caminho fiz, navegando na internet, mas lá pelas tantas caí numa matéria do The Japan Times. Sendo este cão também um grande admirador das vertentes mais pesadas do heavy metal, fui instantaneamente captado pelo título: Soil creates life with ‘death jazz’. Do artigo fui para o youtube, e com o vídeo acima, meu cérebro renasceu como se tivesse sido bombardeado por uma jarra de café espresso — pela primeira vez em muitos anos. (Foi ontem cedo da manhã. O chefe elogiou a rentabilidade do meu trabalho no fim do dia.)

Claro que a relação com metal ou death metal fica apenas na metáfora brincalhona — apesar de que a ideia de vigor, e até mesmo alguma agressividade, não é de todo fora de lugar. Faixa acima à parte, o sexteto japonês trabalha numa linha de funk jazz que lembra uma mistura de Hermeto Paschoal com um John Zorn mais contido. Há músicas que parecem ter saído de um festival europeu de jazz latino, e até algumas baladas com vocal (inegavelmente as mais fraquinhas – por sorte apenas uma ou duas a cada disco). O S&PS toca swing, toca bebop, joga groove por cima de tudo e apresenta-se com uma vivacidade muito rara no jazz contemporâneo: seus discos não querem soar como se tivessem sido gravados nos anos 70. Passam longe do cool, ao contrário; querem e geram calor, como se pode ver nos shows ao vivo. Já disse que são japoneses? Ah, os japoneses! Os únicos verdadeiros inovadores de hoje, sem jamais restringir sua criatividade infinita, ou veja as capas dos discos deste post (os mais recentes):


Tirem as crianças da sala, e o vovô também: vá com todos pro jardim, levante o volume, e ousem dançar.

Por que não?

SOIL & “PIMP” Sessions
Shacho: agitator, spirit
Tabu Zombie: trumpet
Motoharu: sax
Josei: keyboards
Akita Goldman: double bass
Midorin: drums

6 – set/2009 [320]
download (rapidshare)
01 SEVEN
02 KEIZOKU
03 PAPA’S GOT A BRAND NEW PIGBAG
04 MY FOOLISH HEART ~crazy in mind~
05 DOUBLE TROUBLE
06 POP KORN
07 QUARTZ AND CHRONOMETER
08 PARAISO
09 MY FOOLISH HEART ~crazy on earth~×SHEENA RINGO
10 MIRROR BOY
11 “STOLEN MOMENTS” feat. Jamie Cullum
12 AFTER THE PARTY
13 SATSURIKU TO HEIWA

PLANET PIMP – mai/2008 [192]
download (rapidshare) – 83MB
01 I.N.T.R.O.
02 Hollow
03 STORM
04 Fantastic Planet
05 GO NEXT!
06 Darkside
07 Sea of Tranquility
08 The world is filled by…
09 Khamasin
10 Struggle
11 Mingus Fan Club
12 Mars
13 SATSURIKU Rejects
14 Sorrow

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :. Cannonball Adderley: Jazz Workshop Revisited

(Link revalidado pelo PQP, que uiva de saudades do Blue dog, o cão pulguento e marginal).

1955. Um professor de música sai da Flórida para Nova Iorque, para continuar seus estudos.

1955, ano que a educação perde um grande mestre para o jazz.

Fascinado e com tenacidade, Julian Adderley resolve montar seu próprio quinteto. Contando com o apoio (tanto de incentivo como na banda) de seu irmão Nat, passa a freqüentar fervilhantes noites em clubs onde seria destacado pela sua leitura mais relaxada do bebop, mais ‘funky’, mais intimista e divertida.

O quinteto, no entanto, não é sucesso – principalmente numa cena dominada pelo hard bop. Ele subsiste até que Coltrane saia (temporariamente) do grupo de Miles Davis, quando então este elenca como substituto o promissor Cannonball Aderley. A dupla gravaria cinco discos numa das maiores formações do jazz, em Milestones, Miles & Monk at Newport, Jazz at the Plaza, Porgy and Bess e Kind of Blue.

Cannonball ganhou notoriedade na Big Apple com uma gravação de “This Here”, em 1955, no mesmo Jazz Workshop. Com Miles, desenvolveu sua técnica e tornou-se um músico superior. Ao sair do quinteto gravou com Coltrane e Bill Evans, reativou seu grupo (agora um sexteto) em 1960, estabeleceu-se como maior expoente do soul jazz e voltou ao clube onde surgiu – nas noites de 22 e 23 de setembro de 1962 – para gravar o disco deste post.

Soul jazz: bop e hard bop, mas com ênfase na melodia e no swing. Mais relax, como o imenso carisma de Adderley sugeria – e se pode notar nas conversas que tem com o público, e nos gritos de incentivo à banda durante os solos. Cannonball, corruptela de “cannibal” porque comia muito e tinha porte avantajado (que manteve), gosta de ser técnico como Davis e de balançar como Duke Ellington. Morreu antes dos 50 anos, em 1975, de ataque cardíaco. Sua música vive bem mais: é alegre e upbeat sem fazer concessões à complexidade. Também por isso atingiu tantas camadas de público; tinha a alma da músia negra, celebrativa e convidativa. No final da gravação, Cannonball se despede do público pedindo desculpas, entre gritos de que não saia do palco.

Ainda não saiu.

Cannonball Adderley: Jazz Workshop Revisited (320)

Cannonball Adderley: alto sax
Nat Adderley: cornet
Yusef Lateef: tenor saxophone, flute, oboe (“and etc”)
Joe Zawinul: piano
Sam Jones: double bass
Louis Hayes: drums

Produzido por Orrin Keepnews para a Riverside

01 Opening Comment 0’51
02 Primitivo (Cannonball Adderley) 9’11
03 Jessica Day (Quincy Jones) 6’29
04 Marney (Donald Byrd) 6’52
05 A Few Words… 0’13
06 Unit 7 (Sam Jones) 9’02
07 Another Few Words 0’26
08 The Jive Samba (Nat Adderley) 10’59
09 Lillie (Sam Jones) 4’43
10 Mellow Buno (Yusef Lateef) 6’00
11 Time To Go Now – Really! 0’36

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (RapidShare)

Blue dog

.: interlúdio – Nikolai Kapustin :.

Este post começa com uma pausa — para agradecimentos. Obrigado a todos os leitores do PQP Bach, em especial estes que embarcam nas peripécias jazzísticas (frequentemente experimentais) deste seu Blue Dog. Fico sinceramente feliz com o espaço e a companhia dos colegas autores e leitores. (E meus amigos também agradecem, porque assim diminuo a torrente de e-mails com indicações, espasmos e suspiros musicais variados. (Sou daqueles apaixonados chatos, que não conseguem calar a boca quando o assunto é o preferido.)) E embora eu não responda a todos os comentários deixados nos posts, saibam que não passo nenhuma dica; às vezes demora pra eu ouvir, noutras não é bem o idioma que ando escutando, mas eu sempre vou atrás. Foi o que aconteceu dessa vez, inclusive; está lá num post do ano passado sobre Mouse on the Keys, o César quem disse: “Interessante, a Toccatina do Sezession é o próprio estudo do Concert Etudes Op.40, do Kapustin. Esse compositor seria uma boa pedida para este blog, Blue Dog.”

Mais de um ano depois, fui conferir meio desconfiado. A Toccatina do Mouse on the Keys, excelente, um quase blues-funk, então é uma versão? De um compositor de nome russo, com nome da obra meio em francês, e ainda por cima um opus na referência? Naquele milissegundo do julgamento primário, me bateu muito mal; isso vai ser lento, e chato, certamente.

E foi aí que o cachorro tropeçou nas próprias patas.

A Toccatina original é trocentas vezes melhor. Rápida, energética, até feroz. Jazz? Sem dúvida, há todo aquele swing marcante. Mas há algo na estrutura; o fluxo das notas não parece nenhuma outra improvisação a que estejamos acostumados. A biografia explica: Nikolai Kapustin (nascido na Ucrânia em 1937) estudou música clássica durante anos a anos a fio, e então descobriu e apaixonou-se pelo jazz. Ele conta numa entrevista que viu seu sonho mudar; de um virtuose erudito, passou a desejar ser um compositor clássico para o jazz. A mesma proposta que a Third Stream queria produzir, mas com uma diferença: foco. Kapustin consegue fazer a fusão entre os dois mundos de maneira complexa e altamente satisfatória, sem divagar, e sem “unir duas partes”. Sua música traduz em si mesma o conceito que o autor desenhou, sem jamais soar como um Frankenstein.

Kapustin começou escrevendo para orquestra, e nos anos 1980, focou mais nas composições solo para piano. Suas gravações ganharam pequenas edições na Alemanha e no Japão; mas afora um pequeno círculo, era um desconhecido até mesmo do público russo até 2000, quando Steve Osborne e Marc-André Hamelin registraram, em disco e turnês, suas interpretações para Kapustin. Foi um pequeno foco de luz em seu trabalho, e algum reconhecimento; ainda assim, me parece demais escondida, a música deste senhor. A escassez de informações na internet é um sinal de que, apesar dos calorosos comentaristas do youtube, Kapustin ainda é uma excentricidade musical. Não me parece que sua música seja impopular; e se ele mesmo admite que não gosta de tocar ao vivo, e quase nunca se apresenta — o que certamente ajuda a mantê-lo obscuro — , disseminemos a informação, ora, por favor, e obrigado de novo pela valiosa dica, César. Aliás, se alguém souber como conseguir gravações dos anos 1960, quando Kapustin tocava na big band de Oleg Lundstrom, por favor, me avise. A discografia possível, brilhante e vigorosa que seja, não registra nada parecido com esta raridade, de 1964:

[youtube width=”500″ height=”375″]http://www.youtube.com/watch?v=agr38i9X0sA[/youtube]

E aqui temos ele tocando em 2007 – uma composição mais próxima aos discos do post. Não é fabuloso?

[youtube width=”500″ height=”375″]http://www.youtube.com/watch?v=vDWeGp4UE6M[/youtube]

A ficha de composições é imensa; esta lista é a melhor que encontrei, e ela para em 2009, no Opus 141. Não achei uma discografia decente, mas pude apurar que, afora pequenos registros já perdidos no tempo, seus primeiros discos foram uma série “Kapustin plays Kapustin” que saíram pela Melodiya russa, com uma curta tiragem internacional pela Bohéme. Mais tarde, nos anos 2000, com a atenção provocada por Osborne e Hamelin, a japonesa Triton relançou todos os seus discos, com nomes diferentes; e bancou mais alguns álbuns originais. Coloquei abaixo tudo que encontrei em boa qualidade, e é quase tudo que há disponível, parece; mas fiquei apenas nos que traz Kapustin como intérprete. Tenho escutado todos, mas volto com mais frequência ao Jazz Pieces for Piano e ao Jazz Portrait. (Aliás, a tristeza dele naquela foto da capa é de cortar o coração. Lembra até um certo meme da internet.) O disco em que ele toca com um quinteto é agradabilíssimo, principalmente as peças com duas flautas. Mantive as capas e datas originais, quando possível, mas as gravações são todas das reedições da Triton.

*update 02/01/13: link para torrent contendo todos os discos.


Nikolai Kapustin – Jazz Pieces for Piano /1985 [V0]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
01-08 Eight Concert Etude Op.40
09-12 Piano Sonata No.1 “Sonata Fantasy” Op.39
13 Suite in Old Style for Piano Op.28
14 Variations for Piano Op.41


Nikolai Kapustin – 24 Preludes in Jazz Style Op. 53 /1987 [320]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
01-24 24 Preludes in Jazz Style, Op. 53
25 Sunrise for Piano Op. 26
26 Toccatina for Piano Op.36
27 Meditation (Contemplation) for Piano Op.47
28 Sounds of Big Band for Piano Op.46
29 Moving Force for Piano Op.45


Nikolai Kapustin – Jazz Portrait /1991 [V0]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
01 Andante for Piano, Op.58
02-04 Sonata for Piano No.4, Op.60
05-14 Ten Bagatelles for Piano, Op.59
15-17 Sonata for Piano No.5, Op.61
18-20 Sonata for Piano No.6, Op.62


Nikolai Kapustin – Piano Sonatas Nos. 2 & 3 /1991 [320]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
01-04 Sonata for Piano No.2 Op.54
05 Sonata for Piano No.3 Op.55
06 Andante for Piano Op.58
07-08 Introduction and Scherzino for Violoncello Solo Op.93
09-11 Duo for Alto Saxophone and Violoncello Op.99


Nikolai Kapustin – Kapustin Piano Quintet etc /2001 [320]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
Nikolai Kapustin, piano; Alexander Korneev, Mariana Rubinstein, flute; Alexander Zagorinsky, cello; Alexander Chernov, Vladimir Spektor, violin; Svetlana Stepchenko, viola
01-03 Trio for Flute, Cello and Piano Op.86
04-07 Quartet for Two Violins, Viola and Cello Op.88
08-11 Quintet for Two Violins, Viola, Cello and Piano Op.89
12-14 Divertisment for Two Flutes, Cello and Piano Op.91


Nikolai Kapustin – 24 Preludes and Fugues for Piano Op.82 Violin Sonata etc /2001 [256]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
CD1: 01-34 24 Preludes and Fugues Op.82 – 1 a 17
CD2: 01-14 24 Preludes and Fugues Op.82 – 18 a 24
15 Elegy for Cello and Piano Op.96
16 Buriesque for Cello and Piano Op.97
17 Nearly Waltz for Cello and Piano Op.98
18-20 Sonata for Violin Op.70


Nikolai Kapustin – Last Recording /2004 [320]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
01-04 Sonata for Piano No.7 Op.64
05 Berceuse for Piano Op.65
06-08 Three Impromptu for Piano Op.66
09-11 Three Etudes for Piano Op.67
12 Impromptu for Piano Op.83
13 Paraphrase on a Theme by P. Dvoyrin Op.108
14-15 Sonata for Piano No.12 Op.102


Nikolai Kapustin – Kapustin Returns! /2008 [V2]
http://thepiratebay.se/torrent/7980318
01 Paraphrase on Aquarela do Brasil by Ary Barroso for piano Op.118
02-03 Two Etude-like Trinkets for Piano Op.122
04 End of the Rainbow Op.112
05 Humoresque Op.75
06 Fantasia Op.115
07 Gingerbread Man Op.111
08 Vanity of Vanities Op.121
09 Spice Island Op.117
10 Paraphrase on Blue Bossa by Kenny Dorham Op.123
11 Countermove Op.130
12-14 Sonata for Piano No.16 Op.131

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – Shakti :.

Tendo experimentado fama repentina e autodestruição em pouco mais de cinco anos, a Mahavishnu Orchestra marcou e mudou profundamente a cena do jazz dos anos 70 e em diante. Nesse curto período o grupo solidificou o fusion, deu cria à rebentos dos mais diversos, e ainda apresentou uma conexão indiana jamais ouvida no jazz. John McLaughlin, entre mudanças de formação e críticas públicas ao seu estilo de liderança, caminhava sobre os mortos e feridos; já estabelecido como uma grande força criativa, continuou gozando de excepecional reputação — tanto que a CBS topou, sem pestanejar, lançar os álbuns de seu novo grupo, Shakti. (Certamente assegurando-se os direitos completos sobre a arte das capas, como perceberemos nas imagens abaixo.)

E o que McLaughlin apresentou foi um aprofundamento no caminho da música indiana; sob olhares boquiabertos, largou a guitarra, puxou o violão e sentou no tapetinho — em meio a uma quase-orquestra indiana de facto. Acústico, mas não sem o vigor de antes, senão ao contrário; com o Shakti, McLaughlin toca mais rápido do que nunca — muitas vezes, seguindo nota a nota a marcação da tabla. Que era um virtuose, se sabia; que era apaixonado pela cultura indiana (com guru pessoal e tudo, como bem em voga na época), também; a surpresa ficou por conta do desassombro com que os músicos desenvolveram temas que vão do energético ao espiritual, do meditativo ao furioso, numa linguagem totalmente nova.

Ou ainda: bicho, é de cair o queixo.

O primeiro disco, autointitulado, é de 1976; um registro ao vivo, e por isso mesmo, o mais improvisado deles — incluindo uma quase-raga de meia hora como lado B. O segundo, do mesmo ano, gravado em Londres, demonstra uma proposta melhor consolidada, e provavelmente as melhores composições do grupo (Lady L pra mim, a qualquer hora do dia ou da noite.) O terceiro e último já vem num suspiro; Shakti não vendeu quase nada à época, e esse disco, de temas mais curtos e menos agressivos, foi a última (e fracassada) tentativa da gravadora em fazer alguns tostões, que, aliás, não viriam. Era outra vez a índole do inquieto McLaughlin, com seus projetos-relâmpago: já em 1977 o Shakti havia dito o que queria dizer, e ficava pra trás. (Ao menos até ganhar uma reunião na virada dos anos 2000, chamada Remember Shakti, e que até hoje faz turnês irregulares). E esse projeto, como tudo (ou quase tudo) que ele fez, transformou-se em objeto de culto e reverência.


Shakti – Shakti (live) /1976 [V0]
John McLaughlin, guitar; L. Shankar, violin; R. Raghavan, mridangam; T. H. Vinayakaram, ghatam, mridangam; Zakir Hussain, tabla
download – 88MB /mediafire

01 Joy (McLaughlin/Shankar) 18’13
02 Lotus Feet (McLaughlin) 4’44
03 What Need Have I for This/What Need Have I for That/I Am Dancing at the Feet of My Lord/All Is Bliss/All Is Bliss (McLaughlin/Shankar) 29’03


Shakti – A Handful of Beauty /1976 [320]
John McLaughlin, guitar; L. Shankar, violin, vocals; T. H. Vinayakram, percussion, vocals; Zakir Hussain, percussion, tabla
download – 109MB /mediafire

01 La Danse Du Bonheur (McLaughlin/Shankar) 4’48
02 Lady L (Shankar) 7’23
03 India (McLaughlin/Shankar) 12’31
04 Kriti (trad.) 2’58
05 Isis (McLaughlin/Shankar) 15’11
06 Two Sisters (McLaughlin) 4’41


Shakti – Natural Elements /1977 [320]
John McLaughlin, guitar; L. Shankar, violin; Zakir Hussain, percussion, tabla; T. H. Vinayakaram, ghatam
download – 89MB /mediafire

01 Mind Ecology (McLaughlin) 5’48
02 Face to Face (Shankar) 5’58
03 Come On Baby (Shankar) Dance with Me 1’59
04 The Daffodil and the Eagle (McLaughlin) 7’03
05 Happiness is Being Together (McLaughlin) 4’29
06 Bridge of Sighs (McLaughlin) 3’52
07 Get Down and Sruti (McLaughlin) 7’03
08 Peace of Mind (McLaughlin) 3’21

Boa audição!
Blue Dog

.: tevê interlúdio – Duofel :.

Uma hora de Duofel no Studio n° 7, iniciativa de uma marca de uísque e que ganhou uma perna aqui no Brasil pela Trama. O show foi transmitido ao vivo pela internet em junho passado. Dizer que é sensacional é pouco. Assista e anote mentalmente: jamais perder um show quando o Duofel passar pela cidade.

Quem quiser baixar o vídeo (ou ripar em mp3) pode acessar o clipconverter e usar a url original do vídeo no youtube. No entanto, esteja avisado: trouxe aqui uma versão editada, porque a marca de uísque colocou 65’32 minutos de seu logotipo em loop antes do show em si. Quer dizer — nós disponibilizamos a apresentação completa de graça, mas em troca vamos irritar você até que a coisa toda perca a graça um pouquinho. Marketing clássico. No clipconverter há opção de especificar o início do vídeo; use o tempo acima. Corte nos 170’42, antes que comecem videoclipes spam sem qualquer relação com o show. (Ah, e tem um intervalo no meio, incluindo um documentário sobre o patrocinador.)

Este show é focado no trabalho mais recente da dupla, que é uma releitura dos Beatles. Eu sinceramente prefiro qualquer trabalho original a outra releitura dos Beatles, mas posso fazer uma concessão, e que eles ganhem um pouco mais de reconhecimento internacional, merecido, quem sabe, tomara. Ainda assim, os arranjos são qualquer coisa menos que apuradíssimos, e pra quem aprecia os violões, é daquela técnica de derrubar queixos. E por favor, revisite logo aqui dois discos fantásticos dessa dupla. Atualizei este antigo post, lá de 2007, com rips mais adequados, em 320 — e incluí o álbum ao vivo que comemorou os 20 anos da dupla, em 2000.

Desnecessário dizer, são desses artistas que vale a pena comprar o disquinho. E sim, eles estão lá, na mirrada estante de jazz deste cão.

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – The Skipper and The Reverend :.

Sei quase nada sobre Henry Franklin. Que fez seu caminho no jazz em Los Angeles, que aprendeu muito com Freddie Hubbard e Archie Sheep, que possui extensa discografia — tanto como líder quanto integrante — e que ainda hoje, aos 71 anos, grava e se apresenta regularmente, na Califórnia. E está bem assim; se o “Skipper” manteve consigo certa aura underground, porque não manter a proposta? Principalmente porque meu primeiro contato com o disco que trouxe hoje, The Skipper, se deu por impulso, num sebo. Já compraram disco pela capa? Pois foi o caso. Um tanto de esoterismo, a mancha toda quase em negativo, indicando: jazz tarja preta. O selinho da Black Jazz chancelava. Pensei em perguntar se era um álbum de fusion (o disco é de 1972), mas não quis chamar a atenção, já que o preço era ridículo e o vendedor podia se dar conta. Cheguei em casa pra descobrir uma obra — não de fusion, que eu queria evitar (fusion é um assunto muito delicado), mas de hard bop. E primeira linha. Mas PÕE primeira linha nisso.

Franklin, baixista, faz um caminho mais Paul Chambers, menos Mingus. É mais contido, mas não menos audível nas gravações; fácil de perceber um compasso certeiro com Henderson, no piano elétrico. (Já falei o quanto eu gosto da sonoridade do piano elétrico? Os timbres trazem uma claridade que lembra o exato ponto entre o piano e um vibrafone, e as notas ressaltam em meio dos temas de uma forma inconfundível, que pra mim se traduzem como um instrumento que toca nos sonhos. Sempre me encanto.) Baixo e piano complementam-se e conduzem perfeitamente os temas, deixando à bateria e aos sopros uma liberdade que toma um ar meio europeu, lembrando Evan Parker. O disco alterna temas longos, mais velozes e experimentais, à momentos de maior swing; uma pitada, não mais que isso, de soul aqui e ali, e até um blues. O repertório é interessante e variado, porém os temas mais brilhantes são os mais violentos, mesmo — em especial o de abertura. (“Beauty And The Electric Tub” poderia ser out-take de Bitches Brew, até.)

E já que estamos tratando de pérolas escondidas cujas quais o autor do post sabe pouco (além do que ouve), cabe como uma luva trazer também Uhuru na Umoja, swahili para “liberdade e fraternidade”, magnum opus do saxofonista Frank Wright. Aos ouvidos, logo diz: “lembra o Coltrane free jazz, mas antes de ficar completamente fora do controle (hm, Ascension)”. Na resenha, também lembra Coltrane: as liner notes do álbum trazem a inscrição “Fui colocado neste planeta pelo Criador, para proclamar a mensagem do Espírito Universal, levá-la ao povo”. Não à toa, Wright é chamado de “Reverendo”, e sola como se estivesse fazendo um sermão no delta do Mississipi — que foi onde nasceu, inclusive. Gravado em Paris (Frank deixou os EUA em 1969 e viveu o resto da vida na Europa) e lançado pela Verve em 1970, Uhuru na Umoja não quer ser solene como os discos de Coltrane; no entanto, consegue trazer boa dose de misticismo no jogo de sopros que Wright faz com Noah Howard, outro devoto do avant-garde jazz (e que assina todas as composições bases do disco). Soma-se a isso o fato de que — paradoxalmente ao primeiro disco deste post — o quarteto não tem baixo. E por “não ter baixo” eu também quero dizer que nem piano, nem bateria vão tentar emular essa função; a cozinha está mais improvisada que os saxofones, e são eles que, curiosamente, vão dar a progressão na maior parte do tempo. (“Grooving”, apesar de arrebatadora, não tem groove absolutamente nenhum (o que deixa tudo muito divertido). Junto com “Being”, bastante percussiva, são os pontos altos da bolacha.) Encorpado, é free jazz não recomendado para iniciantes (ou seja, daqueles que PQP adora — e inclusive adora usar pra provocar os incautos). Mas quem tem um pé no estilo vai se esbaldar. Aliás, prestem atenção, se puderem em meio à mixagem pré-setentista (e à fumaceira que os sopros estão fazendo), na elegância que Art Taylor mantém na bateria. Sem perder-se do intuito free jazz, não sai da linha em nenhuma baquetada.


Henry Franklin – The Skipper /1972 [V2]
download – 65MB /mediafire
Henry Franklin (Fender and upright bass), William Henderson (electric piano), Mike Carvin (drums), Oscar Brashear (trumpet, flugelhorn), Charles Owens (tenor sax, alto sax), Kenny Climax (guitar, electric tub), Fred Lido, Tip Jones (percussion)
01 Outbreak (Franklin) 10’08
02 Plastic Creek Stomp (Franklin) 3’27
03 Theme for Jojo (Hall) 7’46
04 Beauty and the Electric Tub (Franklin) 12’40
05 Little Miss Laurie (Franklin) 7’42
06 The Skipper (Henderson) 5’21


Frank Wright Quartet – Uhuru na Umoja /1970 [192]
Frank Wright (tenor sax), Noah Howard (alto sax), Bobby Few (piano), Art Taylor (drums)
download – 47MB /mediafire
01 Oriental Mood 8’53
02 Aurora Borealis 7’41
03 Grooving 6’50
04 Being 6’26
05 Pluto 3’51

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – Mama!milk :.

Ok, sejamos diretos e honestos: o interlúdio de hoje traz um grupo de tango. Japonês. Chamado Mama!milk.

~.~

Se você continua neste post, parabéns! Você é um curioso, e isso é muito bom. E por causa disso será recompensado com uma quadra de ases. Afinal, admitamos: friamente, a descrição não é das mais promissoras. No entanto, quem tem alguma intimidade com o universo musical japonês (orgulhosamente presente aqui no PQP) sabe que é preciso abandonar paradigmas ao escutar algo vindo de lá. Embora a proposta pareça inusitada, quem tem ouvidos atentos sabe que nada que surja do Japão pode, com honestidade, ser classificado de improvável.

O cerne do Mama!milk é a acordeonista Yuko Ikoma e o contrabaixista Kosuke Shimizu, ambos baseados em Tóquio, e com músicos convidados (piano, sopros, bateria — até um theremin) a orbitar seus shows e discografia. Mais do que compor e interpretar temas que invariavelmente nos atingem como tangueros, a música do duo parece um estudo sobre as possibilidades do acordeão no cool jazz. Se eu fosse resenhista de alguma revista descoladinha, eu os chamaria de post-tango sem hesitar; frequentemente as músicas estendem-se sem pressa, com as notas colocadas suavemente, e uma produção que enfatiza climas, antes de execuções. Somos remetidos a passeios em ruas antigas, a jardins de grama alta, a sonhos primaveris, a beijos de cinema noir. Sem exigir muito em troca — os andamentos não são simples, mas a técnica passa despercebida — , a música do Mama!milk é uma experiência altamente gratificante.

Os discos deste post se parecem entre si; a carreira do grupo, que já dura quase 15 anos, não marca nenhuma guinada brusca. (Inclusive porque ambos músicos principais tem seus outros projetos, mantendo o foco do Mama!milk intacto enquanto se divertem experimentando em outras frentes.) No entanto, isso não significa que não haja evolução; sua música vai se refinando, ficando mais sofisticada. Sugiro começarem por “Fragrance of Notes”; se não por ter sido eleito um dos 5 melhores álbuns de jazz pela BBC/Radio 1 em 2008, pela faixa The Moon. Me digam se não é a coisa mais bonita que vocês já ouviram nos últimos tempos. (E Two Ripples não fica muito atrás.)

(Além dos discos postados, o grupo lançou três EPs em colaborações especiais, dois discos em 2010 — “Quietude”, apenas com o duo principal, e “Parade”, com grupo completo — e está trazendo mais um, “Nude”, no mês que vem. Tanto no mundo físico quanto no virtual, são uma raridade pra encontrar.)


Mama!milk – Abundant Abandon /1999 [160]
Yuko Ikoma (accordion, piano), Kosuke Shimizu (double bass), Toru Satake (violin), Haruo Kondo (clarinet), Kunihiko Kurosawa (percussion)
download – 55MB /mediafire
01 Tricky clown round midnight
02 Sugar Daddy
03 Marie!; a big sweet dame in red
04 Popula; populus.poplars.pupulorum
05 Balloons over the carny
06 Ecco la carne
07 Dance your destiny, Nana
08 Abundant abandon
09 Pierre Angeric
10 A spree & French jinks
11 Heureux jours sous le ciel


Mama!milk – Lamb and Mutton /2001 [320]
Yuko Ikoma (accordion, piano, organ, music box), Kosuke Shimizu (double bass), Yasuko Saito (violin), Satoshi Yoshiike (clarinet), Satoru Takeshima (flute, sax), Yuki Yano (theremin), Masaki Mori (guitar), Gaku Nakamura (percussion), Tsutom Kurihara (percussion), Maki Takeuchi (drums)
download – 84MB /mediafire
01 Anemone Anaemia
02 Lamb and Mutton
03 Andante, Coquettish “kuroneko”
04 Sugar Daddy’s Daddy
05 4 Down
06 Crimson Erosion
07 Mieulou
08 Ao
09 Granpa in 3a.m.


Mama!milk – Gala de Caras /2003 [320]
Yuko Ikoma (accordion, piano), Kosuke Shimizu (double bass), Atsuko Hatano (violin, cello), Takeo Toyama (marimba), Pyon Nakajima (claves, bongo, castanets, guiro)
download – 82MB /mediafire
01 August
02 Greco on Thursday
03 Gala de Caras
04 Intermezzo, Op. 28
05 0
06 Greco on Monday
07 Zizi
08 Waltz for Hapone
09 Sones
10 A Piacere


Mama!milk – Fragrance of Notes /2008 [192]
Yuko Ikoma (accordion), Kosuke Shimizu (double bass), Yuichi Inobori (flute, trombone), Gak Sato (theremin), Takeo Toyama (piano), Tsutom Kurihara (drums)
download – 67MB /mediafire
01 Kujaku
02 Antique Gold
03 Hourglass
04 The Moon
05 Intermezzo, Op. 32
06 Avant Fermentation
07 Anise
08 Rosa Mundi
09 Smoky Dawn
10 Rosa Moschata
11 Two Ripples
12 Mano Seca
13 Sometime Sweet
14 Waltz, Waltz

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – Ketil vs Kjetil :.

Já vinha comigo desde ano passado o Piano Poems do (evidentemente) pianista norueguês Kjetil Bjerkestrand. Como o título sugere, trata-se de um disco delicado, de arranjos bastante atmosféricos — Kjetil também compõe para cinema, influência que se faz presente no clima de algumas faixas. Além do piano, Ketil faz uso de um par de órgãos e uma extensa linha de sintetizadores vintage; no entanto, o Steinway é sempre a figura de proa, cabendo aos outros teclados a formação de texturas, bases discretas ou mesmo beats muito suaves, esparsos. O resultado é bastante leve e agradável. E às vezes, leve demais, pro meu gosto; pra manter seu instrumento solo isolado durante todo um disco, é preciso ter alta energia inspirativa, além de boa dose de virtuosismo — e em certas faixas, os poemas parecem ter uma rima fácil demais. Outros temas (como February e Hymn II), no entanto, funcionam muito bem e demonstram grande sensibilidade. No fim das contas, é como álbum o que a maioria dos livros de poemas também é: irregular, mas repleto de boas possibilidades e alguns grandes momentos — que nos fazem voltar periodicamente à obra. (Aliás, funciona muito bem como um sofisticado pano de fundo pra adormecer.) (Confirmando: é um elogio.)

EIS QUE meses atrás me deparo com um disco novo do Kjetil, ou assim eu pensei; fui conferir com boa curiosidade. Só depois de um par de audições percebi que Night Song era, na verdade, disco de Ketil Bjørnstad, um OUTRO pianista norueguês. Achei que era pegadinha, ou algum efeito de numerologia, até o google me explicar que, de fato, são pessoas diferentes. Além de quase homônimos, tem apenas três anos de diferença de idade; no entanto, Ketil é um artista de nome melhor estabelecido, que grava para a ECM desde os anos 90, e tem uma discografia bastante extensa (além de uma bibliografia do mesmo vulto. Aliás, por prolífico, o All About Jazz o compara a Schubert). Enfim, sorte minha: porque este Night Songs, gravado em par com o violoncelista Svante Henryson, é um belíssimo disco. As melodias são de uma doçura angular raríssima. E ao longo de 16 faixas a inspiração se mantém; se Kjetil parece inseguro, ou simplista, em alguns momentos de Piano Poems, Ketil demonstra um domínio criativo absolutamente maduro e orgânico. O primeiro disco é bom; este é imperdível.

Kjetil, var. Kettill. Lê-se TCHEH-til. Do nórdico antigo Ketill, como no inglês “kettle”: chaleira, caldeirão usado nos rituais antigos para recolher o sangue de um animal sacrificado. No uso moderno, a palavra também significa capacete.

*Ketil e Kjetil já tocaram juntos, inclusive aqui no PQP Bach.


Kjetil Bjerkestrand – Piano Poems /2010 [V2]
download – 64MB /mediafire

01 Amelie 4’30
02 21/11 3’55
03 The Ladder 3’41
04 Hymn I – Velt Alle Dine Veie 4’45
05 February 3’19
06 602 3’21
07 Sanctus 2’59
08 Hymn II – Lær Meg Å Kjenne Dine Veie 4’22
09 Geirriano 3’04
10 Daddy’s Theme 3’12
11 ADAE 3’00
12 502 3’33
13 Hymn III – Jesus, Din Søte Forening Å Smake 3’53


Ketil Bjørnstad/Svante Henryson – Night Song /2011 [320]
Ketil Bjørnstad (piano), Svante Henryson (violoncelo)
download – 174MB /mediafire

01 Night Song (Evening Version) 4’28
02 Visitor 5’06
03 Fall 3’26
04 Edge 5’37
05 Reticence 5’40
06 Schubert Said 4’31
07 Adoro 6’21
08 Share 4’20
09 Melting Ice 3’22
10 Serene 5’57
11 The Other 4’05
12 Own 3’09
13 Sheen 5’41
14 Chain 6’15
15 Tar 2’57
16 Night Song (Morning Version) 5’01

Boa audição!
Blå Hund

.: interlúdio – Mouse on the Keys :.

Seguindo o giro pelo Japão à procura das novas possibilidades do jazz, peço que parem por quatro minutos e assistam ao vídeo abaixo, preferencialmente em tela cheia.

Sob o singelo nome de Mouse on the Keys, um duo de pianos e um baterista vem fazendo uma daquelas espécies de música difíceis de caracterizar. Tem instrumental e improv de jazz, usa as estruturas leves do post-rock, e alterna momentos de força e velocidade com outros de swing, ou até atmosfera rarefeita. A marcação firme do baterista permite aos pianistas que concentrem-se na alternância entre baixo e solo; o resultado é absolutamente instigante.

Nem todos os momentos são perfeitos; sendo um projeto recente, há ainda que lapidar, com uma inspiração mais cultivada, a criatividade transbordante. Isso não significa que sejam menos dignos de serem ouvidos; é inovador e de poucos paralelos, e isso por si só já justifica a audição (e a torcida). Esta postagem traz os dois discos já lançados. “Sezession” é um EP, e tem composições mais vigorosas, recordando (de alguma forma) os momentos mais agressivos de Stanley Jordan; já no álbum “An Anxious Object” há mais espaço para mostrar a variação, e a evolução, dos estilos que compõem os ‘ratos nas teclas’.

Mouse on the Keys
Akira Kawasaki: drums, keyboards
Atsushi Kiyota: piano, keyboards
Daisuke Niitome: piano, keyboards


Sezession /2007 (V0)
download – 27MB [mediafire]
01 Saigo No Bansan
02 Toccatina
03 RaumKrankheit
04 A Sad Little Town


An Anxious Object /2009 (320)
download – 70MB [mediafire]
01 Completed Nihilism
02 Spectres de Mouse
03 Seiren
04 Dirty Realism
05 Forgotten Children
06 Unflexible Grids
07 Double Bind
08 Soil
09 Ouroboros

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – Middle 9 :.

Embora a influência do jazz seja notável em diversos outros gêneros, são raras as investidas que efetivamente misturam-no a um outro estilo. Porque convencionou-se dizer que certa batida, ou timbre, dá a uma música um toque jazzy — mas trata-se de apenas isso, um detalhe, sem ultrapassar sua característica original. Exceção feita, claro, ao fusion, que de tão fusion é tratado como um subgênero do jazz, e não uma entidade distinta. (O que me parece acertado.)

Por outro lado, nós aqui, desse lado do planeta, raramente sabemos os que os japoneses andam fazendo — quase sempre de forma surpreendente. E nos últimos 10 anos a cena alternativa de Tóquio e Osaka vem revivendo, expandido e experimentado o jazz — num grande exercício (quase acadêmico) de como apropriar-se dele e recriá-lo.

E quem me impressionou ultimamente foi o Middle 9. Centrado em vibrafone e guitarra, o grupo junta jazz, post-rock, fusion e algum funk para criar ótimas composições híbridas — à medida em que as faixas desse álbum vão passando, a variedade explorada impede que se possa categorizar a banda, ou definir qual seu estilo predominante. Seja lá o que for, é sofisticado e criativo; às vezes enérgico como Weather Report, noutras leve como uma canção lenta de Pat Metheny. E, ao mesmo tempo, evocando as bandas mais sensíveis de post-rock que também usam vibrafone, como Tortoise e The Mercury Program.

Middle 9 – Sea That Has Become Known /2008 (V0)
Toyama Motoko: vibraphone, elec piano, guitar
Shinbori Hiroshi: guitar
Mukai Nakofumi: bass
Aoki Fumihiki: drums

download – 69MB /mediafire

01 Island Pull Out
02 Liam
03 Replique, Tableau
04 Paprika
05 Marsupial
06 Fix
07 Shu Shu
08 Tonotopy The Bamboo Coral
09 After It Pause

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – um curso + Coltrane Blues :.

Para os leitores de Porto Alegre e cercanias: a dica é o curso “Análise Musical Histórica e Estética – Análise das obras do século XVIII ao século XXI”, com o compositor e professor Fernando Mattos. Não estou ganhando nada pela divulgação, mas a raridade da empreitada merece algum destaque, ou não? Mais informações no site da Arena, ou clicando na imagem abaixo.

——

E, como de praxe, pra não perder a viagem, deixo aqui uma bolacha bastante especial. Se você não se interessa muito pela historinha, basta o título: “Coltrane Plays the Blues” diz tudo que é preciso dizer.

Por outro lado, se é dos que gosta do contexto (e ouvir jazz sem ele é feito comer goiabada sem queijo), vai achar interessante saber que este disco foi gravado em 24/10/60 — ou seja, durante a segunda sessão do imperdível “My Favorite Things”, que nasceu dos estúdios da Atlantic nos dias 20, 24 e 26. Embora Tyner, Jones e Davis tenham precisão e coesão de estrelas, aqui estão mais coadjuvantes do que de costume; o formato do blues, os temas em sua maioria improvisados, e o amálgama ainda se criando entre o quarteto propiciam que Coltrane esteja sempre no centro das atenções. (Não que alguém esteja reclamando.) Há, inclusive, duas faixas no lado A gravadas em trio, sem piano, algo que raramente aconteceu.

Também é um bom momento para relembrar que Coltrane tinha uma forte ligação com o blues. Tanto nos temas inesquecíveis em sua discografia (Blue Train e Slowtrane me vem a memória) quanto nos shows, como contam as liner notes desse disco: Coltrane iniciava a sessão com suas composições mais conhecidas, o que a maioria do público queria ouvir, e fechava o segundo set com um blues cuja base poderia durar 30 ou 40 minutos de improviso, agradando os fãs mais “hardcore” de jazz. Isso mostra não apenas o envolvimento do músico com o blues, mas também como sua ligação com o free jazz e o avant-garde a que se entregaria, anos depois, não foram acidente ou mera epifania.

O resultado de “Plays the Blues” é um disco agradabilíssimo para quem está acostumado ao jazz — daqueles que se deixa tocando e melhora qualquer ambiente e/ou estado de espírito — e também uma ótima porta de entrada para quem está ainda se avizinhando ao estilo.

Coltrane Plays the Blues /1962 (V2)

download – 63MB /mediafire

John Coltrane (tenor and soprano saxophone); McCoy Tyner (piano); Steve Davis (bass); Elvin Jones (drums). Produzido por Nesuhi Ertegün para a Atlantic

01 Blues To Elvin
02 Blues To Bechet
03 Blues To You
04 Mr. Day
05 Mr. Syms
06 Mr. Knight
07 Untitled Original (“Exotica”) *bonus track da reedição de 1990

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – klezmer jazz :.

“John Zorn once remarked to that in the ’60s, “we didn’t want to hear Jewish music at our Bar Mitzvahs, we wanted to hear Hendrix.” Funny how a few decades and some intermarriage with post-bop jazz can change all that. However, if back then some very hip parents convinced the best free jazzers to do a Bar Mitzvah party set, the result could very likely have been something akin to this album.” leia mais

Se o leitor imagina este Blue Dog como um cusco impertinente, meio baqueado, que frequentemente sai explorando onde o nariz aponta e não se furta a cheirar o que lhe passa pelo nariz — acertou. E tem horas em que paro e olho pros lados e penso “mas como é que eu vim parar aqui?”

Penso por um instante, só. Porque não é importante.

O Klez-Edge é o projeto mais recente de Burton Greene, pianista de Chicago que gravou para a ESP nos anos 60, e radicou-se na Europa desde os 70 (começou por Paris, hoje na Holanda). Sua trajetória sempre teve o free jazz como base, mas, também um explorador, vem estudando suas relações com os mais diversos estilos — como a raga, o folclore dos Bálcãs e o klezmer, a música tradicional judaica. Lançado pela Tzadik, o selo de John Zorn, na série Radical Jewish Culture, Ancestors, Mindreles, NaGila Monsters apresenta uma soma simples: post-bop e improviso mais klezmer. Diferente de seu projeto anterior, o Klezmokum, tem um homem como vocalista: e prepare-se para ouvir o polonês Marek Balata fazer o scat como você jamais imaginou ouvir — não sem rir.

Que foi a minha primeira reação: rir! Não parecia sério. Senão, acompanhe: a abertura, uma canção folclórica romena chamada “Mindrele”, inicia com frases de tuba — reconhecidamente o mais engraçado dos instrumentos musicais. A primeira seção traz um clarinete choroso, piano acompanhando a tuba e o vocalista improvisando sílabas em tenor; usando a voz como instrumento e dentro do contexto do jazz (ou seja, solando). E com que fôlego! Porque os músicos são refinados e as harmonias, agradáveis, vão conduzindo a audição, logo a risada desaparece e deixa só um sorriso. Passada a estranheza, se percebe como o que se ouve é levado a sério — ou tão sério quanto uma fanfarra judaica uptempo pode ser. “Odessa on the Hudson” é ainda mais cativante, com o pulmão infinito de Balata dobrando notas junto a Greene a desaguar num refrão melódico em tons menores. Apesar do destaque todo ao vocalista e seu trabalho de “libertar” o klezmer, mantem-se o jazz: solos e solos de jazz modal, num grupo sem baixo — que é substituído, com mais textura, pela tuba.

O resultado é nada menos que hipnótico. Descobri o disco há pouco mais de uma semana e venho o escutando três vezes por dia desde então. Esteja avisado. E a não ser que seja judeu, espere o momento em que você estará com vontade de bater palmas durante a música, e se perguntará “…mas o que É que eu estou ouvindo mesmo?!?”

***

Embora o Klez-Edge seja, na minha opinião, bastante superior ao do Klezmokum, este post traz também dois discos desta banda. Que difere-se basicamente por ser bem mais contida nos improvisos, mais tradicional, e traz uma vocalista “típica”, cantando em iídiche. No entanto, o trabalho de Greene aparece mais; há momentos belíssimos de seu piano (gosto especialmente dos andamentos complexos de “Di Nakht”).

(Os discos do Klezmokum, pouco distribuídos, podem (e devem) ser comprados no site oficial. Ignore as capas horríveis.)


Klez-Edge – Ancestors, Mindreles, NaGila Monsters/2008 (320)
download – mediafire /115MB
Burton Greene: piano; Perry Robinson: clarinet; Marek Balata: vocals; Larry Fishkind: tuba; Roberto Haliffi: drums.
01 Mindrele 02 Odessa on the Hudson 03 Ancestral Folk Song 04 Funk Tashlikh 05 Prelude in D Minor for Andrzej 06 Oy Joy 07 Bagdad 08 Moldavian Blues 09 Have Another NaGila Monster


Klezmokum – ReJewvenation/1998 (320)
download – mediafire /160MB
Burton Greene: piano; Larry Fishkind: tuba; Roberto Haliffi: drums; Perry Robinson: clarinet; Patricia Beysens: voice, flugelhorn; Hans Mekel: clarinet, sax.
01 Atesh Tanz 02 Russian Sher N° 5 – Sherele 03 Ydid Nefesh 04 Doina in G Major 05 Shir Hashomer 06 El Rey por Muncha Madruga 07 Hora Mare 08 Shoror 09 Adonai Melech – Hodu L’adonai 10 Los Kaminos de Sirkidji 11 Desert Dance 12 Nevala


Klezmokum – Le Dor Va Dor/2000 (256)
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Mesma formação, mais Sofie van Lier: voice
01 Jews and Gypsies Suite: a) Tants, tants, tants b) Tsigaynerlid 02 Kineret 03 Di Nakht 04 Fun Tashikh 05 Dremlen Feygl 06 Yiddish Tango 07 A Nigun Variations 08 El Male Rachamim 09 Sa’dawi Variations

Shalom!
Blue Dog

.: interlúdio: Mariano Otero :.

…E o oscar vai para: Mariano Otero!

(Eu poderia continuar a relação de Otero a Campanella, mas paro; embora seja antigo fã do cinema deste argentino, me parece que seu conterrâneo atinge maior profundidade em sua obra.)

Às apresentações: Otero é um jovem, perspicaz e ambicioso compositor e contrabaixista de jazz. E para bom leitor eu já disse até demais. Descobri por acaso que ganhou um prêmio do Clarín — “La Figura del Jazz Argentino 2009” — e fiquei, basicamente, perplexo ao ouvir seus discos. Porque trazem algo raro e que procuro: jazz contemporâneo feito com jeitão cinquentista. Não é gostar de mofo: é ver o legado seguindo adiante; é o respeito formando novos músicos; é reinventar o reinventado, a síntese do jazz. E com QUE qualidade surge este portenho.

Mariano Otero, com todas as suas funções (onde se inclui (competentíssimo) arranjador e produtor de trilha sonora), evidentemente vai evocar Mingus, e sobre isso só peço que vejam o nome da primeira faixa do disco logo abaixo (e assistam ao vídeo). Mas não se trata de seguir estilo; há, em diversos e muito presente, mas não apenas. Em Três há também um pouco de fusion; Desarreglos, em homenagem ao mítico guitarrista argentino Walter Malosetti, há muitas doses de swing e blues. Otero iniciou carreira com Malosetti (há parcos 10 anos) e seguiu em boas companhias, que incluem Rodrigo Dominguez como sax solo em seus grupos. Aliás, falando em sopros, estes dominam grande parte do espectro sonoro, e com grande eficácia. Otero formou uma big band — hoje um noneto — e algumas passagens levam direto à Miles no período Sketches of Spain. E diferente do que se pode imaginar apressadamente, tudo que não faz é jazz latino. É possível reconhecer alguns grooves mais próximos, mas, de fato e direito, Mariano Otero toca é bop. Vai variar andamentos, como manda a cartilha de boas práticas, mas não deixará o caminho.

A excelência e universalidade de seu jazz renderam um contrato de três discos com a Sony; Desarreglos é o primeiro deles. Mais que ouvinte, passei a torcedor de Otero: que seu talento conquistem o mundo afora. E ele venha logo tocar no Brasil.


Tres /2006 (128)
download [mediafire] 65MB
01 Mingusiana
02 Flor
03 Nudos
04 Las dos Marías (Flow)
05 Hollanda
06 Hacia Un Lugar
07 Hentrane

Desarreglos /2009 (320)
download (mediafire) 146MB *link atualizado
01 El Maestro
02 Ale Blues
03 Mini
04 Grama
05 Walter’s Rithm
06 Avellaneda
07 Madrid
08 Pappo’s Blues
09 Espiritu
10 Blues for Pepi
11 Adios Lala
12 Clifford

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – jazz icons, wes montgomery :.

Na internet tudo se acha, mas quando se fala em DVDs de jazz, aí a história fica um pouco diferente. Não apenas não são tantos assim, como só se encontram enterrados em torrents com meia dúzia de seeders. Foi assim que, armado de obstinação e toneladas de paciência, venho tentando garimpar as preciosidades que encontro pelo caminho. Me interessam principalmente os registros dos grandes artistas do estilo, em gravações ao vivo; documentários podem ser interessantes, mas muitas vezes as entrevistas tomam espaço demais de onde se gostaria de simplesmente ver os mestres tocando. Embora fascinantes em diversos aspectos, são assim “The World According to John Coltrane” e “Thelonious Monk – Straight No Chaser”. A maioria das gravações vem da tevê europeia, interessada nas turnês de jazz pelo continente nos anos 60 e 70; essa é a especialidade da série Jazz Icons, que vem bravamente resgatando tantos rolos de filme perdidos. Como, infelizmente, são difíceis de encontrar nas lojas brasileiras, e facilmente passam dos cem reais o disco — muito para este pobre cão –, compartilho hoje o meu preferido. E já não vinha falando há alguns posts que atravesso um período de grande fascínio por Wes Montgomery?

Pois “Wes Montgomery Live in ’65” é puro deleite com chocolate. São 78 minutos de show, e nada mais. Em três momentos diferentes: Holanda, Bélgica e Inglaterra; que tempo para se viver, ligar a tevê valvulada preto-e-branco e assistir um programa de jazz desse calibre! Era um momento especial também para Wes: havia sido dispensado pela Riverside e, no retorno aos EUA, entraria no período em que tantos o apontariam como “vendido”, suavizando seu bop para atingir maiores audiências. Ou seja, o timing é perfeito. Na tela, o que se vê é o carisma percebido nos discos: naturalidade e sorrisos. Wes parece não fazer qualquer esforço jamais, e não que seja desleixado; apenas demonstra a naturalidade assombrosa com que comanda a guitarra.

Dos três programas, o primeiro, em Amsterdã, se ressalta — por raro e realmente engrandecedor. Vemos Montgomery tocando com um trio local onde um jovem Han Bennink demonstra todo o papel que viria a ter muito em breve; seu estilo de swing, confiante, arranca sorrisos de Wes nos solos de Nica’s Dream pelos grunhidos (geniais) que solta durante as baquetadas. (Se estiver com pressa, pule até o sétimo minuto do vídeo abaixo. E fique tranquilo, a baixa qualidade do youtube não se repete no dvdrip que trago.)

Além disso, uma oportunidade rara de ver Wes ensinando. No caso, instruindo The End Of A Love Affair para a banda, na hora. Após as explicações, tocam em velocidade bem baixa, até que sintam-se seguros e aumentem os bpm até o ritmo correto. O resultado é arrepiante, como se soubessem e estivessem tocando a musica juntos há anos. As outras gravações não tem tanta descontração, mas não deixam a desejar; na Bélgica, um “especial” completinho, tocando com a banda que levou dos EUA; e em Londres, ouvimos até a cândida história de como Wes aprendeu a tocar com o dedão — técnica jamais igualada, marca indelével de seu jazz.

(Porque quando comprou uma guitarra e um amplificador, aos 19, percebeu que, sem a palheta, tocava mais baixo — e assim evitava as reclamações da vizinha, logo atrás das finas paredes do apartamento onde vivia. E na primeira apresentação, durante a abertura, percebeu que, usando a palheta, já não podia diferenciar uma corda da outra. Usou o dedão para sempre.)

Jazz Icons – Wes Montgomery live in ’65 DVDRip XViD

Holland: Wes Montgomery (guitar), Pim Jacobs (piano), Ruud Jacobs (bass), Han Bennink (drums). I Love Blues; Nica’s Dream; “Love Affair” Rehearsal; The End Of A Love Affair.
Belgium: Wes Montgomery, Arthur Harper (bass), Harold Mabern (piano), Jimmy Lovelace (drums). Impressions; Twisted Blues; Here’s That Rainy Day; Jingles; Boy Next Door.
England: Wes Montgomery, Rick Laird (bass), Stan Tracey (piano), Jackie Dougan (drums). Four On Six; Full House; Here’s That Rainy Day; Twisted Blues; West Coast Blues.

parte 1 + parte 2 + parte 3 + parte 4 + parte 5 + parte 6

Ao todo são 800MB e sei que é uma tarefa que pode ser chata; mas vale a pena. Os arquivos estão guardados no Multiupload, que espelha para diversos filesharers da web. Recomendo baixarem pelo Megaupload, que não incomoda com slots por país nem coloca limite de arquivos baixados por hora.

Bom filme!

Blue Dog