.: interlúdio :.

No último post, havia prometido o ponto de contato entre Miles Davis e Hermeto Pascoal. Fiquei tanto tempo cavando no pátio os line-ups deste monstruoso disco que deixo a apresentação, e a história, a cargo de um copy/paste deste artigo no poppycorn.

Hermeto Pascoal também morou alguns anos nos Estados Unidos, a convite de Airto Moreira – o percussionista, que já foi várias vezes considerado o melhor do mundo, abandonou o Quarteto Novo em 1969, indo para a terra do Tio Sam e encerrando a trajetória do grupo. Em Nova York, 1971, Hermeto apresentou-se para uma seleta platéia que incluía Miles Davis, Wayne Shorter e Gil Evans, onde impressionou a todos, tanto que Miles mais tarde o convidou a participar do álbum Live-Evil. O disco traz duas composições de Hermeto, Capelinha (Little Church) e Nem um Talvez. (nota canina: são três composições, com Selim; e nenhuma foi creditada.) Ele conta que, enquanto não estavam tocando, costumava lutar boxe com o trompetista.

Mas como exatamente Miles Davis e Hermeto Pascoal se conheceram? Assim conta Hermeto, em entrevista recente: “Eu fui ver um show dele, levado por um tradutor. Antes do show começar, vi aquele crioulão – apesar de ele não ser muito alto, mas sempre bem vestido, gostava muito de couro, impressionava – se aproximando. Chegou pertinho de mim e sussurou com aquela voz rouca no meu ouvido. Não o reconheci e achei que era um cara me passando uma cantada. Como não falava inglês, o tradutor que estava do meu lado me disse que era o Miles e que ele queria saber quem eu era. O tradutor respondeu ao Miles e marcamos um de nos conhecermos depois. Mostrei a ele umas 12 músicas, que eram bem diferentes de tudo aquilo que ele fazia. Disse que queria colocar algumas no disco dele e eu me senti à vontade para brincar e dizer que eu veria quantas músicas deixaria ele colocar no disco dele. Aí o Miles continuou a brincadeira dizendo: “Esse albino é mais louco que eu”. Tínhamos mais um CD engatilhado, mas ninguém imaginou que ele fosse morrer tão cedo.”

(…) Diz ele, sobre o que acha de Miles, hoje: “Um eterno gênio. Digo isso pela sua essência, pela sua contribuição. Claro que ele teve seus erros. Tivemos um amizade espiritual, maravilhosa. Deus me deu um presente ao conhecer o Miles. Acredito que nada acontece por acaso. Ele era um sujeito que não gostava de passar as mãos nas costas. Se ele não gostava de você logo dizia “vamos interromper nossa conversa por aqui” e era isso, direto.”

Diz a lenda que Miles jamais despediu um músico; eles simplesmente sabiam a hora de sair. As formações em constante mutação, como vocês podem ver abaixo junto ao nome das músicas, são recorrentes – e com vantagem para o ouvinte. Miles, se não era um excelente gestor de Recursos Humanos, tinha um olho inigualável para talentos e para ajustar as melhores formações. Nestes registros, temos só craques. Meio estúdio (duas sessões em fevereiro, uma em junho, 1970), meio ao vivo (faixas 1, 4, 7 e 8 gravadas em 19 de dezembro daquele ano), é sucessor de Bitches Brew; se o som segue o fusion iniciado na obra-prima anterior, aqui ele vem ainda mais miscigenado – cheio de funk e grooves, além do rock. Diz-se que é um disco para iniciados; eu o considero um grande iniciador ao fusion, também. Esperem destreza técnica, trumpete com filtros (notadamente um wah-wah) e muita eletricidade – sendo as composições de Hermeto os interlúdios leves. Suas participações nas músicas (e também nas de Airto Moreira) descrevem-se sozinhas, e provocam sorrisos no ouvinte.

Live Ev

Miles Davis – Live-Evil (192)
Produzido por Teo Macero para a Columbia

disco 1 – download (71MB)
disco 2 – download (75MB)

01 Sivad 15’19
Miles Davis: trumpet
Keith Jarrett: electric piano
Herbie Hancock: organ
John McLaughlin: electric guitar
Michael Henderson: electric bass
Hermeto Pascoal: voice, percussion
Airto Moreira: cuica

02 Little Church 3’18
Miles Davis: trumpet
Herbie Hancock: organ
Dave Holland: bass
Hermeto Pascoal: whistling

03 Gemini/Double Image 5’57
Miles Davis: trumpet
Wayne Shorter: soprano sax
Joe Zawinul: electric piano – left
Chick Corea: electric piano – right
John McLaughlin: electric guitar
Dave Holland: electric bass
Jack DeJohnette: drums
Airto Moreira: percussion
Kalil Balakrishna: sitar

04 What I Say 21’13
Miles Davis: trumpet
Gary Bartz: saxophone
John McLaughlin: guitar
Keith Jarrett: keyboard
Michael Henderson: bass
Jack DeJohnette: drums
Airto Moreira: percussion

05 Nem um Talvez 4’06
Miles Davis: trumpet
Chick Corea: organ
Herbie Hancock: electric piano
Keith Jarrett: electric piano
Ron Carter: bass
Airto Moreira: percussion
Hermeto Pascoal: voice, drums

06 Selim 2’17
Miles Davis: trumpet
Steve Grossman: soprano sax
Chick Corea: organ
Herbie Hancock: electric piano
Keith Jarrett: electric piano
Ron Carter: bass
Hermeto Pascoal: voice

07 Funky Tonk 23’31
08 Inamorata and Narration by Conrad Roberts
mesmo line-up de What I Say

Boa audição!

.: interlúdio :.

Sem delongas, que a tarde vai caindo e o fim de semana nos espera.

Nicholas Payton nasceu em 1973. Em New Orleans. Começou a tocar trumpete em 77. Seu pai era o baixista Walter Payton, que, ao lado da família, o incentivava e ensinava notação e escalas. Aos 12, fez turnês pelos EUA e Europa com a All Stars Jazz Band. Formou-se em música na universidade local, sob a tutela de Ellis Marsalis. Foi apadrinhado por outro pilar de mesmo sobrenome: Winton. Nos anos 90, começou a gravar e não parou mais. Assentou notoriedade com o disco Dear Louis, de 97, relendo em dueto com Doc Cheatham as faixas de, é claro, Louis Armstrong. É fã de Hermeto Paschoal.

Neste disco, gravado em 1999 e lançado em janeiro de 2000, não esperem um jazz novidadeiro, inovativo; tampouco um simulacro da era de ouro do jazz. Nick é um músico honesto e faz bop (ou neo-bop, como preferem alguns) com claridade cristalina; embora pudesse ter tocado em qualquer formação clássica dos ’50, não soa nada deslocado na contemporaneidade. Suas composições são atrativas, inteligentes e sensíveis; Nick@Night divide-se em faixas de um belo e atmosférico cool jazz, rendições a New Orleans big-band, e momentos onde lembra o bop espaçado de Miles Davis pré-Bitches Brew. Mas procurem não pensar muito nisso, pelos menos na primeira audição. Tenho certeza que a maior qualidade deste álbum – o frescor, a juventude – vai se fazer entender com facilidade nos ouvidos gabaritados que freqüentam este blog. Escutem sem reverência.

Nick

Nicholas Payton: Nick@Night (192)
Nicholas Payton: trumpet, flugelhorn, harpsichord, celeste
Tim Warfield: soprano & tenor saxophones
Anthony Wonsey: piano, harpsichord, celeste
Reuben Rogers: bass
Adonis Rose: drums
Produzido por Nicholas Payton para a Verve

download – 99mB
01 Beyond The Stars 5’46
02 Captain Crunch (Meets The Cereal Killer) 5’31
03 Faith 8’39
04 Pleasant Dreams 4’34
05 Interlude No. 1 (Turn Up The Funk) 0’55
06 Nick @ Night 6’14
07 Somnia 5’24
08 Interlude No. 2 (Turn Out The Burn Out) 1’10
09 Prince Of The Night 6’51
10 Blacker Black’s Revenge 8’28
11 Little Angel 5’58
12 Exquisite Tenderness 4’52
13 Sun Goddess 7’13

Boa audição!

.: interlúdio :.

Um dos discos de jazz contemporâneo que mais me impressionou nos últimos anos. Dentro das esferas do estilo, a paixão não exige muita variedade; por isso, uma releitura de composições de Herbie Hancock feita por um grupo sem piano é, no mínimo, uma curiosidade – além de demonstrar um gigantesco respeito desde a sua conceituação.

Se da reunião transparece um (adequado) vigor juvenil, também o virtuosismo e a sabedoria comparecem para tratar as faixas de Herbie (que cobrem o período de 1962 a 1975) com calma e muito feeling. O trio que gravou em 1997 este Fingerpainting é composto por Christian McBride (um notável fenômeno do baixo, como fosse cruza de Mingus e John Pattitucci), Nicholas Payton (o melhor dos jovens trumpetistas, a quem retornaremos com mais atenção em breve) e Mark Whitfield (guitarrista, session leader da Verve) – e o que se ouve é um mix de sucessos (Driftin’, fantástica), obscurantismos e trilha sonora (The Kiss e Jane’s Theme são do “Blow-Up” de Antonioni) executados com uma espécie de “brilhantismo silente”. Os arranjos limpos deixam muito respiro nas músicas, de modo que se percebe facilmente a qualidade impecável das instrumentações. Ao mesmo tempo, toques de swing – Payton é de New Orleans – mantêm o disco coeso e agradável mesmo para quem deixa o disco tocando como pano de fundo. Ou seja, é generoso com o ouvinte – mas exige mais de uma audição para entregar todos os seus segredos. Ou diria mais: mesmo com apenas três músicos, o álbum é dos que sempre tem algo novo a entregar, não importa quantas vezes já se tenha escutado. Além, é claro, de mostrar o gênio de Hancock diante de um novo espelho.

Finger1

Christian McBride, Nicholas Payton & Mark Whitfield – Fingerpainting: The Music Of Herbie Hancock (192)

 

Christian McBride: baixo, arranjos
Nicholas Payton: trumpete, arranjos #6 e #9
Mark Whitfield: guitarra
produzido por Richard Seidel para a Verve

download – 96mB

01 Fingerpainting – 5’56
02 Driftin’ – 4’28
03 Chameleon – 5’03
04 Tell Me A Bedtime Story – 4’43
05 Eye Of The Hurricane – 3’35
06 The Kiss – 5’33
07 Speak Like A Child – 6’39
08 The Sorcerer – 4’41
09 Dolphin Dance – 3’53
10 Chan’s Song – 4’07
11 One Finger Snap – 4’00
12 Sly – 3’54
13 Oliloqui Valley – 5’56
14 Jane’s Theme – 4’03

Boa audição!

.: interlúdio :.

Chico Hamilton é também uma lenda do jazz, embora relativamente pouco conhecido. Ainda assim, é um dos raros bateristas a quem se pode nomear e identificar de ouvido. Chico – não sei o porquê do apelido, mas de qualquer forma é melhor do que seu nome, Foreststorn – tocou com centenas de músicos ao longo de quase 70 anos de carreira (ainda em curso, veja-o em NY) e domina quase todos os estilos do jazz. No dia 22 de agosto de 1958, reuniu-se com seu quinteto – que incluía um jovem promissor chamado Eric Dolphy – e gravou 9 temas de Duke Ellington para a obra que seria nomeada, apropriadamente, de Ellington Suite. O registro ficaria conhecido por conter os primeiros solos gravados de Dolphy.

Para dissabor de muitos, o produtor da Pacific Jazz preferiu a segunda sessão, com Buddy Collette nos sopros, e enterrou a série com Dolphy. 25 anos depois as fitas foram encontradas por jazzófilos, e o registro foi recuperado – e é hoje trazido a vocês. Que sabem o que vão encontrar: temas suaves e midtempo de Ellington, o sax angular de Dolphy e a leveza certeira de Hamilton criando atmosferas sofisticadas.

Chicofront

Chico Hamilton Quintet – Original Ellington Suite (320)
Chico Hamilton: drums
Eric Dolphy: alto saxophone, flute, clarinet
Nate Gershman: cello
John Pisano: guitar
Hal Gaylor: bass
Produzido por Richard Bock para a Pacific

download – 66MB
01 In A Mellotone – 4’18
02 In A Sentimental Mood – 5’40
03 I’m Just A Lucky So And So – 5’09
04 Just A Sittin’ And A Rockin’ – 5’25
05 Everything But You – 5’16
06 Day Dream – 3’42
07 I’m Beginning To See The Light – 5’07
08 Azure – 3’13
09 It Don’t Mean A Thing – 4’19

Boa audição!

.: interlúdio :.

Bons fluidos de ano novo, parte 2: o swing. Mais uma constelação: Ella Fitzgerald e Louis Armstrong interpretando as canções dos irmãos Gershowitz, ou melhor, Gershwin.

“I never knew how good our songs were till I heard Ella sing them” – I. Gershwin

Além de ser uma excelente trilha para celebrar, Louis deve sua história, de certo modo, a um reveillon. O de 1912 – em que festejou com tiros de pistola para cima. Um policial estava por perto e o recolheu; ele passaria os dois anos seguintes num reformatório, onde ganharia instrução musical, e acabaria se tornando líder daquela banda aos 13. Poucos anos depois, diria ao mundo que o ragtime era agora o jazz, e com seu trompete espalharia o sorriso que sempre trazia no rosto. Ella, apaixonante, é retratada aqui num período de excelência vocal – e se o leitor não conhece este disco, prepare-se para ter um novo referencial absoluto em canções como “They Can’t Take That Away from Me”, “A Foggy Day” e “Summertime”.

Our Love Is Here To Stay: Ella & Louis Sing Gershwin (192)
Composto por Ira & George Gershwin
Produzido por Norman Granz para a Verve

1956, 16/08 – 4, 9
1957, 23/07 – 5, 8, 12
1957, 14/10 – 10, 15
1957, 07/10 – 16
1957 – 1, 3, 11, 13
1959 – 2, 6, 7, 14

download – 91MB
01 I Got Plenty O’ Nuttin – 3’54
02 He Loves And She Loves – 2’48
03 A Woman Is A Sometine Thing – 4’49
04 They Can’t Take That Away From Me – 4’41
05 Let’s Call The Whole Thing Off – 4’13
06 Strike Up The Band – 2’36
07 Things Are Looking Up – 3’05
08 They All Laughed – 3’48
09 A Foggy Day – 4’33
10 How Long Has This Been Going On? – 6’01
11 Summertime – 5’01
12 Love Is Here To Stay – 3’59
13 There’s A Boat Dat’s Leavn’ Soon For New York – 4’55
14 ‘S Wonderful – 3’31
15 I Was Doing All Right – 3’24
16 Oh, Lady Be Good! – 3’59

Boa audição!

.: interlúdio :.

Com o natal para trás, é hora de pensar na trilha da passagem de ano.

Bons fluidos? Parte um, o bebop. Veloz, agitado, alegre, vivo. E o foi como nunca, talvez, naquele 15 de maio de 1953, em que o Massey Hall de Toronto recebeu um grupo que faria uma única apresentação, sob o nome de “The Quintet”. Parker, Gillespie, Mingus, Powell, Roach. Falem agora sobre supergrupos!

A qualidade da gravação não é das melhores, infelizmente. Mingus, que ficou com as fitas da noite em troca do cachê dos músicos – o Massey Hall não chegou a encher pela metade -, teve que regravar os improvisos de baixo em estúdio, já que a gravação era direta dos alto-falantes do clube. Lançou o disco pelo seu próprio selo (com Powell de sócio) e fez excelente dinheiro – mesmo creditado como “Charlie Chan”, para evitar problemas com a Verve, sua gravadora (que recusou a pedida de 100 mil dólares que Mingus fez pelas fitas). Por outro lado, não há registro que se pareça com a reunião daquela noite; um show que foi uma espécie de cair das cortinas para o bebop. Ases do jazz, que jamais haviam tocado juntos nessa formação, improvisando com prazer e divertindo a si mesmos e a platéia (como na fantástica leitura de “Salt Peanuts”, com Mingus e Gillespie implicando um com o outro na frase-tema).

São muitas as edições deste disco – freqüentemente citado como o maior concerto de jazz de todos os tempos. A apresentada aqui traz outras seis faixas que foram executadas naquela noite, por um time reduzido – Powell com Roach e Mingus. Peguem uma mesa no Massey Hall, entrem no climae ouçam com reverência.

The Quintet – Jazz at Massey Hall (VBR)
Dizzy Gillespie: trumpet
Charles Mingus: bass*
Charlie Parker: alto sax
Bud Powell: piano*
Max Roach: drums*
Produzido por Charles Mingus para a Debut

download – 89MB
01 Perdido (Tizol, Lengfelder, Drake) – 7’53
02 Salt Peanuts (Gillespie, Clarke) – 7’51
03 All the Things You Are (Hamerstein, Kern) – 8’10
04 Wee (Best) – 6’55
05 Hot House (Dameron) – 9’29
06 A Night in Tunisia (Gillespie, Paparelli) – 7’52

07 *Embraceable You (Gershwin, Gershwin) – 4’21
08 *Sure Thing (I. Gershwin, Kern) – 2’09
09 *Cherokee (Noble) – 4’51
10 *Jubilee (Gillespie) – 3’54
11 *Lulaby Of Birdland (Weiss, Shearing) – 2’33
12 *Bass-Ically Speaking (Gillespie) – 4’01

Boa audição!

.: interlúdio :.

Primeiro, o aviso: alguns amigos tiveram problemas com os arquivos ogg deste disco do Pat Metheny e do John Scofield. Não mais temam: eis, neste link, o disco em formato mp3, 192k.

Mas já que vim atualizar o arquivo, aproveitei para trazer o homem por trás do disco de Scofield e Metheny – e de todos os outros guitarristas de jazz pós-1940: Lester Polfuss.

Cover

Les Paul tem um nome associado à produção do rock (por seu pioneirismo como inventor e luthier), mas foi um exímio, se não o maior, guitarrista de jazz. Tão bem-sucedido que começou, tocando nas rádios de Chicago, que quando lançou um disco de hillbilly, preferiu usar um pseudônimo.

Como pessoa, Les Paul é (sim, ainda está vivo aos 92, e toca toda segunda-feira) um gênio inquieto – refez a guitarra, criou o reverb e a gravação multipista, montou uma rádio pirata em NY, 1940. Como músico, foi apadrinhado por Bing Crosby e seu estilo pavimentou as estradas do guitar jazz. O disco trazido aqui é uma coletânea – o estilo veloz e de extremo virtuosismo de Paul passa pelo swing, segue firme com um bop de velocidade e técnica, lembra em momentos o blues rural e ainda flerta com regionalismos como o havaiano e o latinoamericano. Estas gravações foram feitas para a Decca e são anteriores ao período em que fez sucesso com sua esposa, Mary Ford – entre 1946 e 51. A compilação é de 1971.

The Guitar Artistry of Les Paul (320)

download – 60MB

01 Begin The Beguine (Porter) – 3’03
02 Sweet Leilani (Owens) – 3’03
03 Dark Eyes (Traditional) – 2’41
04 My Isle Of Golden Dreams (Kahn, Blaufuss) – 2’45
05 Guitar Boogie (Smith) – 2’33
06 Blue Skies (Berlin) – 2’39
07 To You Swetheart Aloha (Owens) – 2’50
08 Dream Dust (Marcus, Wood, Seiler) – 2’54
09 Hawaiian Paradise (Owens) – 3’06
10 Steel Guitar Rag (Travis, McAuliffe, Stone) – 2’51

Boa audição!

.: interlúdio :.

Álbums de canções natalinas, quando não são piegas, são extremamente comerciais. Entre as exceções está o Silent Night de Chet Baker, gravado em 7 de janeiro de 1986. Um disco belo, técnico e honesto, para ser escutado poucas vezes ao ano. Aproveitem!

Chet Baker W Silent Nights Front Orig

Chet Baker & Christopher Mason Quartet – Silent Night (128)
Chet Baker: trumpet
Christopher Mason: sax alto
Mike Pellara: piano
Jim Singleton: bass
Johnny Vidacovich: drums

download – 34MB

01 Silent Night Pt.1 – 2’54
02 The First Noel – 2’06
03 We Three Kings – 2’28
04 Hark, the Herald Angels Sing – 2’01
05 Nobody Knows the Trouble I’ve Seen – 3’57
06 Amazing Grace – 3’38
07 Come All Ye Faithful – 4’28
08 Joy to the World – 2’41
09 Amen – 1’41
10 It Came Upon A Midnight Clear – 1’57
11 Swing Low, Sweet Chariot – 3’24
12 Silent Night Pt.2 – 4’01

Boa audição!

.: interlúdio :.

Passei tanto tempo pesquisando e montando as datas e line-ups das gravações que o dia virou. Então deixemos as delongas de lado e passemos a uma compilação magnífica de uma das maiores entre todas – em seu apogeu, formando estilo, fazendo escola, arrepiando até a espinha do ouvinte.

Billie Holiday From The Original Decca Masters

 

Billie Holiday – Original Decca Masters (192)

[1] 17/08/49, Buster Harding and his Orchestra
[2] 19/10/49, Gordon Jenkins and his Orchestra
[3] 08/09/49, Sy Oliver and his Orchestra
[4] 08/03/50, Holiday and her Orchestra
[5] 22/01/46, Billie Holiday accompanied by Bill Stegmeyer Orchestra
[6] 29/08/49, Sy Oliver and his Orchestra
[7] 04/10/44, Billie Holiday with Toots Camarata Orchestra
[8] 30/09/49, Louis Armstrong and Sy Oliver Orchestra
[9] 13/02/47, Billie Holiday accompanied by Bob Haggart Orchestra

download AQUI – 67MB

01 Ain’t Nobody’s Business If I Do (Grangier) [1] – 3’23
02 Baby Get Lost (Feather) [1] – 3’17
03 Them There Eyes (Tauber) [6] – 2’51
04 Keeps on Rainin’ (Williams) [6] – 3’16
05 God Bless the Child [4] – 3’10
06 Do Your Duty (Sox Wilson) [3] – 3’17
07 You’re My Thrill (Clare) [2] – 3’24
08 Gimmie a Pigfoot (And a Bottle of Beer) (Sox Wilson) [3] – 2’46
09 Crazy He Calls Me (Sigman) [2] – 3’05
10 Now or Never (Lewis) [8] – 3’18
11 Please Tell Me How (Pope) [2] – 3’15
12 Lover Man (Where Can He Be) (Sherman) [7] – 3’23
13 Good Morning Heartache (Fisher) [5] – 3’09
14 Solitude (DeLange) [9] – 3’11
15 This Is Heaven to Me (Reardon) [4] – 2’52

Boa audição!

.: interlúdio :.

Este interlúdio caprichado deveria ter sido postado na sexta, para acompanhá-los no fim de semana glorioso que chegava – porém não pude escrever e ainda pouco posso. Mas que isso não os impeça mais de ter contato com um grande registro.

Discos de jazz gravados ao vivo no Village Vanguard – 178 7th Av South, NYC – são uma “franquia” renomada. Qual o primeiro (de mais de uma centena) gravado no clube, aberto em 1935? Este, de Sonny Rollins, que hoje faz pouco mais de 50 anos – traduz o dia 3 de novembro de 1957, em duas sessões; uma matinê e outra noturna. De Rollins, digo o básico que deveria se saber: embora jamais tenha tido o reconhecimento que Davis e Trane tiveram, Sonny foi um instrumentista – e não compositor, por isso o degrau abaixo – fantástico, o melhor do sax tenor. Antes dos 20 já tocava com Monk. Após o período usual de recupeção de heroína (no início dos 50), estabeleceu-se como uma das maiores expressões do jazz. E, hoje, tendo nascido em 1930, é umas das poucas figuras ainda vivas – e ativas – daquele tempo.

Atentem para o strolling, estilo corajoso perpetrado por Rollins que dispensa o uso de piano na banda. Notem a felicidade de um músico de 27 anos, no auge de seu talento. Trago aqui a edição de 1999 que leva o selo do produtor, Rudy Van Gelder, e traz a sessão completa de gravações. Os arquivos estão compactados separadamente – ou seja, se você não tem uma conta paga do Rapidshare, pode curtir a primeira parte enquanto espera o limite de tempo para baixar a segunda.

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Sonny Rollins – A Night at the Village Vanguard (256)

Sonny Rollins: tenor saxophone
Donald Bailey: double bass [afternoon]
Pete LaRoca: drums [afternoon]
Wilbur Ware: double bass [evening]
Elvin Jones: drums [evening]

Produzido por Rudy Van Gelder para a Blue Note

download AQUI – parte 1 (86 mB) parte 2 (MB)
01 A Night In Tunisia [afternoon] – 8’16
02 I’ve Got You Under My Skin [afternoon] – 10’03
03 A Night in Tunisia [evening] – 9’03
04 Softly As In A Morning Sunrise [evening] – 6’43
05 Four [evening]- 8’26
06 Introduction [evening] – 0’20
07 Woody ‘n’ You [evening] – 8’29
08 Introduction #2 [evening] – 0’29
09 Old Devil Moon [evening] – 8’21
10 What Is This Thing Called Love? [evening]- 14’03
11 Softly As In A Morning Sunrise – 8’03
12 Sonnymoon for Two [evening] (Rollins) – 8’46
13 I Can’t Get Started – 4’54
14 I’ll Remember April [evening] – 9’20
15 Get Happy [evening] – 9’08
16 Striver’s Row (Rollins) [evening] – 5’59
17 All The Things You Are [evening] – 6’46
18 Get Happy – 4’40

Boa audição, e boa semana!

Blue Dog

.: interlúdio :.

Antes de mudar o jazz, o Coltrane pós-Miles Davis Quintet produziu um par de discos de hard-bop. Este é o primeiro deles, considerado a estréia de Trane como músico completo – saxofonista, compositor e band leader.

Blue Train foi gravado no dia 15 de setembro de 1957, e traz como abertura uma das faixas mais memoráveis do estilo, um dos riffs mais grudentos e reconhecíveis do jazz. Ao longo das cinco músicas, apenas um standard; e delas, duas – Moment’s Notice e Lazy Bird – trazem já a marca do ‘Blue Trane’ que surgiria poucos anos depois.

A edição trazida aqui é a de 1997, com dois takes alternativos. Os arquivos .rar são independentes e podem ser extraídos em separado; os takes adicionais estão no segundo pacote.

Blue Train

John Coltrane – Blue Train (320)
John Coltrane: tenor saxophone
Lee Morgan: trumpet
Curtis Fuller: trombone
Paul Chambers: bass
Kenny Drew: piano
Philly Joe Jones: drums
produzido por Alfred Lion para a Blue Note

download AQUI – parte 1 (93 MB) parte 2 (37 MB)
01 Blue Train – 10’41
02 Moment’s Notice – 9’09
03 Locomotion – 7’13
04 I’m Old Fashioned (Kern, Mercer) – 7’57
05 Lazy Bird – 7’05
06 Blue Train alt take – 9’56
07 Lazy Bird alt take – 7’14

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :.

Eleanora nunca teve vocação para diva. Talvez a artista de vida mais difícil e conturbada da era de ouro do jazz, foi salva por um carisma inimitável e sua voz marcante e rasgada. Mais sobreviveu do que viveu, de tantos abusos e tanto abusar. Este Lady in Satin é um disco feito de suas cicatrizes. Gravado em três sessões, de 19 a 21 de janeiro de 1958, traz Billie Holiday aos 42 anos, com a voz já muito machucada. Foi uma de suas últimas gravações; morreria no ano seguinte, de cirrose, num quarto de hospital vigiado pela polícia. O disco é rejeitado por alguns críticos, que classificam o acompanhamento da orquestra de 40 integrantes de Ray Ellis de ‘burocrático’ e julgam a qualidade das gravações de Billie abaixo da média. Mas o motivo que o fez motivo de culto entre os fãs – como eu – é a crueza e a emoção com que Lady Day interpreta estas canções. Se o acompanhamento é, de fato, mais veículo para a voz de Billie, ora, tanto melhor; ouve-se cada nota de sua rouca e terna voz.

Em muitas faixas, a emoção da cantora transborda das faixas e atinge o ouvinte. “I’m a Fool to Want You”, que ela gravou em lágrimas, é uma delas. “But Beautiful” é uma preferida pessoal e vem numa gravação dedicada e marcante. Mais do que técnica, o que Billie parece propor é um registro de quanta sensibilidade sua voz pode carregar, e o que se tem é um álbum que fica bastante próximo de quem o ouve. A edição aqui apresentada é a de 1997, com takes alternativos e um ensaio bastante interessante, em que Billie reclama que não conhece direito a canção (“The End of a Love Affair”), para logo após seguir-se um take da orquestra executando a peça para ela – que ainda tenta seguir à capella no final da faixa. Detalhes que fazem desse disco a belíssima obra de uma mulher, antes de uma cantora.

LadyInSatinBillie Holiday – Lady in Satin (VBR)
com o acompanhamento da orquestra de Ray Ellis

Produzido por Irving Towsend para a Columbia

download aqui – 93mB
01 I’m a Fool to Want You – 3’23
02 For Heaven’s Sake – 3’26
03 You Don’t Know What Love Is – 3’48
04 I Get Along Without You Very Well – 2’59
05 For All We Know – 2’53
06 Violets for Your Furs – 3’24
07 You’ve Changed – 3’17
08 It’s Easy to Remember – 4’01
09 But Beautiful – 4’29
10 Glad to Be Unhappy – 4’07
11 I’ll Be Around – 3’23
12 The End of a Love Affair mono CL1157– 4’46
13 I’m a Fool to Want You take 3 CL1157 – 3’24
14 I’m a Fool to Want You take 2 – 3’23
15 The End of a Love Affair: The Audio Story – 9’49
16 The End of a Love Affair stereo – 4’46

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – Duofel :.

Manter um duo de violões por mais de duas décadas já é por si só um feito notável. Ainda mais com a integridade artística de Fernando Melo e Luiz Bueno, instrumentistas e compositores do Duofel, que desde seu primeiro encontro, em 1977, têm priorizado a qualidade musical e a investigação sonora. (da biografia no eJazz)

Colei a descrição porque é bastante apropriada. Não apenas a virtuose, os arranjos delicados e vigorosos, a musicalidade de diversas vertentes – também a inquietação, o caminho harmônico menos usado, as cromias exploratórias. São afilhados de Hermeto e por aí se pode saber por onde andam, andaram e andardão.

Este Atenciosamente, de 1999, foi lançado pela gravadora Trama – o que tornou mais acessível o trabalho do duo. São doze faixas, homenagens aos muitos músicos com quem trabalharam ao longo da carreira (no encarte, cada música ganha pequena história e dedicatória), em uma espécie de showcase do jazz contemporâneo brasileiro. Álbum fácil em algumas faixas (O Amigo da Chuva, Floresta dos Elfos – em homenagem à Tetê Espíndola, de quem foram músicos de apoio no começo dos 80), intrépido em outras (É pra Jards, Jazz à Vienne), ainda tem fôlego para ser poético (Azul da Cor da Manteiga) e abstrato (Fax para Uakti). Um disco cheio, de produção cristalina, perfeito para ocupar todos os espaços da casa quando precisamos renovar os ânimos.

Post ampliado + links revalidados out/2011. O disco ao vivo é excelente, e quer mais? Conta com Hermeto Paschoal entre as participações. Não coloquei indicação na tracklist de propósito; quando ele chega, o ouvinte sabe de imediato. Perdoem os links em duas partes.


Duofel – Atenciosamente /1999 [320]
download – mediafire parte1 parte2

01 Procissão
02 Subindo o Tapajós
03 Floresta dos Elfos
04 Azul da cor da manteiga
05 Fax para Uakti
06 Norwegian Wood
07 O amigo da chuva
08 É pra Jards
09 Boissucanga
10 Atenção: Lombada!
11 Jazz à Vienne
12 Garoando no Bixiga


Duofel – 20 /2000 [320]
download – mediafire parte1 parte2

01 Calypso nervoso
02 No caminho das Pedras
03 Pede, Moleque!
04 É pra Jards
05 Subindo o Tapajós
06 Lamento Noturno
07 Do outro Lado do Oceano
08 Diálogo
09 Fax para Uakti
10 Surfando no trem
11 Azul da cor da manteiga
12 Espelho das águas
13 Gismontada

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :.

Já estamos quase na sexta-feira e o final de semana se aproxima benfazejo; este cão inicia os trabalhos – no clima e no temperamento, ao menos – jogando alto com a intensidade e a vivacidade do jazz de Wes Montgomery.

Aos que precisam de apresentações, não percamos tempo: eis o homem que verteu Django Reinhardt para o jazz e fez da guitarra um instrumento de solo no bop. Clichês à parte, Wes reinventou a guitarra com seu estilo – que não apenas se tornou referencial para todos os guitarristas de jazz posteriores mas encantou cérebros como os de Jimi Hendrix. Não falo muito de técnica porque não muito entendo, e também porque nem sempre é necessário; mas este era um músico que, além de tocar sem palheta, podia dobrar o dedão pra trás até tocar o punho. (Nossa sorte é que ele não se deixou envolver pela gypsy music.)

“Full House” foi gravado em 25 de junho de 1962 no Tsubo, um bar de jazz na Califórnia. O acompanhamento é excelente: o Winton Kelly Trio, que tocava com sempre exigente Miles Davis, e Johnny Griffin, talentoso e veloz saxofonista, amigo dos tempos em que tocaram com Lionel Hampton. Miles estava na cidade e o trio tinha uma noite livre. Toparam fazer um show e em breve mandavam o trompetista às favas para gravar com Wes. Em estúdio, Wes é brilhante; mas nos registros ao vivo, sua música irrompe dos alto falantes para existir como no instante em que foi captada. Mágico assim. A abertura, homônima, tem um dos riffs easy-living mais memoráveis do jazz. De súbito, o solo de Wes cresce com harmonia e suavidade; a seção rítimca insiste em dissonâncias e o guitarrista responde os desafios com mais notas suavemente colocadas nas esquinas do tema. Quer dizer, se você não for cativado pelos 3 minutos do primeiro solo de Full House, tente de novo após uma dose de uísque. Esse é o solo que, uma vez assimilado, vai ser o parâmetro de todos os outros. Momento de gênio em bits digitais? Não deixe passar. Wes é daqueles que toca com a banda, e que surge daqui é um dos menires que marca toda a história.

A faixa dois é a outra face: as baladas. Canções suaves e dedilhadas em notas médias, gentis e suaves e quase bossa nova (no espírito). Uma pausa antes de Blue ‘n’ Boogie, de Gillespie – ou seja, um hard bop de tirar o fôlego) e de Carlba, um swing verdadeiramente rejuvenescedor. Come Rain or Come Shine vem com take duplo (assim como a seguinte, S.O.S. – o rip é da versão desse ano, da Original Jazz Classicas); no take 2, além da qualidade melhor no som, Wes está mais solto, menos preso ao tema. S.O.S tem um riff dobrado de sax e guitarra em alta velocidade que é genial; no take 3, se ouve o sax um pouco mais alto. O encerramento, Born to be Blue, é uma desaquecida – como de costume de Wes, que também gostava de fechar os shows com (uma leitura fantástica de) Round About Midnight, de Monk. Outra balada virtuosa e contemplativa, em solos que deixam refletir a música recém adquirida. A música de Wes Montgomery é generosa e deixa os ouvintes gratificados.

Como fica claro, é um dos meus preferidos entre os preferidos. Ataquem-no!

Post ampliado + links revalidados nov/2011. Ainda bem que o link daquela cópia em 128k expirou; agora o temos em sabor V0. Pra não perder o trem da edição do post, adicionei ainda Far Wes, disco de 1958, tempo em que o jovem Wes ainda era um obscuro guitarrista; neste, que é apenas seu segundo disco, ele começaria a ganhar a atenção devida. A formação tem como base o Montgomery Trio, e as composições próprias já demonstram o caminho que hoje bem conhecemos. No entanto o par de faixas superiores no disco é de outrem: Hymn for Carl e Monk’s Shop se destacam e grudam no ouvido sem pedir licença.


Wes Montgomery – Full House /1962 [V0]
Wes Montgomery, guitar; Johnny Griffin, tenor sax; Wynton Kelly, piano; Paul Chambers, bass; Jimmy Cobb, drums. Produzido por Orrin Keepnews para a Riverside
download – mediafire /110MB

01 Full House (Montgomery) – 9’14
02 I’ve Grown Accustomed to Her Face (Lerner, Loewe) – 3’18
03 Blue ‘n’ Boogie (Gillespie, Paparelli) – 9’31
04 Cariba take 2 (Montgomery) – 9’35
05 Come Rain or Come Shine take 2 (Mercer, Arlen) – 6’49
06 Come Rain or Come Shine take 1 – 6’49
06 S.O.S. take 3 (Montgomery) – 4’57
06 S.O.S. take 2 – 4’57
07 Born To Be Blue (Tormé, Wells) – 7’23


Wes Montgomery – Far Wes /1958 [V0]
Wes Montgomery, guitar; Harold Land, tenor sax (1-7); Pony Poindexter, alto saxophone (8-11); Buddy Montgomery, piano; Monk Montgomery, electric bass; Tony Bazley, drums (1-7); Louis Hayes, drums (8-11). Produzido por Michael Cuscuna para a Pacific/Riverside
download – mediafire /72MB

01 Far Wes (Montgomery) 5’51
02 Leila (Montgomery) 3’28
03 Old Folks (Robison, Hill) 6’35
04 Wes’ Tune (Montgomery) 4’08
05 Hymn for Carl (Land) 4’33
06 Montgomeryland Funk (Montgomery) 4′
07 Stompin’ at the Savoy (Sampson, Goodman, Webb) 4’22
08 Monk’s Shop (Montgomery) 3’54
09 Summertime (Gershwin, Heyward) 4’50
10 Falling in Love with Love (Rodgers, Hart) 6’13
11 Renie (Montgomery) 3’31

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :.

A carreira de Mingus foi tão prolífica quanto polêmica. “The Underdog”, não raramente, saía a socos com os músicos nas sessões de gravação – ou mesmo no palco. Dos gênios do jazz moderno, talvez tenha sido o que pagou mais caro pelo dom. A personalidade difícil, de altos períodos criativos alternados à depressões infrutíferas – passando por comunicações com Deus e lutas raciais – não impediu que fosse um compositor e arranjador único, ambicioso e visionário.

Mingus trabalhava suas bandas não só baseado na técnica dos músicos, mas também em suas personalidades; partia de um princípio humano para as jam sessions e freqüentemente escalava desconhecidos ou iniciantes. Do amálgama, trabalhava composições onde mesclava suas referências – Ellington, as big bands de New Orleans – ao bop, criando um tipo de jazz inovador, aberto, flertando com o atonal e cimentando o free jazz com quase uma década de antecedência.

O primeiro vôo alto de Mingus – onde ele pôde realizar um trabalho onde teve total domínio – foi Pithecantropus Erectus, de 1956. A faixa-título, considerada um marco do jazz, pretende contar a evolução e o declínio do homem; num dos riffs mais silentes e marcantes do estilo, evoluem solos ousados, harmônicos e desencontrados, num equilíbrio poucas vezes ouvido. O riff, aliás, era uma das poucas coisas que Mingus tinha em mente ao chegar no estúdio, além de alguma idéia para as progressões. O resto, como de fato é o homem, saiu de improviso. Mingus, um baixista generoso, cria uma verdadeira cama onde os solistas se deitam e sonham e assim é “A Foggy Day (In San Francisco)”, tema londrino e melancólico dos Gershwein transformado em upbeat parade (com direito a “city sounds” – apitos, estrilos, buzinas produzidos nos instrumentos musicais – a interferir na canção. “Profile of Jackie” é a balada curta; um lamento tranqüilo em camadas de freqüência bastante distintas, onde sobressai-se o talento do baixista sobre o compositor. No fecho, a extensa “Love Chant” traz uma linha de piano hipnótica e majestosamente modal, composta por Mingus e executada com o suingue de Waldron, progredindo em ritmo e melodia; o objetivo confesso do autor era criar poemas jazzísticos, e de fato seus temas são altamente visuais. A atonalidade é usada como o caos interfere no andamento da vida. A arte de Mingus sempre foi a de elevar a narrativa humana usando a música.

De todos os grandes do jazz, Mingus é de verve mais complexa e cheia de idiossincrasias. Pithecantropus Erectus é um ótimo começo para recém-chegados e o deleite de sempre para velhos conhecidos. Rip em 320kbps; todos os timbres estão aí, vocês vão notar de cara.

Minguspith200 Charles Mingus – Pithecantropus Erectus (320)
Charles Mingus: bass
Jackie McLean: alto saxophone
J.R. Monterose: tenor saxophone
Mal Waldron: piano
Willie Jones: drums

Produzido por Nesuhi Ertegun para a Atlantic

download AQUI – 83 mB
01 Pithecanthropus Erectus – 10’36
02 A Foggy Day (G. Gershwin, I. Gershwin) – 7’50
03 Profile of Jackie – 3’11
04 Love Chant – 14’59

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :.

John Scofield é um guitarrista de respeito – pavimentou sua carreira ao longo dos anos 70 tocando nos grupos de Mingus, Davis e Gary Burton. Bancado como talento de primeira linha pela Blue Note, gravou discos memoráveis como compositor no início dos 90 – entre eles, esta colaboração com a referência do assunto, Pat Metheny. Jazz contemporâneo de altíssima qualidade, raro e brilhante encontro complementar de talentos, inspirações e objetivos diferentes.Neste disco, gravado em dezembro de 1993, apenas composições próprias; os dois artistas se dividem em temais mais aveludados e etéreos (especialidades de Metheny) e blues de travo fusion, o estilo sofisticadamente cru de Scofield e suas composições quebradas, hard-bop. De um jeito ou de outro, uma jam brilhante e de muitas tonalidades – sem falar de riffs absolutamente cativantes e que persistem na memória (como na relaxante “No Matter What”, em quase-valsa na inebriante “S.C.O” – a preferida deste cão – ou em “You Speak My Language”, chiclete upbeat). Use seus fones e aproveite a competentíssima mixagem para ‘ver’ os músicos improvisando – Scofield fica na canal esquerdo, Metheny no direito. Ao centro, o baixo do colaborador de longa data de Scofield, o competente e discreto Steve Swallows, e a bateria classuda e extremamente bem colocada de Bill Stewart, um dos mais brilhantes da atualidade.

Image MiniJohn Scofield & Pat Metheny – I Can See Your House From Here (ogg VBR)

John Scofield: electric & steel-string acoustic guitar
Pat Metheny: electric & nylon-string acoustic guitar, guitar synthesizer
Steve Swallow: acoustic & electric bass
Bill Stewart: drums

Produzido por Lee Towsend para a Blue Note Records

download aqui – parte 1 (82mB)parte 2 (62mB)

UPDATE: para quem teve problemas com os arquivos ogg, ei-los em mp3, 192k, 99MB: AQUI

01 I Can See Your House From Here – 7’41
02 The Red One – 4’18
03 No Matter What – 7’09
04 Everybody’s Party – 6’13
05 Message To My Friend – 6’09
06 No Way Jose – 7’15
07 Say The Brother’s Name – 7’16
08 S.C.O. – 4’39
09 Quiet Rising – 5’23
10 You Speak My Language – 6’56

Boa audição! (E aos fãs do estilo, esperem ver Wes Montgomery, evidentemente, e porque não, Duofel, em breve por aqui.)

Blue Dog

.: interlúdio :.

Embalado pela chuva que insiste em cair lá fora, este cão faz uma pausa no bop para enlevar-se em harmonias menos angulares.

Embora um músico genial, John Coltrane foi um jovem pouco inteligente até quase matar-se na heroína. Refeito e levando sua vida e sua música com a seriedade que mereciam, foi encontrar a deidade (que previu numa crise de abstinência) na forma de uma negra forte, estudiosa de jazz e virtuose no piano, na harpa e no vibrafone. Tocava nos bares de Detroit com seu trio desde 62; conheceu John em 63. Tiveram três filhos e alguns trabalhos juntos; abraçaram o free jazz e, mais ela do que ele, a espiritualidade hindu – o que deu às composições de Alice um corpo próprio, bastante dissociado do que John fazia. Alice alternou sua carreira entre discos etéreos, de um jazz hipnótico, e outros de furor avant-garde improvisado nas teclas. Este Journey in Satchidananda faz parte do primeiro grupo. Gravado na casa da família, em 8 de novembro de 1970, é um disco de blue jazz cheio de personalidade. Do começo bluesy e compassado, um solo de harpa claro como cristal e o sax de Pharaoh Sanders – aqui temos a “resposta da família” à eletricidade de Miles Davis e do fusion que acelerava os compassos em direções distintas. Homogênea e desapressada, a música composta por Alice atingia o grau acima que lhe faltava para que assumisse o primeiro posto entre os músicos de jazz com este disco.

Journey In Satchidananda %28Alice Coltrane%29Alice Coltrane – Journey in Satchidananda (192)

Alice Coltrane: harp, piano
Pharoah Sanders: soprano saxophone, percussion
Cecil McBee: bass
Tulsi: tambura
Rashied Ali: drums
Majid Shabazz: bells, tambourine
Vishnu Wood: oud (track 5)
Charlie Haden: bass (track 5)

Produzido por Alice Coltrane e Ed Michael para a Impulse!

download AQUI – 52mb
01 Journey in Satchidananda – 6’39
02 Shiva-Loka – 6’37
03 Stopover Bombay – 2’54
04 Something About John Coltrane – 9’43
05 Isis and Osiris – 11’28 (ao vivo no The Village Gate, NY, 04 junho 1970)

Boa audição!

Blue Dog

.: interlúdio :.

Com a escusa de PQP, FDP e Clara, este interlúdio é, também, um quase-interlúdio do jazz; desvio um pouco para a seara dos colegas e trago, também, um pouco de clássico. Bach! Interpretado, ou relido, por respeitáveis jazzmen.

769851
Keith Jarrett, pianista que começou nos Jazz Messengers de Art Blakey e tocou com Miles Davis no início dos anos 70, firmou-se por incorporar o clássico, o gospel e o blues ao seu estilo de jazz. Um músico diferenciado, criou sua carreira não apenas tocando em conjuntos, mas também lançando diversos álbuns-solo de piano. (De um de seus shows, puro improviso ao instrumento, vem um dos discos mais reverenciados do jazz, The Köln Concert, que certamente figurará neste blog em algum momento.)

Sua relação com a música clássica sempre acompanhou a trajetória jazzística. Desde 1973, compõe e executa para o estilo. Neste disco de 1992, convidou a virtuose dinamarquesa Michala Petri para interpretar sonatas de Bach. Não se trata de um disco de jazz; aqui ele é, antes, uma inspiração para as execuções.

Michala Petri & Keith Jarrett – Bach: Sonatas (192)

Keith Jarrett: cravo
Michala Petri: flauta doceProduzido para Keith Jarrett e Peter Laenger para a BMG/RCA.

download AQUI – 96,2mB
Sonata for Flute and Harpsichord in B minor, BWV 1030
01 I Andante – 08’18
02 II Largo e dolce – 03’28
03 III Presto – 01’25
04 IV Allegro – 04’14
Sonata for Flute and Harpsichord in E flat major, BWV 1031
05 I Allegro moderato – 03’07
06 II Siciliano – 02’02
07 III Allegro – 04’10
Sonata for Flute and Harpsichord in A major, BWV 1032
08 I Vivace – 04’31
09 II Largo e dolce – 02’50
10 III Allegro – 04’13
Sonata for Flute and Harpsichord in C major, BWV 1033
11 I Andante – Presto – 01’35
12 II Allegro – 02’11
13 III Adagio – 01’40
14 IV Menuetto I & II – 02’49
Sonata for Flute and Basso Continuo in E minor, BWV 1034
15 I Adagio ma non tanto – 02’57
16 II Allegro – 02’22
17 III Andante – 03’08
18 IV Allegro – 04’26
Sonata for Flute and Basso Continuo in E major, BWV 1035
19 I Allegro ma non tanto – 02’19
20 II Allegro – 02’52
21 III Sicilano – 03’32
22 IV Allegro assai – 02’57

1172182694 Blues On Bach
O Modern Jazz Quartet foi um dos grupos mais duradouros e originais do jazz; começaram em 1952, tocando bop, e encerraram as atividades no final dos ’70 como expoentes do third stream – estilo que se pretende um ponto de encontro entre jazz e música clássica. Evidentemente, o rótulo (cunhado por Gunther Schuller) é polêmico; já a música do MJQ, não. Sempre vistos como precursores, usaram o barroco e o blues de combustíveis para firmarem-se como visionários. Neste Blues on Bach, de 1973, o grupo intercala quatro composições originais, inspiradas em Bach, à cinco adaptações de trabalhos clássicos do compositor. Respeitosamente: sem improvisos, e usando o cravo ao invés do piano. Milt Jackson, um dos maiores vibrafonistas da música, destaca-se em passagens brilhantes.

Modern Jazz Quartet – Blues on Bach (320)

Milt Jackson: vibrafone
John Lewis: piano, cravo
Percy Heath: baixo
Connie Kay: bateriaProduzido por Nesuhi Ertegun para a Atlantic

download AQUI – 94,7mB
01 Regret? – 2’04
02 Blues in B Flat – 4’56
03 Rise up in the Morning – 3’28
04 Blues in A Minor – 7’53
05 Precious Joy – 3’12
06 Blues in C Minor – 7’58
07 Don’t Stop This Train – 1’45
08 Blues in H (B) – 5’46
09 Tears from the Children – 4’25

Boa audição!

Blue Dog

.: interlúdio :.

Falar de Miles Davis é coisa pra vida toda. Então eu saio de fininho e deixo vocês com a certidão de nascimento de um gênero – o cool jazz, um jeito menos apressado, mais suave de fazer o virtuoso bop/hard bop. Três sessões de estúdio (com Gil Evans como arranjador, o que mostrava o caminho escolhido por Davis) nos inícios de 1949 e 1950; de brinde, apresentações ao vivo, radiofonadas – mostrando as músicas em seu pleno desenvolvimento, como uma peça histórica. (“Ladies and gentlemen, let’s give them a big hand for something new in modern jazz”, diz o apresentador.) O som do noneto – com tuba e french horns! – é macio e empolgante, inclusive por contar com composições do inspirado Gerry Mulligan, outra frente do cool jazz. Grupo de vida curta: a novidade, na contramão do mercado e do público (se ouvia bop, com o Charlie Parker de onde vinha Davis), não duraria muito. Mas as gravações – na verdade, uma coleção de 12 lados de 78rpm, só compilados pela primeira vez em 1957 – firmaram a posição de Miles como músico e de primeira linha.

11450528Miles Davis – The Complete Birth of the Cool (128)

Em estúdio:
Miles Davis (trumpet)
Kenny Hagood (vocals)
Lee Konitz (alto saxophone)
Gerry Mulligan (baritone saxophone)
J.J. Johnson, Kai Winding (trombone)
Junior Collins/Sandy Siegelstein/Gunther Schuller (French horn)
Bill Barber (tuba)
John Lewis/Al Haig (piano)
Al McKibbon/Joe Shulman/Nelson Boyd (acoustic bass)
Kenny Clarke/Max Roach (drums)

Ao vivo:
Miles Davis (trumpet)
Kenny Hagood (vocals)
Lee Konitz (alto saxophone)
Gerry Mulligan (baritone saxophone)
Mike Zwerin (trombone)
Junior Collins (French horn)
Bill Barber (tuba)
John Lewis (piano)
Al McKibbon (bass)
Max Roach (drums)

Produzido por Walter Rivers e Pete Rugolo para a Capitol


download AQUI
– 63mb
01 Move (Best) – 2’32
02 Jeru (Mulligan) – 3’11
03 Moon Dreams (MacGregor, Mercer) – 3’18
04 Venus De Milo (Mulligan) – 3’10
05 Budo (Davis, Powell) – 2’33
06 Deception (Davis) – 2’47
07 Godchild (Wallington) – 3’08
08 Boplicity (Henry) – 2’59
09 Rocker (Mulligan) – 3’04
10 Israel (Carisi) – 2’16
11 Rouge (Lewis) – 3’13
12 Darn That Dream (DeLange, Van Heusen) – 3’22
• 04/09/1948 – Royal Roost, NY
13 Birth Of The Cool Theme (live) – 0’17
14 Symphony Sid Announces The Band (live) – 1’02
15 Move (live) – 3’40
16 Why Do I Love You (live) – 3’39
17 Godchild (live) – 5’49
• 18/09/1948 – Royal Roost, NY
18 Symphony Sid Introduction (live) – 0’25
19 S’il Vous Plait (live) – 4’23
20 Moon Dreams (live) – 3’05
21 Budo (live) – 3’24
22 Darn That Dream (live) – 4’23
23 Move (live) – 4’47

Boa audição!

Blue Dog

.: interlúdio :.

Se muitas vezes se diz, ao ver um músico de jazz tocando com descontração, que “fulano toca como se estivesse brincando” – é preciso afirmar que ninguém se divertiu mais com sua própria música do que Thelonious Monk. Diz-se dele que tinha predileção em fazer as notas erradas soarem corretas. Monk, o compositor, era uma criança irriquieta: alterações de tempo/ritmo e predileções por harmonias dissonantes fizeram-no fundar e, depois, redescobrir o bebop em uma década.

Monk, o pianista, foi dono de um estilo percussivo e de improvisações surpreendentes e irreverentes. Além disso, não raro em uma jam session Monk terminava seu solo e levantava do piano, dançando em círculos. Embriagado da música. Levando pânico a um trompetista que estivesse desconcentrado.

Monk Corners SeloRejeitado em seus primeiros trabalhos por executar um jazz muito difícil, Monk reconciliou-se com público e crítica no seminal “Brilliant Corners”, gravado entre 17 e 23 de dezembro de 1956. Ao lado de ninguém menos do que Sonny Rollins e cercado pela solidez da cozinha de Max Roach e Oscar Pettiford, Monk registrou não apenas composições geniais – deixou um disco de rara variedade em sons, ritmos e texturas, de onde sairiam 4 standards do jazz. (Sendo que a faixa restante já era um deles.)

Brilliant Corners, faixa de abertura homônima ao disco, é considerada uma das mais difíceis composições do jazz de todos os tempos; levou mais de uma dúzia de takes para ser gravada, e a versão do disco foi editada com três deles. É um bebop swingado, cheio de clareiras melódicas para solos em tempos mutantes; um jazz ousado e que parece uma conversa entre bop e blue. E onde mais do que nunca aparecem os talentos do baixista Pettiford e, principalmente, do baterista Roach, cujo timing impecável permite que Monk angule as notas e o ritmo o quanto quiser sem que haja perda da coesão sonora.

Depois do desafio da primeira música, Monk solta o grupo numa jam longa, relaxada e cheia de groove, com tema blues: Moz Screenshot 4Moz Screenshot 5Ba-lue Bolivar Ba-lues-are. O lado B abre com a balada Pannonica, dedicada à “Baronesa do Bebop”, Nica (Rotschild) de Koenigswarter, amiga de Monk, Charlie Parker e diversos músicos do jazz à época. Nesta faixa Monk toca também celesta – em algumas passagens, junto com o piano.

I Surrender, Dear é o standard reinterpretado pelo grupo. Canção mais convencional do disco, onde Monk explora (à sua forma) camadas harmônicas, sincopando e interferindo no andamento normal. E para o final, outra versão para uma música sua já gravada, Bemsha Swing, que cheira a Gillespie e revisita as big bands – muito em parte pelo uso dos tímpanos na percussão.

Monk CornersThelonious Monk – Brilliant Corners (VBR)

Thelonious Monk: piano; celesta
Sonny Rollins: tenor saxophone
Ernie Henry: alto saxophone (faixas 1-4)
Oscar Pettiford: double bass (faixas 1-4)
Max Roach: drums; timpani
Clark Terry: trumpet (faixa 5)
Paul Chambers: double bass (faixa 5)

Produzido por Orrin Keepnews para a Riverside

download AQUI – 67mB
01 Brilliant Corners (Monk) – 7:42
02 Ba-lue Bolivar Ba-lues-are (Monk) – 13:24
03 Pannonica” (Monk) – 8:50
04 I Surrender, Dear (Barris-Clifford) – 5:25
05 Bemsha Swing (Monk-Best) – 7:42

Boa audição!

Blue Dog

Gustav Mahler (1860-1911) – A Canção da Terra (Das Lied von der Erde)

Precisa comentar? Mesmo?

É a maior obra-prima de Mahler. A Canção da Terra (1908) é uma cantata sinfônica sobre textos de Li T’ai Po e outros poetas chineses, na tradução alemã de Hans Bethge. O melhor Mahler parece condensado nesta música que mistura o clássico com as predileções de Mahler pela música popular e folclórica. Sua permanente angústia religiosa e as dúvidas do intelectual se manifestam nesta música pessoalíssima e perfeita, que termina com uma comovente canção de despedida.

Não é, decididamente, uma obra para intérpretes amadores. A maior gravação é, na minha opinião, a de Leonard Bernstein com Dietrich Fischer-Dieskau, mas esta sempre esqueço em casa… A que apresento aqui, de Michael Halasz, não faz feio.

A seguir, coloco um excelente texto de Isabel Assis Pacheco sobre a obra (retirado daqui)

Das Lied von der Erde (“A Canção da Terra”) (c. 1h. e 10 min.)

Artista intransigente, Mahler levou à obsessão o desejo de perfeição. Homem atribulado e desiludido, fugiu do mundo, da civilização e mergulhou no seio da natureza, em busca de conforto. São suas estas palavras: “Um grande exemplo para todas as pessoas criativas é Jacob, que se bate com Deus até que Ele o abençoe. Deus tão pouco quer conceder-me a Sua bênção. Somente através das terríveis batalhas que tenho de travar para criar a minha música recebo finalmente a Sua bênção”.

O complexo universo mahleriano, muitas vezes caótico, sofredor, povoado de sinais de morte, mas também pleno de realidades belas, não é senão uma projecção da própria vida humana.
Com uma produção quase exclusivamente constituída por sinfonias e ciclos de canções, Mahler descobre o seu horizonte criativo. O compositor opera nestes dois domínios musicais uma síntese genial e grandiosa: por um lado confere ao Lied uma dimensão sinfónica e, por outro lado, insere o Lied em várias das suas sinfonias. A fusão destas duas formas musicais atinge a culminância em obras como a 8ª Sinfonia e a sua derradeira obra Das Lied von der Erde (“A Canção da Terra”), classificada como “sinfonia com voz”.

No final de 1907, três duros golpes do destino marcaram profundamente Mahler: a morte da sua filha mais velha, a demissão de director da Ópera de Viena e o diagnóstico de uma grave doença cardíaca. Por essa altura, o seu amigo Theodor Pollak ofereceu-lhe uma colectânea de 83 poemas Die chinesische Flöte (“A Flauta Chinesa”) que Hans Bethge tinha adaptado das traduções inglesa, francesa e alemã dos originais chineses. Pollak expressara a ideia de que esses poemas poderiam ser musicados e Mahler identificou-se de imediato com o espírito dos poemas, concebendo a adaptação de alguns deles. A razão da escolha de seis poemas, de rara beleza, da autoria de Li–Tai–Po, Tchang–Tsi, Mong–Kao–Yen e Wang–Wei deveu-se aos temas apresentados. Poemas voltados para a terra, para a natureza e para a solidão do homem no seio desses elementos, foram a fonte criativa de um documento pessoal e profundamente comovente que abre o último período criador de Mahler — Das Lied von der Erde “uma sinfonia para tenor, contralto (ou barítono) e orquestra”. Bruno Walter classificou esta obra como “apaixonada, amarga e ao mesmo tempo, misericordiosa; o canto da separação e do desvanecimento”.

Obra onde se encontra a fusão perfeita do Lied e da sinfonia, A Canção da Terra está impregnada de tristeza e nostalgia indefiníveis, mas também da celebração da natureza. Mahler conseguiu evidenciar nesta obra todos os aspectos do seu génio.
Nela encontramos tanto a ambivalência de sentimentos, entre o êxtase, o prazer e a premonição da morte, que caracteriza o próprio compositor, como também todo o clima outonal do romantismo tardio. Terminada no Verão de 1908, a obra só viria a ser estreada seis meses após a morte do compositor, a 20 de Novembro de 1911, em Munique, sob a direcção Bruno Walter. Constituída por seis andamentos, a obra inicia-se com um Allegro pesante em Lá menor. Das Trinklied von Jammer der Erde (“Canção de Beber da Tristeza da Terra”), do poeta chinês Li–Tai–Po, advoga o vinho como o melhor remédio para os males humanos. Diante do absurdo da vida, a embriaguez é a única saída para a dor e para a revolta. Cada estrofe da canção termina com o terrível refrão: Dunkel ist das Leben, ist der Tod (“Sombria é a vida, é a morte”). Usando genialmente todos os recursos orquestrais a fim de aumentar a tensão, Mahler cobre toda a gama de emoções.

O segundo andamento indicado Etwas schleichend (um pouco arrastado) é na tonalidade de Ré menor. A imagem poética desta segunda canção, Der Einsame im Herbst, (“O Solitário no Outono”) cantada neste caso pelo barítono, é a tristeza do homem que chora sozinho com as suas recordações e para quem “o outono se prolonga demasiado no seu coração”. Mahler sublinha o verso Mein Herz ist müde (“O meu coração está cansado”). O andamento termina melancolicamente com uma coda orquestral de extraordinária beleza. De índole totalmente diversa é Von der Jugend (“Da Juventude”). Com poema de Li–Tai–Po, este Lied é tratado em forma de miniatura e descreve uma cena chinesa.

Deparamo-nos com um pequeno “pavilhão de porcelana verde”, uma “pequena ponte de jade” que se reflectem no espelho do lago. A frágil superfície encantada é traduzida por delicadas sonoridades que nos transmitem um efeito de fria emoção.

Um procedimento análogo caracteriza o quarto andamento: Von der Schönheit (“Da Beleza”). Indicado como comodo, dolcissimo, esta canção descreve, num estilo gracioso, jovens raparigas a colherem flores de lótus na margem de um rio.

Porém, o andamento anima-se cada vez mais quando em ritmo de marcha (o mais vivo e agitado de toda a obra) jovens cavaleiros montados em corcéis de fogo, perturbam a nostalgia da cena. No final do poema reencontramos a atmosfera inicial. Tratado como uma canção de embalar de grande beleza tímbrica, o poema termina sobre um murmúrio das flautas e violoncelos:

In dem Funkeln ihrer großen Augen,
In dem Dunkel ihres heißen Blicks
Schwingt klagend noch die Erregung Ihres Herzens nach.

“No brilho dos seus olhos,
no calor do seu olhar sombrio,
ainda traem a emoção dos seus corações.”

Esta atmosfera é quebrada pelo quinto andamento, Der Trunkene im Frühling (“O Bêbado na Primavera”). Em forma de scherzo em Lá Maior, é um novo hino aos prazeres da bebida. O despreocupado e jovial Allegro inicial muda poeticamente quando um pássaro (tema brilhante para o piccolo) desperta o ébrio e o informa que a primavera chegou durante a noite. O ébrio protesta e diz que não acredita ter nada a ver com a primavera ou o canto dos pássaros:

Und wenn ich mich mehr singen kann,
So schlaf’ ich wieder ein,
Was geht mich denn der Frühling an!?
Lasst mich betrunken sein!

“E se não posso mais cantar,
então durmo de novo,
que me importa a primavera?
Deixai-me com a minha embriaguez!”

O último Lied, de longe o mais importante, tanto pela duração como pela beleza, é Der Abschied (“A Despedida”) e resulta da conjugação de dois poemas com afinidades temáticas, de Mong–Kao–Yen e Wang–Wei e ainda de alguns versos do próprio compositor que funcionam, neste caso, como coda.

No primeiro, o poeta espera o seu amigo para com ele contemplar o esplendor do crepúsculo. Mahler inicia o andamento com um interlúdio orquestral em forma de marcha fúnebre, criando assim um ambiente fascinante, entoado em uníssono pelos violoncelos, contrabaixos, violas, harpas e contrafagote. Quando a voz entra, sustentada pelos violoncelos, o efeito é de uma alma perdida, impressão intensificada pela transferência do lamento do oboé para a flauta. O poema descreve o entardecer:

Die Sonne scheidet hinter dem Gebirge,
In alle Täler steig der Abend nieder
Mit seinen Schatten, die voll Kühlung sind…

“O sol desaparece por trás das montanhas.
O anoitecer e as suas sombras frescas
surgem nos vales…”

Um tremolo de dois clarinetes termina esta variação que se cinge aos três primeiros versos. A segunda variação constitui um momento muito comovente da obra. Numa melodia ascendente inesquecível, o barítono descreve a Lua “como um barco de prata sobre o mar azul do céu”. O Fá agudo na primeira sílaba de Silberbarke (barco de prata), é como que o culminar de um desejo que depois se recolhe sobre si próprio. A cantilena da voz prossegue, sublinhada pelos clarinetes e pela harpa que precedem o reaparecimento do gruppetto. As texturas orquestrais simplificam-se para criar um ritmo ondulante em quartas na harpa, secundada pelo bandolim quando o poema nos fala do canto do regato e da respiração da terra. A ideia de nostalgia e a beleza da terra é retomada num novo tema com o verso: Alle Sehnsucht will nun träumen (“Todo o desejo se transforma em sonho”). Trata-se da melodia da canção, Ich bin der Welt abhanden gekommen (“Afastei-me do Mundo”) utilizada por Mahler no famoso Adagietto da sua 5ª sinfonia.

O clímax central da primeira parte é a candente irrupção do êxtase. O tema do desejo reaparece depois do grito Lebewohl (“Adeus”). O tema de Ich bin der Welt subjacente, é agora tratado pentatonicamente ao começar o verso:

O Schönheit! O ewigen Liebens–, Lebens–trunk‘ne Welt!

“Ó beleza! Ó mundo ébrio de amor e vida eternos!”

Um longo interlúdio orquestral entre os dois poemas, construído a partir de motivos já ouvidos, torna-se o prenunciador de futuras catástrofes. Soberanamente orquestrado, o ritmo de marcha fúnebre prossegue, lúgubre e insistente, enquanto a voz descreve a chegada do amigo e a sua despedida:

Du, mein Freund,
mir war auf dieser Welt das Glück nicht hold!

“Meu amigo,
a felicidade não me foi propícia neste mundo!”

Neste verso, a música dolente, modula para o modo Maior. No momento em que o poeta refere que procura repouso para o seu solitário coração, Mahler cita Um Mitternacht (“À meia–noite”). O tema do “desejo” volta a ouvir-se nos versos:

Still ist mein Herz und harret seiner Stunde!

“ O meu coração está tranquilo e aguarda a sua hora!”

Começa assim a maravilhosa e insólita coda em dó Maior, com versos da autoria do próprio Mahler :

Die liebe Erde allüberall
blüht auf im Lenz und grünt aufs neu!
Allüberall und ewig Blauen licht die Fernen!
Ewig… ewig…

“Em toda a parte a amada terra
Floresce na primavera e torna a verdejar!
Por toda a parte e eternamente resplandece um azul luminoso!
Eternamente…eternamente…”

Quando a voz entoa as últimas palavras Ewig… ewig, a música parece dissolver-se imperceptivelmente num pianíssimo, sustentado pelas cordas e com arpejos da harpa e da celesta. A música dá lugar ao silêncio e a emoção é levada à sua plenitude.

Isabel Assis Pacheco

Divirtam-se,

PQP Bach.

1. Das Trinklied vom Jammer der Erde 08:02 (Canção para Beber à Tristeza da Terra)
2. Der Einsame im Herbst 09:02 (O Solitário no Outono)
3. Von der Jugend 03:09 (Da Juventude)
4. Von der Schonheit 06:36 (Da Beleza)
5. Der Trunkene im Fruhling 04:26 (O Bêbado de Primavera).
6. Der Abschied 27:19 (A Despedida)

Ruxandra Donose, mezzo-soprano
Thomas Harper, tenor
Performed by: Ireland National Symphony Orchestra
Conducted by: Michael Halasz

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