Pelléas et Mélisande é como se fosse um portal que nos conduz a um novo mundo musical no século XX. Publicada em 1902, a obra é um divisor de águas. Achei muito boa a explicação da wikipédia para a obra. Por isso, segue o texto: Pelléas et Mélisande (Pelléas and Mélisande)(1902) é uma ópera em cinco actos e doze quadros, composta por Claude Debussy, com Libretto de Maurice Maeterlinck. A Acção decorre no reino imaginário de Allemonde, em tempos medievais. Pelléas et Mélisande é uma espécie de manifesto do pensamento artístico de Claude Debussy (1862 – 1918) e, por extensão, também do expressionismo musical. A corrente estética criada em França, em finais do século XIX, constituiu uma resposta à escola pictórica impressionista. O pai desta última foi Claude Monet – de quem Debussy se declarava fervoroso admirador. O seu quadro intitulado Impression: soleil levant (1874) abriu o novo caminho impressionista e ao mesmo tempo deu-lhe o nome. Auguste, Renoir, Camille Pissarro e Edgar Degas foram os representantes seguintes deste movimento artístico que sacudiu as bases da cultura parisiense nas últimas décadas de 1800. Todos estes artistas confrontaram-se com a Academia Francesa de Belas Artes e aos seus ensinamentos ao mostrar mais interesse em reflectir os efeitos da luz do que em retratar com precisão os perfis das personagens, objectos ou as paisagens.
Esta nova técnica, na qual desempenhava um papel principal o tratamento da cor, foi a que Debussy quis aplicar na linguagem artística da qual era mestre. Na actualidade identificamos já alguns elementos impressionistas em certas obras de Chopin ou Liszt, mas foi o compositor francês quem definiu os traços fundamentais do impressionismo musical no seu celebrérrimo Preludio à sesta de um fauno (1894). Pelléas et Mélisande é também outra das obras representativas desta corrente artística que exerceu uma importante influencia na música do século XX. Maurice Ravel, o outro grande músico do impressionismo, e artistas posteriores como Béla Bartók e Olivier Messiaen aproveitaram os ensinamentos do autor de La Mer.
A criação de Pelléas et Mélisande foi complicada e longa. Debussy tinha conhecido o drama de Maeterlinck devido à sua estreia no Théatre des Bouffes-Parisiennes em 1893. Nesse mesmo ano, cativado pela peça do autor flamengo, começou a escrever a sua ópera. A 6 de Setembro escreveu ao seu amigo, ele também compositor, Ernest Chausson: ” Debussy terminou uma cena de Pelléas, ‘Uma fonte no parque’, Acto IV, cena 4″. Esta é a primeira notícia que temos da génese de Pelléas et Mélisande. Debussy foi submergindo-se pouco a pouco na composição de uma música difícil, trabalhosa e inclusivamente desencorajadora para o seu autor, que o obrigava a fabricar novos recursos para seguir adiante com a revolucionaria partitura. Numa nova missiva ao seu amigo Chausson, o compositor confessou: “servi-me de um meio expressivo muito estranho: o silêncio (não se ria), que é talvez a única maneira de atingir o sentimento de um instante”.
Quando os primeiros esboços se encontravam bastante avançados, o compositor francês preparou um encontro em Gand com o próprio Maeterlinck para diligenciar as autorizações correspondentes, o que foi possível graças a Henri de Régnier, um dos seus amigos da Libraire Indépendante. Debussy foi ao encontro acompanhado pelo poeta Pierre Louÿs. Após o encontro com dramaturgo, o músico reflectiu sobre as suas impressões, uma vez mais, na sua correspondência privada: “Passei com Maeterlinck um dia em Gand. No principio comportou-se como uma jovenzinha à qual apresentaram o seu futuro marido, mas logo se derreteu o gelo e esteve encantador. O que me disse sobre o teatro qualifica-o como um espírito verdadeiramente superior. Autorizou-me a fazer em Pelléas todos os cortes que me fossem precisos, inclusivamente indicou-me alguns realmente necessários e muito úteis. De música, segundo me disse, não percebe nada; vai ouvir uma sinfonia de Beethoven como um cego a um museu. Mas é um homem fora do normal, que diz coisas extraordinárias da maneira mais simples. Quando lhe agradeci pelo seu Pelléas, fez todo o possível para demonstrar-me que era ele quem estava agradecido por tê-lo posto em música”. Debussy utilizou como libreto o texto de Maeterlinck, o qual submeteu a algumas consideráveis modificações.
Em 1895, Debussy deu por terminado o seu Pelléas et Mélisande. No entanto o descontentamento apoderou-se do compositor, que uma vez mais regressou às páginas da sua ópera e continuou a trabalhar nela. Depressa incorporou novidades na sua obra, enquanto prosseguiu com outros projectos diferentes, entre os quais se encontram os Nocturnos. A Ópera Cómica de Paris fixou por fim uma data – início de 1902 – para a estreia de Pelléas et Mélisande. Mas esta estava cada vez mais perto e Debussy prosseguia com as suas correcções. Iniciaram-se os ensaios e o compositor encontrou-se com numerosos problemas. Em primeiro lugar, produziram-se desagradáveis tensões com André Messager, maestro da produção em preparação. E, posteriormente, teve que enfrentar vários confrontos com os cantores e instrumentistas da orquestra, que se encontravam muito incomodados com a tão moderna música de Debussy. Entretanto, o compositor consagrava as suas noites de insónia a terminar a sua obra. A estreia produziu-se, por fim, a 27 de Abril de 1902, com a lendária soprano escocesa Mary Garden no papel de Mélisande. O acolhimento do público parisiense foi glacial; inclusivamente chegou a receber com gargalhadas algumas das dramáticas frases da infeliz protagonista feminina durante o Acto II. Ao finalizar o trabalho, o silêncio e desaprovação superou os escassos aplausos. Paul Dukas, Pierre Louÿs e Paul Valéry, que se encontravam entre a assistência, estavam enfeitiçados pela música do seu amigo, conscientes de que tinham sido espectadores de um grande momento da história. Debussy, pela sua parte, encontrava-se especialmente satisfeito com a interpretação de Mary Garden no papel principal: ” Chegou por fim o acto V – a morte de Mélisande – e foi um assombro, de cuja emoção não poderia dar conta. Era a voz secretamente ouvida, com essa doçura desvanecida, essa arte tão cativante em que não acreditava até esse momento e que desde então fez com que a admiração do público se inclinasse com um fervor cada vez maior perante o nome da menina Mary Garden”.
A reacção do público parisiense perante uma obra tão audaz e revolucionária parece lógica. Em Pelléas et Mélisande, Debussy luta contra a tradição. A sua escrita vocal foge de todo o conencionalismo, pelo que é inútil procurar entre as paginas desta ópera especial melodias no sentido tradicional, árias ou momentos de brilho para os cantores. Como o próprio compositor explicou, ” quis que a acção não se detivesse nunca, que fosse contínua, ininterrupta…quis prescindir de frases musicais parasitas. Ao escutar uma obra, o erspectador está habituado a experimentar dois tipos de emoções muito distintas: a emoção musical, por um lado, e a emoção da personagem, por outro; em geral, sente-as de modo sucessivo. Eu cuidei para que estas duas emoções estivessem perfeitamente fundidas e fossem simultâneas. A melodia, se me permite dizê-lo, é antilirica”. Pelo seu estilo particular, Pelléas et Mélisande erige-se como precendente de Bartók e do próprio Schönberg. Do ponto de vista harmónico, Debussy faz uso de um modalismo de ressonâncias medievais e mágicas, no qual se pode achar certa influência wagneriana. É sabido que o compositor francês dedicou sentimentos contraditórios à arte do genial compositor alemão. Muitas das características harmónicas e sonoras da música de Wagner impregnaram a sensibilidade de Debussy, no entanto, a controversa técnica do leimotiv com a qual o autor de o Anel do Nibelungo estruturava as suas composições produzia-lhe uma forte resistência. Debussy escreveu Pelléas et Mélisande como uma alternativa oposta a Wagner, mas em muitas passagens, como apontou o próprio Pierre Boulez, não é difícil de encontrar a influência do último Wagner, ou Parsifal.
Bom deleite!
Claude Debussy (1862-1918) – Pélleas et Mélisande – drama lírico em cinco atos (ópera)
DISCO 03
Ato I
01. 1 Une forêt
02. 2 Un appartement dans le château
03. 3 Devant le château
Ato II
04. 1 Une fontaine dans la parc
05. 2 Une appartement dans le chateau
06. 3 Devant une grotte
DISCO 04
Ato III
01. 1 Une Des Tours Du Château
02. 2 Les Souterrains Du Château
03. 3 Une Terrasse Au Sortir Des Souterrains
04. 4 Devant Le Château
DISCO 05
Ato IV
01. 1 Un appartement dans le château
02. 2 Scène 2
03. 3 Une fontaine dans le parc
04. 4 Scène 4
Ato V
05. 1 Une chambre dans le château
Orchestra of the Royal Opera House
Royal Opera House (chorus)
Pierre Boulez, regente
George Shirley, Pelléas
Elisabeth Söderström, Mélisande
Donald McIntyre, Golaud
David Ward, Arkel
Yvonne Minton, Genevière
Anthony Britten, Yniold
Dennis Wicks, Un mèdicin
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Carlinus