OK, é Duke Ellington, mas também é aquela babação àquele amigo imaginário. Mas é Ellington. E há uma big band. E há um coral. E há uma boa cantora. Sueca. Mas há uma narração de Duke que é bem chatinha. Mas é Ellington. Supreeeeeeeme Beeeeeeing. Ouvir as orquestrações, o som inimitável de Ellington… A gente suporta até o terror da louvação.
O 2º Concerto Sacro foi registrado em 22 de janeiro e 19 fevereiro de 1968 em Nova York e foi originalmente lançado como um LP duplo da Prestige Records e relançado em CD simples. É a primeira vez que a sueca Alice Babs grava com a Orquestra de Ellington. Ela cantou “Heaven” e o vocal sem palavras “T.G.T.T. (Too Good To Title)”. Cootie Williams rosna seu trompete em “The Shepherd (Who Watches Over The Night Flock). Lindo! Esta peça é dedicada ao Rev. John Garcia Gensel, um pastor luterano que enrolava a comunidade do jazz. O final “Praise God And Dance ” vem do Salmo 150 e é muito legal. É meio jazz, meio mainstream popular dos anos 60.
Duke Ellington — 2nd Sacred Concert [Live]
1. Praise God 3:09
2. Supreme Being 11:46
3. Heaven 4:54
4. Something About Believing 8:12
5. Almighty God 6:32
6. The Shepherd (Who Watches Over The Night Flock) 7:10
7. It’s Freedom 13:00
8. Meditation 3:08
9. The Biggest And Busiest Intersection 3:58
10. T.G.T.T. 2:25
11. Praise God And Dance 10:57
Músicos:
Duke Ellington – piano, narration
Cat Anderson, Mercer Ellington, Money Johnson, Herb Jones, Cootie Williams – trumpet
Lawrence Brown, Buster Cooper, Bennie Green – trombone
Chuck Connors – bass trombone
Russell Procope – alto saxophone, clarinet
Johnny Hodges – alto saxophone
Jimmy Hamilton – clarinet, tenor saxophone
Paul Gonsalves – tenor saxophone
Harry Carney – baritone saxophone
Jeff Castleman – bass
Sam Woodyard, Steve Little – drums
Alice Babs, Devonne Gardner, Trish Turner, Roscoe Gill – vocals
The AME Mother Zion Church Choir, Choirs Of St Hilda’s and St. Hugh’s School, Central Connecticut State College Singers, The Frank Parker Singers – choirs
Assim nos é apresentada Xenia Löffler em seu próprio site:
“As a soloist, chamber musician, and orchestral musician, Xenia Löffler has gained an outstanding reputation as a baroque oboist over the past several years. Working with ensembles such as the Akademie für Alte Musik Berlin, where she has been active as a member and soloist since 2001, she has toured throughout the world and has performed at some of the most important music festivals and concert halls.”
Neste CD recém lançado pelo selo Harmonia Mundi, Xênia se dedicada à obra de Carl Phillip Emanuel Bach, o filho mais talentoso de Johann Sebastian acompanhada pelos seus colegas do excepcional conjunto “Akademie für Alte Musik Berlin” , a solista mostra que sabe muito bem o que está fazendo.
Importante salientar que devemos entender as obras de Carl Phillip dentro de um contexto de transição entre o Barroco e o Clacissismo, e o filho de Johann Sebastian é um dos principais compositores desse período. Ele ajudou a criar uma nova linguagem, uma nova forma de compor. Influenciou Mozart dentre outros compositores do período.
Espero que apreciem.
01. Oboe Concerto in E-Flat Major, H. 468, Wq. 165 I. Allegro
02. Oboe Concerto in E-Flat Major, H. 468, Wq. 165 II. Adagio ma non troppo
03. Oboe Concerto in E-Flat Major, H. 468, Wq. 165 III. Allegro ma non troppo
04. Sinfonia for winds, strings and basso continuo in F Major, H. 656, Wq. 181 I. Allegro
05. Sinfonia for winds, strings and basso continuo in F Major, H. 656, Wq. 181 II. Andante
06. Sinfonia for winds, strings and basso continuo in F Major, H. 656, Wq. 181 III. Allegro assai
07. Oboe Concerto in B-Flat Major, H. 466, Wq. 164 I. Allegretto
08. Oboe Concerto in B-Flat Major, H. 466, Wq. 164 II. Largo e mesto
09. Oboe Concerto in B-Flat Major, H. 466, Wq. 164 III. Allegro moderato
10. Sinfonia for 2 oboes, 2 horns, strings and basso continuo in G Major, H. 655, Wq. 180 I. Allegro di molto
11. Sinfonia for 2 oboes, 2 horns, strings and basso continuo in G Major, H. 655, Wq. 180 II. Largo
12. Sinfonia for 2 oboes, 2 horns, strings and basso continuo in G Major, H. 655, Wq. 180 III. Allegro assai
Xenia Löffler – Oboe
Akademie für Alte Musik Berlin
Se apreciadas no contexto da evolução de Beethoven como compositor, muito evidente nas obras solo para piano, as melífluas sonatas para violino do Op. 12 podem parecer até um retrocesso: clássicas, bem no prumo das de Mozart, sem sobressaltos, soam até mais antigas que aquelas para violoncelo do Op. 5, compostas dois anos antes. Diferentemente destas, frutos do contato com virtuoses numa corte real, e das sonatas para violino Op. 47 (a “Kreutzer”) e a Op. 96, dedicadas a solistas ilustres, as Op. 12 não tinham intérpretes específicos em vista, tampouco grandes pretensões – como atesta seu frontispício, aliás, que as descreve sem-cerimoniosamente como “sonatas para o pianoforte ou cravo, com acompanhamento de um violino”. Dedicando-as ao ainda muito influente Antonio Salieri, com quem pretendia estudar, Beethoven provavelmente quis fazer bom cartaz, pisando terreno firme e não ferindo as sensibilidades do velho professor. Parece que funcionou: em dois anos, ele iniciaria seus estudos com Salieri, dentro de seu projeto de fazer fortuna escrevendo óperas em italiano.
Uma das poucas dificuldades de escrever aqui no PQP Bach é tentar trazer novidades relevantes a um acervo gargantuano alimentado cotidianamente diariamente por colegas com tão fino gosto quanto apetite pantagruélico por novidades fonográficas. Quase todas minhas versões preferidas das sonatas para violino já estavam aqui – mas faltava essa, com o ateniense de ouro, Leonidas Kavakos, e o riminese Enrico Pace, talvez de todas a mais lindamente burilada e de articulações mais trabalhadas, que ficam ainda mais notáveis em função dos andamentos mais lentos escolhidos pela dupla. Kavakos é capaz de todas virtuosidades, mas aqui prefere privilegiar o timbre – e o seu, em minha desimportante opinião, é o mais belo entre os de todos violinistas em atividade. O som de seu Stradivarius é tão lindo que a gente nem liga para a alegada banalidade que os críticos, que desde o final do século XVIII já esperavam novidades de Beethoven, apontaram nessas sonatas – nós as ouvimos entre sorrisos, e só capazes de pensar nas próximas.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Três sonatas para violino e piano, Op. 12 Compostas entre 1797-1798 Publicadas em 1798 Dedicadas a Antonio Salieri
Sonata no. 1 em Ré maior
1 – Allegro con brio
2 – Tema con variazioni: Andante con moto
3 – Rondo: Allegro
Vamos finalizar hoje essa série do grande pianista Claudio Arrau interpretando Beethoven, trazendo os quatro últimos cds das Sonatas.
Aqui teremos as imensas Sonatas ‘Waldstein’, ‘Appassionata’, ‘Hammerklavier’ entre outras obras primas. Na época destas gravações Arrau já era um pianista altamente reconhecido, e com uma imensa discografia. Iria retomar estas sonatas alguns alguns antes de sua morte, mas isso é assunto para outro momento.
CD 7
Piano Sonata No. 19 In G Minor, Op. 49, No. 1
1.1. Andante
2.2. Rondo (Allegro)
Piano Sonata No. 20 In G Major, Op. 49, No. 2
3.1. Allegro ma non troppo4:58
4.2. Tempo di Menuetto
Piano Sonata No. 21 in C Major, Op. 53 “Waldstein”
5.1. Allegro con brio
6.2. Introduzione (Adagio molto)
7.3. Rondo (Allegretto moderato – Prestissimo)
Piano Sonata No. 22 in F Major, Op. 54
8.1. In Tempo d’un Menuetto
9.2. Allegretto
10.3. Più Allegro
Piano Sonata No. 23 in F Minor, Op. 57 “Appassionata”
11.1. Allegro assai
12.2. Andante con moto
13.3. Allegro ma non troppo
CD 8
Piano Sonata No. 24 in F-Sharp Major, Op. 78 “For Therese”
1.1. Adagio cantabile – Allegro ma non troppo
2.2. Allegro vivace
Piano Sonata No. 25 in G Major, Op. 79
3.1. Presto alla tedesca
4.2. Andante
5.3. Vivace
Piano Sonata No. 26 in E-Flat Major, Op. 81a “Les Adieux”
6.1. Das Lebewohl (Adagio – Allegro)
7.2. Abwesenheit (Andante espressivo)
8.3. Das Wiedersehen (Vivacissimamente)
Piano Sonata No. 27 in E Minor, Op. 90
9.1. Mit Lebhaftigkeit und durchaus mit Empfindung und Ausdruck
10.2. Nicht zu geschwind und sehr singbar vorgetragen
CD 9
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Piano Sonata No. 28 in A Major, Op. 101
1.1. Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung (Allegretto ma non troppo)
2.2. Lebhaft, marschmäßig (Vivace alla marcia)
3.3. Langsam und sehnsuchtsvoll (Adagio ma non troppo, con affetto)
4.4. Geschwind, doch nicht zu sehr und mit Entschlossenheit (Allegro)
Piano Sonata No. 29 in B-Flat Major, Op. 106 -“Hammerklavier”
5.1. Allegro
6.2. Scherzo. Assai vivace
7.3. Adagio sostenuto
8.4. Largo – Allegro risoluto
CD 10
Piano Sonata No. 30 in E Major, Op. 109
1.1/2. Vivace ma non troppo-Adagio espressivo-Tempo I – Prestissimo
2.3. Gesangvoll, mit innigster Empfindung (Andante molto cantabile ed espressivo)
Piano Sonata No. 31 in A-Flat Major, Op. 110
3.1. Moderato cantabile molto espressivo
4.2. Allegro molto
5.3a. Adagio ma non troppo
6.4. Fuga (Allegro ma non troppo)
Piano Sonata No. 32 in C Minor, Op. 111
7.1. Maestoso – Allegro con brio ed appassionato
8.2. Arietta (Adagio molto semplice e cantabile)
As duas obras para trio que hoje apresentamos são mais conhecidas em outras roupagens. O Op. 11 foi concebido para clarinete, na tonalidade de si bemol que lhe é tão confortável, mas rapidamente acomodado numa versão com violino, instrumento mais encontradiço, já publicada nesta série. Depois que o ouvimos com clarinete, entretanto, fica difícil escutar as passagens tão idiomáticas que Beethoven lhe escreveu em qualquer outro timbre. A alcunha “Gassenhauer” traduz-se, grosso modo, como “sucesso popular” (hit ou Schlager), no sentido das canções pegajosas cantaroladas por todos nas ruelas (Gassen, em alemão) – no caso, a ária “Pria ch’io l’impegno”, da ópera “L’amor marinaro ossia Il corsaro” de Joseph Weigl, um tremendo sucesso na Viena da época que foi amplamente usado como tema para obras com variações. O trio em si garante alguns minutos agradáveis, se não exatamente memoráveis – embora, e fica aqui a advertência, a tal “Gassenhauer” seja realmente MUITO grudenta.
O trio Op. 38, por sua vez, é uma versão do próprio compositor para o seu bem-sucedido septeto, Op. 20, arranjada para um conjunto instrumental mais econômico. O tal septeto fez tanto sucesso que Beethoven chegou a irritar-se com a imensa demanda por ouvi-lo em toda parte, e em diferentes arranjos, por considerar que compusera coisas muito melhores. Além da versão para clarinete, há outra para violino, violoncelo e piano, cujo dia também chegará por aqui.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trio em Si bemol maior para clarinete, piano e violoncelo, Op. 11, “Gassenhauer” Composto em 1797 Publicado em 1798
Dedicado a Maria Wilhelmine von Thun
1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Tema con variazioni (“Pria ch’io l’impegno”: Allegretto)
Trio em Mi bemol maior para clarinete, piano e violoncelo, Op. 38 Composto entre 1799-1800 (versão original do septeto, Op. 20) Arranjado e publicado como trio em 1805 Dedicado à imperatriz Maria Theresia
4 – Adagio – Allegro con brio
5 – Adagio cantabile
6 – Tempo di menuetto
7 – Tema con variazioni: Andante
8 – Scherzo: Allegro molto e vivace
9 – Andante con moto alla marcia – Presto
Beethoven Trio Raffaele Bertolini, clarinete Silvano Fusco, violoncelo Marco Schiavo, piano
Começamos aqui nossas homenagens ao grande aniversariante do ano – Ludwig van Beethoven! Em 17 de dezembro ele completará 250 anos, vivo, vivíssimo! Sua música soará o ano todo com a mesma energia, vibração e encantamento de sempre.
Acreditem, datas como esta são apenas casualidades. Tivesse a Terra um pouco mais de pachorra ao girar em torno do Sol e teríamos anos mais longos e estaríamos comemorando talvez o centenário de nascimento de Beethoven. Caso nossos ancestrais tivessem quatro dedos em cada mão (como o Mickey e o Pato Donald) no lugar de cinco e contaríamos de oito em oito no lugar de dez em dez e pronto, de novo estas datas simbólicas estariam totalmente mudadas.
Eu já passei pelos 200 anos de nascimento de Beethoven, lá em 1970, pelos 200 anos da morte de Mozart, em 1991. Há muito de marketing sendo feito nestas ocasiões pelas gravadoras e pela mídia que vive de música, mas acabamos nos rendendo a isto tudo. Afinal, esta é uma boa desculpa para ouvir as músicas todas novamente.
Começaremos nossas homenagens postando esta maravilhosa Integral das Sonatas para Piano, interpretadas por Igor Levit. Neste vídeo ele explica o que torna a música de Beethoven tão atual, apesar de ter sido escrita há tanto tempo. Além disso, o vídeo serve como trailer das maravilhas que virão nesta série de postagens.
As sonatas serão postadas na ordem em que foram publicadas. No primeiro disco as três sonatas reunidas no Opus 2, são assim três jovens irmãs. Estas sonatas foram compostas por volta de 1795, resultados dos primeiros anos de Beethoven em Viena e refletem o arrojo, o ímpeto e a autoconfiança do compositor. Mas lembremos que Beethoven já estava então com 25 anos, era um virtuose do piano, excelente improvisador e não era exatamente inexperiente na arte de composição de sonatas para piano. Estruturadas em quatro movimentos, todas apresentam belíssimos movimentos lentos e apenas a primeira tem um minueto no terceiro movimento. As outras exibem já um scherzo e todas terminam com movimentos onde o solista pode exibir todo o seu virtuosismo.
Dedicadas a Haydn, estas peças mostram a qualidade do compositor e anunciam o escopo que ele alcançaria nas próximas sonatas.
O Largo appassionato da segunda sonata do grupo revela a capacidade de Beethoven produzir movimentos que nos tocam profundamente. O arrojo e as proporções da terceira sonata, em dó maior, a destacam do grupo e fizeram dela peça de repertório de muitos grandes pianistas.
A interpretação de Igor Levit evidencia tudo isto e nos prepara para uma viagem que, prometo, será espetacular.
Parem tudo o que estão fazendo e ouçam isso. Não exagero: eu parei minha série de postagens da obra completa de Beethoven em pleno Ano Beethoven, e acho que Ludovico não se chatearia com a reverência ao demiurgo João Sebastião, recriado pelo talento do mais fascinante dos violinistas em atividade, o canadense James Ehnes. Atentem para os andamentos mais lentos que o habitual, que permitem à linda entonação de Ehnes destacar as diversas vozes com clareza, particularmente nas fugas. Percebam seu uso comedido do vibrato, tão em desuso nessa era de preferências historicamente informadas, que nem de longe descamba para romantismo ou, menos ainda, sacarose sentimental. Maravilhem-se com momentos como o prelúdio da terceira partita, que cintila e efervesce. E – nem sei o que lhes dizer – SINTAM nessa Chacona, também mais lenta que o costumeiro, o domínio absoluto que Ehnes tem sobre tudo, e sobretudo ao pulso do tempo, enquanto desenrolam-se as engenhosas variações na criação instrumental suprema de Bach. Eu fui fisgado logo no primeiro acorde da primeira sonata, e só parei de ouvir muito depois da última partita terminar, para então colocar novamente a Chacona para conseguir acreditar no que meus sentidos me diziam: que aquela era a mais bela versão das sonatas e partitas que conheci na última década, e certamente uma das melhores que jamais existirão.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
J. S. BACH – THE SIX SONATAS & PARTITAS FOR SOLO VIOLIN – JAMES EHNES
DISCO 1
Sonata no.1 em Sol menor para violino solo, BWV 1001
1 – Adagio
2 – Fuga
3 – Siciliana
4 – Presto
Partita no.1 in Si menor para violino solo, BWV 1002
5 – Allemanda
6 – Double
7 – Corrente
8 – Double
9 – Sarabande
10 – Double
11 – Tempo di Borea
12 – Double
Sonata no.2 in Lá menor para violino solo, BWV 1003
13 – Grave
14 – Fuga
15 – Andante
16 – Allegro
Partita no. 2 em Ré menor para violino solo, BWV 1004
1 – Allemanda
2 – Corrente
3 – Sarabanda
4 – Giga
5 – Ciaccona
Sonata no.3 em Dó maior para violino solo, BWV 1005
6 – Adagio
7 – Fuga
8 – Largo
9 – Allegro assai
Partita no.3 em Mi maior para violino solo, BWV 1006
10 – Preludio
11 – Loure
12 – Gavotte en Rondeau
13 – Menuet I
14 – Menuet II
15 – Bourrée
16 – Gigue
Não chega a ser um disco de levantar poeira, mas que entra no barracão no Andante do Concerto RV 396, por exemplo. Pois vocês conhecem Vivaldi — o padre vem na banguela e de repente engata a marcha e só vai e a gente acaba feliz. É o que acontece aqui. A Orchestra Of The Age Of Enlightenment, dirigida e solada por Catherine Mackintosh, formam um extraordinário conjunto, sempre competente e feliz, dentro espírito do veneziano.
A viola d’amore é um instrumento musical de cordas friccionadas. Tem 6 ou 7 cordas simpáticas, o que a faz ter de 12 a 14 cordas no total, e foi usado sobretudo no período barroco. É tocada sob o queixo do mesmo modo que o violino. O instrumento foi especialmente popular no final do século XVII, embora um especialista em viola de amor fosse raro, já que era costume um músico profissional tocar uma série de instrumentos, particularmente da família do instrumento principal desse músico. Mais tarde, o instrumento caiu em desuso, com o volume e pujança da família do violino a serem preferidos face à delicadeza e suavidade da família da viola. Todavia, houve interesse renovado pela viola d’amore no século XX: os violistas Henri Casadesus e Paul Hindemith tocaram ambos viola de amor no início do século XX, e o compositor de bandas sonoras Bernard Herrmann fez uso dela em várias obras. De notar que, tal como outros instrumentos da família do violino, a moderna viola d’amore foi alterada em estrutura face à versão do Barroco, sobretudo para suportar a tensão adicional das cordas metálicas. Leoš Janáček planeou usar a viola d’amore no seu quarteto de cordas n.º 2, “Cartas Íntimas”. O uso do instrumento era simbólico, pela natureza da sua relação com Kamila Stösslová, relação essa que inspirou a obra. Porém, a versão com a viola d’amore veio a ser impraticável nos ensaios e Janáček adaptou a obra para uma viola convencional. O bailado Romeu e Julieta de Sergei Prokofiev tem uma viola de amor.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para Viola d`Amore
Concerto In D Major, RV 392 (11:12)
1 Allegro 4:28
2 Largo 3:25
3 Allegro 3:19
Concerto In D Minor, RV 395 (14:02)
4 Allegro 4:20
5 Andante 1:55
6 Allegro 3:47
7 Largo 4:00
Concerto In D Minor, RV 393 (9:39)
8 Allegro 3:35
9 Largo 2:26
10 Allegro 3:38
Concerto In A Minor, RV 397 (10:35)
11 Allegro 3:59
12 Largo 3:11
13 Allegro 3:25
Concerto In D Minor, RV 394 (9:53)
14 Allegro 4:23
15 Largo 1:56
16 Allegro 3:34
Concerto In A Major, RV 396 (10:47)
17 Allegro 3:21
18 Andante 4:03
19 Allegro 3:23
Orchestra – Orchestra Of The Age Of Enlightenment
Viola d’Amore, Soloist, Directed By – Catherine Mackintosh
Neste mundo em que vivemos, é difícil esconder a informação. Em questão de poucos minutos o outro lado do planeta já está sabendo das novidades que estão acontecendo cá pelas nossas bandas.
Foi o que aconteceu quando fuçava a Internet atrás de alguma novidade quente. Eis que me deparo com essa belezura para animar os meus sonhos. Já postei o primeiro CD desta série lá em 2018 (parece que foi ontem), e agora, fresquinho, aqui está para os senhores o segundo CD. Não sei quais são os planos de Frau Faust e de Herr Melnikov, mas de qualquer forma, o segundo CD está disponível, porém seu lançamento oficial está sendo hoje, dia 7 de fevereiro.
Com músicos deste nível, como não poderia deixar de ser, temos um Mozart impecável, com Faust e Melnikov nos apresentando uma visão historicamente informada de como tocar essas obras primas. Esqueçam por um instante as gravações de Grumiaux e de Szering, por exemplo, e ouçam como se toca Mozart no século XXI.
Preciso dizer que ele leva com todos os méritos o selo PQPBach de qualidade de IM-PER-DÍ-VEL ???
01. Violin Sonata in F Major, K. 376 I. Allegro
02. Violin Sonata in F Major, K. 376 II. Andante
03. Violin Sonata in F Major, K. 376 III. Rondò. Allegretto grazioso
04. Violin Sonata in A Major, K. 305 I. Allegro di molto
05. Violin Sonata in A Major, K. 305 II. Tema [con Variazioni]. Andante grazioso
06. Violin Sonata in G Major, K. 301 I. Allegro con spirito
07. Violin Sonata in G Major, K. 301 II. Allegro
08. Violin Sonata in B-Flat Major, K. 378 I. Allegro moderato
09. Violin Sonata in B-Flat Major, K. 378 II. Andantino sostenuto e cantabile
10. Violin Sonata in B-Flat Major, K. 378 III. Rondeau. Allegro
Isabelle Faust – Violin
Alexander Melnikov Pianoforte
Antes que me chovam tomates por trazer este mais controverso de todos os grandes pianistas, justifico-me: depois de Bach, Beethoven é o segundo compositor mais importante em seu legado discográfico. Ademais, e a despeito da fama de ludwigófobo que construiu por interpretações bizarras como as que deu para a “Appassionata”, Glenn reconhecia o gênio do renano e pôs seu domínio fenomenal do teclado e a heterodoxia nas escolhas interpretativas para legar-nos gravações muito recompensadoras àqueles que não consigam se deixar irritar por seus expedientes de costume, como o de propor alterações dinâmicas e agógicas a bel prazer, e, mais notoriamente, aquele de cantarolar ao teclado. Gould está especialmente canoro nos movimentos de abertura das sonatas, aos quais ele imprime andamentos frenéticos. A articulação impecável e clareza com que ele distingue as vozes, responsável por muito da mágica gouldiana a tocar Bach, aqui brilha com clareza, particularmente no último movimento da segunda sonata, um fugato matreiro. E a terceira sonata, que considero a primeira obra-prima de Beethoven no gênero, com seu belíssimo, sentido Adagio, é tão equilibrada que se pode facilmente esquecer do escândalo causado por Gould quando, em seguida ao terremoto do sucesso de sua gravação de estreia, escolheu levar a disco as três últimas sonatas para piano de Ludwig, com recepção que variou do pasmo a, claro, jorros de ódio. E, falando em ódio, já que vocês estão a esvurmá-lo por mim, convido-os a tentarem aplacá-lo ouvindo a sonata Op. 26, com suas maravilhosas variações de abertura e a marcha fúnebre, que o canadense despacha com elegância e sem qualquer bizarrice. Vocês quase não o reconhecerão tocando e, talvez, até me perdoem – pelo menos, claro, até a próxima postagem de Gould.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Três Sonatas para piano, Op. 10 Compostas entre 1796-1798 Publicadas em 1798 Dedicadas à condessa Anne Margarete von Browne
No. 1 em Dó menor
1 – Allegro molto e con brio
2 – Adagio molto
3 – Finale. Prestissimo
No. 2 em Fá maior
4 – Allegro
5 – Allegretto
6 – Presto
No. 3 em Ré maior
7 – Presto
8 – Largo e mesto
9 – Menuetto. Allegro
10 – Rondo. Allegro
Sonata para piano em Lá bemol maior, Op. 26, “Marcha fúnebre” Composta entre 1800-1801 Publicada em 1801 Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky
11 – Andante con variazioni
12 – Scherzo, allegro molto
13 – Maestoso andante, marcia funebre sulla morte d’un eroe
14 – Allegro
Nas eternas discussões sobre música que mantínhamos nos encontros ao redor das bancas dos desejados LPs e CDs nas lojas de discos, falávamos de quase tudo. – Leon Fleisher e Szell são imbatíveis neste repertório! – Eu ouvia de um sério senhor de ascendência nipônica, enquanto segurava minha possível compra dos Concertos para Piano de Brahms, com Rudolf Serkin e o mesmo George Szell. Dúvidas abundavam, pois o investimento seria substancial.
Um dos temas que vez por outra entrava em pauta era o que o mesmo senhor chamava de ‘música canalha’. Eu sei, soa pior do que deveria, mas o pessoal era assim, radical. A cada um era permitido gostar de uma peça do gênero. Scheherazade era a queridinha dele. Vaias e apupos se elevavam quando Jardins de Um Mosteiro era mencionado.
Mas o repertório de ‘Música Ligeira’ ou de apelo popular, típico de orquestras como a Boston Pops, reserva grandes surpresas e geralmente traz ótimas lembranças.
Pois minha música de apelo popular preferida é ‘Quadros de Uma Exposição’ e esta é a minha gravação preferida. Sim, este álbum é um dos meus ‘Discos Mais Queridos’!
Carlo Maria Giulini foi um excelente regente, apesar de um repertório relativamente reduzido. Ele começou estudando violino e chegou a ocupar a fileira de violas da Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia. Tocou sob a batuta de grandes regentes, como Bruno Walter, Wilhelm Furtwängler, Victor de Sabata, Otto Klemperer. Esta experiência na orquestra certamente o ajudou a tornar-se um ótimo regente. Ele disse em entrevistas que detestava a abordagem ditatorial e exigente do então diretor musical da orquestra, preferindo a maneira gentil de reger de Bruno Walter. Segundo ele, Walter fazia cada músico sentir-se importante.
Entre as suas gravações mais famosas se encontram peças como ‘La mer’, de Debussy, as Sinfonias Nos. 3 e 5 de Beethoven, algumas das sinfonias de Mahler, as três últimas sinfonias de Bruckner. Óperas também eram importantes em seu repertório e as gravações de Don Giovanni, As Bodas de Fígaro, de Mozart, e Rigoletto e Falstaff de Verdi, vêm facilmente à memória. O Requiem de Verdi é também uma das gemas de sua discografia.
As peças que estão reunidas neste álbum foram lançadas originalmente em diferentes LPs. O denominador comum aqui é a orquestração de Maurice Ravel. A orquestração feita por Ravel do original Os Quadros de Uma Exposição, para piano, de Modest Mussorgsky, era tocada com frequência por Giulini. Realmente, esta peça pode ser usada para convencer pessoas que não têm o hábito de ouvir música ‘erudita’ a se aventurar nestas veredas. O movimento de abertura, Promenade, é uma daquelas músicas que gruda na nossa memória musical e como é repetida ao longo do passeio para vermos os quadros, acaba ficando de vez na nossa mente.
Para completar o programa, a suíte ‘Ma Mère l’Oye’, que nos leva para o mundo dos Contos de Fadas e a magia de Ravel permite nossa imaginação alçar grandes voos. E ainda há espaço para a Rapsódia Espanhola, que nos transporta diretamente para uma Espanha mítica, com seus jardins, perfumes e sons.
As duas orquestras – Chicago Symphony e Los Angeles Philharmonic foram dirigidas por Giulini e essas gravações mostram o quanto foi frutífera essa relação.
Modest Mussorgsky (1839 – 1881)
Quadros de Uma Exposição (Orquestração de Maurice Ravel)
Promenade
Gnomus
Promenade
Il vecchio castello
Promenade
Tuileries
Bydlo
Promenade
Ballet des Petits Poussins dans leurs Coques
Samuel Goldenberg und Schmuyle
Limoges: Le Marché & Catacombae: Sepulchrum Romanum
Cum mortuis in lingua mortua
La Cabane de Baba-Yaga sur des Pattes de Poule & La Grande Porte de Kiev
Dando continuidade à postagem da primeira integral das sonatas de Beethoven que Claudio Arrau gravou em 1964, trago algumas Sonatas fundamentais nestes três CDs, como a “Sonata ao Luar”, a “Pastoral” e a “Tempestade”. Se Beethoven só tivesse escrito estas três peças, com certeza seu nome já estaria inscrito no panteão dos grandes gênios da humanidade. Felizmente, para nós, ele viveu para escrever outras obras primas.
Admiro Claudio Arrau por seu pleno domínio do instrumento, e claro, da própria obra. Era um especialista neste repertório, e com certeza foi um dos maiores intérpretes do gênio de Bonn no século XX.
Então vamos ao que viemos.
CD 4
01. Piano Sonata #10 In G, Op. 14-2 – 1. Allegro
02. Piano Sonata #10 In G, Op. 14-2 – 2. Andante
03. Piano Sonata #10 In G, Op. 14-2 – 3. Scherzo Allegro Assai
04. Piano Sonata #11 In B Flat, Op. 22, ‘Grand’ – 1. Allegro Con Brio
05. Piano Sonata #11 In B Flat, Op. 22, ‘Grand’ – 2. Adagio Con Molta
06. Piano Sonata #11 In B Flat, Op. 22, ‘Grand’ – 3. Minuetto
07. Piano Sonata #11 In B Flat, Op. 22, ‘Grand’ – 4. Rondo Allegretto
08. Piano Sonata #12 In A Flat, Op. 26, ‘Funeral March’ – 1. Andante C
09. Piano Sonata #12 In A Flat, Op. 26, ‘Funeral March’ – 2. Scherzo
10. Piano Sonata #12 In A Flat, Op. 26, ‘Funeral March’ – 3. Marcia Fu
11. Piano Sonata #12 In A Flat, Op. 26, ‘Funeral March’ – 4. Allegro
CD 5
01. Sonata No. 13 in E flat major, op. 27 no. 1 – I. Andante – Allegro – Tempo I
02. Sonata No. 13 in E flat major, op. 27 no. 1 – II. Allegro molto e vivace
03. Sonata No. 13 in E flat major, op. 27 no. 1 – III. Adagio con espressione
04. Sonata No. 13 in E flat major, op. 27 no. 1 – IV. Allegro vivace – Tempo I –
05. Sonata No. 14 in C sharp minor, op. 27 no. 2 ”Moonlight” – I. Adagio sostenuto
06. Sonata No. 14 in C sharp minor, op. 27 no. 2 ”Moonlight” – II. Allegretto
07. Sonata No. 14 in C sharp minor, op. 27 no. 2 ”Moonlight” – III. Presto
08. Sonata No. 15 in D major, op. 28 ”Pastoral” – I. Allegro
09. Sonata No. 15 in D major, op. 28 ”Pastoral” – II. Andante
10. Sonata No. 15 in D major, op. 28 ”Pastoral” – III. Scherzo (Allegro assai)
11. Sonata No. 15 in D major, op. 28 ”Pastoral” – IV. Rondo (Allegro ma non tro
CD 6
01. Sonata No. 16 in G major, op. 31 no. 1 – I. Allegro vivace
02. Sonata No. 16 in G major, op. 31 no. 1 – II. Adagio grazioso
03. Sonata No. 16 in G major, op. 31 no. 1 – III. Rondo (Allegretto)
04. Sonata No. 17 in D minor, op. 31 no. 2 ”The Tempest” – I. Largo – Allegro
05. Sonata No. 17 in D minor, op. 31 no. 2 ”The Tempest” – II. Adagio
06. Sonata No. 17 in D minor, op. 31 no. 2 ”The Tempest” – III. Allegretto
07. Sonata No. 18 in E flat major, op. 31 no. 3 – I. Allegro
08. Sonata No. 18 in E flat major, op. 31 no. 3 – II. Scherzo (Allegretto vivace)
09. Sonata No. 18 in E flat major, op. 31 no. 3 – III. Menuetto (Moderato e grazi
10. Sonata No. 18 in E flat major, op. 31 no. 3 – IV. Presto con fuoco
As Sinfonias de Beethoven foram fonte de grande inspiração para Brahms, mas também foram motivo de um certo desencorajamento. Aproximar-se dos padrões estabelecidos por estas obras maravilhosas parecia impossível. Ele teria afirmado: ‘Eu nunca escreverei uma sinfonia’. Mas a criatividade venceu as barreiras internas e o enorme senso autocrítico, resultando em uma sinfonia muito especial. Aos 43 anos, após ter criado obras primas em muitos outros gêneros, Brahms completou sua Primeira Sinfonia. Uma vez vencida a primeira barreira, mais outras três sinfonias seguiram num período de aproximadamente dez anos.
É este conjunto de obras primas que temos aqui, na interpretação segura e direta de Paavo Berglund, regendo o excelente grupo de músicos que forma a COE, Chamber Orchestra of Europe. Esta orquestra sob a regência de Nikolaus Harnoncourt nos deixou um ótimo registro das Sinfonias de Beethoven. Agora, com selo Ondine e ótima produção de Andrew Keener temos as Sinfonias de Brahms.
A formação com um número menor de músicos nas seções de cordas tem beneficiado muito as gravações das Sinfonias de Brahms, como aconteceu, por exemplo, no caso de Charles Mackerras e a Scottish Chamber Orchestra. Os diferentes grupos de instrumentos têm igual oportunidade de brilhar, resultando em uma performance ágil e equilibrada. Os movimentos lentos também estão muito bem apresentados, nos quais o discurso musical se desenvolve com fluência e elegância. Resumindo, temos uma clássica apresentação destas quatro lindas sinfonias.
Johannes Brahms (1833 – 1897)
CD1
Sinfonia No. 1 em dó menor, op. 68
Um poco sostenuto – Allegro
Andante sostenuto
Um poco allegretto e grazioso
Adagio non troppo ma con brio
CD2
Sinfonia No. 2 em ré maior, op. 73
Allegro non troppo
Adagio non troppo
Allegro grazioso (Quase Andantino) – Presto ma non assai
Eu não vou jogar fora meus discos do Günter Wand regendo a NDR Orchestra ou os do Bernstein regendo a opulenta Wiener Philharmoniker, mas ouvir a interpretação do Berglund de quando em vez me dará muito prazer. Espero que o mesmo aconteça com você…
Se havia quaisquer dúvidas de que Ludwig van Beethoven – pianista virtuoso de fama consolidada em Viena, professor de piano requisitado e compositor crescentemente reconhecido – pretendia romper com tradições para fazer ouvir sua voz altamente individual, elas dissiparam-se quando, aos 26 anos, ele publicou a Sonata em Op. 7. Composta durante uma visita a Pressburg (hoje Bratislava, Eslováquia), estava entre as obras preferidas de Beethoven, que quis deixar isso claro ao dar-lhe um número próprio de opus, lançando-a separadamente, e não em dupla ou trinca, que era a praxe da época. De lambujem, chamou-a de “Grande Sonata”, título que lhe é muito apropriado, tanto pela duração – a segunda mais longa entre suas sonatas, menor somente que a transcendental “Hammerklavier” – quanto pelo escopo grandioso da obra, especialmente se a comparamos às sonatas anteriores do Op. 2. Ainda que nela haja muito pouco que fizesse imaginar o que viria com as vinte e oito sonatas seguintes, o abismo que a separa das Op. 2 só não é menor que aquele entre ela e a três sonatas do Op. 10 – a terceira das quais abre esta gravação, e que serão objeto de uma postagem específica.
Para encerrar, uma “Appassionata” sem-cerimoniosa e atenta à partitura, carregando as marcas registradas da canadense Angela Hewitt, que, depois levar ao disco e às salas de concerto de todo mundo interpretações de Bach que já nasceram clássicas, voltou-se para as sonatas do renano com toda bagagem de clareza, respeito às intenções do compositor e rejeição ao bravado amealhados na larga experiência de interpretação das obras do Maior de Todos. Apesar de nunca ter prometido a integral das trinta e duas sonatas, Hewitt já está há mais de década e no oitavo volume deste afã e, através do bonito som de seus queridos pianos Fazioli, propõe-nos uma refrescante maneira de ouvir Beethoven.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Três Sonatas para piano, Op. 10 No. 3 em Ré maior Composta entre 1797-8 Publicada em 1798 Dedicada à condessa Anna Margaret von Browne
1 – Presto
2 – Largo e mesto
3 – Menuetto. Allegro
4 – Rondo: Allegro
Grande Sonata para piano em Mi bemol maior, Op. 7 Composta entre 1797-8 Publicada em 1798 Dedicada à condessa Babette von Keglevics
5 – Allegro molto e con brio
6 – Largo, con gran espressione
7 – Allegro
8 – Rondo: Poco allegretto e grazioso
Sonata para piano em Fá menor, Op. 57, “Appassionata” Composta entre 1804-5 Publicada em 1807 Dedicada ao conde Franz von Brunsvik
9 – Allegro assai
10 – Andante con moto
11 – Allegro ma non troppo – Presto
Este disco segue uma tradição que pode andar um pouco desatualizada – coleção de árias famosas – mas sempre faz sucesso e emplaca grandes vendas.
Foi ouvindo discos como este que passei a me interessar e a gostar de ópera.
Há casos em que o disco reúne mais do que um compositor, em função do repertório do cantor. Este segue a linha de árias de um só compositor, no caso Mozart. O acompanhamento é por uma das melhores orquestras especializadas em música barroca e clássica: a Freiburger Barockorchester, regida pelo também violinista Gottfried von der Goltz.
O cantor está em evidência no momento – Christian Gerhaher – especialista em Lieder, mas como deixa claro este álbum, também ótimo cantor de ópera.
O repertório é magnífico. Como especial bônus, entremeada entre as árias, a Sinfonia No. 36 em dó maior – Linz – maravilhosa!
Os seus movimentos funcionam como intermezzos e mostra que a orquestra é mesmo excelente em território mozartiano.
Difícil escolher a ária mais bonita. Várias de Don Giovanni, tais como a ária do catálogo, que abre o disco, e a serenata que o Don faz sob a janela da donzela acompanhante de Dona Elvira. Nela ele revela seu lado absolutamente sedutor.
A chamada Ária da Champagne, a terceira do disco, é um autorretrato exato de Don Giovanni. É um tour de force, brilhante e superficial, mas que por isso precisa ser curta, menos do que minuto e meio. Apesar disso, ela permanece ressoando em nossos ouvidos. Gênio!
Mais à frente haverá outra ária do Don, agora revelando seu caráter dissimulado, de quem não assume seus maus atos.
Outro aspecto genial das óperas de Mozart que este disco revela é o contraponto que há entre os personagens. Há o nobre e o plebeu. Plebeus são Fígaro, Leporello, Papageno. O conde e o Don representam os nobres, e representam bem demais, pois revelam um caráter pouco idôneo. (Ah, Beaumarchais…) O conde Almaviva (mal tem seu nome citado em toda a ópera) consegue redenção, mas o Don Giovanni recebe punição capital.
Um pouco diferente das outras óperas, que tem seus personagens centrais, Così fan tutte é ópera de conjunto. Não há um personagem que se destaca sobre os outros, mas um conjunto de cantores com núcleo no quarteto de mocinhos e mocinhas e o cético Don Alfonso. As árias deste disco são de um dos mocinhos, o de voz mais grave, Guglielmo.
Temos assim um recorte do maravilhoso universo das Óperas de Mozart, servindo como um instigante abridor de apetite.
Somam à beleza deste álbum o bandolim de Avi Avitar e o acompanhamento em pianoforte de Kristian Bezuidenhout.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Don Giovanni, K. 527
No. 4 Aria: “Madamina, il catalogo è questo” (Leporello)
No. 16 Canzonetta: “Deh, vieni alla finestra” (Don Giovanni)
Há quem torça o nariz para um disco como este, preferindo ouvir as árias no contexto da ópera toda. Este disco seria como seguir em uma mesa de sobremesas pegando apenas as cerejas que estão sobre os bolos… Mas, quem liga?
Portanto, deixe os preconceitos de lado, baixe logo o disco e ouça muitas vezes.
Diferentemente da postagem anterior, com obras e performances eletrizantes, chego a um capítulo da obra do mestre renano que não me desperta muito entusiasmo. Suas peças para duo pianístico, que cabem todas num só disco, já foram postadas anteriormente no PQP Bach e mereceram, na ocasião, um meu comentário modorrento. Admito que talvez não esteja sendo justo com criações despretensiosas que não foram destinadas a causar estupor nos palcos, nas mãos de virtuoses, nem a estimular impulsos mecenáticos entre nobres endinheirados, e sim aos amadores em suas residências. Instrumentos de teclado eram crescentemente mais comuns nos lares, e a música para piano a quatro mãos – fosse ela original, ou arranjada para duo a partir de obras para conjuntos maiores – era um veículo importante de divulgação de composições naquela época em que o acesso a concertos ainda era mormente um privilégio e as gravações não estavam sequer na ficção científica, porque, talvez, nem ficção científica existisse.
A singela sonata Op. 6, uma das mais curtas entre as sonatas de Beethoven, com suas figurações simples que se dividem e repetem entre as quatro mãos, foi certamente dedicada ao estudo e à prática de conjunto. As simpáticas, despreocupadas Marchas, Op. 45, são de interesse um pouco maior, e ficam mesmo intrigantes quando se sabe que foram compostas em torno do período de desespero em Heiligenstadt, que culminou com o famoso testamento que algum dia abordaremos nesta série. Completam a gravação obras de fases contrastantes da carreira do compositor: aquela sobre um tema do Conde Waldstein (WoO 67), seu patrono em Bonn, datam, naturalmente, de seus últimos anos na cidade natal, e são interessantes pelas sugestões de colorido orquestral; as variações sobre sua canção “Ich denke dein” (WoO 74) foram dedicadas em Viena às condessas Therese e Josephine von Brunsvik, quase que certamente para o uso das moças (e, provavelmente, para impressioná-las); e a transcrição da Grande Fuga (Op. 134; originalmente o finale do quarteto de cordas, Op. 130, e editada em separado como Op. 133), que foi a última obra pianística que publicou. Muito me intrigam os motivos que levaram a este arranjo da mais radical e visionária das obras de Beethoven, recebida com reações que variavam entre a estranheza e as conjecturas de que o compositor enlouquecera, para um meio tão burguesmente doméstico como o do piano a quatro mãos. Enquanto o escutava, a preparar este texto, percebi pela primeira vez que a falta dos ataques furiosos às cordas, tão essenciais ao impacto da versão original, permitia uma percepção mais clara das vozes e da magistral transfiguração delas dentro do modo beethoveniano de tratar as leis da fuga. A obra futurística e iracunda para quarteto de cordas fica mais transparente e, voilà – 1 x 0 para você, velho Ludwig!
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata em Ré maior para piano a quatro mãos, Op. 6
1 – Allegro molto
2 – Rondo. Moderato
Três Marchas para piano a quatro mãos, Op. 45
3 – No. 1 em Dó maior
4 – No. 2 em Mi bemol maior
5 – No. 3 em Dó maior
Oito Variações em Dó maior para piano a quatro mãos sobre um tema do Conde Waldstein, WoO 67
6 – Thema. Andante con moto – Variationen I-VIII
Seis Variações em Ré maior sobre a canção “Ich denke Dein”, de Beethoven, WoO 74
7 – Thema. Variationen I-VI
Grande Fuga em Si bemol maior para piano a quatro mãos, Op. 134
8 – Overtura. Allegro – Fuga. Allegro – Meno mosso e moderato – Allegro – Allegro molto e con brio – Allegro molto e con brio
Il Serpente di Bronzo, ZWV 61 é uma belíssima cantata sacra composta pelo tcheco Jan Dismas Zelenka (1679-1745). Foi escrita em 1730 e apresentada pela primeira vez em Dresden. O libreto usado é uma história bíblica ligeiramente modificado por Zelenka. É cantada em italiano e não é tradicional pelo fato de que Deus tem várias passagens na cantata. A história é a do povo judeu que viaja do Egito para a Terra Prometida. Três judeus — Azaria, Egla e Namuel — estão cansados por terem que fazer uma jornada tão longa e começam a reclamar. Isso irrita Deus, que envia mil cobras para atormentar os blasfemadores. Moisés pede perdão e Deus manda que se lance uma serpente de bronze, daí o nome Il Serpente di Bronzo. Quem é mordido por uma cobra e vê a serpente de bronze será salvo. O fim da cantata é uma repetição do início.
Zelenka foi contratado como contrabaixista na capela da corte de Dresden em 1710, e estudou com o maestro da corte imperial Johann Joseph Fux em Viena de 1716 a 1719, depois retornando à sua posição em Dresden. Ele assumiu cada vez mais os cultos da igreja e também emergiu como compositor. Em 1730, entregou seu oratório (ou cantata) Il serpente di bronzo para a Semana Santa. Em 1736 ele foi nomeado “Kirchen-Compositeur”.
Aqui, são particularmente impressionantes a ária de Deus (cantada por Peter Kooij) e a oração de Moisés, a quem o tenor Jaroslav Brezina empresta sua voz. O Inégal, sob a condução de Adam Viktora, demonstra o mais alto nível na prática da música historicamente informada.
Jan Dismas Zelenka (1679–1745): Il Serpente Di Bronzo
“Claudio Arrau nasceu em Chillán, Chile, filho de Carlos Arrau, oftalmologista que morreu quando Cláudio tinha apenas um ano de idade, e Lucrecia León Bravo de Villalba, professora de piano. Ele pertencia a uma antiga e proeminente família do sul do Chile. Seu ancestral Lorenzo de Arrau, um engenheiro espanhol, foi enviado ao Chile pelo rei Carlos III da Espanha. Através de sua bisavó, Maria del Carmen Daroch del Solar, Arrau era um descendente dos Campbells de Glenorchy, uma família nobre escocesa. Arrau foi criado como católico, mas desistiu no final da adolescência.
Arrau era uma criança prodígio e sabia ler música antes de ler palavras, mas, ao contrário de muitos virtuosos, não havia um músico profissional em sua família. Sua mãe era uma pianista amadora e o apresentou ao instrumento. Aos 4 anos de idade, ele estava lendo as sonatas de Beethoven e fez seu primeiro concerto um ano depois.Quando Arrau completou 6 anos, fez um teste na frente de vários congressistas e do Presidente Pedro Montt, que ficou tão impressionado que começou a providenciar a educação futura de Arrau. Aos 8 anos, Arrau recebeu uma concessão de dez anos do governo chileno para estudar na Alemanha, viajando com sua mãe e irmã Lucrecia. Ele foi admitido no Conservatório Stern de Berlim, onde acabou se tornando aluno de Martin Krause, que estudara com Franz Liszt. Aos 11 anos, Arrau tocou o “Transcendental Etudes” de Liszt, uma das obras mais difíceis para piano, bem como as Variações Paganini de Brahms. As primeiras gravações de Arrau foram feitas em rolos de música para piano de jogadores eólios da Duo-Art. Krause morreu em seu quinto ano de ensino a Arrau, deixando o estudante de 15 anos arrasado pela perda de seu mentor; Arrau não continuou o estudo formal depois desse ponto.
Em 1935, Arrau rendeu-se a obra para teclado de Johann Sebastian Bach ao interpretá-la em 12 recitais. Em 1936, Arrau interpretou toda a obra pianística de Mozart em cinco recitais e seguiu com os ciclos completos de Schubert e Weber. Em 1938, pela primeira vez, foi a vez de Beehoven, vindo a apresentar toda a sua obra na Cidade do México. Arrau repetiu isso várias vezes em sua vida, inclusive em Nova York e Londres. Ele se tornou uma das principais autoridades de Beethoven no século 20.
Em 1937, Arrau casou-se com a mezzo-soprano alemã Ruth Schneider (1908–1989). Eles tiveram três filhos: Carmen (1938–2006), Mario (1940–1988) e Christopher (1959). Em 1941, a família Arrau emigrou da Alemanha para os Estados Unidos, estabelecendo-se em Douglaston, Queens, Nova York, onde Arrau passou os anos restantes. Ele se tornou um cidadão norte-americano em 1979.
Arrau morreu em 9 de junho de 1991, aos 88 anos de idade, em Mürzzuschlag, na Áustria, devido a complicações de uma cirurgia de emergência realizada em 8 de junho para corrigir um bloqueio intestinal. Seus restos mortais foram enterrados em sua cidade natal, Chillán, Chile.”
Com esta pequena biografia, livremente traduzida e adaptada da WIKIPEDIA, do grande pianista chileno Claudio Arrau dou por iniciada as minhas postagens dedicadas aos 250 anos do nascimento de Beethoven. Esta integral das Sonatas para Piano que ora vos trago foi gravada em 1964.
Piano Sonata No. 1 In F Minor, Op. 2, No. 1
1.1. Allegro
2.2. Adagio
3.3. Menuetto (Allegretto)
4.4. Prestissimo Piano Sonata No. 2 In A Major, Op. 2, No. 2
5.1. Allegro vivace
6.2. Largo appassionato
7.3. Scherzo (Allegretto)
8.4. Rondo (Grazioso) Piano Sonata No. 3 In C Major, Op. 2, No. 3
9.1. Allegro con brio
10.2. Adagio
11.3. Scherzo (Allegro)
12.4. Allegro assai
CD 2
Piano Sonata No. 4 In E Flat Major, Op. 7
1.1. Allegro molto e con brio
2.2. Largo, con gran espressione
3.3. Allegro
4.4. Rondo (Poco allegretto e grazioso) Piano Sonata No. 5 In C Minor, Op. 10, No. 1
5.1. Allegro molto e con brio
6.2. Adagio molto
7.3. Finale (Prestissimo)
CD 3
Piano Sonata No. 6 In F Major, Op. 10, No. 2
1.1. Allegro
2.2. Allegretto
3.3. Presto Piano Sonata No. 7 in D Major, Op.10, No.3
4.1. Presto
5.2. Largo e mesto
6.3. Menuetto (Allegro)
7.4. Rondo (Allegro) Piano Sonata No. 8 in C Minor, Op. 13 “Pathétique”
8.1. Grave – Allegro di molto e con brio9:04
9.2. Adagio cantabile
10.3. Rondo (Allegro) Piano Sonata No. 9 In E Major, Op. 14, No. 1
11.1. Allegro
12.2. Allegretto
13.3. Rondo (Allegro comodo)
Nas sonatas para violoncelo de quase todo o barroco até aquelas de Boccherini, o teclado limitava-se ao acompanhamento em baixo-contínuo de um solista que, normalmente, tentava aprontar algo no registro agudo do instrumento, sem que houvesse nelas, praticamente, uma parte para teclado independente. Os grandes Mozart e Haydn, modelos mais importantes para o jovem Beethoven, deram completamente de ombros ao violoncelo como solista em música de câmara, muito por conta das limitações dos instrumentos de antanho, cujo som tendia a ser abafado pelos pianos nos registros graves, o que desestimulava quaisquer intenções virtuosísticas. No entanto, os luthiers do final do século XVIII fizeram o violoncelo evoluir enormemente, de modo que, quando da visita de Beethoven à corte de Berlim em 1796, havia já um bom número de solistas de renome no instrumento outrora tido somente como um grave e modesto acompanhante. E, assim como aconteceria depois com o violinista Bridgetower e a sonata “Kreutzer”, foi um encontro de virtuoses a centelha para a criação intempestiva de uma obra revolucionária – no caso, de Beethoven com os irmãos Jean-Pierre e Jean-Louis Duport, primeiro e segundo violoncelistas da corte da Prússia, encabeçada ela própria por um violoncelista amador, o rei Friedrich Wilhelm II. Entusiasmado com o que ouviu dos irmãos, Ludwig escreveu com rapidez este par de sonatas, no que certamente contou com a consultoria dos virtuoses franceses, e estreou-as ainda na corte, tocando ele próprio a elaborada, independente parte do piano, inventando assim, praticamente sozinho, a sonata clássica para violoncelo e piano.
Se as sonatas têm tantos nomes e sobrenomes ilustres envolvidos em sua gênese, há bastante mistério sobre quem inspirou as três séries de variações para violoncelo e piano compostas por Beethoven, duas das quais estão incluídas neste disco. As exigências técnicas, bem menores que aquelas das sonatas, deixam-nas ao alcance de competentes amadores, e é bastante provável que tenham sido escritas por encomenda para alguns deles, inda mais por conta dos populares temas que lhes servem de base. A série mais interessante, aquela sobre o tema de “Judas Maccabaeus” de Händel, atesta o vivo interesse de Beethoven na música do saxão, que descobrira através de um de seus patronos, o barão von Swieten, e que o inspiraria ainda por muito tempo, como atesta a citação bastante conspícua e literal dum tema do “Messiah” na Missa Solemnis, já no final de sua carreira.
Cresci ouvindo essas sonatas com tantos ótimos duos (Rostropovich/Richter, Fournier/Gulda, Maisky/Argerich) que ficou difícil escolher um só deles para compartilhar com os leitores-ouvintes. Optei pelo que talvez é o menos conhecido entre os de excelência, o do violoncelista neerlandês Pieter Wispelwey e do pianista croata Dejan Lazić. Li em algum lugar que Wispelwey é um dos precursores da geração de generalistas-especialistas, por estar à vontade tanto com as cordas de tripa e a música antiga quanto com aquelas de aço na música moderna. Aqui, com um violoncelo Guadagnini e cordas de aço, ele dialoga maravilhosamente com o ótimo Lazić, que não nos deixa esquecer o apreço com que Beethoven, então mais conhecido como pianista do que como compositor, escrevia para brilhar nas partes destinadas a ele mesmo. Mesmo para quem já as conhece bem, as sonatas soam como novidades excitantes e equilibradas – e as variações, que mesmo sob arcos e mãos ilustres tendem a aborrecer um tanto, cintilam à altura de quem as escreveu.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Duas Sonatas para violoncelo e piano, Op. 5
No. 1 em Fá maior
1 – Adagio sostenuto
2 – Allegro
3 – Rondo: Allegro vivace
Doze Variações em Fá maior sobre “Ein Mädchen oder Weibchen”, de “Die Zauberflöte” de Mozart, para violoncelo e piano, Op. 66
4 – Thema
5-16 – Variationen 1-12
Duas Sonatas para violoncelo e piano, Op. 5
No. 2 em Sol menor
17 – Adagio sostenuto ed espressivo
18 – Allegro molto più tosto presto
19 – Rondo: Allegro
Doze Variações em Sol maior sobre “See the conqu’ring hero comes”, do Oratório “Judas Maccabaeus” de Händel, para violoncelo e piano, WoO 45
20 – Thema
21-32 – Variationen 1-12
Inspirado pela postagem da Misa Criolla pelo amigo Avicenna, apresento-lhes a Missa Indígena Kewere da pesquisadora, compositora e cantora indigenista Marlui Miranda.
Tive a oportunidade de apreciar a Missa Kewere em julho de 1997, numa transmissão ao vivo da TV Cultura , direto da Catedral da Sé de São Paulo, em comemoração ao IV Centenário de Morte de José de Anchieta. A Catedral estava completamente tomada pelo povo, com a presença de representantes das nações indígenas, do Governador do Estado, do Presidente da República e do Cardeal Arns. Fiquei apaixonado logo de cara pelas melodias e pela linguagem indígena.
Para falar sobre a obra, nada melhor que as palavras da própria compositora cearense, em texto extraído do encarte do cd.
Muitas missas étnicas foram compostas, tais como a “Missa Creolla”, a “Missa da Terra Sem Males”, “Missa Yoruba”. A Missa Kewere assume os ingredientes culturais dos índios amazônicos brasileiros, distantes de uma tradição musical erudita.
Em Kewere, a idéia central é a contraposição de crenças: de um lado, cantos de pajés; de outro, versos cristãos de José de Anchieta e textos da liturgia acomodados dentro da mesma trama composicional. Os cantos indígenas selecionados são de natureza solene, lírica, portanto dignificam e são adequados para serem interpretados por orquestra sinfônica e grande coro sinfônico. Assim, a escolha desta formação pareceu-me pertinente à ideia da catequese, da conversão dos índios a uma religião européia. A língua tupi ancestral unifica a composição como um todo.
Ao mesmo tempo que o “oratório” nos distancia das origens deles, nos aproxima misteriosamente, porque uma parte da interpretação vocal é feita de maneira étnica, evocando personagens indígenas, vozes esquecidas no passado da catequese. Assim, no Kyerie, a índia canta à sua maneira, misturando duas crenças: “Kyrie Eleyson… Tupã oré r-ausubar iepé… Tupã Eleyson…”, enquanto, paralelamente, acontece um canto “gregoriano” e um canto de “nominação”, este último explicado como uma espécie de “batismo”, inspirado na tradição indígena.
Kewere é uma composição de equilíbrio delicado, em que procurei adequar o sentido poético dos Aruá, dos Tupari, dos Urubu-Kaapor. Estes cantos são tão leves e frágeis quanto os espíritos que os trouxeram através do mundo dos sonhos. É nesta estrutura leve que pousam os versos de José de Anchieta.
Marlui Miranda
.oOo.
01. Canto de Entrada
Música: Marlui Miranda
(adaptada dos cantos dos índios Aruá)
Texto: José de Anchieta
extraído de Dia da Assunção, quando levaram sua imagem a Reritiba, v.v. 45 séc.XVI
Arranjo: Nelson Ayres
2. Kyrie
Música: Marlui Miranda
Traduzido para o tupi por: Eduardo Navarro
Arranjo: Marlui Miranda
Percussão: Paolo Vinaccia
Teclado: Bugge Wesseltoft
3. Glória
Música: Marlui Miranda
adaptada dos cantos dos índios Tupari
Texto: José de Anchieta
extraído de Pitãngi Porãgeté, v.v. 18 e 36 séc. XVI
Arranjo: Marlui Miranda
4. Aleluia: Aclamação do Evangelho
Música: Marlui Miranda
Texto: José de Anchieta
extraído de Tupána Kuápa, v.v. 39 séc. XVI
Arranjo: Marlui Miranda
5. Credo
Música: Marlui Miranda
adaptada dos cantos dos índios Urubu-Kaapor
Texto: José de Anchieta
extraído de Em Deus, Meu Criador, v.v. 1, 8 e 29, séc. XVI
Piano e Teclado: Bugge Wesseltoft
Baixo Acústico: Rodolfo Stroeter
Percussão: Paolo Vinaccia
6. Ofertório
Música: Marlui Miranda
adaptada dos cantos dos índios Aruá
Traduzido para o tupi por: Eduardo Navarro
Arranjo: Caíto Marcondes
Teclado: Bugge Wesseltoft
7. Pai Nosso
Música: Marlui Miranda
Texto extraído do Catecismo da Língua Brasílica séc. XVI
Arranjo: Mateus Hélio
8. Agnus Dei
Música: Marlui Miranda
adaptada dos cantos dos índios Aruá
Texto: José de Anchieta
extraído de Pitãngi Porãgeté, v.v. 92-95 e de Polo Moleiro, v.v. 122-125
Arranjo: Nelson Ayres
9. Comunhão
Música: Marlui Miranda
adaptada dos cantos dos índios Urubu-Kaapor
Texto: José de Anchieta
extraído de Santíssimo Sacramento, séc. XVI
Arranjo Coral: Marlui Miranda
Piano e Teclado: Bugge Wesseltoft
Baixo Acústico: Rodolfo Stroeter
Percussão: Paolo Vinaccia
10. Ação de Graças
Música: Marlui Miranda
adaptada dos cantos dos índios Urubu-Kaapor
Traduzido para o tupi por: Eduardo Navarro
Arranjo: Marlui Miranda
Percussão: Paolo Vinaccia
11. Canto Final
Música: Marlui Miranda
adaptada dos cantos dos índios Aruá
Texto: José de Anchieta
extraído de Dia da Assunção, quando levaram sua imagem a Reritiba, v.v. 90-98 séc.XVI
Arranjo: Ruriá Duprat
Piano e Teclado: Bugge Wesseltoft
Concepção e Composição de Marlui Miranda, adaptada da música dos índios, Aruá, Tupari e Urubu-Kaapor
Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo
Coral Sinfônico do Estado de São Paulo
Coral IHU
Regência: Maestro Aylton Escobar
Diferentemente dos trios para piano e quartetos para cordas, aos quais Beethoven dedicou-se ao longo de toda a vida, e ao breve surto de produção de trios para cordas no início da carreira, o quinteto para cordas não despertou muito o interesse do mestre. De suas três composições no gênero, todas com duas violas, apenas aquela do Op. 29 foi originalmente composta para a formação. As outras duas, que hoje apresentamos, são versões de obras anteriores – muito embora o número de opus do quinteto em si bemol maior, op. 4, publicado em 1796, não nos faça imaginar que ele seja uma adaptação bastante retrabalhada do octeto na mesma tonalidade, op. 103, editado somente em 1834, sete anos após a morte do compositor. Apesar da atraente variedade tímbrica da obra póstuma, o Op. 4 é melhor acabado que o original, especialmente nas transições de temas dos movimentos inicial e final. Com o Op. 104, ocorre o contrário: trata-se de uma transcrição mormente literal de um dos trios com piano do Op. 1, que foi uma das primeiras obras publicadas pelo compositor, e com bastante êxito, depois de chegar a Viena, e justamente aquele que foi mais criticado por Haydn, então seu professor. No final da carreira, Beethoven recorreu frequentemente ao expediente de publicar arranjos de obras antigas, contando com a boa acolhida por conta de sua já estabelecida fama como maior compositor vivo, especialmente nas épocas de vacas magras e de tormentas pessoais: em 1819, ano em que publicou o Op. 104, estava envolvido com a interminável composição da Missa Solemnis e, muito dolorosamente, com a disputa pela custódia do sobrinho Karl com a odiada cunhada Johanna, aquela mesma que foi designada como a incógnita “Amada Imortal” do compositor na película homônima de 1994, uma conclusão tão bizarra que só poderia ser produto do tubo digestivo de alguém – no caso, de um atochador como Anton Schindler, o factotum de Beethoven que faz as vezes de investigador no filme.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Quinteto para dois violinos, duas violas e violoncelo em Mi bemol maior, Op. 4 (adaptação do octeto para sopros, Op. 103)
1 – Allegro con brio
2 – Andante
3 – Menuetto: Allegretto – Trio I & II
4 – Finale: Presto
Quinteto para dois violinos, duas violas e violoncelo em Dó menor, Op. 104 (adaptação do trio para piano, violino e violoncelo, Op. 1 no. 3)
5 – Allegro con brio
6 – Andante cantabile con Variazioni
7 – Minuetto. Quasi allegro
8 – Finale. Prestissimo
Zürcher Streichquintett (Quinteto de cordas de Zurique)
Parem tudo o que estiverem fazendo. Deixem as compotas de figo descansarem um pouco mais em seus vidros. Esperem as mangas amadurecerem um pouco mais antes de colhê-las. As flores esperarão uma hora e meia mais antes de serem regradas, elas não se importarão. Simplesmente sente-se no batente da porta que dá para o quintal, aumente e aumente o som: Zhu Xiao-Mei vai tocar as Variações do Grande Bach.
Ouça, não se preocupe, o tempo passará sem que você se dê conta! Você poderá então retomar as coisas que tinha para fazer.
Eu não sei quantas versões destas variações já ouvi, algumas talvez melhores do que esta e ainda muitas outras virão. Mas, hoje, neste momento, esta interpretação soa-me como a mais urgente, mais intensa.
Ainda postarei outras gravações desta obra e então falarei das belezas de uma ou outra das variações, como aquela chamada ‘Pérola Negra’, e de como este nome me faz pensar nelas como em um colar, onde a ária no início e, de novo, no final, no derradeiro de todo o universo que passou, fazem o papel das duas metades do fecho.
Nestas outras postagens que farei falarei da variação de número 16, chamada ‘Ouverture’, como se o caprichoso mago compositor nos dissesse – ‘como isto é um círculo, o começo pode estar em qualquer parte…’
Hoje apenas vos peço que ouçam as Variações Goldberg, da Xiao-Mei (ouso chamá-la pelo primeiro nome), sem pensar nas outras que você conhece. Apenas deixe que ela conte como naqueles dias ela as interpretava. Será uma maravilhosa maneira de usar bem seu tempo.
Outro CD da série ‘Meus CDs Mais Queridos’! Com Robert Schumann estamos em pleno romantismo. O compositor hesitou entre a literatura e a música e foi também crítico musical.
Neste álbum temos três coleções de peças para piano típicas do romantismo. Elas não têm uma forma definida com uma sonata e mais parecem uma série de improvisações, sob diferentes inspirações. A palavra ‘sonhadoramente’ vem à nossa mente o tempo todo e inclusive um dos nomes das peças das Kinderszenen é Träumerein.
A literatura está presente na inspiração e no nome da última série do álbum – Kreisleriana – que faz referência a Johannes Kreisler, o nome de um personagem músico de alguns contos de E.T.A. Hoffmann.
Romantismo também paira sobre a vida do compositor, que escreveu estas peças enquanto estava apaixonado por Clara e sofria oposição ferrenha do pai dela.
A grande estrela do disco é certamente o pianista – Radu Lupu. Cada uma das faixas reserva um encanto especial para o ouvinte e ele, com suma maestria, revela este encanto sem pecar pelo excesso romântico, dando a exata medida em cada uma destas pérolas.
Veja o que disse deste álbum a Gramaphone de 2010: ‘Do ponto de vista de tocar piano, este disco tem uma distinção aristocrática remanescente de [Dinu] Lipatti’.
Robert Schumann (1810 – 1856)
Humoreske, Op. 20
Kinderszenen, Op. 15
Kreisleriana, Op. 16
Radu Lupu, piano
Gravado na Salle de Châtonneyre, Corseaux, Suiça, 1993