Officium Hebdomadae Sanctae Tomás Luis de Victoria (Spain, 1548-1611)
Also notable is the serene emotion of each of the pieces that form his Officium Hebdomadae Sanctae of 1585, a collection of motets and lamentations linked to the Holy Week Catholic celebrations. (Wikipedia)
According to Gustave Reese Victoria’s passions were interpreted in the Sistine Chapel for over 300 years and “have achieved greater distinction than any other polyphonic versions of the Latin texts”
Os ofícios litúrgicos da Semana Santa e Páscoa, como compostos pelo espanhol Tomas Luis de Victoria, quando ele passou um ano em Roma. As Lamentações e até mesmo as Paixões estão incluídas. Um trabalho colossal por um dos maiores polifonistas.
Se acreditarmos no encarte, dez anos de pesquisa acadêmica precederam as gravações; questões como a quantidade de cantores, a organização interna dos trabalhos, e se deve ou não utilizar instrumentos tinham que ser resolvidas a fim de restaurar ao máximo possível as intenções originais do compositor.
Officium Hebdomadae Sanctae, for 3-8 voices Tomás Luis de Victoria (Spain, 1548-1611)
Disco I – Dominica in Ramis Palmis. Feria Quinta. 01. Dominica In Ramis Palmarum: Vexilia regis 02. Antiphona: Hosanna filio David 03. Pueri Hebraeorum 04. Passio secundum Mattheum 05. Elevatio: O domine Jesu Christe 06. Feria Quinta. In Coena Domini: In Primo Nocturno – Antiphona: Zelus domu 07. Versiculum: Avertantur retrorsum et erubescant 08. Lectio prima: Incipit lamentatio 09. Lectio secunda: Vau Et egressus est 10. lectio tertia: Jod. Manum suam 11. In Secondo Nocturno: Antiphona: Liberavit Dominus 12. Versiculum: Deus meus eripe me 13. Quartarum responsorium: Amicus meus 14. Quintum responsorium: Judas mercator 15. Sextum responsorium: Unus ex discipulis 16. In Tertio Nocturno: Antiphona: Dixi iniquies 17. Versiculum: Exxurge Domine 18. Septimun responsorium: Eram quasi agnus 19. Octavum responsorium: Una Hora 20. Nonum responsorium: Seniores populi 21. Ad Missam: Tantum ergo
Disco II – Feria Sexta 01. Ad Matutinum – In Primo Nocturno : Antiphona: Astiterunt reges terrae 02. Versiculum: Diviserunt sibi vestimenta mea 03. Lectio prima: Heth. Cogitavit (4 v.) 04. Lectio secunda: Lamed. Matribus suis (4 v.) 05. Lectio tertia: Aleph. Ego vir (5 v.) 06. In Secondo Nocturno : Antiphona: Vim faciebant 07. Versiculum: Insurrexerunt in me testes iniqui 08. Quartum responsorium: Tamquam ad latronem (4 v.) 09. Quintum responsorium: Tenebrae factae sunt (4 v.) 10. Sextum responsorium: Animam meam (4 v.) 11. In Tertio Nocturno : Antiphona: Ab insurgentibus in me 12. Versiculum: Locuti sunt adversum me lingua dolosa 13. Septimum responsorium: Tradiderunt me (4 v.) 14. Octavum responsorium: Jesum tradidit (4 v.) 15. Nonum responsorium: Caligaverunt (4 v.) 16. Ad Laudes – Antiphona: Posuerunt super caput eius. Canticum Zachariae: Benedictus (4 v.) 17. Ad Solemni Actione Liturgica – Passio secundum Ioannem (4 v.) 18. In Adoratione Crucis : Vere languores (4 v.) 19. Improperia: Ecce lignum Crucis. Popule meus (4 v.)
Disco III – Sabbato Sancto 01. Antiphona: In pace in idipsum 02. Versiculum: In pace in idipsum 03. Lectio prima: Heth. Misericordiae 04. Lectio secunda: Aleph. Quomodo obscuratum 05. Lectio tertia: Incipit oratio 06. Antiphona: Elevamini portae aeternalis 07. Versiculum: Tu autem Domini miserere mei 08. Quartum responsorium: Recessit pastor noster 09. Quintum responsorium: O vos omnes 10. Sextum responsorium: Ecce quomodo 11. Antiphona: Deus aduivat me 12. Versiculum: In pace factus est locus eius 13. Septimum responsorium: Astiterunt reges 14. Octavum responsorium: Aestimatus sum 15. Nonum responsorium: Sepulto Domino 16. Antiphona: O mors, ero mors tua. Psalmus 50: Miserere 17. Antiphona: Christus factus est pro nobis
Officium Hebdomadae Sanctae – 2005
La Colombina. Maestro Josep Cabré
Schola Antiqua. Maestro Juan Carlos Asensio Palacios
Há muito tempo não ouço um CD que me fascina tanto quanto esse. Achei o CD de uma qualidade incrível. O trompista, Radek Baborák, consegue uma incrível homogeneidade com o orquestra. É um solista que aparenta não estar solando. Dá a impressão que tudo acontece de uma forma simples, e ao mesmo tempo pomposo como devem ser os concertos para trompa. O trompista não angustia para atingir o grau de dificuldade da música, de tão natural o jeito que ele toca. É impressionante o modo como os trinados saem. Parece que trompista faz parte da orquestra e ao mesmo tempo está solando. Nascido em Pardubice, República Tcheca,em 1976, em uma família de longa tradição musical longa, Radek começou sua carreira com a idade de oito anos. Depois de apenas dois anos tendo aulas com o Prof. Karel Krenek, foi capaz de executar publicamente com todos os Concertos para Trompa de Mozart. Ele logo se tornou um vencedor laureado de todas as competições nacionais.
Frantisek Xaver Pocorný / Antonio Rosetti / Giovanni Punto: Concertos para Trompa
Frantisek Xaver Pokorný (1729-1794)- Concerto for French Horn, Timpani and Strings in D major
1 – I. Allegro Moderato
2 – II. Andante poco Larguetto
3 – III. Allegro
Antonio Rosetti (1750-1792)- Concerto for French Horn and Orchestra in E flat major
4 – I. Allegro Molto
5 – II. Romance
6 – III. Rondeau. Allegreto non troppo
Antonio Rosetti (1750-1792)- Concerto for French Horn and Orchestra in D minor
7 – I. Allegro molto
8 – II. Romance
9 – III. Rondeau
Giovanni Puntu/ Jan Václav Stich (1746-1803) – Concerto for French Horn and Orchestra Nº 5 in F major
10 – I. Allegro Moderato
11 – II. Adagio
12 – III. Rondeau en Chasse
O gerente do nosso SAC, Sr. Voxpopuli Voxdei, entrou esbaforido na sala: – Atenção! Atenção! Um ouvinte nosso, que está quase morrendo congelado em Nova Iorque, acabou de ligar para o meu celular e pediu para postarmos as “20 Modinhas” em arquivo flac!! – Como você sabe que não foi um trote, Voxpopuli? – O meu celular e o meu ouvido estavam congelados quando ele desligou!!!! – Opa! Vamos postar, então, urgentemente …
20 Modinhas Portuguesas de Joaquim Manuel da Câmara, notadas e arranjadas com acompanhamento para fortepiano por Sigismund Neukomm
Sawaya (soprano) & Pedro Persone (fortepiano) – 1998
Mais um CD gentilmente cedido pelo musicólogo Prof. Paulo Castagna. Não tem preço !!! . BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
XLD RIP | FLAC 166,3MB | HQ Scans 114,4 MB |
The Celtic Viol Jordi Savall Frank McGuire Andrew Lawrence-King
Nosso prezado amigo e ouvinte David, diretamente da Catalunha, nos enviou esta maravilha que ora segue. No té preu, David!
Graças a uma aprofundada investigação em manuscritos originais, Jordi Savall revela as belezas escondidas da música irlandesa e escocesa do século 17 ao século 19.
A transcrição do violino para violão barroco soa tão óbvio que todos percebem a proximidade de repertórios tradicionais e antigos de uma só vez.Algumas das peças são irresistivelmente vívidas e virtuosas, algumas são mais melancólicas – mas todas elas merecem o renascimento que Jordi Savall lhes oferece nesta coleção, onde se associou com o harpista virtuoso Andrew Lawrence-King e com Frank McGuire. (extraído da Amazon)
Disco 1, gravado em 2008.
Jordi Savall (violes da gamba soprano) & Andrew Lawrence King (arpa irlandesa, saltiri) .01. The Musical Priest – Scotch Mary
02. Caledonia’s Wail, for Niel Gow
03. The Humours of Scariff
04. Alistair Maclalastair
05. Tom Brigg’s Jig
06. The Globy O, Jig
07. Lord Moira’s – Jinrikisha
08. Sackow’s (Jig)
09. Hard is my fate
10. Chapel Keithack
11. Gudewife, admit the Wanderer
12. Macpherson’s Lament
13. Tullochgorum
14. Pretty Peggy
15. Twas within a furlong of Edinburgh Town
16. Mairi Bhan Ug: Mary Young & fair
17. Dowd’s Reel
18. Lady Mary Hay’s Scots Measure
19. Carolan’s Farewell
20. Gusty’s Frolics
21. Emigrants Reel
22. The Lamentations of Owen
23. Princess Beatrice
24. Prince Charlie’s Last view of Edinburg
25. Trip it Upstairs
26. Mrs McPherson of Gibton
27. Tuttle’s – da capo Mrs McPherson of Gibton
28. Niels Gow’s Lament for the Death of his Second Wife
29. The Gander in the pratie hole
Disco 2, gravado em 2010
Jordi Savall (viola da gamba soprano, lyra viol), Andrew Lawrence King (arpa irlandesa, saltiri) & Frank McGuire (bodhrán)
01. The Galway Set: The Galway Bay Hornpipe
02. The Galway Set: The Rover Reformed
03. The Galway Set: Lord Frog Dance / Buckingham House
04. The Gold Ring Set: The Hills of Lorne
05. The Gold Ring Set: Miss Sally Hunter of Thurston Jig
06. The Gold Ring Set: Mrs. Scott Skinner
07. The Gold Ring Set: Alexander’s Hornspipe & Harvest Home
08. The Gold Ring Set: The Gold Ring Jig
09. The Abergeldie Castle Set: Abergeldie Castle Strathspey
10. The Abergeldie Castle Set: Caribou Barren
11. The Abergeldie Castle Set: Regents Rant
12. The Abergeldie Castle Set: Crabs in the skillet Slow Jig
13. The Abergeldie Castle Set: Lord Moira’s Hornpipe
14. The Nathaniel Gow Set: The Braes o’ Bushbie, Slow march
15. The Nathaniel Gow Set: Nathaniel Gow’s Lament for the Death of his Brother
16. The Nathaniel Gow Set: Abigail Judge
17. The Nathaniel Gow Set: Planxty O’Daly
18. The Lancashire Pipes Set: The Lancashire Pipes (E-major)
19. The Lancashire Pipes Set: Pigges of Rumsey / Kate of Bardie (E-major)
20. The Lancashire Pipes Set: The Cup of Tea (E-minor)
21. The Lancashire Pipes Set: A Toye (E-major)
22. The Archibald MacDonald Set: Planxty Sir Ulick Burke (D-minor)
23. The Archibald MacDonald Set: The Sword Dance-New Stepny Slip Jig (D-minor)
24. The Archibald MacDonald Set: Archibald MacDonald of Keppoch (D-minor)
25. The Archibald MacDonald Set: Jimmy Holme’s Favorite – Reel (D-major)
26. The Liverpool Set: Planxty Irwin
27. The Liverpool Set: The Liverpool Hornpipe
28. The Liverpool Set: Peter’s Peerie Boat Jig
O Cafe Zimmermann é um desses grupos que deixam a gente feliz de ouvir. Tesão e pegada é com eles mesmo. E a música do mano CPE, o verdadeiro precursor de Beethoven, é boníssima e interessante, de temas curtos e afirmativos, exatamente daquele tipo que seria a especialidade do mestre surdo de Bonn. Recomendo fortemente o CD que mostra gente alegre e bebendo na capa. É isso mesmo, uma música cheia de vida, um belo início para o fim-de-semana e uma boa volta para PQP, ausente do blog por aproximadamente duas semanas, não?
Carl Philipp Emanuel Bach – Symphonies and concertos pour violoncelle (2006)
Sinfonia pour deux violons, alto et basse en Do Majeur, WQ 182/3;
1. I. Allegro Assai
2. II. Adagio
3. III. Allegretto
Sinfonia pour deux violons, alto et basse en Si Mineur, WQ 182/5;
4. I. Allegretto
5. II. Larghetto
6. III. Presto
Concerto pour violoncelle, avec deux violons, alto et basse en La Majeur, WQ 172;
7. I. Allegro
8. II. Largo
9. III. Allegro Assai
Sinfonia pour deux violons, alto et basse en Mi Majeur, WQ 182/6;
10. I. Allegro di molto
11. II. Poco andante
12. III. Allegro spirituoso
Sinfonia pour deux violons, alto et basse en Sol Majeur, WQ 182/1;
13. I. Allegro di molto
14. II. Poco adagio
15. III. Presto
Cafe Zimmermann:
Pablo Valetti, violon & konzertmeister
David Plantier, violons
Fabrizio Zanella, violons
Farran James, violons
Nick Robinson, violons
Helena Zemanova, violons
Juan Roque Alsina, violons
Laura Johnson, violons
Patricia Gagnon, altos
Diane Chmela, altos
Petr Skalka, violoncelle solo
Dmitri Dichtiar, violoncelles
Etienne Mangot, violoncelles
Ludek Brany, contrebasse
Celine Frisch, clavecin
“I am delighted to recommend this seasonal selection. Over the years we have recorded many different types of Christmas music – carols, chant, chorales, hymns, motets and masses – but this is the first time they have been put together in one collection.” Peter Phillips, director
. ..
.
Medieval Carols
Anonymous 01. Angelus ad virginem
02. Nowell sing we
03. There is no rose The Coventry Carol
Anonymous 04. Lullay: I saw (The Coventry Carol)
05. Lully, lulla thou little tiny child (The Coventry Carol) Ave Maria
Josquin Desprez (Franco-Flemish, c.1450 to 1455 – 1521) 06. Ave Maria (4vv)
Philippe Verdelot (France, fl.1520-1550) 07. Beata es Virgo / Ave Maria (7vv)
Thomas Tallis (England,c.1505-1585) 08. Ave Maria (4vv)
Tomás Luis de Victoria (Spain, 1548-1611) 09. Ave Maria, for double choir German Chorales
Michael Praetorius (Germany, 1571-1621) 10. Es ist ein Ros’ entsprungen
Hieronymus Praetorius (Germany, 1560-1629) 11. Joseph lieber, Joseph mein
Hieronymus Praetorius (Germany, 1560-1629) 12. In dulci jubilo Flemish Polyphony
Jacob Clemens Non Papa (Flanders, c.1510-c.1555) 13. Pastores quidnam vidistis
14. Missa Pastores quidnam vidistis – Kyrie
15. Missa Pastores quidnam vidistis – Gloria
16. Missa Pastores quidnam vidistis – Credo
17. Missa Pastores quidnam vidistis – Sanctus & Benedictus
18. Missa Pastores quidnam vidistis – Agnus Dei Chant from Salisbury
Plainchant
19. Missa in gallicantu – Introitus
20. Missa in gallicantu – Kyrie
21. Missa in gallicantu – Gloria
22. Missa in gallicantu – Laudes Deo
23. Missa in gallicantu – Graduale
24. Missa in gallicantu – Alleluia
25. Missa in gallicantu – Sequentia
26. Missa in gallicantu – Credo
27. Missa in gallicantu – Offertorium
28. Missa in gallicantu – Praefatio
29. Missa in gallicantu – Sanctus
30. Missa in gallicantu – Agnus Dei
31. Missa in gallicantu – Communio
32. Missa in gallicantu – Dimissio
33. Christe Redemptor omnium
34. Veni, Redemptor gentium
35. Salvator mundi, Domine
36. A solis ortus cardine Tudor Polyphony
Thomas Tallis (England,c.1505-1585) 37. Missa Puer natus est nobis – Gloria
38. Missa Puer natus est nobis – Sanctus & Benedictus
39. Missa Puer natus est nobis – Agnus Dei
Christmas with the Tallis Scholars – 2003
The Tallis Scholars
Peter Phillips, director
The Christmas Music of Johnny Mathis Johnny Mathis & Percy Faith and His Orchestra
Johnny Mathis encantou as gerações dos anos 60. Mais conhecido como um cantor romântico, é o terceiro cantor mais vendido da história dos Estados Unidos, atrás somente de Elvis Presley e Frank Sinatra. Já vendeu mais de 350 milhões de cópias no mundo todo. Quebrou um recorde sem precedentes: permaneceu 491 semanas consecutivas no “Billboard Top 100 Albuns”, de 1958 a 1990. Este recorde consta no Guinness Book of Records.
Palhinha: ouca 02. Silver Bells
Johnny Mathis & Percy Faith and His Orchestra 01. Silent Night
02. Silver Bells
03. Winter Wonderland
04. Sleigh Ride
05. White Christmas
06. Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow!
07. A Marshmallow World
08. Have Yourself A Merry Little Christmas
09. The Little Drummer Boy
10. Santa Claus Is Coming To Town
11. It’s Beginning To Look A Lot Like Christmas
12. The Christmas Waltz
13. We Need A Little Christmas
14. It’s The Most Wonderful Time Of The Year
The Christmas Music of Johnny Mathis: A Personal Collection – 1958
Johnny Mathis & Percy Faith and His Orchestra
Não vou fazer um post longo a respeito do Copland, meu compositor estadunidense predileto, porque estou me programando pra ir pra Brasília, ver como estão as coisas na filial do Café do Rato Preto. Costumo dizer a meus amigos que Copland é o Villa-Lobos dos States, referindo-me à representatividade nacional de ambos em nível mundial, mas no contexto da história da música estadunidense Copland está mais para um Guerra-Peixe, enquanto o Villa de lá seria Charles Ives.
Ives foi autodidata, conhecia a música de diversos rincões do país em que viveu, internalizou-a de forma difusa e a amalgamou com os estilos em voga na Europa – pra não citar outros pontos semelhantes com o Villa. Copland tinha uma linguagem mais árida no início, atonal, mas se voltou às raízes da música popular e folclórica dos States e do Caribe e clareou as cores instrumentais que usava, do mesmo jeito que Guerra-Peixe abandonou o dodecafonismo e abraçou o nacionalismo no final dos anos 40.
Copland estudou com a magnética e sapiente madame Nadia Boulanger de 1918 a 1921 e virou amigo dela pro resto da vida. Os registros que ele deixou da amizade epistolar entre ambos estão guardados na Biblioteca do Congresso Americano e disponíveis na Internet. Tive a oportunidade de vê-la passando pela rua diversas vezes indo pro famoso La Coupole, antes de eu comprar o Little Black Mouse Café, em 1945. Então ela virou minha habitué, pois eu providenciava café brasileiro autêntico e uma iguaria bem doce, mas dura que só vendo, chamada rapadura.
Boulanger, ao experimentar pela primeira vez a rapadura iguatuense que ofereci, encantou-se não só pelo sabor mas “pela personalidade do alimento”, segundo ela: “É igual à minha: doce, mas de uma doçura que demora a se extinguir, diferente de um chocolate, porque antes de tudo é firme”. Nadia tava quase com 58 anos quando virou minha cliente, mas eu, como muitos dos alunos dela, era apaixonado por aquela figura magra, intelectual e vibrante. A misoginia de Nadia (cogita-se que ela tenha morrido celibatária) foi empecilho para a aproximação afetiva que tantos sonharam.
Vamos aos CDs. Segue pra vocês um álbum duplo com tudo o de melhor da música sinfônica de Copland. Essa é a mais essencial coletânea que vocês podem encontrar dele. Três orquestras, três maestros, nenhuma ressalva. Tenho interpretações mais brilhantes da Primavera apalache, da Fanfarra para o homem comum e de O Salão México, mas estas são igualmente muito boas.
Constam ainda os balés Billy the Kid e Rodeo, os Três quadros sinfônicos (única obra pouco inspirada nessa lista), a suíte da trilha sonora de The red pony (filme adaptado do romance de Steinbeck) e o contagiante Danzón cubano, de muito mais appeal que O Salão México e pelo qual vocês devem começar a ouvir os CDS. Por sinal, lá pelos anos 50 adquiri o Salão México – onde Carlos Chávez insistentemente me oferecia tequila, ainda que eu dissesse que nem de cachaça gosto – e o transformei em mais uma franquia do Café do Rato Preto.
Não há o que explicar sobre as obras. Escutem-nas sem medo de gostar demais delas. Depois vocês procuram saber dos detalhes.
CD 1
1. Danzón Cubano – Eduardo Mata/Dallas Symphony Orchestra
2. Copland: Billy The Kid: The Open Prairie – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
3. Copland: Billy The Kid: Street In A Frontier Town – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
4. Copland: Billy The Kid: Mexican Dance And Finale – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
5. Copland: Billy The Kid: Prairie Night (Card Game At Night) – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
6. Copland: Billy The Kid: Gun Battle – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
7. Copland: Billy The Kid: Celebration (After Billy’s Capture) – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
8. Copland: Billy The Kid: Billy In Prison (His Escape) – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
9. Copland: Billy The Kid: Billy In The Desert – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
10. Copland: Billy The Kid: Billy’s Death – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
11. Copland: Billy The Kid: The Open Prairie Again – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
12. Copland: Appalachian Spring: Very Slowly – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
13. Copland: Appalachian Spring: Allegro – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
14. Copland: Appalachian Spring: Moderato – The Bride And Her Intended – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
15. Copland: Appalachian Spring: Fast – The Revivalist And His Flock – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
16. Copland: Appalachian Spring: Allegro – Solo Dance Of The Bride – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
17. Copland: Appalachian Spring: Meno Mosso – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
18. Copland: Appalachian Spring: Doppio Movimento – Variations On A Shaker Hymn – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
19. Copland: Appalachian Spring: Moderato – Coda – Leonard Slatkin/Saint Louis Symphony Orchestra
CD 2
1. Copland: Fanfare For The Common Man – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
2. Copland: Rodeo: Buckaroo Holid – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
3. Copland: Rodeo: Corral Nocturne – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
4. Copland: Rodeo: Piano Interlude And Saturday Night Waltz – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
5. Copland: Rodeo: Hoe-Down – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
6. Copland: El Salon Mexico – Eduardo Mata/Dallas Symphony Orchestra
7. Copland: The Red Pony Suite: I. Morning On The Ranch – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
8. Copland: The Red Pony Suite: II. The Gift – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
9. Copland: The Red Pony Suite: III. A) Dream March – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
10. Copland: The Red Pony Suite: III. B) Circus March – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
11. Copland: The Red Pony Suite: IV. Walk To The Bunkhouse – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
12. Copland: The Red Pony Suite: V. Grandfather’s Story – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
13. Copland: The Red Pony Suite: VI. Happy Ending – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
14. Copland: Dance Symphony: I. Introduction – Lento – Molto Allegro – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
15. Copland: Dance Symphony: II. Andante Moderato – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
16. Copland: Dance Symphony: III. Allegro Vivo – Enrique Batiz/Orquestra Filarmonica De La Ciudad de México
Eduardo Mata / Dallas Symphony Orchestra
Leonard Slatkin / Saint Louis Symphony Orchestra
Orquesta Filarmónica de la Ciudad de México / Enrique Bátiz
Conheci este precioso disco como um brinde das coleções vendidas há décadas atrás pela Borges & Damasceno, alguém talvez se lembre daquelas coleções em vinil, de músicas do mundo, coletâneas de clássicos e trilhas sonoras. Até onde sei, este disco nunca saiu em CD, o que é lamentável, pois a seleção é especialíssima, traz algumas faixas que nunca encontrei em outro lugar, como o encantador chote Imperial, com Abel Ferreira e Altamiro Carrilho; ou o curioso e hilariante baião Bicharada, com Djalma Ferreira tocando um Solovox – ‘organeto’ valvulado, precursor dos modernos sintetizadores. Também o hoje tão pouco comentado Edu da Gaita, em Capricho Nortista; o genial Radamés Gnattali com o choro Pé de Moleque. Pereira Filho toca um arrasador violão elétrico em Edinho no Choro; mais o delicioso Gorgulho, com Benedito Lacerda à flauta; e o virtuosíssimo Waldir Azevedo com seu cavaquinho em Camundongo, sem esquecer o magnífico Jacob do Bandolim com a evocativa valsa Salões Imperiais. Sivuca, arrasador como em toda sua carreira, ao acordeão em Sincopado; outro quase esquecido hoje em dia é o mavioso Luiz Americano, que ao sax alto toca a valsa Sonho; este talentoso instrumentista, nascido na verdade em Itabaiana – Sergipe, jamais admitiu sua origem interiorana, dizendo-se nascido na capital do país em seu tempo e adotando a alcunha Americano. Conheci um velho ‘chorão’ que o conheceu e me asseverou estas informações. Temos também o fenomenal Garoto – o violonista a quem se atribui uma forte influência no que viria a ser a Bossa Nova, aqui tocando uma guitarra havaiana, no choro Dolente. O delicioso Maluquinho, choro, tocado ao órgão por André Penazzi e finalmente o mago do violão Dilermando Reis, com Doutor Sabe-Tudo. As gravações cobrem um período entre 1932 e 1963.
Naqueles tempos a música instrumental ainda tinha lugar na chamada Música Popular e entrarmos em detalhes sobre as causas pelas quais esta linha de produção musical defenestrou não somente a música instrumental como também a qualidade artística, demandaria muito tempo e espaço. Fica pra outra. Como dizia Oscar Wilde, “melhor aproveitar a rosa do que analisar sua raiz no microscópio”. Assim, desfrutemos desta coleção de joias, tomando um café brasileiríssimo ou uma também autóctone cachacinha – que faz bem à vida.
Esta postagem dedico ao velho ‘chorão’ que conheci, o clarinetista e saxofonista Antônio Melo, de Itabaiana – Sergipe.
Grandes Instrumentistas Brasileiros – 1978
1 Doutor sabe tudo – Dilermando Reis
2 Capricho nortista – Edu da gaita e Orquestra de Alexandre Gnattali
3 Gorgulho – Benedito Lacerda
4 Camundongo – Waldir Azevedo
5 Imperial – Abel Ferreira e seu Conjunto
6 Edinho no choro – Pereira Filho e Conjunto
7 Maluquinho – André Penazzi
8 Salões Imperiais – Jacob do Bandolim
9 Sincopado – Sivuca
10 Dolente – Garoto
11 Sonho – Luiz Americano e Pereira Filho
12 Bicharada – Djalma Ferreira
13 Pé de Moleque – Radamés Gnattali
Produção Fonográfica – Discos Continental
Produção, pesquisa e texto de contra-capa – J. L. Ferrete
Um Feliz Natal aos que nos tem acompanhado nesta aventura musical !!
. A la venue de Noël Messe sur des Noëls Ensemble Aria Voce
.
Missa de Natal inédita. O Ensemble Aria Voce, dirigido por Philippe Le Corf, foi constituído para interpretar repertórios barrocos pouco conhecidos. É neste espírito que a obra de William Minoret foi gravada. Sua missa, original até então, “Missa pro tempore Nativitatis” é construída sobre temas populares de Natal. Uma obra sagrada magistral para se descobrir. . A La Venue de Noël: Messe sur des Noëls
André Raison (France, c.1640 – 1719) 01. Une jeune pucelle 02. Joseph est bien marié 03. Or, nous dites Marie
Guillaume Minoret (France,1650 – 1717 /1720) 04. Missa pro tempore Nativitatis 1. Kyrie 05. Missa pro tempore Nativitatis 2. Gloria 06. Missa pro tempore Nativitatis 3. Credo 07. Missa pro tempore Nativitatis 4. Sanctus 08. Missa pro tempore Nativitatis 5. Agnus Dei 09. Missa pro tempore Nativitatis 6. Domine, salvum fac Regem
Marc-Antonie Charpentier (France, 1643-1704) 10. Joseph est bien marié-Symphonie 11. À la venue de Noël-Symphonie 12. Ô pretiosum 13. Or, nous dites Marie-Symphonie 14. Petite Cantate de Noël
Michel Corrette (France, 1707 – 1795) 15. Où s’en vont ces gays bergers
Michel Richard de Lalande (France, 1657-1726) 16. Symphonie sur des Noëls
Nicolas Lebègue (France, 1631-1702) 17. Une Vierge Pucelle
A la venue de Noël: Messe sur des Noëls – 2005
Ensemble Aria Voce
Maestro Philippe Le Corf
The Muppets, quem não os conheceu da telinha e das telonas? E quando cantam juntos com o baita intérprete John Denver, dá neste maravilhoso LP de 1979.
Caramba, estou com saudades dos meus filhos ainda crianças, oh messa!
John Denver & The Muppets 01. Twelve Days Of Christmas
02. Have Yourself A Merry Little Christmas
03. The Peace Carol
04. Christmas Is Coming
05. A Baby Just Like You
06. Deck The Halls
07. When River Meets The Sea
08. Little Saint Nick
09. Noel Christmas Eve 1913
10. The Christmas Wish
11. Medley
12. Silent Night, Holy Night
13. We Wish You A Merry Christmas
A Christmas Together – 1979
John Denver & The Muppets
O Concerto de Glazunov é virtuosístico e muito chato. A coisa melhora muito quando chegamos a Prokofiev e permanece em alto nível com Shchedrin. Mas vamos com calma. Neste CD, temos três obras altamente contrastantes da Rússia e da União Soviética do século XX. Anne-Sophie Mutter é a solista no Concerto para Violino altamente lírico e chato de Glazunov, estreado em 1905, e no nervoso Concerto para Violino Nº 1 de Prokofiev, que é da época da Revolução. Eles são complementados pela majestosa Stihira de Rodion Shchedrin, inspirada pela música litúrgica ortodoxa e composta em 1987 para Mstislav Rostropovich e a Orquestra Sinfônica Nacional de Washington, D.C.
Glazunov / Prokofiev / Shcherdin: Concertos para Violino e Orquestra
Alexander Glazunov (1865 – 1936) Violin Concerto in a minor, Op. 82
1) Moderato – Andante – Allegro [20:00]
Sergei Prokofiev (1891 – 1953) Violin Concerto No. 1 in D major, Op. 19
2) I – Andantino – Andante assai [9:12]
3) II – Scherzo – Vivacissimo [3:46]
4) III – Moderato [8:23]
Rodion Shchedrin (born 1932) Stihira
5)Hymn for the Millenary of the Christianisation [22:14]
Anne-Sophie Mutter, violin
National Symphony Orchestra
Mstislav Rostropovich
For their fifth album, young British choral stars Stile Antico turn to Thomas Tallis magnificent seven-part Christmas Mass, based on the plainchant Puer natus est (A boy is born). The mass is interspersed with seasonal Tudor music, including William Byrd’s exquisite Propers for the fourth Sunday of Advent (from the Gradualia of 1605), responsories by Taverner and Sheppard, Robert White’s exuberant setting of the Magnificat, and Tallis own sublime Videte miraculum. All of Stile Antico’s previous recordings for Harmonia Mundi have charted on Billboard and the group has twice earned the Diapason d’Or de l annèe, the Preis der deutschen Schallplattenkritik and twice received GRAMMY nominations. (Amazon.com)
Palhinha: ouça 07. Ave Maria (Gradualia I)
Thomas Tallis (England,c.1505-1585) 01. Videte miraculum
John Taverner (England, c.1490-1545) 02. Audivi vocem de caelo
William Byrd (England, 1540 or late 1539 – 1623) 03. Rorate caeli desuper (Gradualia I, 1605)
Thomas Tallis (England,c.1505-1585) 04. Gloria (Missa Puer natus est)
William Byrd (England, 1540 or late 1539 – 1623) 05. Tollite portas (Gradualia I)
Thomas Tallis (England,c.1505-1585) 06. Sanctus & Benedictus (Missa Puer natus est)
William Byrd (England, 1540 or late 1539 – 1623) 07. Ave Maria (Gradualia I)
Thomas Tallis (England,c.1505-1585) 08. Agnus Dei (Missa Puer natus est)
William Byrd (England, 1540 or late 1539 – 1623) 09. Ecce virgo concipiet (Gradualia I)
Robert White (England, c. 1538-1574) 10. Magnificat
Plainchant 11. Puer natus est
John Sheppard (England, c. 1515-1558) 12. Verbum caro
Tudor Music for Advent and Christmas – 2010
Stile Antico
Alvin and the Chipmunks is an American animated music group created by Ross Bagdasarian, Sr. for a novelty record in 1958. The group consists of three singing animated anthropomorphic chipmunks: Alvin, the mischievous troublemaker, who quickly became the star of the group; Simon, the tall, bespectacled intellectual; and Theodore, the chubby, impressionable one. The trio is managed by their human adoptive father, David Seville. In reality, “David Seville” was Bagdasarian’s stage name, and the Chipmunks themselves are named after the executives of their original record label. The characters became a success, and the singing Chipmunks and their manager were given life in several animated cartoon productions, using redrawn, anthropomorphic chipmunks, and eventually films.
The voices of the group were all performed by Bagdasarian, who sped up the playback to create high-pitched voices. This oft-used process was not entirely new to Bagdasarian, who had also used it for two previous novelty songs, including “Witch Doctor”, but it was so unusual and well-executed it earned the record two Grammy Awards for engineering. Bagdasarian, performing as the Chipmunks, released a long line of albums and singles, with “The Chipmunk Song” becoming a number-one single in the United States. After Bagdasarian’s death in 1972, the characters’ voices were performed by Ross Bagdasarian, Jr. and Janice Karman in the subsequent incarnations of the 1980s and 1990s. (Wikipedia)
Alvin and the Chipmunks 01. Here Comes Santa Claus (Right Down Santa Claus Lane)
02. Jingle Bells
03. It’s Beginning To Look A Lot Like Christmas
04. Rudolph, The Red-Nosed Reindeer
05. Up On The House-Top
06. We Wish You A Merry Christmas
07. Silver Bells
08. Over The River And Through The Woods
09. All I Want For Christmas (Is My Two Front Teeth)
10. Frosty The Snowman
11. The Twelve Days Of Christmas
12. Santa Claus Is Comin’ To Town
13. Christmas Time (Greensleeves)
14. Here We Come A-Caroling
15. Deck The Halls
16. The Night Before Christmas
17. Jolly Old Saint Nicholas
18. Wonderful Day
19. Have Yourself A Merry Little Christmas
20. Jingle Bell Rock
21. O Christmas Tree (O Tannenbaum)
22. Hang Up Your Stockin’
23. White Christmas
Michael Tilson Thomas e a Sinfônica de São Francisco tocando John Adams. Não tinha como dar errado. Trazemos hoje um disco inteligente e vivo, muito vivo, procês. Tilson Thomas e Adams têm longa colaboração e foi com a SFS a estreia de Harmonielehre em 1985 (com regência de Edo de Waart). Não significa tanto, mas este CD, que também tem Short Ride in a Fast Machine, ganhou vários prêmios, inclusive um Grammy. Essas duas obras de Adams são pedras fundamentais da música norte-americana, duas obras-primas modernas. Short Ride é um portal de entrada. Harmonielehre é uma majestosa sinfonia. Divirtam-se.
John Adams (1947): Harmonielehre; Short Ride in a Fast Machine
1 Harmonielehre: Part I 17:23
2 Harmonielehre: Part II: The Anfortas Wound 12:54
3 Harmonielehre: Part III: Meister Eckhardt and Quackie 11:48
Este LP foi um presente do Monge Ranulfus. Não tem preço!!!
Este vinil é o de número 46, último da coleção “Grandes Compositores da Música Universal”, publicado pela Editora Abril em 1970. Peço licença ao mestre Strava para antecipar esta postagem de sua coleção!
Os vinís publicados nesta coleção são mais finos que um vinil comercial e produzidos com um composto mais barato. É surpreendente como ainda conseguimos digitalizar com algum sucesso essas faixas com 43 anos de idade!
— De quem é esta música tão bonita?
— É sua, padre-mestre.
No fim da vida, José Mauricio, a memória fraca, não mais se lembrava das músicas que compusera. Quantas seriam? Trezentas, quatrocentas, quinhentas, quem sabe. E o velho não reconhecia mais as melodias, que, salvo algumas exceções, só haviam sido executadas uma ou duas vêzes. Durante 43 anos escrevera música, quase sempre por encomenda, a mando de soberanos ou a pedido de algum bispo ou cortesão. Na verdade, nunca passara de um criado: esta era a verdadeira posição do músico na época. Nunca pedira, em troca, grandes favores. Contentava-se com o salário medíocre, para “não incomodar Sua Majestade”. Nem mesmo fôra recompensado pela fama, senão num rápido e fugaz momento.
Pobre, simples, humilde, José Maurício nunca lamentara que o tratassem como artista secundário. Permanecia na obscuridade, aplaudindo e aprendendo com aquêles que obtinham mais sucesso. Jamais reclamou por ser na Côrte um serviçal relegado a segundo plano. Seguia servindo, obsequioso e modesto, sem nada ambicionar ou exigir. Jamais se incomodou com os nobres, que viam nêle um provinciano, um colono. Desgastava-se trabalhando, compondo música sacra ou profana, conforme os pedidos, e ensinando gratuitamente na sua escolinha: “A mocidade a instruir-se nessa arte da música”.
Sem nunca poder deixar o Rio de Janeiro para mergulhar nos grandes centros musicais da Europa, ainda assim foi o mais importante compositor clássico do período colonial, não só no Brasil, mas talvez em tôda a América Latina. E nunca pensou nisso, nunca se preocupou com isso. Compunha e cantava porque gostava de compor e cantar. Nada mais.
Se com êle se cometiam injustiças ou se exigiam esforços quase acima de sua precária saúde, não tinha voz para protestar ou lamentar-se. Uma vez escreveu uma modinha, por titulo: Beijo as Mãos Que me Condenam. Esse poderia ter sido perfeitamente o seu submisso lema.
Todavia, como escreveu a ilustre musicóloga e regente brasileira Cleofe Person de Matos: “Rejubilemo-nos, porém, com as suas alegrias, que delas sabemos nós, com quem elas se repartem. E, se no compositor elas se misturam às angústias da criação, para nós, que do ato criador só conhecemos as primeiras, essas alegrias são puras. E são a riqueza que o padre José Maurício Nunes Garcia deixou para a cultura do seu povo”. “Para nosso país, a mais humilde figura do período musical que circundou a nossa Independência é também a sua mais significativa personalidade.” (extraído do excelente encarte que acompanha esta postagem)
Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830, Rio de Janeiro, RJ)
Grupo Coral do Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro. Maestro Walter Lourenção 01. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 01. Introito 02. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 02. Kyrie 03. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 03. Gradual 04. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 04. Ofertório 05. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 05. Ofertório 06. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 06. Ofertório 07. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 07. Ofertório 08. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 08. Sanctus 09. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 09. Hosana in Excelsis 10. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 10. Benedictus 11. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 11. Hosana in Excelsis 12. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 12. Agnus Dei 13. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 13. Communio 14. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 14. Cum Sanctis Tuis 15. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 15. Requiem aeternam 16. Missa dos defuntos, para coro misto a 4 vozes e órgão (1809) – 16. Cum Sanctis Tuis
Associação de Canto Coral. Maestrina Cléofe Person de Mattos 17. Moteto: Improperium do Ofício de 6ª Feira Santa (1789) – Popule Meus 18. Antífona para a cerimônia do Lava Pés da 5ª Feira Santa (1799?) – Domine Tu Mihi Lavas Pedes 19. Moteto para a Semana Santa – In Monte Oliveti
Missa dos Defuntos, para Coro Misto a Quatro Vozes e Órgão – 1970
Grupo Coral do Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro. Maestro Walter Lourenção
Associação de Canto Coral. Maestrina Cleofe Person de Mattos
Música Sacra do Brasil Colonial Orquestra e Coro Vox Brasiliensis Ricardo Kanji, regente 1998
Há cinco séculos atrás começava para os Portugueses e Espanhóis a colonização e exploração do Novo Mundo recém descoberto. Para a extração das suas riquezas naturais, utilizaram duas estratégias vitoriosas: a conquista e submissão dos nativos, pacífica ou através das armas, e a importação de mão de obra escrava da África.
Em ambos os casos, os vencidos foram obrigados a aceitar os valores culturais dos vencedores, entre eles a religião católica.
A música foi um recurso utilizado pelos missionários para aproximar-se dos nativos. Não raro encontram-se, nas centenárias igrejas do Peru ou do México, partituras de polifonias escritas na língua dos que se pretendia converter. Estes, uma vez convertidos, após um aprendizado tomavam parte nos coros e nas orquestras presentes nas cerimônias religiosas. O mesmo destino era reservado aos escravos que demonstravam algum talento para o canto.
A serviço da Igreja, também atuaram no continente grandes compositores europeus, como Tomás de Torrejon y Velasco no Peru (Século XVII), Ignácio de Jerusalem no México (Séc. XVIII), Domeinco Zipoli e Roque Ceruti na Argentina (Século XVIII) e André da Silva Gomes no Brasil (Sécs. XVIII-XIX). Mas a medida que a educação musical foi-se difundindo, destacaram-se compositores entre os nativos, às vezes indígenas ou mulatos.
No Brasil, o maior destes compositores foi o Padre José Mauricio Nunes Garcia, mulato e neto de escravas. Sua obra ainda é desconhecida mesmo do público brasileiro amante da música clássica, o que não faz justiça ao grande compositor que foi.
-oOo-
Five centuries ago Portugual and Spain began to colonize and explore the New World, recently discovered. To extract its natural resources, they employed two successful strategies: to conquer and submit the natives, either pacifically or through firearms, and to import slave working hands from Africa.
In both cases, subjected people had by obligation to accept the conqueror’s cultural values, among them Catholic Religion.
Music was a resource used by the missionaries to get closer to the natives. It is not rare to find, in centenary churches from Peru or Mexico, polyphony scores written in the natives’ own languages. Once converted, after some learning they took part in choirs and orchestras playing in religious ceremonies. The same destiny was reserved for slaves with some talent for singing.
Some fine european composers worked for the Church in Latin America, like Tomás de Torrejon y Velasco in Peru (17th century), Ignácio de Jerusalem in Mexico (18th century), Domenico Zipoli and Roque Ceruti in Argentina (18th century), and André da Silva Gomes in Brazil (18th and 19th centuries). But as musical education made progress, some native composers appeared, regardless their race. Indians and mulatos (half-breed) were not rarely seen making scores and conducting music.
In Brazil, the finest of all native composers was Father José Mauricio Nunes Garcia, a mulato and grandson of slaves. His works are quite unknown even for brazilian music lovers, what does not make justice to the great composer he was.
Palhinha: Ouça: 31. Tota pulchra es Maria, com escuta guiada
Anônimo (início do séc. XVIII) 01. Matais de incêndios (Cantiga ou Vilancico para o Natal)
Anônimo Mineiro séc XVIII 02. Ex tractatu Sancti Augustini
José Alves (Portugal, sec. XVIII) 03. Donec Ponam (du Dixit Dominus)
Manoel Dias de Oliveira (São José del Rey [Tiradentes], 1735-1813) 04. Bajulans
Anônimo Mineiro séc XVIII 05. Asperges me / Domine, hyssopo
06. Miserere mei, Deus
07. Gloria, Patri
08. Sicut erat
09. Hosanna filio David
10. Collegerunt pontifices
11. Sanctus
12. Pueri Hebræorum
José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (Vila do Príncipe, 1746- Rio de Janeiro, 1805) 13. Ego enim accepti a Domino
14. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 1. Exaudi nos, Domine
15. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 2. Gloria, Patri
16. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 3. Sicut erat
17. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 4. Immutemur habitu
18. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 5. Misereris omnium, Domine
19. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 6. Miserere mei, Deus
20. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 7. Quoniam in te confidit
21. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 8. Gloria, Patri
22. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 9. Sicut erat
23. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 10. Kyrie / Christe / Kyrie
24. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 11. Domine, ne memineris
25. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 12. Exaltabo te, Domine
26. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 13. Sanctus
27. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 14. Benedictus
28. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 15. Hosanna
29. Bênção das Cinzas e Missa para a Quarta-Feira de Cinzas: 16. Agnus Dei
Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830, Rio de Janeiro, RJ) 30. Abertura em Ré
31. Tota pulchra es Maria
32. Dies Sanctificatus
33. Abertura da Ópera Zemira (1803) – Ouverture que expressa Relâmpagos e Trovoadas
Brasil Barroco – Música Sacra do Brasil Colonial – K617 – 1998
Orquestra e Coro Vox Brasiliensis
Ricardo Kanji, regente . BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
XLD RIP | FLAC 294,6 MB | HQ Scans
(Antes, tinha um texto aqui onde eu ecoava opiniões de outros sobre a Oitava. Agora, voltei à franqueza. Desta forma, alguns comentários de leitores ficaram non-sense).
É impressionante? Sim. É grandiosa em todos os sentidos? Sim. É para chorar ouvindo o coral de abertura Veni, Creator Spuritus? Sem dúvida. É das principais obras de Mahler? Imagina se não! É uma sinfonia? Olha, acho que é uma cantata, não uma sinfonia. PQP gosta dela? Não.
Esta obra de Mahler tem duas partes: a primeira é o hino Veni, creator spiritus e a segunda é uma cena retirada do final de Fausto de Goethe. Dizem que é uma das obras máximas do repertório sinfônico. Eu a acho grande como um dinossauro. Só. Mas a gravação é boa e quem ama a oitava vai babar de gozo ouvindo isto.
Symphony No.8 in E flat – “Symphony of a Thousand” Part One: Hymnus “Veni creator spiritus”
1) Veni, creator spiritus [1:24]
2) “Imple superna gratia” [3:21]
3) “Infirma nostri corporis” [2:31]
4) Tempo I. (Allegro, etwas hastig) [1:27]
5) “Infirma nostri corporis” [3:18]
6) “Accende lumen sensibus” [4:54]
7 “Veni, Creator…Da gaudiorum praemia” [3:47]
8. “Gloria sit Patri Domino” [3:03] Part Two: Final scene from Goethe’s “Faust”
1) Poco adagio [7:16]
2) Più mosso (Allegro moderato) [4:20]
3) “Waldung, sie schwankt heran” [5:09]
4) “Ewiger Wonnebrand” [1:43]
5) “Wie Felsenabgrund mir zu Füßen” [5:04]
6) “Gerettet ist das edle Glied” – “Hände verschlinget” [1:08]
7) “Jene Rosen, aus den Händen” [2:03]
8. “Uns bleibt ein Erdenrest” [2:02]
9) “Ich spür’ soeben” – “Freudig empfangen wir” [1:19]
10) “Höchste Herrscherin der Welt” [4:28]
11) “Dir, der Unberührbaren” – “Du schwebst zu Höhen” [3:33]
12) “Bei der Liebe” – “Bei dem Bronn” – Bei dem hochgeweihten Orte” [5:26]
13) “Neige, neige, du Ohnegleiche” [1:04]
14) “Er überwächst uns schon” – “Vom edlen Geisterchor umgeben” [3:31]
15) “Komm! hebe dich zu höhern Sphären” – “Blicket auf zum Retterblick” [7:21]
16) “Alles Vergängliche” [6:05]
Robinson / Wall / Queiroz / DeYoung / Schröder / Botha / Müller-Brachmann / Holl
Chor der Deutschen Staatsoper Berlin
Rundfunkchor Berlin
Aurelius Sängerknaben Calw
Staatskapelle Berlin
Pierre Boulez
Confesso que bebi. Não, não aludo a um simpático livro do cartunista Jaguar, que por sua vez alude a Neruda. Jurei, sim, por São Gregório Magno e Santa Hildegarda von Bingen que bastava de Piazzolla; que afastaria de mim esse cálice de perdição. Ora, mas por que tanto alarde em torno de Piazzolla? São apenas truques sonoros envolvendo sequências harmônicas, dominantes secundárias, cromatismos e ostinatos, artifícios rítmicos e percussivos, melodias lancinantes… Certa vez até me disseram que ele nem seria lá grande coisa (!) – assevero que quando ouvi isso não estava bêbado ainda, mas depois tive de ficar. Mas bebi e vou vivendo, e como dizia o samba famoso, tem gente que não bebe e está morrendo. Um dois, três tragos de tanguedias – lembrando Platão: ‘duas e três vezes ainda, a beleza.’ Acho que esse texto está um escrito de bebum. ‘E dai?’, diz ainda o fantasma do velho Platão. Ok, zoopsia talvez, somente porque estou a divisar um casal de centopeias dançando tango vão dizer que é Delirium Tremens, mas diante desse transe apoteótico trago em meu socorro o Sr. Fernando Antônio Nogueira Pessoa, mestre absoluto da poesia e também exímio bebedor:
Na realidade outro dia,
Batendo o meu sapato na parede
Matei uma centopeia
Que lá não estava de forma alguma.
Como é que pode?
É muito simples, como vê
Só o início do D.T.
Quando o jacaré cor-de-rosa
E o tigre sem cabeça
Começam a crescer
E exigir serem alimentados.
Como não tenho sapatos
Para os matar
Penso que devo começar a pensar:
Será que eu deveria parar de beber?
Quando as centopeias vierem,
Sem problema
Posso vê-las bem,
Até duplicadas!
Mando-as para casa
Com meu sapato
E, quando todas forem para o inferno,
Irei também.
Então, como um todo
estarei verdadeiramente feliz,
Porque com um sapato Real e verdadeiro
Matarei a verdadeira centopeia:
Minha perdida alma…
Fernando Pessoa – 1935
Ora, já confessei minha piazzollatria e minha condição de Farrapo Humano à Billy Wilder por culpa do bandoneon de Mister Pantaleón e do seu violinista, aquele impiedoso reciário de corações chamado Fernando Suares Paz – que Deus o conserve! Estou ébrio, como o celebérrimo pau d’água de Vicente Celestino. Todavia, como dizia Graham Greene, “sempre existe um lugarzinho para os bêbados no coração das pessoas”. E como se não bastasse encontro também alento nas quadras (Rubaiyat) daquele gentilíssimo astrônomo, matemático e doce poeta persa de um milênio, o Omar. É, Omar Khayyam!
“Olha com indulgência aqueles que se embriagam: os teu defeitos não são menores. Se queres paz e serenidade, lembra-te da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.”
“Busca a felicidade agora, nada sabes do amanhã. Apanha um grande copo repleto de vinho, senta-te ao luar e pensa: Talvez amanhã a lua me procure em vão.”
“Bebe o teu vinho. Vais dormir muito tempo debaixo da terra. Sem amigo ou amores. Confio-te um grande segredo: não reflorescem as tulipas murchas.”
“Vinho, bálsamo para o meu coração doente. Vinho da cor das rosas, vinho perfumando, para calar a minha dor. Vinho e o teu alaúde de cordas de seda, minha amada.”
“Do meu túmulo se erguerá um tal perfume de vinho que embriagará os passantes; e será tal a serenidade que dele não conseguirão se apartar os amantes.”
“Alguns amigos me dizem: Não bebas mais, Khayyam! Respondo: Quando bebo ouço o que me dizem as rosas, as tulipas, os jasmins: ouço até o que não diz a minha amada.”
“O vinho te dá o calor que te falta, suaviza o julgo do passado e te alivia das brumas do futuro. Inunda-te de luz e te liberta desta prisão.”
“Cansado de indagar aos sábios, indaguei à taça: Para onde irei depois da morte? Ela de respondeu murmurando: Bebe em minha boca. Bebe longamente: Não voltarás.”
Diante disso, que pensar? Quem poderia condenar-me o vício? Que círculo dantesco me poderia requisitar? Talvez não um inferno dantesco, mas um piazzolesco! Este belo disco chama-se “El infierno tan temido”. Ah, se o inferno for isso, que me aguarde com escancarados portais; e que sobre eles se escrevam o dístico famoso na Comédia da “águia dos latifúndios florentinos” – no dizer de Augustinho dos Anjos; serei tão indiferente quanto o seria Khayyam. Astor escreveu inúmeras trilhas sonoras e esta foi para uma película de 1980, “El infierno tan temido” dirigida por Raúl de la Torre, diretor de filmes que misturam tango com erotismo – nada mais eloquente. Por sua vez, o título advém de um poema que figura em um conto do escritor uruguaio Juan Carlos Onetti:
No me mueve, mi Dios, para quererte el cielo que me tienes prometido, ni me mueve el infierno tan temido para dejar por eso de ofenderte. Tú me mueves, Señor, muéveme el verte clavado en una cruz y escarnecido, muéveme ver tu cuerpo tan herido, muévenme tus afrentas y tu muerte. Muéveme, en fin, tu amor, y en tal manera, que aunque no hubiera cielo, yo te amara, y aunque no hubiera infierno, te temiera. No me tienes que dar porque te quiera, pues aunque lo que espero no esperara, lo mismo que te quiero te quisiera.
Não falarei da música do disco, não é preciso. Basta somente sentar-se ao luar como Khayyam e ouvir mais este espetáculo do mestre argentino; com vinho, whisky, cerveja ou cachaça, pois que a ordem dos fatores não altera o produto. Vale enfim embriagar-se nesta beleza e bronzear-se nesse inferno sonoro – e que este fogo seja eterno, in saecula saeculorum, amém!
Dedico esta postagem ao amigo de aventuras musicológicas e enológicas, o musicólogo uruguaio-bahiano Pablo Sotuyo Blanco.
Astor Piazzolla – El infierno tan temido 1 El infierno tan temido, part 1 2 El infierno tan temido, part 2 3 El infierno tan temido, part 3 4 El infierno tan temido, part 4 5 Isa Rizzo, part 1 6 Isa Rizzo, part 2 7 Tema di Grazia, part 1 8 Tema di Grazia, part 2 9 Tema di Grazia, part 3 10 Tema di Grazia, part 4 11 Tema di Grazia, part 5 12 Desesperado 13 Gracia alegre 14 Tangueria, part 1 15 Introduzione 16 Tangueria, part 2 17 Tangueria, part 3 18 Gracia Amor 19 Tema di Grazia, part 6 20 Effetti 21 Fotografia (solo bandoneon) 22 Final (solo bandoneon)
Meus amigos, este disco foi muito famoso durante alguns dias. Acontece que na capa esteve escrito MESSIEAN e não MESSIAEN. Houve uma gritaria geral, os franceses reclamaram de desrespeito à cultura e à língua francesas… E, enfim, a Sony recolheu o todos os exemplares do CD e relançou-o corretamente. Sabem?, não sou um apaixonado por Janine Jansen, mas acho que devo rever meus conceitos. Ela e um extraordinário grupo de músicos nos trazem aquela que talvez seja a melhor versão desta obra de fundamental do século XX. Tudo canta aqui, principalmente os pássaros, onipresentes na obra do compositor francês.
O Quarteto para o Fim dos Tempos foi estreado diante de todos os prisioneiros no pátio gelado do campo de concentração de Stalag VIII A de Görlitz, na fronteira sudoeste da Polônia. Era o dia 15 de janeiro de 1941 e nevava. Há pouco mais de um ano, aproximadamente, a França entrara na Segunda Guerra Mundial. Messiaen fora chamado para servir o exército e, poucos meses depois, em maio de 1940, durante uma ofensiva alemã, foi capturado e levado para o campo de concentração.
O Quarteto foi estreado por Messiaen ao piano, mais Henri Akoka (clarinete), Jean le Boulaire (violino) e Étienne Pasquier (violoncelo). Nenhum dos três era músico profissional. Acontece que o oficial nazista responsável pelo campo de Stalag gostava de música e, quando soube da presença de Messiaen, permitiu que o compositor trabalhasse a fim de realizar um recital com música inédita. Seu nome era Karl-Albert Brüll, um apreciador da música do compositor. Ele proporcionou a Messiaen “condições ‘excepcionais” de trabalho. Deu-lhe lápis, borrachas e papel de música. Também foi-lhe permitido isolar-se num quarto vazio com um guarda de plantão à porta. Tudo a fim de evitar que ele fosse incomodado.
Messiaen escreveu, para os únicos outros instrumentistas que lá estavam presos (um violoncelista, um violinista e um clarinetista), um breve trio que foi posteriormente inserido na obra como quarto movimento. Depois, com a chegada de um piano, Messiaen compôs o resto da obra, assumindo o instrumento.
O católico Messiaen propôs que sua obra fosse uma meditação sobre o Apocalipse de João (10, 1-7). A partitura é encabeçada com o seguinte excerto: “Vi um anjo poderoso descer do céu envolvido numa nuvem; por cima da sua cabeça estava um arco-íris; o seu rosto era como o Sol e as suas pernas como colunas de fogo. Pôs o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra e, mantendo-se erguido sobre o mar e a terra levantou a mão direita ao céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: não haverá mais tempo; mas nos dias em que se ouvir o sétimo anjo, quando ele soar a trombeta, será consumado o mistério de Deus”.
A estruturação do Quarteto em oito movimentos é explicada por Messiaen da seguinte forma: “Sete é o número perfeito, a criação em seis dias santificada pelo sábado divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e se converte no oito da luz inextinguível e da paz inalterável”.
Essa música emergiu de horror e teve sua estreia no frio, com guardas e prisioneiros como público. Então, você pode esperar tristeza e brutalidade? Nem tanto. O intensamente religioso Messiaen busca tocae o sublime e o êxtase. E este CD deve ter a melhor versão disso.
Olivier Messiaen (1908-1992): Quatuor pour la fin du Temps
1 I. Liturgie de cristal 02:43
2 II. Vocalise, pour l’Ange qui annonce la fin du Temps 05:01
3 III. Abîme des oiseaux 08:10
4 IV. Intermède 01:42
5 V. Louange à l’éternité de Jésus 08:48
6 VI. Danse de la fureur, pour les sept trompettes 06:04
7 VII. Fouillis d’arcs-en-ciel, pour l’Ange qui annonce la fin du Temps 07:28
8 VIII. Louange à l’immortalité de Jésus 07:23
Personnel:
Martin Fröst, clarinet
Lucas Debargue, piano
Janine Jansen, violin
Torlief Thedeen, cello
Jordi Savall & La Capella Reial de Catalunya & Montserrat Figueras
A primeira Sibila, a Sibila da Eritréia, foi considerada ser filha de Apolo.
A Sibila de Cumas, tida na antiguidade como a mais importante das dez sibilas conhecidas, herdou suas profecias. Ela ofereceu os nove livros de profecias para Tarquínio, o rei de Roma, que concordou em pagar um preço muito alto só depois que ela destruisse seis deles. Ao longo dos séculos seguintes, as palavras foram corrompidas e perdidas, mas os judeus e os cristãos conseguiram salvar alguns fragmentos, e que, segundo eles, foram utilizados em seus cultos. Eles foram assim traduzidos para o latim e incorporado à liturgia espanhola no século XII.
Podemos ouvir os apelos místicos da Sibila da Galícia, acompanhados ao som da harpa, e apoiado por coros de grande profundidade com o saltério – antigo instrumento musical – palpitando, e a Sibila de Castela, introduzida por trombetas com zumbidos misteriosos e envolvida por flautas. (adaptado do encarte)
El Canto de la Sibila II: Galicia & Castilla
Alfonso X, El Sabio (1221-1284) 01. Sibila Galaica (XIIème siècle): Madre de Deus 02. Sibila Galaica (XIIème siècle): U verrá na carne 03. Sibila Galaica (XIIème siècle): E u el a todos 04. Sibila Galaica (XIIème siècle): E en aquel dia 05. Sibila Galaica (XIIème siècle): U verás dos santos 06. Sibila Galaica (XIIème siècle): U au juyzio 07. Sibila Galaica (XIIème siècle): U leixarám todos 08. Sibila Galaica (XIIème siècle): U queimará fogo 09. Sibila Galaica (XIIème siècle): U verás os angeos 10. Sibila Galaica (XIIème siècle): U dirán as tronpas 11. Sibila Galaica (XIIème siècle): U será o ayre 12. Sibila Galaica (XIIème siècle): U verrá do çeo 13. Sibila Galaica (XIIème siècle): U terrán escrito 14. Sibila Galaica (XIIème siècle): E quando s’iguaren 15. Sibila Galaica (XIIème siècle): Eu o sol craro 16. Sibila Galaica (XIIème siècle): E du o mar grande 17. Sibila Galaica (XIIème siècle): E u setrelas 18. Sibila Galaica (XIIème siècle): E du o inferno 19. Sibila Galaica (XIIème siècle): E u todo-los Reys 20. Sibila Galaica (XIIème siècle): E u mostrar ele 21. Sibila Galaica (XIIème siècle): Que polos teus rogos
Monastère de Silos, Cantoral de Cuenca, XVI siècle 22. Sibila Castellana (XVIème siècle): Tocata 23. Sibila Castellana (XVIème siècle): Iudicii signum 24. Sibila Castellana (XVIème siècle): Quantos aqui estades 25. Sibila Castellana (XVIème siècle): Si oyésedes lo que dixo Sibila 26. Sibila Castellana (XVIème siècle): El rey de los cielos verná 27. Sibila Castellana (XVIème siècle): A Dios verán presente 28. Sibila Castellana (XVIème siècle): Las animas venirán 29. Sibila Castellana (XVIème siècle): Dexarán los ricos 30. Sibila Castellana (XVIème siècle): Dios los infirnos, quebrantará
Alonso de Cordoba, XVI siècle (refrain) 31. Sibila Castellana (XVIème siècle): Los pecadores seran dañados 32. Sibila Castellana (XVIème siècle): Dios mostrará los pecados 33. Sibila Castellana (XVIème siècle): Perderá le sol su resplandor 34. Sibila Castellana (XVIème siècle): Los montes pues baxarán
Triana, XVI siècle (refrain) 35. Sibila Castellana (XVIème siècle): Montes ni campos no seran 36. Sibila Castellana (XVIème siècle): Fuentes y ri’os fuego arderán 37. Sibila Castellana (XVIème siècle): La tierra se abrirá 38. Sibila Castellana (XVIème siècle): Una reina se levantará
Cristobal de Morales, XVI siècle (refrain) 39. Sibila Castellana (XVIème siècle): Pues vos los criastes 40. Sibila Castellana (XVIème siècle): Esta nuestra Señora 41. Sibila Castellana (XVIème siècle): Pues será el juzgament
El Canto de la Sibila II: Galicia & Castilla – 1996
La Capella Reial de Catalunya & Montserrat Figueras
Dirección: Jordi Savall
El Cant de la Sibil-la III Mallorca & Valencia (1400-1560)
Jordi Savall & La Capella Reial de Catalunya & Montserrat Figueras
El Canto de la Sibila (el Cant de la Sibil·la en mallorquín) es un drama litúrgico de melodía gregoriana que tuvo mucha difusión durante la Edad Media en el sur de Europa y que se interpreta de forma tradicional en la Misa de Gallo en las iglesias de Mallorca (entre las que destacan las interpretadas en el Monasterio de Lluc y en la Catedral de Palma) y en Alguer, pueblo de Cerdeña.
Precisamente, Mallorca y Alguer son los dos únicos lugares en los que el canto constituye una tradición que se prolonga desde la Baja Edad Media hasta nuestros días, habiendo quedando finalmente inmune de la prohibición acaecida en el Concilio de Trento, 1545 – 1563, y a cualesquier otra vicisitud. Precisamente por ello, el día 16 de noviembre de 2010 fue declarado por la UNESCO Patrimonio Inmaterial de la Humanidad.1 Previamente hubo sido declarado Bien de Interés Cultural (BIC) por el Consejo Insular de Mallorca el 13 de diciembre de 2004.2
La Sibila es una profetisa del fin del mundo de la mitología clásica que se introdujo y adaptó al cristianismo gracias a la analogía que puede establecerse entre dicha profecía y el concepto bíblico del juicio final.
El testimonio más antiguo de la Sibila cristianizada y cantada en monasterios (aún no popularizada) lo aporta un manuscrito en latín del Monasterio de San Marcial de Limoges (Francia), en pleno Imperio Carolingio. En España el documento más antiguo que se conserva es un manuscrito visigodo de la Mezquita-catedral de Córdoba del año 960, perteneciente a la liturgia mozárabe. Del siglo XI data también el manuscrito de Ripoll redactado en latín, en el ámbito de la cultura litúrgica hispánica, siendo en poblaciones de la actual Cataluña, en donde en buena medida arraigaría.
El Canto de la Sibila constituyó pues una tradición cultural cristiana que tenía como tema central el juicio final que se emitiría sobre buenos y malos, es decir, sobre los fieles al Rey y Juez Universal, cuya llegada era anunciada desde la fiesta de su nacimiento en la condición humana. Inicialmente no fue propio de la Nochebuena actual. (http://es.wikipedia.org/wiki/Canto_de_la_Sibila)
Jordi Savall & La Capella Reial de Catalunya & Montserrat Figueras
El Cantoral de La Concepció, fols. 84v-86v : “Al jorn del judici parra qui haurà fet servici”
Monasterio de monjas de La Concepció Palma de Mallorca 01. Sibil·la Mallorquina – Un Rey Vendra Perpetual 02. Sibil·la Mallorquina – Ans Del Judici Tot Anant 03. Sibil·la Mallorquina – Apres Se Badara Molt Fort 04. Sibil·la Mallorquina – Del Cel Gran Foc Devallara 05. Sibil·la Mallorquina – Llos Puygs E.ls Plans 06. Sibil·la Mallorquina – Hanc Hom Non Feu Res 07. Sibil·la Mallorquina – Ladonchs No Haura Hom Talent 08. Sibil·la Mallorquina – Del Morir Sera Tot Lur Talens 09. Sibil·la Mallorquina – Cascun Cos S’alma Cobrara 10. Sibil·la Mallorquina – Los Infants Qui Nats No Seran 11. Sibil·la Mallorquina – E Dira Cascu Axi 12. Sibil·la Mallorquina – Deus Dexendra Del Celsa Ius 13. Sibil·la Mallorquina – So Es Aquest Que Nos Panges 14. Sibil·la Mallorquina – Deus Dira Aycels Dulcement
Hores de la Setmana Sancta, 1533 : . “Al jorn del judici, se pagarà notre servici” (Anonyme. Refrains de Alonso et Bartolomé Carceres) – Catedral de Valencia 15. Sibil·la Valenciana – Fanfares 16. Sibil·la Valenciana – Gloria Tibi Domine 17. Sibil·la Valenciana – Al Jorn Del Judici 18. Sibil·la Valenciana – D’una Verge Naixera 19. Sibil·la Valenciana – Mostrar-s’han Quinze Senyals 20. Sibil·la Valenciana – D’alt Dels Cels Devallara 21. Sibil·la Valenciana – Portara Cascu Escrit 22. Sibil·la Valenciana – Als Bons Dara Goig Etern 23. Sibil·la Valenciana – Mare De Deu Pregau Per Nos 24. Sibil·la Valenciana – Vosaltres Tots Que Escoltau 25. Sibil·la Valenciana – Fanfares
El Cant de la Sibil-la III – Mallorca & Valencia (1400-1560) – 1999
Jordi Savall & La Capella Reial de Catalunya & Montserrat Figueras
Gosto desses CDs mistureca. Haydn, Bartók, Pärt e Takemitsu acabam conseguindo uma boa convivência na pequena área do disquinho. Sem Haydn, não se sabe o que seria do gênero do quarteto de cordas. Elo de ligação entre Johann Sebastian Bach e Wolfgang Amadeus Mozart sua obra é feliz, mas sem a qualidade de um Mozart ou as profundidades filosóficas de um Beethoven. Mas Joseph Haydn foi um grandíssimo gênio. Aqui, está na companhia de compositores nascidos séculos depois. Como combinam bem os revolucionários! Os três irmãos Mark, Erik e Ken Schumann, que cresceram na Renânia e tocavam juntos desde crianças. Em 2012, a violista estoniana Liisa Randalu juntou-se a eles para formar o excelente Schumann Quartett. Olho neles, os caras são bons.
Haydn / Takemitsu / Bartók / Pärt: Landscapes
JOSEPH HAYDN STRING QUARTETT IN B-FLAT MAJOR OP. 76 “SUNRISE”
1 ALLEGRO CON SPIRITO
2 ADAGIO
3 MENUETTO
4 FINALE
5 TORU TAKEMITSU “LANDSCAPE” FOR STRING QUARTET
BÉLA BARTÓK STRING QUARTET NO. 2
6 MODERATO
7 ALLEGRO MOLTO CAPRICCIOSO
8 LENTO
Esta postagem foi possível graças ao ouvinte Fernando Santos que nos enviou os áudios e o encarte do CD “Novenas”, disponibilizando para todos nós um tesouro que não mais se encontra em lojas, sebos ou internet. Não tem preço!
A atividade musical no Brasil durante quase todo o período colonial funcionava basicamente no âmbito das funções religiosas, como comprova a imensa quantidade de peças sacras que foram conservadas. As diversas festas santorais, que sempre exigiam música composta pelos compositores locais, eram patrocinadas, principalmente, pelas Irmandades e Ordens Terceiras. As Irmandades eram congregações de leigos que se reuniam em torno de determinada devoção, sendo formadas, principalmente, por representantes de uma espécie de classe média urbana, profissionais liberais e comerciantes. Aquelas mais ricas construíam sua própria igreja e se serviam dos músicos, mulatos livres na sua maioria, para abrilhantar o serviço litúrgico e as festas em torno do padroeiro. As cerimônias preparatórias à festa do santo de devoção de uma Irmandade eram denominadas de acordo com a sua duração em dias, sendo a Novena a mais comum, ou seja, uma cerimônia ao longo de nove dias.
As Novenas do Padre José Maurício Nunes Garcia, maior compositor brasileiro do período colonial, foram compostas entre 1814 e 1822 e se caracterizam pelo estilo despojado, com limitados recursos instrumentais, no caminho contrário a uma tendência na qual o desenvolvimento das partes vocais e a incorporação de um efetivo maior de instrumentos davam à música mais dramaticidade e colorido. Nas novenas, para acompanhar o quarteto solista e o coro a 4 vozes, o compositor utiliza uma orquestra com o naipe de cordas sem as violas, uma clarineta e uma trompa.
O uso que o compositor faz dos instrumentos e das vozes é bastante idiomático. A parte do baixo geralmente não exerce função melódica ou motívica sendo usado apenas no papel contínuo. Os violinos apresentam-se normalmente em movimento paralelo e as tropas cumprem papel de reforço harmônico ou de ligação temática. Especial mérito tem a parte da clarineta, com uma destacada função concertante, muitas vezes dialogando com os solistas vocais.
O tratamento quase exclusivamente silábico do texto é outra importante característica. Tal procedimento visava tornar o texto litúrgico mais inteligível e era também conseqüência natural do estilo clássico ao qual estava filiado o compositor. O coro geralmente apresenta-se em blocos harmônicos costurados pela atuação mais movida dos violinos e da clarineta, que quase sempre tem o privilégio de expor e desenvolver o material temático. A tessitura não alcança extremos das vozes ou dos instrumentos. Essas características e o fato de possuírem a mesma, até certo ponto inusitada, instrumentação dão ao conjunto das três novenas uma grande unidade.
A mais antiga delas, escrita em 1814, é a Novena do Apóstolo São Pedro e, segundo a musicóloga Cleofe Person de Mattos, foi possivelmente composta “para expressar alegria com o retorno do Papa Pio VII à cátedra de São Pedro, em Roma“. A obra foi oferecida à Ordem Terceira do Carmo com uma ressalva do compositor, em nota autografa na partitura, que a mesma não deveria ser recusada à sua Irmandade, a de São Pedro dos Clérigos, quando solicitada. Uma curiosidade dessa novena é, no Tantum Ergo, uma célula melódica e rítmica que podemos identificar como aquela utilizada por Francisco Manuel da Silva (1795-1865) aluno do Padre José Maurício, na composição do Hino Nacional Brasileiro. A primeira audição contemporânea foi realizada em 1197 durante a Retrospectiva da Música Brasileira realizada no Salão Leopoldo Miguez, com os conjuntos da Escola de Música da UFRJ sob direção do Maestro Ernani Aguiar.
A Novena Nossa Senhora do Carmo também foi fruto de encomenda da mesma Ordem Terceira para a festa da padroeira no ano de 1818 e foi composta junto com a Missa de Nossa Senhora do Carmo que difere completamente da Novena por ser, nas palavras de Cleofe Person de Mattos, “obra vigorosa e de grande agilidade“. Tal fato nos faz supor uma intencionalidade do compositor procurando dar ao conjunto de novenas uma unidade estilística e instrumental, pois o mais lógico seria utilizar na novena a mesma instrumentação da Missa, que prevê um par de clarinetas e outro de tropas, já que foram escritas para a mesma festividade.
A Novena do Santíssimo Sacramento foi ums das obras compostas em 1822, ano marcado como de extrema penúria na vida do Padre José Maurício, com os salários como Mestre da Capela Real atrasados e sem remuneração que recebia pelas aulas de seu curso de música, concedida pro D. João VI em 1809 e retirada em fins de 1821. A novena foi composta por ocasião da entrada do compositor na Irmandade do Sacramento em 17 de março do mesmo ano.
Para a presente gravação foram utilizados os manuscritos autógrafos das novenas pertencente ao acervo da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As “Ladainhas” das novenas do Carmo e do Santíssimo Sacramento, não foram aqui registradas por serem essencialmente litúrgicas, destinadas ao canto da audiência na igreja, e por não despertarem interesse artístico, já que são trechos de dez a vinte compassos repetidos com diferentes textos.
O trabalho do Maestro Ernani Aguiar, fiel “mauriciano” traz à luz pela primeira vez, após quase dois séculos, obras de um dos mais brilhantes artista do período colonial brasileiro que tem sobrevivido graças à abnegação de alguns poucos que, desde sua morte, têm trabalhado no sentido do reconhecimento de um conjunto de peças que é uma das mais importantes contribuições ao patrimônio cultural brasileiro. (André Cardoso, Professor da UFRJ e Regente, extraído do encarte)
Novenas – Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830, Rio de Janeiro, RJ) Novena do Santíssimo Sacramento: 01. I. O Salutaris Hostia (solistas, coro e orquestra) 02. II. Hino: Veni Sancte Spiritus (solistas e orquestra) 03. II. Hino: Veni Pater pauperum (gregoriano – coro masculino) 04. II. Hino: Consolator Optime (soprano, coro e orquestra) 05. II. Hino: In labore requies (gregoriano – coro masculino) 06. II. Hino: O Lux Beatissima (solistas, coro e orquestra) 07. II. Hino: Sine tuo numine (gregoriano – coro masculino) 08. II. Hino: Lava Quod est Sordidum (solistas, coro e orquestra) 09. II. Hino: Flecte quod est rigidum (gregoriano – coro masculino) 10. II. Hino: Da Tuis Fidelibus (coro e orquestra) 11. II. Hino: Da virtutis meritum (gregoriano – coro masculino) 12. III. 1ª Jaculatória: Bendito e louvado seja (solistas e orquestra) 13. IV. O Sacrum Comvivium: Antífona (solistas, coro e orquestra) 14. V. Sub Tuum Praesidium: Antífona (solistas, coro e orquestra) 15. VI. Tantum Ergo (soprano, coro e orquestra) 16. VI. Tantum Ergo: Genitori genitoque (gregoriano – coro masculino) 17. VII. 2ª Jaculatória: Bendito e louvado seja (soprano, coro e orquestra) 18. VIII. 3ª Jaculatória: Bendito seja Jesus (soprano, coro e orquestra)
Novena do Apóstolo São Pedro: 19. I. Invitatorio: Regem Apostolorum Dominum (coro e orquestra) 20. II. Hino: Veni Sancte Spiritus (solistas e orquestra) 21. II. Hino: Veni Pater pauperum (gregoriano – coro masculino) 22. II. Hino: Consolator Optime (coro e orquestra) 23. II. Hino: In labore requies (gregoriano – coro masculino) 24. II. Hino: O Lux Beatissima (coro e orquestra) 25. II. Hino: Sine tuo numine (gregoriano – coro masculino) 26. II. Hino: Lava quod est sordidum (coro e orquestra) 27. II. Hino: Flecte quod est rigidum (gregoriano – coro masculino) 28. II. Hino: Da tuis fidelibus (coro e orquestra) 29. II. Hino: Da virtutis meritum (gregoriano – coro masculino) 30. III. 1º Jaculatória: Apostolo Pedro (soprano, coro e orquestra) 31. IV. Responsório (Hino): Beate Pastor Petre (coro e orquestra) 32. IV. Responsório (Hino): Egregie Doctor Paule (gregoriano – coro masculino) 33. IV. Responsório (Hino): Sensit Trinitat Sempterna Gloria (gregoriano – coro masculino) 34. V. Verso (Evangelho): Tu es Petrus (tenor e orquestra) 35. VI. Et Tibi Dabo (coro e orquestra) 36. VII. Quod Qumquae Ligaveris (soprano, contralto e orquestra) 37. VIII. Et Tibi Dabo (coro e orquestra) 38. IX. Gloria Patri (baixo e orquestra) 39. X. Et Tibi Dabo (coro e orquestra) 40. XI. Tantum Ergo (coro e orquestra) 41. XI. Tantum Ergo: Genitori genitoque (gregoriano – canto masculino) 41. XII. 2ª Jaculatória: Apóstolo Pedro (coro e orquestra) 43. XIII. 3ª Jaculatória: Apóstolo Pedro (coro e orquestra)
Novena de Nossa Senhora do Carmo: 44. I. Invitatório: Dominum qui Suum Carmelitarum Matrem (coro e orquestra) 45. II. Hino: Veni Sancte Spiritus (coro e orquestra) 46. II. Hino: Veni Pater pauperum (gregoriano – coro masculino) 47. II. Hino: Consolator Optime (soprano, coro e orquestra) 48. II. Hino: In labore requies (greporiano – coro masculino) 49. II. Hino: O Lux Beatissima (coro e orquestra) 50. II. Hino: Sine tuo numine (gregoriano – coro masculino) 51. II. Hino: Lava quod est sordidum (contralto, coro e orquestra) 52. II. Hino: Flecte quod est rigidum (gregoriano – coro masculino) 53. II. Hino: Da tuis fidelibus (coro e orquestra) 54. II. Hino: Da virtutis meritum (gregoriano – coro masculino) 55. III. 1ª Jaculatória: Senhora do Carmo (soprano, coro e orquestra) 56. IV. Flos Carmeli: Antífona (soprano, contralto, coro e orquestra) 57. V. Tantum Ergo (soprano, coro e orquestra) 58. V. Tantum Ergo: Genitore genitoque (gregoriano – coro masculino) 59. VI. 2ª Jaculatória: Senhora do Carmo (soprano, coro e orquestra) 60. VII. 3ª Jaculatória: No transe horrendo da morte (soprano, coro e orquestra)
Novenas – Pe. José Maurício Nunes Garcia – 1999
Coral Porto Alegre e Orquestra
Maestro Ernani Aguiar . BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
XLD RIP | FLAC 427,3 MB | HQ Scans
Orquestra Cordas de São Paulo Coro Vozes de São Paulo
A GRAVAÇÃO
Quando em fins do século XVI, Domingos Luis, o “Carvoeiro”, transladou, para as proximidades do riacho Guarepe, a capelinha de Nossa Senhora da Luz, que outrora se erguia no Piranga, não poderia imaginar o futuro papel que a construção, pequena e modesta, representaria dentro da vida paulistana.
Ninguém poderia sonhar qualquer outro destino para a ermida em que se transformou o pequenino templo e os dois cômodos vizinhos, após a morte do “Carvoeiro”.
Quando Frei Antonio de Santana Galvão, em 1774, sob o Govêrno de D. Luis Antonio de Souza Botelho e Mourão, Morgado de Mateus, iniciou no mesmo local a edificação do Recolhimento da Luz e da Igreja de Nossa Senhora da Luz, imaginou fazê-lo tão somente numa ostensiva demonstração de fé. Esse ato de fé assumiria um simbolismo muito significativo no projeto da torre, somente concluída depois da morte de Frei Galvão, ocorrida em 1822.
Mas, para o Govêrno do Estado de São Paulo, na administração do Dr. Roberto Costa de Abreu Sodré, o velho Recolhimento da Luz assume, antes de mais nada, um profundo sentido de fé na gente paulista e na nossa Cultura, cujas raízes nos sobem do período Colonial.
Através do Museu de Arte Sacra de São Paulo [recentemente visitado pelo CVL e Avicenna], preserva-se um dos mais preciosos veios de nossa Arte Religiosa e colonial, ela própria uma rica manifestação de brasilidade.
A idéia de localizar no Recolhimento da Luz o conjunto de obras de arte religiosa de início mandadas recolher por D. Duarte Leopoldo e Silva e guardadas no edifício da Cúria Metropolitana – onde não tinha condições de exibição ao público – partiu de entendimento havido entre o Coodernador da Reforma Administrativa de São Paulo, Luis Arrobas Martins, Secretário da Fazenda, e D. Agnelo Rossi, Cardeal-Arcebispo de São Paulo, entendimento esse logo prestigiado pelas autoridades competentes do Estado e da Igreja, entre os quais seria de justiça mencionar o Dr. Orlando G. Zancaner, Secretário de Cultura, Esportes e Turismo, que determinou ao Conselho Estadual de Cultura desse todo o seu apoio à reforma da ala antiga do Recolhimento para que nela se instalasse o Museu de Arte Sacra de São Paulo. O Conselho Estadual de Cultura não só conduziu a reforma e a instalação com o também mandou fazer o presente disco, comemorativo da inauguração, com a Missa do Padre André da Silva Gomes, que a compôs em São Paulo em 1781. É a primeira gravação que se fez dessa Missa, da maior importância para a História de nossa cultura, executada publicamente, também pela primeira vez, na própria cerimônia inaugural do Museu, na Igreja Nossa Senhora da Conceição da Luz, no dia 28 de maio de 1970.
O AUTOR
André da Silva Gomes, quarto mestre de capela da Sé de São Paulo, nasceu em Lisboa em dezembro de 1752, como consta do assento de batismo realizado na Freguesia de Santa Engrácia daquela cidade, sendo filho legítimo de Francisco da Silva Gomes e Inácia Rosa.
A documentação portuguesa não nos forneceu nenhuma trilha acerca do local ou país onde André tivesse desenvolvido seus estudos iniciais. Chega ao Brasil bastante jovem, com 20 anos de idade, e as condições de sua formação cultural e musical permanecem inteiramente ignoradas. O certo é que seu progresso técnico, após a chegada a São Paulo com o terceiro bispo, Dom Manuel da Ressurreição, em princípios de 1774, é flagrante ao compararmos as suas primeiras composições com a presente obra, de aproximadamente 1785-90. O período áureo da produção musical em São Paulo colônia coincide com as atividades de André da Silva Gomes na Sé. Seu brilhantismo e nível artístico absorvem, sem concorrência – o que apresenta um quadro sui generis – os serviços musicais mais importante da Capital como os da Sé, Câmara, Irmandades do Santíssimo Sacramento e do Carmo. Sua obra, porém, realiza-se sobre pobre contexto técnico-musical historicamente acumulado, ausente categorias numerosas de músicos profissionais, cantores e instrumentistas. Cantores adultos são formados e utilizados no culto somente com André e são geralmente sacerdotes e seminaristas. Antes dele, seu antecessor no cargo, Antonio Manso da Mota, proveniente da Bahia, já dedicara seus momentos à edificação de um substrato até então modesto lecionando meninos, “aprendizes da Solfa”, intuindo que em São Paulo, ausente do meio o elemento músico, jamais se superariam as limitações que obstaculizavam a expansão e o desenvolvimento da arte musical. Antonio Manso provinha de Portugal e em São Paulo desenvolve o ensino mantendo agregados e adotando inúmeras crianças que inicia na arte musical, sendo por eles assessorado, secundado e substituído. Sua vida e trabalho em São Paulo prolongam-se de 1774 a 1823, datando deste ultimo ano sua composição mais recente por nós descoberta dentre mais de centenas do acervo da antiga Sé. Incompatibilizara-se sua estilística com um meio impregnado das inovações do bel-canto e da facilidade rossiniana. Mas é certo que obras suas continuam a ser executadas e recopiadas sem solução de continuidade até adentrado o século XX.
André da Silva Gomes faleceu ao 18 de junho de 1844, com 92 anos, após vinte e um anos de vida reclusa.
A OBRA
A descoberta, a restauração e edição desta obra é um trabalho que complementará a nossa tese de doutorado “A Música na Matriz e Sé de São Paulo Colonial”, onde é abordada a história musical naquele templo até a época da independência política do Brasil, processo que culminou com o desempenho, no mestrado de capela, de André da Silva Gomes.
O protótipo usado para a restauração desta Missa, composta de Kyrie e Gloria, de aproximadamente 1785, é um manuscrito original autógrafo da qual não foi encontrada nenhuma cópia, contemporânea ou posterior. Os solos nela contidos parecem ter sidos executados, à época, com mais freqüência do que o restante da obra, dada a figuração externa das partes.
Ressaltemos nela o cultivo do estilo contrapontístico (Kyrie II, fuga a 8 vozes; Cum Sancto Spiritu: fugato), o rigor da escritura alternada de dois coros (Gloria e Domine Deus) e o tratamento instrumental concebido não apenas como mero reforço tímbrico e de mantenimento das partes vocais; a riqueza harmônica, inclusive na exploração de retardos e antecipações atrevidos (Et in terra). O contínuo caminha de forma barroca – cifrado abundante – mesmo que em momentos esteja o baixo de Alberti para conferir à escritura uma natureza galante acompanhando o cantabile. A presença dos trompetes é valorizada discreta e eficientemente na textura, conferindo à peça um barroco brilhantismo. A riqueza melódica e até exuberante (Laudamus, Qui tollis, Quoniam) e, a par da contrapontística, confere à obra grande variedade, secundada pela variação tonal das unidades. A alternância de caráter (Christe entre os dois Kyrie, Gratias, largo, seguido pelo Domine Deus, caminhante, vivo, entusiástico, por sua vez seguido pelo lânguido e “troppo afectuozo” Qui tollis), integra-se também na exploração tímbrica das vozes onde os baixos têm destacado desempenho. Aquela alternância esta presente da mesma forma em certas seções em que a dinâmica e articulação são manuseadas com muita imaginação e efeito.
Não podemos fundamentar documentalmente nenhum eventual intercambio de André com compositores e obras brasileiras da época; sua estilística mesmo, não parece haver sofrido deles influência. Se tentarmos sua integração em grupos e/ou tendências estilísticas, trata-se de realizar análises exaustivas, a que vimos procedendo, sem o que arrisca-se de superficialidade. Entrementes, ao público definição e consagração.(Régis Duprat, 1970, extraído do corpo do LP original)
Palhinha: ouça Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 10. Qui Tollis – Troppo Affettuoso enquanto aprecia a Madonna, retratada pelos grandes mestres da pintura.
Missa a Oito Vozes & Instrumentos (c. 1785)
André da Silva Gomes (Lisboa, 1752 – São Paulo, SP, 1844) Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 1. Kyrie I – Moderato
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 2. Christe – Andante
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 3. Kyrie II – Fuga A 8
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 4. Gloria I – Allegro
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 5. Et In Terra – Un Poco Largo
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 6. Gloria II – Allegro
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 7. Laudamus – Amoroso
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 8. Gratias – Largo
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 9. Domine Deus – Allegro
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 10. Qui Tollis – Troppo Affettuoso
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 11. Quoniam – Larghetto
Missa a Oito Vozes & Instrumentos – 12. Cum Sancto Spiritu – Fugato
Orquestra Cordas de São Paulo & Coro Vozes de São Paulo – 1970
Regente: Júlio Medaglia
Preparação dos coros: Alexandre Pascoal
Esther Fuerte Wajman e Edmar Ferretti – sopranos
Marilena Tavares de Oliveira – contralto
Elias Moreira da Silva – tenor
Tarcísio do Nacimento – baixo
Gravações originais realizadas em sistema analógico no ano de 1970, reeditadas digitalmente em 2000.
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridade.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!
Mário de Andrade