Eis uma falha do blog que nunca deverá ser perdoada. Um leitor alertou que não encontrou nenhuma gravação do Concerto para Violino de Beethoven, o famoso op. 61. Em minha cabeça, eu tinha certeza de que havia postado alguma versão, ainda no início do blog, mas para minha surpresa, nem com Heifetz, nem com o Stern, nem com o Oistrakh, enfim,nenhuma. Nem da parte de meus colegas, talvez Clara Schumann tenha postado alguma versão, mas não lembro, e quando ela se retirou do blog, apagou todas as suas postagens.
Para compensar esta tremenda falha, estarei nos próximos dias estarei postando as minhas versões favoritas, desde as mais antigas, até as mais atuais.
Para começar, trago duas versões. Uma é a recentemente lançada pela Janine Jansen, uma jovem holandesa, que já nos deixou embevecidos com sua beleza graças a uma postagem do mano PQP, em sua redenção à obra de Tchaikovsky.
A outra gravação que trago aqui agora é a celebrada versão de Itzhak Perlmann com o Giulini, creio que gravada em 1980.
Não quero fazer comparações, apenas demonstrar de que forma esta obra vem sendo interpretada no correr dos anos. Não posso comparar gigantes em seu apogeu, como Oistrakh ou Heifetz com a própria Jansen, ou Hahn, jovens que tem uma vida inteira pela frente.
PQP se mete na história: vitória de Janine.
Enfim, vamos ao que interessa:
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Violino, Op. 61 (Perlman / Giulini)
1 Allegro ma non troppo
2 Larghetto
3 Rondo – Allegro
Itzhak Perlman – Violin
Philharmonia Orchestra
Carlo Maria Giulini
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Violino, Op. 61 / Benjamin Britten (1913-1976): Concerto para Violino, Op. 15 (Jansen / Järvi)
Violin Concerto In D Major, Op. 61 • Ré Majeur • D-Dur
1 I Allegro Ma Non Troppo 22:56
2 II Larghetto — 8:20
3 III Rondo: Allegro 9:25
Cadenza [Cadenzas] – Fritz Kreisler
Composed By – Ludwig van Beethoven
Violin – Janine Jansen
Orchestra – Die Deutsche Kammerphilharmonie Bremen*
Conductor – Paavo Järvi
E um brinde espetacular! Amo este Concerto de Britten!
Violin Concerto, Op. 15
4 I Moderato Con Moto 9:31
5 II Vivace — Cadenza — 8:35
6 III Passacaglia: Andante Lento 14:29
Composed By – Benjamin Britten
Violin – Janine Jansen
Orchestra – London Symphony Orchestra*
Conductor – Paavo Järvi
Landais nos contou de St-George, de Paris, um mulato. St-George é o n.º 1 na Europa em equitação, corrida, tiro, esgrima, dança, música. Atinge [com a espada] o botão – qualquer botão – da capa ou do colete dos maiores mestres. Acerta com a pistola uma moeda de 1 coroa no ar. (Do diário de John Adams, 2.º presidente dos Estados Unidos, em 17/05/1779)
Além de uma característica atenção às capacidades bélicas e não às artísticas, pelo que se lê em outras fontes faltou a esse presidente dos EUA mencionar a natação, a patinação no gelo e – se me permitem chamá-lo de esporte – o arrebatamento de paixões femininas.
Já se falou de Liszt como o primeiro pop star, mas considerando as datas e a variedade das frentes de destaque, duvido que surja um candidato mais forte que Joseph Bologne de Saint-George. Nem estranho certa irritação no que alguns têm escrito sobre ele: faz pensar no ‘moleque indigesto’ de Lamartine Babo, que ‘pisca o olho e cai no samba’, ‘faz o footing lá no Leblon’, ‘toca trombone na banda’, ‘já foi vaqueiro numa fazenda’ mas ‘tem um defeito: come demais; come, come, não deixa resto – ó que moleque indigesto’.
Mas a figura de Saint-George parece ser imensamente mais complexa que isso. Mereciam tradução integral os sensíveis textos de Emil Smidak para os encartes desta série de CDs (de onde vêm a citação de John Adams acima). Além disso, as contradições no conjunto de dados que se encontram na net em inglês e francês mostram o quanto ainda falta descobrir, mas sobretudo deixam evidente que nem tudo nessa vida foram flores.
Houve a carta de duas cantoras e uma bailarina à rainha declarando que sua honra e consciência (!) jamais lhes permitiriam trabalhar sob as ordens de um mulato, o que terminou por impedir que ele assumisse a direção da Academia Real de Música. Houve traições e agressões públicas tanto em sua vida civil como na militar. Havia sobretudo a lei (o ‘Code Noir’) pela qual o filho de uma escrava jamais seria herdeiro natural dos títulos e das posses do pai aristocrata; se era chamado de Chevalier, era pelo papel que ocupava de fato na sociedade: legalmente não lhe cabia nenhum título, apesar de sua meio-irmã branca-inteira ser Marquesa de Clairfontaine.
Não é de estranhar, então, ter-se engajado de corpo e mente na causa da Revolução – para também aí se ver traído depois de algum tempo, aguardando a guilhotina preso por cerca de um ano, sendo liberto por um triz em um mundo onde muitos de seus melhores amigos haviam sido executados.
Há controvérsia sobre ele ainda ter estado no Caribe depois disso, envolvido nos processos que levaram à independência do Haiti; os defensores dessa tese dizem que teria voltado profundamente abalado – com certeza por ter visto que a barbaridade do mundo ia ainda bem mais longe que o pior que tivesse conhecido em Paris.
Como a data de nascimento continua controversa, não sabemos a idade exata com que morreu – na faixa dos 51 aos 59 – porém talvez tenha sido uma felicidade ter escapado, por três anos, de ver Napoleão restaurando a escravidão.
Não sei quando encontrarei mais gravações de Saint-Georges para postar, e então quero encerrar esta série de três com algumas das palavras finais do texto de Smidak – depois das quais virão os links de download dos CDs e ainda os do documentário canadense O Mozart Negro no YouTube (em inglês sem legendas – infelizmente não incorporável a partir do endereço atual):
“Na Europa do século 18 houve musicistas maiores que Saint-Georges pelo ponto de vista musicológico. Mas terá havido algum maior pelo ponto de vista humano? […] Como conclusão poderíamos nos perguntar: a quem Saint-George realmente pertence? À África, à América negra ou à Europa? Não pretendemos perpetuar o conflito que dilacerou Saint-George no final da sua vida, dando uma dessas respostas em prejuízo das outras. Antes, responderemos: pertence a cada uma dessas e a todos os povos, pois a grande epopeia humana da qual sua vida foi parte não conhece fronteiras nacionais nem raciais.”
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Emil F. Smidak
Joseph Bologne, Chevalier de Saint-Georges
Concertos para violino e orquestra e ‘sinfonias’
Orquestra Sinfônica da Rádio de Plzeň
Regência: František Preisler Jr. (1996-97)
Violino solo e cadências: Miroslav Vilímec
CD 3/5
Sinfonia Concertante Op. 9 No.2 em lá maior – G 066
Concerto para violino Op. 5 No.1 em dó maior – G 031
Sinfonia Concertante em ré bemol maior – G 023
Concerto para violino Op. 7 No.2 em si bemolmaior – G 040
CD 4/5
Sinfonia Concertante Op. 10 No.1 em fá maior – G 064
Concerto para violino Op. 5 No.2 em lá maior – G 032
Sinfonia Concertante em sol maior – G 024
Concerto para violino Op. 1 No.10 em ré maior – G 021
CD 5/5
Sinfonia Concertante Op. 9 No.1 em dó maior – G 065
Concerto para violino Op. 3 No.2 em lá menor – G 028
Sinfonia Concertante Op. 10 No.2 em lá maior – G 049
Concerto para violino Op. 1 No.11 em sol maior – G 022
Brinde: DOCUMENTÁRIO CANADENSE “LE MOZART NOIR”
com The Tafelmusik Baroque Orchestra – em inglês, sem legendas.
(Antes em cinco partes, agora consolidado, ~48 min. Recomendo!)
Link revalidado por PQP, o qual simplesmente não admite que estas gravações fiquem fora de nosso blog.
O quinto cd da coleção “Boulez Conducts Bartók” traz o genial segundo concerto para violino, um de meus favoritos. E o solista Gil Shaham, para variar, dá um show, esbanjando virtuosismo. Eis um cd muito bom para ser apreciado num final de tarde chuvoso e abafado como o de hoje aqui em minha cidade, lendo um bom livro. Ou apenas apreciando a qualidade da música e da sua interpretação. Já ouvi diversos intérpretes deste concerto, e Shaham consegue se destacar, com certeza. Um detalhe: infelizmente tenho de concordar com alguns comentaristas da amazon: o problema desta gravação é o Boulez. Não sei explicar que acontece. Em alguns momentos aparenta um desânimo desconcertante.. será que é impressão minha e não consigo, ou não consegui captar o que o francês desejava? A Chicago Symphony é uma excepcional orquestra, e supre estes “lapsos” com certo desasossego, eu diria, parece que os músicos estão meio incomodados. Como consigo captar isso? Sei lá… às vezes, quando o violino entra pulsante, cheio de vida, a resposta da orquestra no começo é meio tímida, mas depois meio que pega no tranco.
Por favor, gostaria de saber a opinião dos senhores. Será que esta impressão é só minha?
As duas rapsódias para violino e orquestra novamente destacam a paixão de Bartók pelo folclore de seu país. E o violino está sempre em primeiro plano, flanando, livre, sem preocupações, virtuosístico sempre, afinal de contas temos aqui música húngara. E nenhum instrumento expressa melhor a cultura húngara do que o violino.
Bela Bartók – Boulez Conducts Bartók (Cd 5 de 8) Concerto for Violin and Orchestra, Rhapsody for Violin and Orchestra no 1 and Rhapsody for Violin and Orchestra no.2
01 – Concerto for Violin and Orchestra no.2 Sz112 – 1. Allegro non troppo
02 – 2. Andante tranquillo
03 – 3. Allegro molto
04 – Rhapsody for Violin and Orchestra – 1. Lassú. Moderato
05 – 2. Friss. Allegretto moderato
06 – Rhapsody for Violin and Orchestra no.2 Sz90 – 1. Lassú. Moderato
07 – 2. Friss. Allegro moderato
Gil Shaham – Violin
Chicago Symphony Orchestra
Pierre Boulez – Conductor
Esta excelente caixa da DG acaba em grande estilo, trazendo os dois concertos mais famosos de Tchaikovsky com dois instrumentistas peso-pesados que dispensam comentários.
O Concerto para piano com certeza é o mais famoso dos concertos já compostos para este instrumento. Sviatoslav Richter e Karajan dão um banho nessa gravação. Richter foi um gigante dos teclados, e sua interpretação é tão coesa, não dando margens à especulações e dúvidas, que até hoje, quase cinquenta anos depois de realizada (é de 1963) ainda é considerada um dos grandes momentos da indústria fonográfica.
E para completar a caixa, outro peso pesado, o violinista Christian Ferras, interpreta o Concerto para violino. Emocionante, vibrante, atordoante, são adjetivos que cabem facilmente para este concerto e para a interpretação de Christian Ferras. Para fechar a caixa com chave de ouro.
Karajan Conducts Tchaikovsky – CD 8 de 8 – Concerto for Piano & Orch. Nr.1 in B flat minor, Op.23, – Concerto for Violon & Orch. in D major, Op.35 – Karajan, Richter, Ferras, BPO
01 – Concerto for Piano & Orch. Nr.1 in B flat minor, Op.23_ 1. Allegro non troppo e molto maestoso – Allegro com spirito
02 – Concerto for Piano & Orch. Nr.1 in B flat minor, Op.23_ 2. Andantino semplice – Prestíssimo – Tempo I
03 – Concerto for Piano & Orch. Nr.1 in B flat minor, Op.23_ 2. Allegro con fuoco
04 – Concerto for Violon & Orch. in D major, Op.35_ 1. Allegro moderato
05 – Concerto for Violon & Orch. in D major, Op.35_ 2. Canzonetta. Andante – attaca
06 – Concerto for Violon & Orch. in D major, Op.35_ 3. Finale. allegro vivacíssimo