Arvo Pärt (1935): Orient & Occident

– Repost de 20 de Dezembro de 2015 –

Oriente e Ocidente. O que há de comum e diferente entre esses polos de civilização do mundo moderno? Hoje os historiadores repensam bastante a sinuosa relação entre o mundo ocidental e o mundo oriental ao longo da história. Por exemplo, hoje se pensa bastante sobre como que os povos que viriam a fundar o que foram os gregos clássicos vieram do oriente, e como que em alguns aspectos, como, por exemplo, na alimentação, os gregos são mais próximos dos povos do oriente médio e oriente próximo do que de outros povos europeus, digamos os franceses.

Podemos pensar essa longa relação por muitos âmbitos. Mas, como vocês leitores já podem prever, vamos pensar no âmbito musical. Herdamos dos árabes alguns instrumentos musicais ancestrais dos nossos modernos violinos, violões e flautas. Deles recebemos também o canto plano e uniforme, que viria a se tornar o conhecido cantochão (ou canto gregoriano) durante a idade média, justamente no Império Bizantino, que durante a Idade Média foi a ponte entre o oriente e o ocidente. Não é a toa que o cantochão viria a ser chamado de canto gregoriano, pois foi o Papa Gregório I, no século VI, que estabeleceu tal tipo de canto como a música padrão. Na teoria por motivos religiosos, mas na prática por motivos políticos.

Os árabes possuem uma “cor” em sua cultura que podemos identificar na arte que eles produzem. Essa “cor”, obviamente, difere da nossa. Se eu fosse pensar como um estruturalista eu conseguiria definir essa cor em um par de oposição. Por exemplo, se o ocidente fosse azul, o oriente seria vermelho. Se o ocidente fosse branco o oriente seria preto. Entre outras oposições possíveis de cores. Esse ethos (pensando esse conceito de forma sociológica) que por um exercício de imaginação pode ser imaginado como uma cor (como eu fiz aqui) pode ser identificado no tipo de música dos árabes, e não só no canto, mas, também, nas cordas.

O cantochão, como já sabemos, foi utilizado com maestria por Arvo Pärt. Nas cordas percebemos um pouco desse ethos (ou “cor”) árabe anteriormente, mas com a música Orient & Occident presente neste álbum, tudo fica mais claro. Arvo Pärt usa o efeito chamado de “Maqam árabe” nas cordas, e contrapõe com os vibratos dramáticos que os compositores ocidentais davam às cordas no ocidente (principalmente durante o romantismo, diga-se de passagem). Ou seja, ele faz uma brincadeira estruturalista, e contrapõe o estilo ocidental com o oriental, numa bela dança; podemos ir de um continente ao outro, de uma cultura à outra, em poucas notas. Se deixarem sua imaginação os levarem, vocês poderão viajar das salas de concerto do século XIX tipicamente italianas ou alemãs com centenas daqueles homens brancos caucasianos suando nas roupas formais; para as mesquitas escuras, mas coloridas, inundadas de fumaça provinda dos narguilés das ruas inundadas de homens barbudos e taciturnos.

Orient & Occident é a “pantera cor de rosa” do álbum. Mas as outras também são jóias valiosíssimas.

Em Como Cierva Sendieta, ainda podemos sentir um pouco da orientalidade, mas de forma muito mais sutil, digamos que de uma forma bizantina, ou andaluzina (lembrando que os árabes ocuparam a península ibérica do século VIII ao XII).  É a obra mais longa do álbum, e é também a obra que o finaliza. Temos também Ein Wallfahrtslied (ou Canção do Peregrino), aqui não em um arranjo para barítono solo como havíamos escutado anteriormente, mas para coro misto. É a obra que abre o álbum.

Aproveitem.

Arvo Pärt (1935): Ein Wallfahrtslied, Orient & Occident, Como Cierva Sendieta

01 Ein Wallfahrtslied – Pilgrim’s Song

Swedish Radio Symphony Orchestra
Swedish Radio Symphony Choir
Tõnu Kaljuste, regente

02 Orient & Occident

Swedish Radio Symphony Orchestra
Tõnu Kaljuste, regente

03 Como Cierva Sendieta I
04 Como Cierva Sendieta II
05 Como Cierva Sendieta III
06 Como Cierva Sendieta IV
07 Como Cierva Sendieta V

Swedish Radio Symphony Orchestra
Swedish Radio Symphony Choir
Tõnu Kaljuste, regente
Helena Olsson, soprano

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Meio aqui, meio lá...
Meio aqui, meio lá…

Luke

6 comments / Add your comment below

  1. Oi, Avicenna, reouvindo o excelente trabalho do grupo Banza sobre a música do tempo de Gregório de Matos, acabei por notar que o poeta não figura entre os compositores elencados no blogue, apesar de a canção Marinícolas ter letra (trecho de poema satírico) sua. Você não acha que ele merece um crédito? Abraço grande

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