.: interlúdio – klezmer jazz :.

“John Zorn once remarked to that in the ’60s, “we didn’t want to hear Jewish music at our Bar Mitzvahs, we wanted to hear Hendrix.” Funny how a few decades and some intermarriage with post-bop jazz can change all that. However, if back then some very hip parents convinced the best free jazzers to do a Bar Mitzvah party set, the result could very likely have been something akin to this album.” leia mais

Se o leitor imagina este Blue Dog como um cusco impertinente, meio baqueado, que frequentemente sai explorando onde o nariz aponta e não se furta a cheirar o que lhe passa pelo nariz — acertou. E tem horas em que paro e olho pros lados e penso “mas como é que eu vim parar aqui?”

Penso por um instante, só. Porque não é importante.

O Klez-Edge é o projeto mais recente de Burton Greene, pianista de Chicago que gravou para a ESP nos anos 60, e radicou-se na Europa desde os 70 (começou por Paris, hoje na Holanda). Sua trajetória sempre teve o free jazz como base, mas, também um explorador, vem estudando suas relações com os mais diversos estilos — como a raga, o folclore dos Bálcãs e o klezmer, a música tradicional judaica. Lançado pela Tzadik, o selo de John Zorn, na série Radical Jewish Culture, Ancestors, Mindreles, NaGila Monsters apresenta uma soma simples: post-bop e improviso mais klezmer. Diferente de seu projeto anterior, o Klezmokum, tem um homem como vocalista: e prepare-se para ouvir o polonês Marek Balata fazer o scat como você jamais imaginou ouvir — não sem rir.

Que foi a minha primeira reação: rir! Não parecia sério. Senão, acompanhe: a abertura, uma canção folclórica romena chamada “Mindrele”, inicia com frases de tuba — reconhecidamente o mais engraçado dos instrumentos musicais. A primeira seção traz um clarinete choroso, piano acompanhando a tuba e o vocalista improvisando sílabas em tenor; usando a voz como instrumento e dentro do contexto do jazz (ou seja, solando). E com que fôlego! Porque os músicos são refinados e as harmonias, agradáveis, vão conduzindo a audição, logo a risada desaparece e deixa só um sorriso. Passada a estranheza, se percebe como o que se ouve é levado a sério — ou tão sério quanto uma fanfarra judaica uptempo pode ser. “Odessa on the Hudson” é ainda mais cativante, com o pulmão infinito de Balata dobrando notas junto a Greene a desaguar num refrão melódico em tons menores. Apesar do destaque todo ao vocalista e seu trabalho de “libertar” o klezmer, mantem-se o jazz: solos e solos de jazz modal, num grupo sem baixo — que é substituído, com mais textura, pela tuba.

O resultado é nada menos que hipnótico. Descobri o disco há pouco mais de uma semana e venho o escutando três vezes por dia desde então. Esteja avisado. E a não ser que seja judeu, espere o momento em que você estará com vontade de bater palmas durante a música, e se perguntará “…mas o que É que eu estou ouvindo mesmo?!?”

***

Embora o Klez-Edge seja, na minha opinião, bastante superior ao do Klezmokum, este post traz também dois discos desta banda. Que difere-se basicamente por ser bem mais contida nos improvisos, mais tradicional, e traz uma vocalista “típica”, cantando em iídiche. No entanto, o trabalho de Greene aparece mais; há momentos belíssimos de seu piano (gosto especialmente dos andamentos complexos de “Di Nakht”).

(Os discos do Klezmokum, pouco distribuídos, podem (e devem) ser comprados no site oficial. Ignore as capas horríveis.)


Klez-Edge – Ancestors, Mindreles, NaGila Monsters/2008 (320)
download – mediafire /115MB
Burton Greene: piano; Perry Robinson: clarinet; Marek Balata: vocals; Larry Fishkind: tuba; Roberto Haliffi: drums.
01 Mindrele 02 Odessa on the Hudson 03 Ancestral Folk Song 04 Funk Tashlikh 05 Prelude in D Minor for Andrzej 06 Oy Joy 07 Bagdad 08 Moldavian Blues 09 Have Another NaGila Monster


Klezmokum – ReJewvenation/1998 (320)
download – mediafire /160MB
Burton Greene: piano; Larry Fishkind: tuba; Roberto Haliffi: drums; Perry Robinson: clarinet; Patricia Beysens: voice, flugelhorn; Hans Mekel: clarinet, sax.
01 Atesh Tanz 02 Russian Sher N° 5 – Sherele 03 Ydid Nefesh 04 Doina in G Major 05 Shir Hashomer 06 El Rey por Muncha Madruga 07 Hora Mare 08 Shoror 09 Adonai Melech – Hodu L’adonai 10 Los Kaminos de Sirkidji 11 Desert Dance 12 Nevala


Klezmokum – Le Dor Va Dor/2000 (256)
download – mediafire /130MB
Mesma formação, mais Sofie van Lier: voice
01 Jews and Gypsies Suite: a) Tants, tants, tants b) Tsigaynerlid 02 Kineret 03 Di Nakht 04 Fun Tashikh 05 Dremlen Feygl 06 Yiddish Tango 07 A Nigun Variations 08 El Male Rachamim 09 Sa’dawi Variations

Shalom!
Blue Dog

.: interlúdio: Mariano Otero :.

…E o oscar vai para: Mariano Otero!

(Eu poderia continuar a relação de Otero a Campanella, mas paro; embora seja antigo fã do cinema deste argentino, me parece que seu conterrâneo atinge maior profundidade em sua obra.)

Às apresentações: Otero é um jovem, perspicaz e ambicioso compositor e contrabaixista de jazz. E para bom leitor eu já disse até demais. Descobri por acaso que ganhou um prêmio do Clarín — “La Figura del Jazz Argentino 2009” — e fiquei, basicamente, perplexo ao ouvir seus discos. Porque trazem algo raro e que procuro: jazz contemporâneo feito com jeitão cinquentista. Não é gostar de mofo: é ver o legado seguindo adiante; é o respeito formando novos músicos; é reinventar o reinventado, a síntese do jazz. E com QUE qualidade surge este portenho.

Mariano Otero, com todas as suas funções (onde se inclui (competentíssimo) arranjador e produtor de trilha sonora), evidentemente vai evocar Mingus, e sobre isso só peço que vejam o nome da primeira faixa do disco logo abaixo (e assistam ao vídeo). Mas não se trata de seguir estilo; há, em diversos e muito presente, mas não apenas. Em Três há também um pouco de fusion; Desarreglos, em homenagem ao mítico guitarrista argentino Walter Malosetti, há muitas doses de swing e blues. Otero iniciou carreira com Malosetti (há parcos 10 anos) e seguiu em boas companhias, que incluem Rodrigo Dominguez como sax solo em seus grupos. Aliás, falando em sopros, estes dominam grande parte do espectro sonoro, e com grande eficácia. Otero formou uma big band — hoje um noneto — e algumas passagens levam direto à Miles no período Sketches of Spain. E diferente do que se pode imaginar apressadamente, tudo que não faz é jazz latino. É possível reconhecer alguns grooves mais próximos, mas, de fato e direito, Mariano Otero toca é bop. Vai variar andamentos, como manda a cartilha de boas práticas, mas não deixará o caminho.

A excelência e universalidade de seu jazz renderam um contrato de três discos com a Sony; Desarreglos é o primeiro deles. Mais que ouvinte, passei a torcedor de Otero: que seu talento conquistem o mundo afora. E ele venha logo tocar no Brasil.


Tres /2006 (128)
download [mediafire] 65MB
01 Mingusiana
02 Flor
03 Nudos
04 Las dos Marías (Flow)
05 Hollanda
06 Hacia Un Lugar
07 Hentrane

Desarreglos /2009 (320)
download (mediafire) 146MB *link atualizado
01 El Maestro
02 Ale Blues
03 Mini
04 Grama
05 Walter’s Rithm
06 Avellaneda
07 Madrid
08 Pappo’s Blues
09 Espiritu
10 Blues for Pepi
11 Adios Lala
12 Clifford

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – jazz icons, wes montgomery :.

Na internet tudo se acha, mas quando se fala em DVDs de jazz, aí a história fica um pouco diferente. Não apenas não são tantos assim, como só se encontram enterrados em torrents com meia dúzia de seeders. Foi assim que, armado de obstinação e toneladas de paciência, venho tentando garimpar as preciosidades que encontro pelo caminho. Me interessam principalmente os registros dos grandes artistas do estilo, em gravações ao vivo; documentários podem ser interessantes, mas muitas vezes as entrevistas tomam espaço demais de onde se gostaria de simplesmente ver os mestres tocando. Embora fascinantes em diversos aspectos, são assim “The World According to John Coltrane” e “Thelonious Monk – Straight No Chaser”. A maioria das gravações vem da tevê europeia, interessada nas turnês de jazz pelo continente nos anos 60 e 70; essa é a especialidade da série Jazz Icons, que vem bravamente resgatando tantos rolos de filme perdidos. Como, infelizmente, são difíceis de encontrar nas lojas brasileiras, e facilmente passam dos cem reais o disco — muito para este pobre cão –, compartilho hoje o meu preferido. E já não vinha falando há alguns posts que atravesso um período de grande fascínio por Wes Montgomery?

Pois “Wes Montgomery Live in ’65” é puro deleite com chocolate. São 78 minutos de show, e nada mais. Em três momentos diferentes: Holanda, Bélgica e Inglaterra; que tempo para se viver, ligar a tevê valvulada preto-e-branco e assistir um programa de jazz desse calibre! Era um momento especial também para Wes: havia sido dispensado pela Riverside e, no retorno aos EUA, entraria no período em que tantos o apontariam como “vendido”, suavizando seu bop para atingir maiores audiências. Ou seja, o timing é perfeito. Na tela, o que se vê é o carisma percebido nos discos: naturalidade e sorrisos. Wes parece não fazer qualquer esforço jamais, e não que seja desleixado; apenas demonstra a naturalidade assombrosa com que comanda a guitarra.

Dos três programas, o primeiro, em Amsterdã, se ressalta — por raro e realmente engrandecedor. Vemos Montgomery tocando com um trio local onde um jovem Han Bennink demonstra todo o papel que viria a ter muito em breve; seu estilo de swing, confiante, arranca sorrisos de Wes nos solos de Nica’s Dream pelos grunhidos (geniais) que solta durante as baquetadas. (Se estiver com pressa, pule até o sétimo minuto do vídeo abaixo. E fique tranquilo, a baixa qualidade do youtube não se repete no dvdrip que trago.)

Além disso, uma oportunidade rara de ver Wes ensinando. No caso, instruindo The End Of A Love Affair para a banda, na hora. Após as explicações, tocam em velocidade bem baixa, até que sintam-se seguros e aumentem os bpm até o ritmo correto. O resultado é arrepiante, como se soubessem e estivessem tocando a musica juntos há anos. As outras gravações não tem tanta descontração, mas não deixam a desejar; na Bélgica, um “especial” completinho, tocando com a banda que levou dos EUA; e em Londres, ouvimos até a cândida história de como Wes aprendeu a tocar com o dedão — técnica jamais igualada, marca indelével de seu jazz.

(Porque quando comprou uma guitarra e um amplificador, aos 19, percebeu que, sem a palheta, tocava mais baixo — e assim evitava as reclamações da vizinha, logo atrás das finas paredes do apartamento onde vivia. E na primeira apresentação, durante a abertura, percebeu que, usando a palheta, já não podia diferenciar uma corda da outra. Usou o dedão para sempre.)

Jazz Icons – Wes Montgomery live in ’65 DVDRip XViD

Holland: Wes Montgomery (guitar), Pim Jacobs (piano), Ruud Jacobs (bass), Han Bennink (drums). I Love Blues; Nica’s Dream; “Love Affair” Rehearsal; The End Of A Love Affair.
Belgium: Wes Montgomery, Arthur Harper (bass), Harold Mabern (piano), Jimmy Lovelace (drums). Impressions; Twisted Blues; Here’s That Rainy Day; Jingles; Boy Next Door.
England: Wes Montgomery, Rick Laird (bass), Stan Tracey (piano), Jackie Dougan (drums). Four On Six; Full House; Here’s That Rainy Day; Twisted Blues; West Coast Blues.

parte 1 + parte 2 + parte 3 + parte 4 + parte 5 + parte 6

Ao todo são 800MB e sei que é uma tarefa que pode ser chata; mas vale a pena. Os arquivos estão guardados no Multiupload, que espelha para diversos filesharers da web. Recomendo baixarem pelo Megaupload, que não incomoda com slots por país nem coloca limite de arquivos baixados por hora.

Bom filme!

Blue Dog

.: interlúdio – mais jazz natalino! :.

Arrá! Vocês pensaram que a postagem abaixo era a única manifestação natalina deste trauriger hund, mas não! A série mais impopular deste blog retorna em seu terceiro ano consecutivo, postando os melhores discos de christmas jazz de todos os tempos — se é que isso é possível. A missão continua a mesma: demonstrar para sua tia que o disco de natal da Simone é o responsável por choro, ranger de dentes, caspa e o aquecimento global. (Além de que é o único período do ano em que ouvir estes discos não soa inexoravelmente errado.)

The Ramsey Lewis Trio – Sound of Christmas (1961) (V0)

Um dos bestsellers do nicho é um disco sui generis: o piano soul de Lewis à frente, uma seção de cordas ao fundo. Um pouco esquizofrênico, já que mistura o tom divertido e swingado à grandiosidade orquestral. Poderia ser usado como trilha sonora se a Disney fizesse um especial de natal com jazz. Prefira o lado A do disco, sem as cordas, e com interpretações bastante criativas (por pouco não se esquece que é um disco natalino). A melhor faixa é “Christmas Blues”, cujo DNA identifica geograficamente o prolífero (e mais tarde pop) Ramsey Lewis: Chicago.

download – 43MB [mediafire]

Ramsey Lewis (piano), Eldee Young (double bass), Redd Holt (drums). String section (tracks 6-10): Sol Bobrou, David Chausow, Leonard Chausow, Oscar Chausow, Karl Fruh, Irving Kaplan, Harold Kupper, Abe Meltzer, Emil Podsada, Theodore Silavin. Produzido por Ralph Bass para a Verve

01 Merry Christmas, Baby
02 Winter Wonderland
03 Santa Claus is Coming to Town
04 Christmas Blues
05 Here Comes Santa Claus
06 The Sound of Christmas
07 The Christmas Song
08 God Rest Ye Merry, Gentlemen
09 Sleigh Ride
10 What are you Doing New Year’s Eve

Verve Presents: Very Best of Christmas Jazz (comp. 2001) (v0)

São estes os momentos em que compilações são divertidas. Neste disco não há coadjuvantes e todas as canções são bem executadas — embora se precise de alguma paciência para ouvir mais uma canção do xmasholic Louie Armstrong. Minhas preferidas aqui são a rendição do guitarrista Kenny Burrell — um blues arraigado, com um belíssimo double bass — e, pra variar, qualquer coisa que Bill Evans toque. “Greensleeves”, na conhecida gravação de Coltrane, também é natalina por acidente.

download – 65MB [sharebee *multiplataforma: recomendo baixar pelo megaupload]

01 Ella Fitzgerald – Rudolph the Red-Nosed Reindeer
02 Kenny Burrell – Merry Christmas, Baby
03 Billy Eckstine – Christmas Eve
04 Ramsey Lewis – Here Comes Santa Claus
05 Joe Williams – Let it Snow
06 John Coltrane – Greensleeves
07 Mel Torme – The Christmas Song
08 Louis Armstrong – ‘Zat You, Santa Claus
09 Shirley Horn – Winter Wonderland
10 Bill Evans – Santa Claus is Comin’ to Town
11 Count Basie – Good Morning Blues
12 Jimmy Smith – Jingle Bells
13 Dinah Washington – Silent Night
14 Oscar Peterson – A Child is Born

Crystal Lewis – Holiday (2000) (320)

Este disco foi uma surpresa. Descobri-o porque tinha uma mocinha bonita na capa, mas vejam só — ela tem uma banda de apoio muito boa, bastante presente, ao contrário do que se poderia imaginar em um álbum de cantora. O repertório é o mais clichê possível e Crystal Lewis é uma cantora gospel, e apesar disso algumas faixas funcionam muito bem, em especial as uptempo, como “Angels We Have Heard on High”, espetacular. As mais lentas são apropriadas como pano de fundo de shopping centers americanos.

download – 110MB [sharebee]

Crystal Lewis (vocals), Alan Pasqua (piano, arrangements), Dave Carpenter (double bass), Peter Erskine (drums), Dean Parks (guitar), mais uma seção de cordas com umas 20 pessoas. Produzido por Brian Ray para a Metro One

01 Joy to the World
02 Let It Snow, Let It Snow, Let It Snow
03 I’ll Be Home for Christmas
04 Winter Wonderland
05 Go Tell it on the Mountain
06 What Child is This?
07 Have Yourself a Merry Little Christmas
08 The Christmas Song
09 Silent Night
10 Angels we Have Heard on High
11 Jingle Bells
12 O Holy Night

Yule Struttin’: A Blue Note Christmas (comp. 1990) (V0)

Mais uma compilação de selo, nesse caso a Blue Note. Um disco bastante dividido: as faixas com vocal são bem fracas, e as instrumentais são fantásticas. Apesar de ser calcado em pianistas, com excelentes execuções, são os guitarristas quem saltam aos ouvidos: Stanley Jordan, John Scofield e John Hart proporcionam os melhores momentos. Nas faixas baseadas em sopros, há Dexter Gordon e Chet Baker — e há também o psychoswing de Count Basie, claro. Outro ponto bastante positivo são as pernas da mamãe noel da capa. Esse disco sem os vocais, e com um filtro de sininhos, seria para ouvir, tranquilamente, o ano todo. Se for baixar só um, vá nesse. Se não for baixar nenhum mas resolveu ler todo o post porque estava matando tempo, baixe esse também.

download parte1/85MB + parte2/48MB [mediafire]

01 Bobby Watson & Horizon – Vauncing Chimes
02 Stanley Jordan – Silent Night
03 Lou Rawls – The Christmas Song
04 Eliane Elias – I’ll be Home for Christmas-Sleigh Ride
05 Chet Baker – Winter Wonderland
06 Benny Green – A Merrier Christmas
07 Dianne Reeves – A Merrier Christmas
08 John Hart – O Tannenbaum
09 Count Basie – Jingle Bells
10 John Scofield – Chipmunk Christmas
11 Joey Calderazzo – God Rest ye Merry Gentlemen
12 Dexter Gordon – Have yourself a Merry Little Christmas
13 Benny Green – Silent Night
14 Rick Margitza – Little Drummer Boy

Christmas for Lovers (comp. 2003) (V0)

Mais um caça-níqueis da Verve, dentro da coleção For Lovers, que eu confesso ter incluído aqui por uma curiosidade bizarra. Afinal de contas, o que um disco de jazz pode fazer por um natal entre amantes e apaixonados? Musicalmente, o natal entre um casal de pombinhos é diferente de um com a família toda, e se sim, faz diferença que é natal? Só eu acho meio perturbadora essa associação entre natal e sexo? Só eu estou vendo sexo aqui??? De qualquer modo, Yusef Lateef e Gerry Mulligan são os que salvam o disco. E por favor, PAREM de botar Mel Tormé em todas as coletâneas! “Mel Tormé for Christmas Lovers” deve ser um assombro.

download – 95MB [mediafire]

01 Mel Tormé – The Christmas Song
02 Ella Fitzgerald – What are you Doing New Year’s Eve
03 Joe Sample – I Saw Mommy Kissing Santa Claus
04 Shirley Horn – The Secret of Christmas
05 Joe Williams – Christmas Waltz
06 Yusef Lateef – Warm Fire
07 Billy Eckstine – Christmas Eve
08 Dinah Washington – Ole Santa
09 Ramsey Lewis Trio – Snowfall
10 Antonio Carlos Jobim – Looks like December
11 Oscar Peterson – A Child is Born
12 Diane Schuur – I’ll Be Home For Christmas
13 Gerry Mulligan – Wintersong
14 Abbey Lincoln – Christmas Cheer
15 Kenny Burrell – Merry Christmas Baby

Publicações anteriores desta série:
Tony Bennett & The Count Basie Big Band– A Swingin’ Christmas
Oscar Peterson – An Oscar Peterson Christmas
Wynton Marsalis – Crescent City Christmas Card
Dave Brubeck – A Dave Brubeck Christmas
Ella Fitzgerald – Wishes you a Swingin’ Christmas
Louis Armstrong & Friends – The Christmas Collection
Vince Guaraldi Trio – A Charlie Brown Christmas
Chet Baker & Christopher Mason Quartet – Silent Night

Bom natal e virada de ano para todos, e até 2010!

Blue Dog

.: interlúdio: Christian McBride – Live at Tonic :.

Christian McBride é provavelmente o melhor baixista da sua geração — é um jovem, nasceu em 1972. Conquistou-me definitivamente com este disco, de um jazz ousado na forma, embora purista; mais tarde fui descobrir que McBride entrou com os dois pés no mundo do fusion e do groove. Neste Live at Tonic (NY) esta avenida é escancarada — o allaboutjazz diz o aponta como o melhor disco de funk jazz desde Agartha, de Miles Davis.

São três CDs que vão caminhando em direção à modernidade; o primeiro, principal, é fusion tradicional. No último há até DJs executando scratches enquanto os metais evocam tempos antigos de James Brown. Impossível não se deixar sorrir com as intervenções da plateia e imaginar a energia do show. Escandalize seus vizinhos tocando-o bem alto no dia de Finados que está chegando. É o que eu pretendo fazer. Quem quer ficar lamentando, que fique longe de mim!

Christian McBride – Live at Tonic /2006 [V2]

Christian McBride: acoustic and electric bass
Geoffrey Keezer: keyboards
Terreon Gully: drums
Ron Blake: tenor, baritone and soprano saxophones, flute
Charlie Hunter: guitar (CD 2)
Jason Moran: piano (CD 2)
Jenny Scheinman: violin (CD 2)
DJ Logic: turntables (CD 3)
Scratch: beatbox (CD 3)
Eric Krasno: guitars (CD 3)
Rashawn Ross: trumpet (CD 3)
Produzido por Andy Blackman Hurwitz e Christian McBride para a Rope-a-Dope

download (mediafire)
parte 1parte 2parte 3
(os pedaços estão compactados separadamente – pode baixar o primeiro e já sair escutando!)

download (rapidshare)
parte 1parte 2parte 3
(os pedaços estão compactados separadamente – pode baixar o primeiro e já sair escutando!)

CD 1 (10/01/2005)
01 Technicolor Nightmare
02 Say Something
03 Clerow’s Flipped
04 Lejos De Usted
05 Sonic Tonic
06 Hibiscus
07 Sitting on a Cloud
08 Boogie Woogie Waltz
CD 2 (10 e 11/01/2005)
01 See Jam, Hear Jam, Feel Jam
02 Out Jam/Give It Up or Turnit Loose
03 Lower East Side/Rock Jam
04 Hemisphere Jam
05 Bitches Brew
06 Out Jam/Via Mwandishi
07 Mwandishi Outcome Jam
08 The Comedown (LSD Jam)
CD 3 (11/01/2005)
01 E Jam
02 Ab Minor Jam
03 D Shuffle Jam
04 D Shuffle Jam (part 2)

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio – Miles Davis at the Fillmore :.

Reduzindo seu grupo de onze para 7 integrantes, Miles apresentou quatro shows no Fillmore East de NYC, de 17 a 20 de junho de 1970. O produtor Teo Macero resolveu adicionar sua criatividade ao disco fazendo um trabalho de colagem: recortando diversos temas apresentados a cada noite e montando uma única e longa faixa.

Evidente que o termo “ao vivo” fica um pouco prejudicado. Não temos registros completos de cada música, e sim quatro coletâneas, nomeadas originalmente com o dia da semana em que o show foi realizado. Apesar disso, o resultado é interessante; mostra um grupo mais agressivo do que em Bitches Brew, e já com bastante espaço destinado ao fusion.

Miles Davis at Fillmore: Live at the Fillmore East (320)
Miles Davis: trumpet
Steve Grossman: soprano sax
Chick Corea: electric piano
Keith Jarrett: electronic organ
Dave Holland: acoustic bass, electric bass
Jack DeJohnette: drums
Airto Moreira: percussion, cuica
Produzido por Teo Macero para a Columbia

download disco1 (117MB) disco2 (115MB)

Disco 1
Wednesday Miles
01 Directions 2’29
02 Bitches Brew 0’53
03 The Mask 1’35
04 It’s About That Time 8’12
05 Bitches Brew/The Theme 10’55

Thursday Miles
06 Directions 9’01
07 The Mask 9’50
08 It’s About That Time 11’22

Disco 2
Friday Miles
01 It’s About That Time 9’01
02 I Fall in Love Too Easily 2′
03 Sanctuary 3’44
04 Bitches Brew/The Theme 13’09

Saturday Miles
05 It’s About That Time 3’43
06 I Fall in Love Too Easily 0’54
07 Sanctuary 2’49
08 Bitches Brew 6’57
09 Willie Nelson/The Theme 7’57

Boa audição!

Blue Dog

.: interlúdio – Bill Evans Trio, Explorations :.

An article in a men’s magazine once suggested an exercise regimen that consisted of a walk to the local record store to buy one Bill Evans CD every day. That way you would not only be in better shape, but you would also have a great collection of piano jazz as well. It’s an established fact that Evans revolutionized the sound of the piano trio; you can bet that every pianist who ever worked the hotel lounge circuit has worn out the grooves listening to his records. However, unlike the cocktail tinklings of his admirers that end up little more than background music, Evans demands to be heard, seducing you with his indelibly emotional playing. Most aficionados would agree that his trio records with Scott LaFaro on bass are his best, and the natural place for a novice to start.

Explorations is the second outing by this trio and took almost a year to record after Portrait in Jazz, the album that won him such great critical acclaim. Evans conceptualized the trio as exactly that—a trio, where each member contributed equally to the whole. It works marvelously: LaFaro’s nimble bass playing and Motian’s drumming provide a relaxed, rhythmic underpinning for Evan’s graceful chords. The trio works magic here, breathing fresh air into standards such as “How Deep and the Ocean?” and “Beautiful Love” and creating the illusion that these songs were written just so someone like Evans could play them. The highlight of the album is “Elsa,” which is one of the most beautiful piano ballads on record. Many would point to the later live recordings at the Village Vanguard as the essential Evans, but this earlier studio recording is quite a treat as well. David Rickert, All About Jazz

Bill Evans Trio – Explorations (320)
Bill Evans: Piano
Scott LaFaro: Bass
Paul Motian: Drums
Produzido por Orrin Keepnews para a Riverside

download – 118MB

01 Israel (Carisi) 6’10
02 Haunted Heart (Deitz, Dietz, Schwartz) 3’25
03 Beautiful Love [take 2] (H. Gillespie, King, Alstyne, Young) 5’04
04 Beautiful Love [take 1] 6:04
05 Elsa (Zindars) 5’09
06 Nardis (Davis) 5’49
07 How Deep is the Ocean? (Berlin) 3’31
08 I Wish I Knew (Warren, Gordon) 4’39
09 Sweet and Lovely (Arnheim, LeMare, Tobias) 5’52
10 The Boy Next Door (Martin, Blane) 5’06

Boa audição!

Blue Dog

.: interlúdio :. The Cracow Klezmer Band – De Profundis [2000]

Dizem que isso é música Radical da Cultura Judaica. Duvido muito. O radicalismo deles é muito bem comportado. A Cracow Klezmer Band é um quarteto de jovens poloneses de formação clássica que tocam música, digamos, étnica. Seus trabalhos são sobre a música judaica, mas também sobre a dos Bálcãs, a dos ciganos, a do Nuevo Tango, etc. Sim, são esquisitos pacas. Alguma energia — bem menos do que o esperado para quem conhece Bregovic e assemelhados –, longas melodias, ritmo e intrincadas linhas de instrumentos acústicos (2 acordeões, baixo, violino, clarinete e percussão) fazem a música do Klezmer. Vale a pena aventurar-se. Nem que seja para ouvir novos timbres…

:: auf, auf! link revalidado por Blue Dog em nov/2011. o disco é lindo! mais do que klezmer, é uma exploração (até bastante sombria) da música judaica, e cabe perfeitamente na série onde saiu, a Radical Jewish da Tzadik. apesar do que o nome indica, é música exploratória, ô PQP! : D

The Cracow Klezmer Band – De Profundis [2000]
Jaroslaw Tyrala – violin
Jaroslaw Bester – accordion
Oleg Dyyak – accordion, clarinet, percussion
Wojciech Front – double bass

1. Balkan Dance
2. Sher
3. De Profundis
4. Devil Circle
5. Awaiting
6. Aide Jano
7. Secrets of Life

download – 113MB /mediafire [320]

PQP

.: interlúdio – Esbjörn Svensson Trio – Tuesday Wonderland :.

A verdade é que nada – ou quase – de jazz contemporâneo chega aos nossos ouvidos via grande mídia. Por aqui e ali, nos canais independentes, é possível conhecer algo novo; ainda assim, a impressão que se pode ter é que o jazz é um gênero moribundo, que só viverá em discos antigos quando todos os decanos músicos estiverem mortos.

Exceção: Esbjörn Svensson Trio, que conheci em uma resenha em já-não-lembro-qual jornal. A notícia chamava a atenção para o fato de que os suecos do e.s.t. – como é frequentemente abreviado – estavam sendo convidados para tocar em festivais de rock; com sua música, conseguiam aproximar-se de novos e diferentes públicos. De fato, a música do pianista Svensson é repleta de dinâmicas, ou talvez melhor dizendo, uma energia que soa “moderna”; mesmo em faixas mais cool, é possível imaginar os músicos suando bicas e dando sangue em cada apresentação. Não apenas isso, também na abordagem aos instrumentos e gravação – como pedal de distorção no baixo ou pedaços de papel nas cordas do piano. O ouvinte irá encontrar algumas doses de experimentalismo – doses essas muito bem utilizadas, a favor do jazz, ao contrário de enfraquecê-lo. Se não, ouçam a faixa “Brewery of Beggars” e me digam o contrário.

As últimas três perguntas desta entrevista para o All About Jazz mostram bem o que vocês tem diante de si.

AAJ: So I guess you have to balance that, the improvising aspect is strong but you have to have the good tunes.
ES: Yeah, I work very hard on composing music, and I know exactly what you’re saying. Not just music to improvise on, but music that is music in its own right. If it fits, great, you improvise over it. I mean, I don’t have a strategy or anything, I just compose from the heart. I’ve been inspired the last couple of years very much by classical music, and trying to learn as much as I can by the great composers, I mean, Bach, Beethoven, Chopin, Bartok. But then put that in a context for the trio so we can put our stamp on it, improvise a lot but in the general framework of the song itself.

AAJ: Well, it goes back to the division between genres. It used to be said that if it didn’t “swing” it wasn’t jazz. I think that’s not so strong now, because of different rhythms brought in through fusion and also free jazz, which doesn’t swing in an orthodox sense. Now, it seems that the yardstick is just improvisation. If you improvise, it’s jazz, but if not, then…
ES: Yes, but then that’s misguided too, and we can’t forget that lots of pop musicians, they are improvising a lot, and also classical! I mean, Johann Sebastian Bach was supposed to be a fantastic improviser, and much of that church music is based on these long improvisations before you get to the melody. And I mean, all those composers… composing is improvising and improvising is composing. But you’re right, the idea that if you’re improvising, you’re playing jazz… it’s just words.

AAJ: Well, there are Ellington pieces with no improvisation, and even avant garde music, some Anthony Braxton pieces are through-composed.
ES: Yes! We just have to live with these labels… I mean, what we’re doing, if you have to call it something… I guess it’s jazz, but it’s not what jazz was.

Esbjörn Svensson morreu em 2008, aos 44 anos, num acidente estúpido enquanto praticava mergulho.

Esbjörn Svensson Trio – Tuesday Wonderland (VBR)
Esbjörn Svensson: piano
Dan Berglund: bass
Magnus Ostrom: cymbals

download – 97MB
01 Fading Maid Preludium 4’10
02 Tuesday Wonderland 6’30
03 The Goldhearted Miner 4’51
04 Brewery of Beggars 8’22
05 Beggar’s Blanket 2’53
06 Dolores in a Shoestand 8’52
07 Where We Used to Live 4’25
08 Eighthundred Streets by Feet 6’47
09 Goldwrap 3’59
10 Sipping on the Solid Ground 4’32
11 Fading Maid Postludium 5’08

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio: The Many Sides of Toshiko Akiyoshi :.

Confesso: durante muito tempo evitei o jazz. Sentia grande atração pelo estilo – principalmente o veloz virtuosismo do bop – mas temia colocar a primeira pata dentro dessa Caixa de Pandora. Porque talvez mais do que qualquer outro gênero musical (o erudito é um universo à parte), seja impossível ouvi-lo de longe: em sua dualidade, se o jazz não incomoda, apaixona – e exige. Pesquisa, audições pacientes, tempo de maturação. Um labirinto que dura o tempo de uma vida e onde não se procura a saída; apenas os corredores mais ricos e ornamentados. (Um amigo disse certa vez que não existem ouvintes de jazz, apenas colecionadores.)

Hoje já me sinto melhor adaptado, mas voltei àquela sensação ao me deparar com Toshiko Akyoshi num post do excelente Jazzever (a quem desde já agradeço). Toshi de quem? Pianista? Japonesa? Disco de 1957, pela Verve??? Já com os fones nos ouvidos, procuro informações – enquanto uma mistura de Gil Evans e Bud Powell tira litros de swing de seu piano no standard “The Man I Love”:


Akiyoshi nasceu no ano de 1929 em Dairen, na China, mas mudou-se para o Japão em 1946. Ela tocou com Sadao Watanabe e depois de ser encorajada por Oscar Peterson, estudou na Berklee durante 1956-59. Casou-se por um tempo com o sax-altista Charlie Mariano, co-liderando o Toshiko Mariano Quartet no início dos anos sessenta.

Depois de trabalhar com Charles Mingus em 1962, Toshiko ficou no Japão por três anos. De volta a New York em 1965, criou séries musicais em rádio e formou um quarteto com o segundo marido, Lew Tabackin, em 1970. Depois de mudar-se para Los Angeles em 1972, Toshiko Akiyoshi montou uma big band impressionante com excelentes solistas, como Bobby Shew, Gary Foster e Tabackin. Eles gravaram vários álbuns notáveis antes de Akiyoshi decidir em 1981, de retornar a New York. Desde então Akiyoshi e Tabackin têm estado bastante ativos, embora a sua big band tenha recebido menos publicidade do que tinha em L.A. Seu nome está presente entre os melhores arranjadores de jazz nas últimas décadas. clube de jazz

 

Muito prazer, Toshiko. Neste The Many Sides… não notei nada que caracterizasse um toque feminino ao bop de altíssima qualidade, formato trio, que se ouve; como isso não tem qualquer importância, fica apenas a sutil e adorável sensação de mãos delicadas improvisando temas com bastante vigor. E uma espécie de transgressão – uma oriental como bandleader de algo tão enciclopedicamente jazz, um ritmo americano que prescindiu das mulheres desde o fim da Era do Swing e suas vocalistas.

E agora, com uma discografia que inclui mais de 80 itens, para onde vou? Mais uma vez o labirinto do jazz me mostra um corredor gigantesco. Ainda bem que sigo pelo faro e pelo instinto. E claro, pelo prazer. Impossível perder-se.

Toshiko Akiyoshi – The Many Sides of Toshiko [320]
Toshiko Akiyoshi: piano
Jake Hanna: drums
Gene Cherico: bass

download – 89MB
01 The Man I Love (G. Gershwin, I. Gershwin) 5’27
02 Minor Moods (Brown) 4’16
03 After You’ve Gone (Layton, Creamer) 3’35
04 We’ll Be Together Again (Fischer, Laine) 4’29
05 Studio J 3’15
06 Tosh’s Fantasy 9’04
07 Bags’ Groove (Jackson) 6’48
08 Imagination (Van Heusen, Burke) 3’35

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio: Polar Bear – Held in the Tips of Fingers :.

Quando ia escrevendo sobre um som de tempos complexos e classificação desafiadora, que talvez mostrasse um futuro (sonoro) para o jazz, eis que descubro esta resenha:

It is, perhaps, the sound of the future—one of them anyway—and boy, does it work. Basically uncategorisable, Polar Bear reflects the mega-eclectic, post-modern listening tastes of Rochford (who wrote all the tunes) and his colleagues, moving with equal enthusiasm through Björk and Beethoven, Pig Destroyer, Coltrane and his tenor legacy, Monk, Stockhausen and the ghost of Rip Rig & Panic. With some of Kurt Weill’s crudely syncopated, rough edged, fairground-meets-cabaret pit band arranging aesthetic thrown in for good measure.

It is jazz all right, 100% and no mistake, but with bongfuls of left-field electronica and mutant, rocked-up and pfunkified groove spicing the free-improv centred mix. There’s not a lot of concern with harmonic development—hey, the band is led by a drummer, and apart from Jonny Phillips’s guest guitar on “Beartown” there are no chord instruments—but for aberrant and off-centre rhythmic and melodic development you’ve hit the muthalode.

Most excitingly perhaps, Polar Bear has reclaimed the in-the-moment, radical, “out” attitude that jazz pretty much invented, back in the day, and then has progressively lost, at least in some strands, as it has become an increasingly repertory-bound, cautious, and conservative music. Held On The Tips Of Fingers by contrast explodes with passion and exuberance, a hunger for risk and adventure, and full-on and revelling-in-it spontaneity. allaboutjazz

Não, não é o standard-bop do café da manhã; é criativo, improvisativo, e muito interessante. Não é outro estilo onde somou-se jazz; é jazz – tanto que concorreu ao BBC Jazz Award em 2006 – , mas contemporâneo e exploratório. A faixa-título é um primor de beleza e levada cativante. Ousem.

Polar Bear – Held in the Tips of the Fingers (vbr v0)
Sebastian Rochford: drums
Mark Lockheart, Pete Wareham, Ingrid Laubrock: tenor saxophone
Tom Herbert: double bass
Leafcutter John: electronics
Jonny Phillips: guitar
Joe Bentley: trombone
Emma Smith: violin
Hannah Marshall: cello

download – 74MB
01 Was Dreaming You Called You Disappeared I Slept
02 Beartown
03 Fluffy (I Want You)
04 To Touch the Red Brick
05 Held on the Tips of Fingers
06 Argumentative
07 The King Of Aberdeen
08 Your Eyes the Sea
09 Life that Ends Too Soon

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio: Yamandu Costa, Lida :.


Em sua mais recente passagem pelo país, o maestro alemão Kurt Masur apelidou Yamandu Costa de “o Paganini do violão”. O gaúcho de Passo Fundo achou a comparação exagerada e se apressou em dizer que não tinha pacto com o demônio – segundo a lenda, o violinista Niccolà Paganini tinha. Além de ser um magnífico elogio, a alcunha inventada por Masur serviu para ressaltar o vínculo de Yamandu com o universo erudito. No mesmo ano em que estreou sua peça Bachbaridade (uma suíte para violões) no palco do Municipal do Rio de Janeiro, o músico gravou um disco com o sanfoneiro Dominguinhos, talvez o maior expoente vivo do forró. Agora solta mais um álbum – o oitavo da carreira – em que a música regional dá as cartas. (daqui)

 

O disco em questão, Lida, foi lançado em 2007, de forma independente, e está esgotado – como todos os outros de Yamandu. Assim como no Duofel postado há um tempo atrás, este cão se envereda pela seara dos violonistas – que evocam Radamés Gnatalli, Baden Powell e um certo regionalismo que é difícil de encontrar em dose igual à do talento instrumental (ok, não vou falar de Hermeto hoje). O resultado é essa sempre procurada sensação antagônica – de relaxamento cerebral ao mesmo tempo em que ele põe-se louco a decifrar a complexidade do que se ouve. E para mim, pouco brilho pode ser maior que este, em que uma trama tão desafiadora dá forma a algo tão belo quanto simples. A isso rotulam “genial”, e eu concordo meneando a cabeça, em respeitoso silêncio.

Yamandu Costa – Lida (320)
Yamandu Costa: violão de 7 cordas
Guto Wirtti: baixo acústico
Nicolas Krassik: violino

download – 83MB
01 Baionga
02 Missionerita
03 Dayanna
04 Lida
05 Ana Terra
06 Bem Baguala
07 Brincante
08 Adentro
09 Encerdando
10 Ventos dos Mortos

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio: Return to Forever (Returns) :.

Que tal um lançamento, pra variar? Esse recém-chegado, duplo ao vivo, do Return to Forever registra a turnê mundial que a banda fez no ano passado, lotando plateias por onde passou. Com o line-up clássico de Corea, Clarke, DiMeola e Lenny White, as gravações mostram estes senhores dividindo-se em passagens de quase-inacreditável perícia e a grande energia progressiva do fusion. John Kelman, do allaboutjazz, indica os destaques:

Stretched to 38 minutes, the title track from Romantic Warrior includes solo features from Corea (which breaks, midway, into an unexpected, hard-swinging version of Miles Davis’ “Solar”), Clarke (referencing some of his own ’70s solo albums) and White (a powerhouse solo that segues smoothly back to the song). It’s part of an unplugged middle section that also includes a stunning feature for Di Meola and a vibrant group take of the lyrical but thematically knotty title track from No Mystery (Polydor, 1975). Seventies RTF never sounded this good.

But it’s the electric RTF that is remembered most, and Returns delivers plenty of high octane playing, especially on a 27-minute “Song to the Pharoah Kings,” from Where Have I Known You Before (Polydor, 1974). Often criticized for being more style than substance, Di Meola dispels that perception once and for all throughout the set, even supplanting original RTF guitarist Bill Connors’ iconic solo on “Hymn of the Seventh Galaxy.” Still capable of light-speed finger work that leaves most in his wake, Di Meola has grown significantly since being recruited, at 19, to replace Connors. With greater harmonic sophistication and attention to space, he’s the star of the show (among a group of stars) alongside Corea, whose meatier synth tones have never sounded better, adding a broader textural palette to the group.

Return to Forever – Returns (VBR HQ)
Chick Corea: piano
Stanley Clarke: bass
Al Di Meola: guitar
Lenny White: drums

download: disco 1 – 110MB e disco 2 – 105MB
1.01 Opening Prayer
1.02 Hymn of the Seventh Galaxy
1.03 Vulcan Worlds
1.04 Sorceress
1.05 Song to the Pharoah Kings
1.06 Al’s Solo
1.07 No Mystery
2.01 Friendship
2.02 Romantic Warrior
2.03 El Bayo de Negro
2.04 Lineage
2.05 Romantic Warrior (continued)
2.06 Duel of the Jester and the Tyrant
2.07 500 Miles High
2.08 BBC Lifetime Achievement Award to Return to Forever as presented by Sir George Martin, including a performance of Romantic Warrior

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio: Sun Ra live at the Gibus :.

Esta é uma postagem para ouvidos ousados. Sun Ra, o controverso anjo de Saturno, é conhecido por extrapolar os limites do free jazz e associá-lo a mitologias e cosmogonias. Em um registro ao vivo como esse de 1973, pode-se imaginar a que altura voa.

The best way to describe this music is to say it is out there on the fringes of all that has ever made any sense in recorded music, particularly jazz. There really is no other way to attempt to come up with something that makes sense. Sun Ra was a pioneer in every sense of the word. He was one of the very first to take free form jazz and make it more spacey and adventurous by experimenting with electronics and such.

Live In Paris At The “Gibus” stands as a live recorded document to the Sun Ra musical genius and his avant-garde approach to jazz. He effectively used the ability and styles of the genre and all its flexibility. (daqui)

Sun Ra – Live In Paris At The “Gibus” (320)
Confira a extensa ficha técnica aqui

download – 98MB
01 Spontaneous Simplicity 4′
02 Lights on a Satellite 5’25
03 Ombre Monde 2 12’15
04 King Porter Stomp 2’50
05 Salutations From The Universe 14’53
06 Calling Planet Earth 1’22

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio: Sonny Criss plays Cole Porter :.

Sonny Criss Plays Cole Porter (320)
Sonny Criss: alto sax
Larry Bunker: vibraphone
Sonny Clark: piano
Buddy Clark: bass
Lawrence Marable: drums

download – 80MB
01 I Love You
02 Anything Goes
03 Easy to Love
04 It’s All Right With Me
05 In the Still of the Night
06 Love for Sale
07 Night and Day
08 Just One of Those Things
09 What Is This Thing Called Love?
10 I Get a Kick Out of You

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :. Miles Davis: Someday my Prince will come (1961)

Jazz waltzes were still fairly rare back in 1961, and Paul Chambers’ pedal point intro keeps the meter a mystery during the opening seconds. Cobb is part of the conspiracy, and refuses to signal the downbeat, while Wynton Kelly floats over their throbbing pulse. These opening feints — forty seconds of sweetness and light — are worth the price of admission alone . . . but then Miles enters and shows how he can put his stamp on a song just by playing the melody. His solo is a minimalist canvas, perfectly matched by Kelly’s crisp comping. The swing gets stronger with Mobley’s tenor and during Kelly’s solo, but when Coltrane enters with his “sheets of sound” the temperature in the studio rises at least ten degrees. The handsome prince has arrived on a Harley, ready to burn rubber. But Chambers rushes back like a protective dueña, instilling decorum with his pedal point, and this magical performance makes a complete circle back to its starting point. What a ride! (jazz.com)

Este é um disco que, talvez injustamente, ficou marcado pela faixa-título – onde, como se não bastasse o arranjo brilhante, ainda se ouve dois solos grandiosos de Coltrane. Someday My Prince Will Come é também um período de trasição para Miles: gravado em três sessões, entre 7 e 21 de março de 1961, marcava a saída de Kind of Blue para um período de diversidade de estilos, até fixar-se nas bandas do fusion ao final daquela década. Se, por um lado, foi brilhante revendo uma valsa, as composições de Miles são, na verdade, o melhor neste álbum. Há cool jazz uptempo em “Pfrancing”, há (um adequadíssimo) blues em “Drad Dog”, e outra show de Trane em “Teo”, homenagem ao produtor e amigo. Exige do ouvinte, apenas, paciência com Hank Mobley; essas faixas seriam as últimas que Coltrane gravaria com Davis, e o “peso-médio” Mobley (nas palavras do All About Jazz), se não compromete, é prejudicado pelo desnível imediato que a assinatura sonora de Coltrane traz quando entra em campo.

Não se pode culpar Mobley, claro.

Quanto à moça da capa, uma curiosidade pessoal antiga, não encontrei nenhuma informação – a não ser que Miles condicionou o lançamento do álbum à obrigatoriedade de sua foto na fronte. Fico imaginando Miles atrás do fotógrafo, talvez um meio sorriso, amarrando com um pouco de autobiografia outro de seus grandes trabalhos.

Miles Davis – Someday My Prince Will Come (320)
01 Someday My Prince Will Come (Churchill, Morey) 9’04
02 Old Folks (Robison, Hill) 5’14
03 Pfrancing (Davis) 8’31
04 Drad Dog (Davis) 4’29
05 Teo (Davis) 9’34
06 I Thought About You (Van Heusen, Mercer) 4’53
07 Blues No. 2 (Davis) 7’08
08 Someday My Prince Will Come [alt take] 5’34

Miles Davis: trumpete
Hank Mobley: sax tenor (exceto faixa 5)
John Coltrane: sax tenor (faixas 1 e 5)
Wynton Kelly: piano
Paul Chambers: baixo
Jimmy Cobb: bateria (exceto faixa 7)
Philly Joe Jones: bateria (faixa 7)
Gravado em março de 1961 – New York City, USA
Produzido por Teo Macero para a Columbia

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320 kbps)

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :.

Confesso que sei muito pouco sobre Wayne Shorter. Sei que nasceu nos anos 30 e ainda está vivo, o que é sempre bom; que tocou naquele quinteto mágico de Miles Davis, no final da década de 50; que é um excelente compositor, além de um grande saxofonista. Este “Night Dreamer”, de 1964, é apontado pelos críticos como um momento de transição entre o bop direto que fazia e sua ascensão como compositor. Descobri o disco recentemente e compartilho-o ainda fresco nos ouvidos. É grandioso e relaxante. Aproveitem.

Wayne Shorter – Night Dreamer (256)
Wayne Shorter: tenor saxophone, compositions
Lee Morgan: trumpet
McCoy Tyner, piano
Reggie Workman: bass
Elvin Jones: drums
Produzido por Alfred Lion para a Blue Note

download – 88MB
01 Night Dreamer 7’15
02 Oriental Folk Song 6’51
03 Virgo 7’07
04 Black Nile 6’28
05 Charcoal Blues 6’54
06 Armageddon 6’23
07 Virgo [alt. take] 7’03

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :.

Dezembro segue veloz e estamos atrasados para nossa programação jazzística natalina!

Não, não pensem que este cão está de touca vermelha e guizos na cauda a esperar o Papai Noel; não sou um grande fã do natal, e inclusive compartilho a orientação religiosa de nosso célebre PQP. Mas a verdade é que este é o único período do ano em que se pode escutar tais discos sem uma sensação estrondosa de deslocamento invadindo cada frase.

E, claro, há muito o que ouvir. No ano passado, postei os hors-concours Chet Baker & Christopher Mason Quartet – Silent Night e Vince Guaraldi Trio – A Charlie Brown Christmas; retomo a série no mesmo tom, com uma trinca de ases. Logo abaixo vocês verão, e talvez ouvirão, Dave Brubeck sozinho ao piano, como um velho Scrooge às avessas, solitário mas benevolente; Louis Armstrong dividindo o estúdio com músicos diversos, numa viagem por sua discografia; e Ella Fitzgerald, bem, fazendo o que sempre fez com maestria, em uma sessão monotemática de 1960, no auge de sua voz.

Tem mais; meia dúzia de outros bons discos devem pintar por aqui até o dia 25. E mesmo que você não goste muito da ocasião, aconselho a baixar e gravar um (uns) preferidos em CD. É sempre uma ótima saída se a festa for na casa do seu cunhado e ele surgir com o disco natalino da Simone ou do Chitãoró e Xorozinho.


Dave Brubeck – A Dave Brubeck Christmas (224)
Dave Brubeck: piano
Produzido por John Synder e Russell Gloyd para a Telarc (1996)
download – 93MB
01 “Homecoming” Jingle Bells 3’22
02 Santa Claus Is Coming to Town 3’42
03 Joy to the World 2’55
04 Away in a Manger 5’06
05 Winter Wonderland 4’22
06 O Little Town of Bethlehem 5’37
07 What Child Is This? (Greensleeves) 3’30
08 To Us Is Given 3’36
09 O Tannenbaum 3’38
10 Silent Night 4’56
11 Cantos Para Pedir las Posadas 4’01
12 Run, Run, Run to Bethlehem 3’51
13 “Farewell” Jingle Bells 3’02
14 The Christmas Song 4’29


Ella Fitzgerald – Wishes you a Swingin’ Christmas (256)
Produzido por Norman Granz para a Verve (1960)
Ella Fitzgerald: vocals
Frank DeVol: arranger, conductor

download – 64MB
01 Jingle Bells 2’21
02 Santa Claus Is Coming to Town 2’56
03 Have Yourself a Merry Little Christmas 2’56
04 What Are You Doing New Year’s Eve? 3’32
05 Sleigh Ride 2’56
06 The Christmas Song 3’00
07 Good Morning Blues 3’15
08 Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow! 2’43
09 Winter Wonderland 2’16
10 Rudolph the Red-Nosed Reindeer 2’51
11 Frosty the Snowman 2’12
12 White Christmas 3’02


Louis Armstrong & Friends – The Christmas Collection (224)
Compilado em 1997 por Andy McKaye para a Hip-O

download – 63MB
01 White Christmas (with Gordon Jenkins & His Orchestra) 2’39
02 ‘Zat you Santa Claus? (with The Commanders) 2’40
03 Christmas in New Orleans (with Benny Carter & His Orchestra) 2’54
04 Christmas Night in Harlem (with Benny Carter & His Orchestra) 2’39
05 Cool Yule (with The Commanders) 2’56
06 Winter Wonderland (with Gordon Jenkins & His Orchestra) 2’59
07 It’s Christmas Time Again (with Peggy Lee/Jud Conlon Rhythmaires) 3’00
08 Jingle Bells (with Duke Ellington & His Orchestra) 3’00
09 Santa Baby (with Eartha Kitt/Henri Rene & His Orchestra) 3’26
10 The Christmas Song (with Mel Tormé) 3’03
11 Silent Night (Dinah Washington) 2’22
12 Merry Christmas, Baby (with Lionel Hampton) 3’22
13 May Every Day be Christmas (with Louis Jordan & His Orchestra) 3’11
14 Santa Claus is Coming to Town (with Lena Horne) 2’43

Boa audição!
Blue Dog

.: interlúdio :. Backhand – Keith Jarrett

Acho que a gente pode resumir a carreira de Keith Jarrett desta maneira: início fulgurante com Miles Davis, fundação de seu “quarteto americano”, três anos de gravações na Impulse, ida para a ECM, muitos discos com o “quarteto americano”, fundação e mais CDs com o “quarteto escandinavo”, álbuns solo aos montes, música erudita — basicamente Bach — tocando cravo, fundação do trio com Peacock e De Johnette, O Cravo Bem Temperado, CDs do trio aos montes, mais álbuns solo e doença.

É uma ironia especialmente trágica — um pianista que, aos 51 anos, tinha centenas de discos gravados e que estudava música erudita, ou seja, alguém que trabalhava muito –, tivesse caído vítima da Síndrome de Fadiga Crônica, doença que o fez primeiramente fazer um esforço notável para tocar e que depois retirou-o dos palcos e das gravações. Hoje, Jarrett toca e grava pouco, ainda em luta contra a doença. Mas… há um CD para ser lançado com Concertos para Piano e Orquestra de Mozart. Torço muito por Jarrett, claro. Um troço desses devia acontecer com o Bush, sei lá, não com cara meio amalucado mas produtivo no melhor sentido.

Este CD é do Jarrett inicial, pré-ECM. É um CD meio selvagem que conta com o “quarteto americano” + o percussionista Guilhermo Franco devidamemente endiabrados. Destaque para Inflight e Backhand.

Backhand

1. Inflight
2. Kuum
3. Vapallia
4. Backhand
5. Victoria

Keith Jarrett (piano, flute, drums)
Dewey Redman (tenor sax, musette, maracas)
Charlie Haden (accoustic bass)
Paul Motian (drums, percussion)
Guilhermo Franco (percussion)

Atlantic Recording Studios, NYC, October 9-10, 1974
Tony May (sound engineer)
Ed Michel (producer)
Impulse AS-9305

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

PQP

.: interlúdio :.

11 de setembro é um dia de tristeza, perda.

Ora, faz um ano que Joe Zawinul nos deixou.

Já citei diversas vezes aqui no blog o apreço que tenho pelo pianista austríaco, sempre com seu respeitável bigodão. Não apenas eu; Zowy ganhou mais de 30 (sim, trinta) vezes o prêmio de ‘best keyboardist’ dos críticos da DownBeat. Um dos mais queridos músicos do jazz e muitas vezes homenageado com músicas por seus pares, militou em diversas frentes de vanguarda do jazz – incluindo vários sabores de bop, fusion (o seu Weather Report será sempre a referência) e também third stream, que é o disco desta postagem.

Também já falamos sobre third stream aqui, na postagem do Modern Jazz Quartet. E como é complexo definir esse desejado ponto de encontro entre música clássica e jazz, que o criador do termo diga o que não é:

It is not jazz with strings.
It is not jazz played on ‘classical’ instruments.
It is not classical music played by jazz players.
It is not inserting a bit of Ravel or Schoenberg between be-bop changes–nor the reverse.
It is not jazz in fugal form.
It is not a fugue played by jazz players.
It is not designed to do away with jazz or classical music.

Este Rise and Fall of the Third Stream foi gravado em 1965, durante a passagem de Zawinul pelo quinteto de Cannonball, e antes de seu encontro definitivo com o fusion – nas gravações com Miles a partir de 69. Lançado pela pequena Vortex, é sua segunda gravação como líder. Sua saída para contar a história do third stream foi aliar-se a William Fischer, maestro, arranjador e compositor. Fischer trouxe, além das composições, uma pequena seção de cordas para somar à jazz band, e o resultado é sublime. Música clássica? Eu não saberia dizer onde. Ouve-se jazz modal; sem a presença de temas, é verdade. Há poucos improvisos, e a maior parte das canções foi escrita; mas eles existem. Em muitos momentos até lembra o free jazz, em outras o cool, e também se ouve o elec piano que se tornou marca registrada da sonoridade de Zawinul (especialmente em “The Soul of a Village” – que, atentem, tem as duas partes unidas no mp3 trazido aqui). E o swing afro/black que o tornou famoso.

Rótulos à parte, temos aqui um gênio em formação, experimentando formatos e a si mesmo. Jamais deixaria de ser inquieto, até que um raro câncer de pele o impedisse de tocar. Apreciem. Zowy fazia música longa vida.

Joe Zawinul – The Rise and Fall of the Third Stream (256)
Joe Zawinul: piano, electric piano
William Fischer: tenor sax, arrangements
Jimmy Owens: trumpet
Alfred Brown, Selwart Clarke, Theodore Israel: violins
Kermit Moore: cello
Richard Davis: bass
Roy McCurdy, Freddie Waits: drums
Warren Smith: percussion

download aqui – 67MB
01 Baptismal (Fischer) 7’37
02 The Soul of a Village Part I (Fischer) 2’13
03 The Soul of a Village Part II (Fischer) 4’12
04 The Fifth Canto (Fischer) 6’55
05 From Vienna, With Love (Gulda) 4’27
06 Lord, Lord, Lord” (Fischer) 3’55
07 A Concerto, Retitled (Fischer) 5’30

Boa audição!

Blue Dog

.: interlúdio :.

Antes de ser um músico de sucesso, Wes Montgomery cansou das turnês mal-pagas com Lionel Hampton e voltou para casa, em Indianapolis. Era um jovem, tinha 25 anos, sentia falta da família (e provavelmente não se divertia muito na estrada). Preferiu o dia-a-dia numa fábrica, pegando no batente às 7h, mais um turno extendido nos clubes locais – tocando até as 2h para ajudar no sustento das oito pessoas da família. Isso durou de 1950 até 57, quando Cannonball Adderley esteve na cidade, viu Wes tocando e praticamente forçou o produtor Orrin Keepnews a dá-lo um contrato com a Riverside.

Há de se amar não apenas o jazz, mas também suas histórias entrelaçadas.

Enquanto preparava o material para a Riverside, Wes gravou com seus irmãos, o baixista Monk e o vibrafonista Buddy. Monk, o mais velho dos irmãos, tocou com Wes no grupo de Hampton e seguiu caminhos diversos pelo jazz, até formar o Mastersounds em 1957. Nesse mesmo ano recebeu Buddy, o caçula, que voltava do exército. Wes estava na cidade, e a Pacific Jazz resolveu bancar uma sessão entre os Montgomery. O líder foi o vibrafonista, que inclusive levou quatro temas. O som aqui é o hard bop de enciclopédia, ou seja, ouvimos Wes integrado à banda, e não como voz principal, o que ocorreria a partir das gravações seguintes. Mas seu estilo pode ser facilmente reconhecido na faixa-título, composição sua, onde a técnica monstruosa já se aninha do feeling lendário do guitarrista.

E não apenas na sonoridade – também os créditos do sucesso se dividem entre o trio. Monk é um baixista ágil e seguro, e Buddy é um excelente vibrafonista. Ainda, como atração à parte, a sessão também marca a primeira gravação do talentoso e promissor Freddie Hubbard – então com apenas 17 anos. A gravação, de 30/12/1957, acaba na faixa sete; as três últimas são do musical Kismet, de 1953, que contou com o clã Montgomery e foi incluída na reedição em CD deste disco.

Wes Montgomery – Fingerpickin’ (128)
Wes Montgomery: guitar
Wayman Atkinson, Alonzo Johnson*: tenor saxophone
Freddie Hubbard: trumpet
Buddy Montgomery: vibraphone
Joe Bradley, Richie Crabtree*: piano
Monk Montgomery: electric bass
Paul Parker, Benny Barth*: drums

Produzido por Richard Bock para a Pacific Jazz

download – 52MB
01 Sound Carrier (B. Montgomery) 6’55
02 Bud’s Beaux Arts (B. Montgomery) 7’33
03 Bock To Bock (B. Montgomery) 10’07
04 Billie’s Bounce (Parker) 4’42
05 Lois Ann (B. Montgomery) 4’45
06 All The Things You Are (Hammerstein, Kern) 3’59
07 Finger Pickin’ (W. Montgomery) 2’32
08 Stranger In Paradise* (Borodin, Forrest, Wright) 4’55
09 Baubles, Bangles And Beads* (Forrest, Wright) 3’30
10 Not Since Nineveh* (Borodin, Forrest, Wright) 7’24

Boa audição!

BD

.: interlúdio :.

Correndo e desastrado, trouxe o disco – mas não o texto. Peço licença e copio Larry Konigsberg, do All About Jazz – contrariando-o apenas no fato de que a faixa mais sensacional deste álbum é John’s Abbey, e tenho dito.


In one of their last performances before Jarrett’s illness took him from his public, his Standards Trio plays a typically inventive set of interpretations of tunes of former or perennial popularity, a Charlie Parker blues (”Billie’s bounce”) and a Bud Powell tune out of “I’ve got rhythm” (”John’s abbey”). Jarrett also gets credit for two compositions (”Caribbean sky” and “Song”), dignifying the vamps which conclude their associated standards with titles, and, no doubt, composer’s royalties. Throughout, Jarrett alternates sensitivity with flair, literally as he alternates ballads with up-tempo performances. It’s evident that his many years leading this group have not diminished his enthusiasm for either its format or its repertoire. The Tokyo audience is likewise appreciative.
I only found one track really galvanizing, though. The trio’s playing on “I’ll remember April” is spectacular, with DeJohnette cooking up a spectacular near-samba under Jarrett’s ringing gospel chords. A whole concert of such excitement would restore the Standards Trio to an eminence in this reviewer’s humble opinion which it enjoys among the more committed members of its audience. There’s nothing to complain about in any of the date, to be sure.
Knowledgeable fans will be interested to learn that Jarrett’s invariable vocalizations are here only intermittent and not generally obtrusive. For the rest, let it be said that the trio maintains its reputation as a consistently satisfying performing group.

 

Keith Jarrett, Gary Peacock, Jack DeJohnette – Tokyo ’96
Keith Jarrett: piano
Gary Peacock: bass
Jack DeJohnette: drums
Produzido por Manfred Eicher para a ECM

download – 70MB
01 It Could Happen to You
02 Never Let me Go
03 Billie’s Bounce
04 Summer Night
05 I’ll Remember April
06 Mona Lisa
07 Autumn Leaves
08 Last Night When We Were Young/Caribbean Sky
09 John’s Abbey
10 My Funny Valentine/Song

Boa audição!

.: interlúdio anexo, sobre Kind of Blue :.

Eu, também responsável, não poderia deixar postagem de tal monta (veja abaixo) passar sem oferecer alguma informação. Pois trabalho em conjunto com FDP e trago um pouco de literatura e um punhado de dados para enriquecer a experiência de novatos e veteranos.

Kind Of Blue

 

Kind of Blue em tópicos rápidos
• Gravado em 22 de março (lado A, as três primeiras faixas) e 09 de abril de 1959 (lado B)
• Lançado em 17 de agosto daquele mesmo ano
• O álbum mais vendido da história do jazz
• E um dos mais importantes e influenciais de toda a música
• Nasceu do esgotamento do bebop diante da criatividade de Miles
• E do seu encontro com um livro chamado Lydian Chromatic Concept of Tonal Organization
• Kind of Blue, em termos de composição, foi precedido pela faixa Milestones, do disco homônimo de 58
• Marca o surgimento do jazz modal – baseado em escalas, ao invés de acordes
• E disso, um retorno à melodia, ao invés do duo técnica + velocidade do bebop
• É um disco que flui fácil nos ouvidos à primeira audição; na segunda, se percebe a enorme complexidade dos temas
• Gênio? disse Bill Evans: “Miles conceived these settings (as escalas) only hours before the recording dates.

“So What” consists of a mode based on two scales: sixteen measures of the first, followed by eight measures of the second, and then eight again of the first. “Freddie Freeloader” is a standard twelve bar blues form. “Blue in Green” consists of a ten-measure cycle following a short four-measure introduction. “All Blues” is a twelve bar blues form in 6/8 time. “Flamenco Sketches” consists of five scales, each to be played “as long as the soloist wishes until he has completed the series”.

• Evidentemente, a banda também não sabia quase nada sobre o que gravaria ao chegar no estúdio
• Wynton Kelly, que havia substituído Bill Evans há pouco no grupo de Davis, toca apenas “Freddie Freeloader”
• E Cannonball Adderley não participa de “Blue in Green”
• Sobre a obra, definiu Chick Corea: “It’s one thing to just play a tune, or play a program of music, but it’s another thing to practically create a new language of music, which is what Kind of Blue did.”

Este cão, que não sabe contar – e muito menos entende de teoria musical – apenas esmigalha informação disponível, e lembranças, para os leitores. Assim como não esquece da melhor crônica que já leu sobre Kind of Blue, escrita no blog de Rafael Galvão – e compartilha. Inadvertidamente, a copio abaixo. É também resenha do livro de Ashley Kahn sobre Kind of Blue. Leiam logo, antes que ele descubra.

 

Kind of Blue
Oct 5th, 2007 por Rafael Galvão

Há algo de desgraçado no jazz. Algo que faz com que ninguém o ouça impunemente, que condena aquele que o conhece a nunca mais conseguir voltar atrás, a nunca mais se contentar de verdade com menos que aquilo; algo que eleva, para sempre, os padrões pelos quais se julga a música, qualquer tipo de música, não apenas a popular.

É difícil, para aquele que ouve o trumpete de Louis Armstrong, ouvir qualquer outra música com trumpete e não exigir que tenha a mesma qualidade, a mesma qualidade dramática, a mesma síncope, o mesmo swing — em última instância, as mesmas notas altas e desesperadas. E isso vale também para o piano, para o trombone, para o saxofone. É no jazz que a banda de música tradicional atinge o ápice, que eleva a arte de tocar esses instrumentos à perfeição.

O jazz é a forma superior de música popular. É o que de melhor fez um século que viu a música erudita se diluir em redundâncias medíocres como as trilhas para cinema ou grandes vazios como a música experimental, e que teve como principal trilha sonora o rock e o pop, galhos menos floridos do mesmo tronco que gerou o jazz.

E Kind of Blue, disco de Miles Davis, é a forma superior de jazz. Nunca mais o jazz atingiria um ponto semelhante, de perfeição quase absoluta. Foi ali, em um disco com a participação de mestres como John Coltrane e Bill Evans, gravado em duas sessões, com o primeiro take sendo o que valia, que o jazz atingiu a perfeição. Kind of Blue é um desses discos fundamentais por uma razão: é perfeito. Das notas iniciais de So What à última nota de All Blues, o que se tem não é a apenas a obra-prima do que chamavam jazz modal; é uma síntese de tudo o que o jazz tinha feito até aquele momento, do dixieland ao bebop: é a música popular elevada ao nível máximo que ela pode alcançar, quase ao nível da música erudita tradicional.

Embora tenham sido Louis Armstrong e Duke Ellington a dar ao jazz o status de arte, foi aquela geração — Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Miles Davis e John Coltrane, pela ordem — que elevou o jazz ao ponto máximo da música ocidental. Uma geração ambiciosa, consistente, que explodia os limites da música e apontava uma infinidade de caminhos ao mesmo tempo em que solidificava, com um talento nunca mais igualado, uma tradição de 50 anos de jazz. Infelizmente, quase na mesma época surgiria Ornette Coleman com uma nova mudança, e a porteira seria aberta para bobagens como free jazz e fusion; mas isso não importa. Ouve Ornette Coleman quem quer e quem gosta. O importante, mesmo, é que há um disco que explica, sem sequer uma palavra, o que é o jazz, que concentra em cinco faixas cinqüenta anos do mais assombroso gênero musical que o século XX criou. E esse disco é Kind of Blue.

A Barracuda, do Freddy Bilyk, lançou no começo deste ano um livro que conta a saga desse disco: “Kind of Blue — A história da obra prima de Miles Davis“, de Ashley Kahn, conta a história desse disco de maneira inteligente e simples. Contextualiza o disco em sua época e nas trajetórias de seus músicos, sem perder tempo com fofocas e explorações sensacionalistas ou simplesmente mundanas de detalhes pouco importantes, como os problemas com drogas que praticamente todos eles enfrentaram.

Kahn mostra o processo de criação das músicas, explicando a razão de cada termo utilizado com clareza e simplicidade notáveis. Detalha cada sessão, e explica cada música de um jeito simples mas completo. Explica por que o disco foi tão importante. E explora o legado de um álbum que foi recebido sem tanta euforia, mas que aos poucos se consolidou como o disco mais importante da história do jazz.

A importância de Miles Davis pode ser medida pelo que ele disse em um jantar na Casa Branca. Naquela ocasião, ele não mentiu. E Kind of Blue foi uma dessas revoluções. Talvez não tão importante, do ponto de vista “revolucionário”, quanto Birth of Cool; mas um disco estupidamente superior.

Por explorar com simplicidade um assunto tão fascinante mas ao mesmo tempo tão complexo, “Kind of Blue” é um daqueles livros indispensáveis para quem gosta de jazz, mas também para músicos que querem saber como pode funcionar uma sessão de gravação. É importante, também, para compositores que buscam densidade em seu processo criativo.

Há alguns anos, a Gabi me convidou para escrever uma coluna sobre jazz no site da Antena 1. A resposta foi a costumeira, uma recusa, mas dessa vez não foi apenas pela falta de tempo crônica: eu sabia que jamais poderia escrever sobre jazz porque isso requer uma erudição que eu, definitivamente, não tenho. Palavras e expressões como diatônica, escala cromática, modalismo não fazem parte do meu vocabulário habitual. E ler “Kind of Blue” me deixou com a certeza de que eu estava certíssimo ao dizer não. Mas, ainda mais que isso, me deu o conforto de saber que um sujeito como Ashley Kahn pode tornar essas palavras difíceis compreensíveis até para mim.

 

.: interlúdio :.

Hesitei quase a semana inteira para postar este álbum. Já havia subido o arquivo há alguns dias, e eu pensando, será que não vou arranjar briga com os leitores mais conservadores do blog? Será que PQP, FDP e CDF não irão me botar pra dormir na rua, enquanto Clara joga no lixo todos os meus brinquedos – entre eles o meu fone de ouvido de mascar que eu tanto gosto?

Ora, também não haverá de ser para tanto. É sexta-feira, e este é um disco de sextas-feiras. Leve e bem-humorado, simples aos ouvidos, harmônico e, como eu, bem-intencionado.

Quase todo mundo conhece Björk – se não pela voz, pelas esquisitices que comete em nome de sua música e imagem avant-garde. O que quase todo mundo ignora, porém, é que antes mesmo de lançar-se em carreira solo, a pequena islandesa de voz gigante gravou um disco de standards de jazz. Islandeses, no caso.

O ano era 1990, e o Tríó Guðmundar Ingólfssonar foi incumbido de gravar um disco-memória do jazz local. Sendo uma formação econômica, precisariam de uma voz para a empreitada. O octogenário baterista Steingrímsson lembrou então da garota de 16 anos que vivia zanzando pelos corredores da rádio (onde mantinham há muito um programa ao vivo), apaixonada por jazz, e que estava sempre em bandas malucas de rock. Björk – a essas alturas, com 24 de idade – topou na hora, e foi a responsável por criar o setlist. Além das canções locais, alguns temas internacionais – como “I Can’t Help Loving that Man”, “Ruby Baby” e “You Can’t Get A Man With A Gun” (aqui traduzida para “Það Sést ekki Sætari Mey”). Daí já se pode notar a tônica: jazz-pop dos anos 50. É disco de platina e, mais que amor de verão, durou excursões até 1992 – quando Steingrímsson morreu.

Às vezes easy-listening, noutras dançante; singelo e honesto álbum, onde, é claro, a voz de Björk reina com descontração. Vai bem com vinho branco e sorrisos.

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Björk Guðmundsdóttir & Tríó Guðmundar Ingólfssonar: Gling-Gló (224)
Björk Guðmundsdóttir: voice
Guðmundur Ingólfsson: piano, tambourine
Guðmundur Steingrímsson: drums, maracas, christmas bells
Þórður Högnason: bass

Produzido por Tómas Tómasson para a Smekkleysa

download – 90MB
01 Gling gló 2’44
02 Luktar-Gvendur 4’05
03 Kata Rokkar 2’56
04 Pabbi Minn 2’44
05 Brestir og Brak 3’23
06 Ástartröfrar 2’43
07 Bella símamær 4’00
08 Litli tónlistarmaðurinn 3’23
09 Það Sést ekki Sætari Mey 4’00
10 Bílavísur 2’38
11 Tondeleyo 3’29
12 Ég Veit ei Hvað Skal Segja 3’03
13 Í dansi með þér 2’26
14 Börnin við Tjörnina 2’46
15 Ruby Baby 4’00
16 I Can’t Help Loving That Man 3’40

Boa audição!

.: interlúdio :.

Este cão ficou feliz ao ver a postagem recente de FDP Bach, trazendo o Concierto de Aranjuez de Joaquin Rodrigo. Não só pela oportunidade de escutar uma versão fiel da peça, como também por ver aberta a brecha para postar a leitura que Miles Davis e Gil Evans realizaram 21 anos depois.

Historinha: 1959, Davis havia acabado de gravar “Kind of Blue” e dispensado Coltrane e Adderley da banda. Naquele ano, conheceu o Concierto na casa de um amigo baixista. Apaixonou-se e juntou esforços pela terceira vez com Gil Evans (já haviam colaborado em “Miles Ahead”/1957 e “Porgy and Bess”/58) para realizar uma adaptação e compor faixas em torno do tema espanhol. O resultado é uma obra de arte ao mesmo tempo popular e moderna. Mas que foi rejeitada por alguns críticos – que perguntavam isso é jazz? …ao que Miles respondeu: é música, e eu gosto. E eu também. Não só da peça principal – mas também faixas como Saeta, um solo absolutamente fantástico de Davis, e o balé sincopado de Manuel de Falla, Will o’ the Wisp, que é uma das minhas canções favoritas de jazz de todos os tempos. Às vezes deixo a faixa rodando no repeat várias e várias vezes, sonhando com uma gravação ao vivo com jams e 23 minutos de duração. (Há algo de mim que se sente visceralmente atraído pela simplicidade e afetividade hipnótica de balés e valsas, vou descobrindo aos poucos; colecionando esta faixa, e “My Favourite Things” de Coltrane, e “The Black Priest and the Sinner Lady” de Mingus…)

Atmosférico e acessível, este é também um grande álbum para congregar novos ouvidos. Portanto, mesmo que o amigo leitor seja avesso ao jazz, eis uma boa nova oportunidade. Ouça com carinho, que ele retornará. Os arquivos são independentes e em 320k, respeitando a excelente remasterização da edição apresentada aqui – com três faixas bônus, sendo duas delas um take alternativo do Concierto.

Antes da ficha técnica e dos links, uma análise mais criteriosa da peça e sua polêmica – Joaquin Rodrigo teria detestado a adaptação – encontrada na Amazon, para aqueles que quiserem um comparativo entre original e versão.

Sketches of Spain has its genesis in the slow movement of the Rodrigo Concierto di Aranjuez, one of the most beloved pieces of classical music out of Spain. Both Miles and Gil Evans were taken with the piece when they were introduced to it and it forms the centerpiece of the album, and the number that seems to register the greatest number of complaints. Purists in the classical world dislike it’s fast and loose treatment of the original work, and in fact, Rodrigo was on record as detesting the final product. And jazz musicians felt the work to be pretentious, with not enough room for Miles to solo, and not enough out and out swing. There was also a feeling that the work was just blatantly copied from it’s origins and that any brilliance in the work was due to Rodrigo, not to Evans.

A careful hearing, especially a side-by-side comparison with the original Concierto, can dispel much of the criticism of this work. Evans does not merely imitate the piece; he imaginatively rethinks it for wind ensemble. Instead of the spare English Horn and strings with which Rodrigo opens the work, Evans creates a shimmering bed of castanets and harp, over which he layers low flutes and French horns an muted brass, moving in a dense carpet of parallel fourths. While the main points of the original form are followed, with Miles taking mostly the guitar parts, there are many sections that illustrate the genius of Evans, the arranger. Particularly impressive is Evans rethinking of the guitar cadenzas. For the first cadenza Evans contrasts Miles in his dark low register, with beautifully balanced chords in the flutes and low brass, characterized by unusual voicings that include tense dissonances at the top of the chord. Also stunning is the original section that Evans uses to replace the second cadenza. The bass begins an understated vamp. Miles solos over it with his typical cool understatement and the orchestra builds to the climax of the work.

Sketches Of Spain Miles Davis

Miles Davis – Sketches of Spain (320)
Arranjado e conduzido por Gil Evans
Produzido por Teo Macero e Irving Townsend para a Columbia

Miles Davis (trumpet, flugelhorn); Gil Evans (arranger, conductor); Paul Chambers (bass); Jimmy Cobb (drums); Elvin Jones, Jose Mangual (percussion); John Barrows, James Buffington, Tony Miranda, Joe Singer, Earl Chapin (french horn); Johnny Coles, Bernie Glow, Taft Jordan, Ernie Royal, Louis Mucci (trumpet); Dick Hixon, Frank Rehak (trombone); Jimmy McAllister, Bill Barber (tuba); Danny Bank (bass clarinet); Albert Block (flute); Eddie Caine (flute, flugelhorn); Harold Feldman (clarinet, flute, oboe); Jack Knitzer (bassoon); Romeo Penque (oboe); Janet Putnam (harp)

download – parte 1 84MB parte 2 40MB
01 Concierto de Aranjuez (Adagio) (Joaquín Rodrigo) 16’19
02 Will o’ the Wisp (Manuel de Falla) 3’47
03 The Pan Piper (Evans) 3’52
04 Saeta (Evans) 5’06
05 Solea (Evans) 12’15
06 Song of Our Country (Evans) 3’23
07 Concierto de Aranjuez [alt take; part 1] (Rodrigo) 12’04
08 Concierto de Aranjuez [alt take; part 2 ending] (Rodrigo) 3’33

Boa audição!