Ótimo disco antiguinho da Apex. Tanto a Abertura como Quinteto de Prokofiev estão entre suas peças mais inusitadas. A Abertura é muito popular, embora sua simplicidade não soe nada como Prokofiev. E o Quinteto, Op. 39, escrito para um grupo de dança para a improvável combinação de oboé, clarinete, violino, viola e contrabaixo, mostra-nos Prokofiev em seu modo experimental, como na Segunda Sinfonia. Esta peça deixa-o muito próximo do mundo sonoro de Pierrot Lunaire e L’histoire du Soldat, e é possivelmente a peça mais singular em toda a sua produção. Já o Octeto de Hindemith fica dentro do habitual do compositor, o que é muito bom! Mas eu recomendo o disco pelos Prokofiev mesmo!
Prokofiev (1891-1953): Abertura Sobre Temas Hebreus (1919) e Quinteto / Hindemith (1895-1963): Octeto
1 Sergei Prokofiev — Overture On Hebrew Themes, Op. 34 In C Minor — 8:51
Paul Hindemith — Octet
2 – Breit. Mäßig Schnell 8:01
3 – Varianten: Mäßig Bewegt 2:25
4 – Langsam 7:47
5 – Sehr Lebhaft 2:18
6 – Fuge Und Drei Altmodische Tänze: Walzer, Polka, Galopp 5:55
Sergei Prokofiev — Quintet, Op. 39 In G Minor
7 – Moderato 5:45
8 – Andante Energico 3:13
9 – Allegro Sostenuto, Ma Con Brio 2:04
10 – Adagio Pesante 4:12
11 – Allegro Precipitato, Ma Non Troppo Presto 2:46
12 – Andantino 4:16
Este CD é delicioso. É impossível não se encantar com a flauta de Lisa Friend e seus colaboradores do Brodsky Quartet.
Enquanto o estou ouvindo, está caindo uma chuva, quase garoa, persistente, e de alguma forma, a música de Mozart se encaixa perfeitamente como trilha sonora deste dia de inverno frio e nebuloso. Mas em se tratando de Mozart sabemos que ele se encaixaria à perfeição mesmo se o tempo estive bom, com um belo sol brilhando lá fora. Esta é a magia da música, e principalmente da música de Mozart.
Espero que apreciem como o estou apreciando.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Flute Quartets – Lisa Friend, Brodsky Quartet
01. Flute Quartet No. 1 in D Major, K. 285 Flute Quartet No. 1 in D Major, K. 285 I. Allegro
02. Flute Quartet No. 1 in D Major, K. 285 Flute Quartet No. 1 in D Major, K. 285 II. Adagio
03. Flute Quartet No. 1 in D Major, K. 285 Flute Quartet No. 1 in D Major, K. 285 III. Rondeau
04. Flute Quartet No. 2 in G Major, K. 285a Flute Quartet No. 2 in G Major, K. 285a I. Andante
05. Flute Quartet No. 2 in G Major, K. 285a Flute Quartet No. 2 in G Major, K. 285a II. Tempo di minuet
06. Flute Quartet No. 4 in A Major, K. 298 Flute Quartet No. 4 in A Major, K. 298 I. Andantec
07. Flute Quartet No. 4 in A Major, K. 298 Flute Quartet No. 4 in A Major, K. 298 II. Minuet
08. Flute Quartet No. 4 in A Major, K. 298 Flute Quartet No. 4 in A Major, K. 298 III. Rondo Allegretto grazioso
09. Flute Quartet No. 3 in C Major, K. Anh. 171 Flute Quartet No. 3 in C Major, K. Anh. 171 I. Allegro
10. Flute Quartet No. 3 in C Major, K. Anh. 171 Flute Quartet No. 3 in C Major, K. Anh. 171 II. Theme and Variations
11. Andante in C Major, K. 315 Andante in C Major, K. 315
Florian Heyerick é um regente de coro. Mas que regente, meu povo! Neste CD dedicado à família Scarlatti, temos 6 obras sacras saídas da lavra familiar dos Scarlatti. Alessandro — patriarca deste núcleo siciliano — é o craque da família e não faria feio em time nenhum. Domenico jogaria a segunda divisão com certo garbo. Já Francesco seria reserva no time de Domenico. Porém, mais do que as obras, o que encanta neste CD é a performance do coral e dos solistas vocais. É realmente algo maravilhoso o Ex Tempore de Florian Heyerick.
Alessandro, Francesco e Domenico Scarlatti:
Música Polifônica na Família Scarlatti
Domenico Scarlatti
3 Magnificat Anima Mea: I. Magnificat 4:21
4 Magnificat Anima Mea: II. Fecit Potentiam 1:38
5 Magnificat Anima Mea: III. Esurientes Implevit Bonis 4:27
6 Magnificat Anima Mea: IV. Gloria Patri et Filio 3:12
Francesco Scarlatti
8 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): I. Miserere Mei, Deus 3:11
9 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): II. Amplius Lava Me 2:39
10 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): III. Ecce Enim 2:11
11 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): IV. Asperges Me 1:44
12 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): V. Cor Mundum 1:34
13 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): VI. Ne Proicias Me 1:46
14 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): VII. Redde Mihi 1:08
15 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): VIII. Docebo Iniquos 3:09
16 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): IX. Sacrificium Deo 2:23
17 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): X. Benigne Fac Domine 1:21
18 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): XI. Tunc Acceptabis 1:16
19 Miserere Mei, Deus (Psalm 50): XII. Gloria Patri 2:37
Domenico Scarlatti
20 Missa Quatuor Vocum (di Madrid): Sanctus – Benedictus 2:31
21 Missa Quatuor Vocum (di Madrid): Agnus Dei 2:31
A obra prima de Stravinsky ‘Le Sacre du Printemp” é fantástica em qualquer tipo de instrumento em que seja interpretada. Seja a versão orquestral, seja a versão para dois pianos. Ambas versões já apareceram por aqui diversas vezes. E hoje estou trazendo mais uma para dois pianos, desta vez com nossas musas, as irmãs Labèque, Katia & Marielle. Trata-se de CD que já se encontra esgotado, e que por alguma obra do destino veio parar em meu computador. No site da Amazon tem alguns usados à venda, enquanto não o encontrei no site da DG, apesar de ser bem recente, creio que do final do ano passado. Enfim, são detalhes, curiosidades, que não vão impedir dos senhores terem acesso a esta jóia.
O CD se encerra com Debussy, ‘6 Epigraphes Antiques’. E Debussy nas mãos mágicas mãos destas irmãs, meus queridos, se transforma em algo transcendental. É para se ouvir em um dia chuvoso, como o de hoje, bem confortáveis em suas poltronas favoritas e se deliciar, pois as quatro mãos mágicas destas irmãs fazem milagre, ajudadas, é claro, volto a repetir, pela poderosa música de Stravinsky, e a sensibilidade e delicadeza da música de Debussy.
Enfim, rendam-se ao talento destas duas.
1 – 14 Stravinsky – Le Sacre du Printemp
15 – 20 – Debussy – 6 Epigraphes Antiques
Nos estertores do vinil, toda uma geração de melômanos teve seus primeiros contatos com a música antiga através da Coleção Reflexe, da EMI. A qualidade das gravações era tão grande que o jovem grupo de artistas responsáveis por elas estão aí até hoje, na música antiga e no barroco. Um deles chamava-se Jordi Savall com seu grupo Hespèrion XX. Este disco é lindo de chorar. (A gravação original em vinil era Quadraphonic, lembram disso?) Pois bem, a voz de Montserrat Figueras e o grupo de Savall jamais consideraram válidas as interpretações mecânicas de alguns equivocados. A coisa é de alta temperatura emocional e bonito, bonito, bonito. A música reflete a profunda influência árabe na península ibérica nos idos de 1200. Acho que você deve ouvir.
Cansós de Trobairitz: Songs of the Women Troubadours c. 1200
1 Vos Que’m Semblatz Dels Corals Amadors
Lyrics By – Condesa De Provenza, Gui De Cavalhon
Music By – Gaucelm Faidit
2 Estat Ai En Greu Cossirier
Lyrics By – Condesa De Dia*
Music By – Raimon De Miraval
3 Na Carenza Al Bel Cors Avinen
Lyrics By – Alais, Na Yselda I Na Carenza*, Carenza, Iselda
Music By – Arnaut De Maruelh
4 Si Us Quer Conselh, Bel’ami’Alamanda
Music By, Lyrics By – Guiraut De Bornelh
5 Ab Joi Et Ab Joven M’apais
Lyrics By – Condesa De Dia*
Music By – Bernart De Ventadorn
6 A Chantar M’er De So Q’ieu No Voldria
Music By, Lyrics By – Condesa De Dia
7 S’anc Fui Belha Ni Prezada
Music By, Lyrics By – Cadenet
Falar o que pálida? Só tem coisa boa aqui, lhes garanto. para ouvir sem moderação.
1. Symphonie No. 8 – Symponie der Tausend: Allegro impetuoso
2. Symphonie No. 8 – Symponie der Tausend: Poco adagio- Piu mosso (Allegro moderato)
3. Symphonie No. 8 – Symponie der Tausend: AuBerst langsam – Adagissimo
1. Symphonie No. 9: Andante comodo
2. Symphonie No. 9: Im Tempo eines gemaechlichen Laendlers – Etwas taeppisch und sehr derb
3. Symphonie No. 9: Rondo-Burleske – Allegro-assai – Sehr trotzig
4. Symphonie No. 9: Adagio – Sehr langsam und noch zurueckhaltend
Algumas obras para violoncelo e piano são diálogos contrapontísticos densos, podendo soar alegres e até dançantes nos movimentos mais rápidos, por exemplo as Sonatas de Beethoven e de Brahms para os dois instrumentos ou as Sonatas para Viola da Gamba e Cravo de Bach (tocadas por violoncelo e piano). E há outras obras em que os sons graves do violoncelo são usados para expressar sentimentos de difícil tradução em palavras ou em sons, próximos da melancolia, do ennui francês, do spleen britânico ou das saudades brasileiras. As obras de Liszt e Chopin aqui presentes se enquadram no segundo caso. Ao piano, Maria João Pires, portuguesa conhecida por seu toque delicado e sutil. Seus parceiros no violoncelo são o veterano brasileiro Antonio Meneses e o jovem russo Pavel Gomziakov. As gravações são todas ao vivo.
Maria João ganhou fama internacional ao conquistar o primeiro prêmio do concurso internacional ocorrido em Bruxelas, em 1970, por ocasião do bicentenário do nascimento de Beethoven. Mais recentemente, também foi elogiada e premiada por suas gravações dos concertos de Beethoven. Então é surpreendente que ela nunca tenha gravado oficialmente as sonatas para piano e violoncelo.
Pires/Gomziakov ensaiando em São Paulo
Em sua Lugubre Gondola o septuagenário Liszt reflete sobre a morte de seu amigo e genro Wagner e sobre a sua própria morte.
A sonata para piano e violoncelo em sol menor foi umas das últimas obras compostas por Chopin e a última publicada durante sua vida. Em uma carta de 1846 ele deixa claro que demorou bastante tempo para finalizá-la: “Quanto à minha sonata com violoncelo, às vezes estou satisfeito, às vezes insatisfeito. Coloco-a em um canto e depois retomo.”
O Chopin de Pires e Gomziakov é introspectivo, com as emoções românticas sempre contidas e sóbrias. Deixo-os com trechos de uma resenha do concerto dos dois, com o mesmo programa, em San Sebastián, Espanha:
Os dedos, o coração, os sentidos: tudo, do detalhe ao conjunto, conquistou o público. Interpretação maravilhosa da portuguesa Maria João Pires, enquanto o jovem russo Gomziakov fez seu instrumento cantar de forma romântica, contida, triste e lírica.
O recital soou como uma homenagem a um amigo morto recentemente, como se Chopin tivesse acabado de desaparecer. Não houve bis, nem aplausos entre a Sonata para Violoncelo e Piano e a última mazurka (op. 68 número 4, a última criação de Chopin), apenas introspecção, lirismo e expressão triste que se tornou alegria diante de uma arte tão bem feita. Meditação final que conduziu ao entusiasmo respeitoso e caloroso do público completamente conquistado pela magia e técnica de dois artistas gigantes.
Beethoven: Sonate für Violoncello und Klavier No. 3, Op. 69 (A-Dur)
A alemã de Munique, violinista e pianista, a verdadeira gênia que é Julia Fischer, dá-nos esta maravilhosa versão dos 24 Caprichos de Paganini, provavelmente sua única obra realmente boa. Fischer tira de letra este repertório criado pelo mais brilhante dos virtuoses. O fascínio que Paganini exercia era de tal ordem que se chegou a suspeitar que tivesse um pacto com o demônio. Imagina isto no início do século XIX… E todos os grandes virtuoses — não apenas do violino, mas do piano romântico — foram estimulados à tentação de rivalizar com ele. Paganini revolucionou a arte de tocar violino. Deixou a sua marca como um dos pilares da moderna técnica do instrumento. O seu Capricho em Lá menor, Op. 1 No. 24 está entre suas composições mais conhecidas e serviu de inspiração para outros proeminentes compositores como Johannes Brahms e Sergei Rachmaninov, que o reutilizaram em importantes obras de variações.
Niccolò Paganini (1782-1840) : 24 Caprichos Op. 1
1 No. 1 In E Major 1:47
2 No. 2 In B Minor 2:50
3 No. 3 In E Minor 3:19
4 No. 4 In C Minor 6:14
5 No. 5 In A Minor 2:46
6 No. 6 In G Minor 5:59
7 No. 7 In A Minor 3:51
8 No. 8 In E Flat 3:01
9 No. 9 In E Major 3:11
10 No. 10 In G Minor 2:17
11 No. 11 In C Major 4:32
12 No. 12 In A Flat 3:18
13 No. 13 In B Flat Major 2:27
14 No. 14 In E Flat 1:18
15 No. 15 In E Minor 2:47
16 No. 16 In G Minor 1:37
17 No. 17 In E Flat Major 3:47
18 No. 18 In C Major 2:33
19 No. 19 In E Flat Major 3:10
20 No. 20 In D Major 3:53
21 No. 21 In A Major 2:59
22 No. 22 In F Major 2:48
23 No. 23 In E Flat Major 4:44
24 No. 24 In A Minor 4:28
Em 2013, o grande maestro inglês Simon Rattle anunciou, para surpresa geral, que deixaria a orquestra ao fim de seu contrato, em meados de 2018. Seu sucessor, já eleito pelos músicos (como é o correto), é o russo Kirill Petrenko. “A decisão não foi fácil para mim”, afirmou a seus músicos o regente Simon Rattle, predileto do público, com sua cabeleira de cachos grisalhos. “Em 2018, terei trabalhado durante 16 anos na Filarmônica de Berlim. Antes, passei 18 anos como titular em Birmingham. Além disso, estarei prestes a comemorar 64 anos”. E com o charme que lhe é peculiar, acrescentou com uma ponta de humor: “Como alguém natural de Liverpool, não se pode passar por esse aniversário sem a pergunta dos Beatles: Will you still need me, when I’m 64?”
Esta gravação de sinfonia de Mozart — com origem em um DVD — é uma perfeição. Sim, Sir Simon, quem não precisaria de você?
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Sinfonias Nº 39, 40 e 41
01. Symphony No. 39 in E-Flat Major, K. 543_ I. Adagio-Allegro
02. Symphony No. 39 in E-Flat Major, K. 543_ II. Andante con moto
03. Symphony No. 39 in E-Flat Major, K. 543_ III. Menuetto. Allegretto-Trio
04. Symphony No. 39 in E-Flat Major, K. 543_ IV. Finale. Allegro
05. Symphony No. 40 in G Minor, K. 550_ I. Molto allegro
06. Symphony No. 40 in G Minor, K. 550_ II. Andante
07. Symphony No. 40 in G Minor, K. 550_ III. Menuetto. Allegretto-Trio
08. Symphony No. 40 in G Minor, K. 550_ IV. Allegro assai
09. Symphony No. 41 in C Major, K. 551 _Jupiter__ I. Allegro vivace
10. Symphony No. 41 in C Major, K. 551 _Jupiter__ II. Andante cantabile
11. Symphony No. 41 in C Major, K. 551 _Jupiter__ III. Menuetto. Allegretto-Trio
12. Symphony No. 41 in C Major, K. 551 _Jupiter__ IV. Molto allegro
Mais duas obras primas esplendidamente interpretadas por este fantástico maestro tcheco.
Para se ouvir de joelhos, agradecendo pelo prazer de desfrutar momentos de tão raro prazer.
Estive ouvindo a Quarta Sinfonia hoje de manhã, antes de ir trabalhar, e confesso que nunca ouvi uma versão tão apaixonada quanto esta.
1. Symphonie No. 4: Bedachtig – Nicht eilen
2. Symphonie No. 4: In gemachlicher Bewegung – Ohne Hast
3. Symphonie No. 4: Ruhevoll
4. Symphonie No. 4: Sehr behaglich
1. Symphonie No. 5: Part I: Trauermarsch. In gemessenem Schritt. Streng – Wie ein Kondukt
2. Symphonie No. 5: Part I: Sturmisch bewegt – Mit groesster Vehemenz
3. Symphonie No. 5: Part II: Scherzo. Kraeftig, nicht zu schnell
4. Symphonie No. 5: Part III. Adagietto – Sehr langsam – attacca:
5. Symphonie No. 5: Part III: Rondo-Finale – Allegro – Allegro giocoso – Frisch
Um disco agradabilíssimo, onde temos o extraordinário Trio Nº 39 – e três outros –tocado da forma como se deve: bem cigana, conforme indica a capa do CD de Minasi e sua turma. Homem simpático, organizado e querido por todos, Haydn, o pai do classicismo musical vienense, é muitas vezes considerado “menor”. Erro. Vamos a uma historinha contada pelo pessoal da Deutsche Welle?
Ao falecer aos 77 anos de idade, em 31 de maio de 1809, em Viena, Joseph Haydn era o mais popular e, sem dúvida, também um dos mais abastados compositores da Europa. Sua música era executada em todo o continente, o público aclamava cada nova obra com entusiasmo. Altezas imperiais convidavam à sua mesa o filho de um artesão e de uma cozinheira. Como os tempos eram de instabilidade política, somente duas semanas após seu sepultamento, em 1º de junho, no cemitério de Hundsthurm, pode ser realizada uma cerimônia na igreja Schottenkirche. A missa foi solenemente acompanhada pelo Réquiem de Mozart.
O CRÂNIO FURTADO
No entanto, o que aconteceria em seguida com os restos mortais de Haydn pertence à categoria do grotesco. Um conhecido seu, Joseph Carl Rosenbaum, era adepto da frenologia, doutrina criada pelo médico alemão Franz Joseph Gall. Entre outros aspectos, ela se baseava na forma craniana para analisar o talento e a inteligência de uma pessoa.
Naquele junho mesmo, Rosenbaum abriu o túmulo do compositor e roubou sua cabeça. Somente em 1820, quando os Esterházy se propuseram a transferir os restos mortais, deu-se por sua falta. Descoberto em 1895, o crânio do venerável compositor foi guardado como relíquia durante décadas pela Sociedade dos Amantes da Música de Viena.
Não foi antes de 1954 que a cabeça pôde unir-se ao corpo, num magnífico sarcófago, no mausoléu mandado construir pela família de seus empregadores, os nobres Esterházy, na Bergkirche de Eisenstadt.
Pois é. Haydn perdeu a cabeça por séculos.
F. J. Haydn (1732-1809): Trios para Piano
1 Piano Trio No. 39 in G Major, Hob. XV:25, “Gypsy”: I. Andante
2 Piano Trio No. 39 in G Major, Hob. XV:25, “Gypsy”: II. Poco adagio
3 Piano Trio No. 39 in G Major, Hob. XV:25, “Gypsy”: III. Rondo a l’Ongarese. Presto
4 Piano Trio No. 13 in B-Flat Major, Hob. XV:38: I. Allegro moderato
5 Piano Trio No. 13 in B-Flat Major, Hob. XV:38: II. Menuetto
6 Piano Trio No. 13 in B-Flat Major, Hob. XV:38: III. Finale. Presto
7 Piano Trio No. 26 in C Minor, Hob. XV:13: I. Andante
8 Piano Trio No. 26 in C Minor, Hob. XV:13: II. Allegro spiritoso
9 Piano Trio No. 5 in G Minor, Hob. XV:1: I. Moderato
10 Piano Trio No. 5 in G Minor, Hob. XV:1: II. Menuetto
11 Piano Trio No. 5 in G Minor, Hob. XV:1: III. Finale. Presto
Riccardo Minasi, violino
Maxim Emelyanychev, piano
Federico Toffano, violoncelo
Não tenho muito mais a falar sobre as imensas Segunda Sinfonia e Terceira Sinfonias, já temos verdadeiros tratados sobre elas em outras postagens que foram aqui feitas. Portanto, para deixa-los mais felizes, vai de um pacote só estas duas obras primas.
1. Symphony No. 2 ‘Resurrection’: Allegro maestoso
2. Symphony No. 2 ‘Resurrection’: Andante moderto
3. Symphony No. 2 ‘Resurrection’: (Scherzo) – In ruhig fliessender Bewegung
4. Symphony No. 2 ‘Resurrection’: Urlicht. Sehr feierlich, aber schlicht
5. Symphony No. 2 ‘Resurrection’: Im Tempo des Scherzo – Wild herausfahrend
6. Symphony No. 2 ‘Resurrection’: Langsam – Misterioso
01. Symphony No. 3 – 1 Kräftig. Entschieden
02. Symphony No. 3 – 2 Tempo di Menuetto. Sehr mässig
03. Symphony No. 3 – 3 Comodo. Scherzando. Ohne Hast
04. Symphony No. 3 – 4 Sehr langsam. Misterioso. Durchaus ppp O Mensch! Gib acht!
05. Symphony No. 3 – 5 Lustig im Tempo und keck im Ausdruck Es sungen drei Engel einen s en Gesang
06. Symphony No. 3 – 6 Langsam. Ruhevoll. Empfunden
Bayerischeorchester Rundfunk
Rafael Kubelik – Conductor
Top Classical Albums of 2014 These excellent musicians, including the pianist Alexander Melnikov performing on a restored 1828 Graf piano, offer a powerful and insightful interpretation of Beethovens marvelous Archduke Trio.
–The New York Times
Best Classical Recordings of 2014 Exceptional. An A-team ensemble plays period instruments on this alluring disc, making for some ravishing textures.
–ArkivMusic
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Piano Trios Op.70 No.2 & Op.97 ‘Archduke’
Trio for piano, violin and cello No. 6 in E Flat Major, No. 2, Op. 70
1 I. Poco sostenuto – Allegro ma non troppo 10:18
2 II. Allegretto 5:16
3 III. Allegretto ma non troppo 6:32
4 IV. Finale – Allegro 7:57
Trio for piano, violin and cello No. 7 in B Flat Major, Op. 97
5 I. Allegro moderato 12:57
6 II. Scherzo – Allegro 6:16
7 III. Andante cantabile, ma pero con moto 11:18
8 IV. Allegro moderato – Presto 6:55
Alexander Melnikov, piano
Isabelle Faust, violino
Jean-Guihen Queyras, violoncelo
Faço esta postagem em homenagem a um querido amigo que faleceu neste domingo, e que era fã incondicional do Joe Farrell. Aliás, foi este mesmo amigo que me apresentou este excepcional saxofonista e flautista, que também morreu jovem, antes dos 40 anos, no apogeu de sua carreira.
Este disco é muito leve, suave, delicado. A guitarra de George Benson cria um clima único pra Farrell desfilar seu talento e incrível capacidade de improvisação. Talvez seja uma boa trilha sonora para acompanhar meu amigo em seu caminho rumo a não sei aonde.
Descanse em paz, Alírio.
P.S. Me perdoem, não tenho a relação dos músicos que tocam neste CD. Se alguma boa alma puder ajudar, agradeço.
01. Flute Song
02. Beyond The Ozone
03. Camel Hump
04. Rolling Home
05. Old Devil Moon
Quando bati o olho na postagem do PQP, semana passada, com obras para clarinete, lembrei-me imediatamente deste álbum fantástico, e pensei: “seria injusto não compartilhar essa preciosidade”.
Supremo entre os clarinetistas do século XX, Benny Goodman era tão versátil que sentia-se perfeitamente à vontade tocando o “Concerto para Clarinete” de Mozart ou passeando através de “Honeysuckle Rose” de Fat Waller. A participação de Béla Bartók, Leonard Bernstein, Aaron Copland, Morton Gould e Igor Stravinsky nesta gravação comprova alta estima destes pelo seu talento, e é uma merecida homenagem e um maravilhoso registro de sua espantosa maestria e domínio inigualável do instrumento.
Leornard Berstein
01 Prelude, Fugue And Riffs 7:47
Columbia Jazz Combo, Leonard Berstein
Aaron Copland
02 Concerto For Clarinet And String Orchestra (with Piano & Harp) 16:53
Columbia Symphony Orchestra, Aaron Copland
Igor Stravinsky
Ebony Concerto
03 I – Allegro Moderato 3:00
04 II – Andante 2:34
05 III – Moderato; Con Moto 3:40
Columbia Jazz Combo, Igor Stravinsky
Morton Gould
Derivations For Clarinet And Band
06 I – Warm-Up 3:06
07 II – Contrapuntal Blues 6:36
08 III – Rag 2:16
09 IV – Ride-Out 3:59
Columbia Jazz Combo, Morton Gould
Béla Bartók
Contrasts
10 I – Verbunkos (Recruiting Dance) 5:28
11 II – Pihenö (Relaxation) 4:29
12 III – Sebes (Fast Dance) 6:57
Joseph Szigeti, Violin
Béla Bartók, Piano
Rafael Kubelik foi um regente único, com uma imensa discografia de altíssima qualidade, e que viveu plenamente entre 1916 e 1996, atravessando o século XX nos proporcionando um imenso prazer ao ouvi-lo. Suas interpretações de compositores como Dvorák e Smetana são históricas, e fazem parte do panteão das grandes realizações da indústria fonográfica.
A fantástica Orquestra da Rádio Bávara sempre teve o privilégio de ter a sua frente os principais regentes do século XX e Rafael Kubelik realizou um fantástico trabalho por lá. Um deles é esta integral das sinfonias de Mahler, uma das minhas favoritas.
Espero que apreciem.
Gustav Mahler – Symphony nº 1 – Rafael Kubelik, Orquestra da Rádio Bávara
1. Symphony No. 1 Titan I. Langsam. Schleppend – Im Anfang sehr gemchlich
2. Symphony No. 1 Titan II. Krftig bewegt, doch nicht zu schnell – Trio, Recht gemchlich
3. Symphony No. 1 Titan III. Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
4. Symphony No. 1 Titan IV. Stürmisch bewegt
Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunk
Rafael Kubelik – Conductor
Um disco para sua discoteca básica. Haydn tinha 24 anos quando Mozart nasceu. Foram amigos, chegaram a tocar lado a lado Quintetos do segundo e, bem, Haydn sobreviveu ao amigo. Haydn foi professor de Beethoven. Era uma pessoa super deboas. Achava os dois jovens muito melhores do que ele. Aqui, temos o mestre que consolidou a forma sonata no primeiro movimento, depois um movimento lento, minueto e allegro final. O “Poco adagio” do Quarteto Imperador é apenas o hino da Alemanha. É um tremendo quarteto, grande música. O Sunrise também é belíssimo — melhor minueto ever. E depois temos seu talentoso pupilo no melhor Quarteto dos seis do notável Op. 18. As concepções do Quartetto Italiano (ativos entre 1945 e 1980) envelheceram um bocado, mas, puxa, ainda estão em ótimo estado.
Haydn (1732-1809) e Beethoven (1770-1827): Quartetos de Cordas
Haydn — String Quartet No. 62 in C major (‘Emperor’), Op. 76/3, H. 3/77:
1. Allegro
2. Poco adagio, cantabile
3. Menuetto (Allegro)
4. Finale (Presto)
String Quartet No. 63 in B flat major (‘Sunrise’), Op. 76/4, H. 3/78:
5. Allegro con spirito
6. Adagio
7. Menuetto (Allegro)
8. Finale (Allegro ma non troppo)
Beethoven — String Quartet No. 5 in A major, Op. 18/5:
9. Allegro
10. Menuetto
11. Andante cantabile
12. Allegro
Temos outras duas joias dos escoceses do Dunedin Consort em nosso blog, aqui e aqui. Hoje vim trabalhar com eles em meus ouvidos. Só depois de uns quinze minutos me dei conta de que caminhava sorrindo, graças à bela compreensão que a turma de Butt demonstrava dos atléticos e felizes concertos de Bach, escritos em seu período de Koethen. Não há infelicidade que sobreviva a isto. É melhor do que qualquer autoajuda. É como ir para Pasárgada. Para ter a mulher que quiser na cama que escolher. Fui-me embora pra Pasárgada.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concertos para Violino
Concerto for violin and oboe in C minor, BWV 1060R
1 Allegro 4:50
2 Adagio 4:46
3 Allegro 3:30
Violin Concerto in E major, BWV 1042
4 Allegro 7:40
5 Adagio 5:31
6 Allegro assai 2:48
Ich hatte viel Bekümmernis, BWV 21
7 Sinfonia 2:46
Violin Concerto in A minor, BWV 1041
8 [Allegro] 3:48
9 Andante 6:04
10 Allegro assai 3:40
Concerto for two violins in D minor, BWV 1043
11 Vivace 3:40
12 Largo ma non tanto 6:17
13 Allegro 4:33
A wikipedia italiana afirma que Vivaldi compôs cerca de 50 obras sacras. Para comparação, os concertos para violino foram mais de 200. Ao contrário de Gabrieli, Monteverdi e Bach, para o padre Vivaldi, compor para a Igreja era algo ocasional e ele nunca teve os prestigiosos títulos de Maestro di Cappella ou Primo Organista na Basília de São Marco em Veneza.
O Gloria RV 589, uma das três partituras de Vivaldi sobre o Gloria in excelsis Deo, foi esquecido por alguns séculos mas hoje é uma das obras sacras mais populares e mais gravadas no mundo todo. O texto em latim, que faz parte da missa católica, é dividido em doze movimentos, cada um com sua combinação de coro, vozes solistas (apenas no 3º, 6º, 8º e 10º) e instrumentos. O colorido instrumental e a virtuosidade das árias se contrapõem ao severo estilo antigo de Palestrina.
Nesta gravação, na catedral de Riga, na Letônia, a orquestra é substituída pelo órgão, em transcrição da organista Yevgenia Lisitsina (também conhecida como Jevgenija Lisicina e Eugenia Lissitsyna… não é mole transcrever caracteres russos!). Os vários registros do órgão alemão Walcker substituem as partes para cordas e sopros. No coro, como em boa parte da música feita na Europa do Leste e na Rússia, os potentes sons graves dos baixos se destacam.
As últimas faixas do CD trazem arranjos de Mozart pai e filho para trompa e órgão. Trompistas devem adorar, mas para os meus ouvidos a trompa soa solene do início ao fim e cansa os ouvidos…
Antonio Vivaldi (1678-1741)
Gloria, RV 589
(arr. by Y. Lisitsina)
01. Gloria in excelsis Deo (3:22)
02. Et in terra pax hominibus (5:02)
03. Laudamus te (2:58)
04. Gratias agimus tibi (0:47)
05. Propter magnam gloriam (1:19)
06. Domine Deus (5:32)
07. Domine Fili unigenite (2:52)
08. Domine Deus, Agnus Dei (5:43)
09. Qui tollis peccata mundi (2:40)
10. Qui sedes ad dexteram (3:19)
11. Quoniam tu solus sanctus (1:14)
12. Cum Sancto Spiritu (3:29)
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
13. Larghetto (7:06)
(2nd Part From Quintet For Clarinet And String Orchestra A-Dur, Kv 581, arr. by F. Humbert)
Leopold Mozart (1719-1787).
Concerto For French Horn D-Dur
14. Allegro Moderato (5:45)
15. Andante (6:04)
16. Allegro (2:25)
G. Kalinina – soprano (3, 6)
I. Arkhipova – mezzo-soprano (3, 8, 10)
Yevgenia Lisitsina – Walcker organ (1883) of Riga Dom (1-12)
Comecei ouvindo este cd pelo fim, ou seja, pela Fantasia de Schumann. Creio que todos temos uma versão favorita desta obra prima do romantismo, e Sviatoslav Richter já nos proporcionou uma versão histórica, até hoje não batida, desta obra.
O Concerto Imperador, de Beethoven, então, nem se fala. Dentre as diversas versões que já ouvi, ainda amo a de Rubinstein mais do que todas.
Yundi é um jovem pianista chinês que já tem seu nome consolidado, e cada gravação sua é aguardada com ansiedade. trouxe anteriormente uma belíssima gravação de obras de Chopin, e agora, então trago Beethoven e Schumann. Duas obras que são pilares do que foi produzido no Romantismo, e Yundi nos proporciona uma leitura madura, de alguém que tem muito talento, e que aos poucos vem lapidando este talento, através de uma técnica impecável e sensibilidade aguçada.
Espero que apreciem.
Piano Concerto no. 5 in E flat major op. 73 – ‘Emperor’ – 1. Allegro
Piano Concerto no. 5 in E flat major op. 73 – ‘Emperor’ – 2. Adagio un poco mosso
Piano Concerto no. 5 in E flat major op. 73 – ‘Emperor’ – 3. Rondo (Allegro)
Fantasie in C, op. 17 – 1. Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen – Im Legendenton – Erstes TempoFantasie in C, op. 17 – 2. Mäßig. Durchaus energisch – Etwas langsamer – Viel bewegter
Fantasie in C, op. 17 – 3. Langsam getragen. Durchweg leise zu halten – Etwas bewegter
Yundi – Piano
Berliner Philarmoniker
Daniel Harding – Conductor
O romance Doutor Fausto de Thomas Mann, além de ser uma indiscutível obra-prima, possui capítulos que tornaram-se famosos por si só e que são citados separadamente do restante da obra. É célebre o capítulo em que Adrian Leverkühn dialoga com o demônio e também o oitavo, onde o imaginário professor Kretzschmar dá uma extraordinária aula sobre o tema “Por que Ludwig van Beethoven não escreveu o terceiro movimento da Sonata Op. 111?”.
Houve um certo músico de sobrenome Schindler que perguntou a Beethoven sobre razão da inexistência do terceiro movimento. A resposta do compositor foi típica de seu habitual mau humor: ora, não tive tempo de escrever um! Mann explorou a história da inexistência do terceiro movimento ao máximo, e só quem leu o Fausto de Mann sabe do ritmo frenético da aula de Kretzschmar e a profunda impressão causada pelo lição em nós, leitores, e em Adrian Leverkühn, personagem principal do livro.
Pois o incrível é que descobri casualmente que há um esboço de terceiro movimento para esta sonata, mas Beethoven parece tê-lo destruído. Inclusive no manuscrito onde está o primeiro movimento há uma anotação: segundo movimento – Arietta; terceiro movimento – Presto. Não encontrei referências de que a Arietta (segundo movimento) fosse algum tipo de adeus, conforme disse o professor de Thomas Mann. Creio que isto seja apenas uma liberdade poética do ultra-entusiasmado Kretzschmar. Está bem, foi a última sonata para piano de Beethoven, porém ao Op. 111 seguiram-se obras até o Op. 137 e dentre estas há todos os últimos quartetos, a Nona Sinfonia (Op. 125), as Variações Diabelli (Op.120) , as Bagatelas (Op. 126), a Missa Solemnis (Op. 123), etc. Ou seja, quando Beethoven escreveu o Op. 111, era um compositor em plena atividade e com vários projetos diferentes por desenvolver, não obstante a doença.
Acho que o que mais interessa é tentar dizer porque esta obra é tão inquietante, porque ela provoca tanto e a tantas pessoas. Isto é o mais difícil. O fato é que a linguagem inacreditavelmente abstrata que Beethoven alcançou em suas últimas obras nos perturba profundamente, tanto aqui como nos últimos quartetos. A imaginação de quem criou a Arietta é inconcebível. O professor Kretzschmar tem toda a razão ao proclamar que tudo aquilo vem de um simples dim-da-da, ou seja, de três notas que não despertariam a atenção de nenhum artista comum, e é sobre este quase nada que Beethoven cria uma catedral imensa, onde há lugar para a delicadeza, para o religioso, para o sublime e até para a explosão de uma desenfreada dança semelhante ao jazz que os negros inventariam 100 anos depois. Ele sempre foi dado à utilização de temas curtos e afirmativos, mas convenhamos, aquele dim-da-da curtíssimo está mais para um balbucio de criança… Não seria isto o que nos surpreende tanto? A Arietta inicia-se como um balbucio, depois deixa-se crescer quase que por livre associação e retorna lenta e quase silenciosa ao início. Será esta a despedida a que Kretzschmar se refere? Nascimento, vida e morte? Ou, simplesmente, após um movimento lento tão profundo e expressivo, Beethoven concluíra que o mesmo prescindiria de seu contraponto rápido?
Ora, não há verdades absolutas sobre algo tão genial e aberto. Se somarmos a isto o volátil de toda música, que consiste numa série de símbolos que é interpretada por um músico, que a passa para o piano obedecendo a sua habilidade e experiências, e que nos chega através dos ouvidos, onde baterá contra outras experiências e que, de concreto, no caso do segundo movimento do Op. 111, só possui a instrução Arietta: Adagio Molto Semplice e Cantabile…
Se tivesse que classificar o Op. 111, o colocaria entre as músicas que não são somente belas e perfeitas, mas que, além disto, são demonstrativas de grande inteligência e engenhosidade. Outras do mesmo gênero seriam os quartetos de Béla Bártok, alguns dos últimos quartetos de Beethoven (principalmente o Op. 132), as Variações Goldberg, a Oferenda Musical de J.S. Bach e outras raríssimas. Não sei se me faço entender, mas acredito que o espírito mozartiano – que amo tanto – não poderia entrar aqui. São músicas por demais cerebrais. Há uma tremenda e implacável lógica interna nelas, há intenções que parecem escapar a nós, pobres e limitados ouvintes.
O CD duplo de Maurizio Pollini Die Späten Klaviersonaten ou The Late Piano Sonatas é uma das várias formas que a fugidia felicidade pode tomar. Se vocês passarem perto desta caixa de CDs, agarrem-na e não soltem.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): As Últimas Sonatas (CD 2 de 2)
Piano Sonata No. 30 in E major, Op. 109
1. Sonate No. 30 E-dur op.109: Vivace, ma non troppo
2. Sonate No. 30 E-dur op.109: Prestíssimo
3. Sonate No. 30 E-dur op.109: Gesangvoll, mit innigster Empfindung (Andante molto cantabile ed espressivo)
Piano Sonata No. 31 in A flat major, Op. 110
4. Sonate No. 31 As-dur op.110: 1. Moderato cantabile molto espressivo
5. Sonate No. 31 As-dur op.110: 2. Allegro molto
6. Sonate No. 31 As-dur op.110: 3. Adagio ma non troppo – fuga, ma non troppo
Piano Sonata No. 32 in C minor, Op. 111
7. Sonate No. 32 c-mol op.111: 1. Maestoso – Allegro con brio ed appassionato
8. Sonate No. 32 c-mol op.111: 2. Arietta. Adagio molto semplice e cantabile
Às vezes, há a obra e seu intérprete perfeito. Tudo bem, alguns malucos preferirão Brendel, Arrau, Schnabel, Uchida, Brautigam, Goode ou mesmo Kempff, assim como outros esquecem Ulisses em pleno 16 de junho e declaram que a literatura argentina é inferior à brasileira… Problema deles!
Quando adolescente e jovem, ia todo o sábado pela manhã a uma loja de discos freqüentada por alguns conhecedores de música erudita. Conhecedores mesmo, parece que hoje não se faz mais daquele tipo, perdeu-se a fôrma, sei lá. A figura central era o Dr. Herbert Caro e o assunto principal, sua coluna publicada sempre aos sábados, no Correio do Povo. Então, eu lia a coluna cedinho enquanto tomava café e depois seguia para a loja. Era um ouvinte daquelas discussões, não me metia muito, mas ganhava alguns discos, pois tratavam de me atrair para suas teses… Aprendi muito.
Vi muitas brigas. Brigas em discussões duríssimas que acabavam com sorrisos muitas vezes contrafeitos. Uma delas era o debate sobre o melhor pianista para as Sonatas de Beethoven. Porém, num dia de 1977, apareceu a gravação de Pollini para as cinco últimas. A discussão cessou. Um deles disse que ouvira a gravação imbatível, algo surpreendente por sua qualidade e novidade. Todos nós a ouvimos durante aquela semana. Eu não consegui ultrapassar a Hammerklavier para chegar ao segundo disco, devo ter escutado aquela sonata umas 20 vezes naquele período. Era uma revelação, estava apaixonado. No sábado seguinte, alguém disse que achara bom, muito bom, mas sem emoção. Foi vaiado, quase apanhou dos restantes. Outro falou que havia muitas formas de se alcançar o pico do Everest, mas, antes de ser ridicularizado, completou dizendo que Pollini chegara ao pico real, desconhecido até então. Resultado: Pollini acabara com a discussão sobre sonatas, ao menos a discussão das cinco últimas…
Ainda hoje, 30 anos após conhecer a interpretação de Pollini, fico paralisado pelo último movimento do Op. 111, pela fuga do Op. 110 e pelo estarrecedor Hammerklavier. O que dizer dele? Como ele conseguiu todas aquelas nuances?
São estes dois CDs, no dizer da própria Deutsche Grammophon, que mereceriam o topo da sua coleção “The Originals”. Vou publicá-los aqui, um hoje, outro amanhã.
Mas vamos às sonatas. A certidão de nascimento da última fase de Beethoven foi passado quando da conclusão em 1818, da Sonata Op. 101 e principalmente, da monumental Sonata Op. 106, Hammerklavier, uma sinfonia para piano solo. “Eis uma obra que dará trabalho aos pianistas”, escreveu o mestre. Sua opção estava definida: não criava mais para seus contemporâneos, mas para a humanidade futura. Era incrível a certeza que tinha de sua imortalidade. Estava certo. E recusava a acomodar-se. Durante a última fase, compôs, além dos quartetos de cordas e outras obras como a Nona Sinfonia, as três últimas Sonatas para Piano Op. 109, 110 e 111 (1820-1822), concebidas como uma trilogia autobiográfica, as Variações Diabelli (1823) e a desconhecida obra-prima das seis Bagatellen Op. 126 (1824).
Ludwig van Beethoven (1770-1827): As Últimas Sonatas (CD 1 de 2)
Piano Sonata No. 28 in A major, Op. 101
1. Sonate No. 28 A-dur, op. 101: Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung. Allegretto, ma non troppo
2. Sonate No. 28 A-dur, op. 101: Lebhaft, marschmässig. Vivace alla Marcia
3. Sonate No. 28 A-dur, op. 101: Langsam und sehnsuchtsvoll. Adagio, ma non troppo, con affetto – attacca
4. Sonate No. 28 A-dur, op. 101: Geschwinde, doch nicht zu sehr und mit Entschlossenheit. Allegro
Piano Sonata No. 29 in B flat major (“Hammerklavier”), Op. 106
5. Sonate No. 29 B-dur, op. 106 – Grosse Sonate Fur Das Hammerklavier: 1. Allegro
6. Sonate No. 29 B-dur, op. 106 – Grosse Sonate Fur Das Hammerklavier: 2. Scherzo. Assai vivace
7. Sonate No. 29 B-dur, op. 106 – Grosse Sonate Fur Das Hammerklavier: 3. Adagio sostenuto. Appassionato e con molto sentimento
8. Sonate No. 29 B-dur, op. 106 – Grosse Sonate Fur Das Hammerklavier: 4. Largo – Allegro risoluto
Música Virreinal Mexicana Siglos XVI y XVII Ars Nova de Copenhagen Un programa mestizo
Escribe Bernal Díaz del Castillo, el gran cronista español, acerca de una de las expediciones del conquistador Hernán Cortés que iniciara en octubre de 1524 hasta abril de 1526: “Dejemos de contar muy por extenso otros muchos trabajos que pasábamos, y como los de las chirimías y sacabuches y clullainas que Cortés traía, como en Castilla eran acostumbrados a regalos y no sabían de trabajos y con la hambre habían adolecido y no le daban música, excepto uno, y renegábamos todos los soldados de lo oir, y decíamos que parecían zorros o adibes que aullaban, que más valiera tener maíz que comer, que música“.
Como la expedición duró más de lo planeado tuvieron que comerse a los caballos y cuatro de los cinco músicos terminaron en la panza de los soldados hambrientos. Así comienza la historia a relatarnos sobre los primeros músicos europeos que pisaron la recién descubierta América.
Al llegar los conquistadores a la gran Tenochtitlan, capital del Imperio Azteca, descubrieron que los músicos gozaban de privilegio y prestigio y que la enseñanza era de tal calidad que la profesión acaparaba toda la atención y destacaba entre las demás. En las escuelas de música la disciplina impuesta era tan rígida que se les llamaba “casas de penitencia y lágrimas”.
De esta manera los españoles encontraron en la tierra mexicana un campo fértil para el fortalecimiento de la música y, a ésta, como un eficiente medio para la conquista de las almas. Los frailes adaptaron las antiguas costumbres ceremoniales prehispánicas a los servicios litúrgicos católicos y enseñaron a los indígenas, quienes aprendieron notablemente a cantar, tocar y construir todo tipo de instrumentos europeos.
Los músicos proliferaron enormemente y ya desde 1561 el rey Felipe II expidió una cédula en la que solicitó se disminuyera el número excesivo de indígenas instrumentistas y cantores.
El historiador Juan de Torquemada escribió en 1615: “Hoy día, cualquier poblado de cien almas o más posee cantores que han aprendido la forma de cantar oficios, misas y maitines y que dominan a la perfección la música polifónica, y en cualquier parte puede uno hallar instrumentistas competentes“. Fueron tantos los músicos y compositores españoles y portugueses que llegaron al Nuevo Mundo en busca de fortuna, que tuvieron que ser distribuidos hasta en las poblaciones más pequeñas, convirtiendo a México en un heredero directo de la música renacentista europea.
Las principales ciudades coloniales como México, Puebla, Oaxaca, Valladolid (Morelia) y Guadalajara pronto rivalizaron en actividad y calidad musical con las mejores de España.
Juan Aranyés (España, ? – 1649) 01. Chacona
Gaspar Fernández (Portugal, 1570?- Puebla, Mexico, 1629) 02. Xicochi Conetzintle
José Loaysa y Agurto (Mexico, c. 1630-1695)) 03. Vaya Vaya De Cantos De Amores
Juan García de Zéspedes (Mexico, 1619-1678) 04. Hemoso Amor Que Forxas Tus Flechas
Gaspar Fernández (Portugal, 1570?- Puebla, Mexico, 1629) 05. Fransiquiya, Donde Bamo
Fray Geronimo Gonzalez (fl. c.1633, Ciudad de Mexico) 06. Serenissima Una Noche
Gaspar Fernández (Portugal, 1570?- Puebla, Mexico, 1629) 07. Oy Descrube La Grandesa
Antonio de Salazar (Sevilha, España c.1650 – Ciudad de México, 1715) 08. Guarda La Fiera
Gaspar Fernández (Portugal, 1570?- Puebla, Mexico, 1629) 09. La Sol Fa Me Re
Juan García de Zéspedes (Mexico, 1619-1678) 10. Convidando Esta La Noche
Gaspar Fernández (Portugal, 1570?- Puebla, Mexico, 1629) 11. Ximoyolali Sinola
Hernando Franco (Espana, 1532 – Cidade do Mexico, 1585) 12. Sancta Maria Yn Ilhuicac Cihuapille 13. Dios Itlaconantzine
Gaspar Fernández (Portugal, 1570?- Puebla, Mexico, 1629) 14. Tios Mio, Mi Goracon 15. Tleycantimo Choquiliya 16. Tururu Farara Con Son 17. Dame Albricia Mano Anton
Música Virreinal Mexicana Siglos XVI y XVII – 1992
Ars Nova Copenhagen
Maestrina Magda Zalles
El extraordinario crecimiento de la cultura musical en lo que hoy es Bolivia entre los siglos XVII, XVIII, y -hasta bien avanzado- XIX, nos ha dejado numerosos testimonios de música sacra y secular, que hoy están guardados en múltiples archivos de este país.
El propósito de nuestro proyecto es el estudio y la grabación de los villancicos navideños de aquella época, a fin de evaluar y apreciar su desarrollo en América y, también, restablecer la tradición de cantarlos. Nuestra selección no agota el repertorio de villancicos que los archivos de Bolivia contienen; ha sido organizada de tal manera que represente todos los estilos y formas de este género como se desarrollaron en las catedrales e iglesias misionales (reducciones) durante los años de la Colonia.
El material corresponde a dos distintas escuelas de creación de villancico conocidas en Bolivia. La primera la llamamos tradición catedralicia, que contiene no sólo villancicos compuestos para las catedrales en Sud America, Sucre, Lima y otras, sino también algunos que, aunque traídos desde Europa, hoy se los encuentra sólo en la colección del Archivo Nacional de Bolivia, Sucre.
La segunda, escuela misional, se hace presente a través de las obras que provienen de las colecciones del Archivo Musical de Chiquitos en Concepción (Santa Cruz), y el Archivo de Moxos en San Ignacio (Beni). Entre las composiciones incluídas hay una rica variedad de formas musicales y poéticas, modos, instrumentos, obras vocales -para solo, duo, uno o dos coros- y textos en español y latín. Sin embargo, para apreciar plenamente esta única tradición de creatividad y producción del villancico, será necesaria la continuación de esta empresa, fin al que aspiramos.
Hay que aclarar que los villancicos navideños presentes en esta grabación forman parte de un grupo mucho mayor de obras con esta denominación y que están dedicadas a muchas otras festividades religiosas y ocasiones tales como la celebración de los votos de religiosas. La tradición española del villancico se remonta al siglo XV cuando la temática de los textos de los villancicos era popular y profana, manteniendo en cambio ya la estructura poética y musical de estribillo, coplas y vuelta. Solamente en la decadencia del género en el siglo XIX concentró el término para la música popular navideña.
Barroco en Bolivia. Música de Navidad Vol.1
Canto Llano 01. Ecce Nomen Domini
Sebastián Durón (Spain,1660 – France, 1716) 02. Nacido soberano
Anónimo 03. Cánite, pláudite
Roque Ceruti (Milan, ca. 1685 – Lima, 1760) 04. Según veo
Juan de Araujo (Villafranca, España, 1646 – Chuquisaca, Bolívia 1712) 05. Si el amor
Anónimo 06. Tierno infante Divino
Diego Cáseda y Zaldivar (Calahorra, La Rioja, h. 1638 – Zaragoza, 1694) 07. Silencio
Juan de Araujo (Villafranca, España, 1646 – Chuquisaca, Bolívia 1712) 08. Aquí zagales
Anónimo 09. Hoy Niño bello
Blas Tardio de Guzmán (Bolívia, c1695 – Bolivia, La Plata (now Sucre) 1762 ) 10. Suenen los clarines
Anónimo 11. Volate angeli 12. Ay que gime 13. Morenito Niño
Juan de Araujo (Villafranca, España, 1646 – Chuquisaca, Bolívia 1712) 14. A la tela, a la plaza
Anónimo 15. Al portal llegaron
Barroco en Bolivia. Música de Navidad Vol.1 – 1999
Coral Nova Orquesta de Camara de La Paz.
Maestro Ramiro Soriano Arce