Um disco tranquilo e bonito do compositor renascentista. Philippe Verdelot foi um compositor francês da Renascença que, como tantos outros, passou a sua vida na Itália. Verdelot nasceu Les Loges, Seine-et-Marne, França. Provavelmente chegou a Itália numa idade precoce, em algumas cidades no norte da Itália, provavelmente incluindo Veneza. Verdelot é conhecido por ter sido mestre di cappella no Baptisterium San Giovanni, em Florença 1523-1525. Em 1526 colaborou com Niccolò Machiavelli, numa produção de famosa comédia A Mandrágora. Verdelot, junto com Costanzo Festa, é considerado o pai do madrigal, uma forma vocal a cappella que surgiu no final da década de 1520 a partir de uma convergência de várias correntes musicais anteriores. Os madrigais de Verdelot eram imensamente populares, como pode ser deduzido por sua frequência de reimpressão e ampla disseminação por toda a Europa no século XVI. Ele também compôs motetos e missas.
Philippe Verdelot (c. 1480-c. 1530): A Renaissance Songbook – The Complete Madrigal Book of 1536
1. Quanto sia lieto il giorno
2. Quando amor i begli occhi
3. Donna leggiadr’ et bella
4. Madonna, qual certezza
5. Madonna, qual certezza
6. Con lagrime et sospir
7. Fuggi, fuggi, cor mio
8. Dormend’un giorno a Baia
9. Igno soave
10. Amor se d’hor in hor
11. Donna che seta tra le belle bella
12. Se mai provasti donna
13. Con lagrime et sospir
14. Afflitti spirti mei
15. Ben che’l misero cor
16. Madonna il tuo bel viso
17. Divini occhi sereni
18. Se lieta e grata morte
19. Vita de la mia vita
20. Vita de la mia vita
21. Gloriar mi poss’io donne
22. Gloriar mi poss’io donne
23. Piove da gli occhi della donna ia
24. Con l’angelisco riso
25. S’io pensasse madonne
26. Madonna io sol vorrei
27. Madonna per voi ardo
28. Maddona per voi ardo
Catherine King, mezzo-soprano
Charles Daniels, tenor
Jacob Heringman, alaúde
POSTADO POR PQP BACH EM 14/4/2008, REVALIDADO POR VASSILY EM 28/1/2020, REVALIDADO POR VASSILY EM 2/2/2024.
Por que repostar esta gravação? Porque Albrechtsberger foi professor de Beethoven. Porque amanhã começaremos a postar a obra completa do aluno mais famoso de Albrechstberger neste blog. Porque Albrechtsberger certamente será mencionado nas postagens sobre Beethoven, e nós obviamente lembraremos que ele é autor desses inesquecíveis concertos. Porque nunca houve, nem haverá, um CD mais hilariante neste blog – quiçá nem na história da música de concerto. E porque nenhum blog que se preze deve ficar sem esta gravação no acervo – e, como o PQP Bach preza muito por seus pundonores, ei-la aqui de novo. Alerto para que a ordem dos concertos no novo link é diferente, e que este apresenta peças adicionais para marranzano, também com seu virtuose, o habilidoso Fritz Mayr – talvez para a orquestra poder costurar as hérnias abdominais agudas advindas das crises histéricas de gargalhadas, entre um concerto e outro [Vassily]
POSTAGEM ORIGINAL DE PQP BACH
Este disco do professor de Beethoven é sério candidato ao título de CD erudito mais engraçado de todos os tempos. Mas o humor do trabalho de Albrechtsberger é inteiramente involuntário, o que torna as coisas ainda mais… engraçadas. A Jew’s harp, instrumento conhecido no Brasil por Marranzano, foi inventado na China e é um dos mais antigos da humanidade, tendo sido inventando por volta de 300 A.C. Apesar do nome, nada tem a ver com judeus.
A cadenza do Andante (faixa 5) é das coisas mais hilariantes que já ouvi.
Johann Georg Albrechtsberger (Klosterneuburg, 3 de Fevereiro de 1735 – Viena, 7 de Março de 1809) foi um músico e compositor austríaco. Foi mestre de Beethoven, Johann Nepomuk Hummel, Ignaz Moscheles e Josef Weigl. Exerceu os cargos de organista de corte (1722) e de de mestre de capela na catedral de Santo Estêvão (1792). Compôs prelúdios, fugas e sonatas para piano e órgão. Por volta de 1765, escreveu pelo menos sete concertos para marranzano e mandora/lutina, um tipo de alaúde.
Johann Georg Albrechtsberger (1735-1809): Concertos para Marranzano, Mandora e Orquestra (Stadlmair)
1. Konzert in E major: Tempo moderato
2. Konzert in E major: Adagio
3. Konzert in E major: Finale – Tempo di menuetto
4. Konzert in F major: Allegro moderato
5. Konzert in F major: Andante
6. Konzert in F major: Menuetto – Moderato
7. Konzert in F major: Finale – Allegro molto
Fritz Mayr, Jew’s Harp
Dieter Kirsch, Mandora
Munich Chamber Orchestra
Hans Stadlmair, regência.
Mais um grande disco do Belcea Quartet, agora com o excelente pianista Piotr Anderszewski no Quinteto para Piano de Shostakovich.
O Quinteto para piano, Op. 57 (1940)
A música perfeita. Trata-se de um irresistível quinteto escrito em cinco movimentos intensamente contrastantes. O prelúdio inicial estabelece três estilos distintos que voltarão a ser explorados adiante: um dramático, outro neo-clássico e o terceiro lírico. Todos os temas que serão ouvidos nos movimentos seguintes apresentam-se no prelúdio em forma embrionária. Depois vem uma rigorosa fuga puxada pelo primeiro violino e demais cordas até chegar ao piano. Sua melodia belíssima e lírica é seguida por um scherzo frenético. É um choque ouvir chegar o intermezzo que traz de volta a seriedade à música. Apesar do título, este intermezzo é o momento mais sombrio do quinteto. O Finale, cujo início parece uma improvisação pura do pianista, fará uma recapitulação condensada do prelúdio inicial. Este Quinteto para Piano recebeu vários prêmios como o Stálin e outros que não vale a pena referir aqui, mas o mais importante para Shostakovich foi a admiração que Béla Bartók dedicou a ele.
O Quarteto N° 3 foi lançado em Moscou pelo quarteto Beethoven, a quem é dedicado, em dezembro de 1946. Ele foi escrito por Shosta logo após ver sua Sinfonia Nº 9 censurada. Ele também tem cinco movimentos:
Allegretto
Moderado com moto
Allegro non troppo
Adagio ( attacca )
Moderato
Para a estreia, certamente para que não fosse acusado de “formalismo” ou “elitismo “, Shostakovich renomeou os movimentos à maneira de uma história de guerra. Deixo aqui o título de cada movimento a fim de que os visitadores do blog possam dar gargalhadas relacionando “tema” e música.
O engano de ignorar o futuro cataclismo
Alguns estrondos de inquietação e antecipação
As forças de guerra são desencadeadas
Em memória dos mortos
A eterna pergunta: por que e para quê?
Um arranjo de sinfonia de câmara (Op. 73a) foi feito a partir deste quarteto por Rudolph Barshai.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Quinteto para Piano / Quarteto de Cordas N° 3
Piano Quintet In G Minor, Op. 57
Piano – Piotr Anderszewski
1 I. Prelude (Lento) 4:46
2 II. Fugue (Adagio) 11:34
3 III. Scherzo (Allegretto) 3:37
4 IV. Intermezzo (Lento) 7:02
5 V. Finale (Allegretto) 7:40
String Quartet No. 3 In F Major, Op. 73
6 I. Allegretto 7:27
7 II. Moderato Con Moto 5:37
8 III. Allegro Non Troppo 4:12
9 IV. Adagio 6:00
10 V. Moderato 11:12
Ensemble – Belcea Quartet
Cello – Antoine Lederlin
Viola – Krzysztof Chorzelski
Violin – Corina Belcea e Axel Schacher
Piano – Piotr Anderszewski
“Ich armer Mensch, ich Sündenknecht” BWV 55
Dominica 22 post Trinitatis
01 Aria (Tenor): “Ich armer Mensch, ich Sündenknecht”
02 Recitative (Tenor): “Ich habe wider Gott gehandelt”
03 Aria (Tenor): “Erbarme dich, laß die Tränen dich erweichen”
04 Recitative (Tenor): “Erbarme dich! Jedoch nun tröst ich mich”
05 Chorale: “Bin ich gleich von dir gewichen”
“Wer sich selbst erhöhet, der soll erniedriget werden” BWV 47
Dominica 17 post Trinitatis
06 Chorus: “Wer sich selbst erhöhet”
07 Aria (Soprano): “Wer ein wahrer Christ will heißen”
08 Recitative (Bass): “Der Mensch ist Kot, Staub, Asch und Erde”
09 Aria (Bass): “Jesu, beuge doch mein Herze”
10 Chorale: “Der zeitlichen Ehrn will ich gern entbehrn”
“Ich lasse dich nicht, du segnest mich denn” BWV 157
Festo Purificationis Mariae
11 Duet (Tenor, Bass): “Ich lasse dich nicht”
12 Aria (Tenor): “Ich halte meinen Jesum feste”
13 Recitative (Tenor): “Mein lieber Jesu du”
14 Aria and Recitative (Bass): “Ja, ja, ich halte Jesum feste”
15 Chorale: “Meinen Jesum laß ich nicht”
“Es ist dir gesagt, Mensch, was gut ist” BWV 45
Dominica 8 post Trinitatis
Erster Teil
16 Chorus: “Es ist dir gesagt, Mensch, was gut ist”
17 Recitative (Tenor): “Der Höchste läßt mich seinen Willen wissen”
18 Aria (Tenor): “Weiß ich Gottes Rechte”
Zweiter Teil
19 Arioso (Bass): “Es werden viele zu mir sagen”
20 Aria (Alto): “Wer Gott bekennt aus wahrem Herzensgrund”
21 Recitative (Alto): “So wird denn Herz und Mund”
22 Chorale: “Gib, daß ich tu mit Fleiß”
Appendix: “Wer sich selbst erhöhet, der soll erniedriget werden” BWV 47
COMPACT DISC II
“Falsche Welt, dir trau ich nicht” BWV 52
Dominica 23 post Trinitatis
1 Sinfonia
2 Recitative (Soprano): “Falsche Welt, dir trau ich nicht”
3 Aria (Soprano): “Immerhin, wenn ich gleich verstoßen bin”
4 Recitative (Soprano): “Gott ist getreu!”
5 Aria (Soprano): “Ich halt es mit dem lieben Gott”
6 Chorale: “In dich hab ich gehoffet, Herr”
“Es wartet alles auf dich” BWV 187
Dominica 7 post Trinitatis
Erster Teil
7 Chorus: “Es wartet alles auf dich”
8 Recitative (Bass): “Was Kreaturen hält das große Rund der Welt!”
9 Aria (Alto): “Du Herr, du krönst allein das Jahr mit deinem Gut”
Zweiter Teil
10 Aria (Bass): “Darum sollt ihr nicht sorgen”
11 Aria (Soprano): “Gott versorget alles Leben”
12 Recitative (Soprano): “Halt ich nur fest an ihm”
13 Chorale: “Gott hat die Erde zugericht”
“Süßer Trost, mein Jesus kömmt” BWV 151
Feria 3 Nativitatis Christi
14 Aria (Soprano): “Süßer Trost, mein Jesus kömmt”
15 Recitative (Bass): “Erfreue dich, mein Herz”
16 Aria (Alto): “In Jesu Demut kann ich Trost”
17 Recitative (Tenor): “Du teurer Gottessohn”
8 Chorale: “Heut´ schleußt er wieder auf die Tür”
“Was Gott tut, das ist wohlgetan” BWV 98
Dominica 21 post Trinitatis
19 Chorus: “Was Gott tut, das ist wohlgetan”
20 Recitative (Tenor): “Ach Gott! Wenn wirst du mich einmal”
21 Aria (Soprano): “Hört, ihr Augen, auf zu weinen”
22 Recitative (Alto): “Gott hat ein Herz, das des Erbarmens Überfluß”
23 Aria (Bass): “Meinen Jesum laß ich nicht”
COMPACT DISC III
“Lobe den Herren, den mächtigen König der Ehren” BWV 137
Dominica 12 post Trinitati
1 Chorus: “Lobe den Herren, den mächtigen König der Ehren”
2 Aria-Chorale (Altos): “Lobe den Herren, der alles so herrlich regieret”
3 Aria (Soprano, Bass): “Lobe den Herren, der künstlich und fein
4 Aria (Tenor): “Lobe den Herren, der deinen Stand sichtbar gesegnet”
5 Chorale: “Lobe den Herren, was in mir ist, lobe den Namen”
“Ihr, die ihr euch von Christo nennet” BWV 164
Dominica 13 post Trinitatis
6 Aria (Tenor): “Ihr, die ihr euch von Christo nennet”
7 Recitative (Bass): “Wir hören zwar, was selbst die Liebe spricht”
8 Aria (Alto): “Nur durch Lieb und durch Erbarmen”
9 Recitative (Tenor): “Ach, schmelze doch durch deinen Liebesstrahl”
10 Aria (Soprano, Bass): “Händen, die sich nicht verschließen”
11 Chorale: “Ertöt uns durch dein Güte”
Erster Teil
12 Chorus: “Schwingt freudig euch empor”
13 Chorale (Soprano, Alto): “Nun komm, der Heiden Heiland”
Aria (Tenor): “Die Liebe zieht mit sanften Schritten”
15 Chorale: “Zwingt die Saiten in Cythara”
Zweiter Teil
16 Aria (Bass): “Wilkommen werter Schatz”
17 Chorale (Tenor): “Der du bist dem Vater gleich”
18 Aria (Soprano): “Auch mit gedämpften, schwachen Stimmen”
19 Chorale: “Lob sei Gott dem Vater, gton”
Johannette Zomer, Sandrine Piau, Sibylla Rubens soprano
Bogna Bartosz alto
Christoph Prégardien, James Gilchrist tenor
Klaus Mertens bass
THE AMSTERDAM BAROQUE ORCHESTRA & CHOIR
TON KOOPMAN
PUBLICADO POR WELL BACH EM 4/4/2015, REPUBLICADO POR VASSILY EM 27/1/2020 e 23/4/2021, DENTRO DUMA CAMPANHA LANÇADA DENTRO DO CONSELHO DELIBERATIVO PEQUEPIANO PARA SEUS INTEGRANTES PORTADORES DE LISZTITE CRÔNICA DAREM UMA NOVA CHANCE À MÚSICA DO ABADE FRANZ.
TEXTO ORIGINAL DE WELL BACH:
Eis um raríssimo disco. Não somente por não existir em CD, como também pela exímia interpretação de um corpo de músicos de extrema excelência. Também se destaca por trazer uma parte da obra de Liszt pouco cultivada, a sua música de câmara, produzida em sua maior parte no ocaso de sua vida. Vida essa marcada por sucessos, vertiginosas aventuras musicais e românticas; também caracterizada pela grande generosidade com que apadrinhou tantos talentos, alguns dos quais sequer ouviríamos falar se não fosse o seu mecenato e apoio. Grande profeta da música, antecipou com ousadas e desbravadoras criações muito do que viria logo após a sua morte, como o atonalismo, o serialismo e mesmo a essência do que seria o chamado impressionismo de Debussy. Legando à música o que ele mesmo chamou de suas “flechas lançadas para o futuro” e aos pianistas muito trabalho duro de se realizar. A gravação, naturalmente extraída do vinil, talvez não venha a contentar os mais exigentes em matéria de excelência sonora, todavia a qualidade das peças e das interpretações, estou certo, ajudará a abstrair dessa ingrata limitação e nos fará desejar que algum dia este magnífico registro apareça finalmente remasterizado, com toda qualidade sonora que merece. São obras intensamente intimistas, totalmente opostas ao habitual virtuosismo que habitualmente caracteriza tantas peças do velho cigano. O virtuosismo no presente caso é de outra natureza – reside na habilidade do compositor em evocar atmosferas. Impressões sombrias, brumas e recordações de intensos estados de alma; pensamentos e dejavus, alucinações, visões fugidias. Uma melancolia meditativa que não deixa de evocar o Spleen baudelairiano. A faixa dois contém duas obras, a Elégie II e o belíssimo Romance Oubliée para viola e piano, de 1880 [NOTA DE VASSILY: o link republicado contém as cinco faixas do LP separadas]. As Elégies são transcrições do próprio Liszt, originalmente concebidas para piano solo. A Lúgubre Gondola aqui a temos numa transcrição moderna, da peça originalmente também para piano solo, em duas versões.
Gostaria de dedicar esta postagem ao amigo e grande melômano Newman Sucupira (em memória), que também apreciava muito estas obras e essa gravação. Abaixo, vemos o gênio em seu leito de morte – à espera da Lúgubre Gôndola.
Franz Liszt (1811-1886): Late Chamber Music – Späte Kammermusik
1- Elégie I – para violoncelo, piano, harpa e harmônio.
2- La Lugubre gondola – para violoncelo e piano.
3- Elégie II – para violino e piano
4 – Romance oubliée – para viola e piano.
5- La Notte – para violino e piano.
Reinbert de Leeuw, piano
Vera Beths, violino e viola
Anner Bijlsma, violoncelo
Gerda Ockers, harpa
Bob Zimmerman, harmônio
Philips, 1984.
[Nota de Vassily: graças ao leitor-ouvinte Eduardo, soubemos que a gravação agora também existe em CD!]
Este entusiasmado CD da Kammerorchester Basel, dirigido por Julia Schröder, é realmente muito bom! Um Händel alegre e convincente! Gostei muito!
Os Concerti Grossi, Op. 3 , HWV 312-317, são seis concertos grossos de Händel compilados em conjunto e publicados por John Walsh em 1734. Hoje, os musicólogos concordam que Handel não tinha conhecimento inicial da publicação. Em vez disso, Walsh, buscando tirar proveito do sucesso comercial do Op. 6 de Corelli, simplesmente combinou várias das obras já existentes de Händel e as agrupou em seis “concertos”. A malandragem deu super certo. A estrutura do Op. 3 é um tanto incomum. Os seis concertos têm algo entre três e cinco movimentos, e apenas dois deles contém os quatro movimentos usuais. Só ocasionalmente as forças instrumentais são estabelecidas da maneira tradicional de concerto grosso.
O concerto grosso é uma forma de música barroca na qual o material musical é passado de um pequeno grupo de solistas — primeiro e segundo violinos, primeiro viola e violoncelo (o concertino) — a uma orquestra completa (o ripieno ou concerto grosso). Isso é diferente do concerto solo, que apresenta um único instrumento solo acompanhado pela orquestra.
G. F. Handel (1685-1759): Concerti Grossi Op. 3 Nr. 1- 6
Gelobet sei der Herr, mein Gott BWV 129
Festo Trinitatis At the Feast of Trinity
1 Chorus: “Gelobet sei der Herr, mein Gott, mein Licht”
2 Aria (Bass): “Gelobet sei der Herr, mein Gott, mein Heil”
3 Aria (Soprano): “Gelobet sei der Herr, mein Gott, mein Trost”
4 Aria (Alto): “Gelobet sei der Herr, mein Gott, der ewig lebet”
5 Chorale: “Dem wir das Heilig itzt mit Freuden lassen klingen”
Sehet, wir gehn hinauf gen Jerusalem BWV 159
Dominica Estomihi
6 Arioso and Recitative (Bass, Alto): “Sehet! Komm, schaue doch, mein Sinn”
7 Aria with Chorale (Alto, Sopranos): “Ich folge dir nach”
8 Recitative (Tenor): “Nun will ich mich, mein Jesu”
9 Aria (Bass): “Es ist vollbracht”
10 Chorale: “Jesu, deine Passion ist mir lauter Freude”
Ich liebe den Höchsten von ganzem Gemüte BWV 174
Feria 2 Pentecostes
11 Sinfonia
12 Aria (Alto): “Ich liebe den Höchsten von ganzem Gemüte”
13 Recitative (Tenor): “O Liebe, welcher keine gleich!”
14 Aria (Bass): “Greifet zu, fasst das Heil, ihr Glaubenshände”
15 Chorale: “Herzlich lieb hab ich dich, o Herr”
Alles nur nach Gottes Willen BWV 72
Dominica 3 post Epiphanias
16 Chorus: “Alles nur nach Gottes Willen”
17 Recitative and Arioso (Alto): “O selger Christ, der allzeit seinen Willen”
18 Aria (Alto): “Mit allem, was ich hab und bin”
19 Recitative (Bass): “So glaube nun!”
20 Aria (Soprano): “Mein Jesus will es tun”
21 Chorale: “Was mein Gott will, das gescheh allzeit”
COMPACT DISC II
Gott, wie dein Name, so ist auch dein Ruhm BWV 171
Festo Circumcisionis Christi
1 Chorus: “Gott, wie dein Name, so ist auch dein Ruhm”
2 Aria (Tenor): “Herr, so weit die Wolken gehen, gehet deines Namens Ruhm”
3 Recitative (Alto): “Du süsser Jesus Name du”
4 Aria (Soprano): “Jesus soll mein erstes Wort in dem neuen Jahre heissen”
5 Recitative (Bass): “Und da du, Herr, gesagt”
6 Chorale: “Lass uns das Jahr vollbringen zu Lob dem Namen dein”
Jauchzet Gott in allen Landen BWV 51
Dominica 15 post Trinitatis et in ogni tempo
7 Aria (Soprano): “Jauchzet Gott in allen Landen”
8 Recitative (Soprano): “Wir beten zu dem Tempel an”
9 Aria (Soprano): “Höchster, mache deine Güte ferner alle Morgen neu”
10 Chorale / Aria (Soprano): “Sei Lob und Preis mit Ehren / Halleluja”
Ich lebe, mein Herze, zu deinem Ergötzen BWV 145
Feria 3 Paschatos
11 Aria (Duet Soprano, Tenor): “Ich lebe, mein Herze, zu deinem Ergötzen”
12 Recitative (Tenor): “Nun fordre, Moses, wie du willt”
13 Aria (Bass): “Merke, mein Herze, beständig nur dies”
14 Recitative (Soprano): “Mein Jesus lebt”
15 Chorale: “Drum wir auch billig fröhlich sein”
Ich habe meine Zuversicht BWV 188
Dominica 21 post Trinitatis
16 Sinfonia (reconstruction: Ton Koopman)
17 Aria (Tenor): “Ich habe meine Zuversicht”
19 Recitative (Bass): “Gott meint es gut mit jedermann”
20 Aria (Alto): “Unerforschlich ist die Weise”
21 Recitative (Soprano): “Die Macht der Welt verlieret sich”
22 Chorale: “Auf meinen lieben Gott trau ich in Angst und Not”
COMPACT DISC III
Sehe, ich will viel Fischer aussenden BWV 88
Dominica 5 post Trinitatis
First Part
1 Aria (Bass): “Siehe, ich will viel Fischer aussenden”
2 Recitative (Tenor): “Wie leichtlich könnte doch der Höchste uns entbehren”
3 Aria (Tenor): “Nein, nein! Gott ist alle Zeit geflissen”
Second Part
4 Recitative (Tenor): “Jesus sprach zu Simon”
5 Arioso (Bass): “Fürchte dich nicht”
6 Aria (Duet Soprano, Alto): “Beruft Gott selbst”
7 Recitative (Soprano): “Was kann dich denn in deinem Wandel schrekken”
8 Chorale: “Sing, bet und geh auf Gottes Wegen”
Sei Lob und Ehr den höchsten Gut BWV 117
Unspecified occasion – Ohne Bestimmung
9 Chorus: “Sei Lob und Ehr dem höchsten Gut”
10 Recitative (Bass): “Es danken dir die Himmelsheer”
11 Aria (Tenor): “Was unser Gott geschaffen hat”
12 Chorale: “Ich rief dem Herrn in meiner Not”
13 Recitative (Alto): “Der Herr ist noch und nimmer nicht”
14 Aria (Bass): “Wenn Trost und Hülf ermangeln muss”
15 Aria (Alto): “Ich will dich all mein Leben lang”
16 Recitative (Tenor): “Ihr, die ihr Christi Namen nennt”
17 Chorale: “So kommet vor sein Angesicht”
Ihr Tore zu Zion BWV 193 (Reconstruction: Ton Koopman)
Inauguration of the New Town Council
18 Chorus: “Ihr Tore zu Zion”
19 Recitative (Soprano): “Der Hüter Israel entschläft noch schlummert nicht”
20 Aria (Soprano): “Gott, wir danken deiner Güte”
21 Recitative (Alto): “O Leipziger Jerusalem”
22 Aria (Alto): “Sende Herr, den Segen ein”
23 Recitative (Bass): “Nun, Herr, so weihe selbst das Regiment”
24 Chorus: “Ihr Tore zu Zion”
Anteontem, Yamandu Costa celebrou seu aniversário, como o faz desde 2013, no aconchegante espaço do StudioClio em Porto Alegre, oferecendo um recital intimista, com mínima amplificação, para um punhado de privilegiadas pessoas -entre as quais estava eu, seu fã incondicional. Desde a primeira vez que o ouvi, eu e ele ainda garotos, dar uma canja num boteco em minha agriamarga Dogville natal, já se passaram vinte anos. Neles, acompanhei a trajetória hiperbólica do tipo sui generis e sem-cerimonioso, sempre de alpargatas e bombachas, de seus pagos meridionais para encantar o mundo todo. Sempre o achei um assombro, tanto pela aparente facilidade com que faz tudo o que quer com o violão, quanto pela habilidade com que, a partir de referências regionais, lança ao mundo criações amplamente improvisadas, de apelo instantâneo e universal, reinventando-as cada vez que as revisita. No entanto, como sói acontecer com os frutos dessa província corroída há tanto tempo pelo costume de incensar bairristicamente os medíocres enquanto estilinga os grandes talentos, espinafrar o garoto-prodígio já foi um esporte muito popular: seu som era “sujo”, suas ideias eram mais rápidas que seus dedos, que sua improvisação era só um sem-fim de micagens com escalas, ele era um enganador que nada duraria – um “fogo de palha”, como por aqui se diz. Ao ouvi-lo ontem, e pela primeira vez num ambiente tão camerístico, a destilar seus inúmeros truques violonísticos para servir sua assombrosa criatividade, o agora quarentão Yamandu conseguiu emocionar-me para além do assombro e do estupor. Depois de acompanhá-lo ao longo de quase toda carreira, por tantos shows e recitais, solo e nas mais diversas companhias musicais, eu finalmente entendi por que Kurt Masur chamou-o de “Paganini do violão” e Paco de Lucía o aplaudiu de pé. Escutando seu som desnudo tão de perto, consegui enfim embarcar no mesmo transe em que ele se imbui a cada peça que toca, e do qual parecia, anteontem, demorar ainda para despertar. Meus olhos suavam tanto quanto suava o aniversariante na canícula porto-alegrense: seu som, talvez agora “limpo” o bastante para os detratores, continuava inconfundível; seus dedos acompanhavam todas suas ideias; as escalas despachadas em velocidade lúbrica eram apenas um entre seus incontáveis recursos técnicos; e o garoto-prodígio, brilhante e cru, tornara-se um artista maduro e expressivo, capaz mesmo da improvável proeza de comover as nada impressionáveis fibras deste meu miocárdio empedernido.
Para celebrar os quarenta anos do genial passo-fundense, cidadão adorado do mundo que não esquece de seu pago, compartilhamos uma de suas primeiras gravações. Lançada em 2001 – ano em que Yamandu se projetou nacionalmente – e fora de catálogo, “Dois Tempos” é um duo com seu mentor e amigo, o correntino Lucio Yanel – um venerável violonista que, por doença da esposa, está afastado dos palcos e estúdios e, por isso, precisando de ajuda. Quem gostar da gravação e quiser ajudá-lo pode seguir este link. Tenho certeza de que o aniversariante adoraria ser presenteado com uma ajuda a seu mestre!
DOIS TEMPOS – LUCIO YANEL & YAMANDU COSTA
1 – Dois Tempos
2 – Doutor Sabe Tudo
3 – La Cau
4 – Pot-pourri: El Paraná en una Zamba – Zamba Del Grillo
5 – Amazônia
6 – Brejeiro
7 – La Libre
8 – Itá Enramada
9 – Milongueo Del Ayer
10 – Cristal
11 – Brasiliana Número 4: Samba Bossa Nova – Valsa – Choro
12 – Por Do Sol
A primeira vez que ouvi falar da pianista chinesa Zhu Xiao-Mei (Zhu é o nome de família e Xiao-Mei é seu nome) foi ao assistir um documentário sobre a vida dela, seu retorno para uma turnê na China após uma ausência de trinta anos e sua relação com a peça musical que tornou-se sua pièce de résistence – as Variações Goldberg, de Bach.
Há também um livro autobiográfico – O Rio e Seu Segredo (La rivière et son secret) que pretendo ler em breve.
Fiquei muito impressionado com essa artista, mesmo sem nunca haver ouvido um de seus álbuns. Ela teve que enfrentar tantas dificuldades e apesar disto (e talvez por isto) alcançou um nível de profundidade artística que transcende a música, a arte, e transborda em direção ao que, na falta de palavras mais adequadas (ao aqui tosco redator) chamo de filosofia e espiritualidade.
Mas o disco desta postagem não trata das Variações Goldberg ou mesmo outra música de Bach, e sim das duas últimas sonatas para piano de dois geniais compositores que viveram em Viena, sob condições muito diferentes, um deles morrendo perto de um ano depois do outro.
O que faz uma pianista reunir em um disco as sonatas destes dois compositores tão próximos mas tão distintos em um só álbum? Ela escolheu de cada um deles a última sonata: de Beethoven a Sonata No. 32 em dó maior, Op. 111 e de Schubert, a Sonata em si bemol maior, D. 960. Ela explica isto no livreto que acompanha os arquivos de música, pois em ambas as sonatas os compositores abordam o tema de completar, terminar os ciclos. Pois é, uso de rodeios mas é dela mesmo que estamos falando, a indesejada das gentes. Inevitabilidade é a palavra. A inevitabilidade vem com um consolo, que é a ausência de seu conhecimento, digamos assim, pleno. Ah, sábio e bondoso é o Senhor. Mas há momentos, se você ainda não os experimentou é por que é jovem ou sortudo, nos quais mergulhamos mais na consciência desta inevitabilidade. Leiam o livreto, a Xiao-Mei (ouso chama-la pelo primeiro nome) explica de maneira mais simples e direta do que eu.
A ideia é que estes compositores, ao trabalharem nestas obras já estavam neste estágio avançado de sabedoria. É verdade, Beethoven compôs a sonata em 1822 e ainda viveria um bom tempo, enquanto Schubert tinha apenas dois meses ainda de vida. De qualquer forma, essas condições certamente tornaram o momento criativo de cada um deles muito especial.
A sonata de Beethoven com apenas dois movimentos, inicia com um movimento que, segundo Xiao-Mei, simboliza luta, combate. ‘É a mensagem de Beethoven – você deve lutar pela vida’. Enquanto o primeiro movimento trata de gerar constantemente tensão, o segundo movimento se resolve em um ciclo de variações, que como as Goldberg, termina voltando a apresentar o tema inicial, fechando o ciclo, e depois dissolvendo-se, com uma nota de aceitação, de entrega. Xiao-Mei usa a palavra délivrance, na entrevista em francês.
A Sonata de Schubert apresenta outra abordagem do tema. Enquanto Beethoven resolve sua sonata e a termina com uma certa aceitação, Schubert é bem mais relutante. Isto fica aparente nos dois dolorosos e hesitantes primeiros movimentos da sua sonata. A morte deve ser bem mais assustadora para alguém de 32 anos, mesmo que seja alguém com tantos problemas quantos os que Schubert enfrentava.
No entanto, os dois últimos movimentos trazem mais luminosidade e uma certa leveza, mesmo que ainda haja momentos de silêncio e hesitação.
A entrevista que você poderá ler no livreto do disco foi feita por Michel Mollard, o produtor do documentário que mencionei no início e que também aparece neste vídeo, ao lado de Zhu Xiao-Mei.
Mesmo que você não se impressione tanto com este papo, baixe os arquivos e ouça a música. São duas obras primas interpretadas por uma artista que fica longe da superficialidade e do brilho fácil. Alguém que realmente conviveu longos períodos com as peças e as reverencia de maneira profunda.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para piano No. 32 em dó maior, Op. 111
Maestoso – Allegro con brio e appassionato
Arietta – Adagio molto, semplicie e cantábile
Franz Schubert (1797 – 1828)
Sonata para piano No. 23 em si bemol maior, D. 960
Molto moderato
Andante sostenuto
Scherzo – Allegro vivace com delicateza
Allegro, ma non troppo
Zhu Xiao-Mei, piano
Gravação realizada na Igreja Saint Pierre, Paris, em 2004
Eu busquei muito este CD, pela música e principalmente pelo intérprete. Paul Jacobs nasceu em 22 de junho de 1930 em Nova Iorque e foi um prodígio. Antes de dez anos já dava concertos. Estudou na Juilliard School. Ao se formar em 1951, foi para a Europa, permanecendo a maior parte do tempo em Paris. Tornou-se figura proeminente no cenário da música contemporânea, atuando em diversos grupos, como o Domaine Musical de Pierre Boulez.
Paul Jacobs
Em 1960 retornou para Nova Iorque e continuou muito ativo, participando de seminários e apresentando-se como solista. Estreou música de compositores como Stockhausen, Berio, Henze, Messiaen e Carter. Em 1961 foi nomeado pianista da Filarmônica de Nova Iorque, indicado por Leonard Bernstein, e ocupou esta posição até o fim de sua vida. Paul tinha interesse por música antiga e era também cravista. Foi dono de uma boa coleção com diversos instrumentos, tais como cravos e espinetas, inclusive um Érard, piano da época de Chopin.
Sua relação com o selo Nonesuch começou quando foi convidado a gravar a obra para piano de Schoenberg, em 1974, devido ao centenário de nascimento deste compositor. Em um intervalo das gravações, Paul tocou um dificílimo estudo de Debussy com tamanha facilidade que todos no estúdio ficaram maravilhados. Assim, estes estudos foram gravados em 1975 e posteriormente outros álbuns com música de Debussy, que muito breve poderão ser encontrados no seu distribuidor PQP Bach mais próximo.
Lamentavelmente, Paul Jacobs foi uma das primeiras vítimas da terrível síndrome que no início dos anos oitenta do século passado acometeu o mundo. Paul Jacobs morreu em 25 de setembro de 1983.
A gravação de ‘En blanc et noir’ que completa este álbum foi feita em 5 de junho de 1982, em um festival de música em Ojai, na Califórnia. Gilbert Kalish descreveu como, apesar do desgaste físico que a doença causava, como a música inspirava Paul e o animava. O som desta gravação não tem a mesma qualidade da gravação em estúdio dos ‘Études’, mas o calor e a empolgação do momento equilibram a balança.
Os ‘Études’ e ‘Em blanc et noir’ encontram-se entre as últimas obras compostas por Debussy, por volta de 1915, quando já se encontrava doente e tinha consciência de seu próximo fim. Mesmo assim produziu estas peças maravilhosas e seu grande envolvimento com a música também se dava na preparação da edição das obras de Chopin. A grande admiração pela obra deste compositor certamente o animou na produção dos seus ‘Études’, que em número de doze se dividem em dois livros. Esta divisão se deve a duas abordagens um pouco diferentes. O primeiro livro leva em conta problemas técnicos tradicionais e o segundo aborda problemas associados a figurações musicais. Os próprios títulos revelam essas diferenças. Por exemplo, o primeiro estudo do livro I chama-se ‘Pour les “cinc doigts” – d’après Monsieur Czerny’, enquanto que o primeiro estudo do livro II é intitulado ‘Pour les degrés chromatiques’. ‘En blanc et noir’ faz clara referência às teclas do piano, mas também tem reflexos dos sentimentos despertados devido à guerra que assolava a Europa.
Eu não consigo ler o título da segunda obra do disco sem me lembrar de ‘Ebony and Ivory’, de Paul MacCartney e Stevie Wonder.
Claude Debussy (1862 – 1918)
Douze Études pour le piano
Étude 1 pour les cinq doigts d’après Monsieur Czerny
Espero que você goste deste disco tanto quanto eu e que esta postagem possa contribuir para reafirmar memória deste extraordinário músico que foi Paul Jacobs.
O último dia 5 teria sido o centésimo aniversário daquele gélido e sensacional colosso do piano que atendia pelo nome lapidar de Arturo Benedetti Michelangeli. Notoriamente recluso e pouco afeito a manifestar-se de maneiras diferentes de música (e olhe lá!), ele provavelmente não estaria nem aí para seu centenário, e sequer nos abriria a porta de sua amada propriedade às margens do lago de Lugano para lhe alcançarmos os parabéns, de modo que sobraria para algum de nós outros celebrar a data. É isso o que fazemos, trazendo-lhes um LP em que o Concerto no. 5 de Beethoven soa nobre, mas sem pompa imperial, dentro daquela precisão elegante e sem arroubos responsável por boa parte do mito de ABM, muitas vezes criticado pela estreiteza do diminuto repertório, que burilava à perfeição. No pódio, o também mítico Sergiu Celibidache rege a orquestra do ORTF num acompanhamento impecavelmente talhado ao feitio do solista. O extraordinário regente romeno, notório pela abordagem sui generis da interpretação musical, avesso a gravações e um dos últimos condutores que eu imaginaria lidando com um virtuoso, tinha Michelangeli, com quem colaborava frequentemente, na mais alta consideração. Espero que a qualidade do som, infelizmente bastante abaixo do ideal, não os afaste da oportunidade de apreciar essa peso-pesadíssima parceria.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto no. 5 para piano e orquestra em Mi bemol maior, Op. 73, “Imperador”
1 – Allegro
2 – Adagio un poco mosso
3 – Rondo: Allegro
Arturo Benedetti Michelangeli, piano Orchestre national de l’Office de Radiodiffusion-Télévision Française (ORTF) Sergiu Celibidache, regente
Em algum lugar eu li e nunca mais esqueci: “Schubert nasceu para a música como as fagulhas saltam para o ar. De todos os compositores com um dom acima do mortal, o seu foi talvez o mais espontâneo, o mais abundante, o mais puramente lírico”. Sem dúvida estas Sonatas que ora vamos compartilhar com os amigos do blog em duas partes são uma pequena porção do gênio criativo e abundante criador de melodias que foi Schubert. Todos os escritores dizem que ele era amável, sincero, alegre, generoso, sem o menor vestígio de rancor ou inveja. Se algum de seus amigos dava um baile, ele era capaz de improvisar valsas durante horas. Alguns compositores vivem para a música. Schubert era a música. Diz a lenda que ele dormia muitas vezes de óculos a fim de não ter que perder tempo a procura-los se lhe ocorresse alguma ideia a noite. O amigo de Schubert o pintor Moritz von Schwind disse certa vez: “Não poderia haver existência mais feliz. Todas as manhãs, Schubert compunha alguma bela peça e toda tarde ia passear e encontrava os amigos, tocava e cantava, ficávamos arrebatados, depois íamos a alguma taverna jogar bilhar e beber. Não tínhamos um tostão, mas éramos felizes”.
Devemos a redescoberta das Sonatas ao grande pianista austríaco Artur Schnabel, cujas execuções dessas obras vieram como grande revelação ao mundo musical. As sonatas para piano de Schubert permaneceram desconhecidas um tempo muito longo. Para se ter uma ideia Rachmaninov não sabia de sua existência. Um dos motivos pode ser que o caráter das sonatas tem visão diferente da forma convencional, são obras longas, “comprimento celestial”, e tocante leveza lirica vienense. Schubert venerava Beethoven e parece que ele estava muito consciente de suas próprias deficiências, não em ideias ou inspiração, mas em controlar o material que dispunha e desenvolvê-lo de maneira pianística. As sonatas, não são tão dramáticas quanto as de Beethoven e nem tão conhecidas quanto as de Mozart ou ainda tão conhecidas como os seus Impromptus. No entanto elas são alegres e ótimas de ouvir.
Confesso que quando me deparei com este álbum num sebão do centro de São Paulo ainda no início deste século, fiquei emocionado. Acho as performances de Kempff (1895 – 1991) atraentes, com uma variedade fabulosa de cores tão apropriadas à música de Schubert, interpreta as sonatas com um romantismo lírico contido. As leituras são silenciosas, meditativas e focadas. Como Kempff afirma em suas anotações: “Schubert revela seus segredos mais íntimos para nós no pianíssimo”, gravou as sonatas de Schubert entre 1965 e 1969 em Hannover, Alemanha dividi em 2 postagens os 7 CDs da coleção.
A DG resolveu colocar em ordem decrescente as sonatas, nesta primeira parte com 4 CDs temos a última das sonatas de 1828 (dois meses antes da morte prematura do gênio), a maravilhosa Sonata em Ré maior, D960, esta obra começa como muitas das canções de Schubert e seu primeiro tema suave domina o movimento. O movimento lento tem uma bela serenidade e é seguido por um scherzo delicadamente gracioso. O alegre rondo final sugere a influência do movimento final do quarteto op. 130 de Beethoven, este final exemplifica a qualidade da dimensão celestial da música de Schubert tantas vezes citado pelos escritores. O brilho translúcido da interpretação de Kempff da sonata D840 combina maravilhosamente e acredito que faz valer a afirmação (um tanto exagerada talvez) de que “Schubert é como Beethoven no céu”. Kempff está inspiradíssimo quando interpreta as cinco delicadas peças que completam o primeiro CD elas são obras de beleza única, adoro o piano de Schubert com o Kempff. Resumindo um pacotaço com a mais sublime e delicada música pela música (Schubert).
Schubert Sonatas primeira parte – Wilhelm Walter Friedrich Kempff CD1
01 – Sonata No.21 in B flat major, D.960 – I. Molto moderato
02 – Sonata No.21 in B flat major, D.960 – II. Andante sostenuto
03 – Sonata No.21 in B flat major, D.960 – III. Scherzo Allegro vivace
04 – Sonata No.21 in B flat major, D.960 – IV. Allegro ma non troppo
05 – Five Piano Pieces (Sonata No.3 in E major), D.459 – I. Allegro moderato
06 – Five Piano Pieces (Sonata No.3 in E major), D.459 – II. Allegro
07 – Five Piano Pieces (Sonata No.3 in E major), D.459 – III. Adagio
08 – Five Piano Pieces (Sonata No.3 in E major), D.459 – IV. Scherzo Allegro
09 – Five Piano Pieces (Sonata No.3 in E major), D.459 – V. Allegro patetico
CD2
01 – Piano Sonata No. 19 in C minor, D. 958 Allegro
02 – Piano Sonata No. 19 in C minor, D. 958 Adagio
03 – Piano Sonata No. 19 in C minor, D. 958 Menuetto & Trio, Allegro
04 – Piano Sonata No. 19 in C minor, D. 958 Allegro
05 – Piano Sonata No. 20 in A major, D. 959 Allegro
06 – Piano Sonata No. 20 in A major, D. 959 Andantino
07 – Piano Sonata No. 20 in A major, D. 959 Scherzo & Trio, Allegro vivace… Un poco piu lento
08 – Piano Sonata No. 20 in A major, D. 959 Rondo, Allegretto
CD3
01 – Schubert, Sonata No.18 in G major, D. 894, I. Molto moderato e cantábile
02 – Schubert, Sonata No.18 in G major, D. 894, II. Andante
03 – Schubert, Sonata No.18 in G major, D. 894, III. Menuetto. Allegro moderato
04 – Schubert, Sonata No.18 in G major, D. 894, IV. Allegretto
05 – Schubert, Sonata No.17 in D major, D. 850, I. Allegro vivace
06 – Schubert, Sonata No.17 in D major, D. 850, II. Con moto
07 – Schubert, Sonata No.17 in D major, D. 850, III. Scherzo. Allegro vivace
08 – Schubert, Sonata No.17 in D major, D. 850, IV. Rondo. Allegro moderato
CD4
01 – Piano Sonata No. 16 in A minor, D. 845 (Op. 42) Moderato
02 – Piano Sonata No. 16 in A minor, D. 845 (Op. 42) Andante poco moto
03 – Piano Sonata No. 16 in A minor, D. 845 (Op. 42) Schero & Trio, Allegro vivace… Un poco piu lento
04 – Piano Sonata No. 16 in A minor, D. 845 (Op. 42) Rondo, Allegro vivace
05 – Piano Sonata No. 15 in C major (‘Relique’), D. 840 Moderato
06 – Piano Sonata No. 15 in C major (‘Relique’), D. 840 Andante
07 – Piano Sonata No. 14 in A minor (‘Grande Sonate’), D. 784 (Op. posth. 143) Allegro giusto
08 – Piano Sonata No. 14 in A minor (‘Grande Sonate’), D. 784 (Op. posth. 143) Andante
09 – Piano Sonata No. 14 in A minor (‘Grande Sonate’), D. 784 (Op. posth. 143) Allegro vivace
Gulda arremata a integral das sonatas para piano de Beethoven com excelentes interpretações para as três derradeiras. Gosto especialmente da Op. 110, e admiradores de sua versão antológica para o “Cravo bem Temperado” ouvirão seus ecos na incrível fuga final. Já quem esperava que o também jazzista Fritschi fosse botar as manguinhas de fora nos trechos do assim chamado “proto-jazz” nas sublimes variações que concluem a Op. 111 vai se surpreender com o pulso que ele mantém ao longo de todo movimento, coroando sem arrebatamentos a série que é um dos pináculos da literatura pianística. E espero que quem conhece Gulda somente como o tiozão excêntrico de barrete na cabeça, imagem que ele consolidou na maturidade e velhice, possa admirar o consumado mestre que ele era e, em que pese a má qualidade de som de suas gravações de juventude (pois Gulda é, disparadamente, o mais mal gravado dos grandes pianistas), explorar um pouco mais sua vasta e muito variada discografia.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
1 – Sonata para piano no. 30 em Mi maior, Op. 109 (1820)
– Vivace ma non troppo – Adagio espressivo – Prestissimo
– Andante – molto cantabile ed espressivo
– Moderato cantabile – Molto espressivo
2 – Sonata para piano no. 31 em Lá bemol maior, Op. 110 (1821)
– Allegro molto
– Adagio ma non tropo – Fuga – Allegro ma non troppo
3 – Sonata para piano no. 32 em Dó menor, Op. 111 (1821-2)
– Maestoso – Allegro con brio ed appassionato
– Arietta – Adagio molto semplice e cantabile
Apenas 30 anos separam os quintetos de clarinete de Brahms e Hindemith. No entanto, as diferenças não são apenas nos temperamentos dos dois artistas, nem somente na diferença dos conceitos e das estéticas. O que os separa é todo o mundo que há entre a harmonia e a desordem. Mas não pense assim, apressado leitor, amo a ambos.
O quinteto para clarinete mais popular é o de Mozart (104 gravações), seguido pelo de Brahms (87), que é baseado no primeiro. Nenhuma outra peça nessa formação rivaliza com essa dupla em popularidade, embora a literatura inclua joias como os quintetos de Weber e Reger.
Assim como eu, Erico Verissimo amava o quinteto de Brahms, tanto que chamou sua autobiografia de Solo de Clarineta. Há toda uma lenda em torno da obra. É obra belíssima.
Já Hindemith nunca derreterá corações como Brahms, e, na verdade, seu quinteto coloca-se contra a tradição musical do pré-guerra. Ele é contemporâneo de vários dos concertos da série Kammermusiken, mas não tão bons. Longe de ser uma homenagem a Brahms, o trabalho parece exorcizar o mestre mais velho.
Brahms & Hindemith: Quintetos para Clarinete
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Clarinet Quintet in B minor, op. 115 (1891) [37:48]
I. Allegro 13:29
II. Adagio 10:29
III. Andantino 4:28
IV. Con moto 9:21
Paul HINDEMITH (1895-1963)
Clarinet Quintet, op. 30 (1954 version) (1923/1954) [19:45]
I. Sehr lebhaft 2:12
II. Ruhig 6:35
III. Schneller Ländler 5:42
IV. Arioso. Sehr ruhig 2:55
V. Sehr lebhaft, wie im ersten Satz 2:19
Cada vez que, numa integral das sonatas para piano de Beethoven, se chega à tiranossáurica “Hammerklavier”, eu falto com educação para com as pobres sonatas que dividem o disco com a avantajada Op. 106. Não será o caso nesta série de Gulda, pois a peça que abre o CD é uma obra-prima consumada, a Op. 101, normalmente considerada a primeira obra do visionário período final da produção do compositor, e que termina, assim como sua vizinha de disco, com um magistral movimento contrapontístico.
Falando em contraponto… Bem, eu lhes falei que me é muito difícil não falar da Op. 106 – e talvez melhor seja chamá-la assim, pois a denominação “Hammerklavier” que a consagrou também foi aplicada por Beethoven à Op. 101. O que mais me intriga nela nada tem a ver com o movimento de abertura, que chega-chegando, mostrando que o que vem em seguida é algo sem precedentes na história da música, nem com o lilliputiano Scherzo que antede do transcendental Adagio, o mais longo e sentido movimento de uma sonata para piano até então. O que me faz sempre voltar a ela é o complicadíssimo finale, uma fuga colossal que abre com longuíssimo e bizarro tema, toma várias liberdades em relação às regras canônicas, e que impõe dificuldades nababescas ao executante, e de tal maneira que mesmo grandes pianistas deixam nele transparecer suas humanas limitações e, não raro, seu alívio ao martelar aquele acorde de Si bemol final (aos que duvidam de mim, sugiro procurarem o vídeo de Brendel tocando esse acorde para verem que não exagero). Talvez não exista uma interpretação totalmente satisfatória deste Leviatã, mas o fato é que Gulda é dos poucos que conheço que conclui a travessia sem aparentar dificuldades técnicas, e despacha os compassos finais com uma secura de quem, sem se impressionar com tantos trinados e semicolcheias, parece já estar pensando na Op. 110.
FRIEDRICH GULDA SPIELT BEETHOVEN – SÄMTILCHE KLAVIERSONATEN (8/9)
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
1 – Sonata para piano no. 28 em Lá maior, Op. 101 (1816)
– Allegretto ma non troppo
– Vivace alla Marcia
– Adagio ma non troppo – Con affetto – Presto – Allegro
2 – Sonata para piano no. 29 em Si bemol maior, Op. 106, “Hammerklavier” (1817-8)
– Allegro
– Scherzo – Assai vivace – Presto
– Adagio sostenuto
– Largo – Allegro risoluto – Fuga a tre voci con alcune licenze
Yuja Wang e Khatia Buniatishvili são livres para se vestirem como quiserem. É justo. Mas boa parte do público as conhecem mais através das pernas de uma e dos seios e costas da outra do que por suas qualidades musicais. É injusto. Wang é efetivamente uma tremenda pianista, mas creio que o mesmo não se possa dizer de Buniatishvili, uma instrumentista que aposta apenas na emoção. Para comprovar o que digo, este CD da DG venceu vários prêmios de melhor disco erudito solo de 2019. Isto é, Wang merece ser ouvida. O Ligeti e o Prokofiev dela são sensacionais. Já Rachmaninov e Scriabin são compositores tão estranhos a meu gosto que não vou falar. A 8ª Sonata de Prokofiev é notavelmente interpretada. Como Sviatoslav Richter, ela consegue integrar o poder e o lirismo que caracterizam os longos movimentos externos. Ao manter o Andante sognando estável, elegante e discreto, os toques expressivos de Wang tornam-se ainda mais significativos. Dos três Estudos de Ligeti, o Vertige é o melhor, e raramente soou tão suave e transparente.
Rachmaninov / Scriabin / Ligeti / Prokofiev: The Berlin Recital (Yuja Wang)
Sergey Vasil’yevich Rachmaninov (1873 – 1943)
1.Prelude in G Minor, Op. 23, No. 5 3:53
Études-Tableaux, Op. 39
2.No. 1 in C Minor 3:25
Études-Tableaux, Op. 33
3.No. 3 in C Minor 4:15
4.Prelude in B Minor, Op. 32, No. 105:32
György Ligeti (1923 – 2006)
Études pour piano
6.No. 3 “Touches bloquées” 1:53
Études pour piano
7.No. 9 “Vertige” 2:39
Études pour piano
8.No. 1 “Désordre” 2:35
Sergei Prokofiev (1891 – 1953)
Piano Sonata No. 8 in B-Flat Major, Op. 84
9.1. Andante dolce 13:49
10.2. Andante sognando 4:39
11.3. Vivace 10:46
PUBLICADO POR FDP BACH EM 21/7/2013, RESTAURADO POR VASSILY EM 22/1/2020, DENTRO DAS CELEBRAÇÕES DOS 250 ANOS DE LUDWIG VAN BEETHOVEN – o #BTHVN250
NOTA DE VASSILY: o colega FDP Bach publicou os três últimos discos da integral das sonatas para piano de Beethoven com Gulda numa só postagem. Tomei a liberdade de dividi-la em três partes, uma para cada disco – e, quando vocês ouvirem a “Appassionata” de Gulda, talvez me deem razão, querendo algum sossego para os ouvidos inquietos. Ainda assim, guardem um pouquinho de tímpanos para a Op. 78 – uma das melhores de toda a série, e das preferidas do próprio Beethoven – e para uma Op. 81a com uma constrição e expressividade que refutam alguns dos estereótipos que atribuíam à consumada arte do doidão vienense.
POSTAGEM ORIGINAL DE FDP BACH ACERCA DOS TRÊS ÚLTIMOS DISCOS:
Muito bem, vamos acabar com esta coleção. Nem preciso dizer que são imperdíveis, e Gulda se consolida definitivamente como um grande intérprete de Beethoven.
O sétimo cd começa apenas com a “Apassionata“, um marco da linguagem pianística, e também uma prova de fogo para qualquer pianista. Começa a 150 km/h e termina a 300 km/h, com uma das mais sensacionais páginas do piano. Simplesmente fantástico o que Ludwig conseguiu fazer aqui. Eis o que meu biógrafo favorito de Beethoven, Maynard Solomon, escreveu esta sonata e sobre a Waldstein:
“Com as Sonatas Waldstein e Appassionata op. 53 e 57, compostas principalmente em 1804-1805, Beethoven transpôs irrevogavelmente as fronteiras do estilo pianístico clássico, criando sonoridades e tessituras que nunca haviam sido antes obtidas. Ele deixou de limitar as dificuldades técnicas de suas sonatas para permitir a execução por amadores competentes mas, pelo contrário, dilatou as potencialidades do instrumento e da técnica até os seus limites exteriores. As dinâmicas foram grandemente ampliadas; as cores são fantásticas e luxuriantes, aproximando-se de sonoridades quase orquestrais. Por esta razão, Lens chamou Waldstein “uma sinfonia heróica para piano“. A Apassionata – a qual a par de op. 78 foi a sonata favorita de Beethoven até o seu op. 106 – suscitou comparações com o Inferno de Dante, com o Rei Lear e Macbeth, e com as tragédias de Corneille, Cada uma das sonatas é em três movimentos, mas em ambos os casos _especialmente no op. 53 – os movimentos lentos estão organicamente ligados aos finales, de modo a dar a impressão de obras em dois movimentos ampliados. Enquanto a Waldstein fecha sobre a típica nota beethoveniana de jubilosa transcendência, a Apassionata mantém do começo ao fim uma incomum atmosfera trágica. (…)” Este mesmo sétimo cd ainda traz outra pintura, a Sonata Les Adieux .
Alguém talvez possa estranhar a leitura de Gulda, que explora outras possibilidades em sua interpretação, principalmente aqueles que, como eu, são absolutamente viciados na Apassionata e que conhecem diversas outras versões, como os clássicos Kempff, Brendel e Gilels, falando dos antigos, ou mais recentemente, Paul Lewis. Mas basta prestarem atenção que os senhores entenderão a proposta deste grande pianista, Friedrich Gulda.
A partir do oitavo cd o bicho pega, e aí definitivamente é coisa de gente grande. Hammerklavier”, op. 106, nas palavras de Solomon citadas acima a favorita do próprio Beethoven, e as últimas três, de op. 109, op. 110 e op. 111.
Sem temer ser redundante, tratam-se de três cds absolutamente “IM-PER-DÍ-VEIS” !!!
CD 7
1 Sonata No.23 in F minor Op.57 ”Appassionata” (1804-05) – 1. Allegro assai
2 Sonata No.23 in F minor Op.57 ”Appassionata” (1804-05) – 2. Andante con moto
3 Sonata No.23 in F minor Op.57 ”Appassionata” (1804-05) – 3. Allegro ma non troppo – Presto
4 Sonata No.24 in F-sharp major Op.78 ”A Thérèse” (1809) – 1. Adagio cantabile – Allegro ma non troppo
5 Sonata No.24 in F-sharp major Op.78 ”A Thérèse” (1809) – 2. Allegro vivace
6 Sonata No.25 in G major Op.79 (1809) – 1. Presto alla tedesca
7 Sonata No.25 in G major Op.79 (1809) – 2. Andante
8 Sonata No.25 in G major Op.79 (1809) – 3. Vivace
9 Sonata No.26 in E-flat major Op.81a ”Les Adieux” (1809-10) – 1. Adagio – Allegro
10 Sonata No.26 in E-flat major Op.81a ”Les Adieux” (1809-10) – 2. Andante Espressivo
11 Sonata No.26 in E-flat major Op.81a ”Les Adieux” (1809-10) – 3. Vivacissimamente – Poco andante
12 Sonata No.27 in E minor Op.90 (1814) – 1. ”mit Lebhaftigkeit und majorchaus mit Empfindung und Ausdruck”
13 Sonata No.27 in E minor Op.90 (1814) – 2. ”nicht zu geschwind und sehr singbar vorzutragen”
Pietro Mascagni (Livorno a 7 de dezembro de 1863, 2 de agosto de 1945) então professor de piano e diretor da escola municipal de música da cidade de Cerignola (entre a canela e o calcanhar da bota italiana) resolveu participar, em 1890, de um concurso patrocinado pelo editor Sonzogno, que oferecia um belo prêmio à melhor ópera apresentada. Muito jovem ainda Pietro lutava com dificuldades financeiras, então apareceu uma despretensiosa oportunidade: um “Concorso di Incoraggiamento al Giovani Compositori Italiani”. Resolveu entrar na competição na esperança de conseguir ser percebido e até mesmo, quem sabe, ganhar o tão suado dim-dim extra que todos precisamos. Durante dois meses empenhou-se em criar a peça, que pelo regulamento do concurso deveria ter somente um ato. Escolheu então uma peça teatral do escritor siciliano Giovanni Verga (1840-1922), na época um dos autores de maior prestígio na Itália. Verga havia publicado uma coleção de narrativas “da vida real”, Vita dei Campi, que obtivera grande repercussão. “Cavalleria Rusticana” (Cavalheirismo Rústico) de 1884 é uma destas narrativas.
Anuncio do “Concorso”, 1888
Para sintetizar em um único ato a grande densidade dramática do conto de Verga, que Giovanni Targioni-Tozzetti e Guido Menasci haviam transformado em libreto, Mascagni lançou mão do notável artifício – um prelúdio, com canto no meio. Consistia em apresentar, através do tenor e antes do início do drama, uma menção do enredo sugerindo a razão da trama passional que a seguir iria se desenrolar.
No dia da apresentação no concurso o próprio Macagni executou a ópera ao piano para os membros do júri. Tinha apenas 26 anos e era completamente desconhecido. Mas havia criado uma obra surpreendente, que escapava por completo aos padrões de estruturação e desenvolvimento da ação dramática então em voga. O prêmio lhe foi dado e a 17 de maio de 1890, “Cavalleria Rusticana” estreou no Teatro Costanzi, em Roma, para uma plateia numerosa. O sucesso foi absoluto. Depois da terceira apresentação, Mascagni recebeu o título de Cavaleiro da Coroa da Itália e após a sétima o seu nome foi incorporado à famosa antologia operística de Guido Mazzoni. De repente, o jovem e obscuro professor de piano e compositor principiante do interior da Itália, via-se como uma celebridade ( título este que se converteria num sério problema em sua vida, no correr dos anos seguintes: estreara com uma obra prima e o público passaria a exigir que ele criasse apenas obras-primas ). Pietro Mascagni realizara uma façanha sem precedentes no mundo do teatro lírico: chegara ao apogeu da fama, tornando-se um ídolo com sua primeira ópera.
Teatro Costanzi – Roma, século XIX.
Em seis meses, a ópera fora montada em todas as capitais da Europa, conseguindo êxito em todas elas. Embora surpreendente, o sucesso da peça de Mascagni era compreensível: numa Itália efervescente, que experimentava grandes e profundas transformações, os teatros continuavam apresentando os dramas musicais do romantismo wagneriano, que já não diziam quase nada de novo ao público. Na última década do século XIX plateia, editores, músicos, cantores e críticos italianos estavam de saco cheio da teatralidade fantasiosa das grandes óperas. Careciam de boas novidades.
A novidade apareceu na “Cavalleria Rusticana”, toda a ação se passa ao ar livre e o povo subiu ao palco para encenar um episódio dramático do seu cotidiano. E a plateia, que também era povo, sentiu ser sua vida que ali se estava cantando, identificou-se com ela e foi por ela envolvida. Um golaço de placa. Mascagni ofereceu ao mundo um quadro intenso e comovente da vida do interior, que conhecia bem, mostrava um momento da realidade de uma gente simples, de atividade modesta e anônima, de paixões intensas e desencadeadas. Gente rústica do interior da Itália. Musicou um relato simples e sem sutileza analítica: a crônica de um crime passional num vilarejo do interior. Suas personagens não vivem em castelos, entre plumas e armaduras, em mosteiros, prisões e campos de batalha. Elas surgem numa praça e cantam como todos os dias se ouve pelas estradas e campos italianos. Rústicos, reais e expressivas, como verdadeiros aldeões. Até mesmo a “siciliana” ele conservou em dialeto para maior autenticidade.
A música brota unicamente da situação e não segundo o velho esquema da construção baseada na ária, com as consequentes e inevitáveis repetições. De cada cena, de cada situação o compositor soube colher a atmosfera exata, destacando com admirável coerência os diferentes momentos cênicos, para valorizar adequadamente cada particularidade do enredo.
O Enredo
Vizzini em 1892
Podemos dizer que “Cavalleria” é uma sombria história de amor e vingança. Se passa num domingo de Páscoa o que ajuda a aumentar a dramaticidade dos fatos. A ação é centralizada em Turiddu, jovem soldado que mora com a mãe. Ela tem uma espécie de taberna de vinho na praça da vila da aldeia de Vizzini (sul da Sicilia). Depois de prestar serviço militar e dar baixa, o jovem Turiddu volta para casa. Quando foi servir o exército ele era noivo de Lola, mas, ao voltar, encontrou-a casada com Alfio, o carreteiro mais próspero da aldeia. Para esquece-la Turiddu iniciou um namoro com a jovem Santuzza. Mas o amor que um dia havia sentido por Lola não morrera e Turiddu abandonou Santuzza. Lola, apesar de casada, também continuava a amar o antigo noivo e, aproveitando-se das frequentes ausências do marido, voltou a encontrar-se com Turiddu. Este então passa a rondar a casa de Alfio, que nada desconfia. Esta é a situação quando se inicia a ópera.
Pietro Mascagni na época da Cavalleria
O prelúdio orquestral apresenta vários temas que são importantes no desenvolvimento do drama. Após calmos compassos de abertura, que simbolizam a paz do Dia de Páscoa, surge o tema do apaixonado pedido de Santuzza pelo amor de Turiddu. O prelúdio é subitamente interrompido pela voz de Turiddu atrás da cena. Com um marcante acompanhamento de harpa, ele canta a “Siciliana”, que como disse no início do texto, Mascagni escreveu originalmente para o dialeto siciliano em lugar do italiano, e que é uma serenata amorosa no tradicional estilo siciliano. Turiddu compara os lábios de Lola com framboesas vermelhas, fala do brilho de amor em seus olhos, e compara a cor de suas faces com cerejas silvestres. O homem que conquistar estes tesouros para si será mesmo feliz. Então, numa sinistra previsão de tragédia, Turiddu vê sangue na porta da casa de Lola. Mas, acrescenta, mesmo a visão da morte não o amedronta. Somente se entregará ao desespero se não encontrar Lola esperando por ele no Paraíso. A serenata morre lentamente, com notas sustentadas, e a orquestra toca, então, temas vivos da tragédia que se seguirá.
O subir das cortinas é acompanhado do repique de sinos. Vemos uma praça deserta de uma aldeia da Sicília. À direita, a entrada de uma igreja; à esquerda, a taberna e a casa de Mamma Lúcia. Amanhece. A medida que a música se torna brilhante e alegre, camponeses e aldeões cruzam a praça, suas vozes cobrindo o acompanhamento da orquestra com frases simples e curtas. Algumas pessoas entram na igreja, enquanto outras passeiam na rua. Ouvem-se vozes femininas cantando a alegria do Domingo de Páscoa, como os gorjeios dos pássaros e a fresca beleza da primavera que, desperta, se misturam com as ternas confissões de amor.
Quando as mulheres entram lentamente na cena, ouvem-se as vozes masculinas louvando a diligência feminina e os encantos das mulheres que dominam os corações. Surgem os homens depois, e todas as vozes se misturam num melodioso coro saudando as alegrias da primavera e o amor. As últimas notas ecoam encantadoras atrás da cena, à distância. As pessoas deixam a praça, que mais uma vez fica vazia.
Abruptamente, a tonalidade musical muda para um sombrio motivo anunciando a tragédia. A medida que ela cresce em intensidade, surge Santuzza, e encontra Mamma Lúcia saindo da taberna. A moça pergunta por Turiddu. Quando Lúcia pergunta por que ela veio procurar seu filho, Santuzza simplesmente responde que deseja vê-lo. Agitada, Lúcia replica que não sabe onde está seu filho, acrescentando que não deseja brigas. Desesperada, Santuzza implora-lhe que tenha piedade, como Cristo teve piedade de Madalena. Suplica que Lúcia lhe diga onde está Turiddu.
Lúcia responde afinal que ele foi buscar vinho em Francofonte. Santuzza declara que Turiddu foi visto na aldeia na noite passada. Alarmada, Lúcia pergunta quem lhe disse isso, por que Turiddu não voltou para casa. Depois, comovida pela tristeza da jovem, Lúcia convida a entrar em casa. Santuzza exclama que não pode entrar porque foi excomungada. Temerosa, Lúcia pergunta o que Santuzza sabe a respeito de seu filho, mas Santuzza fala apenas da angústia em seu coração.
Nesse momento, a música se transforma lentamente em um rítmico staccato que vai crescendo. Ouvem-se o estalar de um chicote e o badalar alegre dos sinos quando Álfio entra na praça, acompanhado por amigos. Canta uma viva canção acerca de seu belo cavalo, dos sinos que repicam, e do chicote que estala (“II cavallo scalpita”). Ele trabalha com sol e chuva. Os homens unem suas vozes, saudando o carroceiro como um bravo rapaz em cujo trabalho não tem rival. Alegremente, Álfio canta da felicidade que o espera em casa sua bela mulher, Lola, nessa comemoração da Páscoa. Cada vez mais chegam pessoas para ouvir Álfio, unindo-se a ele num poderoso coro.
Quando a multidão se dispersa, Lúcia cumprimenta Álfio, que pergunta-lhe se ela ainda tem algum do seu bom vinho. Lúcia responde que Turiddu foi a uma vila próxima para reabastecê-la. Outra vez ela é contraditada, pois o carreteiro diz que viu Turiddu naquela manhã perto de sua casa. Quando Lúcia faz uma indagação de surpresa, Santuzza pede que ela se cale. Álfio então se vai, exortando os outros a irem à igreja.
Dentro da Igreja, o coro inicia o majestoso incrível e belo “Regina Coeli”. Pessoas que estão na praça, calmamente assumem atitudes de oração respondendo ao coro com “Aleluias”. Então, todos se unem no profundamente comovedor Hino da Ressurreição, tão apropriado para aquele Domingo de Páscoa. A voz de Santuzza soa acima do coro quando ela conduz a melodia em frases marcadas e respeitosas até seu clímax.
Em seguida, as pessoas entram na igreja, e finalmente apenas duas ficam na praça, Santuzza e Lúcia. Em um recitativo, Lúcia pergunta a Santuzza por que ela lhe pediu que se calasse quando falava com Álfio. Santuzza responde na famosa ária “Voi lo sapete”, na qual conta à velha toda a amarga história. Diz que Turiddu, antes de ir servir no exército, tinha um compromisso com Lola. Quando voltou, encontrou-a casada com outro. Para se consolar, prossegue Santuzza, despertou o seu amor, e ela amou-o loucamente por sua vez. Mas Lola, cheia de inveja e ciúmes, roubou outra vez Turiddu de seus braços. Agora, conclui Santuzza, nada mais lhe resta senão chorar.
Lúcia expressa horror por aquela terrível história contada num dia santo. Santuzza exclama que está condenada, e pede a Lúcia que reze por sua alma. Acrescenta que irá procurar Turiddu mais uma vez, e lhe implorará o amor. Fazendo uma prece por Santuzza, Lúcia lentamente entra na igreja, deixando a jovem sozinha na praça.
Nesse ponto, Turiddu aparece, demonstrando surpresa por ver Santuzza (“Tu qui Santuzza?”). Tenta evitar responder suas perguntas sobre onde ele estava, dizendo que acaba de chegar de Francofonte. Santuzza retruca que ela própria o viu na aldeia, e, ainda mais, ele foi visto perto da casa de Lola naquela mesma manhã. Irritado, Turiddu acusa-a de espioná-lo. Santuzza nega, dizendo que o próprio Álfio contou a história, e a espalhou através da aldeia.
Tentando blefar, Turiddu repreende a jovem por suas suspeitas, e ordena que o deixe. Nega amar Lola. Santuzza, agora se recobrando, acusa-o, e como Turiddu recua aterrado, ela declara que Lola o roubou de si. Então, as furiosas acusações dos dois conduzem a um dueto intensamente dramático (“Bada, Santuzza, schiavo non sono”). Violentamente, Turiddu ordena que Santuzza se cale, protestando que ele não é escravo do ciúme dela. Angustiada, Santuzza exclama que ele pode bater-lhe ou insultá-la que ela continuará a adorá-lo.
Santuzza, Turidu e Lola
De súbito, eles são interrompidos por uma voz feminina ao longe. Com alegre sarcasmo, ela fala de seu “rei das rosas” (“Fior di giaggiolo”), e logo surge Lola. Fingindo surpresa, pergunta a Turiddu se viu Álfio. Não dá atenção à resposta embaraçada de Turiddu, acrescentando com despreocupação que Álfio provavelmente está tratando com o ferreiro. Com deliberada malícia, Lola pergunta a Turiddu e Santuzza se eles estão assistindo à missa da praça. Turiddu, agora completamente confuso, tenta explicar. Santuzza, irritada, responde que é Páscoa e que Deus vê tudo. Lola pergunta se ela vai à missa. Intencionalmente, Santuzza replica que somente vão à missa aqueles que não têm pecado. Com irreverência, Lola agradece a Deus por não ter pecado, enquanto Santuzza sardonicamente cumprimenta-a por essas belas palavras. Impaciente, Turiddu interrompe o diálogo, e começa a seguir Lola à igreja. Com um riso, ela lhe diz que deve ficar com Santuzza, que renova seus pedidos a Turiddu. Mais como uma blasfêmia do que como uma prece a Santuzza, Lola entra na igreja.
No, No Turiddu !
Furioso, Turiddu se volta para Santuzza, iniciando-se uma nova discussão, que conduz de novo a um apaixonado dueto. Santuzza, desesperadamente, tenta evitar que Turiddu entre na igreja, implorando-lhe que a deixe (“No, no! Turiddu, rimani, rimani ancora”). Brutalmente, Turiddu lhe pergunta por que ela persiste em espioná-lo. O dueto cresce até um poderoso ápice quando Santuzza implora a Turiddu que não a abandone, enquanto ele, irado, ordena-lhe que o deixe. Subitamente, raivoso, grita-lhe que não se preocupa com a ira da jovem, e entra na igreja. Ela lhe lança uma maldição, e o acusa de traidor.
Santuzza vê Álfio se aproximar. Rapidamente, ela se recompõe e segue seus passos. Foi o próprio Senhor quem o enviou naquele momento, diz ela a Álfio. O carroceiro lhe pergunta em que ponto está a missa. Ela responde que a missa já vai adiantada, acrescentando significativamente que Lola e Turiddu estão assistindo à missa juntos. Sem perceber, Álfio pergunta o que ela quer dizer com isso. Em gélida fúria, Santuzza lhe diz que, enquanto ele está fora ganhando a vida, Lola procura prazer com outro. Álfio, transtornado, quer saber o que ela está dizendo. A verdade, responde Santuzza simplesmente. Turiddu abandonou-a porque não conseguiu resistir aos encantos de Lola. Álfio ameaça arrancar-lhe o coração se ela estiver mentindo. Santuzza replica que não tem o hábito de mentir, e confessa que, para sua verdadeira desonra e vergonha, o que ela diz é verdade.
Há uma longa pausa. Calmamente, então, Álfio agradece a Santuzza. Ela expressa vergonha por ter falado, mas Álfio declara que infames são os dois. Eles pagarão, e ele terá sua vingança antes que o dia acabe. Segue-se um tempestuoso dueto, no qual Santuzza expressa sua agonia e remorso por ter traído Turiddu, enquanto Álfio deseja terrível vingança (“Infami loro”). No final do número, ambos saem, deixando a cena completamente deserta. Segue-se, então, o famoso Intermezzo, tocado pela orquestra, enquanto a praça permanece vazia, e esta calma e doce música traz um momento de distensão à ópera. Mas esta calma é como aquela terrível calma que precede a tempestade. A tragédia já está anunciada, e é apenas adiada a vingança de Álfio porque os amantes estão na igreja. Quando termina o Intermezzo, os aldeões e os camponeses deixam a igreja. Todos estão alegres. Alguns se reúnem na frente da taberna de Lúcia e enchem seus copos. Os homens, cantando mansamente, pedem a todos que vão para suas casas para as alegrias do lar após os deveres religiosos do dia. As mulheres repetem o refrão, e depois todos cantam juntos. Lola e Turiddu chegam da igreja. Turiddu, indicando as pessoas, pergunta alegremente a Lola se ela vai embora sem cumprimentar os velhos amigos. Lola diz que tem de ir para casa porque ainda não viu Álfio. Despreocupadamente, Turiddu replica que ela provavelmente verá o marido na praça. Turiddu convida as pessoas a beber, iniciando, então, o Brindisi, o famoso brinde, “Viva il vino spumeggiante”. Quando o número termina num vibrante coro, surge Álfio de repente. Faz uma saudação, respondida pelos seus amigos.
Turiddu desafia Alfio
Turiddu oferece-lhe um copo. Álfio recusa, dizendo que não pode aceitar beber o vinho de Turiddu, pois poderia estar envenenado. Turiddu reconhece o insulto, e joga fora o vinho. Lola dá uma exclamação de medo, enquanto as outras mulheres aconselham-na a sair. Quando elas saem, os dois homens se defrontam. Turiddu pergunta a Álfio se ele tem alguma coisa a dizer. Quando a resposta é não, Turiddu dá início ao tradicional desafio, colocando-se “às ordens” de Álfio. Álfio aceita. Então, de acordo com o verdadeiro costume siciliano, os dois se abraçam e Turiddu morde a orelha de Álfio. Significativamente, Álfio nota que eles parecem se conhecer um ao outro.
Numa súbita mudança de comportamento, Turiddu confessa que errou com Álfio, e que merece a morte de um cão. Lamenta que, se for morto no duelo, sua “pobre Santuzza” ficará sem seu amado. Mas, acrescenta desafiador, saberá certamente enterrar sua faca no coração de Álfio. Friamente, o carroceiro aconselha-o a pensar melhor no que acaba de dizer. Diz que esperará Turiddu atrás do muro do jardim, e vai embora.
Turiddu, subitamente tomado de pânico, chama sua mãe. Hesitante, conta-lhe que bebeu muito vinho, e que está indo dar um passeio para clarear as ideias. Antes de ir quer a bênção dela, da mesma maneira quando ele foi servir no exército. Então, em frases apaixonadas, pede que Lúcia prometa que será uma mãe para Santuzza, se ele não voltar, pois tinha prometido levá-la ao altar (“Voi dovrete fare”).
Mataram o compadre Turiddu !
Lúcia, aflita, pergunta-lhe por que ele está dizendo aquelas palavras estranhas. Ele explica que foi o vinho que lhe subiu à cabeça. Incisivamente, implora perdão a Deus, e pede à sua mãe um último beijo de adeus. Numa frase musical forte, Turiddu pede outra vez que sua mãe cuide de Santuzza, saindo em desespero.
Aterrada, Lúcia tenta segui-lo, chamando-o. Santuzza corre para ela, e a toma nos braços. Pessoas correm nervosamente pela praça. Subitamente, uma mulher grita angustiada: “Turiddu foi morto!” “Mataram o compadre Turiddu!” Todos gritam horrorizados. Santuzza e Lúcia caem desmaiadas. A cortina desce rapidamente.
Cavalleria no cinema
A incrível meia hora final do filme de 1990 de Francis Ford Coppola, “O Poderoso Chefão: Parte III”, temos uma série de assassinatos por vingança cuidadosamente coordenados mostrada em vários locais, enquanto a família Corleone chefiada pelo chefe da máfia Don Michael Corleone (Al Pacino) – assiste a uma performance na Sicília da “Cavalleria Rusticana” no qual Tony filho de Michael interpreta Turiddu. Notadamente estas cenas coordenadas com o coro do Hino da Páscoa é marcante. Quando saem da casa de ópera em Palermo, a ação culmina com a tentativa de assassinato do próprio Don Corleone. Em vez disso, sua filha Mary, interpretada por Sofia Coppola, é baleada na frente dele. Em câmera lenta, ao som do Intermezzo, assistimos à família Corleone entrar em pânico e o Don desabar nos degraus abraçando desesperadamente o corpo inerte da filha baleada, com o rosto chocado com a terrível realização do que aconteceu. A função estrutural da ópera no filme é incrivelmente bem elaborada e a dramaticidade se encaixa perfeitamente sobretudo no final… grande Coppola.
Um copo de vinho, algumas torradas com queijo, azeite e orégano, uma cadeira confortável, se tiver sorte uma companhia que também goste de ópera ….. Olhos fechados enquanto a música de Mascagni enche a sala e absorve pensamentos de estresse ou as atividades do dia a dia …. esta ópera pede um ambiente assim. Pessoal abrem-se as cortinas e apreciem a soberba Cavalleria Rusticana, desta vez compartilho quatro versões nota dez !!!! O Enredo foi baseado no livro do Milton Cross, “As mais famosas Óperas”.
Cavalleria Rusticana – Pietro Mascagni
Esta é uma performance profundamente comovente da Cavalleria Rusticana (a trilha sonora original do filme de Franco Zeffirelli). Os cinco cantores são soberbos, o coro é maravilhosamente ressonante e finamente equilibrado com a orquestra, e o famoso interlúdio é tocado de maneira bonita em um ritmo bem lento. Placido Domingo dá vida a esta obra-prima, junto com Elena Obraztsova (estelar !!), simplesmente imbatíveis. A maneira como Georges Pretre conduz é original, magnífico. Esta é a versão que mais gosto. Meu amor por esta ópera é gigantesco ouvi-la traz à tona memórias de criança e memórias genéticas que nunca soube que tinha !
Esta gravação de 1953 está com um som muito bom. Mostra Maria Callas no auge dramático. O momento em que ela começa a cantar a voz é distintamente diferente da de qualquer outra cantora, não tem jeito, ela é poderosa demais para transmitir emoções. Muitos afirmam ser esta a melhor Cavalleria. Maria Callas é a Santuzza definitiva e canta o papel com grande emoção. Ela estava no auge vocal quando a gravação foi feita (1953), Callas já havia retirado Santuzza de seu repertório, esta é uma de suas performances que podem ser apreciadas sem reservas – a voz é segura e firme e ela demonstra sua capacidade de transmitir uma gama completa de emoções sem exagero. Di Stefano também é excelente, fazendo Turiddu parecer muito machista. Panerai é um Alfio verdadeiramente excepcional, cantando a música magnificamente e fornecendo uma caracterização que é muito mais sutil do que o marido traído padrão de inúmeras óperas. A regência de Serafin é típica: ampla e pesada, sem ser lenta, e suas seções de sopros e cordas “cantam” tão eloquentemente quanto seus solistas. Esta é a gravação que eu recomendo para o pessoal que nunca a ouviu antes. Esta foi uma época de ouro da ópera, na minha simples opinião.
Maria Callas – Santuzza
Guiseppe Di Stefano – Turiddu
Rolando Panerai – Alfio
Anna Maria Canali – Lola
Ebe Ticozzi – Mamma Lucia
Ochestra e Coro del Teatro alla Scala, Milano
Chorus Master: Vittore Veneziani
Conducted by Tullio Serafin YEAR: 1953
Gravado em 1953, Basilica di Santa Euphemia, Milano
Maravilhosa esta gravação da Cavalleria Rusticana com a incrível voz de Pavarotti com seu inconfundível canto cheio de paixão, drama e fogo. A gravação oferece um elenco fantástico, Julia Varady como Santuzza está muito bem, seu canto comovente está perfeito. O Alfio de Piero Cappuccilli está bem convicente, ótimo cantor. Não há mais nada a acrescentar aqui. No dueto “Ah! Io vedi, che hai tu detto?” Pavarotti e a Julia Varady estão bem entrosados, lindo dueto que rouba a cena da gravação. Um grande momento, um festival de vozes e a grande e trágica ópera italiana. Recomendação incondicional para todos os amantes de ópera.
Julia Varady – Santuzza
Luciano Pavarotti – Turiddu
Piero Cappuccilli – Alfio
Carmen Gonzales – Lola
Ida Bormida – Mamma Lucia
National Philharmonic Orchestra, 1976
Maestro – Gianandrea Gavazzeni
Esta gravação do início dos anos 60 tem del Monaco e MacNeill em seu auge. Esta gravação, foi a primeira versão integral que ouvi desta ópera, era um antigo disco estéreo FFRR da London, fui fisgado. Muito tempo depois , fiquei emocionado ao encontrar em CD. Giulietta Simionata é uma bela Santuzza, às vezes suplicante, irritante, mal-humorada e patética … e você não pode deixar de sentir por ela. Mario Del Monaco, nem sempre apreciado porque era uma voz “grande” sem muita restrição, é muito emocionante como Turiddu. Poderoso “tenori di forza”. A ária onde Santuzza implora para Turiddu ficar com ela é cheia de clímax, e a música de despedida de Turiddu para sua mãe quando ele sabe que vai morrer é arrepiante. MacNeil, excelente barítono, entregando um Alfio muito bom. A orquestra e a direção são perfeitas. Serafin mantém a orquestra quase tensa às vezes, o ritmo é sem pressa, mas não silencioso, e cria um nervosismo que muitas performances mais modernas, como a de Levine, carecem. Um conjunto que para mim é um verdadeiro tesouro! Fico feliz em poder compartilhar esta versão tão cara para mim.
Mario Del Monaco – Turiddu
Guilietta Simionato – Santuzza
Anna di Stasio – Mamma Lucia
Cornell MacNeil – Alfio
Ana Raquel Satre – Lola
Coro e orquestra dell’Accademia di Santa Cecília
Maestro – Tullio Serafin, 1961
Trago hoje uma das melhores gravações do Concerto para Violino de Beethoven que já tive a oportunidade de ouvir. Não foi a primeira gravação que tive desta obra, mas provavelmente a segunda ou terceira. Sei lá, já faz bastante tempo.
Por algum motivo inexplicável, Shlomo Mintz pouco apareceu aqui no PQPBach. Nasceu em Moscou em 1957 mas com apenas dois anos de idade seus pais se mudaram para Israel. Violinista virtuose, teve Isaac Stern como mentor. E foi com a Filarmônica de Israel que estreou como solista, com apenas 11 anos de idade. Atualmente se apresenta tanto como solista quanto como como maestro aclamado. É com certeza um dos grandes violinistas que surgiram a partir do último quarto do século XX.
Este registro que ora vos trago é histórico. Ele está ao lado de Giuseppe Sinopoli, que aqui dirige a Philharmonia Orchestra. Vale e muito sua audição.
Para completar o CD, temos também os dois Romances para Violino.
Mais um CD que leva o registro de qualidade PQPBach de IM-PER-DÍ-VEL !!!
01. Violin Concerto In D, Op.61 – 1. Allegro ma non troppo – Cadenza Fritz Kreisler
02. Violin Concerto In D, Op.61 – 2. Larghetto – Cadenza Fritz Kreisler
03. Violin Concerto In D, Op.61 – 3. Rondo. Allegro – Cadenza Fritz Kreisler
04. Violin Romance No.1 in G major, Op.40
05. Violin Romance No.2 in F major, Op.50
Shlomo Mintz – Violin
Philharmonia Orchestra
Giuseppe Sinopoli – Conductor
PUBLICADO POR FDP BACH EM 11/7/2013, RESTAURADO POR VASSILY EM 21/1/2020, DENTRO DAS CELEBRAÇÕES DOS 250 ANOS DE LUDWIG VAN BEETHOVEN – o #BTHVN250
NOTA DE VASSILY: a trinca do Op. 31 é aqui concluída com a sonata em Mi bemol maior, em cuja pujança Gulda se esbalda. Segue o minipar de sonatas do Op. 49, das quais a de no. 2 é tão fácil que até eu a conseguia tocar, que mal e mal servem como um modesto prelúdio para a genial “Waldstein”, que deveria terminar o disco, mas só não o faz porque a Amadeo resolveu nele atochar também a concisa, enigmática Op. 54.
POSTAGEM ORIGINAL DE FDP BACH:
Hoje é dia de Greve Geral, convocada pelas centrais sindicais, e resolvi ficar em casa, claro que com a autorização do chefe, ouvindo Friedrich Gulda, sempre impecável, encarando o repertório beethoveniano, e dar uma geral na minha bagunça.
Aliás, quando contei para minha esposa, que está viajando, que ia receber a visita do Carlinus, ela se exasperou: você está recebendo seu amigo no meio daquela bagunça? O Carlinus, educado e diplomático como só ele consegue ser, apenas sorriu quando falei do comentário dela, e mais tarde elogiou como organizo meus arquivos nos trocentos terabytes que tenho de material, até já perdi a conta. Mas é curioso como a cabeça da gente funciona: não sei tudo o que tenho, mas sei o que não tenho. Vai entender…
Mas vamos ao que interessa…
Sonata No.18 in E-flat major Op.31-3 (1801-02) – 1. Allegro
Sonata No.18 in E-flat major Op.31-3 (1801-02) – 2. Scherzo – Allegretto vivace
Sonata No.18 in E-flat major Op.31-3 (1801-02) – 3. Menuetto – Moderato e grazioso
Sonata No.18 in E-flat major Op.31-3 (1801-02) – 4. Presto con fuoco
Sonata No.19 in G minor Op.49-1 (1795-1798) – 1. Andante
Sonata No.19 in G minor Op.49-1 (1795-1798) – 2. Rondo – allegro
Sonata No.20 in G major Op.49-2 (1705-1798) – 1. Allegro ma non troppo
Sonata No.20 in G major Op.49-2 (1705-1798) – 2. Tempo di Menuetto
Sonata No.21 in C major Op.53 ”Waldstein” (1803-04) – 1. Allegro con brio
Sonata No.21 in C major Op.53 ”Waldstein” (1803-04) – 2. Introduzione – Adagio molto
Sonata No.21 in C major Op.53 ”Waldstein” (1803-04) – 3. Rondo – Allegro moderato – Prestissimo
Sonata No.22 in F major Op.54 (1804) – 1. In tempo d’un Menuetto
Sonata No.22 in F major Op.54 (1804) – 2. Allegretto
O pianista suíço Olivier Cavé chamou a minha atenção com um ótimo álbum – três lindos concertos para piano de Mozart, de períodos diferentes. O disco foi postado aqui mesmo no PQP Bach…
Assim, quando me deparei com este álbum, mais do que depressa, apanhei-o! E não é que gostei deste também? E então, os senhores sabem, se eu gosto, eu posto.
Você poderia achar estranho, reunir em um disco duas sonatas de Haydn com três de Beethoven. Mas, pensando um pouco, a ideia é boa. Permite que tenhamos uma perspectiva de quanto o compositor mais velho influenciou o voluntarioso Ludovico, mesmo que este não o admitisse.
Papa Haydn
As sonatas de Haydn são de períodos diferentes na carreira do compositor. A Sonata em si menor é do período em que Haydn trabalhava para a família Esterházy e não podia negociar diretamente com os editores. Assim, a sonata é, por assim dizer, para consumo interno. Já a outra sonata, em dó maior, foi composta sob comissão do editor Breitkopf, de Leipzig, e visava público mais amplo.
As três sonatas de Beethoven são de seu primeiro período de composição, nos seus primeiros anos em Viena. As duas primeiras do Opus 2, dedicadas a Haydn, e a segunda sonata do Opus 10.
O jovem Ludovico
Estas sonatas são obras típicas do período clássico, cheias de ótimas ideias e muito bom humor. Especialmente bonito é o movimento lento da Sonata Op. 2, 2 – Largo appassionato. E veja que todos os movimentos finais das sonatas do disco são grazioso, presto e prestíssimo!
A seguir, uma tradução livre do texto da página do disco.
Ludwig van Beethoven havia acabado de fazer vinte anos quando encontrou-se com Joseph Haydn pela primeira vez, em 1790. Dois anos depois, o jovem compositor reuniu-se aos muitos alunos do mestre vienense. Mas, cansado das constantes faltas do professor e incomodado por suas críticas, ele logo deixou as aulas, afirmando anos depois, de maneira amarga, não ter aprendido qualquer coisa com Haydn. É esta distância, esta diferença de estilos e de aspirações entre Beethoven e seu antigo professor que está para ser ouvida neste novo álbum de Olivier Cavé […]. A Sonata Hob. XVI: 32 (1776) de Haydn aponta para um estilo clássico mas vigoroso, Hob. XVI: 48, composta apenas quatro anos depois, é mais moderada e acadêmica. Beethoven almejou quebrar com este classicismo, permitindo-se um escopo expressivo maior e trocando o tradicional terceiro movimento – minueto – por um scherzo, na sua segunda sonata, um claro sinal de seu espírito revolucionário.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para piano No. 1 em fá menor, Op. 2, 1
Allegro
Adagio
Allegretto
Prestissimo
Franz Joseph Haydn (1732 – 1809)
Sonata para piano em si menor, Hob. XVI: 32
Allegro moderato
Minuet – Trio
Presto
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para piano No. 2 em lá maior, Op. 2, 2
Allegro vivace
Largo appassionato
Scherzo: Allegretto
Rondo: Grazioso
Franz Joseph Haydn (1732 – 1809)
Sonata para piano em dó maior, Hob. XVI: 48
Andante con espressione
Presto
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para piano No. 6 em fá maior, Op. 10, 2
Allegro
Allegretto
Presto
Olivier Cavé, piano
Gravação feita em setembro de 2017 – Studio TELDEX, Berlim
PUBLICADO POR FDP BACH EM 2/7/2013, RESTAURADO POR VASSILY EM 20/1/2020, DENTRO DAS CELEBRAÇÕES DOS 250 ANOS DE LUDWIG VAN BEETHOVEN – o #BTHVN250
NOTA DE VASSILY: neste disco, a ordenação das sonatas por parte da Amadeo acaba sendo, mais por coincidência do que por juízo, bastante feliz. Gulda abre os trabalhos com a ótima “Pastoral”, numa das melhores interpretações do ciclo, e prossegue com as duas primeiras da trinca do essencial Op. 31, talvez as primeiras sonatas com a linguagem beethoveniana, inconfundível, altamente pessoal com que Lud Van nos presentearia em suas melhores obras: a no. 1, em Sol maior, repleta de senso de humor, com seu Adagio grazioso altamente ornamentado e prolixo, e a obra-prima em Ré menor, a no. 2, apelidada de “Tempestade”, como o toró que caía sobre o telhado de FDP Bach enquanto ele preparava a postagem original, e não pouco afim a esta que ora encharca minhas redondezas.
POSTAGEM ORIGINAL DE FDP BACH:
Pois bem, eis o quinto cd desta excelente integral de Gulda, e que traz outras duas peças fundamentais do repertório pianístico, a de op 28, “Pastorale”, e a de op. 31-2, intitulada “Der Sturm”. Pois foi uma legítima “Sturm” que me impediu de preparar essa postagem antes. Caiu uma tempestade violenta durante a madrugada e durante boa parte da manhã aqui em minha cidade. Com direito a raios e trovões.
Enfim, espero que gostem deste cd. Eu gosto, e muito. Como diria nosso colega Carlinus, uma boa apreciação. Com ou sem “Sturm”. Por aqui, ela voltou… e com toda a força.
Sonata No.15 in D major Op.28 ”Pastorale” (1801) – 1. Allegro
Sonata No.15 in D major Op.28 ”Pastorale” (1801) – 2. Andante
Sonata No.15 in D major Op.28 ”Pastorale” (1801) – 3. Scherzo – Allegro vivace
Sonata No.15 in D major Op.28 ”Pastorale” (1801) – 4. Rondo – Allegro ma non troppo
Sonata No.16 in G major Op.31-1 (1801-02) – 1. Allegro vivace
Sonata No.16 in G major Op.31-1 (1801-02) – 2. Adagio grazioso
Sonata No.16 in G major Op.31-1 (1801-02) – 3. Rondo – Allegretto – Adagio – Presto
Sonata No.17 in D minor Op.31-2 ”Der Sturm” (1801-02) – 1. Largo – Allegro
Sonata No.17 in D minor Op.31-2 ”Der Sturm” (1801-02) – 2. Adagio
Sonata No.17 in D minor Op.31-2 ”Der Sturm” (1801-02) – 3. Allegretto
A orquestra de Savall… Nada pode sair ruim com um time desses. Grande disco. Como caminho de fones e é verão, acelerava meus passos conforme o ritmo das muitas danças deste disco. Lully era dançarino, dançava e faz ainda dançar. Resultado: cheguei suando como um porco no trabalho.
Jean-Baptiste de Lully, nascido Giovanni Battista Lulli (Florença, 28 de novembro de 1632 – Paris, 22 de março de 1687), foi um compositor italiano, naturalizado francês. Passou a maior parte da vida trabalhando na corte de Luís XIV . Compositor prolixo, seu estilo foi largamente imitado na Europa. Casou-se com Madeleine Lambert, filha do compositor Michel Lambert. Considerado mestre do barroco francês, tornou-se súdito francês em 1661. Começou a trabalhar para Luís XIV da França no final de 1652 e início de 1653, como dançarino. Compôs algumas das músicas para o Ballet de la nuit, agradando imensamente ao rei. Foi nomeado compositor de músicas instrumentais do rei, conduzindo vinte e quatro violinos da Grande Bande. Cansado com a falta de disciplina da Grande Bande e com a autorização do rei, formou os Petits Violons. Lully compôs muitos balés para o Rei durante as décadas de 1650 e 1660, nos quais o Rei e Lully dançaram. Teve também um tremendo sucesso compondo a música para as comédias de Molière, incluindo Le Mariage forcé (1664), L’Amour médecin (1665) e Le Bourgeois gentilhomme (1670). Quando conheceu Molière, Lully formou o Comédie-ballet. Entretanto, o interesse de Luís XIV pelo balé foi diminuindo com o passar dos anos, e suas habilidades para a dança declinaram (sua última performance foi em 1670) e então Lully dedicou-se inteiramente à ópera. Ele comprou o privilégio para a ópera de Pierre Perrin e com o apoio de Jean-Baptiste Colbert e do próprio Rei, criou um novo privilégio, que dada exclusivamente a Lully o controle completo de toda música apresentada na França, até sua morte,quando morreu de gangrena em 1687. Era conhecido por ser um libertino. Em 1661, em cartas de naturalização e em seu contrato de casamento com Madeleine Lambert, filha do seu amigo e companheiro Michel Lambert, Giovanni Battista Lulli declarou-se como “Jean-Baptiste de Lully” filho de “Laurent de Lully, cavalheiro florentino”. Em 8 de janeiro de 1687, Lully estava conduzindo um Te Deum em honra de Luís XIV, recém recuperado de uma doença. O compositor marcava o tempo, batendo com um grande bastão (o precursor da Batuta) no chão, como era usual nesse período, quando atingiu o próprio pé, provocando uma infecção. Essa ferida evoluiu para uma gangrena, mas Lully recusou-se a amputar o pé. Acho que o compreendo. Em consequência, acabou morrendo em 22 de março de 1687. Ele deixou sua última ópera, Achille et Polyxène inacabada. Seus dois filhos, Jean-Louis Lully e Louis Lully também tiveram uma carreira musical na corte.
Jean-Baptiste Lully (1632-1687): Symphonies, Ouvertures & Airs À Jouer
1ère Suite: Le Bourgeois Gentilhomme, 1670
1 Ouverture 2:59
2 Gavotte 1:41
3 Canaries 1:16
4 Marche Pour La Cérémonie Turque 2:03
5 1er Air Des Espagnols: Sarabande 2:08
6 2ème Air Des Espagnols: Gigue 1:12
7 L’Entrée Des Scaramouches, Trivelins Et Arlequins 2:33
8 Chaconne Des Scaramouches, Trivelins Et Arlequins 3:30
2ème Suite: Le Divertissement Royal, 1664-1670
9 Danse De Neptune 1:36
10 Les Suivants De Neptune 1:46
11 Prélude Des Trompettes 1:44
12 Les Hommes Et Femmes Armés 1:54
13 Rondeau Du Mariage Forcé (1664) 2:31
14 Second Air (Le Mariage Forcé) 2:36
15 Bourrée Du Mariage Forcé (1664) 1:52
16 Bourrée Du Divertissement De Chambord (1669) 1:25
17 Symphonie Des Plaisirs 3:06
18 Les Esclaves 1:38
19 Menuet Pour Les Trompettes 1:41
3ème Suite: Alceste, 1674
20 Marche Des Combattans 2:36
21 Menuet 1:49
22 Loure Pour Les Pêcheurs 1:31
23 Echos 1:02
24 Rondeau De La Gloire 1:13
25 La Pompe Funèbre 3:24
26 Rondeau Pour La Fête Marine 2:30
27 Les Vents 1:15
28 La Fête Infernale: 1er Air 1:19
29 2ème Air: Les Démons 3:28
30 Marche Des Assiégeants 1:12
31 Chaconne De’ L’Amour Médecin (1665) 3:32
Bassoon – Claude Wassmer, Josep Borràs
Cello [Basse De Violon] – Antoine Ladrette, Claire Giardelli, Detmar Leertower, Laura Folch, Michel Murgier
Contrabass – Richard Myron, Xavier Puertas
Flute [Flûte Traversière] – Charles Zebley, Frank Theuns, Marc Hantaï
Oboe [Hautbois] – Alessandro Piqué*, Alfredo Bernardini, Ann Vanlancker, Marcel Ponseele, Paolo Grazzi, Taka Kitazato, Xavier Blanch
Percussion, Timbales – Michèle Claude, Pedro Estevan
Theorbo [Théorbe], Guitar [Guitare] – Rolf Lislevand, Xavier Díaz*
Trumpet [Trompette] – Guy Ferber, Pascal Geay, Roland Callmar
Viola [Hautes-contre De Violon] – Angelo Bartoletti, Giovanni De Rosa, Judit Földes, Martín Barrera
Viola da Gamba [Viole De Gambe] – Eunice Brandao, Sergi Casademunt, Sophie Watillon
Violin [Dessus De Violon] – Alba Roca, Davide Amodio, Helène Plouffe, Lydia Cevidalli, Mauro Lopes*, Santi Aubert, Silvia Mondino
Violin [Premier Violon], Concertmaster – Manfredo Kraemer
Violin [Violon Il] – Pablo Valetti
Orchestra – Le Concert Des Nations
Jordi Savall
08. Aria (Soprano): “Liebster Jesu, mein Verlangen”
09. Recitative (Bass): “Was ists, daß du mich gesuchet?”
10. Aria (Bass): “Hier in meines Vaters Stätte”
11. Recitative (Soprano, Bass): “Ach! heiliger und großer Gott”
12. Aria (Duet: Soprano, Bass): “Nun verschwinden alle Plagen”
13.Choral: “Mein Gott, öffne mir die Pforten”
“Ach Gott, wie manches Herzeleid” BWV 58 Dominica post Festum Circumcisionis Christ
14. Duetto (Soprano, Bass): “Ach Gott, wie manches Herzeleid”
15. Recitative (Bass): “Verfolgt dich gleich die arge Welt”
16. Aria (Soprano): “Ich bin vergnügt in meinem Leiden”
17. Recitative (Soprano): “Kann es die Welt nicht lassen”
18. Duet (Soprano, Bass): “Ich hab für mir ein schwere Reis”
“Ich bin vergnügt mit meinem Glücke” BWV 84 Dominica Septuagesima At the Sunday Septuagesima
19. Aria: “Ich bin vergnügt mit meinem Glücke”
20. Recitative: “Gott ist mir ja nichts schuldig”
21. Aria: “Ich esse mit Freuden mein weniges Brot”
22. Recitative: “Im Schweiße meine Angesichts”
23. Choral: “Ich leb indes in dir vergnüget”
COMPACT DISC 2
“Es erhub sich ein Streit” BWV 19 Festo Michaelis St. Michael and All Angel
01. Chorus: “Es erhub sich ein Streit”
02. Recitative (Bass): “Gottlob! der Drache liegt”
03. Aria (Soprano): “Gott schickt uns Mahanaim zu”
4. Recitative (Tenor): “Was ist der schnöde Mensch”
6. Recitative (Soprano): “Laßt uns das Angesicht”
7. Chorale: “Laß dein Engel mit mir fahren”
“Meine Seufzer, meine Tränen” BWV 13 dominica 2 post Epiphanias
08. Aria (Tenor): “Meine Seufzer, meine Tränen”
09. Recitative (Alto): “Mein liebster Gott läßt mich annoch”
10. Chorale: “Der Gott, der mir hat versprochen”
11. Recitative (Soprano): “Mein Kummer nimmet zu”
12. Aria (Bass): “Ächzen und erbärmlich Weinen”
13. Chorale: “So sei nun, Seele, deine”
“Ich will den Kreuzstab gerne tragen” BWV 56 Dominica 19 post Trinitatis
14. Aria (Bass): “Ich will den Kreuzstab gerne tragen”
15. Recitative (Bass): “Mein Wandel auf der Welt”
16. Aria (Bass): “Endlich wird mein Joch”
17. Recitative (Bass): “Ich stehe fertig und bereit”
18. Chorale: “Komm, o Tod, du Schlafes Bruder”
COMPACT DISC 3
“Geist und Seele wird verwirret” BWV 35 Dominica 12 post Trinitatis
Prima parte
01. Concerto
02. Aria (Alto): “Geist und Seele wird verwirret”
03. Recitative (Alto): “Ich wundre mich”
04. Aria (Alto): “Gott hat alles wohlgemacht”
Seconda parte
05. Sinfonia
06. Recitative (Alto): “Ach, starker Gott, laß mich doch dieses stets bedenken”
07. Aria (Alto): “Ich wünsche nur bei Gott zu leben”
“Wer Dank opfert, der preiset mich” BWV 17
Dominica 14 post Trinitatis
Prima parte
08. Chorus: “Wer Dank opfert, der preiset mich”
09. Recitative (Alto): “Es muß die ganze Welt”
10. Aria (Soprano): “Herr, deine Güte reicht”
Seconda parte
11. Recitative (Tenor): “Einer aber unter ihnen”
12. Aria (Tenor): “Welch Übermaß der Güte schenkst du mir!”
3. Recitative (Bass): “Sieh meinen Willen an”
4. Chorale: “Wie sich ein Vatr erbarmet”
“Selig ist der Mann” BWV 57 Dialogus Feria 2 Nativitatis Christi
15. Aria (Bass): “Selig ist der Mann”
16. Recitative (Soprano): “Ach! dieser süße Trost!”
17. Aria (Soprano): “Ich wünschte mir den Tod”
18. Recitative (Bass, Soprano): “Ich reiche dir die Hand”
9. Aria (Bass): “Ja, ich kann die Feinde schlagen”
20. Recitative (Bass, Soprano): “In meinem Schoß liegt Ruh’ und Leben”
21. Aria (Soprano): “Ich ende behende mein irdisches Leben”
22. Chorale: [Jesus]: “Richte dich, Liebste, nach meinem Gefallen und gläube”
Sandrine Piau, Johannette Zomer, Sibylla Rubens – Sopranos
Bogna Bartosz, Nathalie Stutzmann – Altos
Paul Agnew, Jörg Dürmüller, Christoph Prégardien – Tenor
Klaus Mertens – Bass
PUBLICADO POR FDP BACH EM 26/6/2013, RESTAURADO POR VASSILY EM 19/1/2020, DENTRO DAS CELEBRAÇÕES DOS 250 ANOS DE LUDWIG VAN BEETHOVEN – o #BTHVN250
NOTA DE VASSILY: prometêramos parar de reclamar do selo Amadeo, não? Pois nos calamos em boa hora, já que o empenho da gravadora de organizar as sonatas em ordem cronológica de publicação funciona muito bem por aqui. O CD abre com a boa sonata op. 22, uma das preferidas de Beethoven, que talvez só não seja conhecida como merece porque não lhe deram um apelido como, por exemplo, “Appassionata”. Em seguida, uma de minhas sonatas favoritas, a Op. 26, que abre com belíssimas variações, às quais Gulda atribui uma gravidade tão grande quanto o cerne da obra, a marcha fúnebre que, muitas vezes, apelida a obra. Concluindo, o ótimo duo do Op. 27, das quais a mais conhecida é a no. 2, a de epíteto famoso. Gulda adere ao Adagio sostenuto prescrito pelo compositor e encerra o disco com um Presto realmente feérico. Minha favorita, no entanto, ainda é a no. 1, que assim como seu par foi alcunhada por Beethoven de “quasi una fantasia”, mas injustamente eclipsada, também suponho, pela falta de um apelido famoso.
POSTAGEM ORIGINAL DE FDP BACH:
Ah, a “Sonata ao Luar”… quantos romances já se iniciaram após os casais ouvirem tal peça… sublime, uma das maiores criações humanas, sem dúvida. E Gulda, ao tocar um pouco mais lentamente, transforma esse verdadeiro poema musical em algo ainda mais leve, mais apaixonado, mais introspectivo. Um gigante esse pianista.
Ideal para ouvir ao lado da amada, ainda mais com essa lua cheia maravilhosa que tivemos nos últimos dias. acompanhados, é claro, de um bom vinho.
Sonata No.11 in B-flat major Op.22 (1799-1800) – 1. Allegro con brio
Sonata No.11 in B-flat major Op.22 (1799-1800) – 2. Adagio con molto espressione
Sonata No.11 in B-flat major Op.22 (1799-1800) – 3. Menuetto
Sonata No.11 in B-flat major Op.22 (1799-1800) – 4. Rondo – Allegretto
Sonata No.12 in A-flat major Op.26 (1800-01) – 1. Andante con Variazioni
Sonata No.12 in A-flat major Op.26 (1800-01) – 2. Scherzo – Allegro molto
Sonata No.12 in A-flat major Op.26 (1800-01) – 3. Marcia funebre
Sonata No.12 in A-flat major Op.26 (1800-01) – 4. Allegro
Sonata No.13 in E-flat major Op.27-1 (1800-01) – 1. Andante – Allegro
Sonata No.13 in E-flat major Op.27-1 (1800-01) – 2. Allegro molte e vivace
Sonata No.13 in E-flat major Op.27-1 (1800-01) – 3. Adagio con espressione
Sonata No.13 in E-flat major Op.27-1 (1800-01) – 4. Allegro vivace – Presto
Sonata No.14 in C-sharp minor Op.27-2 ”Mondscheinsonate” (1801) – 1. Adagio sostenuto
Sonata No.14 in C-sharp minor Op.27-2 ”Mondscheinsonate” (1801) – 2. Allegretto – Trio
Sonata No.14 in C-sharp minor Op.27-2 ”Mondscheinsonate” (1801) – 3. Presto agitato