Dando continuidade à nossa integral das Sinfonias de Dmitri Shostakovich sob a regência de Kirill Kondrashin, iniciada aqui, publicamos mais duas sinfonias: a comum segunda e a notável décima-quarta.
CD 2
Sinfonia Nº 2, “A Outubro”, Op. 14 (1927)
Escrita sobre versos de Aleksander Bezimensky’s, é uma homenagem ao décimo ano da Revolução. Tem 16 minutos e é tem um movimento, dividido nas seções Largo – Allegro molto – Meno mosso – Choral Finale. Sua estréia ocorreu em 05/11/1927 com a Filarmônica de Leningrado e Coro. A sinfonia é da fase de experimentação de Shostakovich, só que quem experimentou e não gostou dela foi a burocracia comunista. Creio que o regime soviético tenha sucumbido por sua violência e mau gosto: chamaram a sinfonia de “formalista”, “antiproletária”, “burguesa”, etc. e até o jovem Shostakovich, na época um sincero comunista, ficou irritado com a repercussão incompreensiva. É que ele ainda não conhecera a ira de Stálin logo após Lady Macbeth… Não vira nada ainda…
Sinfonia Nº 14, Op. 135 (1969)
A Sinfonia Nº 14 – espécie de ciclo de canções – foi dedicada a Britten, que estreou-a em 1970 na Inglaterra. É a menos casual das dedicatórias. Seu formato e sonoridade é semelhante à Serenata para Tenor, Trompa e Cordas, Op. 31, e à Les Illuminations para tenor e orquestra de cordas, Op. 18, ambas do compositor inglês. Os dois eram amigos pessoais; conheceram-se em Londres em 1960, e Britten, depois disto, fez várias visitas à URSS. Se o formato musical vem de Britten, o espírito da música é inteiramente de Shostakovich, que se utiliza de poemas de Lorca, Brentano, Apollinaire, Küchelbecker e Rilke, sempre sobre o mesmo assunto: a morte.
O ciclo, escrito para soprano, baixo, percussão e cordas, não deixa a margem à consolação, é música de tristeza sem esperança. Cada canção tem personalidade própria, indo do sombrio e elegíaco em A la Santé, An Delvig e A Morte do Poeta, ao macabro na sensacional Malagueña, ao amargo em Les Attentives, ao grotesco em Réponse des Cosaques Zaporogues e à evocação dramática de Loreley. Não há música mais direta e que trabalhe tanto para a poesia, chegando, por vezes, a casar-se com ela sílaba por sílaba para tornar-se mais expressiva. Há uma versão da sinfonia no idioma original de cada poema, mas sempre a ouvi em russo. Então, já que não entendo esta língua, tenho que ouvi-la ao mesmo tempo em que leio uma tradução dos poemas. Posso dizer que a sinfonia torna-se apenas triste se estiver desacompanhada da compreensão dos poemas – pecado que cometi por anos! Ela perde sentido se não temos consciência de seu conteúdo autenticamente fúnebre. Além do mais, os poemas são notáveis.
Possui indiscutíveis seus méritos musicais mas o que importa é sua extrema sinceridade. Me entusiasmam especialmente a Malagueña, feita sobre poema de Lorca e a estranha Conclusão (Schluss-Stück) de Rilke, que é brevíssima, sardônica e – puxa vida – muito, mas muito final.
SYMPHONY No.2
1. in B Major, Op.14, “To October”
Recorded: November 29, 1972
SYMPHONY No.14
For Soprano, Bass, String Orchestra and Percussion, Op.135
2. De Profundis (Garcia Lorca)
3. Malaguena (Garcia Lorca)
4. Loreley (Apollinaire)
5. The Suicide (Apollinaire)
6. On Watch (Appollinaire)
7. Madam! Look (Apollinaire)
8. In the Sante (Apollinaire)
9. The Zaporogian Cossacks’ Reply to the Sultan of Constantinople (Appolinaire)
10. O Delvig, Delvig! (Kuchelbecker)
11. Death of the Poet (Rilke)
12. Conclusion (Rilke)
Recorded: November 24, 1974
Evgenya Tselovalnik, Soprano / Evgeny Nesterenko, Bass / Ensemble of soloists from the Moscow Philharmonic Orchestra / Choirs of the Russian Republic / Alexander Yourlov, Conductor (2)
Moscow Philharmonic Orchestra / Kirill Kondrashin, Conductor

