Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – A Nona (CD 8 de 11)

Obs.: No original, a Nona vem acompanhada pela Décima-Quinta, a última. Eu é que resolvi separá-las, pois se algum de vocês está acompanhando minhas curtas introduções, ao final saberão que não faz o menor sentido ouvi-las juntas.Depois da Sétima e da Oitava, terminada a Segunda Guerra Mundial, era esperada uma nova, heróica e grandiosa sinfonia. Stálin era uma pessoa curiosa, pois amava a música e incomodava os compositores soviéticos com mensagens e pedidos que, mesmo quando gentis, eram atemorizantes. Todos sabiam o que a Nona deveria ser. Ela deveria saudar a vitória na guerra na pessoa de Stálin. Porém, se o mandatário alguém curioso e cheio de pedidos, Shostakovich era sarcástico e compôs uma Nona que nada tinha a ver com glorificações. A Nona de Shosta corresponde ao que é a Oitava de Beethoven, uma “pequena e despretensiosa sinfonia”. Só que se lá Beethoven foi gentil e haydniano, aqui nosso amigo fez todo o tipo de brincadeiras, principalmente marciais. É um deboche ao que se esperava que fosse. Na época, Shostakovich era uma personalidade mundial e podia escrever o que bem entendesse. Já para estrear suas obras era outra história.

Antes de morrer, Shosta disse que escrevera muitas sinfonias e arrependia-se de algumas. Espero sinceramente que uma delas não seja esta Nona alegre, jocosa, bonitinha e cheia de intenções irônicas. Acho que ele se referia à Segunda, Terceira e Décima-Segunda Sinfonias, verdadeiros fracassos musicais… (opinião minha, claro).

A Nona tem dois movimentos lentos que poderiam ser considerados “sérios” e onde os sopros têm ganham enorme destaque. OK, mas mesmo assim eles afastam-se de tal forma da grandiosidade de suas sinfonias anteriores e principalmente daquilo que lhe era requerido que… E, como se não bastasse, os movimentos que abrem e fecham a sinfonia são efetivamente sarcásticos, verdadeiras distorções sobre a “música heróica” tão ao gosto do regime. Mas é música de primeira linha, sem dúvida. Bem, não é para menos que ele apenas tenha estreado a agressiva e espetacular Décima após a morte de Stálin. Talvez o homem não tivesse suportado outra reversão de expectivas.

CD 8

SYMPHONY No.9 in E Flat Major, Op.70
1. Allegro
2. Moderato. Adagio
3. Presto
4. Largo
5. Allegretto. Allegro

Recorded: March 20, 1965
Moscow Philharmonic Orchestra
Kirill Kondrashin, Conductor

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – A Oitava (CD 7 de 11)

A espantosa Oitava Sinfonia de Shostakovich é incomparavelmente mais interessante que a Sétima. Segundo Lauro Machado Coelho, seria a melhor de todas as sinfonias de Shosta, opinião da qual discordo. Mas concordo que ela é espetacular e das principais obras do autor. Enquanto os críticos brigavam, discutindo seu real significado esta obra de enorme sucesso desde sua estréia recebia uma curta frase de Shostakovich: A Oitava é, dentro de minha obra, comparável ao que o Réquiem de Anna Akhmátova é na dela..

Sem dúvida, é a maior obra composta sob inspiração da Segunda Guerra Mundial e olha que tivemos uma série bastante importante delas. Britten, Honegger, Prokofiev, Stravinski, Bartók e Schoenberg criaram obras a respeito da Guerra. Ela tinha, evidentemente, tudo para irritar Stalin, principalmente seu final – uma passacaglia em pianissimo -, e o extremamente raivoso e falso Alegretto que desemboca num brutal e kachaturiano Allegro non troppo. Isto é, tudo ao contrário. Nada de glorificação à vitória, mas uma fotografia do horror da guerra, desembocando num Réquiem.

A respeito, disse Iliá Ehrenburg:

Voltei perturbadíssimo do concerto. Parecia-me ter ouvido, de repente, a voz do antigo coro das tragédias gregas. A música possui a imensa vantagem de poder dizer tudo sem ter de mencionar nada.

CD 7

SYMPHONY No.8 in C Minor, Op.65

1. Adagio. Allegro ma non troppo. Allegro. Adagio
2. Allegretto
3. Allegro non troppo
4. Largo
5. Allegretto. Allegro. Adagio. Allegretto. Andante

Recorded: April 11, 1967
Moscow Philharmonic Orchestra
Kirill Kondrashin, Conductor
Total time 56:36

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – A Sétima (CD 6 de 11)

A Sétima Sinfonia, “Leningrado”, talvez seja a obra mais famosa de Shostakovich. Ele dedicou-a “a nosso combate contra o fascismo, a nossa vitória sobre o inimigo em Leningrado, a minha cidade natal”. As circunstâncias em que foi escrita e estreada a fizeram famosíssima. Imaginem uma cidade cercada por alemães há 18 meses, uma orquestra improvisada vestida com suéteres e jaquetas de couro, todos magérimos pela fome, a rádio transmitindo o concerto, várias cidades soviéticas estreando a obra ao mesmo tempo, Arturo Toscanini – anti-fascista de cabo a rabo – pedindo a partitura nos Estados Unidos (ela foi levada de avião até Teerã, de carro ao Cairo, de avião à Londres, de onde um outro avião da RAF levou a música ao maestro), Shostakovich na capa da Time. Ou seja, a Sétima é importante. Nos EUA, em poucos meses, foi interpretada por Kussevítki, Stokovski, Rodzinski, Mitropoulos, Ormandy, Monteaux, etc. Um espanto.

Numa das maiores homenagens recebidas por uma obra musical, Anna Akhmátova escreveu o seguinte poema ao ser posta à salvo das bombas alemãs pelas autoridades soviéticas:

Todos vocês teriam gostado de me admirar quando,
no ventre do peixe voador,
escapei da perseguição do mal e,
sobre as florestas cheias de inimigos,
voei como se possuída pelo demônio,
como aquela outra que,
no meio da noite,
voou para Brocken.
E atrás de mim,
brilhando com seu segredo,
vinha a que chama a si mesma de Sétima,
correndo para um festim sem precedentes.
Assumindo a forma de um caderno cheio de notas,
ela estava voltando para o éter onde nascera.

Pois é. Mas falemos a sério: não é a maior sinfonia de Shosta. Fica atrás da oitava, décima, décima-primeira, décima-terceira, décima-quarta e décima-quinta. Mas que é famosésima, é.

Há grandes momentos nela: o primeiro é a preparação para receber o inimigo, baseada no Bolero de Ravel, é espantosa. Nota-se perfeitamente o significado do tema principal e do acompanhamento das cordas, cada vez mais ameaçador. O segundo é o espetacular finale, sempre ouvido pelo público em pé, e onde reaparece o tema inicial da sinfonia, demonstrando a tranqüilidade ansiada pelo povo russo após o sofrimento da guerra. Tem que conhecer. É cultura.

Informações em parte colhidas no livro sobre Shostakovich de Lauro Machado Coelho.

CD 6

SYMPHONY No.7 in C Major, Op.60 “Leningrad”

1. Allegretto
2. Moderato (poco allegretto)
3. Adagio
4. Allegro non troppo

Recorded: July 3, 1975
Moscow Philharmonic Orchestra
Kirill Kondrashin, Conductor
Total time 71:10

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Puccini une as pessoas

Em setembro de 1962, Igor Stravinski visitou a União Soviética por 3 semanas. Recebeu muitas homenagens e seu único encontro mais demorado foi com Shostakovich. Porém, quando foram apresentados, o mortalmente tímido Shostakovich respondia com monossílabos as muitas tentativas de conversação feitas por Stravinski. Isso só até o momento em que eles encontraram algo para detestar juntos. “Você gosta de Puccini?”, perguntou Stravinski. “Não o suporto”, respondeu Shostakovich. A partir daí, eles encontraram do que falar e conversaram animadamente a noite inteira.

Lauro Machado Coelho

Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nro. 6 (CD 5 de 11)

Lauro Machado Coelho faz uma notável defesa desta estranha Sexta em seu calhamaço Shostakovich – Vida, Música, Tempo (Ed. Perspectiva). É uma sinfonia curta, de considerável originalidade estrutural: é formado por um longo, belo e mórdido Largo, seguido de dois scherzi (Allegro e Presto). O Presto, muito circense, foi bisado na estréria, em 1939, sob a regência do genial Mravinski. Já a crítica oficial condenou como “Formalista” esta sinfonia “sem pé nem cabeça”: um Largo de vinte minutos e duas brincadeiras de 5 minutos cada… Eu acho esplêndido o primeiro movimento, que possui contatos com o Largo da Quinta e com trabalhos de Mahler e Sibelius, mas alguns especialistas admiram o grotesco e a cínica zombaria do finale. Ou seja, há controvérsias.

Não a vejo como uma obra menor, mas como uma quase não-sinfonia.

O quinto Cd desta coleção traz a Sexta junto à Décima. São obras tão diferentes que optei por separá-las, obedecendo a ordem cronológica. Então, este arquivo ficou bem pequeno.

CD 5

SYMPHONY No.6 in B Minor, Op.54

1. Largo
2. Allegro
3. Presto

Recorded: September 15, 1967

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nro. 4 (CD 4 de 11)

Shostakovich estrearia esta obra em 1936, mas, após 10 ensaios e de ouvir muitos conselhos, cancelou a apresentação para não dar oportunidade à crítica oficial de qualificá-la como “formalista”. Eram os tempos difíceis do stalinismo. Ademais, Shosta sempre esteve descontente com o terceiro e último movimento… Engavetada, a partitura perdeu-se durante a guerra. Em 1946, Mítia reescreveu-a a partir de uma redução para dois pianos. Mas, mesmo assimm ela só foi estreada quando o clima melhorou, em 1961, sob a regência de seu amigo Kiríll Kondrashin.

Escrita para um orquestra monstruosa – seis flautas, quatro oboés, oito clarinetes, sete percussionistas e QUATORZE CONTRABAIXOS – é uma talvez a sinfonia mais complexa de Shosta. Tem somente 3 movimentos, tendo no centro um scherzo mahleriano com dois imensos movimentos externos.

É uma sinfonia inteiramente mahleriana: o uso camarístico de uma orquestra enorme, o grotesco, o encadeamento de temas, tudo lembra Mahler. O tema do scherzo remete-nos direto à Sinfonia Ressurreição.

Ela possui tem a tragédia que vivia a União Soviética em seu cerne: parece um retrato da mais completa e infernal desesperança ou da morte. Nesta perspectiva, não é nada estranho que John Neschling a tenha utilizado no programa de 20 de outubro de 2005, data dos 30 anos da morte de Vladimir Herzog.

Alguns a consideram música hesitante e de má qualidade. Olha, o último movimento realmente é desinteressante – exceção feita a seu final deslumbrante -, porém o restante está muito, mas muito longe disso. Diria que os dois extraordinários primeiros movimentos não merecem o terceiro. Apenas isso. Por que Shosta não escreveu outro ou o suprimiu?

CD 4

DMITRI SHOSTAKOVICH – SYMPHONY No.4

1. Allegro poco moderato
2. Moderato con moto
3. Largo. Allegro

Recorded in 1962
Moscow Philharmonic Orchestra
Kirill Kondrashin, Conductor
Total time 60:02

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nros. 3 e 5 (CD 3 de 11)

Mais um petardo vindo de Kirill Kondrashin e do segundo melhor Exército Vermelho já formado.

Sinfonia Nº 3, Op. 20, “O Primeiro de Maio” (1929)

Não gosto. É música heróica para o Partido, entremeada de algumas modernagens para irritar os burocratas. Shosta resolveria melhor este dilema logo mais adiante, mas Kondrashin é tão bom que deixa a obra quase boa…

Sinfonia Nº 5, Op. 47 (1937)

Esta é a obra mais popular de Dmitri Shostakovich. Recebeu incontáveis gravações e não é para menos. O público costuma torcer o nariz para obras mais modernas e aqui o compositor retorna no tempo para compor uma grande sinfonia ao estilo do século XIX. Sim, é em ré menor e possui quatro movimentos, tendo bem no meio, um scherzo composto por um Haydn mais parrudo. Mesmo para os menos aficcionados, é uma obra apetitosa, por transformar a dura linguagem do compositor em algo mais sonhador do que o habitual. Foi a primeira sinfonia de Shostakovich que ouvi. Meu pai a trouxe dizendo que era uma sinfonia muito melhor que as de Prokofiev, exceção feita à Nº 1, Clássica, que ele amava. Alguns consideram esta obra uma grande paródia; eu a vejo como uma homenagem ao glorioso passado sinfônico do século anterior. A abertura e a coda do último movimento (Allegro non troppo) costuma aparecer, com boa freqüência, em programas de rádio que se querem sérios e influentes…

A propósito, do último movimento, ele serviu para uma cena “estranha” do cineasta Alexander Sokurov que, ao desejar mostrar, no seu documentário sobre Shostakovich “Sonata para Viola”, a sempre questionável superioridade e a liberdade do Ocidente, comparou longamente a coda da quinta na versão de Lenny Bernstein (maravilhosa) e de Mravinsky (horrorosa). Sokurov é um brilhante diretor, mas entende patavinas de música… Não apenas a versão de Mravinsky é mil vezes superior, como ele obedecia ao desejo de Shostakovich quanto ao andamento. Quem entende alguma coisa de música fica boiando ou manda o diretor às favas. Sokurov, já que tem ouvidos varicosos, deveria consultar qualquer ouvinte – mesmo médio – para não cometer tais escandalosos equívocos…

CD 3

SYMPHONY No.3

1. in E Flat Major, Op.20, “The First of May”

SYMPHONY No.5 in D Minor, Op.47

2. Moderato. Allegro non troppo. Moderato
3. Allegretto
4. Largo
5. Allegro non troppo. Allegro

Recorded: March 27, 1968
Choirs of the Russian Republic, Alexander Yourlov, Conductor (1)
Moscow Philharmonic Orchestra (1 & 2)
Kirill Kondrashin, Conductor
Total time 68:16


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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nros. 2 e 14 (CD 2 de 11)

Dando continuidade à nossa integral das Sinfonias de Dmitri Shostakovich sob a regência de Kirill Kondrashin, iniciada aqui, publicamos mais duas sinfonias: a comum segunda e a notável décima-quarta.

CD 2

Sinfonia Nº 2, “A Outubro”, Op. 14 (1927)

Escrita sobre versos de Aleksander Bezimensky’s, é uma homenagem ao décimo ano da Revolução. Tem 16 minutos e é tem um movimento, dividido nas seções Largo – Allegro molto – Meno mosso – Choral Finale. Sua estréia ocorreu em 05/11/1927 com a Filarmônica de Leningrado e Coro. A sinfonia é da fase de experimentação de Shostakovich, só que quem experimentou e não gostou dela foi a burocracia comunista. Creio que o regime soviético tenha sucumbido por sua violência e mau gosto: chamaram a sinfonia de “formalista”, “antiproletária”, “burguesa”, etc. e até o jovem Shostakovich, na época um sincero comunista, ficou irritado com a repercussão incompreensiva. É que ele ainda não conhecera a ira de Stálin logo após Lady Macbeth… Não vira nada ainda…

Sinfonia Nº 14, Op. 135 (1969)

A Sinfonia Nº 14 – espécie de ciclo de canções – foi dedicada a Britten, que estreou-a em 1970 na Inglaterra. É a menos casual das dedicatórias. Seu formato e sonoridade é semelhante à Serenata para Tenor, Trompa e Cordas, Op. 31, e à Les Illuminations para tenor e orquestra de cordas, Op. 18, ambas do compositor inglês. Os dois eram amigos pessoais; conheceram-se em Londres em 1960, e Britten, depois disto, fez várias visitas à URSS. Se o formato musical vem de Britten, o espírito da música é inteiramente de Shostakovich, que se utiliza de poemas de Lorca, Brentano, Apollinaire, Küchelbecker e Rilke, sempre sobre o mesmo assunto: a morte.

O ciclo, escrito para soprano, baixo, percussão e cordas, não deixa a margem à consolação, é música de tristeza sem esperança. Cada canção tem personalidade própria, indo do sombrio e elegíaco em A la Santé, An Delvig e A Morte do Poeta, ao macabro na sensacional Malagueña, ao amargo em Les Attentives, ao grotesco em Réponse des Cosaques Zaporogues e à evocação dramática de Loreley. Não há música mais direta e que trabalhe tanto para a poesia, chegando, por vezes, a casar-se com ela sílaba por sílaba para tornar-se mais expressiva. Há uma versão da sinfonia no idioma original de cada poema, mas sempre a ouvi em russo. Então, já que não entendo esta língua, tenho que ouvi-la ao mesmo tempo em que leio uma tradução dos poemas. Posso dizer que a sinfonia torna-se apenas triste se estiver desacompanhada da compreensão dos poemas – pecado que cometi por anos! Ela perde sentido se não temos consciência de seu conteúdo autenticamente fúnebre. Além do mais, os poemas são notáveis.

Possui indiscutíveis seus méritos musicais mas o que importa é sua extrema sinceridade. Me entusiasmam especialmente a Malagueña, feita sobre poema de Lorca e a estranha Conclusão (Schluss-Stück) de Rilke, que é brevíssima, sardônica e – puxa vida – muito, mas muito final.

SYMPHONY No.2
1. in B Major, Op.14, “To October”

Recorded: November 29, 1972

SYMPHONY No.14
For Soprano, Bass, String Orchestra and Percussion, Op.135

2. De Profundis (Garcia Lorca)
3. Malaguena (Garcia Lorca)
4. Loreley (Apollinaire)
5. The Suicide (Apollinaire)
6. On Watch (Appollinaire)
7. Madam! Look (Apollinaire)
8. In the Sante (Apollinaire)
9. The Zaporogian Cossacks’ Reply to the Sultan of Constantinople (Appolinaire)
10. O Delvig, Delvig! (Kuchelbecker)
11. Death of the Poet (Rilke)
12. Conclusion (Rilke)

Recorded: November 24, 1974

Evgenya Tselovalnik, Soprano / Evgeny Nesterenko, Bass / Ensemble of soloists from the Moscow Philharmonic Orchestra / Choirs of the Russian Republic / Alexander Yourlov, Conductor (2)
Moscow Philharmonic Orchestra / Kirill Kondrashin, Conductor

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Igor Stravinsky (1882-1971) – Violin Concerto in D, Bela Bártok (1881-1945)- Violin Concerto No2, Dmitri Shostakovich (1906-1975)- Concerto No. 1 in A minor for Violin and Orchestra, Op. 99, Sergey Prokofiev (1891-1953) – Violin Concerto No. 2 In G Minor, Op. 63

O que estes quatro concertos para violino têm em comum além do fato de serem os mais representativos do século XX é a excepcional violinista que os interpreta, Viktoria Mullova. Sou fã desta grande violinista desde que comprei sua gravação para os Concertos de Tchaikovsky e de Sibelius, sob a direção do Seiji Ozawa e sua Orquestra Sinfônica de Boston, ainda nos anos 80.

Mullova interpreta nestes dois cds os quatro principais concertos para violino do século XX. Quatro verdadeiras provas de fogo, e Mullova os encara com tamanha competência que nos tira o fôlego muitas vezes. Destaque para a cadenza do terceiro movimento do concerto de Shostakovich, além do belíssimo 2º Concerto de Prokofiev.
Nesta série de concertos ela estará acompanhada pela Royal Philarmonic Orchestra, dirigida por Andre Previn.

Igor Stravinsky (1882-1971) – Violin Concerto in D, Bela Bártok (1881-1945)- Violin Concerto No2, Dmitri Shostakovich (1906-1975)- Concerto No. 1 in A minor for Violin and Orchestra, Op. 99, Sergey Prokofiev (1891-1953) – Violin Concerto No. 2 In G Minor, Op. 63

CD 1

01 Stravinsky – Violin Concerto in D – I – Toccata
02 Stravinsky – Violin Concerto in D – II – Aria
03 Stravinsky – Violin Concerto in D – III – Aria II
04 Stravinsky – Violin Concerto in D – IV – Capriccio
05 Bartok – Violin Concerto No2 – Allegro non troppo
06 Bartok – Violin Concerto No2 ´Andante tranquilo
07 Bartok – Violin Concerto No2 – Allegro molto

CD 2

01 Shostakovich – Concerto No. 1 in A minor for Violin and Orchestra, Op. 99I. Nocturne. Adagio
02 Shostakovich – Concerto No. 1 in A minor for Violin and Orchestra, Op. 99II. Scherzo. Allegro non troppo
03 Shostakovich – Concerto No. 1 in A minor for Violin and Orchestra, Op. 99III. Passacaglia. Andante
04 Shostakovich – Concerto No. 1 in A minor for Violin and Orchestra, Op. 99IV. Burlesca. Allegro con brio
05 Prokofiev – Violin Concerto No. 2 In G Minor, Op. 63 – Allegro moderato
06 Prokofiev – Violin Concerto No. 2 In G Minor, Op. 63 – Andante assai
07 Prokofiev – Violin Concerto No. 2 In G Minor, Op. 63 – Allegro ben marcato

Viktoria Mullova – Violin
Royal Philarmonic Orchestra
Andre Previn – Director

CD 1 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

CD 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Machado de Assis, a Polca, o Jazz, Shostakovitch e o Pestana (e o Wisnik e o Idelber)

A partir do título, este é um post copiado do blog de Milton Ribeiro.

Pequena ilustração ao post de hoje do Idelber.

Em um famoso conto de Machado de Assis, Um Homem Célebre, havia um grande compositor de polcas, o Pestana, que queria fazer algo maior, grandioso, mas – que diabo! – só lhe saíam mais polcas. O que fazer? O personagem fazia o maior esforço, passava meses trancado em casa a fim de parir a grande obra, porém não produzia nada além de belas polcas, que logo se tornavam popularíssimas e eram assobiadas pelo povo nas ruas, para desespero do Pestana. Estas eram compostas copiosa e rapidamente. Acabou rico, infeliz e doente. Coitado.

Com Shostakovitch o caso é diferente. Compôs copiosamente obras-primas, tem obra profunda e numerosa, mas, um belo dia, resolveu escrever suítes para grupos de jazz. Vocês podem adivinhar o que aconteceu? Saíram apenas… polcas. Polcas e valsas. O timbre é o do jazz – não poderia ser diferente com aquela formação orquestral -, já a música são as polcas do personagem machadiano. Ah, vocês não acreditam? Então ouçam o CD (*) com estas obras. É um bom disco, há a espetacular Valsa 2 da Suíte Nro. 2, que foi utilizada por Stanley Kubrick na abertura de De Olhos bem Fechados, com um ritmo e um solo de sax que nos obriga a levantar e ensaiar uns passinhos pela sala, há várias polquinhas bem legais e há uma imitação marcial de Duke Ellington que dá para rolar de rir. É o “Grande Projeto Falhado” do imortal Shosta e, mesmo assim, é muito bom e divertido.

(*) Gentilmente, P.Q.P. Bach nos disponibliliza uma gravação das Jazz Suites de Shostakovich.

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P.Q.P. Bach retorna com a relação das faixas de:
Shostakovich Jazz Suites 1 & 2 / The Bolt / Tahiti Trot

1. The Bolt (Ballet Suite): Overture (Introduction) 5:05
2. The Bolt (Ballet Suite): The Bureaucrat (Polka) 2:42
3. The Bolt (Ballet Suite): The Drayman’s Dance (Variations) 1:54
4. The Bolt (Ballet Suite): Koelkov’s Dance with Friends (Tango) 5:21
5. The Bolt (Ballet Suite): Intermezzo 3:41
6. The Bolt (Ballet Suite): The Dance of the Colonial Slave-Girl 3:41
7. The Bolt (Ballet Suite): The Conciliator 3:10
8. The Bolt (Ballet Suite): General Dance of Enthusiasm and Apotheosis (Finale) 3:28
9. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): March 3:07
10. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Lyric Waltz 2:08
11. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Dance 1 3:03
12. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Waltz 1 2:47
13. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Little Polka 1:51
14. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Waltz 2 3:13
15. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Dance 2 2:15
16. Jazz Suite No. 2 (Suite for Stage Variety Orchestra): Finale 1:58
17. Jazz Suite No. 1: Waltz 2:28
18. Jazz Suite No. 1: Polka 1:35
19. Jazz Suite No. 1: Foxtrot (Blues) 4:16
20. Tahiti Trot, Op. 16: Tahiti Trot (Tea for Two), Op. 16 4:09

Composed by Dmitry Shostakovich
Performed by Russian State Symphony Orchestra
Conducted by Dmitry Yablonsky

Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – Sinf. Nros. 1 e 12 – (CD 1 de 11)

Consegui por aí a integral das Sinfonias de Shostakovich com Kirill Kondrashin e a Filarmônica de Moscou. Vocês não demonstram grande entusiasmo por Shosta, mas minha habitual falta de consideração e esquizofrenia me obrigará a publicar sua integral antes da de Mahler, Sibelius, Nielsen (adoro Nielsen) e outros. O CD Nro. 1 traz a esplêndida Sinfonia Nº 1 e a medonha 12ª, “O Ano de 1917”, talvez seu único fracasso artístico de grandes proporções. A Sinfonia Nº 12 soa falsa, nada convincente. As suas outras obras revolucionárias nos parecem sinceras, porém esta sinfonia é um exagero que torna-se uma espécie de caricatura involuntária. O livro Shostalkovich: Vida, Música, Tempo, de Lauro Machado Coelho não chega a dedicar uma página de suas quinhentas e duas à decima-segunda. Merece o desprezo.

Mas há a primeira, uma obra-prima que Mítia finalizou quando tinha apenas 19 anos!

Sinfonia Nº 1, Op. 10 (1924-1925) : Shostakovich começou a escrever esta sinfonia quando tinha dezessete anos. Antes disso, tinha composto alguns scherzi que só interessam à musicólogos. Sua estréia foi mesmo com esta Nº 1, terminada antes do autor completar vinte anos. Ela tornou aquele estudante de música, mais conhecido por ser o pianista-improvisador de três cinemas mudos de Petrogrado, internacionalmente célebre. Tal fama pode ser atribuída por Shostakovich ser o primeiro rebento musical do comunismo, mas ouvindo a sinfonia hoje, não nos decepcionamos de modo algum. É música de um futuro mestre.

Ela começa com um toque de trompete ao qual, se acrescentarmos um crescendo, tornar-se-á um tema de Petrouchka, de Igor Stravinski. Alguns regentes russos fazem esta introdução exatamemente igual à Petroushka. É algo curioso que o jovem Dmitri tenha feito esta homenagem, quando dizia que seus modelos – e isto foi comprovadíssimo logo adiante – eram Mahler, Bach, Beethoven e Mussorgski. Mas há mesmo algo de “boneca triste” no primeiro movimento desta sinfonia. O segundo movimento possui um curioso tema árabe, que é a primeira paródia encontrada em sua obra. Um achado.

O movimento lento, muito triste, é daqueles que a Veja consideraria uma comprovação do sofrimento do compositor sob o comunismo e de uma postura fatalista do tipo isto-não-vai-dar-nada-certo, porém acreditamos que a morte de seu pai, ocorrida alguns meses antes e a internação de Dmitri num sanatório da Criméia (ele contraíra tuberculose) tenha maior relação com tal tristeza. Há um belíssimo solo funéreo de oboé neste movimento.

CD 1

SYMPHONY No.1 in F Minor, Op.10

1. Allegretto. Allegro ma non troppo
2. Allegro
3. Lento
4. Allegro molto, Lento Allegro molto

Recorded: July 19, 1972

SYMPHONY No.12 in D Minor, Op.112, “1917”
5. Revolutionary “Petrograd”: Moderato, Allegro
6. Allegro
7. Aurora: Allegro
8. Down of Humanity: Allegro, Allegretto

Recorded: December 13, 1972

Moscow Philharmonic Orchestra
Kirill Kondrashin, Conductor

Total time 68:59

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Dmitri Shostakovich (1906 – 1975) – Sinfonias Nº 2 e Nº 15

Já postei a Sinfonia Nº 15 em versão muito superior a esta, mas a segunda é inédita em nosso blog. A Sinfonia Nº 2 (1927) foi terminada quando o compositor tinha 21 anos e começava a abraçar a estética da música moderna. Se a primeira sinfonia leva o DNA do Shostakovich maduro, a segunda é a sinfonia de um jovem revolucionário nos anos iniciais de outra revolução. O stalinismo ainda não o tinha rotulado de “formalista” e Shosta flanava nas novidades. Foram os anos da espetacular (e irreverente)ópera “O Nariz” e da não menos (e mais irreverente ainda) “Lady Macbeth de Mzenski”. Erra quem diz que o estilo de Shostakovich foi forjado por Stalin e Jdanov, pois a Quarta Sinfonia, obra já madura, é anterior às primeiras proibições. Mas, voltando ao assunto, é boa a Segunda Sinfonia “Outubro”, Op. 14.

Ontem, lendo o livro “Alucinações Musicais”, tradução impecável de Musicophilia – Tales of music and brain, de Oliver Sacks, deparei-me (e abismei-me) com o seguinte:

Em um artigo no New York Times em 1983, Donal Henahan escreveu sobre a lesão cerebral de Shostakovich. Não existem provas, mas, ressaltou Henahan, conta-se que o compositor foi atingido por uma granada alemã durante o cerco de Leningrado, e quealguns anos depois um raio X revelou um fragmento de metal encravado na área auditiva direira de seu cérebro. Henahan relata:

“Shostakovich, porém, relutava em permitir a remoção do metal, e não era para menos: afirmou que desde que o fragmento estava lá, cada vez que ele inclinava a cabeça podia ouvir música. Sua cabeça estava povoada de melodias, diferentes a cada vez, das quais ele se servia ao compor. Quando ele endireitava a cabeça, a música parava imediatamente”.

????? Ah, aquele negrito é meu.

Dmitri Shostakovich 1
Acima, flagrante de Shosta ouvindo música…

SHOSTAKOVICH: Symphonies Nos. 2 and 15

1. Symphony No. 2 in B major, Op. 14, “October” 00:19:35

Symphony No. 15 in A major, Op. 141
2. Allegretto 00:08:23
3. Adagio 00:15:42
4. Allegretto 00:04:02
5. Adagio 00:16:03

Slovak Philharmonic Chorus
Slovak Radio Symphony Orchestra
Ladislav Slovak, Conductor

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Igor Stravinski (1882 – 1971) e Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Agon e Sinfonia Nº 15

Extraordinária gravação em que Evgeni Mravinski conduz a Orquestra Filarmônica de Leningrado no balé Agon, de Stravinski (gravação de 1965), e na 15ª Sinfonia de Dmitri Shostakovich (gravação de 1976).

Agon é de 1957, quando Stravinski tinha 75 anos. A música, aqui, prescinde do balé – que alívio, não? -, mas não me causa nenhum entusiasmo. Já o Shostakovich… A Sinfonia Nº 15 é a última do compositor e, em 1976, Mravinski iniciou a temporada de sua orquestra dedicando nada menos do que quatro concertos a seu amigo. A gravação postada traz um registro deste extraordinário evento.

Sem dúvida, a Sinfonia Nº 15 é uma de minhas preferidas no gênero. É difícil estabelecer-se um conteúdo programático para ela. Trata-se de uma música muito viva, com colorido orquestral atraente, temas facilmente assimiláveis e nada triviais, clímax e pausas meditativas que empolgam e mantém o ouvinte permanentemente atento. E com os contrastes inesperados característicos de Shostakovich. Parece um roteiro de Shakespeare passado à música, trazendo o trágico ao festivo, empurrando a reflexão para junto da zombaria. Bom, já viram que sou um apaixonado desta sinfonia.

O primeiro movimento (Allegretto) é uma curiosidade por manter sempre ativo o motivo da cavalgada da abertura Guilherme Tell, de Rossini, e pela participação incessante da percussão. O segundo movimento (Adagio) é circunspecto. Os metais trazem uma melodia sombria, para depois o violoncelo completá-la com um solo dilacerante, a cujas cores será acrescida, mais adiante, a ressonância do contrabaixo. Um novo Alegretto surge repentinamente do Adagio, retomando o clima do primeiro movimento, mas desta vez somos levados pelos solos do fagote, violino, clarinete e flautim. O movimento final, outro adagio, é enigmático. A simbologia está presente com a apresentação de imediato do Prenúncio da Morte, composto por Wagner para a Tetralogia do Anel. O ouvinte wagneriano fica desconcertado ao escutar de imediato esta música conhecida, parece tratar-se de um equívoco, de um erro de partitura. Ao pesado motivo de Wagner são contrapostos temas executados pelo setor leve da orquestra, porém, a todo instante, o sinistro aviso retorna e, mais adiante, os metais refletirão uma angustiada exasperação… A sinfonia esvai-se em delicados sons de percussão, deixando um desconcertante ponto de interrogação no ar. O significado do Prenúncio da Morte é óbvio, porém, o que significam a percussão, a orquestração e as melodias jocosas que o cercam? Uma simples experiência sinfônica? Impossível. O desejo de felicidade de alguém cuja vida se encerra? Ou, voltando a Shakespeare, que a vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, que nada significa (*)? Porém, a significação, a intenção exata de uma obra instrumental é tão importante? Ou seria mais inteligente fazer como fez Shostakovich, levando-nos bem próximo ao irrespondível para nos abandonar por lá?

(*) Macbeth, William Shakespeare.

STRAVINSKY Agon (40mb)
1. Pas de quatre 1:48
2. Double Pas de quatre 1:36
3. Triple Pas de quatre 1:09
4. Prelude 0:57
5. First Pas de trios Saraband Step 1:18
6. Gaillarde 1:19
7. Coda 1:28
8. Interlude 0:55
9. Second Pas de trios Bransle simple 0:59
10. Bransle gay 0:53
11. Bransle double 1:27
12. Interlude 0:56
13. Pas de deux Adagio – variation – refrain 4:16
14. Coda 1:35
15. Four Duos 0:32
16. Four Trios 0:39
17. Coda 1:53

SHOSTAKOVICH Symphony No.15 (70mb)
18. Allegretto 7:42
19. Adagio, Largo 14:28
20. Allegretto 3:38
21. Adagio,Allegretto 13:50

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Sinfonia Nº 10, Op. 93 (1953)

41007Algumas orquestras e regentes soviéticos eram motivo de orgulho nacional e isto não era tolo ufanismo. Naqueles anos, o trabalho de Evgeny Mravinsky  e sua Orquestra de Leningrado quase sempre me chegaram em gravações ao vivo, como esta que publico aqui hoje. E eram sempre espantosas. Por exemplo, sua gravação da Música para Cordas, Percussão e Celesta de Bartók é imbatível e ainda vinha com a 7ª Sinfonia de Sibelius! É dos poucos LPs que ouço até hoje.

Além de Mravinsky havia Kondrashin, Svetlanov e Roszdesvensky, um super-quarteto.

Agora, de forma inteiramente casual, encontrei na rede este registro ao vivo da 10ª de Shostakovich. Apesar da tosse da platéia e do som mono. Mravinsky demonstra seu vigor um ano após a morte de Shostakovich. A tensão dramática a que Mravinsky chega aqui é digna de nota. Ele era amigo de Shosta, que havia-lhe dedicado a 8ª Sinfonia.

Este monumento da arte contemporânea mistura música absoluta, intensidade trágica, humor, ódio mortal, tranqüilidade bucólica e paródia. Tem, ademais, uma história bastante particular.

Em março de 1953, quando da morte de Stalin, Shostakovich estava proibido de estrear novas obras e a execução das já publicadas estava sob censura, necessitando autorizações especiais para serem apresentadas. Tais autorizações eram, normalmente, negadas. Foi o período em que Shostakovich dedicou-se à música de câmara e a maior prova disto é a distância de oito anos que separa a nona sinfonia desta décima. Esta sinfonia, provavelmente escrita durante o período de censura, além de seus méritos musicais indiscutíveis, é considerada uma vingança contra Stalin.

Primeiramente, ela parece inteiramente desligada de quaisquer dogmas estabelecidos pelo realismo socialista da época. Para afastar-se ainda mais, seu segundo movimento – um estranho no ninho, em completo contraste com o restante da obra – contém exatamente as ousadias sinfônicas que deixaram Shostakovich mal com o regime stalinista. Não são poucos os comentaristas consideram ser este movimento uma descrição musical de Stálin: breve, é absolutamente violento e brutal, enfurecido mesmo, e sua oposição ao restante da obra faz-nos pensar em alguma segunda intenção do compositor. Para completar o estranhamento, o movimento seguinte é pastoral e tranqüilo, contendo o maior enigma musical do mestre: a orquestra pára, dando espaço para a trompa executar o famoso tema baseado nas notas DSCH (ré, mi bemol, dó e si, em notação alemã) que é assinatura musical de Dmitri SCHostakovich, em grafia alemã. Para identificá-la, ouça o tema executado a capela pela trompa. Ele é repetido quatro vezes. Ouvindo a sinfonia, chega-nos sempre a certeza de que Shostakovich está dizendo insistentemente: Stalin está morto, Shostakovich, não. O mais notável da décima é o tratamento magistral em torno de temas que se transfiguram constantemente.

P.Q.P. Bach adverte: não ouça o segundo movimento previamente irritado. Você e sua companhia poderão se machucar.

Evgeny Mravinsky Conducts Shostakovich
(Leningrad Masters 1995)

Shostakovich`s Symphony No. 10, in E Minor, Op. 93
(gravação mono e ao vivo de 1976)

1. Moderato (22min 24)
2. Allegro (4min 08)
3. Allegretto (11min 10)
4. Andante – Allegro (11min 17)

Orquestra Filarmônica de Leningrado
Reg.: Evgeny Mravinsky

Tempo Total: 48min 58

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PQP Bach

Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Quartetos Nros. 9, 6 e 7

Ontem à noite, arrastei meu amigo Milton Ribeiro para um concerto em que seriam apresentados dois quartetos de cordas: o Quarteto Americano Nº12 de Dvorák e o Quarteto Nº 9 de Shostakovich.

Milton me explicou que o “Quarteto Americano” era antes conhecido pelo nome de “Nigger Quartet”, mas como a palavra nigger (negro) tornou-se altamente pejorativa, o quarteto foi rebatizado. Curioso.

O quarteto da noite de ontem, formado por 4 jovens integrantes da OSPA, tocou fantasticamente bem, provando que a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre deveria incentivar a formação de pequenos grupos. São várias as razões: os músicos se exporiam mais, estudariam mais, tocariam mais e poderiam excursionar pelo interior a custo mais baixo – em vez de levar 100 pessoas para tocar os mesmos highlights pé no saco de sempre. O concerto foi nada menos que brilhante, mostrando-nos que há gente muito boa chafurdando sob os Túlios Belardis da vida.

Aproveito para postar aqui um dos quartetos de ontem, o de Shostakovich, acompanhado de outros dois muito bons. Retirei o oitavo porque já o postamos muitas vezes…

P.Q.P. Bach.

P.S.1- Não sei o nome de nenhum dos instrumentistas de ontem. Se alguém souber, favor deixar registrado nos comentários. Milton me avisa que o violista se chamaria Vladimir…

Update das 2h23 da madrugada: Emerson Kretschmer e Márcio Cecconello, violinos; Vladimir Romanov, viola; Rodrigo Andrade Silveira, violoncelo.

P.S.2- Não tenho como postar o “Quarteto Americano”, pois apenas o possuo em vinil com o Gabrieli String Quartet, em versão inferior a que ouvi ontem ao vivo.

P.S.3- Para ouvir o Quarteto Nro. 9 de Shosta, temos que reconfigurar o mp3 player para retirar aqueles três segundinhos que separam uma faixa de outra, pois os cinco movimentos são ininterruptos.

String Quartet No. 9 in E flat major, Op. 117
I. Moderato con moto 04:26
II. Adagio 03:58
III. Allegretto 03:54
IV. Adagio 03:36
V. Allegro 10:03

String Quartet No. 6 in G major, Op. 101
I. Allegretto 06:47
II. Moderato con moto 05:16
III. Lento 05:20
IV. Lento – Allegretto 07:46

String Quartet No. 7 in F sharp minor, Op. 108
I. Allegretto 03:38
II. Lento 03:24
III. Allegro 05:32

Eder Quartet

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Sinfonia Nº 5 e Sinfonia de Câmara

Hoje, dia 25, faz 101 anos que Shostakovich nasceu. P.Q.P. Bach lembrou e homenageia o mais humano dos compositores. Utilizamos versões clássicas um CD de versões clássicas a cargo de Leonard Bernstein e de Rudolf Barshai.

Sinfonia Nº 5, Op. 47 (1937)

Porta de entrada mais utilizada para Shostakovich, a Sinfonia N° 5 é sua obra mais popular. Recebeu incontáveis gravações e não é para menos. O público costuma torcer o nariz para obras mais modernas e aqui o compositor retorna no tempo para compor uma grande sinfonia ao estilo do século XIX. Sim, é em ré menor e possui quatro movimentos, tendo bem no meio um scherzo (o Alegretto) composto por um Haydn mais parrudo. Mesmo para os aficcionados, é uma obra apetitosa, por transformar a linguagem do compositor em algo mais sonhador do que o habitual. Foi a primeira sinfonia de Shostakovich que ouvi. Meu pai a trouxe dizendo que era uma sinfonia muito melhor que as de Prokofiev, exceção feita à Nº 1, Clássica, que ele, outro clássico, amava. Alguns consideram a quinta uma grande paródia; eu a vejo como uma homenagem ao glorioso passado sinfônico do século anterior. A abertura e a coda do último movimento (Allegro non troppo) costuma aparecer, com boa freqüência, em programas de rádio que se querem sérios e influentes…

Chamber Symphony

Sim, sim, não me culpem. É a quinta vez que publicamos esta pequena sinfonia de câmara, na verdade um arranjo do extraordinário Quarteto Nº 8 de Shosta. O que posso fazer se tal obra tornou-se a sobremesa padrão de muitos CDs? É uma iguaria triste, com um estranho gosto de morte, mas bela, muito bela. Houve uma postagem de três versões muito diferentes entre si num só arquivo (lembram?) e depois ela retornou naquele CD funéreo que também apresentava A Morte e a Donzela de Schubert. É grande música, vale a pena ouvir e reouvir.

P.Q.P. Bach.

1. Symphony no 5 in D minor, Op. 47: Moderato
2. Symphony no 5 in D minor, Op. 47: Allegretto
3. Symphony no 5 in D minor, Op. 47: Largo
4. Symphony no 5 in D minor, Op. 47: Allegro non troppo

Composer: Dmitri Shostakovich (1906 – 1975)
Period: 20th Century
Form / Genre: Symphony
Written: 1937
Country: USSR
Recorded: 07/1979
Studio / Live: Live
Venue: Bunka Kaikan, Tokyo, Japan
Conductor – Ensemble: Bernstein, Leonard – New York Philharmonic

5. Chamber Symphony in C minor, Op. 110a: Largo
6. Chamber Symphony in C minor, Op. 110a: Allegro molto
7. Chamber Symphony in C minor, Op. 110a: Allegretto
8. Chamber Symphony in C minor, Op. 110a: Largo
9. Chamber Symphony in C minor, Op. 110a: Largo

Composer: Dmitri Shostakovich (1906 – 1975)
Period: 20th Century
Form / Genre: Symphony
Written: 1960
Country: USSR
Recorded: 11/1995
Studio / Live: Studio
Venue: Concert Hall, Art Tower Mito, Japan
Conductor – Ensemble: Barshai, Rudolf – Mito Chamber Orchestra
This work is Rudolf Barshai’s 1960 arrangement of Shostakovich’s String Quartet No. 8.

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Franz Schubert (1797-1828) e Dmitri Shostakovich (1906-1975) – A Morte e a Donzela e Chamber Symphony, Op. 110a (Quarteto Nº 8)

A Salzburg Chamber Soloists é a responsável pelo segundo ou terceiro CD mais baixado deste blog: este aqui. Não chega a surpreender. O programa de Vivaldi e Piazzolla é interessante, combina, e a interpretação da orquestra é cheia de intenções…

O segundo CD que possuo deles também é muito original. O regente Lavard Skou-Larsen, numa gravação ao vivo, faz algo estranho, unindo duas obras aparentemente inconciliáveis. Mas só aparentemente.

O que é estranho? Ele escreve um arranjo para orquestra a partir do quarteto de cordas “A Morte e a Donzela”. Pensando bem, não é tão estranho, pois Mahler, Schoenberg, Berg e outros já fizeram o mesmo. Para completar, usa o arranjo de Rudolf Barschai para o quarteto de Shosta e estamos prontos para o velório.

Schubert escreveu dramaticamente numa carta a um amigo, comentando sobre o quarteto: “Pense numa mulher cuja saúde nega-se a melhorar”. Shostakovich escreveu seu quarteto em três dias (!!!!) de 1960, em Dresden, após ver alguns filmes sobre a destruição na ex-Alemanha Oriental e dedicou-o às vítimas.

São duas obras que levam experiências pessoais com a morte e com grandes aflições a uma perspectiva mais ampla. Em sua paixão e revolta, tratam de situações brutais e inexoráveis e, como se fossem Réquiems, possuem o efeito de uma catarse. (Trad. por mim com muuuita liberdade a partir do encarte do CD.)

Curiosamente, Lavard Skou-Larsen é um portoalegrense. Seu pai tocava na Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e ele nasceu em solo brasileiro. Skou-Larsen gravou para a Naxos as Sonatas para Violino e Piano de Camargo Guarnieri.

P.Q.P. Bach.

Franz Schubert
Dmitri Shostakovich
Salzburg Chamber Soloists
Lavard Skou-Larsen

Franz Schubert: String Quartet in d Minor D810 „Death and the Maiden“ (arr. for String Orchestra by Lavard Skou-Larsen) Premiere Recording
1. Allegro
2. Andante con moto
3. Scherzo. Allegro molto – Trio
4. Presto

Dmitry Shostakovich: Chamber Symphony Op. 110a (arr. for String Orchestra by Rudolf Barshai)

5. Largo
6. Allegro molto
7. Allegretto
8. Largo
9. Largo

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Sonata para Piano Nº 2 e outras peças para piano solo

Lauro Machado Coelho escreveu 500 páginas sobre Shostakovich – em Shostakóvitch – Vida, Música, Tempo (Ed. Perspectiva, 2006) – e conseguiu não escrever uma linha a respeito desta sonata. Terá sido falha minha? Será que dormi naquela parte? Sei não. É um bom livro para quem quiser uma introdução à música de nosso amigo Shosta.

Otto Maria Carpeaux escreveu Uma Nova História da Música e ignorou um monte de compositores, mas Carpeaux era um diletante em música; na sua História da Literatura Ocidental foi mais memorioso. Acho que Lauro nunca ouviu esta sonata de espetacular terceiro movimento. Talvez o comentarista do encarte do CD tenha razão ao dizer que a culpa é da própria sonata: ela teria saído do repertório por ter sido escrita em 1943 e ser introspectiva, NÃO refletindo a atmosfera da guerra, porém, apesar de admirar o fato de possuirmos uma obra deste porte sobre alguém tão obscuro em nosso país quanto Shosta, acho inadmissível o cara deixar passar uma obra dessas.

O restante do CD é formado por obras menores. Sabidamente, Shosta era um pianista que compôs pouca coisa para quaisquer instrumentos solo, mesmo para o piano; então não há muito mais do que os monumentais 24 Prelúdios e Fugas (já divulgado por este prestigioso blog onde você se encontra) e esta sonata. Mas o restante é divertido. E Konstantin Scherbakov é excelente pianista. É um prazer ouvi-lo.

Ah, os Cinco Prelúdios (excertos) são excelentes. O de nro. 3 é uma linda modernagem.

PQP Bach.

Dmitri Shostakovich

Piano Sonata No. 2 in B minor, Op. 61
1. I. Allegretto 06:54
2. II. Largo 06:01
3. III. Moderato (con moto) – Allegretto con moto – Adagio – Moderato 11:12

Three Pieces (1919-20)
4. No. 1. Minuet 00:50
5. No. 2. Prelude 00:55
6. No. 3. Intermezzo 01:07

A Child’s Exercise Book, Op. 69
7. I. March: in the tempo of a March 00:41
8. II. Valse: in the tempo of a Waltz 00:33
9. III. Sad Tale: Adagio 02:07
10. VI. Merry Tale: Allegro 00:34
11. V. The Bear: Allegretto 00:48
12. VI. Clockwork Doll: Allegretto 00:45
13. VII. Birthday [no tempo indication] 01:12

14. Murzilka 00:49

Five Preludes, Op. 2 (excerpts) (1919-1921)
15. No. 2 in A minor: Allegro moderato e scherzando (Op. 2, No. 5) 02:17
16. No. 3 in G major: Andante (Op. 2, No. 2) 02:17
17. No. 4 in E minor: Allegro moderato 00:55
18. No. 15 in D flat major: Moderato (Op. 2, No. 7 or 8) 01:30
19. No. 18 in F minor: Andantino (Op. 2, No. 6) 01:08

The Limpid Stream, Op. 39 (excerpts) (piano trans. D. Shostakovich)
20. Act I Scene 1: No. 7. Scene and Waltz – Entr’acte: Allegretto 05:56
21. Act I Scene 2: No. 12. Dance of the Milkmaid and the Tractor Driver: Moderato con moto 02:20
22. Act I Scene 2: No. 13. Ballerina’s Waltz: Tempo di valse 02:56
23. Act II Scene 3: No. 23. Tango: Allegro – Andante – Allegro 04:39

Konstantin Scherbakov, piano

Total Playing Time: 46:26

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Quarteto de Cordas Nº 8 e Sinfonia de Câmara correspondente

Hoje acordei com vontade de fazer uma coisa diferente e legal. Então, peguei uma obra-prima, o Quarteto Nº 8 de Dmitri Shostakovich, numa gravação bastante boa (talvez a mais “visceral” que conheça, por assim dizer), a do Medici String Quartet, e postei no mesmo arquivo o arranjo que Rudolf Barschai fez para orquestra de câmara do mesmo quarteto. Ou seja, há duas vezes a mesma música, só que em concepções inteiramente diferentes. A leitura do Medici chega a ser agressiva perto do tranqüilo andamento escolhido pelo regente Roland Melia na gravação para orquestra. E são as mesmas notas da mesma obra.

Música extraordinária e bem característica de Shostakovich, onde estão presentes a dança brutal do Allegro Molto, o delicado sarcasmo do Allegretto, a delicadeza do Largo de abertura e a profunda inteligência da construção musical dos dois últimos Largos, o último revisitando o primeiro. Um espanto!

Mas aqui não quero mostrar somente a obra. Desejo mostrar um dos fatos mais apaixonantes da música erudita: a diversidade de interpretações e concepções. O Medici leu a obra de uma forma e o regente X o fez de forma inteiramente diferente. Claro que, aqui, a diferente sonoridade do quarteto e da orquestra serve como mais um elemento distintivo. E as duas formas são aceitáveis e têm indiscutíveis méritos. Notem como o Medici leva 5min22 para executar o primeiro movimento e a orquestra o faz em 6min52! E como as três notas que marcam o quarto movimento são muito mais expressivas quando executadas com maior lentidão.

Um dia, li este post no blog de Milton Ribeiro. É, penso, uma tentativa de explicação do fenômeno das leituras:

Uma Parábola Longa

Numa noite fria do século XVIII, Bach escrevia a Chacona da Partita Nº 2 para violino solo. A música partia de sua imaginação (1) para o violino (2), no qual era testada, e daí para o papel (3). Anos depois, foi copiada (4) e publicada (5). Hoje, o violinista lê a Chacona (6) e de seus olhos passa o que está escrito ao violino (9) utilizando para isso seu controverso cérebro (7) e sua instável técnica (8), . Do violino, a música passa a um engenheiro de som (10) que a grava em um equipamento (11), para só então chegar ao ouvinte (12), que se desmilingúi àquilo.

Na variação entre essas passagens e comunicações, está a infindável diversidade das interpretações.

Mas ainda faltam elos, como a qualidade do violino – e se seu som for divino ou de lata, e se ele for um instrumento original ou moderno? E o calibre do violinista? E seu senso de estilo e vivências? E o ouvinte? E… as verdadeiras intenções de Bach? Desejava ele que o pequeno violino tomasse as proporções gigantescas e polifônicas do órgão? Mesmo?

Há coisas que só mesmo em P.Q.P. Bach…

String Quartet No. 8 in C minor, Op. 110
Performed by: Medici String Quartet
I. Largo 05:22
II. Allegro molto 02:58
III. Allegretto 04:09
IV. Largo 05:07
V. Largo 04:17

String Quartet No. 8 in C minor, Op. 110 / (Chamber Symphony, arr. Rudolf Barschai)
Performed by: Dalgat String Ensemble
Conducted by: Roland Melia
VI. Largo 06:52
VII. Allegro molto 03:12
VIII. Allegretto 05:07
IX. Largo 06:06
X. Largo 04:52

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Concerto para Piano e Orquestra, Op. 102

Concerto dedicado ao filho pianista Maxim Shostakovich. É um autêntico presente de pai para filho. Alegre, brilhante e cheio de brincadeiras de caráter privado como a inacreditável inclusão – no terceiro movimento de exercícios que seu filho praticava quando era estudante do instrumento… E não se surpreenda, o primeiro movimento deste concerto é conhecido entre as crianças que vêem desenhos da Disney. É a música que é executada durante o episódio do Soldadinho de Chumbo em Fantasia 2000. Quando ouço esta música em casa, sempre um de meus filhos vem me dizer “olha aí a música do Soldadinho de Chumbo”. É claro que a música não tem nada a ver com a história infantil; Shostakovich fez um belo concerto para seu filho, de atmosfera delicada e afetuosa. O primeiro movimento (Allegro) começa com uma rápida introdução orquestral em seguida à qual entra o piano. De acordo com a prática habitual de Shostakovich, o tema inicial é um pouco mais poético do que o segundo, de entonação mais vigorosa e rítmica.

Dois movimentos vivos e felizes cercam um melancólico, tocante e melodioso segundo movimento. A inspiração óbvia para este concerto foi o Concerto em Sol Maior (1931) de Ravel. Leonard Bernstein deu-se conta disto e gravou um de seus melhores discos em 1978, acumulando as funções de pianista e regente nos dois concertos. Se este concerto não arrancar algum sorriso do ouvinte, este necessita de urgentemente de anti-depressivos.

Piano Concerto No. 2 in F major, Op. 102
Michael Houstoun, piano
Performed by:New Zealand Symphony Orchestra
Conducted by:Christopher Lyndon-Gee

I. Allegro 07:22
II. Andante 06:37
III. Allegro 05:46

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Sinfonia Nº 11, Op. 103 – O Ano de 1905

Esta sinfonia talvez seja a maior obra programática já composta. Há grandes exemplos de músicas descritivas tais como As Quatro Estações de Vivaldi, a Sinfonia Pastoral de Beethoven , a Abertura 1812 de Tchaikovski, Quadros de uma Exposição de Mussorgski e tantas outras, mas nenhuma delas liga-se tão completa e perfeitamente ao fato descrito do que a décima primeira sinfonia de Shostakovich.

Alguns compositores que assumiram o papel de criadores de “coisas belas”, vêem sua tarefa como a produção de obras tão agradáveis quanto o possível. Camille Saint-Saëns dizia que o artista “que não se sente feliz com a elegância, com um perfeito equilíbrio de cores ou com uma bela sucessão de harmonias não entende a arte”. Outra atitude é tomada por Shostakovich, que encara vida e arte como se fosse uma coisa só, que vê a criação artística como um ato muito mais amplo e que inclui a possibilidade do artista expressar – ou procurar expressar – a verdade tal como ele a vê. Esta abordagem foi adotada por muitos escritores, pintores e músicos russos do século XIX e, para Shostakovich, a postura realista de seu ídolo Mussorgsky foi decisiva. A décima primeira sinfonia de Shostakovich tem feições inteiramente mussorgkianas e foi estreada em 1957, ano do quadragésimo aniversário da Revolução de Outubro. Contudo, ela se refere a eventos ocorridos antes, no dia 9 de janeiro de 1905, um domingo, quando tropas czaristas massacraram um grupo de trabalhadores que viera fazer um protesto pacífico e desarmado em frente ao Palácio de Inverno do Czar, em São Petersburgo. O protesto, feito após a missa e com a presença de muitas crianças, tinha a intenção de entregar uma petição – sim um papel – ao czar, exatamente esta aqui, solicitando coisas como redução do horário de trabalho para oito horas diárias, assistência médica, melhor tratamento, liberdade de religião, etc. A resposta foi dada pela artilharia, que matou mais de cem trabalhadores e feriu outros trezentos.

O primeiro movimento descreve a caminhada dos trabalhadores até o Palácio de Inverno e a atmosfera soturna da praça em frente, coberta de neve. O tema dos trabalhadores aparecerá nos movimentos seguintes, porém, aqui, a música sugere uma calma opressiva.

O segundo movimento mostra a multidão abordar o Palácio para entregar a petição ao czar, mas este encontra-se ausente e as tropas começam a atirar. Shostakovich tira o que pode da orquestra num dos mais barulhentos movimentos sinfônicos que conheço.

O terceiro movimento, de caráter fúnebre, é baseado na belíssima marcha de origem polonesa Vocês caíram como mártires (Vy zhertvoyu pali) que foi cantada por Lênin e seus companheiros no exílio, quando souberam do acontecido em 9 de janeiro.

O final – utilizando um bordão da época – é a promessa da vitória final do socialismo e um aviso de que aquilo não ficaria sem punição.

Dmitri Shostakovich – Sinfonia Nº 11, Op. 103 – O Ano de 1905 (1957)

Concertgebouw Orchestra.
Bernard Haitink, regência.

1. The Palace Square (Adagio)
2. 9 January (Allegro)
3. In Memoriam (Adagio)
4. Alarme (Allegro non troppo).

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Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Concerto para Piano, Trompete e Cordas, Op. 35 (1933)

Shostakovich foi excelente pianista. Poderia ter feito carreira como virtuose, mas, para nossa sorte, escolheu compor. Foi o vencedor do internacional Concurso Chopin de 1927 e fazia apresentações regulares executando seus trabalhos. O pequeno número de gravações do próprio compositor como pianista talvez deva-se ao fato de ele ter perdido parcialmente os movimentos de sua mão direita ao final dos anos sessenta.

Este concerto é realmente espetacular. Era uma boa época para os concertos para piano. O de Ravel aparecera um ano antes, assim como o 5º de Prokofiev. É coincidente que os três sejam alegres, luminosos, divertidos mesmo. Com quatro movimentos, sendo o primeiro muito melodioso e gentil, os dois centrais lentos e o último capaz de provocar gargalhadas, é um grande concerto. A participação de um trompetista meio espalhafatoso é fundamental, assim como de um pianista que possa fazer rapidamente a conversão entre a música de cabaré e a música militar exigidas no último movimento. Uma vez, assistindo a uma apresentação, vi como as pessoas sorriam durante a audição deste movimento. Não há pontos baixos neste maravilhoso concerto, que ainda traz, em seu segundo movimento, um lindíssimo solo para trompete, além de uma cadenza esplêndida, de ecos beethovenianos.

Shostakovich foi o pianista de sua estréia, em 1933, na cidade de Leningrado.

Piano Concerto No. 1 in C minor, Op. 35
Performed by:New Zealand Symphony Orchestra
Conducted by:Christopher Lyndon-Gee
Michael Houstoun, piano

I. Allegretto – Allegro Vivace – Moderato – 06:31
II. Lento – 08:31
III. Moderato 01:42
IV. Allegro con brio 06:54

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