Esta coletânea de obras medievais estudas e conduzidas pelo maestro Leopoldo Gamberini (1922-2012) e executadas pela magnífica “I Madrigalisti di Genova” nesta gravação de 1988 que ora compartilho com os amigos do blog foi o meu primeiro CD lá nos idos de 1989, meninão, deslumbrado com a sonoridade da nova tecnologia, resolvi comprar um CD mesmo sem ter onde reproduzir; obra de estréia: “Carmina Burana”. Fui à caça, e na Casa Bevilaqua no centro de São Paulo a encontrei, paguei muito caro e esperei uns 2 meses até poder ouvir. Quando coloquei no toca-CD esperando o fortíssimo do coro inicial ….putz… não era o Carl Orff, era música medieval…. passado o desapontamento achei a gravação “interessante”, hoje acho histórica, muito boa mesmo. Vou tentar fazer um resumo do encarte: os estudiosos aceitam como a primeira escrita do chamado “Carmina Burana” a dois bispos da Stíria (estado da Áustria centro oriental), o bispo Karl com manuscritos que datam de 1218-1231 e o bispo Heinrich e seus manuscritos de 1232-1243. O nome para o conjunto de cantos medievais foi nominado “Carmina Burana” e foi dada pelo bibliotecário G.A. Smeller na primeira edição, depois do primeiro manuscrito ter vindo do convento de Benediktbeuren, em 1803 para a biblioteca Central da Baviera. Os manuscritos continham inúmeros poemas vindos de diversas partes da Europa, estavam escritos em latim, alemão e francês dos séculos XI a XIII. São conhecidos como “Cantos dos estudantes” porque eram cantados pelos jovens da época.
Eram músicas feitas na sua maioria por jovens que haviam deixado os estudos religiosos. Assim a influência dos cantos gregorianos é marcante, os poemas foram adaptados e foram incluídas palavras profanas. Esse fenômeno aconteceu na música do IX ao XIII século. Nos cantos de “Carmina Burana” há um espírito popular, irreverente. Assim, as interpretações destas canções “gregorianas” em textos profanos torna-se um grande desafio. Um verso pode ser feito devagar ou pianíssimo, enquanto o outro rápido forte e vice-versa, a intensidade expressiva resultante da tradição eclesiástica. Mais uma vez vemos como eram transmitidas oralmente as melodias originais de país em país, de região para região, de século em século. Para exemplo o canto “Alte Clamat Epiricus (faixa 5) é uma paródia em um primitivo alemão do canto dos cruzados de “Walter der Vogelweide (1170-1230). Além disso, é de ressaltar que a interpretação deve sugerir uma dicção e uma ação cênica. Então você ouve nessas músicas uma ênfase espetacular, altamente recitativa. Muitas das canções da “Carrnina Burana” são escritas no campo aberto (sem pentagrama).
Neste CD é apresentado o texto original, mas o Maestro L. Gamberini tentou reconstruir a melodia com muita pesquisa a fidelidade das interpretações como teriam sido no original, na verdade muitas soluções são possíveis numa escrita sem pentagrama e tudo é válido. Algumas canções deste CD são canções de gananciosos, de pessoas que buscam prazer, encontramos nas músicas: “In Taberna” (faixa 1), “Bacche bene venies” (faixa 3), “Alte clamat Epicums “, a força expressiva com a troca de palavras de religioso para profano, é um fenômeno cultural único, típico de toda a Idade Média do IX ao século XIII. É conhecido como “contra factum”. Os instrumentos foram muito além, muitos originários do Oriente Médio como alaúde, saltério, pífano, tímpano. Temos neste trabalho do Leopoldo Gamberini uma liberdade interpretativa, estes cantos adquirem, com base na canção religiosa e com palavras profanas, uma força criativa surpreendente. O encarte está junto com as faixas.
Bom divertimento !
CARMINA BURANA – I Madrigalisti di Genova (1988)
1-IN TABERNA QUANDO SUMUS
2-VITE PERDITE
3-BACCHE BENE VENIES
4-PROCURANS ODIUM (instrumental)
5-ALTE CLAMAT EPIRICUS
6-MICHI CONFER VINDITOR
7-NOMEN A SOLLEMPNIBUS
8-CRUCIFIGAT OMNES
9-SIC MEA FATA CANENDO
10-TEMPUS TRANSIT GELIDUM
11-LICET EGER
12-FAS ET NEFAS AMBULANT
I Madrigalisti di Genova (1988)
Direção: Leopoldo Gamberini