Excelente disco! Mutter partiu para interpretações muito livres de Beethoven. Mullova ataca o repertório mais óbvio do gênio de Bonn acompanhada do piano forte. Eu gosto, sabem? Não seria a gravação que levaria para a ilha deserta, talvez levasse a de Mutter, só que é Mullova é aquela menina moscovita — na verdade de Zhukovsky, ali pertinho –, alta, magra e de sangue quente, que sempre tem algo de diferente (rimou!) a nos dizer. Como diz minha mulher, que é violinista: ela nasceu genial e foi aluna de Leonid Kogan, ou seja, não é alguém comum. Aproveitem, então. Viram ela na cena final de Juventude, de Paolo Sorrentino? Ah, pois é, tô dizendo.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Violin Sonatas Nº 3 & 9
Violin Sonata no.3 in E flat op.12 No.3 1) I Allegro con spirito [8.20]
2) II Adagio con molt’espressione [5.26]
3) III Rondo: Allegro molto [4.10]
Violin Sonata No.9 in A op.47 “Kreutzer” 4) I Adagio sostenuto – Presto – Adagio [13.44]
5) II Andante con variazioni [14.13]
6) III Presto [8.28]
VIKTORIA MULLOVA violin
KRISTIAN BEZUIDENHOUT fortepiano
O Japão costuma idolatrar os virtuosos do piano, porém se um pianista ou músico cancela um concerto no último momento, as consequências são implacáveis. Certa vez, o famoso Arturo Benedetti Michelangeli recusou-se a tocar por algum motivo. Em resposta, confiscaram seu piano pessoal e o mundo musical nipônico declarou-o persona non grata pelo resto da vida. Martha Argerich, hoje com 75 anos, décadas atrás também suspendeu um concerto em Tóquio, o último de sua primeira turnê do Japão, que estava sendo apoteótica. O imperador estaria presente, mas Martha brigara com seu namorado da época, o regente Charles Dutoit, e pegou um avião para o Alaska sem avisar ninguém. Jamais seria perdoada, só que… No ano seguinte, voltou ao Japão pagando sua passagem e deu 14 concertos sem receber nada. O mesmo organizador que tinha sido lesado por ela recebeu a renda de todos os 14 concertos, só que… Ela fez com que um pianista angolano — um dos muitos jovens que Martha auxiliou — sentasse a seu lado para virar as páginas da partitura. O angolano usava uma túnica sem mangas e a exposição da pele masculina no Japão é considerada quase tão obscena como o cancelamento de um concerto, mas ninguém disse nada porque Martha Argerich é algo sobre-humano para os japoneses.
Martha Argerich já tocou com lombalgia, com infecção dentária, em cadeira de rodas, de minissaia (pois perderam sua mala no aeroporto), com grama no cabelo (fizeram-na tocar numa floresta), mas só os concertos que ela suspendeu ficaram famosos. Declara que o que a sufoca desde os oito anos de idade são algumas das características da vida no mundo da música clássica: “Eu não quero ser uma máquina de tocar piano. Vivo sozinha, toco sozinha, ensaio sozinha, como sozinha, durmo sozinha. É muito pouco para mim”. Daniel Barenboim, que a adora, disse: “Martha fez todo o possível para destruir sua carreira, mas não conseguiu”. O primeiro concerto foi cancelado aos dezessete anos, “só para saber como eu me sentiria.” Aos vinte anos, com uma carreira brilhante pela frente, ela passou três anos sem se aproximar de um piano, assistindo TV em um pequeno apartamento em Nova York. Quando o dinheiro acabava, trabalhava como secretária. Afinal, para algo devia servir ter os dedos tão rápidos. A poucas quadras dali, vivia Vladimir Horowitz. Ela tinha a intenção de ir falar com ele para dizer: “Ajude-me a voltar a tocar piano”. Nunca se atreveu a uma visita. Melhor, pois Horowitz estava há dez anos sem tocar em público, submetia-se a sessões regulares de eletrochoque e só aceitava gravar discos em sua própria casa. Mas Argerich, como sabemos, voltou a tocar. Após sua consagração no Concurso Chopin em Varsóvia, em 1965, ela foi ao estúdio de Abbey Road gravar um álbum, porque todos os seus amigos estavam em Londres. Deixaram-na sozinha com um piano no estúdio. Ela pediu uma jarra de café, olhou hesitante para o teclado e executou três vezes o repertório que tinha escolhido. Abandonou a jarra de café vazia e nem ouviu o que tinha gravado. E passou a morar em uma espécie de pensão musical chamada Clube de Londres.
Quem morava lá? Barenboim, Jacqueline Du Pré, Nelson Freire, Fou-Tsong, Kovacevic, todos com apenas um único telefone na entrada do prédio cheio de vazamentos, pianos, sofás comidos pelas traças e cinzeiros. Todos em total liberdade e camaradagem. Havia gente que estava na casa para tocar algum instrumento e os que estavam lá para ouvir e conviver. Para quase todos, aquela comunidade era uma espécie de interlúdio feliz, mas ela entendeu que queria viver assim para sempre. Alugou um orfanato do século XIX, em Genebra — cuja porta não tem chave — povoou-a de pianos, gatos e sofás e recebeu todos os jovens pianistas em crise que a procuraram. Ela os adotava até a recuperação. O(a) adotado(a) tocava piano, participava de jogos de adivinhação, dançava e cozinhava para as filhas de Martha quando ela saía em turnê. Ela tem três filhas de três homens diferentes, apesar de a vida em comunidade lhe dar um ar respeitoso de mulher casada.
Há um belo documentário filmado por sua filha mais nova. É a história íntima da mãe e das filhas. Em uma cena, todas estão sentadas na grama pintando as unhas dos pés. As filhas decidem pintar cada dedo da mãe de uma cor diferente. A agitada Annie, segunda filha (do citado Dutoit), diz que sua lembrança mais viva da infância é a de ficar deitada debaixo do piano, olhando os pés descalços de sua mãe até dormir. “Isto é minha mãe, mais do que seus cabelos, cigarros e gestos: onde já se viram pés tão grandes e tão femininos ao mesmo tempo?”. Stephanie, a mais jovem — diretora do documentário e filha do referido Stephen Bishop Kovacevich –, conta sobre a primeira vez que acompanhou sua mãe num concerto e sobre sua imensa provação: “Tudo era muito solene, muito dramático, eu não gostei, me senti estranha”. Ouviu todo o concerto angustiada nos bastidores até que sua mãe voltou: “Eu estava exausta e ela dez anos mais jovem.” Lyda, a mais velha e a única que já é mãe — é também violoncelista profissional –, fala de quando a mãe foi operada de um feio melanoma em 1999. Depois de três horas e meia na sala de cirurgia, ela estava feliz e radiante em contraste com o esgotamento dos cirurgiões. Eles se recusaram a fazer uma cirurgia convencional para abrir a caixa torácica de Martha, pois “uma pianista precisa de todos os músculos do seu corpo para tocar”.
Até hoje Martha Argerich avisa seus companheiros de palco para não lhe beijarem a mão ou tocarem seu cabelo. Ela não gosta. Já não vive em Genebra, mas em Bruxelas, numa casa também está cheia de pessoas, gatos e pianos. Como Tchékhov, que construiu uma casa para sua família e amigos e um quarto afastado para escrever, ela tem um pequeno apartamento em Paris onde apenas cabem um piano, uma cama, uma televisão e uma imagem de Liszt presa com fita adesiva na parede. Seu próximo projeto é uma pensão para artistas aposentados, como a que fundou Verdi em Milão para cantores que ficaram sem voz. De todas as suas formidáveis frases — “Quando os pianos não me querem, não os toco de jeito nenhum”, “Eu acho que eu nunca me senti exatamente mulher, só consigo me ver como a menina de cinco anos e o menino de quatorze que me habitam”, “Chopin é ciumento, exclusivo, faz com que você toque mal qualquer outro compositor”, “Como me saí hoje? Como um cavalo selvagem ou como um carrossel de cavalinhos?” — a minha favorita é “Sou um pouco infantil. Se fosse inteiramente infantil não diria”.
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Milton Ribeiro escreve:
(1) Há uns dez anos, fui pedir um autógrafo a Martha Argerich após um concerto. Como já tenho certa experiência, não levei um CD, mas um disco de vinil para que a assinatura saísse maior. A foto da capa era bonita pacas. Ela pegou o disco com a mão direita e tapou a boca com a esquerda, fazendo cara de admiração. Olhou para mim e disse:
— Como eu era bonita! Agora sou tão feia, tão horrível, uma bruxa velha.
Comecei a responder que não era nada disso e ela fez um gesto mandando eu me calar:
— Não minta, por favor.
(2) Em janeiro deste ano, vi Martha Argerich tocar o Concerto Nº 3 de Prokofiev no Southbank Center, em Londres, com a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo sob a regência de seu velho amigo Yuri Temirkanov. Foi um arraso. Não é somente uma das músicas que mais amo como é uma espécie de “Concerto de Martha”. Ninguém toca aquilo como ela, com aquela miraculosa exatidão e sensibilidade. Após a introdução, quando ela começou a tocar… Olha, não lembro de outra oportunidade em que eu chorei num concerto. Não houve escândalo, ninguém viu, mas aconteceu.
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Brahms / Lutoslawski / Prokofiev / Rachmaninov / Tchaikovsky: Music for Two Pianos
Piotr Tchaikovsky (1840-1893) · The Nutcracker – Suite
1. I. Ouverture miniature:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu)
2. Marche:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
3. Danse de la Fée Dragée:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
4. Danse russe Trepak:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
5. Danse Arabe:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
6. Danse Chinoise:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
7. Danse Mirlitons:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu), II. Danses caractérisque
8. III. Danse des Fleurs:- The Nutcracker, Suite from the Ballet (transcribed for two pianos by Nicolas Economu)
Sergei Rachmaninov (1873-1943) · Suite No.2 for two pianos
9. I. Introduction (Alla marcia):- Suite No. 2 in C Op. 17
10. II. Valse (Presto):- Suite No. 2 in C Op. 17
11. III. Romance (Andantino):- Suite No. 2 in C Op. 17
12. IV. Tarentelle (Presto):- Suite No. 2 in C Op. 17
Disc: 2 Johannes Brahms (1833-1897) · Sonata in F minor for two pianos, Op. 34b
1. Allegro non troppo:- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
2. Andante, un poco adagio:- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
3. Scherzo (Allegro):- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
4. Finale (Poco sostenuto – Allegro non troppo – Presto non troppo):- Sonata in F minor for 2 pianos Op.34b
Johannes Brahms (1833-1897) · St Antoni Variations
5. Theme – ‘St Anthony Choral’. Andante:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
6. Variation I. Andante con moto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
7. Variation II. Vivace:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
8. Variation III. Con moto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
9. Variation IV. Andante:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
10. Variation V. Poco presto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
11. Variation VI. Vivace:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
12. Variation VII. Grazioso:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
13. Variation VIII. Poco presto:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
14. Finale. Andante:- Variations on a theme by Haydn for 2 Pianos Op.56b
Sergei Prokofiev (1891-1953) . Symphony No.1 in D Major, Op.25 “Classical” (for two pianos):
15 I. Allegro 4:11
16 II. Larghetto 3:55
17 III. Gavotte. Non troppo Allegro 1:31
18 Finale. Molto vivace 4:20
Witold Lutosławski (1913-1994)
19 Variations on a Theme by Paganini for two pianos 5:34
Os Trios para Piano do compositor belga naturalizado francês César Franck são romantismo e ciclamato direto na veia. Franck foi professor, grande organista e teórico. O reconhecimento de seu talento foi póstumo, talvez pelo fato de não ter sido muito ligado às óperas numa França que impunha esse estilo e que ainda era resistente às sinfonias e à música de câmara. Ele teve tanto azar que morreu após um acidente de carro. Em 1890! Francamente.
As Bekova Sisters são refinadas e tocam com charme e romantismo essas boas e meio negligenciadas peças do repertório. A pianista Eleonora é esplêndida. O Trio Nº 4 é um fenômeno. Eu curti.
(Não temos o Vol. 1 desta coleção. Compramos o CD num ).
César Franck (1822-1890): Piano Trios
1 Trio concertant No. 2 in B-Flat Major, Op. 1, No. 2, “Trio de salon”: I. Allegro moderato 8:50
2 Trio concertant No. 2 in B-Flat Major, Op. 1, No. 2, “Trio de salon”: II. Andantino 5:36
3 Trio concertant No. 2 in B-Flat Major, Op. 1, No. 2, “Trio de salon”: III. Minuetto 4:05
4 Trio concertant No. 2 in B-Flat Major, Op. 1, No. 2, “Trio de salon”: IV. Final: Allegro molto 5:41
5 Piano Trio No. 4 in B Minor, Op. 2 19:05
6 Trio concertant No. 3 in B Minor, Op. 1, No. 3: I. Allegro 8:30
7 Trio concertant No. 3 in B Minor, Op. 1, No. 3: II. Adagio – Quasi allegretto – Meno vivo 10:41
8 Trio concertant No. 3 in B Minor, Op. 1, No. 3: III. Poco lento – Moderato ma molto energico – Il doppio piu lento 9:45
Às vezes ele é um Egberto Gismonti soltando vocalizes de vogais puras ao piano, em outras parece um Jarrett (mas fazendo ritmos com a boca), depois um elegante Chick Corea ou quem sabe um Satie enlouquecido? Mas, bem, a música sempre tem certo sabor oriental. Com tantos cruzamentos, é melhor dizer que tudo isso é Tigran Hamasyan, um pianista armênio de jazz. Ele toca composições originais que são fortemente influenciadas pelo que adiantei e ainda pela tradição popular armênia. Suas improvisações contêm harmonias e ornamentações estranhas, certamente baseados em tradições do Oriente Médio e do sul da Ásia Ocidental. Vale a pena ouvir e acompanhar a carreira. Este An Ancient Observer é muito bom disco. Desde a primeira faixa, entramos num mundo em que a palavra “ancient” é responsável por séculos de história, e as melodias vão e vem como lembranças de um sonho. Os vocais não somente adicionam riqueza de timbres, mas também cerca o ouvinte com uma presença espiritual.
Tigran Hamasyan (1987): An Ancient Observer
1 Markos and Markos 5:38
2 The Cave of Rebirth 5:39
3 New Baroque 1 1:50
4 Nairian Odyssey 11:00
5 New Baroque 2 1:36
6 Etude No. 1 2:08
7 Egyptian Poet 2:20
8 Fides Tua 4:51
9 Leninagone 3:56
10 Ancient Observer 5:57
São as Seis Trio Sonatas para órgão arranjadas para trios de diferentes formações — oboé, violino e contínuo, dois violinos, etc. O trabalho é de Robert King, regente e dono do King`s Consort. Já tinha ouvido trabalho semelhante realizado pelo oboísta Heinz Holliger e grupo, mas a versão de King me parece melhor, mais próxima de Bach e, fundamentalmente, mais colorida. Acho que está na hora dos organistas de “reapropriarem” de uma dos maiores ciclos de obras escritos para o instrumento. Aguardamos novas gravações deles!
J. S. Bach (1685-1750): As Seis Trio Sonatas
Trio Sonata in D minor, BWV527 arr. Robert King (b1960)
1 Movement 1: Andante [4’50]
2 Movement 2: Adagio e dolce [5’30]
3 Movement 3: Vivace [3’38]
Trio Sonata in G major, BWV530 arr. Robert King (b1960)
4 Movement 1: Vivace [3’34]
5 Movement 2: Lento [4’39]
6 Movement 3: Allegro [3’19]
Trio Sonata in E minor, BWV528 arr. Robert King (b1960)
7 Movement 1: Adagio – Vivace [2’54]
8 Movement 2: Andante [5’18]
9 Movement 3: Poco allegro [2’41]
Trio Sonata in C minor, BWV526 arr. Robert King (b1960)
10 Movement 1: Vivace [3’22]
11 Movement 2: Largo [3’01]
12 Movement 3: Allegro [3’25]
Trio Sonata in C major, BWV529 arr. Robert King (b1960)
13 Movement 1: Allegro [4’16]
14 Movement 2: Largo [5’32]
15 Movement 3: Allegro [3’08]
Trio Sonata in E flat major, BWV525 arr. Robert King (b1960)
16 Movement 1: [Allegro moderato] [2’29]
17 Movement 2: Adagio [4’59]
18 Movement 3: Allegro [3’23]
Brahms levou relativamente um longo tempo para compor suas obras orquestrais: apenas na sua fase madura é que o gênero foi explorado em peças de fôlego. Sua primeira obra-prima sinfônica foi o Concerto para Piano Nº 1, que tem um caráter quase de sinfonia. As duas Serenatas, op. 11 e 16, são bem mais leves, mas são igualmente grandes trabalhos. Foram as Variações sobre um Tema de Haydn em sua versão orquestral que impulsionaram Brahms no gênero e abriram terreno para sua Primeira Sinfonia. Solene e dramática, esta sinfonia tem alguma afinidade com similares de Beethoven, principalmente com a Terceira e Quinta. Já a Segunda Sinfonia é mais mozartiana e pastoral — chega a lembrar a Sexta de Beethoven — com sua orquestração leve e brilhante. A Terceira, com dois movimentos lentos, um célebre terceiro movimento e um finale sombrio, que retoma as ideias do início, é a mais pessoal e enigmática. A Quarta Sinfonia é a mais conhecida delas juntamente com a Primeira. É merecido. Sua orquestração compacta e a monumental chacona do finale nos fazem lembrar papai Bach. Andris Nelsons vai bem, muito bem. Como sempre, aliás.
Johannes Brahms (1833-1896): As Sinfonias Completas
CD 01
01. Symphony No. 1 in C Minor, Op. 68_ I. Un poco sostenuto-Allegro
02. Symphony No. 1 in C Minor, Op. 68_ II. Andante sostenuto
03. Symphony No. 1 in C Minor, Op. 68_ III. Un poco allegretto e grazioso
04. Symphony No. 1 in C Minor, Op. 68_ IV. Adagio-Più Andante-Allegro non troppo ma con brio-Più Allegro
CD 02
01. Symphony No. 2 in D Major, Op. 73_ I. Allegro non troppo
02. Symphony No. 2 in D Major, Op. 73_ II. Adagio non troppo
03. Symphony No. 2 in D Major, Op. 73_ III. Allegretto grazioso (quasi andantino)
04. Symphony No. 2 in D Major, Op. 73_ IV. Allegro con spirito
05. Symphony No. 3 in F Major, Op. 90_ I. Allegro con brio
06. Symphony No. 3 in F Major, Op. 90_ II. Andante
07. Symphony No. 3 in F Major, Op. 90_ III. Poco Allegretto
08. Symphony No. 3 in F Major, Op. 90_ IV. Allegro-Un poco sostenuto
CD 03
01. Symphony No. 4 in E Minor, Op. 98_ I. Allegro non troppo
02. Symphony No. 4 in E Minor, Op. 98_ II. Andante moderato
03. Symphony No. 4 in E Minor, Op. 98_ III. Allegro giocoso
04. Symphony No. 4 in E Minor, Op. 98_ IV. Allegro energico e passionato
Este é um EXTRAORDINÁRIO CD. Il Primo Omicidio é uma obra-prima de Alessandro Scarlatti e recebe aqui o melhor tratamento possível de René Jacobs e da Akademie für alte Musik Berlin. Escrito antes do Messias e das Paixões de Bach, este oratório é o protótipo, o modelo do oratório barroco. E QUE MODELO! A música contém profundidade genuína de emoção, fazendo total justiça à invenção de Scarlatti. O já veterano e competentíssimo maestro René Jacobs revela compreensão admirável da partitura. Também é um prazer ouvi-lo cantar o papel de deus. Sua voz de contratenor ainda mantém as qualidades de beleza que o fez o paradigma dos contratenores na década de 1970. O restante do elenco é também impecável. Dorothea Roschmann, Bernarda Fink e Graciela Oddone são todas notáveis, sempre trazendo da melhor maneira as belíssimas árias de papai Alessandro. Como Adão, o tenor Richard Croft cumpre admiravelmente seu papel representando outra família extremamente musical (seu irmão é grande barítono Richard Croft). Antonio Abete, como a voz de Lúcifer, é um excelente baixo: escuro, emotivo, poderosos e nada esquecível. Esta gravação vai deixar MALUCOS DE FELICIDADE os amantes de música barroca.
Alessandro Scarlatti – Il Primo Omicidio (2cd)
CD 1
1. Introduzzione All’oratorio : Spiritoso
2. Introduzzione All’oratorio : Adagio
3. Introduzzione All’oratorio : Allegro
4. Parte Prima : Recitativo “Figli Miseri Figli”
5. Parte Prima : Aria “Mi Balena Ancor Sul Ciglio”
6. Parte Prima : Recitativo “Di Serpe Ingannator Perfida Frode”
7. Parte Prima : Aria “Caro Sposo, Prole Amata”
8. Parte Prima : Recitativo “Genitori Adorati”
9. Parte Prima : Aria “Dalla Mandra Un Puro Agnello”
10. Parte Prima : Recitativo “Padre Questa D’abel Forz’e Che Sia”
11. Parte Prima : Aria “Della Terra I Frutti Primi”
12. Parte Prima : Recitativo “Figli Cessin Le Gare”
13. Parte Prima : Aria “Piu Dei Doni Il Cor Devoto”
14. Parte Prima : Recitativo “Disposto O Figli E Il Sacrificio”
15. Parte Prima : Aria “Sommo Dio Nel Mio Peccato”
16. Parte Prima : Recitativo “Miei Genitori, Oh Come Dritta Ascende”
17. Parte Prima : Duetto “Dio Pietoso Ogni Mio Armento”
18. Parte Prima : Recitativo “Figli Balena Il Ciel D’alto Splendore”
19. Parte Prima : Sinfonia
20. Parte Prima : Recitativo “Prima Imagine Mia, Prima Fattura”
21. Parte Prima : Aria “L’olocausto Del Tu Abelle”
22. Parte Prima : Recitativo “Ne’ Tuoi Figli, E Nipoti”
23. Parte Prima : Recitativo “Udiste, Udiste, O Figli”
24. Parte Prima : Aria “Aderite”
25. Parte Prima : Sinfonia
26. Parte Prima : Recitativo “Cain, Che Fai, Che Pensi?”
27. Parte Prima : Aria “Poche Lagrime Dolenti”
28. Parte Mrima : Recitativo “D’ucciderlo Risolvo, Il Core Affretta”
29. Parte Prima : Aria “Mascheratevi O Miei Sdegni”
30. Parte Mrima : Rcitativo “Ecco Il Fratello, Anzi Il Nemico”
31. Parte Prima : Duetto “La Fraterna Amica Pace”
32. Parte Prima : Recitativo “Sempre L’amor Fraterno E Un Ben Sincero”
CD 2
1. Parte Seconda : Recitativo “Ferniam Qui Abelle Il Paso”
2. Parte Seconda : Aria “Perche Mormora Il Ruscello”
3. Parte Seconda : Aria “Ti Risponde Il Ruscelletto”
4. Parte Seconda : Recitativo “Or Se Braman Posar La Fronda, E’l Rio”
5. Parte Seconda : Recitativo “Piu Non So Trattenr L’impeto Interno”
6. Parte Seconda : Andante E Staccato
7. Parte Seconda : Recitativo “Cain Dov’e Il Fratello? Abel Dov’e?”
8. Parte Seconda : Recitativo “Or Di Strage Fraterna Il Suolo Asperso”
9. Parte Seconda : Aria “Come Mostro Spaventevole”
10. Parte Seconda : Recitativo “Signor Se Mi Dai Bando”
11. Parte Seconda : Aria “O Preservami Per Mia Pena”
12. Parte Seconda : Recitativo “Vattene Non Temer, Tu Non Morrai”
13. Parte Seconda : Aria “Vuo Il Castigo, Non Voglio La Morte”
14. Parte Seconda : Recitativo “O Ch’io Mora Vivendo”
15. Parte Seconda : Aria “Bramo Insieme, E Morte, E Vita”
16. Parte Seconda : Grave, E Orrido Rcitativo “Codardo Nell’ardire, E Nel Timore”
17. Parte Seconda : Aria “Nel Poter Il Nume Imita”
18. Parte Seconda : Recitativo “Oh Consigli D’inferno, Onde Soggiace”
19. Parte Seconda : Aria “Miei Genitori, Adio”
20. Parte Seconda : Aria “Mio Sposo Al Cor Mi Sento”
21. Parte Seconda : Aria “Miei Genitori Amati”
22. Parte Seconda : Aria “Non Piangete Il Figlio Ucciso”
23. Parte Seconda : Recitativo “Ferma Del Figlio Mio Voce Gradita”
24. Parte Seconda : Aria “Madre Tenera, Et Amante”
25. Parte Seconda : Recitativo “Sin Che Spoglia Mortale”
26. Parte Seconda : Aria “Padre Misero, E Dolente”
27. Parte Seconda : Recitativo “Spirto Del Figlio Mio, Questi Son Sensi”
28. Parte Seconda : Aria “Piango La Prole Essangue”
29. Parte Seconda : Recitativo “Adam Prole Tu Chiedi, E Prole Avrai”
30. Parte Seconda : Aria “L’innocenza Paccando Perdeste”
31. Parte Seconda : Recitativo “Udii Signor Della Divina Idea”
32. Parte Seconda : Duetto “Contenti”
Bernarda Fink: alto
Graciela Oddone: soprano
Dorothea Röschmann: soprano
Richard Croft: tenor
René Jacobs: countertenor
Antonio Abete: bass
René Jacobs (cond.)
Akademie für alte Musik Berlin
Recording:
September 1997, Christuskirche, Berlin-Oberschöneweide
Mais um grande disco de música da segunda metade do século XX. Aqui, Schnittke está acompanhado de Lutoslawski e Ligeti, mas permanece como a estrela deste CD da Deutsche Grammophon que faz parte da coleção Classikon, destinada aos clássicos modernos. E, com efeito, são gravações que já tinham aparecido em discos anteriores da DG. Apesar do disco abrir e fechar com Lutoslawski, penso que ele sirva de parênteses para as criações de Ligeti e Schnittke, a meu ver superiores. Vale muito a audição!
Schnittke (1934-1998) / Lutoslawski (1913-1994) & Ligeti (1923-2006): Obras para Orquestra de Câmara
Witold Lutoslawski (1913-1994)
Chain 3 (1986)
for Orchestra
Excelente CD. A música de Monteverdi com episódios e elementos jazzísticos aqui e ali. Roberta Mameli é excelente cantora e não canta Monteverdi por acaso: é uma especialista no compositor. Na maioria das faixas, ela mantém a linha original da partitura acompanhada de instrumentos barrocos da maneira tradicional, enquanto os solistas de jazz — saxofone, trompete, bateria (escovas) ou violoncelo — pegam linhas melódicas, fornecem acompanhamento harmônico ou dão um fundo rítmico, transformando as peças antigas em uma mistura de barroco e jazz. Em algumas peças, até mesmo o cravo se aventura em harmonias jazzísticas. As faixas são bem executadas e gravadas. Pode-se demorar um pouco para se acostumar com essa mistura eclética de estilos musicais, mas eu já estava adaptado desde a primeira faixa. Grande Roberta Mameli, que aparece despida de preconceitos e disposta a explorações de um repertório que é tudo, menos morto.
‘Round M: Monteverdi Meets Jazz
1 Madrigals, Book 8 (Madrigali, libro ottavo), “Madrigali guerrieri, et amorosi”: Lamento della ninfa, SV 163 (arr. for jazz ensemble) 7:50
2 Ohime ch’io cado, ohime (arr. A. Lo Gatto) 5:17
3 Cantade: Usurpator tiranno (arr. for jazz ensemble) 9:03
4 Curtio precipitato et altri capricii, Book 2, Op. 13: Canzonetta, “Spirituale sopra la nanna” (arr. for jazz ensemble) 9:42
5 Bizzarrie poetiche poste in musica, Book 3, Op. 4: Pianto di Erinna (arr. for jazz ensemble) 8:08
6 Madrigals, Book 7 (Concerto: settimo libro de madrigali): Ohime, dov’e il mio ben, dov’e il mio core?, SV 140 (arr. for jazz ensemble) 5:54
7 Si dolce e’l tormento (arr. for jazz ensemble) 6:53
8 Trasfigurazione della ninfa 8:20
Nikolaus Harnoncourt foi uma das pessoas que mais me ensinou a respeito de música. Seus livros são extraordinários — infelizmente, acho que agora só podem ser encontrados em sebos. Foi um grande mestre. Certamente, é por isso que este é um CD duplo. O segundo é um exclusivamente um ótimo registro de parte dos ensaios onde Harnoncourt explica o que deseja aos músicos. É todo em alemão para os músicos de Viena, claro. Mas dá para entender alguma coisa e é um prazer ouvir as pequenas desconstruções feitas por Nik sobre esta obra tão conhecida (e amada) por mim. Não obstante, não curti o “adágio rápido” proposto nesta execução. É óbvio que estou errado, mas, para minha sensibilidade, não bateu. O resto é sensacional.
Então, no primeiro CD há a Sinfonia Nº 5 completa e, no segundo, trechos dos ensaios.
Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 5
1 Symphony No. 5 in B-Flat Major: Symphony No. 5 in B-Flat Major: I. Introduction. Adagio 20:34
2 Symphony No. 5 in B-Flat Major: Symphony No. 5 in B-Flat Major: II. Adagio. Sehr langsam 14:57
3 Symphony No. 5 in B-Flat Major: Symphony No. 5 in B-Flat Major: III. Scherzo. Molto vivace 13:35
4 Symphony No. 5 in B-Flat Major: IV. Finale. Adagio 23:59
5 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 1. Satz, T. 1-22 “Vor den Sechzehnteln bitte wegfedern!” 2:46
6 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 1. Satz, T. 161-224 “Die Synkopen so, als würden wir mit Ellenbogen gegen dieses Legato gehen.” 4:37
7 Bruckner V Probe: 1. Satz, T. 315-319, 325-327, 381-398 “Kann ich einmal nur diesen kleinen, ganz schnellen Holz-Kanon haben” 1:57
8 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 2. Satz, T. 31-38, 107-124 “Gehen wir bitte gleich zum zweiten Satz, und zwar wo er eigentlich anfängt, Takt 31” 4:11
9 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 2. Satz, T. 163-196, 203-211 “Von 169 bis 170, diese Harmoniefolge, die kommt aus dem Mozart Requiem: ‘Qua resurget ex favilla homo reus’.” 8:57
10 Bruckner V Probe: 2. Satz, T. 1-18, 39-70 “So, jetzt gehen wir zu dem Anfang von dem Satz” 3:24
11 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 2. Satz, T. 71-84, 101-144, 195-202 “Geben Sie mir bitte einmal nur die Triolen, nur Streicher von ‘D’.” 4:43
12 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 3. Satz, Scherzo, T. 1-39, 133-187 “Ich hätte gern wirklich so einen magischen Schnelltanz” 6:25
13 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 3. Satz, Scherzo, T. 341-382; Trio, T. 1-55 “Können Sie ein bisschen so eine oberösterreichische Melancholie hineinbringen?” 2:36
14 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 3. Satz, Trio, T. 56-149; Scherzo da capo, T. 1-132 “Spielen Sie bitte wirklich Um-Ba” 6:28
15 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 4. Satz, T. 1-22, 29-36, 67-82 “Es muss die ‘Eins’ immer sehr energisch sein und die ‘Zwei’ etwas weniger.” 7:00
16 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 4. Satz, T. 83-136, 137-165 “Tutti von ‘Etwas mehr langsam'” 5:41
17 Bruckner V Probe: 4. Satz, T. 175-210, 223-231 “Stellen Sie sich zu dem Choral einen Text vor: ‘Was Gott tut, ist wohl getan.'” 3:34
18 Bruckner V Probe: Bruckner V Probe: 4. Satz, T. 310-340 “Jeder von diesen Einsätzen muss klingen, als wäre er eine ‘Eins’.” 2:59
19 Bruckner V Probe: 4. Satz, T.362-373, 450-499, 500-635 “Schön wäre es, wenn man eine totale Erschöpfung hört auf diesem ‘Des’.” 9:23
Orquestra Filarmônica de Viena
Nikolaus Harnoncourt
A Sinfonia n.º 4 de Dmitri Shostakovich (Op. 43) foi composta entre setembro de 1935 e maio de 1936. É uma sinfonia decididamente mahleriana. Shostakovich estudara Mahler por vários anos e aqui estão ecos monumentais destes estudos. Sim, monumentais. Uma orquestra imensa, uma música com grandes contrastes e um tratamento de câmara em muitos episódios rarefeitos: Mahler. O maior mérito desta sinfonia é seu poderoso primeiro movimento, que é transformação constante de dois temas principais em que o compositor austríaco é trazido para as marchas de outubro, porém, minha preferência vai para o também mahleriano scherzo central. Ali, Shostakovich realiza uma curiosa mistura entre o tema introdutório da quinta sinfonia de Beethoven e o desenvolve como se fosse a sinfonia “Ressurreição”, Nº 2, de Mahler. Uma alegria para quem gosta de apontar estes diálogos. O final é um “sanduíche”. O bizarro tema ritmado central é envolvido por dois scherzi algo agressivos e ainda por uma música de réquiem. As explicações são muitas e aqui o referencial político parece ser mesmo o mais correto para quem, como Shostakovich, considerava que a URSS viera das mortes da revolução de outubro e estava se dirigindo para as mortes da próxima guerra.
Dmtri Shostakovich (1906-1975) – Sinfonia No.4 em Dó menor, Op.43
01. Allegro poco moderato
02. Presto
03. Moderato con moto
04. Largo
05. Allegro
Daqui a dias, semanas ou meses, se eu e este blog estivermos vivos, vou recolocar toda a obra para teclado de Bach gravada pela notável pianista canadense Angela Hewiit. Eu peço desculpas aos amantes de Gould, Schiff e de tantos outros que se aventuraram a tocar Bach no piano, mas afirmo que Hewitt lhes é superior. Está claro que, para alcançar as alturas que alcança, ela estudou direitinho e subiu sobre os ombros de gigantes como… o próprio Gould, é óbvio. Seu Cravo Bem Temperado ainda perde para o colorido do de Chorzempa, mas é boníssimo, como vocês poderão ouvir.
J. S. Bach (1685-1750): O Cravo Bem Temperado (completo / Angela Hewitt)
CD 1:
01] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #1 In C, BWV 846
02] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #1 In C, BWV 846
03] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #2 In C Minor, BWV 847
04] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #2 In C Minor, BWV 847
05] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #3 In C Sharp, BWV 848
06] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #3 In C Sharp, BWV 848
07] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #4 In C Sharp Minor, BWV 849
08] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #4 In C Sharp Minor, BWV 849
09] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #5 In D, BWV 850
10] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #5 In D, BWV 850
11] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #6 In D Minor, BWV 851
12] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #6 In D Minor, BWV 851
13] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #7 In E Flat, BWV 852
14] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #7 In E Flat, BWV 852
15] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #8 In E Flat Minor, BWV 853
16] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #8 In D Sharp Minor, BWV 853
17] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #9 In E, BWV 854
18] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #9 In E, BWV 854
19] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #10 In E Minor, BWV 855
20] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #10 In E Minor, BWV 855
21] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #11 In F, BWV 856
22] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #11 In F, BWV 856
23] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Prelude #12 In F Minor, BWV 857
24] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 1 – Fugue #12 In F Minor, BWV 857
CD 2:
01] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.13 in F sharp major, BWV858:Prelude
02] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.13 in F sharp major, BWV858:Fugue
03] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.14 in F sharp minor, BWV859:Prelude
04] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.14 in F sharp minor, BWV859:Fugue
05] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.15 in G major, BWV860:Prelude
06] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.15 in G major, BWV860:Fugue
07] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.16 in G minor, BWV861:Prelude
08] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.16 in G minor, BWV861:Fugue
09] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.17 in A flat major, BWV862:Prelude
10] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.17 in A flat major, BWV862:Fugue
11] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.18 in G sharp minor, BWV863:Prelude
12] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.18 in G sharp minor, BWV863:Fugue
13] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.19 in A major, BWV864:Prelude
14] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.19 in A major, BWV864:Fugue
15] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.20 in A minor, BWV865:Prelude
16] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.20 in A minor, BWV865:Fugue
17] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.21 in B flat major, BWV866:Prelude
18] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.21 in B flat major, BWV866:Fugue
19] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.22 in B flat minor, BWV867:Prelude
20] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.22 in B flat minor, BWV867:Fugue
21] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.23 in B major, BWV868:Prelude
22] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.23 in B major, BWV868:Fugue
23] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.24 in B minor, BWV869:Prelude
24] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book I:No.24 in B minor, BWV869:Fugue
CD 3:
01] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.1 in C major, BWV870:Prelude
02] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.1 in C major, BWV870:Fugue
03] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.2 in C minor, BWV871:Prelude
04] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.2 in C minor, BWV871:Fugue
05] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.3 in C sharp major, BWV872:Prelude
06] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.3 in C sharp major, BWV872:Fugue
07] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.4 in C sharp minor, BWV873:Prelude
08] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.4 in C sharp minor, BWV873:Fugue
09] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.5 in D major, BWV874:Prelude
10] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.5 in D major, BWV874:Fugue
11] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.6 in D minor, BWV875:Prelude
12] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.6 in D minor, BWV875:Fugue
13] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.7 in E flat major, BWV876:Prelude
14] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.7 in E flat major, BWV876:Fugue
15] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.8 in D sharp minor, BWV877:Prelude
16] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.8 in D sharp minor, BWV877:Fugue
17] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.9 in E major, BWV878:Prelude
18] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.9 in E major, BWV878:Fugue
19] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.10 in E minor, BWV879:Prelude
20] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.10 in E minor, BWV879:Fugue
21] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.11 in F major, BWV880:Prelude
22] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.11 in F major, BWV880:Fugue
23] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.12 in F minor, BWV881:Prelude
24] Bach: The Well-Tempered Clavier: Book II:No.12 in F minor, BWV881:Fugue
CD 4:
01] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #13 In F Sharp, BWV 882
02] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #13 In F Sharp, BWV 882
03] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #14 In F Sharp Minor, BWV 883
04] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #14 In F Sharp Minor, BWV 883
05] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #15 In G, BWV 884
06] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #15 In G, BWV 884
07] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #16 In G Minor, BWV 885
08] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #16 In G Minor, BWV 885
09] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #17 In A Flat, BWV 886
10] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #17 In A Flat, BWV 886
11] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #18 In G Sharp Minor, BWV 887
12] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #18 In G Sharp Minor, BWV 887
13] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #19 In A, BWV 888
14] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #19 In A, BWV 888
15] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #20 In A Minor, BWV 889
16] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #20 In A Minor, BWV 889
17] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #21 In B Flat, BWV 890
18] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #21 In B Flat, BWV 890
19] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #22 In B Flat Minor, BWV 891
20] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #22 In B Flat Minor, BWV 891
21] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #23 In B, BWV 892
22] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #23 In B, BWV 892
23] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Prelude #24 In B Minor, BWV 893
24] Bach: The Well-Tempered Clavier, Book 2 – Fugue #24 In B Minor, BWV 893
Bagatelas são composições breves. O termo significa o mesmo que em português: coisas sem importância ou coisas descartadas. Só que aqui temos bagatelas de Beethoven e as coisas sem importância ganham outro significado, a de peças não sujeitas a um planos formais estabelecidos. Dentre elas, há a famosa Para Elise (Für Elise), a melodia preferida de 7,865 dentre cada dez caixinhas de música…
O CD é bastante bom e agradável. Pletnev é efetivamente um mestre. Não encontramos a gravação original na Amazon. Porém, o álbum duplo apontado — que contém também as obras de “Variações” de Beethoven — deve ter o mesmo conteúdo em um de seus discos.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Bagatelas (completas)
01. Bagatelle Nr.1 in Es-Dur, Op.33 Andante grazioso quasi Allegretto
02. Bagatelle Nr.2 in C-Dur, Op.33 Scherzo. Allegro
03. Bagatelle Nr.3 in F-Dur, Op.33 Allegretto
04. Bagatelle Nr.4 in D-Dur, Op.33 Andante
05. Bagatelle Nr.5 in C-Dur, Op.33 Allegro ma non troppo
06. Bagatelle Nr.6 in -D-Dur, Op.33 Allegrette quasi Andante
07. Bagatelle Nr.7 in As-Dur, Op.33 Presto
08. Bagatelle Nr.01 in B-Dur, Op.119 Allegretto
09. Bagatelle Nr.02 in C-Dur, Op.119 Andante con moto
10. Bagatelle Nr.03 in D-Dur, Op.119 _l’lAllemande
11. Bagatelle Nr.04 in A-Dur, Op.119 Andante cantabile
12. Bagatelle Nr.05 in c-moll, Op.119 Risoluto
13. Bagatelle Nr.06 in G-Dur, Op.119 Andante – Allegretto
14. Bagatelle Nr.07 in C-Dur, Op.119 Allegro ma non troppo
15. Bagatelle Nr.8 in C-Dur, Op.119 Moderato
16. Bagatelle Nr.9 in a-moll, Op.119
17. Bagatelle Nr.10 in A-Dur, Op.119 Allegramente
18. Bagatelle Nr.11 in B-Dur, Op.119 Andante ma non troppo
19. Bagatelle in c-moll, WoO 52 Presto
20. Bagatelle in C-Dur, WoO 56 Allegretto
21. Bagatelle Nr.01 in G-Dur, Op.126 Andante con moto cantabile e compiacevole
22. Bagatelle Nr.02 in g-moll, Op.126 Allegro
23. Bagatelle Nr.03 in Es-Dur, Op.126 Andante cantabile e grazioso
24. Bagatelle Nr.04 in D-Dur, Op.126 Presto
25. Bagatelle Nr.05 in G-Dur, Op.126 Quasi Allegretto
26. Bagatelle Nr.06 in Es-Dur, Op.126 Presto Andante amabile e con moto – Tempo I
27. Bagatelle in a-moll, WoO 59 Poco moto (Für Elise)
Pianistas:
1 a 20. Mikhail Pletnev
21 a 27. Anatol Lugorski
O imenso mar barroco permite encontros sem fim. Permite, por exemplo, que se encontre um tremendo compositor como Fasch, um cara realmente talentoso e criativo. Seus trabalhos incluem cantatas, concertos, sinfonias e música de câmara. Nenhuma de suas músicas foi publicada durante sua existência e, de acordo com o New Grove Dictionary of Music “parece que a maioria de suas obras vocais (incluindo 9 ciclos completos de cantatas, pelo menos 14 missas e quatro óperas) estão perdidas”. Ainda bem que sobraram algumas obras instrumentais. No entanto, sua música foi amplamente tocada em sua época. Imaginem que Georg Philipp Telemann dirigiu um ciclo de cantatas suas em 1733 na cidade de Hamburgo. Há uma peça para órgão atribuída a Johann Sebastian Bach (BWV 585), que na verdade é um arranjo de movimentos de uma trio sonata de Fasch e o Collegium Musicum de Bach em Leipzig interpretou algumas das Suites Orquestras de Fasch. Ou seja, é conhecer o que não se perdeu. Vale a pena!
Ah, o grupo de curioso nome — Les Amis de Philippe — é ESPLÊNDIDO.
Johann Friedrich Fasch (1688-1758): Dresden Overtures, Sinfonias and Concertos
Eu simplesmente adorei esta versão russa de Mahler. Vamos a um texto de Paulo de Assis, publicado no site da Casa da Música?
O último período criativo de Gustav Mahler – incluindo A Canção da Terra, a Sinfonia n.º 9 e os fragmentos da Sinfonia n.º 10 – revela um universo trágico, um mundo em desagregação e uma mente submersa em complexos processos psíquicos. Entre 1907 e 1909 Mahler sofreu vários golpes do destino, entre os quais a morte da sua filha Maria Anna, o diagnóstico de uma grave e incurável doença coronária, conflitos com a sua esposa Alma e intrigas várias contra si por parte de destacados membros da sociedade vienense. Além disso, a Oitava Sinfonia tinha-se imposto como obra limite, não sendo possível para Mahler prosseguir nessa direcção apoteótica e ‘grandiosa’. Do ponto de vista social e político também a Monarquia do Danúbio, centrada em Viena, mas estendendo-se por quase meia Europa, se desmoronava rapidamente, revelando cada vez mais aspectos decadentes e mórbidos, um povo que dançava alegremente sobre um dos mais violentos vulcões sociais da história, vulcão que viria a explodir apenas quatro anos mais tarde, em 1914. A Nona Sinfonia de Mahler é tradicionalmente associada às ideias de morte, de luto, de testamento espiritual, tendo sido estreada um ano após a morte do compositor. Para essa associação ‘fúnebre’ muito contribuíram personalidades como Arnold Schoenberg, Alban Berg, Willelm Mengelberg, ou o primeiro biógrafo de Mahler, Paul Bekker. Mas a pessoa que melhor conhecia Mahler, que tinha trabalhado regularmente com ele desde os tempos de Hamburgo (1894), era Bruno Walter. E Bruno Walter nunca insistiu nessa associação, referindo-se à “nostalgia do adeus” tão característica de Mahler, não como resultado directo de uma continuidade vida/obra, mas sim como expressão genuína de densos sentimentos “interiores e imediatos”. A reflexão sobre a Morte, por exemplo, é um dos motivos constantes da vida e obra de Mahler – desde as primeiras obras, incluindo várias ‘marchas fúnebres’ e canções de despedida. A Quarta Sinfonia (que Mahler explicitamente referiu como aparentada à Nona) reflecte precisamente a passagem da vida terrena para a vida celestial. Mais do que a sinfonia do ‘adeus’, a Sinfonia n.º 9 é uma obra sobre a maneira de pensar o ‘adeus’, e de integrá-lo numa obra de arte. Resultado de uma interioridade radical, esta sinfonia parece revelar um vasto conjunto de processos psicológicos, mentais e emocionais específicos de Gustav Mahler. A impressão geral ‘trágica’ que esta música suscita tem tanto a ver com os intrincados desenvolvimentos sonoros (que frequentemente não oferecem aquilo que prometem), como com a apresentação de ‘visões’ musicais enigmáticas e ignotas, momentos ‘estranhos’ que o ouvinte tem dificuldade em localizar dentro de categorias mentais tradicionais. Entre a visão abrangente da Natureza e do Cosmos da Primeira Sinfonia e a concentração psicológica total da Nona parece desenhar-se um percurso de crescente focalização na mente e nos processos mentais – algo que o grande interesse de Mahler pela recém-nascida disciplina da Psicanálise (que o levaria mesmo a consultar Freud em 1910) parece confirmar.
Mahler começa a Sinfonia n.º 9 com um andamento lento – Andante comodo, em Ré maior – mas não lhe confere o carácter de ‘introdução’ ou de ‘preparação’, tendo composto sim um verdadeiro andamento em forma-sonata, com um conteúdo autônomo e de grande significado musical. O tempo é lento e tem uma tendência geral para ser ainda mais lento, anunciando já a suprema lentidão do início da Décima Sinfonia. Mahler trabalha aqui com ‘processos’: mais do que figuras musicais claras e bem definidas, ouve-se um desenrolar de eventos sonoros, um processo de lenta definição de conteúdos, uma exploração quase táctil de um universo desconhecido. Nesta perspectiva, quando os temas ou motivos aparecem eles impõem-se ao ouvinte como o resultado psicológico inevitável desses processos, e não como objectos sonoros nitidamente delimitados. No lugar de ‘temas’, ‘contra-sujeitos’, ‘transições’, ‘episódios paralelos’, ou outros elementos formais tradicionais, Mahler propõe uma panóplia de ‘zonas emocionais’: docemente cantado, com raiva, apaixonadamente, sombrio, agitado, potente, com a máxima violência, como uma procissão pesarosa, levitando, hesitando, morrendo. Todas estas indicações emocionais são testemunho da complexa densidade psíquica que deu origem a este andamento, e o grau de interioridade psicológica, de concentração dos meios e do discurso, associados a uma subtil arte de tratamento polifónico e a fascinantes inovações harmónicas, faz deste andamento um dos pontos culminantes de toda a música ocidental.
O segundo andamento (em Dó maior) – Im Tempo eines gemächlichen Ländlers. Etwas täppisch und sehr derb – é, na realidade, um Scherzo, designação que Mahler eliminaria apenas numa fase avançada da composição, substituindo-a pelo (também provisório) título de “Minueto infinito”. Feito pela sucessão de três danças rústicas, este andamento acabaria por adoptar o título da primeira, um Ländler pesado, escrito num idioma tipicamente austríaco. A estrutura formal segue as três danças, incluindo os seus tempi específicos: ao Ländler segue-se uma estranha Valsa de contornos marcados e angulosos, à qual se segue um segundo Ländler, de carácter diferente do primeiro. Mais do que danças completas apresentadas de maneira integral, o que Mahler propõe é uma sucessão de ‘ruínas’ de danças, de fragmentos e partículas de memórias, recordações, velhas corporeidades vividas em anos longínquos. Como se o compositor recordasse episódios soltos da sua infância e juventude, impressões distantes de um tempo impreterivelmente perdido. Fragmentos de memórias da província austríaca e de salões vienenses. O carácter ambíguo de todo o andamento, alternando entre alegria despreocupada e seriedade pomposa, revela-se de maneira paradigmática nas inúmeras indicações expressivas que a partitura contém, indicações que chegam a requerer ao mesmo tempo, no mesmo instante, caracteres tão distintos como “morrendo” e “scherzando”.
O Rondo-Burleske, em Lá menor, assume a função de um segundo Scherzo, ironizando sobre coisas conhecidas através da sua distorção, exagero ou omissão. Constituindo uma das pièce de résistance obrigatória de todas as grandes orquestras (pelo seu extraordinário grau de dificuldade de execução), é um andamento de enorme virtuosismo de composição, tanto a nível formal, como de organização intrínseca do material musical. Mahler subdividiu-o em três secções ‘burlescas’, intercaladas por dois Trios contrastantes, seguidas de um ‘quase-fugato’ e de uma Coda abrupta e desafiante. No entanto, como várias análises vieram revelar, todo o material musical empregue nos 667 compassos deste andamento consiste em extrapolações do material apresentado nos primeiros dezasseis compassos. Segundo Theodor W. Adorno, estamos diante da peça mais virtuosística de Mahler, virtuosismo entendido aqui como reacção ao desespero, como ‘superconstrução’ para criar uma outra realidade paralela. Mahler dedicou-o ‘aos meus irmãos em Apolo’, indicando tratar-se de uma visão sarcástica da indomável actividade humana, do absurdo filosófico que tal actividade encerra e da vacuidade geral das nossas acções terrenas. Toda a orquestra está constantemente em movimento, numa hiperactividade asfixiante, impondo uma quase anarquia de motivos, instrumentação e distribuição tímbrica – sugerindo a presença de demónios irrequietos e incansáveis. Nesse sentido podemos estar diante de uma perturbadora dança macabra, colorida por uma ironia simultaneamente ingénua e selvagem.
Depois de três andamentos de ‘despedida’, o Finale não poderia ser uma apoteose triunfal, optando Mahler por um aprofundar do diálogo com a Morte através de um Adagio lento, sereno e de intensa densidade de expressão. Escrito em Ré bemol maior, este Adagio tem afinidades com o final da Terceira Sinfonia e, especialmente, com o último Lied (“O Adeus”) da Canção da Terra (1907-1909). Do ponto de vista formal trata¬-se de um andamento em forma de variações, com um tema e doze variações (não assinaladas como tal na partitura), intercaladas por dois Interlúdios de beleza imaterial. O tema inicial de nove compassos, entregue às cordas com “um som grande”, será objecto de transformações integradas num processo global e omnipresente de metamorfose contínua. Mais do que variações, Mahler revela diferentes ‘estados’ de uma mesma matéria, desvelando a essência intangível da existência, impalpável mas perceptível. No fim (Adagissimo) só as cordas tocam, num pianissimo geral com “a mais intensa e interior expressividade”. A indicação ‘morrendo’, notada repetidas vezes na partitura, indica que esta música não é já deste mundo, criando uma sonoridade etérea e metafísica, sons que eram desconhecidos aquando da estreia desta sinfonia e que contribuíram para a sua associação às esferas da morte, do luto e de ‘testamento espiritual’. Quando as violetas tocam, em pianississimo, a última figura de toda a sinfonia, o ouvinte encontra a sua interioridade profunda, tendo sido conduzido por Mahler aos mais recônditos meandros da sua própria psique – fator que talvez explique a profunda comoção interior que este andamento produz nos ouvintes.
Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 9
1. Andante Comodo
2. Im Tempo Eines Gemächlichen Ländlers. Etwas Täppisch Und Sehr Derb
3. Rondo. Burleske (Allegro Assai. Sehr Trotzig – Presto)
4. Adagio (Sehr Langsam)
Um notável disco do professor, compositor e celista húngaro Miklós Perényi. Como eu disse um dia, um violoncelo solitário é a porta de entrada para a alma de vários compositores. E, à medida que mais violoncelistas gravam álbuns solo, parece haver uma demanda crescente por um repertório maior além do punhado de peças que geralmente são interpretadas. Compositores, mexam-se! Há demanda! Para este disco de 2012, Miklós Perényi escolheu três obras que demonstram não apenas combinarem perfeitamente entre si, mas a necessidade de mais peças. As obras de Bach e de Ligeti são conhecidas obra-primas, a de Britten é uma grata surpresa. Que música, meus amigos! Perény é claramente um mestre e ele toca os três trabalhos com compromisso, conhecimento e vitalidade.
Benjamin Britten — Third Suite for Cello, Op. 87
1 Introduzione: Lento 2:16
2 Marcia: Allegro 1:34
3 Canto: Con moto 1:09
4 Barcarola: Lento 1:13
5 Dialogo: Allegretto 1:10
6 Fuga: Andante espressivo 2:32
7 Recitativo: Fantastico 1:09
8 Moto perpetuo: Presto 0:51
9 Passacaglia: Lento solenne 8:33
Johann Sebastian Bach — Suite for Cello Solo No. 6 in D, BWV 1012
10 Prélude 5:32
11 Allemande 6:34
12 Courante 3:51
13 Sarabande 5:43
14 Gavotte 1 – 2 4:32
15 Gigue 3:47
György Ligeti — Sonata for Solo Cello
16 Dialogo: Adagio, rubato, cantabile 4:00
17 Capriccio: Presto con slancio 3:35
Bem, quando a Harmonia Mundi completou 50 anos e editou uma caixinha de 30 CDs (o último é um “.pdf” com as letras das obras e outros detalhes) com 50 obras-primas mostrando o melhor que a HM produziu em todos esses anos. Há de tudo, desde óperas ou a Paixão Segundo São Mateus até obras menores, há desde obras do barroco até modernas, há desde nomes consagrados até absolutas surpresas como este primeiro CD, que nunca imaginaria, mas que – puxa! – é sensacional. Nos próximos dias, meses ou anos, vou postando um a um destes enormes CDs. Serão mais ou menos 35 horas de esplêndida música. Tenham paciência e não me encham o saco. Sou lento e divagativo, mas, de forma tortuosa, vou até o fim. O Organista Doido é que vai adorar: os dois primeiros CDs são de obras para órgão.
Harmonia Mundi – 50 years of music exploration
CD 1/29
François Couperin – Messe à l’usage des Paroisses – 43’27
1 Kyrie
2 Gloria
3 Offertoire
4 Sanctus
5 Beneditus
6 Agnus
7 Deo Gratias
Michel Chapuis, organ
Concert a l’organ de Cavarrubias
8 Medio registro de mano derecha – Andres de Sola 2’59
9 Pange lingua a tres voces – Sebastian Aguilera de Heredia 1’36
10 Salve de lleno – Sebastian Aguilera de Heredia 1’18
11 Tiento de falsas de quarto tono – Sebastian Aguilera de Heredia 3’13
12 Tiento lleno de primer tono – Sebastian Aguilera de Heredia 3’14
13 Gaitilla de mano izquierda – Sebastián Durón 3’07
14 Tiento sobre la letania de la Virgen – Pablo Bruna 5’57
15 Corrente Italiana – Juan Bautista José Cabanilles 3’27
“If you have to ask what jazz is you will never know”. São palavras brilhantes de Louis Armstrong, que contêm grande verdade, dada a capacidade do jazz de incorporar um enorme leque de influências, humores, cores, sons, o que torna sua definição decididamente inexata. E fascinante. Gerald Clayton é um pianista nascido na Holanda, mas que mora desde criança em Los Angeles. Seu Tributary Tales é um álbum que não perde tempo, com a excelente “Unforeseen” abrindo esplendidamente o disco. O que se destaca imediatamente é o trabalho de percussão — Cole, Lugo e Brown arrasam. Ao longo de uma boa parte do disco, Clayton parece se esquivar dos holofotes, tendo a seção de sopros o comando da melodia principal enquanto seu (excelente) piano tem um papel mais percussivo, em segundo plano. Curiosamente, nota-se algo de soul music aqui e ali. Um baita disco.
Gerald Clayton: Tributary Tales
1 Unforeseen 5:58
2 Patience Patients 6:13
3 Search For 1:08
4 A Light 4:19
5 Reach For 0:36
6 Envisionings 6:43
7 Reflect On 1:09
8 Lovers Reverie 3:11
9 Wakeful 5:54
10 Soul Stomp 7:47
11 Are We 7:00
12 Engage In 1:29
13 Squinted 7:11
14 Dimensions: Interwoven 5:50
15 Blues For Stephanie (Japan-only bonus track)
Gerald Clayton: piano; Logan Richardson: sax (alto); Ben Wendel: sax (tenor, baixo); Dayna Stephens: sax (barítono); Joe Sanders: baixo; Justin Brown: bateria; Aja Monet: voz; Carl Hancock Rux: voz; Sachal Vasandani: voz; Henry Cole: percussão; Gabriel Lugo: percussão.
Um presente de fim de semana para vocês! Aproveitem bem. Vamos a este CD quádruplo: já sei que podem aparecer os chatos de sempre dizendo de cara que esta ou aquela gravação é melhor ou indiscutível ou sei lá. O fato é que muita gente boa gravou O Cravo Bem Temperado. As preferências são muito pessoais e farei questão de, a partir de agora, colocar as palavras “na minha opinião” ou algo do gênero. Desde os vinis de Wanda Landowska, creio possuir os mais importantes registros de O Cravo Bem Temperado. Afirmo-lhes que a gravação que me faz mais feliz é esta de Daniel Chorzempa. Não li as 52 páginas onde Daniel dá toda a justificativa — da forma mais erudita e musicológica possível — para esta abordagem a meu ver fora dos padrões habituais. Dizem meus ouvidos, minha emoção e meu prazer que Chorzempa tem bos dose de razão ao interpretar os Prelúdios e Fugas em quatro instrumentos diferentes: cravo, clavicórdio, órgão e pianoforte.
Isso mesmo. Sei que Bach escreveu não escreveu suas peças especificamente para o cravo, mas nunca tinha ouvido alguém tocá-las em vários instriumentos, conforme o estilo da peça. Na minha opinião, o registro de Chorzempa é mais colorido que as maravilhosas versões de Leonhardt e Gould, mais fluente que Landowska e infinitamente superior aos de alguns cravistas modernos e de excrescências na área como Sviatoslav Richter, Baremboim e Jarrett.
É obra-pedra fundamental de tudo o que se fez em teclado desde a metade do século XVIII. Download obrigatório. Ou ambas, ora.
J. S. Bach (1685-1750): O Cravo Bem Temperado (completo)
Disk: 1
1. Book I: No.1 in C, BWV846: Prld
2. Book I: No.1 in C, BWV846: Fugue
3. Book I: No.2 in c, BWV 847: Prld
4. Book I: No.2 in c, BWV 847: Fugue
5. Book I: No.3 in C#, BWV 848: Prld
6. Book I: No.3 in C#, BWV 848: Fugue
7. Book I: No.4 in c#, BWV 849: Prld
8. Book I: No.4 in c#, BWV 849: Fugue
9. Book I: No.5 in D, BWV 850: Prld
10. Book I: No.5 in D, BWV 850: Fugue
11. Book I: No.6 in d, BWV 851: Prld
12. Book I: No.6 in d, BWV 851: Fugue
13. Book I: No.7 in E flat, BWV 852: Prld
14. Book I: No.7 in E flat, BWV 852: Fugue
15. Book I: No.8 in e flat, BWV 853: Prld
16. Book I: No.8 in d#, BWV 853: Fugue
17. Book I: No.9 in E, BWV 854: Prld
18. Book I: No.9 in E, BWV 854: Fugue
19. Book I: No.10 in e, BWV 855: Prld
20. Book I: No.10 in e, BWV 855: Fugue
21. Book I: No.11 in F, BWV 856: Prld
22. Book I: No.11 in F, BWV 856: Fugue
23. Book I: No.12 in f, BWV 857: Prld
24. Book I: No.12 in f, BWV 857: Fugue
Disk: 2
1. Book I: No.13 in F#, BWV 858: Prld
2. Book I: No.13 in F#, BWV 858: Fugue
3. Book I: No.14 in f#, BWV 859: Prld
4. Book I: No.14 in f#, BWV 859: Fugue
5. Book I: No.15 in G, BWV 860: Prld
6. Book I: No.15 in G, BWV 860: Fugue
7. Book I: No.16 in g, BWV 861: Prld
8. Book I: No.16 in g, BWV 861: Fugue
9. Book I: No.17 in A flat, BWV 862: Prld
10. Book I: No.17 in A flat, BWV 862: Fugue
11. Book I: No.18 in g#, BWV 863: Prld
12. Book I: No.18 in g#, BWV 863: Fugue
13. Book I: No.19 in A, BWV 864: Prld
14. Book I: No.19 in A, BWV 864: Fugue
15. Book I: No.20 in a, BWV 865: Prld
16. Book I: No.20 in a, BWV 865: Fugue
17. Book I: No.21 in B flat, BWV 866: Prld
18. Book I: No.21 in B flat, BWV 866: Fugue
19. Book I: No.22 in b flat, BWV 867: Prld
20. Book I: No.22 in b flat, BWV 867: Fugue
21. Book I: No.23 in B, BWV 868: Prld
22. Book I: No.23 in B, BWV 868: Fugue
23. Book I: No.24 in b, BWV 869: Prld
24. Book I: No.24 in b, BWV 869: Fugue
Disk: 3
1. Book II: No.1 in C, BWV 870: Prld
2. Book II: No.1 in C, BWV 870: Fugue
3. Book II: No.2 in c, BWV 871: Prld
4. Book II: No.2 in c, BWV 871: Fugue
5. Book II: No.3 in C#, BWV 872: Prld
6. Book II: No.3 in C#, BWV 872: Fugue
7. Book II: No.4 in c#, BWV 873: Prld
8. Book II: No.4 in c#, BWV 873: Fugue
9. Book II: No.5 in D, BWV 874: Prld
10. Book II: No.5 in D, BWV 874: Fugue
11. Book II: No.6 in d, BWV 875: Prld
12. Book II: No.6 in d, BWV 875: Fugue
13. Book II: No.7 in E flat, BWV 876: Prld
14. Book II: No.7 in E flat, BWV 876: Fugue
15. Book II: No.8 in d#, BWV 877: Prld
16. Book II: No.8 in d#, BWV 877: Fugue
17. Book II: No.9 in E, BWV 878: Prld
18. Book II: No.9 in E, BWV 878: Fugue
19. Book II: No.10 in e, BWV 879: Prld
20. Book II: No.10 in e, BWV 879: Fugue
21. Book II: No.11 in F, BWV 880: Prld
22. Book II: No.11 in F, BWV 880: Fugue
23. Book II: No.12 in f, BWV 881: Prld
24. Book II: No.12 in f, BWV 881: Fugue
25. Book II: No.13 in F#, BWV 882: Prld
26. Book II: No.13 in F#, BWV 882: Fugue
Disk: 4
1. Book II: No.14 in f#, BWV 883: Prld
2. Book II: No.14 in f#, BWV 883: Fugue
3. Book II: No.15 in G, BWV 884: Prld
4. Book II: No.15 in G, BWV 884: Fugue
5. Book II: No.16 in g, BWV 885: Prld
6. Book II: No.16 in g, BWV 885: Fugue
7. Book II: No.17 in A flat, BWV 886: Prld
8. Book II: No.17 in A flat, BWV 886: Fugue
9. Book II: No.18 in g#, BWV 887: Prld
10. Book II: No.18 in g#, BWV 887: Fugue
11. Book II: No.19 in A, BWV 888: Prld
12. Book II: No.19 in A, BWV 888: Fugue
13. Book II: No.20 in a, BWV 889: Prld
14. Book II: No.20 in a, BWV 889: Fugue
15. Book II: No.21 in B flat, BWV 890: Prld
16. Book II: No.21 in B flat, BWV 890: Fugue
17. Book II: No.22 in b flat, BWV 891: Prld
18. Book II: No.22 in b flat, BWV 891: Fugue
19. Book II: No.23 in B, BWV 892: Prld
20. Book II: No.23 in B, BWV 892: Fugue
21. Book II: No.24 in b, BWV 893: Prld
22. Book II: No.24 in b, BWV 893: Fugue
Mais uma maravilha vinda da grande Hyperion. Vamos relembrar o excelente texto de Adriano Brandão para o Concerto em Sol Maior (G Major) de Ravel ?
Chicotada! Marchinha de soldadinho de chumbo! Jazz!
Não, eu não fiquei maluco. É mais ou menos esse o esquema da exposição do primeiro movimento do famoso Concerto para piano em sol maior de Maurice Ravel, obra de 1931. O maluco, no caso, é ele 🙂
Ravel compôs dois concertos para piano e orquestra. O primeiro foi uma peça para ser tocada somente com a mão esquerda, em ré maior. Pouco tempo depois Ravel teve a ideia para um segundo concerto, para as duas mãos, fortemente influenciado pelo jazz americano.
Vale lembrar que o jazz estava na moda na França no anos 20 e 30. Gershwin mesmo esteve em Paris em 1928 e fez muito sucesso com sua “Rhapsody in blue“. O resultado é que vários compositores de concerto, como Poulenc e Milhaud, incorporaram tiques jazzísticos a suas obras.
Ravel não ficou imune, é claro. Seu primeiro contato com o jazz foi com as diversas bandinhas de New Orleans que visitavam Paris e depois nos EUA mesmo (quando conheceu Gershwin). Em 1927 ele já havia escrito sua Sonata para violino, com um movimento inteiro chamado “Blues”. O caminho para este Concerto em sol já havia sido traçado.
Chicotada! Marchinha de soldadinho de chumbo! Jazz! A mistura do primeiro movimento é tão inusitada e funciona muitíssimo bem. As milhares de blue notes, com seu som tão típico, são as responsáveis pela cor predominantemente jazzística do movimento. E o solo de piano nunca, nunca deixa de lembrar o da “Rhapsody in blue”…
É muito legal, mas arrisco dizer que é mesmo o segundo movimento que deixa a impressão mais duradoura no ouvinte. Nada de jazz – é um adagio de tranquilidade absoluta, no qual o solista derrama lirismo sobre a paisagem estática fornecida pela orquestra. É de uma simplicidade e uma beleza inacreditáveis! Vários outros compositores tentaram roubar-lhe o molde: penso imediatamente no americano Samuel Barber, mas tem também Camargo Guarnieri, o português Lopes Graça… Ravel criou aqui o formato do moderno movimento lento de concerto.
A obra termina com um moto-perpétuo curtinho e mega virtuosístico, agora sim cheio de jazz. Ele consegue nos colocar de volta em solo firme após o movimento lento de sonho. E termina, sem muita cerimônia. Essa brevidade é esquisita de início, mas, sei lá, acho que faz sentido. Eu não conseguiria imaginar a graça de um finale muito elaborado após tamanha beleza. Chicotada! Pá pum! Tinha que terminar assim mesmo 🙂
Ravel: Os Concertos para Piano // de Falla: Noites nos Jardins da Espanha
Maurice Ravel (1875-1937) — Piano Concerto in G major [21’37]
1 Allegramente [8’18]
2 Adagio assai [9’24]
3 Presto [3’55]
Manuel de Falla (1876-1946) — Noches en los jardines de España G49 [23’11]
4 En el Generalife [10’01]
5 Danza lejana [4’45]
6 En los jardines de la Sierra de Córdoba [8’25]
7 Maurice Ravel (1875-1937) — Piano Concerto for the left hand in D major [18’13]
Steven Osborne (piano)
BBC Scottish Symphony Orchestra
Ludovic Morlot (conductor)
Não dá para considerar, ao menos do ponto de vista artístico, a Cantata BWV 147 como uma das favoritas — ela o é apenas do ponto de vista comercial. Talvez nem a BWV 8, mas as outras estão OK. Muito OK. Extremamente OK. Não há como não ouvir o grande Joshua Rifkin mandando bala em Cantatas de Bach. E estamos em um alto nível de interpretação. Os cantores são notáveis, é Bach legítimo em seu mundo perfeito de Cantatas. Destaque para a alegria da Wir Eilen Mit Schwachen (Cantata BWV 78), uma de minha árias preferidas of all time.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) – 6 Favourites Cantatas BWV 147, 80, 8, 140, 51 e 78
DISCO 01
1-01 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 1.Herz Und Mund Und Tat Und Leben
1-02 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 2. Gebenedeiter Mund!
1-03 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 3. Schäme Dich, O Seele, Nicht
1-04 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 4. Verstockung Kann Gewaltige Verblenden
1-05 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 5. Bereite Dir, Jesu
1-06 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 6. Wohl Mir, Dass Ich Jesum Habe
1-07 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 7. Hilf, Jesu, Hilf
1-08 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 8. Der Höchsten Allmacht Wunderhand
1-09 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 9. Ich Will Von Jesu Wundern Singen
1-10 Bach_ Cantata #147, BWV 147, _Herz Und Mund Und Tat Und Leben_ – 10. Jesu Bleibet Meine Freude
1-11 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 1. Ein Feste Burg Ist Unser Gott
1-12 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 2. Alles, Was Von Gott Geboren
1-13 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 3. Erwäge Doch, Kind Gottes
1-14 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 4. Komm In Mein Herzenshaus
1-15 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 5. Und Wenn Die Welt Voll Teufel Wär
1-16 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 6. So Stehe Denn Bei Christi Blutgefärbten Fahne
1-17 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 7. Wie Selig Sind Doch Die
1-18 Bach_ Cantata #80, BWV 80, _Ein Feste Burg Ist Unser Gott_ – 8. Das Wort Sie Sollen Lassen Stahn
1-19 Bach_ Cantata #8, BWV 8, _Liebster Gott, Wenn Werd’ Ich Sterben__ – 1. Liebster Gott Wann Werd Ich Sterben
1-20 Bach_ Cantata #8, BWV 8, _Liebster Gott, Wenn Werd’ Ich Sterben__ – 2. Was Willst Du Dich
1-21 Bach_ Cantata #8, BWV 8, _Liebster Gott, Wenn Werd’ Ich Sterben__ – 3. Zwar Fuhlt Mein Schwaches Herz
1-22 Bach_ Cantata #8, BWV 8, _Liebster Gott, Wenn Werd’ Ich Sterben__ – 4. Doch Weichet, Ihr Tollen, Vergeblichen Sorgen!
1-23 Bach_ Cantata #8, BWV 8, _Liebster Gott, Wenn Werd’ Ich Sterben__ – 5. Behalte Nur, O Welt, Das Meine!
1-24 Bach_ Cantata #8, BWV 8, _Liebster Gott, Wenn Werd’ Ich Sterben__ – 6. Herrscher Ueber Tod Und Leben
DISCO 02
2-01 Bach_ Cantata #140, BWV 140, _Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme_ – 1. Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme
2-02 Bach_ Cantata #140, BWV 140, _Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme_ – 2. Er Kommt, Er Kommt, Der Brautigam Kommt
2-03 Bach_ Cantata #140, BWV 140, _Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme_ – 3. Wann Kommst Du, Mein Heil
2-04 Bach_ Cantata #140, BWV 140, _Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme_ – 4. Zion Hoert Die Waechter Singen
2-05 Bach_ Cantata #140, BWV 140, _Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme_ – 5. So Geh Herein Zu Mir
2-06 Bach_ Cantata #140, BWV 140, _Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme_ – 6. Mein Freund Ist Mein
2-07 Bach_ Cantata #140, BWV 140, _Wachet Auf, Ruft Uns Die Stimme_ – 7. Gloria Sei Dir Gesungen
2-08 Bach_ Cantata #51, BWV 51, _Jauchzet Gott In Allen Landen_ – 1. Jauchzet Gott In Allen Landen
2-09 Bach_ Cantata #51, BWV 51, _Jauchzet Gott In Allen Landen_ – 2. Wir Beten Zu Dentempel An
2-10 Bach_ Cantata #51, BWV 51, _Jauchzet Gott In Allen Landen_ – 3. Höchster, Mache Deine Güte
2-11 Bach_ Cantata #51, BWV 51, _Jauchzet Gott In Allen Landen_ – 4. Sei Lob Und Preis Mit Ehren
2-12 Bach_ Cantata #51, BWV 51, _Jauchzet Gott In Allen Landen_ – 5. Alleluja
2-13 Bach_ Cantata #78, BWV 78, _Jesu, Der Du Meine Seele_ – 1. Jesu, Der Du Meine Seele
2-14 Bach_ Cantata #78, BWV 78, _Jesu, Der Du Meine Seele_ – 2. Wir Eilen Mit Schwachen
2-15 Bach_ Cantata #78, BWV 78, _Jesu, Der Du Meine Seele_ – 3. Ach! Ich Bin Ein Kiind Der Suenden
2-16 Bach_ Cantata #78, BWV 78, _Jesu, Der Du Meine Seele_ – 4. Das Blut, So Meine Schuld Durchstreicht
2-17 Bach_ Cantata #78, BWV 78, _Jesu, Der Du Meine Seele_ – 5. Die Wunden, Naegel, Kron Und Grab
2-18 Bach_ Cantata #78, BWV 78, _Jesu, Der Du Meine Seele_ – 6. Nun Du Wirst Mein Gewissen Stillen
2-19 Bach_ Cantata #78, BWV 78, _Jesu, Der Du Meine Seele_ – 7. Herr, Ich Glaube, Hilf Mir Schwachen
Pois bem. Eu não gosto da Sinfonia dos Salmos, mas amo A História do Soldado. A Sinfonia é uma peça para coro e orquestra escrita em 3 movimentos em 1930 para comemorar os 50 anos da Sinfônica de Boston. É neoclássica e sem graça, em minha opinião. Já A História do Soldado é de 1918. O que apresentamos é sua suíte para sete instrumentos, sem narrador. A obra trata da história fáustica do soldado que vende a própria alma, na forma de seu violino, ao Diabo. Ao descobrir a armadilha em que havia caído, ele passa a lutar de todas as formas para reaver seu instrumento. Resgatando o conteúdo medieval de Fausto, A História do Soldado nos mostra que na vida é possível fazer concessões, desde que não sejam fundamentais. Se vendermos o cerne, viramos “mortos-vivos”. A dificuldade está em discernir entre o que é dispensável e o que é vital. O registro tem regência do próprio Igor Strava.
Igor Stravinsky (1882 -1971): Sinfonia dos Salmos e A História do Soldado
1 Symphonie de Psaumes 21:27
Psalm 38 – Psalm 39 – Psalm 150
Columbia Symphony Orchestra
Igor Stravinsky, regência
2 L’Histoire du Soldat: suite 25:03
marche du soldat
airs by a stream
pastorale
marche royale
petit concert
3 dances: tango, valse, ragtime
danse du diable
grand choral
marche triomphale de diable
Músicos:
David Oppenheim, clarinete
Loren Glickman, fagote
Robert Nagel, trompete
Erwin Price, trombone
Alfred Howard, percussão
Alex Schneider, violino
Julius Levine, contrabaixo
Igor Stravinsky, regência
Na minha opinião, os seis quartetos de cordas de Bartók formam a maior obra composta no século XX, como já disse muitas vezes. Sempre que uma versão passa na minha frente, pego e reouço… Eles são, sem dúvida, a contribuição mais importante para o gênero após Beethoven, e servem não somente como modelo de beleza e equilíbrio mas traçam melhor a evolução Bartók como compositor do que qualquer outro grupo de suas obras. Claro, já existe um extraordinário acervo de boas gravações. Desde a época do LP, já tínhamos o Fine Arts e o Végh esmerilhando. Depois vieram as maravilhosas versões digitais dos Takács (de quase 20 anos), do Alban Berg, Tokyo e Emerson. Dado esse considerabilíssimo pedigree, é um enorme elogio ao Heath Quartet o de colocá-lo ao lado destes sensacionais conjuntos. O quarteto inglês de Oliver Heath não é mole.
A gurizada do Heath
Béla Bartók (1881-1945): Os Quartetos de Cordas
1 String Quartet No. 1, Sz. 40: I. Lento 09:06
2 String Quartet No. 1, Sz. 40: II. Allegretto. Introduzione 10:07
3 String Quartet No. 1, Sz. 40: III. Allegro vivace 10:20
4 String Quartet No. 3, Sz. 85: I. Prima parte. Moderato 04:45
5 String Quartet No. 3, Sz. 85: II. Seconda parte. Allegro 05:34
6 String Quartet No. 3, Sz. 85: III. Recapitulazione della prima parte. Moderato 02:55
7 String Quartet No. 3, Sz. 85: IV. Coda. Allegro molto 02:20
8 String Quartet No. 5, Sz. 102: I. Allegro 07:58
9 String Quartet No. 5, Sz. 102: II. Adagio molto 05:52
10 String Quartet No. 5, Sz. 102: III. Scherzo. Alla bulgarese 05:29
11 String Quartet No. 5, Sz. 102: IV. Andante 04:44
12 String Quartet No. 5, Sz. 102: V. Finale. Allegro vivace 07:33
13 String Quartet No. 2, Sz. 67: I. Moderato 09:51
14 String Quartet No. 2, Sz. 67: II. Allegro molto capriccioso 08:03
15 String Quartet No. 2, Sz. 67: III. Lento 09:08
16 String Quartet No. 4, Sz. 91: I. Allegro 06:15
17 String Quartet No. 4, Sz. 91: II. Prestissimo, con sordino 03:12
18 String Quartet No. 4, Sz. 91: III. Non troppo lento 05:53
19 String Quartet No. 4, Sz. 91: IV. Allegretto pizzicato 03:01
20 String Quartet No. 4, Sz. 91: V. Allegro molto 05:51
21 String Quartet No. 6, Sz. 114: I. Mesto. Piu mosso, pesante – Vivace 07:40
22 String Quartet No. 6, Sz. 114: II. Mesto. Marcia 07:40
23 String Quartet No. 6, Sz. 114: III. Mesto – Burletta. Moderato 07:16
24 String Quartet No. 6, Sz. 114: IV. Mesto 06:48
É um enorme privilégio ouvir um disco desses. Ao vivo, um concerto espetacular no Concertgebouw de Amsterdam reunindo meu maestro preferido Bernard Haitink e os extraordinários violinista e pianista Frank Peter Zimmermann e Emanuel Ax tocando o Concerto para Violino e o Nº 1 para Piano e Orquestra de Brahms. De quebra, Ax faz-se acompanhar por membros da orquestra para interpretar o Quarteto Op. 47 de Schumann. O que dizer mais? Que desempenhos! O quase nonagenário Haitink está cada vez melhor. Espero que siga assim até onde der. O cara está em estado de graça! Tudo que toca vira ouro. Os concertos recebem aqui uma das melhores interpretações que já ouvi. Confiram aí porque agora tenho que ouvir tudinovo.
Johannes Brahms (1833-1896): Concerto para Violino Op. 77 / Concerto para Piano Nº 1 Op. 15 & Robert Schumann (1810-1856): Quarteto para Piano Op. 47
CD 01
01. Brahms — Violin Concerto in D Major, Op. 77_ I. Allegro non troppo
02. Brahms — Violin Concerto in D Major, Op. 77_ II. Adagio
03. Brahms — Violin Concerto in D Major, Op. 77_ III. Allegro giocoso, ma non troppo vivace
CD 02
01. R. Schumann — Piano Quartet in E-Flat Major, Op. 47_ I. Sostenuto assai-Allegro ma non troppo
02. R. Schumann — Piano Quartet in E-Flat Major, Op. 47_ II. Scherzo_ Molto vivace
03. R. Schumann — Piano Quartet in E-Flat Major, Op. 47_ III. Andante cantabile
04. R. Schumann — Piano Quartet in E-Flat Major, Op. 47_ IV. Finale_ Vivace
05. Brahms — Piano Concerto No. 1 in D Minor, Op. 15_ I. Maestoso
06. Brahms — Piano Concerto No. 1 in D Minor, Op. 15_ II. Adagio
07. Brahms — Piano Concerto No. 1 in D Minor, Op. 15_ III. Rondo_ Allegro non troppo
Frank Peter Zimmermann, violino
Emanuel Ax, piano
Emanuel Ax & RCO Chamber Soloists
Royal Concertgebouw Orchestra
Bernard Haitink
Ingmar Bergman disse uma vez que Andrei Tarkovsky filmava como se sonha. E o Quarteto Tarkovsky, que recebeu o nome do grande cineasta russo, desenvolveu uma linguagem de própria, muito próxima dos sonhos. Para o líder e pianista François Couturier, o silêncio e a lentidão de Tarkovsky estão intimamente relacionados com a estética desenvolvida no terceiro álbum do grupo, Nuit blanche, produzido por Manfred Eicher em Lugano em abril de 2016. Aqui temos peças diversas composta por François Couturier ou criadas no momento por Couturier, a violoncelista Anja Lecher, o saxofonista Jean-Marc Larché e o acordeonista Jean-Louis Matinier. Elas exploram a textura dos sonhos e da memória e continuam a fazer uma referência oblíqua a Tarkovsky. É improviso, composição moderna e música barroca,tudo ao mesmo tempo agora.
François Couturier (1950): Nuit Blanche
1 Rêve 2:54
2 Nuit blanche 5:38
3 Rêve II 1:22
4 Soleil sous la pluie 4:41
5 Dream III 2:05
6 Fantasia 4:26
7 Dream IV 2:29
8 Urga 11:19
9 Daydream 2:52
10 Cum Dederit Delectis Suis Somnum 5:46
11 Nightdream 2:23
12 Vertigo 0:57
13 Traum V 1:31
14 Traum VI 2:25
15 Dakus 4:34
16 Quant ien congneu a ma pensee 5:05
17 Rêve étrange… 1:20