… PQP Bach ama este CD. Com a palavra, CDF Bach.
Observação: este post recebeu uma substancial “reforma” no dia de hoje. O comentarista Karyttus nos enviou este CD duplo em 320 kbps — a versão anterior trazia links de arquivos de 192 kbps. Sugerimos aos nossos fiéis e infiéis visitantes que baixem novamente este extraordinário trabalho.
Quem foi o pai da música moderna? Schoenberg, Stravinsky ou Varèse? Alguns dizem que Schoenberg estava muito preso ao romantismo, por isso não mereceria esse título (haja vista o famoso e polêmico artigo de Boulez, “Schoenberg morreu”), e que Stravinsky abandonou o posto, logo cedo, para vagar no neo-classicismo. Já Varese sim, esse foi aquele cuja música nunca chegou perto dos séculos anteriores. “Moderno” até as raízes. Bem, eu não acho que seja assim. Quem ouviu os dois últimos quartetos de Schoenberg sabe que aquela música não tem nada de romântica, assim como outros exemplos que devo colocar nesse site. E quem acha que Stravinsky recuou, tá muito enganado. O homem olhava para o passado para escrever música nova. Vários compositores importantes foram influenciados pelo neo-classicismo de Stravinsky. Nas suas últimas fases de composição Stravinsky escrevia música atonal à la Webern, até abandonar e escrever outra coisa. Então pela a influência que os três compositores tiveram no século XX, eu diria que a música moderna é filha de três pais, sobrinha de Webern e neta de Debussy. Mas não há dúvida que os traços dessa “moça” são mais parecidos com Varèse.
Vejam um exemplo: Amériques. Composição para grande orquestra feita no início da década de 1920. Só a seção de percussão tem 10 músicos tocando 21 instrumentos. É uma versão extrapolada da sagração da primavera de Stravinsky. Veremos que essa busca por novas sonoridades é o que caracteriza a personalidade do compositor. Por isso, depois de ter escrito obras fantásticas para orquestra, como a mais famosa Arcana ou apenas para um grupo de 13 percussionistas chamada de Ionisation (1931), Varèse passou um longo período parado. Esperava algo que o motivasse, uma sonoridade nova.
Com o aparecimento das fitas magnéticas para gravação e os equipamentos eletrônicos que iam surgindo (Varèse sempre teve bons amigos cientistas) novos timbres foram criados. Nascia a música eletrônica. A mais fascinante obra desse período é Deserts para orquestra e fita cassete. Lembra muito o filme Terminator 2, nas cenas que se passam no futuro. É assombroso. Já Poème èlectronique (1958) precisa de uma pessoa para apertar o botão e rodar a fita.
Muitos dizem que a música eletrônica é fria. Não penso assim, quem ficou dias e dias construindo aquele som foi um ser-humano criativo em busca de novas possibilidades. O processo é similar ao desenvolvimento de instrumentos clássicos, como no caso do aperfeiçoamento do piano. Enfim apenas um meio para criação.
A gravação do Chailly é célebre e premiada, mas imperfeita. Deserts neste disco, por exemplo, é sofrível e nem merece ser ouvido. A melhor versão dessa obra é aquela da gravadora Naxos (talvez eu coloque aqui). O que há de melhor neste cd são as grandes obras orquestrais com a Royal Concertgebouw a todo vapor, com especial atenção a Amériques e Arcana.
As obras anteriores à Amèrique foram queimadas, sobrevivendo uma singela canção esquecível – Un grand sommeil noir.
Edgard Varèse (1883-1963): The Complete Orchestral Works
Disco 1:
1. Tuning up
2. Amériques
3. Poème Electronique
4. Arcana
5. Nocturnal
6. Un grand sommeil noir
Disco 2:
1. Un grand sommeil noir – Version for voice & piano
2-3. Offrandes
4. Hyperprism
5-7. Octandre
8. Intégrales
9. Ecuatorial
10. Ionisation
11. Density 21.5
12-18. Déserts
19. Dance for Burgess
Performed by Royal Concertgebouw Orchestra
Conducted by Riccardo Chailly
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CDF Bach