Em 2012, procurei pouco, e desordenadamente, pelo jazz. É assim, são os ciclos; estive entretido com outros barulhos e foram pra eles os esforços de garimpagem, análise e apreciação. Também apresentei sintomas da temida SCMD (Síndrome de Completude em Miles Davis — enfermidade onde o ouvinte, após tanto colecionar, tem a sensação de que não é preciso escutar qualquer coisa além de Miles Davis). No entanto, aqui e ali, atualizei alguns artistas e até descobri um par de ótimos discos esse ano. A pequena lista abaixo é um feliz natal cheio de votos de que, em 2013, haja mais e mais do prazer inenarrável de absorver a boa, divina, iluminada música, a todos nós.
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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=mQycRAjOACg[/youtube]
Um dos temas preferidos de Blue Dog é essa qualidade efêmera, dicionarizando sutileza, que o piano de Bill Evans tem. Já admiti não entender de onde surge meu fascínio nem porque me comunico tanto ao ouvi-lo. Já Cannonball, outro personagem predileto, entendo bem porque gosto: a bonachice e o espírito leve que o acompanham se traduzem perfeitamente aqui desse lado da caixa de som. Evidente que com muita curiosidade descobri esse disco, onde Cannonball lidera Evans e a cozinha quadradíssima (pero competente) do Modern Jazz Quartet. Em algumas faixas, funciona bastante bem; noutras, Cannonball parece agitado demais para a quietude e clareza do trio que o acompanha. Evidente que é este é apenas um minúsculo comentário acerca de um disco que será sempre 5/5 só pela escalação e pelo encontro.
Cannonball Adderley & Bill Evans – Know What I Mean? /1961 link nos comentários
01 Waltz for Debby (Evans, Lees) 02 Goodbye (Jenkins) 03 Who Cares? [take 5] (Gershwin, Gershwin) 04 Venice (Lewis) 05 Toy (Jordan) 06 Elsa (Zindars) 07 Nancy (with the laughing face) (Silvers, Van Heusen) 08 Know What I Mean? [re-take 7] (Evans) 09 Who Cares? [take 4] 10 Know What I Mean? [take 12]
Cannonball Adderley; alto saxophone; Bill Evans, piano; Percy Heath, bass; Connie Kay, drums. Gravado entre 27/01 e 13/03/1961. Produzido por Orrin Keepnews para a Riverside
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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=be386oMg2Yo[/youtube]
Todo mundo já sabe que do renascimento da cena jazz na Polônia, certo? Que bom. E que banda, esse sexteto de barulho contemporâneo. Tiremos o noise do caminho e é apropriado demais: brilhante forma de ler o jazz nesses anos 2000. Soa exatamente no tempo-espaço que ocupa, traz o frescor da criação, enquanto usa o vocabulário consagrado. E mostra que é muito mais produtivo divertido interessante dançar com o cânone do que brigar com ele.
Contemporary Noise Sextet – Ghostwriter’s Joke /2011 link nos comentários
01 Walk With Marylin 02 Morning Ballet 03 Is That Revolution Sad 04 Old Typewriter 05 Chasing Rita 06 Norman’s Mother 07 Kill The Seagull, Now!
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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fyLhQd8cqpg[/youtube]
Copia/cola parágrafo anterior, troca a Polônia pelo Japão, feito o carreto, segue o baile. (Sempre muito interessante notar as diferenças de estilo entre europeus e japoneses. Acho graça da latinidade que o segundo exibe.) Quase sempre veloz e incansável, o Indigo é um dos preferidos da casa e, tradicional, segue lançando disco bom após disco bom — todo santo dezembro.
Indigo Jam Unit – Rebel /2012 link nos comentários
01 Rebel 02 Belief 03 Rio 04 Graduation Day 05 Danza Eterna 06 Peekaboo 07 4 Caminos 08 Unreachable 09 Reflection
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[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ClyWznHWRBk[/youtube]
Encontrei Dave Tarras pela minha irmã. Assistimos juntos (longe, mas comentando) o documentário do Ken Burns sobre jazz, e ela pescou a pérola acima de um curto link entre cenas. Depois de algum estarrecimento e pesquisa, saber que Tarras emigrou da Ucrânia para Nova Iorque em 1921, onde se tornou um dos mais populares clarinetistas de klezmer. O disco abaixo é um daqueles registros históricos, coletânea de gravações de qualidades diversas, que se torna uma incrível caminhada pelo passado. E toda aquela carga emocional tão própria do clarinete, permeando lamentos e exaltações, conta tantas histórias quanto o documentário onde as descobri.
Dave Tarras – Yiddish-American Klezmer Music 1925-1956 link nos comentários
01 Unzer Toirele 02 Yiddisher March 03 Good Luck 04 Polka “Strelotchek” 05 Chasidic in America 06 A Yid Bin Ich Gegboiren 07 Dem Monastrishter Rebin’s Chosid’l 08 Hopkele 09 Bridegroom Special 10 Die Goldene Chasene 11 Pas d’Espan 12 Mazel in Liebe 13 A Vaibele a Tsnien 14 Zum Gali Gali 15 Die Reize Nuch Amerkia 16 Branan Hassene 17 Kinos, Tkios un Ashrei 18 What Can You Mach? S’is America 19 Oriental Hora 20 Second Avenue Square Dance 21 Freilachs 22 Dayeynu 23 Rumanian Fantasy
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http://www.youtube.com/watch?v=5mL17N1ajIU
Julia Hülsmann é uma pianista que, além de germânica, grava para a ECM. Isso diz quase tudo que é preciso saber para conferir do que se trata. Falava antes da sutileza de Bill Evans? Bingo. Julia, com seu trio de baixo e bateria, trabalha de forma absolutamente minimalista e não houve qualquer desperdício na realização desse álbum. A música é suave, geralmente lenta, mas à medida em que as faixas se passam, vai se assimilando o estilo e percebendo a intensidade que traz. É um disco quieto e econômico, mas não é preguiçoso ou esparso — e consegue ter personalidade mesmo nos espaços que deixa desocupados. E também é lindo.
Julia Hülsmann Trio – Imprint /2011 link nos comentários
01 Rond Point 02 After the End of It 03 A Ligth Left On 04 Juni 05 Storm in a Teacup 06 Go and Open the Door 07 Luftballong 08 Ritual 09 Lulu 10 Ulmenwall 11 Zahlen Bitte 12 Whos Next
Boa audição!
Blue Dog