175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes
SEN-SA-CIO-NAL!!!
“Já sabes que não era possível deixar passar este centenário colombiano sem dar sinal de vida. O tal ‘nhô-Colombo’ andou em 1492 agarrando macacos pelo mato e metendo medo na gente. Eu, porém, que sou meio ‘home’, meio ‘macaco velho’, acabo de me vingar dele, pois agarrei no tal ‘nhô-Colombo” e botei-o em música desde o Dó mais grave até a nota mais aguda da rua da amargura. Estou vingado, arre diabo!” Assim Antonio Carlos Gomes falava empolgado de sua obra Colombo em carta a um de seus amigos…
E com este Colombo, chegamos ao fim das postagens da integral das óperas de Antonio Carlos Gomes, que atinge neste dia a respeitável marca de 27 posts neste blog irrefragavelmente completo, igualando-se, em número, ao poderoso Dvořák, dentre os estrangeiros, e chegando ao posto de terceiro brasileiro mais postado aqui (atrás somente de Nunes Garcia e de Lobo de Mesquita – e este último que se cuide: futuras postagens gomianas poderão roubar-lhe o confortável posto). Sem competição, Avicenna, só me empolguei.
Creio que posso afirmar sem problemas que somos o único blog que disponibiliza todas as óperas gravadas do compositor campineiro. Foram 14 postagens em mais de três meses. Isso porque ele terminou apenas nove óperas que em vida: Carlos Gomes deixou 22 projetos inacabados, desde óperas inconclusas a libretos nunca musicados. Como prometi falar sobre eles, saio um pouco do assunto de Colombo e uso o texto de Marcos Góes que os elenca:
1. América, de autor desconhecido, ambientado em Puebla, no México, em 1822. Há suposições não comprovadas de que ele se baseie num argumento esboçado por Salvador de Mendonça. América é o nome de uma das personagens, e não do continente. Sem música.
2. Celeste, de Ghislazoni, que não chegou a ser musicado.
3. Cromwell, de autor desconhecido, ídem.
4. Emma di Catania (1874?), atribuído a Ghislanzoni, ídem.
5. Ezzelino da Romano (1889), de Gino Gerosa, passado no século XIII em Verona e Pádua. Sem música.
6. Kaila, de autor desconhecido, de que há referência numa carta de 1º de dezembro de 1894 a seu amigo o escritor Alfonso Mandelli; mas não se encontrou música alguma para ela.
7. La Canzone di Miro, de autor desconhecido, sem data, passado na Giudecca veneziana e com trechos em dialeto vêneto; sem música.
8. Le Maschere, de Ghislanzoni, que ficou longos anos nas mãos do compositor até que, em 1877, o libretista se irritou e pediu-o de volta; sem música.
9.Leona, de autor desconhecido, talvez de Ghislanzoni.
10. Marinella (1872), de Ghislanzoni; sem música.
11. Os Mosqueteiros (1871), de D’Ormeville, apresentado a Carlos Gomes logo após a estréia do Guarani. No Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro há manuscritos para canto e piano, de difícil leitura, de partes do ato I e fragmentos do II.
12. Moema, de Alfredo D’Escragnolle Taunay.
13. Morena, (1887) de autor desconhecido, com manuscritos guardados no MHN do Rio. Na Sevilha de 1560, o estudante Don Ramiro, filho de um dos Grandes de Espanha, Don Pedro de Granada, apaixona-se pela cigana andaluza Morena. Essa era a ópera prometida ao empresário Mario Musella, que não perdoava a Carlos Gomes o não cumprimento do contrato. Em 1998, quando houve a recuperação de Joana de Flandres, anunciou-se também que o musicólogo mineiro Luís Gonzaga de Aguiar estava trabalhando na restauração de Morena. Esse material poderá revelar muito sobre os processos criadores do compositor quando for pesquisado e editado.
14. Ninon de Lenclos, de autor desconhecido, de que não há nem libreto nem música. Atribui-se o texto ora a Paravicini, ora a Ghislanzoni ou D’Ormeville. Em suas reminiscências do compositor, de quem foi amigo, o violista Vincenzo Cernicchiaro afirma que ela foi iniciada em 1876. E Nello Vetro diz que há referência a ela numa carta de julho de 1879 à Ricordi, depois da Maria Tudor. Provavelmente a história é a mesma da comédia Ninon Lenclos, com texto e música de Antônio e Gaetano Cipollini, encenada no Lírico Internacional de Milão, em 1895.
15. Il Cantico degli Cantici (1894), “esboço em um ato” de Felice Cavalotti. É obra irreverente, pesadamente anticlerical, envolvendo a paixão do seminarista Antônio por Pia, a filha do militar aposentado coronel Soranzo. Nenhuma música foi encontrada.
16. Il Cavaliere Bizzarro (1889), de Domenico Crisafulli, passado na Espanha em 1350; sem música.
17. O Gênio do Oriente (1895), de autor desconhecido, que lhe teria sido encomendado pela família real portuguesa, “para louvar os feitos lusitanos nas descobertas dos novos mundos”; sem música.
18. Oldrada ou Zema (1884?), de Ghislanzoni; sem música.
19. Palma, de Angelo Zanardini, com entrecho oriental passado em Bagdá. Por esse libreto, numa carta de 7 de novembro de 1879 a Giulio Ricordi, o compositor chegou a demonstrar grande entusiasmo, dizendo que, com essa ópera, sonhava “ganhar a palma da vitória”. Mas não se encontrou música escrita para ela.
20. Gli Zingari, de Ghislanzoni, outro libreto que ficou muito tempo em mãos de Antônio Carlos. Em carta de 8 de abril de 1895, Ponchielli lhe perguntava se tinha renunciado a ele e, em caso afirmativo, se poderia cedê-lo.
21. Eros, de Alfonso Mandelli
22. Bianca di Santa Flora, de Ghislanzoni, sobre os quais não há muita informação.
Essa quantidade até assusta, não?! Como eu gostaria que Carlos Gomes fosse mais constante e levasse pelo menos uma parte dessas obras até o fim…
Mas voltemos, que estou dispersando muito… Bom, hoje temos a versão comandada pelo competentíssimo Ernani Aguiar, que além de importante regente e compositor contemporâneo, é grande pesquisador e incentivador da música erudita brasileira, especialmente a colonial/imperial.
Eu não poderia de deixar de postar, na semana passada, a versão de Armando Belardi (aqui), por ser histórica: a primeira gravação de Colombo (e de grande qualidade também), mas ela vinha com alguns indesejáveis cortes. Esta gravação de hoje, no entanto, além da qualidade de todo o conjunto – orquestra, coro, solistas e regente – é integral, sem nenhum corte. Ela recebeu o prêmio de melhor CD de 1998 pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Pouca coisa, não?
Ressalto que temos aqui o mais maduro Carlos Gomes que se conhece, com uma vida atribulada, cheia de decepções, mas que pouco ou quase nada disso se pode perceber em suas composições. Uma dica: se você não é chegado em música de ópera, com solistas, não deixe de baixar: conheça pelo menos o belíssimo Interlúdio (faixa 17), só instrumental. Essa obra, por ser um poema sinfônico, possui mais trechos destinados ao coro do que aos solistas, diferente de uma ópera tradicional. Você verá Carlos Gomes com outros olhos, bem diferente do que vimos nas primeiras peças: agora mais denso, coeso, com melhor domínio da orquestração e dos seus efeitos dramáticos. Muito bom!
Ouça esta joia que lhe oferecemos! Conheça mais de Carlos Gomes!
Antônio Carlos Gomes (1836 – 1896)
Colombo – poema vocal sinfônico em quatro partes.
Libreto de Albino Falanca (pseudônimo de Albino Falcão)
Parte 1 – 03 Ove sono
Parte 1 – 04 Gran Dio! Qual Suono!
Parte 1 – 05 Ave, Del Mar
Parte 1 – 06 Chi Sei
Parte 1 – 07 Era Um Tramonto D’oro
Parte 1 – 08 E Allor Perche
Parte 1 – 09 Te Deum
Parte 2 – 10 Gloria! Trionfo!
Parte 2 – 11 Pur a Toccar
Parte 2 – 12 Non Fosti Mai Si Bel
Parte 2 – 13 Sire! Augusta Regina!
Parte 2 – 14 Non Puo Que Rea Vertigine
Parte 2 – 15 E Se Cio Fosse
Parte 2 – 16 Quest’Uom non Mente
Parte 3 – 17 Interludio
Parte 3 – 18 E Sempre Puro Il Ciel
Parte 3 – 19 Que Vedo! Um Guizzo!
Parte 3 – 20 Ei Sol Onmipotente
Parte 3 – 21 A Perir di Morte
Parte 3 – 22 Che Avvenne
Parte 4 – 23 Intermezzo
Parte 4 – 24 Pavesa La Piazza
Parte 4 – 25 Fanfarras
Parte 4 – 26 Vittoria! Vittoria!
Parte 4 – 27 A’piedi Tuoi, Regina
Parte 4 – 28 Inno Al Nuovo Mondo
Cristóvão Colombo – Inácio de Nonno, barítono
Isabel de Castela – Carol McDavit, soprano
Fernando de Aragão – Fernando Portari, tenor
Frade – Maurício Luz, baixo
Dona Mercedez – Flávia Fernandes, mezzo-soprano
Don Ramiro – Antonio Pedro de Almeida, tenor
Don Diego – Eliomar Nascimento, baixo
Coro Sinfônico da Escola de Música da UFRJ
Coro de ópera da Escola de Música da UFRJ
Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFRJ
Ernani Aguiar, regente
Rio de Janeiro, 1997.
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (92Mb – 2CD, cartaz e info da ópera)
VEJA O RESUMO AQUI – SEE THE SYNOPSIS HERE
…E depois, claro, deixe um comentário, flores, bombons, ovos de páscoa. Só não me deixe só…
Ouça! Deleite-se!
“Humm! Gostei das óperas desse moço Carlos Gomes!”
Bisnaga